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oO” Capitulo 3.3 Microemprgs, EEMp DE PEQUENO pop! t Fran Vita. 1. A MICROEMPRESA E A EMPRESA DE PEQUENO Porte ORDEM ECONOMICA NA CONSTITUIGAO FEDERAL | _ A Constituigéo brasileira, ao escolher como sistema de exploracio dg atividade econémica o capitalista, ndo poderia esquecer de o regular. A Dossq ordem econdmica se funda em dois principios bésicos: a propriedade Privada ea livre-iniciativa. Entende-se capitalista o sistema econémico no qual as relacées de produ. Gio esto assentadas na propriedade privada dos bens em geral, especialmente dos de produsio, na liberdade vasta, principalmente de iniciativa e de concor- réncia e, consequentemente, na livre contratag4o de mao de obra. Desta forma, podemos falar que ordem econémica sdo regras prescritas na Constituicao Federal, com a finalidade de estabelecer parimetros juridicos com 0 objetivo de balizar toda a organizacao e funcionamento de nossa economia. O principio da propriedade privada est4 dentro do bojo constitucional sempre ligado & funco social da propriedade. Esta preocupagio com este princfpio foi relevante para o constituinte ¢ refletiu em diversos momentos do Texto Constitucional. A livre-iniciativa decorre que o Estado cabe na ordem econémica posts! eae oecear ace ie Advogado. Doutor em Direito Comercial pela PUCSP. Coordenador da Pés Grade 40 em Direito Empresarial da EPD ~ Escola Paulista de Direito. aaa Ivan Vitale Jr. 215 yndaria, ja que sua atuagao deve governar-se pelo chamado “principio da * idiariedade” € deve ser de tal forma que nio iniba a liberdade de iniciativa a icular, mas também eleve a garantia e protecao dos direitos fundamentais Nesse sentido, todos os princfpios constitucionais, e principalmente os dzordem econdmica, deverao sempre ser interpretados através de uma inter- recagao sistematica do Texto Constitucional. Assim, nossa ordem econémica ce forma através de varios principios colocados na Constituigao de forma a demarcar limites juridicos que venham nortear toda a organizagio e funciona- mento de nossa economia, Os princfpios da ordem econémica e financeira encontram-se no caput e incisos do art. 170 da Constituicéo Federal, no primeiro capitulo do Titulo VII, sob a rubrica Dos Principios da Atividade Econémica. Os principios balizadores da ordem econémica foram dilatados pela Constituicao de 1988, que trouxe no seu corpo legislativo mudangas expressi- yas e inclui temas atuais como soberania nacional, propriedade privada e sua funcao social, livre concorréncia, a redugao das desigualdades regionais e sociais ea busca do pleno emprego e tratamento favorecido para as empresas de pe- queno porte constituidas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede ¢ admi- nistrac4o no Pais. Primeiramente, cabe em relagao a este princ{pio — tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte — que para este trabalho ¢ 0 principal, uma melhor precisdo dele e da impropriedade na sua redaco pelo legislador. O inciso IX, ao se referir a tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte, deveria redigir o dispositivo da seguinte forma: “Tratamento favorecido para as microempresas e empresas de pequeno porte [...]”. Com a redacao do dispositive constitucional poderia se arrazoar que a Protecao constitucional é apenas para as empresas de pequeno porte e nao para 4s mictoempresas, visto que existe entre elas uma distingao feita no art. 32 da 1Cn. 123/2006, o Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Assim, conclui-se que evidentemente o citado principio engloba a mi- “toempresa, que claramente ter4 protecao constitucional. Nenhuma légica interpretativa e de interesse nacional teria a conclusao de nfo incluir a mi- “roempresa dentro desta protecao. Obviamente quando o legislador pensou em empresa de pequeno porte “tava implicita a microempresa no dispositivo, mas como se fez referéncia Stia melhor a tedac4o usando o termo microempresa. Sage = Tratado de Direito Comercial * Volume 1 A insercao de um principio especifico que estabeleca tratamen cido para as empresas de pequeno porte também est4 de acordo co to fy constitucional. Ele fundamenta a reivindicagio de politicas pil al empresas de pequeno porte. cas Spica Pelas Refira-se, por pertinente, que o art. 179 da Constitui trata do mesmo assunto, é mais detalhista. Consignou o P os entes da Federacio dispensarao as microempresas ¢ 3s ¢1 no porte tratamento jurfdico diferenciado. O objetivo ¢ senvolvimento pela simplificacao das obrigacdes adminis previdencidrias e crediticias, ou pela eliminagao ou redu de lei. A