You are on page 1of 24

JEFERSON MIOLA

A culpa das árvores


PÁGINA 21
DIABO ROSA
O maior jacaré do mundo
PÁGINA 11
Nº43 O JORNAL QUE RI
JOSÉ WEIS
FEV Romance policial gaúcho
PÁGINA 13
2024

O país da
espiadinha
| GF ER VI F2 O0 42 43 | 2 | editorial

Espiando e conspirando GRIFO

Expediente
Jornal de humor e política,
desde outubro de 2020.
Como era mesmo a frase do ex- ministro Ricardo Sal- Eletrônico, mensal e gratuito.
les, dia 22 de abril de 2020 “Precisa ter um esforço nosso Publicação de cartunistas da
aqui…, enquanto a imprensa só fala de Covid, e ir passan- do RS)
do a boiada e mudando todo regramento e simplificando

jornalgrifo@gmail.com
normas”.
Schuster.
Quase quatro anos depois, o Brasil descobre o tamanho Editores adjuntos: Celso Vi-
do estrago que aquele governo programava para o país. cenzi e Gilmar Eitelwein
Era muito mais que transformar a Amazônia em grande Editor Licenciado: Paulo de
Tarso Riccordi
agronegócio e mineração, ou privatizar empresas públicas Diagramação: Schröder Mí-
e água. Era fazer algo parecido com a democracia. dias sociais: Lu Vieira
Minutos antes do carnaval de 2024, a Polícia Federal Participam desta edição:
Rio de Janeiro: Miguel Paiva,
prendeu ex-assessores de Bolsonaro, além de confiscar Máximo
o seu passaporte e fazer busca e apreensão em diversos Rio Grande do Sul: Bier, Bruno
ex-integrantes do governo Ortiz, Carlos Roberto Winckler,
Donga, Edgar Vasques, Erna-
Também se revelou que a Abin (Agência Brasileira de ni Ssó, Eugênio Neves, Gilmar
Inteligência e esse nome não é ironia) espionava ilegal- Eitelwein, Hals, José Weis, Lu
mente a vida de muita gente. O governo espionava de um Vieira, Luis Faria, Máucio Bonoto,
Paulo de Tarso Riccordi, Santia-
lado, e conspirava contra a democracia por outro. go, Schröder, Uberti.
Bolsonaro merece a presunção de inocência, como Santa Catarina: Celso Vicenzi.
São Paulo: Bira Dantas
disse Lula, como todo mundo merece. Mas o presente de
Rei Momo neste carnaval é a confirmação que a Polícia Leia aqui todas as edições do GRIFO
https://issuu.com/luvieira.
Federal vem fazendo das conclusões da CPI do 8 de janei- ink?issuu_product=header&issuu_
subproduct=publisher-
ro. suite-workflow&issuu_
Dentro da legalidade, mas um carnaval sem anistia para context=link&issuu_cta=profile

crimes contra a democracia.

Receba o Grifo grátis e


em primeira mão
Basta entrar em um dos grupos de
WhatsApp para receber sua edição em pdf!

CLIQUE AQUI E
ENTRE NO GRUPO 1
CLIQUE AQUI E
ENTRE NO GRUPO 2
CLIQUE AQUI E
ENTRE NO GRUPO 3
| GF ER VI F2 O0 42 34 | 3 | carnaval

Cinco dias e

F
esta de Ísis, saturnálias, bacanais,
charivari, entrudo. Na época colonial
brasileira, as pessoas jogavam lama
entre si nas ruas. Talvez seja uma
herança do charivari europeu, praticado já
décimo século e que consistia em achinca-
lhar pessoas, seja com canções de difamação,
ou punição como obrigar a vítima a desfilar
pela cidade de costas num burro.
No Brasil, Carnaval é tudo isso e o contrá-
rio. Desfilar na rua não é castigo. Os blocos
de sujos brincam, se fantasiam. Alguns,
mostram jóias falsas com nomes sauditas,
bancando ricos. Outros, com câmeras de
papelão grandes imitando as antigas câme-
ras cinematográficas num ombro, correm,
se agacham, como se estivessem filmando
pessoas secretamente. Não têm a grana nem
a arte das ironias das escolas de samba, mas
divertem.
Carnaval é assim. Cinco dias entre o início e
o resto do ano. E que ano, foliões. Que ano.
| GF ER VI F2 O0 42 43 | 4 | Brasil

