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18.

4 Critério de integrabilidade 631

18.4 Critério de integrabilidade


Vimos que um campo escalar contínuo em um retângulo fechado é integrável
nesta região. Mas continuidade é uma condição suficiente e existem funções que
não são contínuas em um retângulo mas que são integráveis. Antes de descrever
estas funções precisamos definir um novo conceito.

Definição 18.4. Seja S um sub-conjunto do R2 . Dizemos que S é um conjunto de


medida nula se para todo e > 0 existir um conjunto finito de retângulos cuja união
contém S e cuja soma das áreas não excede e.

Este conceito será ilustrado por exemplos.

Exemplo 18.8 (Ponto). Seja (x0 , y0 ) um ponto


p
qualquer do
p
R2 . Escolhendo
p
um
e e e
retângulo
p
Q = [a, b] ⇥ [c, d] onde a = x0 2 , b = x0 + 2 , c = y0 2 e d =
y0 + 2e , temos um retângulo de área e que contém o ponto (x0 , y0 ) de área e
arbitrária, portanto um ponto é um conjunto de medida nula.

Exemplo 18.9 (Segmento de reta). Seja L o comprimento do segmento de reta em


questão. Se este segmento é vertical, ele está contido em um retângulo de altura
L e base Le , que possui área e. Se o segmento é horizontal, ele está contido em
um retângulo de base L e altura Le , que também possui área e. O caso em que o
segmento é inclinado é um caso particular do exemplo 18.13

Exemplo 18.10 (União de dois conjuntos de medida nula). A união de dois con-
juntos de medida nula é também um conjunto de medida nula. Sejam S1 e S2
conjunto de medida nula. Então existe um número finito n de retângulos cuja
união contém S1 com soma das áreas menor que 2e . Da mesma forma existe um
número finito m de retângulos cuja união contém S2 e com soma das áreas menor
que 2e .
A união destes n + m retângulos é um conjunto finito de retângulos cuja união
contém o conjunto S1 [ S2 com soma das áreas menor que 2e + 2e = e.

Exemplo 18.11 (União enumerável de conjuntos de medida nula). O exemplo an-


terior mostra que a união de dois conjuntos de medida nula é também um conjunto
de medida nula. Agora mostramos que qualquer união enumerável, mesmo que
infinite, de conjuntos de medida nula é também um conjunto de medida nula.
Pela hipótese de indução, suponha que a união de n conjunto de medidas nula é
também um conjunto de medida nula. A esta união acrescentamos outro conjunto
de medida nula. Como a união de dois conjuntos de medida nula é também um
conjunto de medida nula, esta união de n + 1 conjuntos de medida nula possui
medida nula.
632 Integrais de campos escalares

O exemplo anterior pode ser tomado como o caso n = 2. Portanto por indução
a união de um conjunto enumerável de conjuntos de medida nula é um conjunto
de medida nula para qualquer n inteiro e mesmo n tendendo ao infinito.

Exemplo 18.12 (Reta). Uma reta é uma união enumerável de infinitos segmentos
de reta. Como segmentos de reta são conjuntos de medida nula, pelo exemplo
anterior a reta também é um conjunto de medida nula.

Exemplo 18.13 (Gráfico de uma função contínua). Seja S = {(x, y) 2 R2 | a  x 


b, y = f(x)} o gráfico da curva y = f(x) contínua no intervalo [a, b]. Pelo teorema
da continuidade uniforme, para todo e > 0 existe uma partição P que divide o
intervalo [a, b] em um número finito de sub-intervalos nos quais a oscilação da
função é menor que b e a , isto é,

e
max{ f (x) | x 2 [xi 1 , xi ]} min{ f (x) | x 2 [xi 1 , xi ]} < (18.123)
b a
para qualquer i entre 1 e n.
Em cada sub-intervalo desta partição o gráfico da curva y = f(x) está contido
em um retângulo de altura menor que b e a e base Dxi . A soma das áreas destes n
retângulos é
n n
e
A = Â (Mi mi )Dxi < Â Dxi = e , (18.124)
i=1 i=1 b a

provando que o gráfico de uma função contínua em um intervalo fechado é um


conjunto de medida nula.

O conceito de conjunto de medida nula é importante para deduzir uma con-


dição mais fraca de integrabilidade. Existem funções que não são contínuas num
retângulo fechado mas que mesmo assim são integráveis.