conclusao se impée, pois esté pressuposto que o tratamento favorecid € decorrente, entre outras razées, das desvantagens comparativas que as aaa res tém em relagao as outras. Destarte, entre microempresas ¢ empresas de Pequeno porte (CE, art. 179) haverd de se prestigiar a mesma logica. ica Federal, que Teceito que todos ‘Mpresas de Peque. fomentar 9 seu de. trativas, tributdtias G40 destas Por meig Numa era de gigantismo empresarial, a sobrevivéncia das microempresas e das empresas de pequeno porte é extremamente complicada, Sao elas, porém, um elemento de equilibrio e, consequentemente, merecem um tratamento especial. O inciso IX do art. 170 constitui um princfpio que se poderia sopesar uma restricao ao regime da livre concorréncia, j4 que criou um tratamento diferenciado para a microempresa e as empresas de pequeno porte. Poder-se-ia refletir, pois, tratar-se de regra contrdria & livre concorréncia, que demanda condigées de igualdade na competi¢io econdmica. O tratamento favorecido para esse conjunto de empresas revela, contudo, a necessidade de se proteger os organismos que possuem menores condisies de competitividade em relacao as grandes empresas e conglomerados, para que dessa forma efetivamente ocorra a liberdade de concorréncia (e de inicia- tiva). E uma medida tendente a assegurar a concorréncia em condigées justas entre micro ¢ pequenos empresérios, de uma parte, e de outra, os grandes empresdrios. Portanto, longe de erguer-se como empecilho 8 livre-iniciativa e concor réncia ou 3 liberdade de mercado, o preceito constitucional ora analisado vist a propiciar condigoes para que essas liberdades sejam efetivamente observadas, promovendo uma tutela adequada & liberdade econémica. Cumpre notar ser esta uma impressio falsa, que desaparece @ medida que se tome como roteiro para o desate da questa o Estatuto das Microempres® Ivan Vitale Jr. ropa Constituigéo que, de forma expressa, em seu art. 179, diferencia os cei 0S> vale dizer, mictoempresa ¢ empresa brasileira de capital nacional ieee no porte, embora atribua a eles os mesmos incentivos. on Neste sentido, cumpre observar que a expresso “tratamento jurfdico ‘ier ciado”, embora carente de melhor delineamento, nao poderd ser utili- nada de forma arbitréria, mas tho somente direcionada a simplificacéo das obrigagoes administrativas, tributdrias, previdencidrias e crediticias, ou por meio de sua eliminagao ou redugao. ‘A Constituigao pretende, por meio do tratamento privilegiado que cria expressament, promover 0 desenvolvimento social, entendendo que este ocorrerd pelo fortalecimento das empresas nacionais de porte menos avantaja- doe, consequentemente, portadoras de maiores dificuldades na consecucao de suas atividades e alcance de seus objetivos (ligados necessariamente ao desen- yolvimento do préprio pais). Nesse passo, pois, fica bastante nitida a conotagao ampla que 0 principio aqui em apreco assume, nao podendo ser considerado apenas como uma mera regra constitucional desconectada do restante das normas desse mesmo nivel. O tratamento juridico favorecido as empresas de pequeno porte tem yariados fundamentos a justificar sua insergdo dentre os principios da ativida- de econémica. Bem examinadas as disposig6es relativas 4 ordem econémica no Texto Constitucional — sem esquecer que ela ¢ parte integrante ¢ indissocidvel da Constituigao vista em sua inteireza, parece mesmo intuitivo que algo deve- tia ser feito em relacdo as empresas de pequeno porte. Pois séo elas que mais empregam mio de obra, o que nos reconduz a valorizagio do trabalho humano com fundamento da ordem econémica. Sao elas que menos investimentos necessitam, havendo a expansao do desenvolvi- mento se trilhados os caminhos em face delas abertos. Demais disso, exercem no contexto da economia um papel mais verstil € préximo ao consumidor do que o desempenhado por grandes estruturas empresariais. Obtém sua aprovacao no mercado sem a intermediagao de pesa- dos investimentos publicitdrios, indutores de hdbitos de consumo, em muitos ©2s0s evidentemente supérfluos, Mas também sao elas as que mais dificuldades tem para a obtencdo de financiamentos junto as instituig6es financeiras, daf 0 Recessério tratamento favorecido no respeitante as operagoes crediticias. Sao naturais, entao, as dificuldades de criagao ¢ desenvolvimento a que Pequenas e mictoempresas ficam expostas. Neste sentido, a adocdo de um ‘ratamento favorecido pode fomentar a sobrevivéncia dos pequenos, provo- Cat maior Presenca de agentes econémicos na economia, 0 que invariavel- a

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