Luiz Augusto Estrella Faria

O anúncio da nova política indus-


trial do governo foi recebido por
muitos economistas, jornalistas e
empresários como a volta de ideias
do passado. É estranho porque a
proposta diz respeito exatamente
ao futuro. Isto é, o que precisamos
fazer hoje para que nos próximos
anos os brasileiros possam viver
melhor, com moradia, alimentação
e serviços essenciais, em segurança
e com uma renda mais elevada. O
que há de passado no plano são en- meio caminho daquela dos EUA e indústria da saúde para o SUS e
sinamentos da história, nossa e de era duas vezes a da Coreia. a sociedade; 3. prover moradia,
outras nações que fizeram o per- Naquele momento estávamos co- transporte, urbanização e serviços;
curso para um estágio mais eleva- meçando a ingressar na revolução 4. garantir um salto de produtivi-
do de desenvolvimento. tecnológica da informação, da di- dade com adoção de tecnologias
As lições, sem exceção, mostram gitalização e das energias limpas. digitais em toda a base produtiva;
que a construção de um parque Entretanto, esse caminho foi aban- 5. liderar na bioeconomia e nas
industrial complexo foi essencial donado em 1990 por pressão dos energias limpas; e 6. ser indepen-
para o progresso. Também mos- EUA e por opção de nossa classe dente em nossa indústria de defe-
tram que, desde o Ato de Nave- dominante convertida ao neolibe- sa. Esses objetivos, definidos após
gação de 1651 na Inglaterra, esse ralismo. Foi um fracasso econô- uma ampla discussão, deverão ser
objetivo foi alcançado por políti- mico por décadas de crescimento alcançados por um novo ciclo de
cas de Estado que fizeram uso de pífio, piores empregos, exclusão desenvolvimento da indústria na-
instrumentos de planejamento, in- social e pobreza que nossas elites, cional. O financiamento virá do
centivo e proteção. Mais, essa his- infelizmente, se recusam a ver. BNDES e do Orçamento, com co-
tória vem até o presente e, para não Quando o governo Lula anunciou ordenação pelo Governo de ações
falar da China, nos EUA a política sua política industrial, definida em transversais, envolvendo estatais,
industrial é o centro do projeto de seis missões voltadas a resolver al- empresas privadas, diferentes or-
revigorar sua atividade produtiva. guns dos maiores problemas brasi- ganismos da sociedade civil e os
O Brasil praticou o liberalismo de leiros, uma saraivada de críticas foi governos estaduais e municipais.
livre-comércio entre 1808 e 1930. feita. Ora, essa é justamente a novi- Dois problemas: 1. é preciso fazer
Éramos uma economia rural que dade do plano. Ao invés de produ- funcionar de novo a administração
explorava uma força de trabalho zirmos o que já existe substituindo pública desmantelada pelo bolso-
extremamente pobre, mal sobre- importações como no passado, narismo e 2. o volume de inves-
vivendo nos grotões do país. Foi definiram-se objetivos que vão timento deveria ser maior. Além
com Getúlio Vargas que adotamos justamente ao encontro de nossas disso, a continuidade de austerida-
uma nova estratégia de desenvolvi- carências maiores em termos de de fiscal e juros altos vai atrapalhar.
mento: a industrialização promo- necessidades da população. O curto prazo da macroeconomia
vida por políticas de Estado. Como Para isso propõe: 1. beneficiar conspira contra o longo do desen-
resultado, já em 1980 tínhamos o nossa produção agropecuária e volvimento. Mas temos um norte,
maior parque industrial do sul glo- seus insumos e garantir seguran- na paráfrase de Robespierre do tí-
bal. Nossa produtividade estava a ça alimentar; 2. desenvolver uma tulo: é a indústria!
|
G R I F O 4 3
F E V 2 0 2 4 | 5 | Brasil
| GF ERVI -F2O0 42 43 | 6 | mundo

Carlos Winckler

A Revolução Cubana comemo- netária. Como


ra seu 65º aniversário. Inicialmente solução promo-
um projeto de reformas estruturais veu-se o traba-
dentro da ordem capitalista, ra- lho por conta
dicalizou-se no contexto latino- própria, a for-
-americano, onde as elites locais mação de joint
e o governo americano impedem ventures e a
mudanças. A reação dos EUA foi abolição grada-
rápida: rompimento de relações tiva do mono-
diplomáticas, invasão da Playa Gi- pólio do Estado
rón em 1961 e bloqueio econômico sobre o comér-
em 62. Cuba se alia à URSS e in- cio exterior. En-
tegra o Conselho para Assistência tre 1995 e 2005
Econômica Mútua. Nos anos 60 Cuba cresceu
apoiou grupos revolucionários na em média 4,5%.
região e debateu caminhos de in- Nos anos 2000,
dustrialização. O isolamento, as a emergência
ditaduras militares nos anos 70 e a de governos
dificuldade em desenvolver-se, le- progressistas na
varam Cuba à inserção especializa- América do Sul,
da como fornecedora de açúcar na o apoio do go-
esfera econômica soviética, garan- verno venezue-
tindo a universalização de direitos lano e políticas
sociais e industrialização modesta, de integração
sob mecanismos de planejamento regional ame- divisas do turismo. Manifestações
centralizado nos anos 70|80. É a nizaram o bloqueio. Foram reto- eclodiram em 2021 com participa-
Cuba da geração latino americanis- madas a flexibilização do regime ção de jovens e cidadãos empobre-
ta, da institucionalização do Poder de propriedade e relações mercan- cidos, em parte incentivadas desde
Popular, do controle ideológico, da tis e se reiniciaram relações com os EUA mediante redes sociais.
participação de tropas na descolo- os EUA na gestão Obama. Com Mas não ocorreu, como antes, êxo-
nização de Angola. Desequilíbrios Trump, Cuba retorna ao status de do em direção aos EUA, dada a
internos e crise do bloco soviético “Estado promotor do terrorismo”, oposição deste. Em contrapartida,
induziram o governo, nos anos 80, as relações são bloqueadas e assim Cuba estreita relações com Rússia
a admitir investimentos estran- permanecem. Ocorre a esperada e China. Cuba segue exportando
geiros e estimular o turismo. O mudança geracional no governo níquel e açúcar, situação em parte
final da URSS desencadeia o “pe- cubano. Em 2021 o peso cubano contrabalançada pela remessa de
ríodo especial em tempos de paz” torna-se a moeda única e limita- dólares, turismo, exportação de
em Cuba: período de carências e ções migratórias são eliminadas. biotecnologias e serviços (saúde),
de queda abrupta do PIB. Irrom- Cuba enfrenta nova crise: a remes- com um aspecto distinto se com-
pem protestos em 1994 (já haviam sa de dólares é dificultada pelo blo- parado com países da região – as
ocorrido em 1980), em meio ao queio, segue dependente de petró- diferenças sociais não são ultrajan-
aguçamento do bloqueio dos EUA. leoA precariamente compensado tes. A nova Constituição promul-
Impera o rigor distributivo: “leite pela Venezuela, tem dificuldades gada em 2019 e amplamente dis-
é para crianças, “dólar para remé- em acessar créditos e operações cutida, articula “direitos universais
dios”. Ocorre certa recuperação financeiras na condição de “pro- gratuitos com relações mercantis
econômica, com distorções sociais motor do terrorismo”, a pandemia disciplinadas por um Estado Sobe-
provocadas pela dualidade mo- implicou em redução de 50% nas rano”. Cuba se reinventa.
| GF ER VI F2 O0 42 34 | 7 | mundo