Teorema 18.10. Seja f : R2 ! R uma função definida e limitada no retângulo


Q = [a, b] ⇥ [c, d]. Se o conjunto de descontinuidades de f em Q for um conjunto
de medida nula, então f é integrável em Q.

Demonstração. Seja P uma partição qualquer de Q e Qi j um sub-retângulo qual-


quer de P. Como a função é limitada, em cada sub-retângulo Qi j a função possui
um valor máximo Mi j e um valor mínimo mi j . A diferença entre a soma superior
e a soma inferior é dada por
n m
S( f , P) I( f , P) = Â Â (Mi j mi j )Dxi Dy j . (18.125)
i=1 j=1
18.4 Critério de integrabilidade 633

Esta soma pode ser dividida em duas somas, uma delas varrendo os sub-retângulos
em que f é contínua e a outra varrendo os sub-retângulos em que f não é contínua.

n m n m
S( f , P) I( f , P) = Â Â (Mi j mi j )Dxi Dy j + Â Â (Mi j mi j )Dxi Dy j .
i=1 j=1 i=1 j=1
| {z } | {z }
f é contínua f não é contínua
(18.126)

Nos sub-retângulos em que f é contínua podemos, para todo e > 0 encontrar


alguma partição P1 tal que
e
Mi j mi j < , (18.127)
2(b a)(d c)
como garantido pelo teorema da continuidade uniforme. Nos retângulos em que f
não é contínua usamos o fato de que f é limitada, ou seja, existe um número real
M tal que | f (x, y)| < M em todo o retângulo Q. Então podemos afirmar que

Mi j mi j < 2M . (18.128)

A diferença entre a soma superior e inferior pode agora ser escrita como
n m n m
e
c) Â Â
S( f , P1 ) I( f , P1 ) < Dxi Dy j +2M Â Â Dxi Dy j . (18.129)
2(b a)(d i=1 j=1 i=1 j=1
| {z } | {z }
f é contínua f não é contínua

Seja A1 a soma das áreas dos retângulos em que f é contínua e A2 a soma das
áreas dos retângulos em que f não é contínua. Temos então que
e A1 e
S( f , P1 ) I( f , P1 ) < + 2MA2 < + 2MA2 , (18.130)
2 (b a)(d c) 2
pois a área A1 não pode ser maior que a área total do retângulo Q. Como o con-
junto de descontinuidades de f tem medida nula, então para todo e > 0 existe uma
partição P2 tal que
e
A2 < . (18.131)
4M
Se P é uma partição que refina P1 e P2 temos que
e e e e e
S( f , P) I( f , P) < + 2MA2 < + 2M = + =e, (18.132)
2 2 4M 2 2
o que prova que f é integrável no retângulo Q.
634 Integrais de campos escalares

Este teorema mostra que o conjunto de descontinuidades de uma função limi-


tada ter medida nula é uma condição suficiente para uma função ser integrável em
um retângulo. É possível mostrar que esta condição também é necessária, ou seja,
uma função é integrável em um retângulo se e somente se ela é limitada e o con-
junto de descontinuidades tem medida nula. Este critério é chamado de critério
de integrabilidade de Lebesgue.
2 2
Vimos o exemplo da função dada por f (x, y) = (xx2 +yy2 )2 no retângulo Q =
[0, 1] ⇥ [0, 1]. Esta função não é contínua na origem, que é apenas um ponto e por-
tanto possui medida nula. No entanto esta função não é limitada neste retângulo,
motivo pelo qual não é integrável.

18.5 Integrais sobre regiões arbitrárias do R2

Por enquanto definimos integrais de funções definidas em um retângulo. No


entanto existem regiões que se modeladas pela região abaixo de uma superfície
z = f (x, y) devemos escolher uma função cujo domínio não é retangular. Se qui-
sermos calcular o volume p de uma esfera, podemos calcular como o dobro da in-
tegral da função f (x, y) = a2 x2 y2 no domínio D = {(x, y) 2 R2 | x2 + y2 
a2 } que é um disco fechado, e não um retângulo.
Seja R uma região fechada e compacta
do R2 , isto é, está contida em algum re-
tângulo fechado Q = [a, b] ⇥ [c, d] como
representado na figura ao lado. Seja f
uma função definida apenas nos elemen-
tos de R. Se f for igual a uma cons-
tante positiva nesta região, podemos in-
terpretar geometricamente a região do
R3 abaixo da superfície z = f (x, y) como
um cilindro de base R, cujo volume é a
altura vezes a área da base.
Se a função for da forma f (x, y) = ax + by + c, a região abaixo da superfície
z = f (x, y) pode ser interpretada como um corte do cilindro já mencionado, como
podemos ver na figura 18.10, onde a superfície em vermelho é o gráfico da fun-
ção z = f (x, y) e a superfície em azul é a fronteira do domínio R projetada até a
superfície z = f (x, y).
18.5 Integrais sobre regiões arbitrárias do R2 635

Figura 18.10: Corte do cilindro de base R.

