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Caderno Rítmica 1o Semestre - Marcos Pupo
Caderno Rítmica 1o Semestre - Marcos Pupo
1Ársis e tésis são termos empregados muitas vezes de forma diversa na prosódia e na música. Em
musica ársis é unidade que antecede o apoio, enquanto tésis corresponde à parte apoiada. Na poesia
IA - UNESP – Teoria Musical I Ritmo e Métrica– Prof. Dr. Marcos Pupo
Nogueira
https://drive.google.com/file/d/19xSKfdkrCb2DYT1rERQkjT3eSrhPE93U/view?usp=sharing
IA - UNESP – Teoria Musical I – Prof. Dr. Marcos Pupo Nogueira
***
https://drive.google.com/file/d/1y37NfOOm7GoCD5tWP3hXywzyTK1F4qqX/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/13MN7jf_MpfWdx7-wzWkRSBgPxQhxdmIQ/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1Z2Z48aJKhSfr4RGLYHSMGsbax9cLV8BU/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1GKB1p9vyKHqt6qrX6qOtyJo5ufvtj3ek/view?usp=sharing
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2. Outra causa, ainda baseada na natureza, entende o pulso como integrado às periodizações
definidas e estudadas pela física desde uma perspectiva macro da rotação dos planetas, ou
micro dos movimentos periódicos que caracterizam, por exemplo, as ondas sonoras
mecânicas ou as ondas eletromagnéticas. Nesta perspectiva o próprio movimento periódico
apresenta, em cada um dos seus ciclos, também duas partes extremas (picos e vales da
onda).
Figura 1
(Arom, 1994)
• “Sequência ininterrupta de pontos de referência para a organização do fluir do
ritmo”... “tanto as pausas como os sons, são definidos em relação à pulsação”. Numa
composição a várias vozes de textura polifônica “a pulsação é também o
denominador comum de todas as partes”.
•
(Lerdahl e Jackendorff, 1990, 18)
• O pulso (beat) é uma unidade de referencia, “idealizações, utilizadas pelos
interpretes e percebidas pelo ouvinte a partir do sinal musical”. Pulsos não são
durações, mas “correspondem a pontos geométricos mais do que as linhas
desenhadas entre eles”.
•
(Boone, 2000:3)
• O autor afirma que pode ser mais fácil captar o tempo em “termos de pontos
articuladores do que pela passagem conectando aqueles pontos”, mas conclui,
apontando para a figura abaixo, que “juntos, pulso e duração, podem ser pensados
como constituindo a completa identidade rítmica” (Boone, 2000: 3).
Figura 1
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(Kramer,1988:97)
• Kramer considera os pulsos mais flexíveis que as batidas (beats) da métrica e
também como “literalmente ouvidos e não intuídos”, diversamente do que ocorre,
segundo ele, com as batidas da métrica. Kramer se opõe a outros autores ao
considerar que a pulsação não é neutra e provavelmente não exatamente isócrona,
como afirmam os autores citados anteriormente.
Em certos tipos de música o pulso pode ser entendido como fundamento de uma
métrica aditiva em que o nível mais básico (rápido) da pirâmide serve de base para ritmos
mais complexos e com agrupamentos rítmicos definidos por sucessões ou simultaneidades
em que ocorrem combinações binárias e ternárias do pulso básico. Nesse caso, há uma
diferença (ou conflito) entre batida (tempo) e pulsação. O conceito de métrica aditiva a
partir de pulsações curtas, também conhecido como Pulso Rápido Comum (PRC), embora
sujeito a muitas críticas quanto ao seu uso generalizado, tem sido bastante utilizado para o
estudo da multimetria e polirritmia, assuntos a serem desenvolvidos no subcapítulo 1.3
dedicado ao estudo do ritmo/métrica.
https://drive.google.com/file/d/1hmRwkADJFFLCek8ZARRWMuiD7J8Oe07p/view?usp=sharing
COMENTÁRIO: A percepção dos pulsos acontece pela recorrência quase mecânica das
colcheias na notação do compositor. Não há agrupamentos métricos de fato, apenas barras
de compasso. Na partitura de orquestra as colcheias nas cordas vem acompanhadas sempre
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da indicação de arco para baixo para se evitar a periodicidade métrica de tempos fortes e
fraco.
https://drive.google.com/file/d/17EXXw-5_Ay-JspuIZU-gSAfYVk9-Xnpx/view?usp=sharing
EXEMPLO 3.