Bier
Acompanho a história de Cuba
desde menino. Amaldiçoada du-
rante a ditadura militar e utopi-
zada nos sonhos adolescentes e
profissionais da vida de jornalista,
só agora, na maturidade (se é que
isso ocorre num cartunista), tive
a oportunidade de visitá-la. Por
obra de Airton Ortiz e Cláudio
Atenas, botei os pés e o coração
na ilha de Fidel e Che Guevara. O
que vi foi um povo valentíssimo e
amoroso defendendo sua vida asfi-
xiada pelos Estados Unidos com
unhas e dentes. Habitam um acer-
vo histórico com mais de 400 mo-
numentos tombados pela Unesco, sofrem o estrangulamento eco- o famoso rum poderá deixar de
mas precisam importar açúcar do nômico de Biden, que continua o ser produzido em cinco anos. E
Brasil. Necessitam desesperada- de Trump. Se o embargo não for o inferno que os EUA espalham
mente de turistas - pois contam suspenso ou se não infestarmos sobre o planeta terá feito mais um
com boa estrutura hoteleira -, mas Cuba de turistas a curto prazo, grande estrago. TODOS A CUBA!

A PEDIDO
| GF ER VI F2 O0 42 34 | 8 | mundo
| FG ER VI F2 O0 42 34 | 9 | mundo
| GF ER VI F2 O0 42 33 | 10 | mundo

Ayrton Centeno
Depois que Milei saiu de um
frenesi de talk shows direta-
mente para a Casa Rosada,
passou-se a falar em “anar-
cocapitalismo”. Mas que joça
é essa? O próprio gnomo dá
mostras de não ter a menor
idéia. Se Milei ignora, Bolso-
naro muito menos na medida
em que não consegue pro-
nunciar qualquer palavra com
quatro sílabas ou mais – a úni- portanto. lhados na pia etc. Cada em-
ca que conseguiu foi “racha- No anarcocapitalismo, cada um bate desses é uma assembleia.
dinha” mas aí falou mais alto providencia sua própria ilumi- Ali se formam os demagogos
o interesse personalíssimo. E nação. Compra uma lanterna. e populistas que colocarão
Trump, a abóbora selvagem Se a grana for curta, velas ou areia nos projetos bem inten-
que avança novamente no fósforos. Se não tiver dinheiro cionados dos tecnocratas para
rumo da jugular do planeta? nem para isso, porque não tem acabar com a saúde e a edu-
Suspeito que debaixo daquele emprego nem renda nem co- cação.
texugo que encobre sua calo- mida, use as trevas para refletir Dizem ainda nossos bolsões
ta craniana só haja lugar para sobre seus próprios erros que o sinceros porém equivocados
outra variante, o anarcocape- levaram a tal situação. que os comunas planejam
talismo. Enfim, ninguém sabe Como a primeira lei informa destruir a civilização ociden-
picas do que está falando. – o que importa é o indiví- tal através do sexo. Outra ar-
Devemos prestar atenção ao duo – cometem erro crasso timanha da Hidra Vermelha.
que importa. Um, a primazia aqueles que julgam que o co- Ao contrário, eles querem que
é do indivíduo. Dois, coletivi- munismo quer destruir a fa- façamos sexo loucamente e
dade é opressão. Três, o Esta- mília. É algo que o marxismo tenhamos uma filharada. Ou
do (produzido pela coletivi- cultural inseriu ardilosamen- vocês, tolinhos, acham que o
dade) é demoníaco. te nas cacholas dos patrio- termo “proletariado” é apenas
Lançado nosso tripé, vamos a tas. Os bolcheviques querem uma coincidência? O sexo é
um exemplo: a iluminação pú- justamente o oposto, que as o começo, o proletariado é o
blica. É um termo duplamente pessoas formem famílias, ins- meio e a revolução é o fim.
nefasto. Primeiro, porque “ilu- tituição que, como se sabe, Mas, perguntará o casto leitor,
minação” lembra Iluminismo, esmaga a vontade individual o que se faz naquela hora em
este lembra a Queda da Basti- e, mais importante, constitui que a gente não aguenta mais
lha e esta lembra a Tomada do um microcoletivo. e precisa dar uma bimbada?
Palácio de Inverno. Maus agou- Nela se debate quem vai botar Ora, meu caro, neste momen-
ros. E “pública” lembra o que o lixo na rua, levar o totó para to você pede para a mão invi-
(ainda) não é privado. Ruim, passear, lavar os pratos empi- sível do mercado bater uma.
| GF ER VI F2 O0 42 33 | 11 | diabo rosa bier