O volume desta região pode também ser calculado pela integral dupla de uma
função. O que precisamos agora é definir esta operação de integração num domí-
nio que não seja retangular.
Se a região é compacta, ela está con-
tida em algum retângulo fechado. Seja
Q = [a, b] ⇥ [c, d] o menor retângulo que
contém a região R, como indicado na fi-
gura ao lado. Definimos uma nova fun-
ção F da seguinte maneira.

f (x, y) se (x, y) 2 R
F(x, y) =
0 se (x, y) 2 Q R
(18.133)
Em outras palavras, na região R a função F tem o mesmo valor que a função
f original. Nos pontos do retângulo Q que não pertencem ao conjunto R a função
é definida como nula. Se f é uma função originalmente contínua na região R, a
função F será contínua no interior de R. No exterior de R a função F também
é contínua, pois função constante é contínua. No entanto a função F não será
necessariamente contínua na fronteira de R, pois nestes pontos permitimos saltos
da função. Se esta fronteira em questão for o gráfico de uma função contínua, o
conjunto de descontinuidades de F será então um conjunto de medida nula e pelo
teorema 18.10, a função F é integrável no retângulo Q.
Ao calcular a integral dupla por alguma soma de Riemann, nos retângulos
contidos em Q que não estão contidos em R a função será sempre nula e não
contribuirá ao resultado final da integral. O resultado desta operação definimos
como a integral dupla de f sobre a região R. Para utilizar o teorema de Fubini
devemos primeiro definir dois tipos de região.
636 Integrais de campos escalares

Definição 18.5 (Região do tipo I). Sejam f1 e f2 funções de uma variável contí-
nuas no intervalo [a, b] que satisfazem f1 (x)  f2 (x) em todo x 2 [a, b]. A região
definida por

R = {(x, y) 2 R2 | a  x  b, f1 (x)  y  f2 (x)} (18.134)

é uma região do tipo I do R2 .

y
y=(a2-x2)(1/2) A região limitada por uma circunferência
de raio a, isto é, que satisfaz x2 + y2  a2
está contida no retângulo Q = [ a, a] ⇥
[ a, a] e pode ser expressa ppelas desi-
gualdades
p axa e a2 x2 
2 2
y  a x , portanto esta região pode
ser expressa como p uma região do tipo
I,
p onde f1 (x) = a2 x2 e f2 (x) =
a2 x2 , que são funções contínuas no
y=-(a2-x2)(1/2)
intervalo [ a, a].
-a a x

A figura ao lado mostra um caso mais


geral de região do tipo 1. Note que as
y=f2(x)
y

curvas y = f1 (x) e y = f2 (x) não pre-


cisam se encontrar nos extremos x = a
e x = b. Como f1 e f2 são contínuas
no intervalo fechado [a, b] existe um va-
lor máximo de f2 denotado por M2 , um
mínimo de f1 denotado por m1 e a re-
y=f1(x)
gião R está contida no retângulo fechado
a b x Q = [a, b] ⇥ [m1 , M2 ].

Na figura ao lado, a curva vermelha é


y

o gráfico da função f2 (x) = sen(x) e


a curva amarela é o gráfico da função
f1 (x) = sen(x). A região destacada
está contida no retângulo Q = [0, 2p] ⇥
π 2π x
[ 1, 1], mas a região não satisfaz f1 (x) 
y  f2 (x) no intervalo (p, 2p), portanto
não é uma região do tipo I com as fun-
ções f1 e f2 dadas no intervalo [0, 2p].
18.5 Integrais sobre regiões arbitrárias do R2 637

Este último exemplo pode ser descrito como a união de duas regiões do tipo I

R1 = {(x, y) 2 R2 | 0  x  p, sen(x)  y  sen(x)}


R2 = {(x, y) 2 R2 | p  x  2p, sen(x)  y  sen(x)}

ou como uma única região do tipo I se for descrita por

R = {(x, y) 2 R2 | 0  x  2p, | sen(x)|  y  | sen(x)|} .