https://drive.google.com/file/d/1cu9ok6irTc_E0LpaBA86QuCtkyLNnVrp/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/17pqozv-HtNxD67KUe1xeFdqDdXTDonI7/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1-WR1Xm9gVZbMBKsP81kbCuF3zHL-9Nwe/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1-un_3Su8RZoXMQcpmvNMz4dumLg2WAq3/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1_qpQ4kd-UHNvIcGQyrGEAl_nKMSqpg3N/view?usp=sharing
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BATIDA x TEMPO. Batida, assim como beat ou tactus, é uma unidade métrica
perceptível, muitas vezes isócrona, que mede o fluir do ritmo, mas não
necessariamente o nível do compasso notado. A palavra tempo é uma terminologia
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A relação entre ársis e tésis pode ser isócrona ou não isócrona. No primeiro caso o
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ACENTOS
Com o recurso dos pontos os autores expõem que o apoio (acento) métrico é
aquele com maior peso na hierarquia métrica. Na figura acima o apoio métrico mais
destacado é o primeiro seguido na hierarquia pelo terceiro. Em outras situações
musicais é possível que um grande apoio ocorra de dois em dois (ou mais) compassos
notados, ou seja, aqueles indicados pela fórmula de compasso). Com o recurso dos
pontos os autores analisam metricamente o fragmento inicial do primeiro movimento
da Sinfonia 40 de Mozart. Verifique que figuras são representadas por cada uma das
linhas horizontais de pontos.
https://drive.google.com/file/d/1CPI6YKvFGBf-ywPMHqLT2yo4WKNT0vKb/view?usp=sharing
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2O Trabalho citado por Hasty é Die Natur der Harmonic und Der Metrik, escrito por Moritz Hauptmann
(1792-1868), violinista, compositor e teórico alemão.
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energia sendo definida como um ativo e criativo potencial da duração” (Hasty, 1997:
104).
As visões diferentes entre pesquisadores são bem vindas, pois estimulam nossa
inteligência a buscar o conceito mais apropriado à nossa vivencia musical. A verdade,
e não só na teoria musical, está no debate de ideias e na pesquisa interessada somente
na busca do conhecimento.
A variedade de tipos de acento exposta nas citações anteriores alerta também
para uma questão, além de teórica, prática: um acento não se resume a uma
intensificação e o chamado ‘tempo forte’ de um agrupamento métrico nada tem
necessariamente de forte ou intenso e não faria sentido musical algum acentuar
continuadamente cada início de agrupamento. O primeiro apoio de um agrupamento
métrico não é de fato um acento, mas um referencial estabelecido para medir ou
coordenar a textura rítmica da música.
As referências analisadas até aqui indicam que as relações entre acentuação,
métrica e ritmo são bem complexas e causam boa parte de toda a riqueza musical do
ritmo em seu sentido mais amplo. Os exemplos a seguir podem ajudar na reflexão
quanto aos tipos de acento:
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Acento de altura
Acento de duração
https://drive.google.com/file/d/1OGcOlNdEBw-8oxuKBDCAyvN4YKHOB31L/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1TiB21rFS-1h5HABdF20n0lg0gY-6KvGa/view?usp=sharing
COMENTÁRIO: Não ocorre nenhuma notação de acento rítmico, mas eles estão
sugeridos por saltos de intervalos melódicos e padrões melódicos, ou seja, os acentos
rítmicos se manifestam por diversas configurações melódicas (acentos melódicos)
para as semicolcheias. Mesmo o nível métrico do compasso notado, 3/8, sendo
reiterado constantemente, as configurações de semicolcheias tomam formatos de
alturas que podem ser definidos pelos agrupamentos numéricos 6, 1-5 e 3-3 que
criam toda a variedade rítmica do fragmento apesar da repetição continua das
semicolcheias. Busque localiza-los no fragmento.
https://drive.google.com/file/d/1aZyfshc67-JqfD4AM2n9U4QmoJLpyiEZ/view?usp=sharing
O compasso notado é apenas um dos níveis da métrica ou como afirma Martin Clayton: “a fórmula de
compasso é, historicamente, uma convenção notacional que auxilia a coordenação de conjuntos
musicais, mas não necessariamente indica a métrica”,
A métrica pode ser concebida em níveis da textura rítmica, denominados, metaforicamente, como níveis
arquitetônicos ou hierárquicos que se sobrepõem e interagem. As relações entre valores se dão a partir de um
ponto de referencia que organiza todos os níveis que compõem a rede de pulsos e batidas.