Desejo muita luz a todos Eu tinha emprestado uma mala


em 2024. Principalmen- antiga do meu avô pra ceno-
te pra quem depende da Venha
CEEE Equatorial. Fui buscá-la. Era pertinho do Ser minha
Um brasileiro em NY tirou Bar do Nereu. Na volta, entrei Sem karma
foto perto da Estátua de com mala e tudo pra rever os
Liberdade e postou: “Até aqui camaradas e molhar o verbo. O sorriso
tem loja da Havan”. Provocado
É impressão minha ou bonita e bem conservada. Eu No meio
Carluxo tomou mesmo ressaltei que era de couro le- Da tarde
óleo de rícino? gítimo de jacaré. Um sujeito da
Já falta papel na Argentina. mesa ao lado, que já tava de em 1952, saiu até no jornal.
Vão ter de se limpar com o olho na mala, repentinamente
título de eleitor. levantou uma mão e falou que Eu contestei: O maior jacaré já
Apagões. No RS, pro sujei- um tio seu havia matado o maior abatido no estado foi por obra
to se transformar num ser jacaré do Rio Grande do Sul, do meu avô materno, em 1924,
de luz, só morrendo... em São Borja, no Rio Uruguai. no Passo do Rio Ijuí, quando
Lá se foi a Carris pra Viamão. Fixamos os olhos pra ver quem ele se mudava pra Santo Ânge-
O último a sair nem precisa era o falastrão, e um jornalis-
apagar a luz... ta, velho conhecido meu que o no meio, o bichão se jogou na
Precoce é quando o pri- acompanhava, fotógrafo dum água e foi direto, boiando que
meiro porre foi de Biotô- jornalão, apressou-se em nos nem um tronco gigante. O Seu
nico Fontoura. -
Uma coisa os nossos ra conhecida no meio nativista Gewehr 8 mm, de cinco tiros,
jornalões têm em comum: a gaúcho, cantor e poeta, e usa- e carcou bala no animal que,
credibilidade com a bunda de va na cabeça uma boina cas- depois de morto, represou o rio
fora. telhana. Nos cumprimentamos até apodrecer. O outro não se
Às vezes eu tenho a com alegria, quando o fotógrafo deu por vencido:
impressão de que a ressaltou que seu amigo tinha - E tu tem prova do tamanho do
grande imprensa trata sido mencionado nos famosos bicho, alemão?
os milicianos como livros de causos “Rapa de Ta-
cúmplices... - O que que tem a mala?
O Iluminismo foi inventado editados com sucesso – e ilus- - É feita do couro da pica da-
antes da CEEE Equatorial. trados por mim! – pela Editora quele jacaré.
Tem lógica...
O pior é que a difamação Ortiz e Mário Gou-
lart, no início dos
anos 1980. Volta-
Moro tá se parando de mos a nos saudar
mártir. Alguém falou em com aquela feliz
esfolamento?
Damares e Michele dando pensei: se é conta-
palestras nos EUA. Nem pre- dor de causo, deve
cisa bombardear, né? ser mentiroso mar-
Se rolar a CPI das igrejas cado a ferro. Reto-
pentecostais, o diabo vai mei o assunto do
-
mou: foi o maior,
|GF ER VI F2 O0 42 34| 12 | sinta-se emGaza

Casa lotada, até ex-governador (Olívio


Dutra) esteve presente, além ex-secretários
municipais e do Estado. A exposição ” SIN-
TA-SE EM GAZA! As charges te levam lá”,
abriu dia 16 de janeiro no Clube de Cultura
em Porto Alegre. Foi no dia do temporal que
escancarou a incompetência da empresa de
energia elétrica, que levou uma semana para
iluminar a cidade novamente. Por alguns
dias, o clube ficou fechado, mas quando a luz
voltou, voltou o público.
A exposição de cartuns, ilustrações e textos
do GRIFO contra o genocídio, em defesa
da vida gerou participação ativa, a ponto de
Carolina Baumann, presidente do Clube de
Cultura, solicitar visitas guiadas semanais.
Florianópolis, Belo Horizonte são duas das
cidades que mostraram interesse em sediar a
exposição.
SINTA-SE EM GAZA - As charges te lavam
lá tem tem o apoio da Associação Cultural
José Marti do RS, e da Fepal gaúcha, além da
Casa de Cultura. E está aberta até dia 29 de
fevereiro
O Clube de Cultura fica na rua Ramiro Bar-
celos, 1.853, Porto Alegre- RS

A PEDIDO
| GF ER VI F2 O0 42 43 | 13 | periodista restaurador| josé weis

Um disparo de arma de desde a infância, minha


fogo com silenciador mãe era funcionária de
atinge a nuca da vítima, uma livraria e sempre
começa a escorrer um voltava para casa com
líquido viscoso com o alguma coisa interes-
- sante para eu ler e sol-
sim começa Círculo de tar a imaginação.
Sangue, o livro de Tom Ele elenca suas refe-
- rências, desde o início:
nal do ano passado pela “eu lia de tudo, come-
Carta Editora. Um ro- cei com Ágata Christie,
mance breve, seco com Poe, Dostoiévski, Mon-
linguagem ágil, porém, teiro Lobato, e depois
sem deixar de lado um fui abrindo o leque para
certo lirismo, referências outros autores”.
culturais acontecimentos Radicado em Porto
ocorridos em janeiro de
é oriundo da região da
“Um outro mundo é pos- Fronteira, do pampa,
sível”? Talvez, mas com por isso sua narrativa
certeza não para os per- em Círculo de Sangue
sonagens engolfados remete aos registros
na trama criada por Bel- dos que trazem tradi-
monte. Intriga, ciúmes, ções e atitudes, mes-
traições, drogadição, mo vivendo na capital.
desastres automobilísti- Na história contada por
cos e uma alienação típi- ele, isso transparece,
ca de uma classe social mesmo que os acon-
que nunca abre mão dos tecimentos se concen-
seus privilégios. trem num período con-
São laços de sangue que temporâneo, durante
se rompem pela inveja, a os dias do primeiro
ira, a luxúria, a soberba, Fórum Social Mundial,
autor. Seu livro não deixa de ser
todos pecados capitais, aliás, é o ‘Outro Mundo é Possível’, em Por-
uma crônica humana, que “contri-
capital que move e não comove. bui para um olhar e prática mais
Quem gosta de poder, ostentação Para Tom, a literatura é uma porta
humanos”, reconhece o autor.
e impunidade não entrega nada aberta ao imaginário, um pampa
E completa: “acho que minimiza
disso de bandeja. Dinheiro e sta- livre para buscas e emoções, mas
pré-julgamentos e descortina um
tus político e social nem sempre ele também sabe que “muito deste
entendimento do sistema social
correspondem à segurança de
sentimentos ou de caráter. Tom as nossas experiências de vida,
lapidar meu texto e sintetizar fatos
Belmonte isso deixa claro ao lon- por isso algumas passagens da
e emoções”.
go dos capítulos e do trajeto dos minha ou de pessoas que eu trago
Isso está bem resolvido no seu li-
personagens e seus envolvimen- vro de estreia.
tos, gente de bem, num círculo vi-
Qualquer escritor começa antes
de tudo como um leitor, e com .
o título. Tom não foi diferente. Ele conta
- como aconteceu: -
cia tempera e apura a escrita do
2023. 191 páginas.
| GF ER VI F2 O0 42 34 | 14 | quer que desenhe? | schröder