Definição 18.6 (Região do tipo II). Sejam g1 e g2 funções de uma variável contí-
nuas no intervalo [c, d] que satisfazem g1 (y)  g2 (y) em todo y 2 [c, d]. A região
definida por

R = {(x, y) 2 R2 | c  y  d, g1 (y)  x  g2 (y)} (18.135)

é uma região do tipo II do R2 .

y
(1/2
) Como já visto, o conjunto de elementos
do R2 que satisfaz x2 + y2  a2 está con-
a 2)
2 -x
-(a
y=

tida no retângulo Q = [ a, a] ⇥ [ a, a].


Isolando
p a variável px podemos escrever
a y  x  a2 y2 para todo
2 2
y 2 [ a, a].pComo as funções dadas
p por
g1 (y) = a y e g2 (y) = a2 y2
2 2

2
(1/2
2)
-x
)
são contínuas e g1 (y)  g2 (y) para qual-
quer y 2 [ a, a], este conjunto é uma re-
(a
y=

gião do tipo II do R2 .
-a

A figura ao lado mostra uma região do


y

tipo II. Se as funções g1 e g2 são con-


d tínuas no intervalo [c, d], existe o mí-
nimo global de g1 denotado por m1 e
o máximo global de g2 denotado por
M2 . A região R = {(x, y) 2 R2 | c  y 
x=g1(y) x=g2(y)

d, g1 (y)  x  g2 (y)} está contida no re-


c tângulo [m1 , M2 ] ⇥ [c, d].
x
638 Integrais de campos escalares

Algumas regiões, como o conjunto de


y

elementos do R2 que satisfazem x2 +


y2  a2 , são simultaneamente regiões do
tipo I e II. Algumas regiões do tipo I não
são regiões do tipo II e vice-versa. Ou-
tras regiões não são regiões nem do tipo I
e nem do tipo II, como a região represen-
x

tada na figura ao lado. No entanto essa


região pode ser dividida em diversas re-
giões do tipo I ou II.
Para calcular a integral dupla, supomos que a região R é do tipo I ou II. Caso
não seja, se a região puder ser escrita como a união de diversas regiões do tipo I ou
II, calculamos a integral em cada uma destas regiões separadamente e somamos o
resultado, de acordo com a propriedade aditiva da integral.
Teorema 18.11. Seja R uma região do tipo I, isto é, existem funções contínuas f1
e f2 no intervalo [a, b] tais que R = {(x, y) 2 R2 | a  x  b, f1 (x)  y  f2 (x)}.
Seja f uma função definida e limitada em R e contínua no interior de R. Então a
integral dupla de f sobre a região R existe e pode ser calculada pelas integrais
unidimensionais iteradas
¨ ˆ b ˆ f2 (x)
f (x, y)dxdy = A(x) dx , onde A(x) = f (x, y) dy . (18.136)
R a f1 (x)

Demonstração. Seja Q = [a, b] ⇥ [c, d] um retângulo fechado que contém a região


R. Definimos

f (x, y) se (x, y) 2 R
F(x, y) = (18.137)
0 se (x, y) 2 Q R
Como f é contínua no interior de R e função constante também é contínua, a
função F pode ser descontínua apenas na fronteira da região R, definida pelos
gráficos das curvas y = f1 (x) e y = f2 (x). Como estas funções são contínuas,
o conjunto de descontinuidades de F tem medida nula e portanto a função F é
integrável em Q e vale o teorema de Fubini. Logo
¨ ˆ b ˆ d
F(x, y)dxdy = A(x) dx , onde A(x) = f (x, y) dy . (18.138)
Q a c

Para cada valor fixo de x 2 [a, b] temos que c  f1 (x)  f2 (x)  d. Pela aditividade
da integral podemos escrever
ˆ d ˆ f1 (x) ˆ f2 (x) ˆ d
A(x) = F(x, y) dy = F(x, y) dy + F(x, y) dy + F(x, y) dy .
c c f1 (x) f2 (x)
18.5 Integrais sobre regiões arbitrárias do R2 639

(18.139)
A linha tracejada na figura ao lado re-
presenta a região de integração de A(x)
com x fixo e y variando de c a d, pas-
sando pelos valores y = f1 (x) e y = f2 (x)
no caminho. A região entre c e f1 (x)
está fora da região R, portanto a integral
de F neste intervalo é nula, assim como
na região entre f2 (x)ed. A região entre
f1 (x) e f2 (x) está dentro de R, portanto
F(x, y) = f (x, y) nesta integral e portanto

ˆ f2 (x)
A(x) = f (x, y) dy . (18.140)
f1 (x)

Como definimos a integral dupla de f sobre R como a integral dupla de F sobre


Q, temos
¨ ¨ ˆ ˆ "ˆ b
#
b f2 (x)
f (x, y)dxdy = F(x, y)dxdy = A(x) dx = f (x, y) dy dx
R Q a a f1 (x)
(18.141)
como queríamos demonstrar.

