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Saúde
Saúde
Para ser fazerem escolhas é tido em conta o custo de oportunidade, ou seja, é decidir que o que
se está a abdicar não vale mais do que o que será obtido. Ir ao médico tratar-se significa que o
tempo e o dinheiro que se vai gastar não vale tanto como o benefício que se espera receber
dessa consulta.
Como um médico e um paciente concordam em fazer uma transação é porque acreditam que
ambos vão beneficiar dela.
1.1. A economia
O principal numa economia é o mercado, ou seja, o sítio onde os consumidores e os produtores
trocam dinheiro por bens e serviços. Sem ele não existiria economia avançada, já que ninguém
poderia passar 15 anos a estudar e, consequentemente, não poderia fornecer formas
especializadas de trabalho (muito mais valorizadas).
Para os médicos serem os produtores os pacientes têm de ser os consumidores, tendo ambos
de concordar com um preço para que a troca ocorra. Assim, para que uma transação ocorra tem
de existir um mútuo acordo que seja benéfico a ambas as partes.
Para além dos termos de troca explícitos, existem muitas condições acordadas relativas à troca
que nunca são explícitas a menos que algum desentendimento leve o médico e o paciente a
tribunal. Ex.: qualificações do médico e da sua equipa, utilização de procedimentos
desnecessários para aumentar a conta do paciente, informação acerca das consequências dos
procedimentos, utilização de ligaduras pelo paciente até ser necessário, …
No entanto, este modelo não tem em conta questões de vida ou morte que são tomadas pelos
médicos na sala de operações. Curar doenças requer conhecimento acarreta riscos muito
especiais, o que força o paciente a confiar no médico, levando a formas especiais de organização
económica e contratos em medicina (licenciatura dos profissionais, estatutos das equipas
médicas e revisões regulamentares).
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Health Economics Chapter 1
1.1.2. Valor
A saúde tem um custo tão elevado porque é tão preciosa que excede o valor de todas as coisas
que alguém possui. Alguém doente e com dores, confrontado com a possibilidade de morrer,
está disposto a pagar o que quer que seja para recuperar a sua saúde.
A quantidade de anos que um médico estuda, os biliões que o governo investe em saúde pública
e os seguros de saúde são consequências do elevado valor que a saúde tem.
Pagar a alguém provavelmente não faz com que essa pessoa cuide. No entanto, não pagar pode
tornar impossível que essas pessoas tomem cuidem.
Apesar disso, estas equipas são muito movidas pela compaixão. Trabalham muitas horas,
mesmo em casos onde há pouca esperança, sem esperar receber mais por isso. No entanto,
enquanto profissionais, esperam reconhecimento e um rendimento razoável. Muitas vezes é
apenas o seu profissionalismo que faz com que alguém pobre e doente não seja deixado de lado.
Os médicos trabalham para o bem dos seus pacientes. São eles que decidem que tratamento é
certo ou errado e não os pacientes.
Nas trocas básicas os produtor e o consumidor acordam um preço, na medicina é muito mais
complexo do que isso. Uma “troca médica” é feita para o bem do paciente por alguém que cuida
dele. São situações complexas que envolvem várias expectativas profissionais e forças externas
(ex.: seguro), bem como a doença do paciente, os seus gostos e as suas preferências. Cuidar
significa tomar decisões pelo paciente para o ajudar, ao invés de se ajudar a si próprio.
Existem planos de seguro públicos e privados que agrupam os fundos e distribuem os riscos por
milhões de pessoas, sendo estes que financiam a maioria dos cuidados de saúde.
Deste modo, quem beneficia dos cuidados médicos não é quem paga por eles. Os medicamentos
milagrosos do futuro e os avanços nas técnicas cirúrgicas, são pagos pelo aumento do preço dos
medicamentos atualmente bem como pelos apoios dos contribuintes de hoje. Os resultados
deste investimento surgem futuramente, no entanto, os sucessos que existirem devem ter
benefícios suficientes para compensar os investimentos arriscados feitos no passado.
O tempo surge enquanto fator de desconto (valor presente descontado) neste tipo de
investimento, já que algo que não pode ser utilizado durante muito tempo não é tão valorizado
quanto algo que se pode começar a usar hoje.
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Na saúde os benefícios quase nunca são imediatos ou certos pelo que são descontados, sendo
quase sempre financiados por terceiro ao invés de pagos diretamente.
Apesar dos pacientes e pagarem algo pelos cuidados de saúde, não são eles que estão a suportar
a maioria dos custos:
Cerca de 75% dos cuidados de saúde são pagos por dinheiro de outras pessoas.
Os bens e serviços são fornecidos no mercado apenas quando os consumidores estão dispostos
a pagar por eles e os produtores aceitam esse dinheiro em troca dos bens. Neste caso, a troca é
baseada num acordo mútuo, sendo um transação que envolve apenas duas partes.
As empresas são entidades que podem deter, comprar e vender propriedade e que pagas
impostos tal como as pessoas. Para obterem os inputs necessários à produção as empresas
também têm de ser consumidores. Neste caso, as compras feitas enquanto um passo intermédio
da produção e não para consumo final.
As empresas são detidas por indivíduos que fornecem o capital, o trabalho e o esforço
organizacional necessário para o funcionamento da empresa. Assim, todo o dinheiro que um
consumidor dá a uma empresa acaba nas mãos de alguém que o quer gastar. Quando os
trabalhadores e os donos das empresas gastam esse dinheiro transformam-se em
consumidores, completando o fluxo financeiro circular.
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As pessoas pagam apenas 11% do financiamento total, os seguros privados pagam 31%, o
governo paga 50% e 7% são pagos por outras fontes privadas. Os hospitais são os que mais
utilizam estes fundos (31%).
A barra do lado esquerdo representa a utilização dos fundos e a barra do lado direito representa
as fontes dos fundos, pelo que as barra se têm de igualar. Todo o dinheiro gasto pelos pacientes,
pelo governo ou pelos seguros é um rendimento para os trabalhadores relacionados com a
medicina.
O dinheiro é apenas uma forma de manter o controlo sobre todas as obrigações numa
economia.
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Os médicos deixaram de ser pessoas que trocavam os seus serviços por outros bens e passaram
a ser profissionais qualificados altamente remunerados. Enquanto os hospitais deixaram de ser
sítios de suporte para os mais desfavorecidos e passaram a ser sítios tecnológicos com
tratamentos intensivos.
Em 1900 os hospitais eram financiados por donativos e pagamentos dos pacientes. Atualmente
são financiados quase na totalidade por terceiros, sendo os donativos apenas 2% dos gastos
totais e os pagamentos dos pacientes apenas 3% (despesas relacionadas com os seguros
maioritariamente).
Quem é cuidado e que tipo de cuidado é aplicado são decisões tomadas com base em regras
pré-estabelecidas e na opinião dos médicos.
Na maioria das transações médicas não há troca de dinheiro direta. O paciente paga o seguro e
os impostos e os médicos são pagos pelas seguradoras e pelo governo. Assim, os preços estão a
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Os gastos em saúde aumentaram 200 vezes nos últimos 70 anos. Tanto os pacientes quanto os
médicos estão satisfeitos, uma vez que por um lado passou a existir um sistema de saúde
tecnologicamente avançado e, por outro lado, os médicos são reconhecidos e ganham bastante
o que faz com que continuem motivados para continuar.
Parte deste aumento é explicado pela inflação e outra parte pelo aumento do número de
pessoas que necessitam de cuidados de saúde. No entanto, mesmo ajustando tendo em conta
estes fatores, os gastos reais per capita aumentaram 25 vezes. Isto é justificado pelo aumento
dos salários, já que quando tal acontece os trabalhadores esperam mais dos bens e serviços.
Por outro lado os salários dos médicos também aumentaram, o que reflete o aumento do
investimento em educação e o aumento da procura pelos seus serviços.
O aumento da quantidade de serviços médicos prestados pode explicar o aumento dos gastos
em saúde, no entanto, o número de dias passados pelos pacientes nos hospitais e o número de
consultas diminuíram. Apesar disso, as visitas de enfermeiras a casa e as prescrições
aumentaram.
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Despois de ter todos estes fatores em conta, continua a existir um aumento de 500% nos gastos
em saúde. O que é explicado pelo aumento da intensidade e da qualidade dos serviços:
Exames feitos muito mais rapidamente e existem muitos que não existiam antigamente;
O médico que visitava o paciente a casa foi substituído por grandes equipas com
equipamentos médicos;
Algumas doenças graves passaram a ter cura e a poder ser prevenidas.
Custo de oportunidade – custo relativo ao que se tem de abdicar para ter algo.
Disponibilidade a pagar – forma de medir o valor de algo, diferindo de acordo com quem
compra e com quem vende.
Troca – transação baseada num acordo mútuo que faz com que todas as partes fiquem melhor.
Fluxo circular do dinheiro – quando alguém troca dinheiro por outra coisa, esse dinheiro é
recebido por outra pessoa que, por sua vez, o troca por algo. O dinheiro é omnipotente não por
ter um valor intrínseco mas sim por porque ser troca por outra coisa.
Margem – diferença entre as várias opções numa escolha, podendo ser quantitativa ou
qualitativa. As decisões são sempre tomadas na margem, ou seja, quando o custo de obter mais
uma unidade iguala o seu benefício.
Tomada de decisão – decidir envolve um trade-off entre abdicar de algo para conseguir outra
coisa. O princípio do custo-benefício admite que todos os agentes se comportam de forma
racional agindo sempre de acordo com o princípio da maximização, apesar de na realidade isso
nem sempre acontecer.
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Health Economics Chapter 1
Na Austrália, no Japão, no Canadá e na maioria dos países europeus todos têm acesso a serviços
médicos especializados independentemente do seu rendimento.
Nos EUA todos têm acesso a cuidados de saúde especializados, mas a responsabilidade de
pagamento varia de acordo com a situação social de cada pessoa.
