Professional Documents
Culture Documents
Resumo
Conectores com cabeça estão sendo progressivamente utilizados em ancoragens de estruturas de concreto
armado. Dentre as aplicações incluem-se: conexões em estruturas mistas de aço e concreto, como as ligações
viga-pilar, várias situações de reforço estrutural bem como nos sistemas tradicionais de estruturas moldadas in
loco e pré-moldadas. Este trabalho investiga a redução da resistência última à tração de barras com cabeça,
utilizadas como conectores moldados in loco, devido à fissuração do concreto. Uma série composta por 9
experimentos foi utilizada para avaliar a influência das fissuras na resistência do cone de concreto à tração. Os
resultados experimentais mostraram que as fissuras afetaram ambas as resistências e o comportamento carga-
deslizamento da ancoragem. Os resultados obtidos foram comparados com resistências teóricas calculadas
segundo as recomendações normativas apresentadas pelo EN 1992-4 (2018), ETAG 001 (2010) e ACI 318
(2019). A influência de parâmetros como comprimento de embutimento efetivo (hef), diâmetro da barra (ds), e
resistência a compressão do concreto (fc) são analisadas e discutidas. As recomendações teóricas mostraram-
se mais conservadoras quanto aos comprimentos de embutimento e, em geral, imprecisas em comparação com
as evidências experimentais. A ACI 318 (2019) foi a norma que apresentou o melhor desempenho na previsão
da carga de ruptura, com uma média de 1,42 para a relação entre as resistências observadas e estimadas,
desvio padrão de 0,36 e coeficiente de variação igual a 0,25.
Palavra-Chave: Ruptura do cone de concreto, barras com cabeça, concreto fissurado.
Abstract
Headed anchors are increasingly used for anchorage in concrete structures. Applications include connections in
composite steel-concrete structures, such as beam-column joints, in several strengthening situations as well as
in more traditional uses in cast-in-place and precast structural systems. This paper investigates the reduction in
the ultimate tensile capacity of headed deformed bars, used as cast-in anchors, due to concrete cracking. A
series of 9 laboratory tests is carried out to evaluate the influence of cracking on the concrete breakout strength
in tension. The experimental results show that cracking affects both the resistance and load-slip response of the
anchors. The strengths measured in these tests are compared to theoretical resistances calculated following the
recommendations presented by EN 1992-4 (2018), ETAG 001 (2010) and ACI 318 (2019). The influences of
parameters such as the effective embedment depth (hef), bar diameter (ds), and the concrete compressive
strength (fc) are analysed and discussed. The theoretical recommendations are shown to be over-conservative
for both embedment depths and were, in general, inaccurate in comparison to the experimental trends. The ACI
318 (2019) was the design code which presented the best performance regarding to the predictions of the ultimate
load, with an average of 1.42 for the ratio between the experimental and estimated strengths, standard deviation
of 0.36, and coefficient of variation equal to 0.25.
Keywords: Concrete cone breakout, headed anchors, cracked concrete.
1 Introdução
Conectores com cabeça estão sendo cada vez mais utilizados para transferência de esforços
em estruturas pré-moldadas de concreto armado. O seu uso simplifica o detalhamento
estrutural, acelera o processo de construção, favorecendo a flexibilidade estrutural e
economia. Estão sendo largamente utilizados para conectar diferentes tipos de elementos
estruturais como por exemplo, conexões pilar-fundação e viga-pilar assim como em várias
situações de reforço estrutural. Nestes casos, em geral a resistência da estrutura
normalmente depende da resistência à ruptura do cone de concreto. ELIGEHAUSEN e
SAWADE (1989) caracterizam o modo de ruptura por uma fissura circunferencial em forma
de cone que se inicia na cabeça do conector e se propaga constantemente até a ruptura.