O mesmo raciocínio mostra que se R é uma região do tipo II,


¨ ˆ d ˆ d "ˆ g2 (y) #
f (x, y)dxdy = A(y) dy = f (x, y) dx dy . (18.142)
R c c g1 (y)

Se R é uma região do tipo I e II simultaneamente, as duas fórmulas podem ser


utilizadas. Se R é uma região apenas do tipo I, devemos dividí-la em diversas
regiões do tipo II se quisermos integrar primeiro em x e depois em y.
Exemplo 18.14 (Volume da esfera). Seja S a superfície da esfera de raio a cen-
trada na origem, isto é, o conjunto de elementos
p do R3 que satisfaz x2 + y2 + z2 =
2
a . Isolando a variável z temos z = ± a x y2 , onde cada sinal representa
2 2
metade da esfera. Por simetria podemos dizer
p que o volume da esfera é igual ao
dobro do volume abaixo da superfície z = a2 x2 y2 e acima do plano z = 0,
ou seja,
¨ p
V =2 a2 x2 y2 dxdy , (18.143)
R
640 Integrais de campos escalares

onde R é a região do R2 que satisfaz x2 + y2  a2 . Escrevendo esta


p região como
uma região do tipo I temos R = {(x, y) 2 R 2 | a  x  a, a2 x2 < y <
p
a2 x 2 } e
p
ˆ a ˆ + a2 x2 p
V =2 A(x) dx onde A(x) = p a2 x2 y2 dy . (18.144)
a a2 x2
p
Na integral que calcula A(x) podemos simplificar escrevendo a constante a2 x2 =
ae
ˆ ap
A(x) = a2 y2 dy (18.145)
a

onde podemos fazer a substituição trigonométrica y = a sen(u) e escrever


ˆ p
2
q ˆ p
2
2
A(x) = a2 a2 sen2 (u)a cos(u) du = a cos2 (u) du
p p
2 2
p  u= p2
1 + cos(2u) 2 u sen(2u) p p
ˆ
2
2
=a du = a + = a2 = (a2 x2 ) .
p
2
2 2 4 u= p 2 2
2

O volume da esfera pode ser finalmente calculado como


a  x=a ✓ ◆
p 2 x3 a3 4
ˆ
V =2 (a x )dx = p a2 x
2
= 2p a3 = pa3 . (18.146)
a2 3 x= a 3 3

Exemplo 18.15. Queremos calcular o volume da região abaixo do paraboloide de


revolução x2 + y2 + z = 1 acima do plano z = 0. A interseção do paraboloide em
questão com o plano z = 0 é uma circunferência de raio 1 centrada na origem,
portanto o domínio de integração
p escrevendo pcomo uma região do tipo II é R =
2
{(x, y) 2 R | 1  y  1, 1 y < x < 1 y2 } e o volume a ser calculado
2
é
ˆ 1
V= A(y) dy , (18.147)
1

e
p
ˆ p1 y2  x= 1 y2
2 2 x3 2
A(y) = p (1 x y )dx = x y x p (18.148)
1 y2 3 x= 1 y2
3
p (1 y2 ) 2 p 4 3
= 2( 1 y2 y2 1 y2 ) = (1 y2 ) 2 .
3 3
18.5 Integrais sobre regiões arbitrárias do R2 641

O volume então é dado por

1
4
ˆ
3
V= (1 y2 ) 2 dy (18.149)
3 1

Fazendo a substituição trigonométrica y = sen(u) temos


p ˆ p
4 4 2
ˆ
2 3
2
V = (1 sen (u)) cos(u)du = 2 cos4 (u)du (18.150)
3 p
2
3 2 p

ˆ p✓ ◆ ˆ p
4 2 1 + cos(2u) 2 1 2
= du = 1 + 2 cos(2u) + cos2 (2u) du
3 p2 2 3 p2
ˆ p✓ ◆
1 2 1 + cos(4u)
= 1 + 2 cos(2u) + du
3 p2 2
ˆ p
1 2
= (3 + 4 cos(2u) + cos(4u)) du
6 p2
 u= p2
1 1 p
= 3u + 2 sen(2u) + sen(4u) = .
6 4 u= p 2
2