Na tabela o rendimento dos indivíduos é calculado tendo por base a média de rendimento da
área de residência. Principais conclusões:
Indivíduos que vivem em comunidades mais pobres têm maior risco de morrer;
Indivíduos que vivam em áreas com rendimentos inferiores a $10 000 por ano têm o
dobro da mortalidade dos que vivem em áreas com rendimentos superiores a $30 000;
Os pretos têm maior mortalidade que os brancos:
o Vivem maioritariamente em zona de baixo rendimento;
o Têm fatores genéticos que fazem com que assim seja;
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Health Economics Chapter 1
Apesar dos seguros e da assistência governamental ter feito muito para igualizar o acesso aos
cuidados de saúde, continuam a verificar-se grandes disparidades no que diz respeito às
condições de saúde e à mortalidade.
Apesar de universais, as escolhas públicas também estão sujeitas a uma restrição orçamental,
uma vez que lidam com bens escassos.
Foi proibido fumar em alguns locais públicos o que melhorou a qualidade do ar, sem que
aparentemente ninguém tenha pago nada. No entanto, na realidade existiu aqui uma transação,
já que quem fuma teve de deixar de o fazer em alguns locais para beneficiar os não fumadores.
Os cuidados médicos são mais públicos do que aparentam à primeira vista. Apesar de cada
pessoa decidir individualmente ir ao hospital, se só existir um hospital tem de ir
obrigatoriamente aquele, recebendo o mesmo tipo de cuidados que todos os outros pacientes.
Mesmo que exista mais do que um hospital, os pacientes raramente podem escolher o seu
médico, enfermeiro ou quarto.
Por outro lado, todos os empregados de uma empresa têm o mesmo seguro de saúde, pelo que
são igualmente valorizados quando recorrerem ao hospital.
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Health Economics Chapter 2
2. Procura e oferta
As escolhas feitas pelos consumidores constituem a procura, enquanto as escolhas feitas elas
empresas constituem a oferta.
Quando um consumidor paga por um bem menos do que as sua disponibilidade a pagar fica com
excedente do consumidor. Enquanto quando uma empresa vende o bem por um preço superior
ao seu custo fica com lucro.
Curva da procura – mostra quantos pacientes estão dispostos a comprar um bem ou serviço
médico ao preço atual e aos potenciais preços:
Lei da procura – à medida que o preço diminui a quantidade de pessoas que compra o bem
aumenta e, por isso, a curva da procura é inclinada para baixo.
A procura, bem como a disponibilidade a pagar por um bem, depende dos gostos e preferenciais
do consumidor.
Não existe um “valor” exato para o bem, este depende da quantidade que é utilizada. Se forem
utilizados poucos corações artificiais eles valem milhões, no entanto, o seu valor diminui à
medida que vão sendo usados mais.
Diamantes e água
A água é necessária para viver, mas custa muito pouco, enquanto os diamantes que são apenas
ornamentais custam imenso.
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Health Economics Chapter 2
O valor do primeiro copo de água é enorme, mas à medida que se bebem mais copos de água o
seu valor diminui. Em alguns sítios existe tanta água que ninguém precisa sequer de pagar por
ela. O benefício total (área abaixo da curva da procura) é enorme, enquanto o benefício marginal
é muito pequeno.
Conclui-se que qualquer que seja a decisão a tomar, esta é feita na margem, ou seja, avaliando
se vale ou não a pena adquirir mais uma unidade do bem.
𝑃𝑟𝑒ç𝑜 = $60 000 → 39 𝑐𝑜𝑟𝑎çõ𝑒𝑠 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑎𝑑𝑜𝑠 – todos os que valorizam o coração em $60 000
ou mais compram-no
𝑃𝑟𝑒ç𝑜 = $50 000 → 40 𝑐𝑜𝑟𝑎çõ𝑒𝑠 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑎𝑑𝑜𝑠 – todos os que valorizam o coração em $50 000
ou mais compram-no
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Health Economics Chapter 2
Os restantes 39 consumidores estavam dispostos a pagar mais pelo coração, por isso recebem
excedente do consumidor.
𝑾𝑻𝑷 𝒕𝒐𝒕𝒂𝒍 = 1 ∗ 1 025 000 + 1 000 000 + 1 ∗ 975 000 + 1 ∗ 950 000 + ⋯ + 1 ∗ 50 000
= $21 500 000
𝑬𝒙𝒄𝒆𝒅𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒅𝒐 𝒄𝒐𝒏𝒔𝒖𝒎𝒊𝒅𝒐𝒓 𝒕𝒐𝒕𝒂𝒍 = 𝑾𝑻𝑷 𝒕𝒐𝒕𝒂𝒍 − 𝒑𝒓𝒆ç𝒐 ∗ 𝒒𝒖𝒂𝒏𝒕𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆
Estudos demonstram que uma pequena dose de aspirina diariamente previne os ataques
cardíacos, apesar de ter um preço mínimo.
2.1.2.2. Perceções
A água apesar de estar disponível a título gratuito em alguns sítios por custar $2 ou mais um
restaurante. O que importa para o valor de um bem não é o seu valor intrínseco mas sim o que
os consumidores acreditam que estão a comprar.
Durante muitos anos pequenas lesões mamárias eram removidas utilizando a mastectomia,
enquanto poderia ser utilizadas outras cirurgias menos evasivas mas igualmente eficazes. Isto
não quer dizer que estes médicos foram irracionais. Eles utilizaram esta técnica porque na altura
acreditavam que era o melhor tratamento.
A medicina lida diariamente com a incerteza dos resultados, pelo que as expectativas tornam-
se muito mais importantes do que os resultados.
Para conseguir estudar o preço e os fatores que o influenciam é necessário assumir que todos
os outros fatores para além do que está a ser estudado se mantêm constantes.
A curva da oferta é a curva do custo marginal, já que representa o que tem de ser pago às
empresas para que estas forneçam mais uma unidade do bem.
A oferta de mercado é composta por todas as organizações que vendem bens ou serviços. Como
todas as unidades que são compradas têm de ser vendidas a procura é igual à oferta.
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Health Economics Chapter 2
As empresas estão sempre interessadas em fazer lucro, sendo este determinado por restrições
externas como o custos dos recursos de produção e pela tecnologia. Assim, a forma da curva da
procura é maioritariamente definida por estes fatores.
Cada empresa enfrenta a sua própria curva da procura de potenciais consumidores, podendo
esta ser alterada através de variações no preço.
Receita marginal – receita obtida com a venda de uma unidade adicional de produto.
Quando um produtor baixa o preço para vender mais unidades do seu produto, para da receita
que obtém com as unidades que vende a mais é contrabalançada pela diminuição da receita
obtida nas unidades de produto que já se vendiam ao preço mais alto (preço diminui em todas
as unidades).
Deste modo, para maximizar o lucro, as empresas devem vender enquanto a receita marginal
for superior ao custo marginal. Pelo que, no ponto ótimo, a receita marginal iguala o custo
marginal.
A procura de um bem é tanto mais elástica quanto maior for a quantidade de bens substitutos
que existem no mercado.
O preço dos cuidados médicos é bastante inelástico, uma vez que se o paciente acreditar que
determinado medicamento ou médico é o melhor para o tratar não vai ser muito sensível ao
preço a dar por eles, já que não existem no mercado bons substitutos.
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Health Economics Chapter 2
A maioria dos cuidados médicos são relativamente insensíveis à variação dos preços, uma vez
que a dor, as necessidades críticas, o medo da incerteza e os seguros atenuam o efeito das
variações do preço na tomada de decisão dos pacientes.
Apesar dos hospitais enfrentarem curva da procura inelásticas os preços que cobram são
inferiores aos maximizadores do lucro, graças ao desejo de ajudar os mais pobres.
Para que a discriminação de preços possam ser feita é necessário que não exista possibilidade
de arbitragem, ou seja, que os consumidores não possam comprar e revender os seus produtos.
Isto verifica-se nos cuidados de saúde, uma vez que os pacientes têm de aparecer perante os
médicos e não podem revender as suas consultas/exames.
É um erro pensar que os ricos são menos sensíveis ao preço que os pobres, já que os ricos têm
facilidade em deslocar-se para outros sítios onde os cuidados médicos são mais baratos
enquanto os pobres tem alguma dificuldade.
Tal com os mercados são separados pela distância também o são pelo tempo. Assim, para que
haja discriminação de preços é necessário que os consumidores não sejam capazes de transferir
bens de um período em que estão mais baratos para um período em que estão mais caros.
Nos cuidados de saúde a discriminação de preços por tempo é desencorajada, uma vez que não
é ético um médico cobrar mais por uma emergência do que por uma visita de rotina, apesar do
preço ser inelástico.
Evidência estatística mostra que por um lado os médicos utilizam o seu poder de monopólio
para aumentar os seus rendimentos mas que, por outro lado, eles não se comportam enquanto
monopolistas maximizadores do lucro. Isto é visível pelo facto destes cobrarem preços baixos
aos mais pobres (aumenta o rendimento) e por vezes oferecerem os seus serviços gratuitamente
(não aumenta o rendimento).
Nos cuidados médicos o tempo, a dor e o risco de morte fazem parte do preço que os pacientes
pagam.
Preço do tempo – tempo gasto na viagem até aos hospitais, em tratamento ou em recuperação
tem um custo de oportunidade que deve ser tido em conta.
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Health Economics Chapter 2
Preço da dor – mais dificilmente calculado uma vez que não pode ser medida objetivamente e
é valorizada de forma diferente pelos vários pacientes.
Os serviços médicos podem ser alocados aos pacientes de acordo com o tempo, a dor ou o risco
de morte, tal como é feito com o dinheiro. No Canadá, os pacientes não pagam pelos cuidados
de saúde, mas as filas de espera para os tratamentos são tão longas que alguns pacientes
desistem. Assim, o tempo de espera desencoraja os pacientes que não precisam
verdadeiramente do tratamento, sendo o número de pacientes tratados eficiente.
A diferença entre o preço em dinheiro, o preço do tempo e o preço da dor é que o dinheiro é
transferido para terceiros aquando da transação enquanto o tempo e a dor são custos pessoais
que não beneficiam diretamente o cuidador.