.Para manter viva a ideia da


Às vezes o pessoal esquece deixa de ser a aparente patus- Lava Jato, o maior escândalo de
o buraco em que estivemos cada inicial e permite ver lawfare criado para tirar o PT
do poder, Globo News incorpora
por quatro anos, depois de as vísceras autoritárias e
como verdade as denúncias
rolar pelos cinco anteriores violentas que o compunham. conseguidas pelas delações
ribanceira abaixo. De vez em A mídia, que jogou o país no premiadas. Tudo para atacar
quando intelectuais de inter- tal buraco ao construir a o Toffoli que anulou multas
net se juntam aos ativistas de Lava Jato, reage numa velo- criminosas da Odebrecht,
videogames e passam a exigir cidade inversa e não larga a ignorando os escândalos
escondidos da operação Zelotes
uma realidade que só existe mão do lavajatismo renitente. e do HSBC que atingiam donos e
nos seus desejos. Diferente da Por isso, os movimentos cau- veículos de comunicação.
redemocratização do Brasil telosos e estratégicos o que
depois da ditadura militar, Lula faz, com uma equipe Em Angra se descobriu que
quando todos participamos que reage como uma orques- galinha também nada.
de um movimento social tra, são muito importantes.
Assim como não consigo
potente e eficiente, desta vez A Globo, que inventou a esquecer o holocausto, não me
escapamos do desastre final Lava Jato com Moro, desistiu peçam para ignorar Gaza.
por um triz, graças a sorte de da aventura na pandemia e,
sermos contemporâneos de mais uma vez, recorre a Lula Aumentou o consumo de fraldão
um ator político sem similar para salvar a lojinha, mas naquela família.
no mundo neste momento. não consegue ir contra a sua
Escolas cívico-militares não
Sem ser personalista ou sim- natureza de escorpião gol- emplacam ninguém nas notas
plificador, parece inquestio- pista. Com a ajuda surpreen- máximas de redação, porém são
nável que só o Lula poderia dente da esquerda cirandeira, imbatíveis em pintura de meio-
articular e liderar as forças tenta empurrar o governo fios e transporte de joias.
políticas e sociais de maneira para uma radicalização suici-
da à la 2013. Por sorte Lula, a Tá bem, podem ser de crocodilo,
a derrotar o neofascismo
mas é prazeroso assistir os
incipiente. esta altura, conhece todas as valentes milicianos derramarem
O 8 de janeiro cada vez mais doenças infantis da política. lágrimas na TV com medo da
visita da polícia federal. Pode
dar em nada, mas confesso um
mórbido prazer em imaginar
as cuecas cheias dos ex-viris
bolsonaristas.

Globo News detecta queda do


poder aquisitivo no Brasil pela
metade em dez anos. Sabem
quando começou a corrosão?
Exatamente: em 2013, o ano da
“revolução libertária” dos vinte
centavos nas passagens que
derrubou Dilma e preparou o
terreno para Bolsonaro.

Polícia prende ex-secretária


municipal de educação de Melo e
mais três por desvio de recursos.
Falta o mandante e verdadeiro
responsável.
| GF ER VI F2 O0 42 34 | 15 | tiras
BLAU Bier

VAREJEIRAS EM CRISE Celso Schröder

Fabiane Langona

Lu Vieira
| GRIFO43
FEV2024 | 16 | tiras
Bioma Pampa Schröder

AS PANELAS Uberti

ARMANDINHO Alexandre Beck

RANGO Edgar Vasques


| GF ER VI F2 O0 42 33 | 17 | borracheiro&exorcista | ernani ssó

As palavras, sabe-se, começam desesperada por não


verdes e frescas, como se Adão ter um exército para
e Eva acabassem de nomear os enfrentar o império
bois no jardim das delícias. Com é mais infame? Nin-
o tempo, adquirem cores novas, guém está aqui de-
muitos meios-tons, mas também fendendo morte de
desbotam e designam menos as civis, muito pelo con-
coisas que suas sombras. Aos pou- trário, mas a vingan-
cos algumas palavras se tornam ça dos humilhados e
um mero reflexo condicionado, ou ofendidos não parece
um cacoete, ou um curinga que se mais compreensível
tira da manga pra se fechar qual- que o terror do impé-
quer jogo. rio em nome do lucro
Me parece que uma das pala- de sua elite?
vras mais baratas hoje em dia é Vi alguém dizer
terrorismo. Ela só tem precisão que o atentado do
nos verbetes dos dicionários. Nos Hamas contra Israel
jornais, nos discursos, na internet foi um desserviço aos
ela significa tudo e nada, ao sabor palestinos. OK, que
dos interesses ou da ignorância. não fez nada bem,
Só perde para as campeãs eternas, não fez. Mas esse al-
amor e alma, invocadas na hora basta chamar de comunista, outra guém não disse uma
do aperto como se fossem o velho palavra curinga, um genérico de sílaba sobre o serviço de Israel em
Shazam do desenho animado. inimigo infame. Gaza, como se a mortandade de
Pra ficar claro, vamos aos exem- Os EUA, a polícia moral do civis palestinos fosse natural, ou
plos. Os grupos da luta armada, ocidente, na sua guerra contra o culpa exclusiva do Hamas. Cha-
com muitos adolescentes, foram terror, derrubou governos, apoiou mar o Hamas de terrorista é jus-
taxados de terroristas pelos milicos ditaturas sanguinárias e levou o tificativa suficiente pra chamar de
e pela imprensa. Mesmo que a ação caos a vários países, onde destruiu guerra uma luta contra um povo
desses grupos tenha se limitado, em cidades e matou milhões de civis. sem exército? Matar milhares de
sua maior parte, a assaltos a ban- Lucrou muito com venda de armas mulheres e crianças é um efeito
cos. Em troca, os milicos tortura- e reconstrução, sem falar na ma- colateral aceitável, se se consegue
ram, mataram infinitamente mais, nutenção dos mercados para suas matar uns dois ou três membros do
explodiram bancas e uma sede da multinacionais. Exportar demo- Hamas? Chamar o Hamas de ter-
OAB. Pra encerrar de modo gran- cracia é um negócio e tanto. rorista é justificativa suficiente pra
dioso, explodiram o colo de um Aí, um belo dia, lá se foram as tomar a terra dos palestinos, mes-
milico, incompetência que salvou torres gêmeas. Todas as manchetes: mo que odeiem o Hamas? O mais
algumas centenas de pessoas no os EUA sofrem ataque terrorista. estranho é esquecer que o Hamas,
Riocentro e não pôde ser atribuída Foi mesmo? Foi. Morreu um mon- portanto todos os seus atentados, é
à esquerda, palavra quase sinôni- te de civis? Morreu. E então?Então, fruto de décadas da política de Is-
mo de terrorista.Mas as Forças Ar- antes de sair por aí uivando nossa rael, que trata os palestinos como
madas chiam se forem chamadas indignação, talvez fosse de se per- vermes a serem esmagados.
de terroristas. A imprensa idem, guntar por que a morte de 2.977 Meus amigos judeus que me
quando apoiou os atos dos milicos norte-americanos é mais escan- desculpem, mas eu não peço licen-
ou emprestou carros pra tortura- dalosa que a morte de milhões de ça pra chamar a política de Israel
dores. O terror, quando exerci- civis no Oriente Médio cometidas de terror de estado. Nem invoco
do contra comunistas, é inocente em apenas três governos norte- meu sangue sefardita pra escapar
como brincadeiras na creche. Se -americanos? Por que a vingança da acusação de antissemitismo.
não são comunistas, não importa, de um pequeno grupo de gente Não ia adiantar mesmo, né?
| GF ER VI F2 O0 42 43 | 18 | entrevero