a) b)
Figura 1 - Influência da fissura no mecanismo de transferência de carga. a) concreto não fissurado, b) concreto
fissurado (adaptado de ELIGEHAUSEN et al. (1995))
Este artigo apresenta e discute os resultados de 9 ensaios de arrancamento feitos em
conectores com cabeça embutidos em elementos de concreto armado. Estes ensaios foram
realizados para investigar a influência da fissuração do concreto na capacidade resistente de
ruptura por tração de ancoragens metálicas com cabeça. A abertura de fissuras foi variada
nos ensaios em função da taxa de armadura à flexão dos blocos de concreto armado. O
comportamento geral dos experimentos e resistências últimas são apresentadas e utilizadas
para avaliar a performance das equações de dimensionamento propostas pelas normas: fib
Bulletin nº 58 (2011), ETAG 001 Anexo C (2010) e ACI 318 (2019).
2 Métodos de cálculo
A capacidade última resistente de um único conector com cabeça sem efeitos de borda e
espaçamento para a ruptura do cone de concreto é geralmente calculada com base na
Equação 1, onde k1 é uma constante que relaciona o estado de fissuração do concreto, fc é a
tensão de compressão do concreto, e hef é o comprimento de embutimento efetivo da
ancoragem. A Tabela 1 relaciona os parâmetros teóricos mais importantes utilizados pelo fib
Bulletin nº 58 (2011), ETAG 001 Anexo C (2010) e ACI 318 (2019).
𝑛
𝑁𝑡 = 𝑘1 ∙ √𝑓𝑐 ∙ ℎ𝑒𝑓 (Equação 1)
3 Programa Experimental
Os espécimes ensaiados foram idealizados para representar modelos locais de ligações
semirrígidas de viga-pilar como mostrado na Figura 2. A área retangular em destaque
representa o prisma de concreto onde as ancoragens são embutidas. Em situações reais,
essas regiões podem ou não estar fissuradas, a depender da combinação dos carregamentos
e momentos fletores transferidos para a conexão. Todos os ensaios foram projetados para
que a ruptura ocorresse pelo cone de concreto.
Figura 2 – Conector com cabeça em ligação viga-pilar de estrutura pré-moldada.
Esta série de ensaios aqui realizada teve como objetivo avaliar a influência da fissuração do
concreto na capacidade última resistente de um único conector com cabeça sob tração. Os
conectores foram embutidos em blocos de concreto armado de 350 mm de largura (bw), 200
mm de altura (h) e 900 mm de comprimento (L), e foram fabricados com o diâmetro da cabeça
(dh) três vezes maior que o diâmetro da barra (ds). As principais variáveis foram o diâmetro
das ancoragens, 10 mm e 16 mm, o comprimento de embutimento efetivo, 60 mm e 110 mm,
e a taxa de armadura à flexão (ρf) dos blocos de concreto armado, que foram usadas para
reforçar o controle de fissuras. Para comprimentos de embutimento de 60 mm, ρf variou entre
0,13% e 1,24%, e para comprimentos de embutimento de 110 mm, variou entre 0,33% e
3,21%.
O concreto foi feito utilizando Cimento Portland CP-II-Z-32 (com 6% a 14% de adição de
pozolana), areia lavada e seixo rolado com diâmetro máximo de 9,5 mm como agregado
graúdo. Os blocos de concreto testados foram por 7 dias curados via cura úmida e suas
principais características estão resumidas na Tabela 2. A Figura 3 apresenta o detalhamento
das armaduras.
b) d)
4 Resultados e Discussões
Todos os modelos ensaiados falharam pela ruptura do cone de concreto. A Figura 5 mostra
uma série de resultados experimentais para o modelo F-110 e suas variações, que refletem
as grandes diferenças encontradas comparadas aos modelos F-60. Como esperado, o
aumento da taxa de armadura à flexão resulta em um comportamento carga-deslocamento
mais rígido (ver Figura 5a) e menores deformações na armadura de flexão (ver Figura 5b),
reduzindo efetivamente a abertura de fissuras.