Exemplo 18.16 (Elipsoide de semi-eixos a, b e c.). A região limitada pela superfí-


2 2 2
cie definida por ax2 + by2 + cz2 = 1 pode ser representada pela região entre os gráficos
q q
y2 2
das superfícies z = c 1 a2 b2 e z = c 1 ax2 by2 no domínio definido por
x2 2

2
x2
a2
+ by2  1. Por simetria podemos dizer que o volume é o dobro do volume da
região abaixo da superfície que representa valores positivos de z e portanto
r
x2 y2
¨
V =2 c 1 dxdy (18.151)
R a2 b2

onde R é uma região do tipo I dada por


( r r )
x2 x2
R= (x, y) 2 R2 | a  x  a, b 1 yb 1 . (18.152)
a2 a2

Então
q r
x2
b 1
x2 y2
ˆ
a2
A(x) = 2c q 1 dy (18.153)
b 1 x2 a2 b2
a2
642 Integrais de campos escalares

q
x2
Para simplificar a conta é conveniente definir a = 1 a2
, o que nos permite
q q
2 y2
escrever 1 ax2 by2 = a 1 (ab)
2
2 e

ˆ ab s
y2
A(x) = 2c a 1 dy , (18.154)
ab (ab)2
onde é conveniente fazer a substituição trigonométrica y = ab sen(u), que implica

p ✓ ◆
x2
ˆ
2
2 2
A(x) = 2ca b cos (u) du = pbc 1 . (18.155)
p
2
a2
O volume é dado então por
ˆ a ✓ ◆  x=a
x2 1 x3
V = pbc 1 = pbc x (18.156)
a a2 3 a2 x= a
⇣ a⌘ 4
= 2pbc a = pabc .
3 3
Se a = b = c recuperamos o resultado do volume da região limitada por uma
esfera.
Exemplo 18.17. Seja a região limitada superiormente pela sela de cavalo z =
x2 y2 , inferiormente pelo plano z = 0 e lateralmente pelos planos verticais x = 1
e x = 3.
O volume será calculado pela integral
y

y=x

dupla da função f (x, y) = x2 y2 . Para


encontrar o domínio de integração, tra-
çamos a interseção das superfícies z =
x2 y2 , x = 1 e x = 3 com o plano z = 0.
A região em questão pode ser expressa
x

por uma região do tipo I R = {(x, y) 2


R2 | 1  x  3, x  y  x}. Calculando
primeiro a função A(x) temos
y=-x
x=1 x=3

x  y=x
y3 4
ˆ
2
A(x) = (x y )dy = x2 y
2
= x3 . (18.157)
x 3 y= x 3
O volume então é dado por
ˆ 3  4 x
4 3 x 1 80
V= x dx = = 3 = 27 = (18.158)
1 3 3 x=1 3 3
18.5 Integrais sobre regiões arbitrárias do R2 643

Exemplo 18.18 (Área entre duas curvas). No cálculo de funções de uma variável
vimos que se f e g são funções contínuas em um intervalo fechado [a, b] tais
que f (x) g(x) para todo x 2 [a, b], então a área limitada pelas curvas y = f (x),
y = g(x), x = a e x = b pode ser calculada como
ˆ b ˆ b ˆ b
A= f (x) dx g(x) dx = ( f (x) g(x))dx . (18.159)
a a a

Esta área pode ser calculada pela integral dupla da função f (x, y) = 1 na região
do tipo I R = {(x, y) 2 R2 | a  x  b, g(x)  y  f (x)}. Neste caso a função A(x)
é dada por
ˆ f (x)
y= f (x)
A(x) = 1 dxdy = [y]y=g(x) = f (x) g(x) (18.160)
g(x)

e a integral dupla por


¨ ˆ b ˆ b
1 dxdy = A(x) dx = ( f (x) g(x))dx (18.161)
R a a

como já conhecido. A área de qualquer região R pode ser calculada pela integral
dupla da função constante f (x, y) = 1 sobre esta região se ela for uma região do
tipo I ou do tipo II.

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