Para aprofundar conceitos ligados à noção de níveis da estrutura métrica de boa parte das músicas, teorias e
práticas conhecidas, serão apresentadas, em seguida, referencias bibliográficas com posições teóricas diversas
para que se reflita sobre elas. É preciso entende-las em seus respectivos contextos, pois diferentes formas de
produção e notação de música se apresentam em adequação a diferentes épocas, estilos e culturas.
“do mesmo modo que letras são combinadas em palavras, palavras em sentenças, sentenças em parágrafos
e assim por diante, na música sons individuais são agrupados em motivos, motivos em frases, frases em
períodos, etc.”
“A estrutura métrica é igualmente arquitetônica. Por exemplo, um metro 3/4 difere de um metro 6/8 no
sentido em que o primeiro é feito de três unidades de um nível métrico abaixo, 2/8, enquanto o último é
composto de duas unidades de nível mais baixo, 3/8. (1960: 2-3).
Lerdahl e Jackendorf A Generative Theory of Tonal Music.
“Normalmente há ao menos 5 ou 6 níveis métricos numa peça. O metro notado é o nível intermediário entre o menor
nível e o maior aplicável a uma peça. No entanto, nem todos esses níveis de estrutura métrica são ouvidos como
igualmente importantes. O ouvinte tende a se concentrar principalmente em um (ou dois) níveis intermediários nos
quais as batidas passam a uma velocidade moderada. Este é o nível que o maestro escolhe para o gesto da batuta, o
ouvinte bate no pé e o dançarino completa uma mudança de peso.... Adaptando o termo renascentista, chamamos
esse nível de tactus”. (Lerdahl e Jackendoff 1983: 20-21)
É importante diferenciar os níveis métricos dos níveis de agrupamento estrutural, mesmo que em vários
momentos haja interação entre eles. Os primeiros lidam com com as questões de medida do ritmo e os segundos
se referem às funções composicionais dos agrupamentos, tais como frase, período ou seção numa composição.
No entanto é preciso lembrar que em vários tipos de música em que não há “estrutura métrica, no sentido que o
ouvinte é incapaz de extrair do sinal musical uma hierarquia de batidas” (Lerdhal e Jackendoff, 1983: 18).
Exemplos sem a presença de hierarquia métrica citados pela dupla de autores:
obras sem notação mensural (Lamento para as vitimas de Hiroshima) de K. Penderecki
o Alap (seção de abertura) de uma raga do Norte da Índia” que, como afirma o pesquisador da música
indiana, Martin Clayton, é, do ponto de vista do interprete, “a seção não-medida, literalmente ilimitada
de uma performance”
Em termos de musica tonal a principal propriedade de uma rede métrica é a periodicidade das batidas em qualquer
nível ser reforçada de nível para nível. Pode-se nomear cada nível, como sugerem Lerdhal e Jackendoff, pela
“duração de seus intervalos de tempo - por exemplo, o nível da semínima e o nível mínima pontuada (Lerdhal e
Jackendoff, 1983: 20).
REDE MÉTRICA
O termo ‘rede métrica’ implica que num metro sem alterações a relação entre os seus níveis sempre será ou binária ou
ternária. Ou seja o intervalo de tempo entre as batidas, em qualquer nível, é duas ou três vezes mais longo do que o
intervalo de tempo entre batidas no nível menor mais próximo.
As redes métricas descritas se referem a uma proporção divisiva (ou multiplicativa) em que as relações entre níveis se
dão por razões simples entre 1/2 e 1/3, ou seja, a relação entre os níveis em que a batida é organizada, o da batida e
sua subdivisão.
Exemplo 1.3.3. Brahms, Intermezzo op.118 (1-4)
COMENTÁRIO: A passagem comporta metros com três níveis: colcheias (subdivisão), semínimas (batida) e mínima
pontuada (metro). O nível de semínima corresponde à batida referencial do metro que agrupa duas a duas as colcheias.
HIPERMETRO
Hipermetro ocorre quando a percepção do metro agrupa dois ou mais compassos notados, ou quando ouvimos “o
metro acima do nível do compasso”, como Temperley o define (2008: 305). Ver ou sentir o hipermetro parece ser o
critério básico na definição, pois como observa Richard Cohn, não há notação explícita para o hipercompasso e este
fenômeno, quando surge, “não é indicado nem por barras, nem por fórmulas de compasso, e as ligaduras de
expressão não são confiáveis como indicadores da estrutura de agrupamento” (Cohn, 1992: 189).