idiotas brasileiros, por supuesto. (Ernani Ssó)


Milei recua tanto que, em A ciência está chegando
2025, virá com alarme sonoro num ponto em que o macaco
de ré. (Carlos Castelo) vai acabar provando que
descende do homem.
Em um fórum realizado (Carlos Castelo)
na Câmara Municipal de
Burlington, nos Estados Como sempre, na última
semana de dezembro, a gente
Unidos, em seu discurso deseja a torto e a direito paz,
uma jovem sionista apelou saúde e um próspero ano
realmente, para os fabricantes
e o Holocausto: “Não de armas.
usem outros genocídios (Ernani Ssó)
para descrever esse”. Foi
interrompida pelas risadas do Tá bem, podem ser de
crocodilo, mas é prazeiroso
público, a melhor forma de assistir os valentes milicianos
perguntar por quê, neném? derramarem lágrimas na
UM TAL JULIO (Ernani Ssó) TV com medo da visita da
“Esse difícil costume de que polícia federal. Pode dar
Os escritores hoje em dia estão em nada, mas confesso um
esteja morto”, escreveu sobre mais preocupados em aparecer mórbido prazer em imaginar
Clifford Brown, quando partiu na capa do livro do que nas as cuecas cheias dos ex-viris
o jovem trompetista que tanto páginas. (Carlos Castelo) bolsonaristas.
admirava. Até hoje, não nos (Schröder)
acostumamos com a ideia Nem sempre é recíproco,
da ausência do Cronópio. Ele mas eu continuo achando
está sempre conosco; cada a cultura judaica ( não a
conto que lemos e relemos, sionista) fundamental. Cresci
em qualquer “volta ao dia lendo, assistindo e ouvindo mar é Vermelho e o outro é
em oitenta mundos”. Nós os judeus e judias decisivas para Morto.
“famas” e “esperanças” ainda a raça humana. Do Scliar ao (Celso Vicenzi)
jogamos amarelinha. Buscamos Philip Roth, passando pelo
refúgios na “casa tomada”, Norman Mailer. Do Bob Dylan O Oscar Fuchs já identificou. O
assombrados com “todos os aos Simon e Garfunkel, do momento é de limpeza. A Globo
fogos o fogo”. Maravilhados a limpa imagem do agronegócio com
Marx à Hanna Arendt, toda sucessão de novelas e a RBSTV
cada texto fascinante e lúcido a Hollywood e um monte de
que traduzia um mundo, o limpa a barra da Equatorial com
pintores e quadrinistas todos materinhas subservientes ao vivo
mundo cortazariano. Sempre o
são responsáveis por aquilo com as equipes que fazem de conta
“ último round”. Neste fevereiro que estão resolvendo o caos uma
completam-se 40 anos da que sou. Por isso não posso
deixar de lamentar Gaza e semana depois do temporal.
morte do escritor Julio Cortázar, (Schröder)
que amávamos tanto. Gatos, exigir uma Palestina livre,
ou nem tanto, necessitamos (Schröder) Com tanta BET, partida de
de uma orientação, ainda o “Nunca é tarde para armar”, futebol vai virar o novo jogo do
perseguimos. disse o lobista bicho. Quer apostar? (Carlos
(José Weis) . (Carlos Castelo) Castelo)
| GF ER VI F2 O0 42 24 | 19 | entrevero

princípios. (Celso Vicenzi)