Uma empresa vai utilizar mais do recurso A e menos do recurso B se deste modo conseguir a
mesma produção com custos mais baixos (ou mais produção com os mesmos custos). Isto
acontece se a produtividade marginal do recurso A for maior do que a do recurso B. Assim sendo,
o custo do recurso A será maior do que o do recurso B:
𝑷𝒓𝒆ç𝒐 𝑨 𝑷𝒓𝒐𝒅𝒖𝒕𝒊𝒗𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒎𝒂𝒓𝒈𝒊𝒏𝒂𝒍 𝑨
=
𝑷𝒓𝒆ç𝒐 𝑩 𝑷𝒓𝒐𝒅𝒖𝒕𝒊𝒗𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒎𝒂𝒓𝒈𝒊𝒏𝒂𝒍 𝑩
Sabendo que a curva da procura corresponde à curva da receita marginal e a curva da oferta
corresponde à curva do custo marginal:
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Health Economics Chapter 2
Se oferta fosse fixa a curva da oferta seria uma linha vertical e apenas a curva da procura se
poderia mover, alterando o preço de mercado. Este tipo de oferta corresponde à restrição à
entrada nas profissões relacionadas com a saúde.
Se a procura fosse fixa a curva da procura seria uma linha vertical (procura perfeitamente
inelástica) e apenas a curva da oferta de poderia mover, alterando o preço de mercado. Este
tipo de procura corresponde às necessidades médicas.
Esta perspetiva de decisão baseada na necessidade foca-se nas diferenças ao nível dos estados
de saúde dos pacientes, ignorando o papel dos preços e dos rendimentos na alocação de
recursos escassos.
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Health Economics Chapter 2
Como os médicos têm de atuar no melhor interesse do doente estes comportam-se como se os
preços fossem estabelecidos por outra pessoa e como se as contas fossem pagas por outra
pessoa não relacionada com o paciente.
Apesar da curva da procura por cuidados de saúde ser estranha aplicada a um paciente
específico, funciona bem quando aplicada à sociedade. Isto acontece porque na sociedade
existem várias doenças e vários tratamentos possíveis, pelo que é necessário tomar decisões na
margem.
Assim, o valor dos cuidados médicos depende daquilo que o paciente recebe e daquilo que tem
de abdicar para o receber.
Assim, a procura por cuidados de saúde é derivada e depende da utilidade do tratamento para
melhorar a saúde do paciente.
No momento em que precisam, os cuidados de saúde são a única coisa que os pacientes podem
comprar para se sentirem melhor, já que os outros fatores que determinam a saúde não podem
ser comprados.
Fatores distintivos:
A vida é a coisa mais importante que cada um tem, no entanto, em questões de vida ou
de morte as decisões são tomadas por médicos e não pelos pacientes;
Não são os hospitais e os médicos a estabelecerem os preços mas sim o governo e as
seguradoras;
Os pacientes compram o que precisam mas não pagam diretamente por isso, mas sim
através de impostos e prémios de seguros;
As transações são altamente reguladas.
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Health Economics Chapter 2
2.9. Eficiência
O primeiro passo está relacionado com a gestão. Os recursos utilizados na produção não
produzem qualquer output a menos que seja feito um esforço para que isso aconteça. Se tal não
for feito o output diminui.
O segundo passo está relacionado com a tecnologia e as técnicas que devem ser utilizadas no
processo produtivo. Esta decisão depende do conhecimento que se tem naquela altura mas
também do preço dos recursos de produção e de condições externas.
O terceiro passo diz respeito à escolha da combinação ótima de recursos para produzir
determinado nível de output ao mínimo custo possível (minimização do custo).
O quarto passo está relacionado com a quantidade de produção. A gestão deve ter em
consideração o lado da procura e da oferta para decidir a quantidade de produção e a forma de
a distribuir, tentando alocá-la eficientemente.
O quinto passo está relacionado com os custos de transação que também devem ser tidos em
conta, uma vez que excedem os custos diretos de produção.
O sexto passo está relacionado com a perceção da melhor forma de aumentar a eficiência
económica. Schumpeter defendia que o crescimento só era conseguido através de um processo
de destruição criativa, sendo necessário abdicar de alguma eficiência atual em prol da eficiência
dinâmica.
Por fim devem ser tidos em conta os efeitos das decisões económicas em tudo o que rodeia a
empresa. As externalidades e os custos sociais não podem deixar de ser tidos em conta.
Nem sempre a competição e a eficiência são desejadas por todos. Apesar de serem benéficas
para o sistema no geral, ao nível individual têm vários custos. Deste modo, para que os
indivíduos contribuam para o bem da empresa é necessário que o seu esforço seja
recompensado, através da distribuição dos resultados pelos trabalhadores.
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Health Economics Chapter 3
O financiamento de terceiro do governo ou das seguradoras privadas requer este tipo de análise
para perceber quais os serviços que são cobertos e quais não são.
Análise custo-eficácia – análise dos custos não tendo em conta os benefícios em dólares. Esta
análise é utilizada no processo de tomada de decisão para perceber qual a alternativa mais
barata.
Nesta análise só devem ser tidos os em conta os itens que se alteram em resultado da decisão
tomada, ou seja, os custos e benefícios marginais.
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Health Economics Chapter 3
3.1.1.1. Contras
Custo direto da consulta: $80
Tempo de espera nas urgências: dado que esse tempo podia ser passado a trabalhar o
custo de oportunidade de o gastar à espera vai ser igual ao que receberia por hora no
emprego:
$7 ∗ 3ℎ = 21$
Receio de ser visto como fraco pelos companheiros: dado que está disposto a pagar $40
por muletas para andar com elas mesmo sem precisar, essa é a sua disponibilidade a
pagar para que os colegas não o achem fraco.
3.1.1.2. Pros
Possibilidade de parar de doer: a possibilidade de continuar a doer é um custo, pelo que
a possibilidade de parar de doer é uma redução dos custos, ou seja, um benefício.
Supondo que em vez de ir às urgências o paciente pode simplesmente comprar um
medicamento para as dores e que se esse medicamento custar $200 não vai ser
adquirido. Assim, a disponibilidade a pagar para parar a dor é inferior a $200 (assumimos
que é $150).
Neste caso os comprimidos retirariam a dor com certeza ao paciente, enquanto uma
visita às urgências pode não tirar. Deste modo, a visita às urgências é menos valorizada
do que os comprimidos, já que o seu valor tem de ser ajustado ao risco, sendo calculado
o valor esperado.
Sabendo que a probabilidade da ida às urgências parar a dor é de 1/3 o benefício
esperado será:
1
∗ $150 = $50
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Prevenção de uma lesão grave: supondo que a perda relacionada com uma lesão grave
no joelho é de $50 000 e que a possibilidade de ir já às urgências em vez de ir ao médico
para a semana faz uma diferença de 0,5%:
0,005 ∗ $50 000 = $250
Por outro lado, a lesão grave só deve aparecer futuramente pelo que o valor anterior
tem de ser descontado pelo tempo, ficando com um benefício de $178;
Medo de não fazer nada quando se podia ter resolvido logo: pode identificar-se o valor
da redução da preocupação com o valor de um diagnóstico em consultório ($20);
Não perder tempo de trabalho por se estar com dores/preocupado: dado que a visita às
urgências poupa 6 horas de sofrimento que existiriam se se fosse à consulta apenas na
próxima semana, o valor destas horas será:
$7 ∗ 6ℎ = 42$
Esta decisão deve ser tomada examinando todos os possíveis caminhos e avaliando os seus
benefícios líquidos. Para tal é mais fácil analisar a decisão incrementalmente, ou seja, perceber
se fazer um pouco mais aumenta mais os benefícios marginais do que os custos marginais.
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Health Economics Chapter 3
Regra de decisão:
Note-se que os benefícios marginais vão diminuindo à medida que a quantidade aumenta,
verificando-se o princípio da produtividade marginal decrescente (lei da procura).
Custo médio unitário – custos totais divididos pelo número de unidades produzidas.
Como existem custos fixos para o funcionamento de uma empresa, os custos adicionais por
unidade variam com o número de unidades produzidas. Assim, estes custos são apenas uma
estimativa baseada nos custos totais, pelo que não existem custos unitários definitivos.
Nas organizações médicas é ainda mais difícil calcular os custos unitários, uma vez que os
mesmos recursos são utilizados em vários serviços.
Margem de severidade / risco – decisão acerca do número de pacientes a tratar (que categorias
de pacientes se trata).
A tabela indica o custo de um ano adicional de vida para um doente de cancro, segundo o
tratamento que lhe é feito.
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Health Economics Chapter 3
Esta análise não reflete a decisão que tem de ser tomada pelo médico, já que cada um dos
possíveis tratamentos tem de ser comparado com a melhor alternativa disponível:
Seja o ganho o número de anos de vida obtidos depois da operação, vemos que os doentes
seriamente doentes ganham bastante com o procedimento, mas que o ganho vai diminuindo
com o grau de doença.
Se todos (100) pacientes forem tratados todos ganham, em média, 2,74 anos de vida (274/100).
Se é um bom resultado, no entanto, poderia ser muito melhor se os pacientes (48) que na
realidade não têm nenhuma doença não fossem tratados. Nesse caso, o ganho seria de 5,3 anos
(274/52).
Quanto mais concentrada nos que tiram maiores benefícios for a terapia maior será o benefício
total. Se repararmos mais de metade dos ganhos são obtidos tratando apenas os doentes em
estado IV e V.
Assumindo que os médicos começam por tratar os pacientes em estado mais grave, a figura
seguinte mostra a evolução dos benefícios totais á medida que se tratam mais doentes:
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Health Economics Chapter 3
Flat of the curve medicine – estender uma terapia útil a tatos pacientes faz com que não haja
benefícios adicionais.
3.2. Maximização
A decisão entre várias alternativas depende apenas dos fatores que mudam entre cada
alternativa, pelo que são as variações na margem que determina qual a escolha ótima. Assim,
os benefícios extra de cada alternativa devem ser comparados com os seus custos extra.
Os médicos focam-se nos benefícios, tentando fazer o máximo possível por cada paciente. No
entanto, as pessoas ao utilizarem mais recursos em cuidados de saúde fica com menos recursos
para o resto, pelo que é importante ter em conta estes trade-offs. Deste modo, tanto os custos
quanto os benefícios devem ser tidos em conta na tomada de decisão.