Joel Lester, por sua vez, considera que a existência, tanto do metro quanto do hipermetro, necessita uma série de
pulsos (batidas) a serem organizados e afirma que “somente em casos em que exista um nível acima do compasso
notado estará presente um inequívoco hipermetro” (Lester, 1986: 160). Isto implica na existência de um
agrupamento de batidas, ou tactus, também no nível do hipermetro, ou seja deve haver ‘hiperbatidas’ ou
‘hipertactus’ a serem organizadas pelo hipermetro.
Posição semelhante apresenta Richrad Cohn que considera o Scherzo a forma mais emblemática para aplicação do
hipermetro. Nas suas palavras o Scherzo é para o hipermetro “um raro momento que ele emerge de seu aparente
status de fragilidade ontológica” (Cohn,1992:190). Neste caso o fator mais comum é que cada metro 3/4 do
Scherzo se transforme em hiperbatidas a serem agrupadas em hipermetros de dois, quatro e mais raramente em
três batidas.
Exemplo 1.3.4. Beethoven, III movimento da 7ª Sinfonia
Andamentos muito rápidos sugerem que o interprete indique níveis métricos superiores
(hipermétricos). Os exemplos mais notórios são os o Scherzi da música europeia do século XIX, em que
o metro 3/4 é interpretado “em 1”, em que cada unidade de compasso notado torna-se a unidade de
batida (hiperbatida). No exemplo anterior o compositor provoca uma intensa vitalidade rítmica
principalmente pelo fato da configuração motívica ser sentida com hipermetros duplo e quádruplos,
indicadas no fragmento barras adicionais
A utilização da ferramenta analítica do hipermetro dentro de limites teóricos e práticos bem seguros advém
de algumas condições em que o “cada compasso notado funcione como como uma simples batida. Entre
estas condições Lester arrola “mudanças harmônicas, acentos duracionais e acentos de textura que
estabelecem agrupamentos de multimetros como o nível primário” (Lester, 1986:160). Por nível primário
Lester entende o nível mínimo que contem os fatores básicos da métrica já indicados acima. Quando o metro
notado não inclui estas condições, é necessário avançar para um nível acima, o hipermetro.
Exemplo 1.3.5. Mozart,
Sinfonia 41, DóM, III movimento (1-6)
Por este compasso notado não apresentar por si só as condições básicas do nível primário, sobre esta rede métrica se
sobrepõe um hipermetro com a duração de uma semibreve pontuada organizando duas hiperbatidas, cada uma com
Depois da segunda fermata um hipermetro quadruplo se instala com a mínima do 2/4 tornando-se a
hiperbatida. A justificativa é principalmente harmônica e motívica. O primeiro hipermetro é o prolongamento
da tônica menor, o segundo prolongamento de dominante, o terceiro a alternância I-V e o quarto a progressão
para a semicadência.
Também é possível conceber um conceito inverso ao de hipermetro, quando a metade de um compasso já contenha
todas as condições do nível métrico primário. Justin London comenta, que “ter vários níveis de estrutura métrica
acima da batida percebida não é mais extraordinário do que ter vários níveis de subdivisão abaixo dela (London, 2004:
19). A metade do metro notado pode corresponder ao nível primário. Lester atribui esta possibilidade aos compassos
compostos, entre os quais inclui o quaternário, ou seja, todos os metros com número superior a três na parte de cima
da formula de compasso: “casos de metros compostos, nos quais cada metade funciona como um compasso no nível
primário” (Lester, 1986: 162).
Exemplo 1.3.7. Sonata K.332, II movimento
Essas propriedades do metro fundamental estudadas até aqui, no entanto, estão longe de ser universais e há vários
tipos de música, ou mesmo tendências em teoria musical que possuem discordâncias acerca do conceito de exata
periodicidade e proporção entre os níveis métricos.
Fernando Benadon, compositor e etnomusicólogo, observa que na música de Jazz podem confluir dois elementos
aparentemente opostos: “o fundamento fixo de uma batida regular e uma variação microrítmica fluídica”, ou seja,
dois níveis da rede métrica que não estão necessariamente em proporção numérica simples.
Benadon trabalha com o conceito denominado de Beat-Upbeat Ratio (BUR) e, portugues, ‘Razão Apoio - Não
apoio’ ou, ainda, Razão Tésis-Ársis. A partir da análise de gravações de solistas de Jazz calcula-se a “proporção
entre duas colcheias sucessivas, medindo e comparando suas durações”. A razão entre duas colcheias, que
correspondem a cada um das batidas do metro quaternário, indica uma relação que varia bastante quanto ao
grau de desigualdade entre os valores – a primeira mais longa que a segunda e não necessariamente iguais. O
quadro abaixo resume as possibilidades mais frequentes (Benadon, 2006: 74-75).