Enquanto grande parte do estado
CASAMENTO. União era arrasada pelo temporal, o
Quem nunca subiu na vida
instável. tem mais chance de não cair
governador do RS e o prefeito dela.
CELÍACO. Pessoa que
separa o joio do trigo e (Carlos Castelo)
foram acender uma vela no altar
come o joio.
CLICHÊ. Chiclé linguístico. tinha derrubado a padroeira da
FACILITADOR. Profissional milagre antes de se assinarem os
que complica. contratos. (Ernani Ssó)
IÊ-IÊ-IÊMEN. Banda houthi (Ernani Ssó)
de rock xiita e engajado
contra os Estados Unidos e
Tem dias em que chove tanto que
se o sujeito não tirar o cavalo da
Às vezes, a união
Arábia Saudita. chuva ele morre afogado. (
LADRÃO DE CELULAR. Celso Vicenzi)
Indivíduo que ajuda (Celso Vicenzi)
as pessoas a se
essenciais foi um fracasso – os
desconectarem do mundo A arte da escrita foi
digital.
MAGNO MALTE. Bebida pela arte de agradar
destilada que contém de Áustria, por que daria certo aqui? algoritmos.(Carlos Castelo)
40% a 50% de álcool criada (Ernani Ssó)
em destilarias do Distrito ganham a vida com o suor do
Federal. rosto. Dos empregados.
PESO ARGENTINO. Moeda ser uma espécie de morte (Celso Vicenzi)
sem peso.
RIO. Curso de água
(Celso Vicenzi) Uma pessoa tão
natural onde deságuam tóxica que cientistas
esgoto, lixo industrial e
corpos humanos para
decomposição. na tabela periódica
SÉRIE DE TV. Rivotril da passo, é capaz de que aqui, gente junto com o plutônio.
classe média.
SPÓ. Hotel ou Sebastião Melo, queira importar
(Carlos Castelo)
estabelecimento que a Era Vitoriana. (Ernani Ssó)
oferece tratamento a
dependentes de cocaína.
STEVE WONDER. O inventor presos, duas medidas. (Celso
do “drum ‘n’ braille”. Vicenzi)
VENTILADOR. Aparelho
provido de pás que distribui É antissemita boicotar empresas
igualmente o ar quente nos israelenses ou que apoiam a
recintos.
VÍRGULA. Sinal gráfico antissemitismo boicotar essas
criado para humilhar empresas pra sempre, mesmo que
pessoas.
VIVER. O que fazemos terras que roubou e pague pelo Ei, Equatorial, vai tomar no teu
quando não sabemos o que sofrimento que causa desde 1948? CEO!!!!!
estamos fazendo. (Ernani Ssó) (Schröder)
| GF ER VI F2 O0 42 34 | 20 | entrevero

No metrô, tive um momento de


empatia e me coloquei no lugar do Mouzar Benedito
outro: fui esbofeteado. Bah! Que doideira!
(Carlos Castelo) Água invadindo a casa
E faltando na torneira!
*
Se Pelé foi o Michelangelo Democracia exige Congresso
da bola, Neymar é o Romero
Britto. Mas esse que temos aqui,
(Carlos Castelo) Deixa democrata possesso!
continuarão soltos; os *
Tem ateu que pula o Carnaval Cadeia para corruptos!
ventos soprarão em todas todos os anos, religiosamente. Mas Mateus...
(Celso Vicenzi) Primeiro os teus.
700.000 mortos na pandemia *
Dinheiro não tem cheiro,
não voltou. Deve ter pegado mau Mas uns aí, que talento!
claros, as noites escuras tempo no caminho. Ganham de modo fedorento
(Ernani Ssó)
*
Patrão bondoso ao extremo
princípio era o caos. Pelo jeito, no Divide funções no trabalho:
(Celso Vicenzi) “Faça força, que eu gemo”.
*
contra todos. Depois da tempestade, vêm Pobre, ouça o que digo:
as desculpas da Equatorial. Da justiça dita cega
(Ernani Ssó) (Carlos Castelo) Só vai receber castigo.
Só após anos dormindo de *
Entre os intelectuais é Carnaval o
ano inteiro. Um jogando confete conchinha, descobriu que ele Que coisa mais chata!
no outro. era uma ostra. Quis dar uma mão ao pato,
(Celso Vicenzi) (Carlos Castelo) Mas ele preferia uma pata.
*
Briga? Tome uma atitude:

RISO DE ANTANHO Correr não é honra,


Mas é bom pra saúde.
*
Piadas de Caserna (Seleções, fevereiro de 1966)
Carnaval e quaresma:
Quando servi na Inglaterra com o Comando Aéreo Estratégico dos Estados Três dias se esbaldando
Unidos, frequentava uma bar perto da nossa base. Uma noite, observei a
Depois, quarenta ralando!
um dos aldeões que deveria ser difícil para eles, acostumarem-se com a
presença de tropas estrangeiras na sua cidade. *
– Nem tanto – respondeu ele – já tivemos tropas estrangeiras aqui antes, Vejo as moças e cobiço...
sabe? Ora, cobiçar não é pecar.
– Americanas – perguntei, lembrando-me da Segunda Guerra. Ninguém tem nada com isso
– Não – respondeu ele, sorrindo – romanas. *
Querem um milhão por dia
Ao lhe perguntarem sobre os dotes culinários de sua esposa, um sargento Pra socorro aos Ianomami!
recém-casado respondeu:
Milicos, que coisa infame!
– A situação é a seguinte: eu sou o único camarada da base que leva o
almoço pra casa
| GF ER VI F2 O0 42 43 | 21 | por aqui