Triagem – é feita pelo pessoal médico operando da mesma forma que o princípio económico da
maximização, pelo que a eficiência aumenta quando os doentes mais graves são tratados
primeiro.
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Health Economics Chapter 3
No ponto ótimo:
A curva dos custos totais e a curva dos benefícios totais têm o mesmo declive e a
distância entre elas é máxima:
𝐷𝑒𝑐𝑙𝑖𝑣𝑒𝑏𝑒𝑛𝑒𝑓í𝑐𝑖𝑜𝑠 = 𝐷𝑒𝑐𝑙𝑖𝑣𝑒𝑐𝑢𝑠𝑡𝑜𝑠
O declive da curva dos benefícios líquidos é 0:
𝐷𝑒𝑐𝑙𝑖𝑣𝑒𝑏𝑒𝑛𝑒𝑓í𝑐𝑖𝑜𝑠 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜𝑠 = 𝐷𝑒𝑐𝑙𝑖𝑣𝑒𝑏𝑒𝑛𝑒𝑓í𝑐𝑖𝑜𝑠 − 𝐷𝑒𝑐𝑙𝑖𝑣𝑒𝑐𝑢𝑠𝑡𝑜𝑠
𝐷𝑒𝑐𝑙𝑖𝑣𝑒𝑏𝑒𝑛𝑒𝑓í𝑐𝑖𝑜𝑠 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜𝑠 = 0
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Health Economics Chapter 3
Esta formula foca-se separadamente na incerteza e nos valores relativos que afetam a tomada
de decisão. Muitas vezes isso não acontece com os conselhos que são dados o que dificulta
muito a escolha. Um reconhecimento explicito dos custos, benefícios e riscos é melhor para a
tomada de decisão entre o médico e o paciente.
As pessoas compram e vendem saúde em todos os momentos, mas não o fazem num mercado
organizado. Assim, a missão dos economistas é medir o valor que os consumidores dão à vida e
à doença tendo por base os seus comportamentos.
Um dos problemas com a estimação do valor da vida é o facto de se achar que o propósito dos
cuidados médicos é salvar vidas, quando na realidade o seu propósito é reduzir o sofrimento e
a ansiedade enquanto se perlonga a esperança de vida.
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Health Economics Chapter 3
Taxa de anos de vida ajustados pela qualidade – método de valorização de um ano de vida em
diferentes estados de incapacidade, estando entre 0,0 (morte) e 1,0 (boa saúde).
Assim, o valor presente de um ano adicional de vida obtido no futuro (t) é calculado descontando
o seu valor pelo tempo:
𝒗𝒂𝒍𝒐𝒓 𝒂𝒕𝒖𝒂𝒍
𝑷𝑽 =
(𝟏 + 𝒓)𝒕
Do lado dos benefícios, os anos de vida ganhos, são descontados pelo risco, tempo e qualidade
de vida.
Do lado dos custosos ajustamentos são feitos tendo em conta todas as diferenças entre os
custos (reduções esperadas no número de dias de trabalho perdidos e nos custos dos cuidados
médicos).
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Health Economics Chapter 3
O paciente espera viver 3 anos apenas com os medicamentos. No entanto, teria uma melhor
qualidade de vida se a cirurgia fosse bem sucedida. No entanto, a cirurgia tem uma eficácia de
apenas 40%, uma possibilidade de morte d 3% e custa $30 000. Assim, o custo por ano de vida
ajustado à qualidade é $45 000.
Para os indivíduos um tratamento que faz com que uma doença contagiosa seja menos
transmissível não tem benefícios diretos. No entanto, para a sociedade reduzir a probabilidade
de contágio é um benefício, tendo como custo o aumento dos impostos/prémios de seguro.
Muitos dos conflitos que surgem nas políticas de saúde estão relacionados com o facto de
existirem diferentes perspetivas.
É praticamente impossível fazer alterações que não deixem ninguém pior. Assim, para analisar
as políticas públicas um economista deve ter todos em conta, adotando a perspetiva da
sociedade.
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Health Economics Chapter 3
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Health Economics Chapter 4
4. Seguros de Saúde
Existe uma enorme quantidade de riscos que podem perturbar a nossa vida, no entanto, quando
acontecem podemos contar com o seguro para cobrir parte dos prejuízos financeiros. Do ponto
de vista da sociedade, os seguros são um método de distribuir o risco de modo a que a perda
de uma pessoa seja partilhada por várias em vez de ser assegurada por uma única pessoa. Do
ponto de vista individual, os seguros geram benefícios líquidos ao permitirem a troca entre dois
estados possíveis: de modo a ter muito dinheiro para pagar as despesas médicas quando está
doente e a pagar pouco quando está saudável.
As poupanças são limitadas enquanto ferramenta de gestão de risco uma vez que apenas
permitem aos indivíduos trocarem consigo próprios em períodos de tempo diferentes, não
partilhando os riscos com uma grande grupo de pessoas para que a despesa seja mais facilmente
suportada. Além disso, as pessoas estão sujeitas a perdas significativas que podem não
conseguir suportar pelos seus próprios meios.
Este tipo de ajuda entre amigos e família são tão comuns que pode ser estranho vê-la enquanto
trocas. No entanto, esta ajuda é baseada no sentido de obrigação mútua e reciprocidade. Se
alguém não ajudar quando é preciso então a primeira pessoa também não vai ajudar a segunda
quando ela precisar. Apesar da ajuda não ser uma construção legal é uma construção social.
4.1.3. Caridade
A obrigação de ajudar estende-se também a pessoas que não conhecemos, uma vez que nos
preocupamos com as pessoas enquanto seres humanos. É a ajuda mútua faz das pessoas uma
sociedade.
Os primeiros hospitais eram instituições de caridade que davam casa a quem não a tinha e
cuidados de saúde aqueles cujas famílias eram demasiado pobres para cuidar deles. A caridade
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Health Economics Chapter 4
antecedeu os seguros de saúde e foi uma forma importante de sustentar os cuidados de saúde
até ao século XX.
Apesar de não ser possível saber se vamos adoecer ou não é possível calcular o risco que existe
de isso acontecer. Como todos os indivíduos estão sujeitos a esse risco, se todos pagarem uma
pequena quota quem adoecer vai ter dinheiro para se curar sem sofrer financeiramente.
Do ponto de vista individual, os seguros são trocas entre dois estados possíveis, o estado em
que a pessoa está saudável e o estado em que está doente. O dinheiro é trocado do estado em
que as pessoas têm mais para o estado em que as pessoas têm menos.
Os seguros mutualizam as perdas, não as eliminam nem reduzem. Os membros do grupo pagam
todas as perdas (mais custos administrativos) com os prémios que pagam. As seguradoras
vendem os seguros a grandes grupos de pessoas com perdas médias previsíveis. Deste forma,
os seus lucros são bastante estáveis, pelo que as seguradoras são especializadas em dar um
preço ao risco e não em correr o risco.
As seguradoras utilizam informação das perdas passadas para fazer estimações precisas da
quantidade de dinheiro que as pessoas têm de pagar para terem benefícios futuros (actuarial
science). Assim, o prémio actuarialmente justo (actuarially fair premium) é o valor esperado da
perda:
∑( 𝒏ú𝒎𝒆𝒓𝒐 𝒅𝒆 𝒑𝒆𝒔𝒔𝒐𝒂𝒔 𝒂 𝒒𝒖𝒆𝒎 𝒐𝒄𝒐𝒓𝒓𝒆𝒖 𝒛𝒊 ) ∗ 𝒗𝒂𝒍𝒐𝒓 𝒅𝒆 𝒛𝒊
𝒗𝒂𝒍𝒐𝒓 𝒆𝒔𝒑𝒆𝒓𝒂𝒅𝒐 𝒅𝒆 𝒁 =
𝒏ú𝒎𝒆𝒓𝒐 𝒕𝒐𝒕𝒂𝒍 𝒅𝒆 𝒑𝒆𝒔𝒔𝒐𝒂𝒔
O preço dos seguros devem ser superiores ao prémio actuarialmente justo para cobrirem os
custos administrativos, um fundo de maneio para eventualidades e os lucros dos donos das
seguradoras que disponibilizam a sua experiência e capital.
Loading factor – diferença entre os prémios pagos e o prémio actuarialmente justo (5% a 10%
para grandes grupos e 60% para indivíduos).
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Health Economics Chapter 4
nem os programas de ensino que promovem estilos de vida saudáveis. Ou seja, não fazem nada
para reforçar o contrato social de ajuda mutua aos indivíduos de uma sociedade.
As obrigações informais dos cidadãos expressas através da caridade são formalizadas nos
programas de seguros sociais (Medicare e Segurança Social nos EUA). As contribuições para os
seguros sociais não são voluntárias mas sim obrigatórias, sendo feitas através do sistema
tributário. Quem paga e quem recebe é determinado através de preocupações comuns a todos
e através do processo político, não sendo uma escolha de mercado individual.
Nos EUA, a Medicare é maior do que todos as seguradoras privadas juntas. Mesmo as
seguradoras privadas estão sujeitas às regulações públicas que determinam quem é coberto,
que serviços são oferecidos e que preços são estabelecidos, sendo forçadas a partilhar alguns
dos princípios dos seguros sociais.
Família e amigos:
Forma mais alargada de distribuir o risco, no entanto, pode haver dificuldade em
perceber se a pessoa precisa mesmo dos cuidados de saúde;
Podem dar conselhos que não são os melhores e intrometer-se nos assuntos pessoais.
Caridade:
Forma ainda mais alargada de distribuir o risco, no entanto, a pessoa que precisa de
apoio não tem incentivos em minimizar as perdas, já que está a gastar o dinheiro de
outras pessoas;
Tende a não ser de confiança e a intrometer-se na vida das pessoas;
A quantidade de recursos disponível é limitada pelo grau de preocupação das pessoas.
Seguros privados:
Criação de contratos impessoais para pagamento dos serviços;
Têm por base recursos de todo o mundo;
Mercados conduzidos pela busca do lucro e não pelas necessidades, pelo que cada
participante tem de pagar à sua maneira;
A interpretação do contrato feita por um advogado pode substituir as preocupações da
família, determinando o tipo de cuidado médico que deve ser prestado;
Nada é feito por aqueles que não podem pagar.