Quadro 1.3.3. Cinco tipos referenciais de proporções entre duas colcheias (BURs) e a notação possível (aproximada).
Exemplo 1.5.1a. Dois ‘compassos’ iniciais da transcrição de um conjunto percussivo para uma
tipo de dança do povo Ewe e Fon, da Africa ocidental, denominada Agbekor lento, transcrito por
Kongo Zabana e citado por Kofi Agawu.
Exemplo 1.5.1b. Transcrição rítmica da linha superior do exemplo anterior (bell, agogô) que
forma um padrão rítmico em ostinato bastante frequente na musica da África central e ocidental.
Abaixo uma síntese em quatro itens realizada por Simha Arom sobre a rítmica
africana:
O exemplo abaixo contem boa parte dos conceitos tratados no Texto 1.5.
Exemplo 1.7.2 (sonoro) AGBEKOR, dança do povo Ewe que habita o sul de Gana, Togo e Benim,
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IA - UNESP – Teoria Musical I
Prof. Dr. Marcos Pupo Nogueira
https://drive.google.com/file/d/14BZsyIk4DiqhF6SZVLscPzJ29vp48zHw/view?usp=sharing
1 Kvifte, ao contrário de London, prefere o termo métrica aditiva que adoto também por
considera-lo mais preciso, pois o conceito se fundamenta na relação entre os níveis métricos de
pulso e batida.
2 Trata-se de parte integrada ao musical “West Side Story”.
London analisa metricamente o fragmento como aditivo, tendo 5 batidas
desiguais entre as barras: duas (q.) e três de (q). Kvifte, por sua vez, sugere que o
https://drive.google.com/file/d/1EIEqZXKTcnWrxlYNnKHi2VOr_CgDXYX5/view?usp=sharing
Tal solução pode não parecer a mais adequada musicalmente, mas tem sua
lógica analítica e serve para indicar uma possibilidade teórica frente aquelas
resultantes do processo perceptivo no contexto de formação prática ou teórica
de quem estiver ouvindo.
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https://drive.google.com/file/d/16ha-iyu-yBV6B9a7djtMMgWrD1xURkGg/view?usp=sharing
HEMÍOLA SIMPLES
Numa classificação geral é possível identificar dois tipos de hemíola: a
simples e a complexa. A primeira é incluída na categoria 1, pois se trata de
sucessão linear e a segunda, que será estudada mais à frete, na categoria 2, pois
trata-se de duas ou mais hemíolas simultâneas.
Em artigo de 2001 Richard Cohn identifica uma hemíola “quando um
intervalo de tempo é tripartido no lugar de uma bipartição anterior”. O autor
prossegue afirmando que no contexto moderno “o termo se refere a qualquer
conflito sucessivo ou simultâneo entre uma bipartição e tripartição de um único
intervalo de tempo” (Cohn, 2001: 295).
O termo tem dois significados relacionados com a razão 3:2: o primeiro se
refere à acústica em que a relação define o intervalo de quinta justa. Nos antigos
tratados de escrita mensurada (sec. XV e XVI) é aplicado a valores na relação 3:2.
Na notação moderna se refere a trocas entre tempos binários e ternários ou
mudanças entre ternário e binário na subdivisão. Especialmente o termo é usado
para a mudança temporária de um compasso ternário, em que dois compassos
passam a soar como um e a unidade de tempo com o dobro da duração. Deste
modo dois compassos de 3/8 tornam-se um de 3/4, dois de 3/4 tornam-se um de
3/2, ou ainda dois de 3/2 tornam-se um de 3/1.
Exemplo 1.6.5. Dvorak, Dança eslava opus 46, nº 8
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https://drive.google.com/file/d/1TyY8gzn1AA9DLLd59eF88_-_MGTsBOrr/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1J12Xcu0uuQgBb2mb_UzDXod0i9K_z0sa/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1P4Pj2L7-NDFz9oPQBtFPpoRJbI1x2cVV/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1jzBfW_gzFR04EUmTPiu4R2vlsnglyYdG/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/17nBazJmnWWIejgbnkQnFO0DIiYkMAVtQ/view?usp=sharing
O nível de não equivalência deixa exposta uma relação de três contra dois
que será estuda no item seguinte sobre poliritmo.
https://drive.google.com/file/d/12161Dcy-YvqDidLLgVTzTVddYsK3r0qJ/view?usp=sharing
A palavra latina vado (caminhar, passar) é imitada quase sempre com a mesma
figuração rítmica em cada uma das vozes em pontos diversos da estrutura
métrica. A acentuação prosódica não se altera e causa a sobreposição dos
padrões rítmicos (polirrítmo) ou os acentos cruzados.