Jeferson Miola

A imprensa dominante gaúcha, o


governador tucano Eduardo Leite
e o prefeito bolsonarista de Porto
Alegre Sebastião Melo acusam: as
árvores, e não o desastre das polí-
ticas neoliberais, são as culpadas
pelo colapso da cidade no tempo-
ral de 16 de janeiro.
Mais de 20 bairros e pelo menos
100 mil pessoas da capital ficaram
até oito dias sem energia elétrica
e com abastecimento precário de
água.
Os prejuízos, inestimáveis: ali-
mentos e mantimentos perdidos,
internet instável, bares e restau-
rantes sem condições de funcionar,
postos de saúde com atendimen- devido à incompetência que tudo cidade, a culpa é das árvores, esses
tos suspensos, estabelecimentos aconteceu desse modo. seres medonhos que têm a péssima
comerciais fechados e amargando As privatizações de serviços es- mania de derrubar a rede elétrica a
perdas significativas. senciais de água e energia elétrica, cada temporal.
Por culpa, claro, das árvores. combinadas com as terceirizações, Talvez por isso a empresa Gam3
Nem mesmo nos momentos mais sucateamento da máquina e des- Parks, que ganhou do prefeito
críticos da CEEE ainda estatal, no monte dos serviços públicos de de- Melo a concessão para explorar
auge do sucateamento e do des- fesa civil, manutenção de parques e economicamente o Parque da Har-
monte para desvalorizar a com- cortes regulares de árvores, sujeita- monia e a Orla do Guaíba durante
panhia e privatizá-la [doá-la, na ram a população aos efeitos dessa 35 anos, decidiu derrubar 435 ár-
verdade] pelo preço de um carro tempestade neoliberal perfeita. vores numa única tacada. São pre-
usado, a população ficou tanto A capital gaúcha é um laborató- venidos!
tempo abandonada na escuridão. rio de experimentos ultraliberais Em meio ao descalabro, a popula-
Mesmo com temporais de gravida- e reacionários e campo de pouso ção é tratada como otária.
de similar ao ocorrido. atraente para as finanças e o capital Fica prensada entre o conto de fa-
Porto Alegre nunca havia ficado especulativo, especialmente na ex- das contado pela mídia e o jogo de
colapsada desse modo. E tampouco ploração de negócios urbanísticos empurra-empurra do governador e
durante tanto tempo, como ainda e imobiliários. do prefeito, que culpam pela tem-
se observa em várias ruas abando- A cidade padece, por isso, não pestade neoliberal perfeita a “orga-
nadas, com destroços nas calçadas das árvores caídas, que não são nização criminosa” formada pelas
e sarjetas e a fiação perigosamente cuidadas pela Prefeitura, mas dos árvores com as mudanças climáti-
exposta. desmontes contínuos promovidos cas.
A incompetência da Prefeitura e pelos governos conservadores que Não surpreenderá se decidirem
do Governo Estadual contribuiu se sucedem na Administração Mu- pedir a prisão das árvores e cobrar
bastante para a resposta desastrosa nicipal desde 2005. delas as indenizações pelos prejuí-
e ineficiente diante do fenômeno Mas, para a direita e extrema-di- zos e danos causados pelo colapso
climático. Mas não foi, porém, só reita da mídia e no comando da neoliberal.
| GF ER VI F2 O0 42 43 | 22 | por aqui

A última do prefeito de Porto Alegre Sebastião “Melei”,


foi vender a empresa municipal de ônibus (Carris), que
durante décadas foi referência de transporte coletivo
eficiente e qualificado. Mas no século 21l, foi rapidamen-
te sucateada pelas administrações da gandaia financeira
neoliberal . Melei deu apenas o toque final: vendeu bara-
to a Carris. E comemorou.
O governador Leite sorriu silencioso. Achando que ainda
está frente da máxima de destruir empresas públicas pra
depois vender. “Eu ainda tenho um banco para passar
nos cobres” deve ter pensado.
| GDEZ/JAN2024
RIFO4 2
| 23 | quintal do paiva | miguel paiva

O povo nas ruas querendo al- transformações. política.


guma coisa assusta, principalmen- O carnaval no Brasil seria um A Revolução do Carnaval tam-
te, os ricos. Vai dar ruim, diriam momento único de revolução. Não bém terá que ser dura com quem
alguns. A única ocasião em que o haveria divergências apesar dos não quer que ela vença. Reacioná-
povo nas ruas quase não carrega quesitos das escolas trazerem um rios e contra revolucionários sem-
ameaça é o Carnaval. Pensem bem pouco de confusão e os blocos às pre vão existir. Para eles a punição
se no meio dessa festa alguém su- vezes terminarem em pancadaria. da tristeza, do isolamento, do es-
gerisse desviar os propósitos para O que todo mundo quer é alguns quecimento da História. A vitória
ajustar as contas com a sociedade? dias de alegria e felicidade. E o que da Revolução do Carnaval terá o
Na História da Humanidade é uma Revolução senão isso pro- julgamento da população carente
não existe momento assim. A Re- longado por toda uma vida? Por que, nos quesitos Educação, Mo-
volução Francesa, na realidade, que não aproveitar esse embalo e radia, Saúde e Trabalho conseguirá
colocou parte desse povo nas ruas começar a mudar o Brasil? Melho- 10, nota 10 e a certeza que estarão
e capitalizou para a burguesia inte- rar não só as escolas de samba mas sempre no grupo especial de seres
resses contrários à Monarquia. O todas as escolas do país. Ocupar humanos felizes. Que seja assim o
povo logo voltou para suas casas e hospitais, repartições, empresas e enredo do nosso futuro e que essa
teve que aguardar um bom tempo palácios cantando a felicidade do energia toda não se cale nas quar-
para ter parte de suas reivindica- povo brasileiro. Invadir os gabine- tas-feiras de cinzas do Brasil.
ções atendidas. Na Revolução Rus- tes palacianos decretando o bem Não somos o país do Carnaval
sa, boa parcela do povo também estar geral, a alegria desses quatro e o país do futuro? Que tal juntar,
foi para as ruas e apesar de toda a dias estendida pelo resto do ano e então, essas duas tendências ao real
guerra que se prolongou por anos determinar que o carnaval é um espírito de transformação? O povo
depois da Revolução, o que se viu estado constante de prazer e reali- viria em primeiro lugar e os bancos
foi uma classe dominante revolu- zação. serviriam para organizar o dinhei-
cionária mandando e, apesar de Cantar um samba junto com a ro que deixará de ter a importân-
avanços, com o tempo deixando os avenida é como entoar um hino cia que tem hoje. As igrejas abri-
anseios populares de lado. com os vencedores sem que nin- gariam só os que têm fé, a polícia
Mas a História avançou. De guém determine o que fazer, para organizaria os desfiles e o trânsito
fato, muita coisa mudou. O pro- onde ir e a que horas parar. Mes- e o presidente desta enorme escola
gresso e o desenvolvimento social mo aqueles que não gostam de de samba continuaria a ser eleito a
avançaram mas longe das ruas, carnaval ouvem ao longe um povo cada 4 anos para comandar a festa
nos gabinetes, nas universidades cantando feliz em uníssono o que de todos e não a farra de poucos. E
e na cabeça , no caso bem inten- a História determinou ser nosso o cenário da Mangueira seria real-
cionada, dos comandantes dessas destino e não uma oportunidade mente uma beleza.
ABR2023 | 24 | artesdrásticas/juska
| GRIFO34

You might also like