Seguros sociais:
Combinação do lado humanitário da caridade com as restrições financeiras do mercado;
Só existe se as contribuições forem feitas obrigatoriamente através dos impostos;
Serviço do governo fornecido através do processo político;
Enquanto contribuintes todos estão dispostos a fornecer alguns cuidados de saúde para
todos, mas não necessariamente os melhores;
São dados a todos, podendo as pessoas gastar o seu dinheiro em coisas menos
importantes do que a saúde, mantendo hábitos pouco saudáveis.
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Health Economics Chapter 4
Os seguros não seriam necessários se as despesas de saúde de toda a gente fossem próximas da
média, no entanto, existem enormes variações. A maioria das pessoas gasta mais em prémios
de seguro do que gastariam se pagassem os cuidados de saúde (90% estão abaixo da média), no
entanto, nada garante às pessoas que vão pertencer a estes 90%.
Assim, a maioria das pessoas pode pagar parte dos custos dos cuidados de saúde que espera
receber se ficar doente. Mesmo se forem saudáveis é razoável que as pessoas contribuam com
alguma coisa para as despesas de quem não está.
Mesmo que as pessoas não queiram pagar, têm de ser extraídos $8,459 por pessoa através de
impostos (deduzidos do ordenado – H.I. ou FICA:M – para a Medicare), contas pagas pelos
indivíduos, prémios de seguros pagos pelos empregadores (8% do ordenado na maioria dos
casos) ou outros meios, para que o sistema de saúde funcione.
Por exemplo, mesmo que os idosos paguem centenas de dólares pelos serviços mais de 90% das
contas de hospital, 50% dos lares e 1/3 do custo dos medicamentos são suportados por outras
pessoas.
4.2.1. Variabilidade
A probabilidade de um grupo de pessoas seguradas ter perdas significativamente elevadas ou
baixas diminui drasticamente à medida que o número de pessoas no grupo aumenta. A figura
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Health Economics Chapter 4
seguinte mostra a forma como o risco diminui com o aumento do número de pessoas que
distribuem o risco:
Assume-se que cada pessoa do grupo tem 1% de probabilidade de ter uma perda de $50,000,
sendo a perda esperada a mesma ($500 por pessoa) independentemente do número de
pessoas.
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Health Economics Chapter 4
Sob sistemas de pagamentos por terceiros a relação entre o pagamento da primeira parte
(pacientes) e o recebimento da segunda parte (cuidadores) é, no mínimo, indireta. A quantidade
total de dinheiro paga pelos pacientes e pelas famílias corresponde ao total de dinheiro recebido
por todos os cuidadores. No entanto, esta equivalência não se mantém quando se fala de um
serviço em específico.
Os seguros de saúde são como cartões de crédito que se podem usar quando quiser, pagando
um montante fixo periodicamente. Deste modo, os pacientes têm incentivo a procurar cada vez
mais cuidados de saúde. Essa foi a razão pela qual este tipo de seguros (indemnity insurance
plans) desapareceram do mercado.
Managed-care plans – seguros de saúde que permitem ao segurador ter algum controlo sobre
a quantidade e o tipo de serviços cobertos, em troca de prémios mais baixos. Estas seguradoras
utilizam o seu poder de compra para negociar preços mais baixos com os cuidadores (deixaram
de ser intermediários financeiros e passaram a ser agentes de compra ativos).
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Health Economics Chapter 4
descrições dos contratos, espera que sejam pagos. Se for necessário mais dinheiro do que era
esperado para cobrir as despesas, então a seguradora aumenta os prémios mas não pode
abandonar o paciente.
Esta característica depende não só do gosto das pessoas, como também do seu rendimento
disponível.
Os seguros expandem o leque de opções dos pacientes quando enfrentam doenças graves e
dispendiosas. John Nyman estima que o acesso ao tratamento é mais valioso que a partilha do
risco em seguros financeiros comuns.
Apesar da maioria das pessoas serem avessas ao risco, a maioria dos riscos não estão cobertos
por seguros, já que isso seria muito dispendioso. Para além disso, a maioria das pequenas perdas
vão-se contrabalançando, pelo que podem ser cobertas com poupanças. Adicionalmente, a
utilização de seguros cria vários problemas estruturais de incentivos que reduzem o seu valor.
Seleção adversa – as perdas médias do grupo segurado são maiores do que o valor esperado
das perdas de todas as pessoas. Se os planos de saúde para os empregados fossem opcionais,
os empregadores que os comprariam seriam os mais expostos ao risco.
Quanto maiores forem as diferenças esperadas dos custos médicos e mais informação
privilegiada tiverem os pacientes acerca do seu estado de saúde maior é o potencial de seleção
adversa.
Uma forma subtil de seleção adversa ocorre quando as seguradoras oferecem dois planos
diferenciados, um plano básico e um plano mais completo pelo qual os empregados têm de
pagar mais. Algumas pessoas muito avessas ao risco escolheriam o plano mais caro, no entanto,
a maioria das pessoas a escolhe-lo seriam indivíduos de maior risco. À medida que aumentam
as pessoas de elevado risco seguradas o prémio do seguro aumenta e cada vez menos pessoas
de menor risco escolhem este plano. O princípio da distribuição do risco é derrotado com a
separação progressiva do risco entre os grupos. Esta espiral termina com a morte do plano mais
completo.
O caso dos idosos é especialmente difícil e só pode ser resolvido através da criação de seguros
sociais (Medicare).
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Health Economics Chapter 4
Seleção positiva – triagem das pessoas com baixos custos mas que ainda assim pagam prémios
regulares, aumentando as margens de lucro das seguradoras. Pode ser feita de várias formas:
Criar benefícios para quem vai ao ginásio, a aulas de nutrição, …
Criar benefícios para quem trata lesões desportivas;
Desencorajar riscos:
o Reduzir benefícios para incapacidade;
o Aumentar os benefícios nas idas ao pediatra;
o Requerer uma examinação completa de pré-qualificação;
o …
A procura normal está representada pela linha D. Uma pessoa segurada em 80% das suas
despesas de saúde, paga apenas 20% das mesmas o que aumenta a quantidade procurada do
serviço.
Os seguros fazem com que as pessoas procurem cuidados médicos ao terem sintomas menores,
o que aumenta os custos dos seguros.
O aumento das despesas devido ao risco moral aumenta com a elasticidade da curva da
procura:
Bens pouco elásticos – pessoas seguradas não consomem muito mais:
o Cuidados em hospitais;
o Cirurgias com preço pouco elástico;
Bens elásticos – pessoas seguradas consomem muito mais:
o Lares;
o Fisioterapia;
o Aconselhamento comportamental;
o Dentista;
o Medicamentos.
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Health Economics Chapter 4
Como o risco moral diminui os ganhos de distribuição do risco, os cuidados médicos onde existe
risco moral mais elevado (preços elásticos) normalmente não são cobertos pelos seguros.
Todos os pacientes segurados perdem com este comportamento, já que vêm os seus prémios
de seguro aumentados. E é por isso que existe tanto trabalho acerca das exclusões dos
contratos, dos limites de taxas, …
As perdas de bem-estar são inevitáveis, sendo parte dos custos dos seguros. No entanto, as
pessoas continuam a comprar seguros já que os ganhos associados à distribuição do risco e ao
acesso a tratamentos caros são superiores às perdas de bem-estar devido ao risco moral. No
entanto, quando os seguros são parcialmente subsidiados isso já não acontece.
Outra perda de bem-estar causada pelos seguros é o aumento do preço dos cuidados médicos
(para toda a gente, mesmo os não segurados), uma vez que estes aumentam a sua procura e
tornam os pacientes menos sensíveis ao preço.
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Health Economics Chapter 4
Risco moral ex ante – alterações do comportamento das pessoas seguradas que aumentam a
probabilidade de ficarem doentes.
Existe pouca evidência deste tipo de comportamento na economia da saúde, já que é difícil de
separar os incentivos à mudança de comportamento feitos pelo facto de as pessoas serem
seguradas dos outros tipos de incentivos.
O governo americano também dá benefícios ficais a muitos outros para que se possam segurar
no setor privado. Começando logo pelo facto de os benefícios de saúde não serem tributáveis
para os empregados mas continuarem a ser despesas dedutíveis para o empregador:
Enquanto a carga administrativa for menor do que a taxa de imposto, é mais barato comprar
cuidados médicos com o rendimento antes de impostos (utilizando o seguro pago pelo
empregador) do que pagá-los o trabalhador diretamente.
Assim, o empregador tem incentivo em contratar menos trabalhadores e em fazer com que eles
trabalhem mais horas, para que os seus custos com o seguro não aumentem.
Outra maneira que os empregadores têm para diminuir os seus custos com os seguros de saúde
é a substituição dos trabalhadores a tempo inteiro por trabalhadores a tempo parcial, que não
têm direito a esses benefícios.
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Health Economics Chapter 4
À medida que os custos dos benefícios por pessoa aumentam os salários e a quantidade de
trabalhadores contratados diminuem, apesar da compensação total (salário e benefícios)
aumentar.
Os empregadores também podem reduzir os seus custos contratando pessoas mais saudáveis.
Apesar de ser difícil mudar o comportamento dos trabalhadores o suficiente para reduzir o seu
risco de doença, é bastante fácil não contratar trabalhadores não saudáveis (seleção positiva).
É por isto que foram criadas as leis que tornam ilegal recusar emprego a alguém que não é tão
saudável quanto desejado. Existem por isso, outros benefícios legais.
Estudos revelam que a perda potencial dos benefícios dos seguros é uma razão significativa que
leva as pessoas a permanecerem a trabalhar no mesmo sítio e a não se reformarem tão cedo.
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Health Economics Chapter 5
Como as condições perfeitas não existem os mercados apesar de serem muito uteis necessitam
de ajuda para funcionarem corretamente.
Para atingir estes objetivos o Estado pode produzir serviços, financiar serviços fornecidos pelo
setor privado ou regular o mercado privado.
No caso da Medicare, o Estado lida com as falhas de mercado e redistribui serviços, através de
contratos com as empresas privadas e de regulação.