Eve Poudrier e Bruno Repp, defendem que o poliritmo é a sobreposição de
duas ou mais sucessões de diferentes de batidas isócronas cujos períodos estão
relacionados a uma fórmula constante de números inteiros, por exemplo, 3
contra 2, 4 contra 3, 8 contra 3, 7 contra 4, etc, um efeito que também tem sido
denominado como ritmo cruzado (cross rhythym) Os autores afirmam que um
poliritimo “pode estar em fase, o que significa que eles se caracterizam por
retorno cíclico dos inícios coincidentes” (Poudrier e Repp, 2013:370). Deste
modo quaisquer destas relações entre sobreposição de batidas diferentes e
isócronas possui propriedade cíclica. Nestes casos um pulso rápido comum
coordena o poliritmo e é possível determinar o período tempo de cada ciclo
multiplicando os dois números inteiros.
Figura 1.7.3. Alguns exemplos esquemáticos de poliritmo
a) 3 x 4, em forma aditiva,
ou em forma divisiva
c) 3 x 8
Enquanto a métrica mista pode resultar em poliritmo, na poliritmia a
ocorrência simultânea de fórmulas de compasso não é necessariamente presente
e polirritmos podem acontecer sob uma mesma fórmula de compasso. Os ritmos
que se sobrepõem não são imediatamente percebidos como derivados um do
outro ou como simples manifestações da mesma métrica, mas possuem algum
nível de pulsação em comum..
A polirritmia se apresenta na música europeia desde o século XIV,
principalmente em canções seculares francesas como no exemplo seguinte:
https://drive.google.com/file/d/1aB0DUNEgsUemfR3BnU2IQ-lPKUOW-r_3/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/15ETDZGkPc_PGoA4RiNjCfNgu3btHTpln/view?usp=sharing
POLIMETRO E POLITEMPO
Polimetria é um termo que só é aplicável a um tipo muito especial de
fenômeno. Se tomarmos “metro” em seu sentido primário de unidade de
referência temporal, “polimétrico” descreveria o desdobramento simultâneo de
várias partes em um único trabalho em diferentes tempos, de modo a não ser
redutível a um único metrum (medida), ao contrário do que ocorre no ritmo
cruzado ou polritmia. Isso acontece em algumas músicas do século XX, tais como
parte das obras de Charles Ives, Elliott Carter’s Symphony, ópera de
Zimmermann, "Die Soldaten", e "Rituel", de Pierre Boulez. Sendo polimétricas no
sentido estrito, estas obras geralmente requerem vários regentes simultâneos.
Enquanto o conceito de poliritmia opera com o cruzamento de tempos que entra
em fase dentro de um ciclo mais longo, a polimetria opera com medidas de
tempo não redutíveis a uma métrica comum produzindo o efeito de tempos
diferentes e não proporcionais entre si definido, algumas vezes, como politempo.
COMETRICIDADE
Arom define cometricidade como uma tendência de que num período rítmico os acentos (de
altura, de duração, de intensidade ou timbre) coincidam, em sua maioria, com as pulsações e que os
contratempos não se sobreponham ao pulso seguinte de modo preponderante. (Arom, 1994:241)
Figura 1.8.1. Cometricidade
CONTRAMETRICIDADE
A relação de uma figura rítmica com a pulsação é contramétrica quando acentos de qualquer tipo “ocorrerem
predominantemente no contratempo” (Arom, 1994:242):
Figura 1.8.2. Contrametricidade
SIMETRIA E ASSIMETRIA
Quanto ao agrupamento de pulsos e acentuações dentro de um período rítmico, ou metro, as estruturas rítmicas
podem ser simétricas ou assimétricas. Quando uma figura (ou metro) pode ser dividida em duas partes iguais quanto
ao número de pulsos ela pode ser considerada simétrica:
Exemplo 1.8.1 Noel Rosa/ Vadico – Conversa de Botequim - Canto: Aracy de Almeida
7 9
7 9
Outra forma de imparidade é o tresillo muito frequente na música caribenha, principalmente a cubana .
Consiste de três batidas desiguais nos compassos quaternários e binários que agrupam as pulsações com a
seguinte disposição: 3+3+2..