Figura 6 - Curvas carga-deformação. a) Comparação entre deformações na barra (Gs) e próximo à cabeça
do conector (Gh) para o modelo F-110-0.5. b) e c) Carga-deformação para as ancoragens (Gs) dos modelos
F-100 e F-60.
Figura 7 - Capacidades resistentes. a) Relação entre a carga última e taxa de armadura à flexão. b) Fator k1 em
função da taxa de armadura à flexão.
A Figura 7a mostra a capacidade última de carga de tração (Nu) medida nos ensaios em
função da taxa de armadura à flexão. Essa figura mostra que para ambos os valores de
comprimento de embutimento efetivo (60 mm e 110 mm) a capacidade de carga das
ancoragens aumenta de acordo com a taxa de armadura à flexão dos modelos em que foram
instalados. Na Figura 7b o fator k1 obtido dos ensaios, tomado como (Nu / fc0,5 ⸱ hef1,5), é
apresentado como uma função da taxa de armadura à flexão. Para ambos os comprimentos
de embutimento, pode ser observado que o fator k1 cresce de acordo com a armadura de
flexão, também mostrando que os valores teóricos propostos pelos métodos de cálculo acima
são conservadores, especialmente para o estado de concreto não fissurado.
A Tabela 3 compara a capacidade última resistente à tração (Nu) com os valores teóricos
calculados seguindo as recomendações do fib Bulletin nº 58 (2011), ETAG 001 Anexo C
(2010) e ACI 318 (2019). As estimativas teóricas tenderam a divergir dos resultados
experimentais com o acréscimo da taxa de armadura à flexão. Entre os métodos teóricos
analisados, o ACI 318 (2019) apresentou a melhor correlação com os resultados
experimentais nesta pesquisa. O ACI teve um valor médio entre Nu/Nteórico de 1,42 e
apresentou o menor desvio padrão (0,36) e coeficiente de variação (0,25). Nenhum dos
métodos teóricos foi capaz de prever, corretamente, a influência da taxa de armadura à
flexão na capacidade de carga dos conectores com cabeça embutidos em elementos de
concreto armado.
5 Conclusões
Este artigo apresenta os resultados de nove ensaios experimentais de ancoragens tipo
conector com cabeça embutidos em elementos de concreto armado sob cargas axiais de
tração. As principais variáveis nesses ensaios foram o diâmetro dos conectores, o
comprimento de embutimento efetivo e a taxa de armadura à flexão dos blocos de concreto
armado. As capacidades últimas de carga à tração de cada modelo, obtidas em ensaio foram
comparadas com as previsões teóricas calculadas de acordo com fib Bulletin nº 58 (2011),
ETAG 001 Anexo C (2010) e ACI 318 (2019). As principais conclusões do trabalho são:
6 Agradecimentos
Os autores desejam expressar sua gratidão a Paul E. Regan, Professor Emérito da
Universidade de Westminster, por todas as relevantes considerações feitas durante o
desenvolvimento desta pesquisa. Ao suporte da CAPES, CNPq, FAP-DF e FAPESPA,
Agências de desenvolvimento de pesquisas brasileiras, nossos agradecimentos.
7 Referências
AMERICAN CONCRETE INSTITUTE, Building Code Requirements for Structural
Concrete, ACI-318, New York, 2019.
BUJNAK, J., BAHLEDA, F., FARBAK, M., Headed fastenings acting in cooperation
with supplementary steel reinforcement. Procedia Engineering, 91, pp. 250-255, 2014.
CHUN, S. C., CHOI, C. S., JUNG, H. S., Side-Face Blowout Failure of Large-Diameter
High- Strength Headed Bars in Beam-Column Joints. ACI Structural Journal, 114(1),
pp. 161-172, 2017.
ELIGEHAUSEN, R., OZBOLT, J., Influence of crack width on the concrete cone
failure load. Elsevier Applied Science, pp. 876–881, 1992.