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Health Economics Chapter 5
Produção do Estado – no setor da saúde é limitada a certas funções essenciais de saúde pública,
como o estabelecimento e a monitorização de standards, a recolha de estatísticas, o controlo
de doenças infeciosas e a condução da pesquisa médica.
Contratação direta com produção adaptada às especificações do Estado – ocorre nos seguros
de saúde militares e nos programas de imunização, estabelecendo um controlo público extenso
mas não completo, já que os trabalhadores estão empregados em empresas privadas.
Subsídios – através deles o Estado consegue exercer influencia mas raramente consegue
controlar os seus efeitos.
Regulação da saúde:
Com o objetivo de tornar os mercados mais eficientes;
Com o objetivo de substituir o mercado totalmente, ditando os preços e as quantidades;
Regulação direta – feita apenas nas áreas onde a segurança pública pode ser afetada,
sendo a maioria da regulação feita através da finanças em vez de diretamente (leis).
A independência do Estado torna estas organizações mais flexíveis e criativas na satisfação das
necessidades sociais.
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Health Economics Chapter 5
O Estado está sujeito a tantas críticas que pode tornar-se muito avesso ao risco;
Os programas do Estado são desenhados para lidar com o público impõem standards
universais, sendo menos capazes de responder a variações nas preferências dos
indivíduos ou de responder a exceções;
As restrições legais fazem com que as burocracias sejam rígidas o que pode sufocar a
inovação;
Não existe equilíbrio flexível da oferta e da procura, pelo que não existem mecanismos
automáticos de ajustamento quando as condições se alteram;
Não existe incentivo à inovação e ao desenvolvimento.
Os empresários tem incentivo em investir em tecnologia que lhes aumente os lucros, ao invés
de uma tecnologia substituta mais custo-eficaz que varia mais para melhorar a saúde. Os
mercados recompensam aqueles que fornecem o que os consumidores procuram e não aqueles
que fornecem bens públicos como a pesquisa médica e o controlo de infeções. Além disso, os
mercados da saúde não são muito sensíveis ao preço, pelo que alterar preços para modificar
comportamentos não funciona.
Apesar de os mercados conseguirem distribuir o risco através dos seguros, a seleção adversa
pode ser tão forte que os torna instáveis e incapazes de ajudar aqueles que mais precisam.
A abordagem dos cuidados de saúde americana está entre as mais privatizadas e as mais viradas
para a resposta às necessidades individuais. Mesmo assim, o Estado é a maior fonte de
financiamento, pagando 50% das contas diretamente, subsidiando a maioria do restante através
de impostos e regulando virtualmente cada dólar gasto.
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Health Economics Chapter 5
A participação do Estado no setor da saúde triplicou desde 1929, atingindo os 50% em 2012
(55% se incluirmos os subsídios fiscais aos seguros de saúde). Desde que surgiram, a Medicare
e a Madicaid, tornaram-se as maiores fontes de despesa do governo na área da saúde (3/4 da
despesa total em 2012).
Em 2012 a maioria dos fundos públicos provinha de receitas fiscais, seguidas da contribuição do
imposto dos seguros dos hospitais medicare de 2,9% dos salários e do rendimento de todos os
trabalhadores independentes. Para estes fundos contribuíram ainda os prémios pagos pelos
seguros suplementares da Medicare.
Apesar do Estado financiar a maioria da saúde, tem-se mantido relativamente passivo. Tanto a
Madicare quanto a Medicaid são programas sociais, em que o governo tem o compromisso
interminável de pagar as contas de saúde dos pacientes que se enquadram nos planos. Ao
contrário do que acontece com os programas orçamentados, que têm um gasto fixo por ano,
não há limite aos gastos da Medicare e da Madicaid. Assim, o crescimento explosivo dos gastos
com saúde tem sido a maior causa dos défices públicos, diminuindo a capacidade do Estado
financiar infraestruturas vitais como a saúde pública, a pesquisa e as atividades técnicas.
É fácil ter as pessoas de acordo com o facto de serem necessárias leis, difícil é obter consenso
acerca das leis a aplicar. Segundo Rawls, isto acontece porque aquilo em que as pessoas
acreditam depende do contexto em que estão inseridas (da sua condição social) e cada tenta
defender o que é melhor para si, sem pensar no que é melhor no geral. Deste modo, aqueles
que beneficiam com as leis defendem-nas e aqueles para os quais as leis são custosas criticam-
nas. Para este filósofo as leis justas são aquelas que todos defenderiam, enquanto um balanço
ótimo dos custos e benefícios, se não soubessem qual o seu estatuto social (sob o véu da
ignorância). Isto é o que acontece com os seguros, para os quais todos os pacientes concordam
em pagar algo para distribuir os riscos por todos.
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Health Economics Chapter 5
Inesgotáveis – uma vez produzidos, não existe qualquer custo para que mais uma pessoa
os utilize (custo marginal nulo);
Não exclusivos – uma vez produzidos, ninguém pode ser proibido de os utilizar.
Os bens privados são exclusivos, pelo que é fácil excluir aqueles que não pagam por eles e, desta
forma, cobrir os custos de produção. No entanto, como os bens públicos não são exclusivos,
ninguém tem incentivo a pagar por eles. Surge então o problema de free-rinding, já que todos
tendem a esperar que alguém pague por eles para depois também poder utilizar o bem. Deste
modo, é necessária a intervenção do Estado para obrigar todos a pagar os impostos para pagar
os bens públicos.
A maioria dos bens não são nem totalmente privados nem totalmente públicos. A construção
de um hospital numa zona rural é inicialmente um bem público, no entanto, se a população
aumentar e o hospital estiver sempre cheio existe um custo adicional por cada paciente extra.
Quando os cuidados médicos são financiados com base num grupo, qualquer alteração na
qualidade dos serviços afeta toda a gente e requer ações coletivas.
5.4.3. Externalidades
A produção e o consumo de um bem privado pode ter consequências sociais porque afeta outras
pessoas. As externalidades existem sempre que uma transação afeta uma pessoa que não é
compensada, ou seja, quando os custos e os benefícios das ações são suportados por pessoas
diferentes, fazendo com que os custos privados e os custos sociais divirjam.
Há externalidades podem ser positivas e negativas, dependendo do ponto de vista sob o qual
são analisadas. Uma ação pode ser vista por uns como uma redução de custos negativa e por
outros como um aumento dos benefícios.
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Health Economics Chapter 5
deixam de ser claros. Deste modo, é necessária a intervenção do governo em nome de várias
pessoas para que sejam criadas regras e regulações.
O Teorema de Coase diz que a clara definição dos direitos de propriedade e a possibilidade de
negociação entre os agentes que provocam a externalidade e os que são afetados por ela resulta
num ótimo social, através de um dos seguintes mecanismos:
O agente poluidor compensa a vítima (no caso da vítima possuir os direitos de
propriedade);
A vítima potencial paga ao agente poluidor para ele não poluir (no caso do agente
poluidor possuir os direito de propriedade).
Como não há competição a empresa tem incentivo a aumentar os preços até ao ponto em que
os lucros são tão grandes que existe outra empresa tentada a entrar no mercado, mesmo numa
pequena escala ineficiente.
Para além dos monopólios naturais existem monopólios criados pela ação política, como é o
caso da lei do certificado de necessidade (impede a construção de outros hospitais) e das
licenças que podem dar a uma profissão o monopólio sobre a oferta.
Rendas de monopólio – lucro obtido pelo monopolista pelo facto de cobrar preços acima do
custo médio de produção.
Este tipo de estratégia de preços faz com que o mercado seja ineficiente, já que existem
consumidores que estariam dispostos a comprar o bem pelo seu custo de produção que não
compram. O bem-estar perdido pelos consumidores é dado pelo triângulo do bem estar:
(𝑷𝒎𝒐𝒏𝒐𝒑ó𝒍𝒊𝒐 − 𝑨𝑪) ∗ (𝑸ó𝒕𝒊𝒎𝒂 − 𝑸𝒎𝒐𝒏𝒐𝒑ó𝒍𝒊𝒐 )
𝟐
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Health Economics Chapter 5
No entanto a última opção traz custos muitos maiores do que o triângulo do bem-estar, uma
vez que as várias empresas vão gastar muito dinheiro (desperdiçar recursos) a competir para
serem elas a ficarem com o direito de monopólio, obtendo rendas elevadas.
5.6. Informação
A informação é um bem público por excelência, não sendo exclusiva nem se esgotando. As
estatísticas e as descobertas científicas são praticamente bens públicos, apesar de também
servirem funções privadas.
A investigação na área da saúde (NAtional Institutes of Health - NIH) tem recebido biliões de
dólares de fundos públicos. No entanto, é a coleção de estatísticas (Nacional Center for Health
Statistics - NCHS) de vários anos e pacientes que permite determinar como as descobertas
médicas funcionam na prática.
A Medicare e a Medicaid têm bases de dados onde são obrigadas a colocar os custos e os efeitos
de todos os tipos de cuidados médicos que fornecem. A existência deste tipo de dados torna
possível perceber quais os cuidados médicos que são mais custo-eficazes.
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Health Economics Chapter 5
Exemplo disso é a eliminação do lixo. Em pequenas aldeias rurais cada um pode fazer o que lhe
apetece com o lixo porque a quantidade de lixo produzida é baixa. No entanto, numa cidade a
quantidade de lixo produzida é enorme, devido ao elevado número de pessoas que vivem lá, e
os custos privados divergem cada vez mais dos custos sociais. Assim, são necessárias regras
acerca dos sítios onde se deve depositar o lixo. Há medida que a cidade cresce são precisos mais
sítios onde colocar o lixo (financiamento público) e é necessária uma rede de transporte dos
lixos para um sítio adequado. Este trabalho apesar de ser desempenhado por privados é
financiado publicamente, para que os custos privados de agir de forma socialmente ópima sejam
minimizados.
O leite é sujeito a elevado regulação pública, enquanto o pão apesar de ser regulado enquanto
bem alimentar, não está sob uma regulação tão rígida. Isto acontece porque ao contrário do que
acontece com o leite, os sinais de deterioração do pão são bem visíveis aos olhos do consumidor
no momento da compra.