Alguns musicólogos indicam que a origem do tresillo pode estar associada ao ritmo da Habanera com a colocação
de uma ligadura ligando a quarta semicolcheia e a terceira colcheia. Forma-se deste modo uma sincopa quebrando
a simetria do compasso
Linha do baixo com padrão de quatro compassos em ostinato. O tresillo é de duas mínimas pontuadas + uma mínima
Exemplo 1.8.4 b
♩ 3 3 2
♪ 3 3 2
Na musica africana estas estruturas com imparidades formam os padrões de ostinato (time lines) que, nas palavras de
Simha Arom, resultam em combinações “notáveis por sua complexidade e sutileza”. (1994: 246).
A imparidade rítmica é também uma ferramenta importante de análise rítmica no Jazz, como pode ser observado na
transcrição de um improviso do pianista Keyth Jarret, em que um ritmo de ostinato na mão esquerda não pode ser
dividido em duas partes iguais. Os acentos também sugerem outro tipo de imparidade: o ritmo de tresillo em que uma
métrica notada em 4/4 divide-se em três batidas desiguais.
9 7
3 3 2
DISSONANCIA MÉTRICA
• conceito de dissonância métrica surge para analisar e interpretar fragmentos musicais em que haja algum tipo de
conflito entre camadas métricas. Segundo Harald Krebs “vários teóricos do século XIX contextualizam o metro
musical como um conjunto de camadas de movimento que interagem”. Sendo que cada camada consiste em uma
“série de pulsos espaçados aproximadamente de modo periódico”. (Krebs, 1999: 22)
• Camadas métricas são agrupamentos de pulsos perceptíveis à audição que são articulados por acentos
fenomenais regulares, portanto possuem configuração musical própria. Por sua vez, níveis métricos, como
estudado anteriormente, são uma rede abstrata de pulsos e batidas e são definidas por todas as possibilidades
duracionais (pulsos, batidas ou subdivisões e múltiplos) de um fragmento musical.
Harald Krebs define métrica: “a união de todas as camadas de movimento (isto é, séries de pulsos recorrentes
regularmente) ativas nele.” Há três classes de camadas: “camada de pulso”, “camada de micropulsos” e “camada
interpretativa”. A 1ª é a série de pulsações mais rápidas com ataques mais ou menos regulares na superfície musical. A
2ª, “micropulsos”, são mais rápidas e surgem aqui e ali como espécie de ornamentos, e em geral tem pouca influencia
métrica. A 3ª, “camada interpretativa”, se move mais lentamente do que a camada de pulsos e se constitui por série de
batidas recorrentes e regulares que permitem que o “ouvinte interprete os dados brutos da camada de pulso
organizando seus pulsos em unidades maiores” cujos acentos podem estar em “dissonância” com os da camada de
pulsos.
A abordagem de Krebs define dois tipos básicos de dissonância métrica: dissonância de agrupamento, que o autor
identifica com a letra G, se caracteriza pela “superposição na métrica notada de um agrupamento de pulsos que é
incongruente com o agrupamento métrico” sendo a hemíola um caso mais específico de dissonância de agrupamento. A
dissonância de deslocamento, indicada pela letra D, consiste na “superposição à métrica notada de um agrupamento de
pulsos congruente, mas não alinhado.(sincopa)” (Krebs, 2006:32). Tanto a dissonância de agrupamento quanto a de
deslocamento são causadas por eventos fenomênicos, eventos da superfície musical definidos por vários tipos de
acentos (de duração, de intensidade, de altura e outros) que “determinam configurações métricas que se sobrepõem à
métrica notada”
O autor traz alguns exemplos retirados de obras Robert Schumann em que os números indicam as diferentes
camadas. No primeiro ocorre dissonância por deslocamento:
As quiálteras são diferenciadas dos polirritmos ou ritmos cruzados, pois ocorrem, em geral, dentro do
contexto de uma única parte e por tempo bastante limitado, mas de todo modo as quiálteras podem criar o
efeito de poliritmo em relação á divisão normal. Na música produzida com fundamento no Serialismo
Integral (Boulez, Stockhausen) e da Nova Complexidade (Brian Ferneyhough), o uso de quiálteras
contrastantes sobrepostas torna-se bastante comum produzindo obras de grande complexidade rítmica.
Classificação das quiálteras
1. Aumentativas ou diminutivas
Segundo Esther Scliar as aumentativas “são aquelas cuja divisão é maior que a
normal” e as diminutivas quando a divisão resulta em figuras menores que o normal.