Pelo contrário, o leite de todas as quintas é misturado no processo de fabrico e não é detetável
a presença de bactérias infeciosas a olho nu. Para evitar a propagação de doenças, o Estado faz
inspeções às quintas de produção de leite e atesta a qualidade do mesmo, não gastando muito
dinheiro. Ao contrário do que aconteceria se um consumidor particular quisesse atestar a
qualidade do leite que compra. Por outro lado, sendo este um meio silencioso e, por isso,
privilegiado de contágio de doenças a intervenção do Estado é essencial.
A informação necessária para proteger a segurança das pessoas está disponível a baixo custo se
a regulação for reforçada durante o processo de produção.
Assim, é a assimetria dos custos da informação acerca da qualidade do leite que o torna um
bem público, ao contrário do que acontece como pão.
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Health Economics Chapter 5
5.6.5. Epidemias
O facto de uma doença ser contagiosa faz com que acarrete com ela externalidades. A
quarentena é uma das formas mais antigas de ação pública na saúde. O interesse público de
reduzir a doença colide com o interesse privado de continuar a fazer a sua vida normal enquanto
se está doente. Os custos de uma epidemia recaem sobre a população enquanto os benefícios
de continuar a fazer a vida normal (continuar a trabalhar) recaem sobre o mercado. Henrik Ibsen
destacou as consequências desastrosas de ignorar os riscos de longo prazo da doença, para
continuar a ter lucro.
A lepra foi a primeira doença infeciosa a ser controlada por medidas públicas. Os leprosos eram
isolados da população durante metade do tempo de contágio da doença. Hoje-em-dia os
antibióticos conseguiram remover o contágio da doença.
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Health Economics Chapter 5
5.7.1. Vícios
Os viciados estão proibidos por lei de comprar drogas pelas quais estão dispostos a pagar. No
entanto, as distinções legais acerca dos vícios têm tanto de histórico e de político quando de
biológico. Muitas vezes são as externalidades (necessidade de roubar, agulhas infetadas, …) que
tornam as coisas prejudiciais para a sociedade e não o seu uso direto (heroína).
As preferências sexuais estão carregadas de valor, com debates ativos acerca do casamento
homossexual e da aceitação de homossexuais em organismos públicos. Em 1974, a associação
de psiquiatria americana registou a homossexualidade como uma doença. Existem vários outros
comportamentos sexuais relacionados com a cultura de cada povo que são muito bem vistas
por uns e vistas como doenças por outros.
Os doentes mentais não estão aconselhados a procriar, especialmente se a doença for genética,
apesar dos seus advogados atestarem a sua participação em atividade normais.
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Health Economics Chapter 5
Por outro lado, os ativistas da vida defendem que um embrião também é cidadão, contudo, há
que reconhecer que um embrião não tem os mesmos estatutos que uma criança.
A questão de quem conta como cidadão é moral, no entanto, é condicionada por considerações
económicas. A experiência tem revelado que é praticamente impossível impedir uma mulher
que quer abortar de o fazer. Estipular leis que o proíbam só faz com que essas mulheres
recorram a práticas ilegais pouco seguros e com risco para a sua saúde. Para além disso, uma
mulher que consiga pagar a viagem pode sempre ir fazer o aborto a um sítio onde seja legal.
Assim, esta medida só limitaria o acesso ao aborto aos jovens e pobres, provavelmente com
menos condições para tomar conta de uma criança. Por outro lado, é muito mais barato um
aborto do que anos de serviços sociais (argumento custo-benefício).
Douglass North defende que a competição entre os Estados força-os a satisfazer as necessidades
das suas populações. Quando os países estão a lutar pela lealdade das suas populações, é do
seu interesse ter bons cuidados de saúde públicos que são dispendiosos mas benéficos para a
sociedade. Os governantes põe os seus interesses em primeiro lugar. Assim, a guerra tem efeitos
de longo prazo positivos nas ciências médicas.
Em todas as guerras os soldados morreram muito mais por doença do que por terem sido
atingidos no campo de batalha, devido à falta de condições com as quais viviam. A tentativa de
ter o máximo de homens nos campos de batalha leva à rápida aquisição de conhecimento sobre
cuidados de saúde, pelo que as guerras foram de facto um meio de evolução da medicina.
Como é muito difícil regatear políticos, muito esforço é feito e muito dinheiro é desperdiçado
pelos políticos para terem os apoios que necessitam.
A busca de rendas é o principal obstáculo ao investimento em saúde pública. A maioria das boas
ideias não têm formas fáceis para os inovadores captarem os benefícios e, por isso, não há
incentivo para a sua produção. Por outro lado, quando há grandes quantidades de dinheiro
disponíveis para apostar em boas ideias, a maioria do dinheiro não é bem gasto. Como nenhum
indivíduo singular tem muito interesse no que está a ser feito, quando consegue distorce o
11
Health Economics Chapter 5
Ao contrário do que acontece nas empresas, ninguém tem interesse em maximizar os benefícios
do Estado. As ações e os votos são conduzidos pelo interesse pessoal, mesmo quando os custos
para os outros são muito maiores do que os benefícios para o individuo. Isto causa dificuldades
estruturais, já que é muito mais fácil aprovar um programa com benefícios concentrados e
custos difusos (os beneficiários vão votar neste programa e afetados nem vão notar).
Por outro lado, estes têm incentivo em aumentar o número de funcionários para aumentar o
seu salário e ter melhores condições de trabalho. Não existindo nenhum incentivo interno ao
controlo do tamanho das agências governamentais, este deve ser imposto de fora. O facto de
ser difícil avaliar a performance destas agências torna também difícil a sua gestão para que a
utilização dos recursos seja ótima.
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Health Economics Chapter 5
Várias críticas são apontadas à indústria dos cuidados de saúde, dominada pelos cuidadores,
pelas seguradoras e pelas agência governamentais, todos beneficiários de cuidados de saúde
mais caros, não tendo benefícios a diminuir os custos.
5.8.3. Os bens públicos põe toda a gente melhor mas ninguém feliz
Os bens públicos são fornecidos e pagos coletivamente e não há nenhuma razão necessária para
que as pessoas estejam de acordo com o preço que estão a apagar por determinado serviço, já
que isso depende das suas preferências pessoais e da forma como valoriza o serviço.
Existem várias políticas com os mesmos fins, alterando apenas quem suporta os custos e quem
beneficia delas. Estudos demonstram que quando é necessária uma alteração da política que
envolve duas opções mutuamente exclusivas, os ricos conseguem um resultado mais favorável
para eles.
A confiança no Estado não é possível de medir, apesar de ser o ativo mais importante de uma
nação.
Satisfazer as necessidades para manter todos vivos e cuidar daqueles que não conseguem cuidar
de si próprios é a definição de civilização. No entanto, quem pertence à sociedade e o que
merece simplesmente por lhe pertencer são questões ambíguas.
Todos os países querem no mínimo fornecer saúde a todos. É de censo comum que ninguém
deve morrer por não ter dinheiro para se tratar. Todos os seguros de saúde são de natureza
redistributiva, retirando dinheiro aos saudáveis para tratar os doentes, o mesmo acontece com
os subsídios do governo.
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Health Economics Chapter 6
Apesar de serem dados cuidados de saúde desde sempre, estas condições só se verificaram nos
últimos 100 anos nos países desenvolvidos.
Até há 200 anos atrás o acesso à comida era o principal determinante da saúde e do número de
anos de vida da população. Só depois da revolução industrial começou a ser importante a
tecnologia médica. Por outro lado, também o avançar da sociedade para organizações
civilizacionais contribui para a melhoria das condições de vida.
A idade da pedra começou com a emergência dos primeiros hominídeos em África à cerca de 5
milhões de anos atrás. As pessoas viviam como caçadores-coletores, com simples estruturas
sociais familiares/tribais e pouco capital físico e intelectual para aumentar a produtividade. A
população era limitada pela quantidade de comida disponível na área envolvente. Metade das
crianças não vivia o suficiente para constituir família, apesar dos mais velhos viverem até aos
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40/50 anos. Ao longo dos milénios a população cresceu tão pouco que mal se notava a diferença,
vivendo quase todos nas mesmas condições básicas de sobrevivência. As mortes violentas e a
fome eram ameaças constantes, no entanto, nos bons tempos eram precisas apenas 3 a 6 horas
para obter a comida necessária e reparar as ferramentas rudimentares. As trocas entre grupos
eram tão raras que não existia nenhum sistema de trocas organizado.
O homo sapiens substituiu o homo erectus, já que era mais eficiente a caçar e a matar, a arranjar
e a armazenar a comida e a construir abrigo. Este aumento da eficiência não levou ao aumento
da produtividade da terra.
No final da era a população vivia essencialmente em África, na Ásia, no Médio Oriente e alguns
na América. Nesta altura, o limite do número de pessoas por pedaço de terra já tinha sido
atingido o que pode ter contribuído para o desenvolvimento da criação animal e da agricultura,
iniciando-se a idade agrícola.
Nesta altura surgiu a especialização e a divisão da força de trabalho, para que cada um fizesse
aquilo em que era melhor para os benefícios sociais serem maiores. Desta forma, foram
construídas as cidades, tornando-se a troca entre as regiões parte da atividade económica.
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primeiros a maior parte da riqueza da sociedade. Era então necessária a criação de um Estado
que regulasse e gerisse o excesso de produção necessário às suas funções.
Á medida que as cidades cresceram as pessoas foram separadas em duas classes, os camponeses
que trabalhavam a terra (12 horas por dia) e continuavam a viver numa base de subsistência e
os reguladores que controlavam toda a riqueza. Uma vez iniciado o sistema agrícola este ganhou
uma dinâmica própria irreversível. Por um lado havia demasiada gente para voltar ao método
da caça e, por outro, os reis não estavam dispostos a abdicar da sua fortuna.
A propriedade depende da disposição das pessoas para suportar o sistema existente e para
melhorá-lo. Apesar do rei exigir rendas, os camponeses deviam obriga-lo a gastá-las em despesa
pública que os beneficiasse ou que desenvolvesse o sistema. O rápido crescimento populacional
só consegue ser suportado por novas formas de organização social, com instituições que façam
uma civilização.