(Scliar, 1985: 88-89). Nestes casos o número utilizado para indicar a quiáltera deve ser
sempre o mais próximo da divisão normal.
X 7/8
4. Duração de quiáltera: duração da batida, parte debatida, mais de uma batida ou ainda metro completo.
Villa-Lobos se utiliza de quiáltera diminutiva uniforme. Observar que, ao contrário do tipo de polirritmia referida
anteriormente, neste fragmento não ocorre uma pulsação comum entre as 6 semicolcheias da subdivisão normal e
as 5 semicolcheias da quiáltera.
Exemplo 1.9.2. Chopin, Balada em Fá menor
No exemplo acima em 6/8 (1.9.2), Chopin se vale de diversas quiálteras aumentativas. Apenas a
primeira do compasso 154 é regular (sesquialtera, 6:4) e todas as demais são irregulares. Resulta no
fragmento um tipo de poliritmo em que não ocorre uma pulsação comum entre as partes em
simultaneidade.
Exemplo 1.9.3a. Stockhausen, Klavierstücke nº2 No exemplo ao lado, citado por Scliar (1985:92), Stockhausen utiliza
quiálteras embutidas em quiáltera mais ampla. A indicação 5:4 é de
quiáltera de compasso em que as 4 colcheias normais do compasso 2/4
são substituídas pela quiáltera de 5 colcheias. As quiálteras internas
indicam 3 agrupamentos desiguais de 5 fusas.
13
No início, ♩. = 120; no 8º compasso (3/4) a ♩ = 180 [120 x 3/2] (nova semínima, duração igual à soma de 2 colcheias =
anteriores); ♩ = 270 [180 x 3/2 = 270] (nova semínima, tempo igual à soma de 2 quiálteras anteriores).
As duas primeiras mudanças de andamento deste fragmento foram realizadas a partir de uma relação de 3 4 semicolcheias
pontuadas = 12 fusas
para dois (3/2), pois os valores da semínima do tempo seguinte são calculados a partir da soma de duas colcheias = 6 semicolcheias = 3
anteriores. Na mudança do 14º compasso (3/4) para os seguintes (6/8) a referência anterior é a unidade de colcheias
compasso igualada com a unidade de tempo seguinte (3 vezes mais lento, 270/3=90).
Exemplo 1.9.6. Charles Ives, Calcium Light Night
Este fragmento é de uma composição de Charles Ives anterior ao desenvolvimento do conceito e prática da
modulação métrica por Carter, mas pode ser considerada precursora. A semínima pontuada + semicolcheia (divisão
em duas partes iguais do compasso de 7/8) se iguala por modulação métrica a uma mínima. A terceira linha realiza
um acelerando e ralentando escritos enquanto as vozes superiores estão em andamento fixo.
Fase e Defasagem Rítmica
Processo de composição desenvolvido principalmente por compositores norte – americanos, entre eles Steve Reich,
na segunda metade do século XX com provável influência da música centro africana. Processo de composição
desenvolvido principalmente por compositores estadunidenses, entre eles Steve Reich, na segunda metade do
século XX com provável influência da música centro africana. Nas palavras de Cesar Adriano Traldi, pesquisador da
Universidade Federal de Uberlândia, nas “composições com phase-shifting, o processo rítmico utilizado é o principal
elemento musical da obra. Ou seja, o procedimento rítmico torna-se elemento fundamental do discurso musical”
(Traldi, 2014: 97).
Em artigo de 1992, Richard Cohn aprofunda o sentido do processo de ‘mudança de fase’ (phase-shifting) ao
afirmar que Steve Reich, ao propor esta ideia composicional, estava reagindo contra composições aleatórias e seriais,
que usam estruturas ocultas, tal como o serialismo dodecafônico e o integral, para desconectar processo
composicional da música que se ouve. “Reich deixou implícito que em sua música que muda de fase ele descobriu
uma maneira de permitir que os processos musicais sejam percebidos”. Citando o próprio Reich Conh conclui que a
música com mudança de fase pode ter alcançado a ideia de que um processo de composição e uma música sonora
que são uma e a mesma coisa". (Cohn, 1992: 146). O exemplo seguinte é uma das composições mais sibnificativas
deste tipo de composição:
As duas linhas iniciam exatamente em fase, mas a cada bloco de repetições a linha
inferior entra em defasagem de uma colcheia à frente. Esgotadas as 12 possibilidades
progressivas de defasagem entram em fase novamente no último bloco.
Exemplo 17. GYÖRGY LIGETI: POEMA SINFÓNICO PARA 100 METRONOMOS