6.4.4. A peste
Quando as populações começaram a recuperar no final da Idade Média, foram atingidas pela
peste. A peste negra varreu a Europa em 1347-1352 e repetidamente a partir daí, matando um
quarto da população. Apesar de formas de peste continuarem a aparecer até 1700, as alterações
na imunidade, na estrutura social e na própria peste reduziram o impacto da peste a longo do
tempo e o crescimento populacional foi retomado. Na América a peste praticamente matou os
aztecas, sendo o crescimento retomado aquando do aumento da imigração vinda da Europa e
de África (1600).
À medida que a idade agrícola foi dando lugar a sociedades modernas urbanizadas, a escassez
de comida continuou a ser um fator preponderante. Em 1790, em França, os 10% de população
mais pobre tinham tão pouco para comer que estavam quase sempre doentes e a maioria das
pessoas abaixo do vigésimo percentil não tinham comida suficiente para satisfazer as calorias
necessárias de um trabalhador.
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À medida que as pessoas se mudaram para as cidades, onde trabalhavam em troca de dinheiro,
a organização económica da sociedade deixou de ser baseada na tradição e passou a ser baseada
no dinheiro.
Exemplo desta hipótese foi o que aconteceu na Irlanda quando começaram a plantar batatas.
A lei dos rendimentos decrescentes à escala foi um importante contributo para a economia, no
entanto, só se verifica se a tecnologia de produção se mantiver semelhante.
A vida era difícil no início da Revolução Industrial, sendo pior para aqueles que se haviam
deslocado para a cidade para trabalhar em fábricas. Os bairros apinhados e as condições de
trabalho causavam doenças e a dieta era monótona e tinha falta de vitaminas. No entanto, o
aumento da produtividade causado pela revolução fez aumentar os níveis de vida da população.
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Na era agrícola a oferta de terra era fixa, pelo que qualquer aumento na produtividade do
trabalho significava que existiam mais bocas para alimentar. No entanto, na era industrial os
bens de capital, o trabalho especializado e o conhecimento tornaram-se mais importantes do
que a terra. Pelo que os aumentos de produtividade nesta era triplicavam de ano para ano,
atingindo mesmo os 5%.
Outra razão pela qual Malthus errou foi pelo facto de não ter tido em conta que à medida que
o índice de mortalidade diminui a taxa de natalidade também diminui (menos bebés a morreu,
menos bebés a nascer, já que os pais apostam em educação, saúde, …). Estas alterações levaram
à alteração das características do trabalho, aceleraram o avanço tecnológico e conduziram a
salários maiores e a um aumento no nível de vida da população.
Os irlandeses sofreram da hipótese malthusiana porque são uma colónia explorada pelos
ingleses. Os seus lucros em vez de serem investidos no país eram utilizados para construir
fábricas em Inglaterra. Os irlandeses não reclamavam os seus lucros e tinham pouca capacidade
para poupar, pelo que a única maneira de capturar algum excedente económico era ter filhos.
A falta de direitos de propriedade e a organização económica colonial foram os fatores que
fizeram com que a Irlanda não se juntasse aos países industrializados no século XIX.
Malthus esperava que o seu artigo encorajasse as pessoas a adiar o casamento e a terem menos
filhos. De facto a taxa de natalidade diminuiu, mas por outras razões. As mulheres passavam
menos tempo em casa com as crianças e mais crianças viviam e por isso tinham de nascer menos
para que as outras conseguissem viver até à maturidade. A dependência dos idosos nos filhos
foi substituída pelas poupanças e as crianças deixaram de ser uma fonte de rendimento e
passaram a ser uma fonte de consumo.
Na era agrícola as altas taxas de mortalidade e de natalidade, faziam com que a população
crescesse a ritmos muito pequenos. Com o aumento do bem-estar material, na era industrial,
as taxas de mortalidade diminuíram para 1 ou 2%, enquanto as taxas de natalidade se
mantiveram elevadas, conduzindo a um aumento do crescimento da população para 2 a 4% por
ano (renovação de gerações).
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O crescimento da população da era agrícola era baseado na descoberta de novos territórios, que
apesar de inicialmente aumentarem a qualidade de vida das pessoas, através do crescimento
populacional, o nível de vida voltava à base da subsistência.
Uma sociedade agrícola é hierarquizada e tem muita riqueza, na sua maioria concentrada no
topo. As civilizações agrícolas desenvolveram-se e o número de cidadãos livres aumentou, no
entanto, foram sempre uma minoria. A autoridade do rei era absoluta e quase toda a riqueza
estava sob o seu poder.
Na era industrial, a maioria da população teve de se deslocar para as cidades, passando a ter
contratos de trabalho remunerados com as fábricas. À medida que os negócios e a burocracia
substituíram os senhores feudais a riqueza foi-se distribuindo mais equitativamente. Apesar de
inicialmente, os salários só permitirem a subsistência eles aumentaram rapidamente, já que:
Estes trabalhadores podiam ter alguns luxos bem como poupar para a reforma, contribuindo
para os fundos de capital para o investimento.
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Nesta era havia incentivos à inovação e à abertura de novos negócios porque as pessoas sabiam
que podiam ficar ricas e que se não fossem bem sucedidas podiam ir trabalhar para outro sítio,
impedindo a sua família de morrer à fome (economia descentralizada).
No final da era industrial até as pessoas mais modestas já tinham capacidade para ir à escola,
começar um negócio e poupar para a reforma, dando-se uma mudança severa na distribuição
do rendimento agora concentrado na classe média dos trabalhadores, comerciantes e pequenos
empresários:
Apesar das pessoas viverem cada vez mais anos, o número de anos adicionados à esperança
média de vida é cada vez menor, à medida que as doenças infeciosas e infantis deixam de ser a
principal causa de morte. Cada geração vive cada vez mais, no entanto, não tem cada vez mais
filhos, pelo que os efeitos no crescimento da população são baixos.
A expansão económica devido à transição demográfica acontece apenas uma vez e quando
termina o nível de crescimento da população volta a ser baixo e estável.
A maioria dos países do mundo continuam subdesenvolvidos, estando entre a era agrícola e a
era da informação, mantendo uma esperança média de vida bastante baixa. Esses países têm
um enorme potencial de crescimento através da industrialização (Coreia, Singapura e
Indonésia), mas também um elevado potencial para trágicas explosões demográficas sem
avanços económicos, conduzindo à morte por fome.
Se as coisas continuarem como estão dentro de 100 anos todos os países serão desenvolvidos e
a população estabilizará entre os 10 e os 20 biliões de pessoas, sendo a oferta de comida a ser
um problema de saúde trivial quando comparado com a poluição.
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A relação entre a pobreza e a falta de saúde foi estabelecida há muito tempo. Apesar do
crescimento económico ter sido o principal contribuidor para o aumento da esperança de vida,
os seus efeitos não foram iguais em todos os grupos nem ao longo do tempo.
A pobreza extrema tem os efeitos mais nefastos, no entanto, a relação entre o rendimento e a
saúde não é linear, sendo os ganhos na esperança de vida cada vez mais pequenos à medida
que o rendimento aumenta.
O relatório negro sobre os funcionários públicos (Inglaterra) mostra que mesmo dentro das
pessoas que têm rendimentos mais elevados, a mortalidade é menor para os que ganham mais.
Para além disso, mostra também que apesar do efeito absoluto se ter tornado menor ao longo
do tempo a importância relativa da classificação (dos rendimentos) não desapareceu, sendo
mesmo reforçada:
Assim, os seguros de saúde não conseguem por si só eliminar os efeitos da pobreza na saúde.
A relação entre o rendimento e a saúde é forte, mas a natureza dessa relação não é clara. As
pessoas doentes ganham menos, no entanto, não se sabe se é por estarem doentes que ganham
menos ou se é por ganharem menos que ficam doente.
Nas pessoas mais novas o rendimento afeta mais a saúde do que vice-versa, mas tal não se
verifica nas pessoas mais velhas, onde a falta de saúde é responsável pela perda de rendimento.
O encaixe dos seguros sociais foi a prova natural de que dar mais dinheiro às pessoas não lhes
dá mais anos de vida. Não é rendimento por si só que dá mais saúde às pessoas mas sim as
coisas associadas ao rendimento elevado (educação, nutrição, conexão social, estabilidade
familiar, …).
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O valor da redução do risco também depende do nível de rendimento. Uma pessoa que vive
numa base de subsistência não pode gastar dinheiro em cuidados de saúde, no entanto, à
medida que o rendimento aumenta a disponibilidade a pagar por cuidados de saúde também
aumenta.
Como base nisto foi calculado o valor da vida (redução do risco de mortalidade):
Concluiu-se que o valor da vida aumenta mais do que proporcionalmente (1,6 vezes – bem de
luxo) à medida que o rendimento aumenta, já que a vida é necessária para desfrutar o benefício
de ter bens.
Hoje em dia 89% dos gastos com saúde são pagos através de mecanismos de financiamento de
três partes, tal como na maioria dos países desenvolvidos.
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A criação das clínicas em 1750 (Paris) foi fundamental. Estas eram organizadas em
especialidades e em vez de tentarem criar uma teoria geral aplicável a todos os aspetos da
saúde, dividiram os problemas médicos em partes do corpo. Os médicos eram treinados nas
clínicas de formas que não poderiam pagar por si só e estavam expostos sempre ao mesmo tipo
de problemas, tornando-se especialistas. Trabalhavam com os trabalhadores pobres cobrando
taxas mais elevadas aos mais ricos e sendo pagos pelas aulas dadas aos estudantes.
Os sistemas de informação e o acesso ao capital deu aos hospitais economias de escala e tornou-
se estruturas institucionais necessárias à prática médica (desenvolvimento da anestesia, dos
antisséticos, dos estetoscópios, dos raios-x e das TACs).
Apenas depois de 1900 a medicina começou efetivamente, tornando-se uma das prioridades da
sociedade.
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Os ganhos da ciência médica são muito maiores que os ganhos obtidos através dos cuidados
médicos, porque os avanços do conhecimento melhoram a nutrição e a saúde pública bem como
a terapia médica. Assim, a importância do conhecimento para o aumento da esperança média
de vida é bastante relevante.
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