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Notas de Aula Ga
Notas de Aula Ga
Geometria Analítica
RODOLFO C OLLEGARI
R AFAEL A NTONIO ROSSATO
ii
S UMÁRIO
1 Vetores 1
iii
iv SUMÁRIO
2 Retas e planos 35
2.6 Distâncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
3 Cônicas 61
4 Quádricas 85
4.2 Elipsóide . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
4.3 Hiperbolóides . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
4.4 Parabolóides . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
2
x2
3.2 Gráfico da elipse de equação a2
+ by2 = 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
2
x2
3.3 Gráfico da elipse de equação b2
+ ay2 = 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2
x2
3.4 Gráfico da hipérbole de equação a2
− by2 = 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
2 2
3.5 Gráfico da hipérbole de equação − bx2 + ay2 = 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
4.1 Elipsóide . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
v
vi LISTA DE FIGURAS
V ETORES
Existem grandezas, chamadas grandezas escalares, que são caracterizadas por um número e sua unidade
correspondente: 5cm de comprimento, 10m2 de área, 2l de volume, 1kg de massa, etc. No entanto, muitas outras
grandezas físicas não podem ser bem representadas simplesmente por um escalar, elas requerem mais do que a sua
magnitude. Tais grandezas são chamadas grandezas vetoriais. Por exemplo, para representar uma força ou uma
velocidade, precisamos além de sua intensidade, de uma direção e de um sentido.
R EPRESENTAÇÃO GEOMÉTRICA
Veremos que segmentos de retas orientados (flechas) que possuem mesmo tamanho, direção e sentido representam
o mesmo vetor.
O BSERVAÇÃO 1.1: Podemos fazer uma analogia entre os segmentos orientados que representam um mesmo vetor e
os números racionais que representam um número fixado. Por exemplo, os números racionais 12 , 24 , 63 , · · · representam
maneiras diferentes de escrever o mesmo número, isto é, são representantes de um mesmo número.
1
2 CAPÍTULO 1. VETORES
D EFINIÇÃO 1.2 (S EGMENTO ORIENTADO ): Sejam A, B dois pontos no espaço. Um segmento orientado é um
par ordenado (A, B) de pontos no espaço onde o ponto A é chamado de origem e o ponto B é chamado de extremidade.
Um segmento orientado do tipo (A, A) é chamado de segmento orientado nulo.
O BSERVAÇÃO 1.3: Observe que se os pontos A e B são diferentes então os segmentos orientados (A, B) e (B, A) são
diferentes, isto é, se A 6= B então (A, B) 6= (B, A).
D EFINIÇÃO 1.4:
(i) Dizemos que os segmentos orientados (A, B) e (C, D) têm a mesmo comprimento se os segmentos de reta AB e
CD têm comprimentos iguais.
A C
mesmo comprimento
(ii) Dizemos que os segmentos orientados não nulos (A, B) e (C, D) têm a mesma direção (ou são paralelos) se as
retas contendo AB e CD forem paralelas ou iguais. Caso contrário dizemos que os segmentos orientados (A, B) e
(C, D) não têm a mesma direção.
D
B B C
A A D
C
(iii) Sejam (A, B) e (C, D) segmentos orientados não nulos de mesma direção.
• Se as retas contendo AB e CD não coincidem, dizemos que os segmentos orientados (A, B) e (C, D) têm o
mesmo sentido se AC ∩ BD = 0.
/
D C
B B
A A
C D
mesmo sentido sentido contrário
1.2. FORMALIZAÇÃO DO CONCEITO DE VETOR 3
• Se as retas contendo AB e CD coincidem, tome (A0 , B0 ) segmento orientado com mesmo comprimento, direção
e sentido de (A, B) de modo que A0 e B0 não pertencem a reta que contém AB. Assim, dizemos que os segmentos
orientados (A, B) e (C, D) têm o mesmo sentido se (A0 , B0 ) e (C, D) têm o mesmo sentido.
D C
B B0 B B0
A A0 A A0
C D
mesmo sentido sentido contrário
(iv) Dizemos que os segmentos orientados (A, B) e (C, D) são equipolentes se forem ambos nulos, ou então, nenhum
deles sendo nulo, se forem de mesmo comprimento, direção e sentido.
Notação: (A, B) ∼ (C, D).
segmentos equipolentes
(v) O conjunto de todos os segmentos orientados que são equipolentes a (A, B) é chamado de classe de equipolência
de (A, B).
Sejam (A, B), (C, D) e (E, F) segmentos orientados. As seguintes propriedades são válidas:
O BSERVAÇÃO 1.5: A relação de equipolência divide o conjunto de todos os segmentos orientados em conjuntos
disjuntos os quais contém apenas segmentos orientados que são equipolentes entre si.
D EFINIÇÃO 1.6 (V ETOR ): Um vetor é uma classe de equipolência de segmentos orientados. A classe de equipo-
lência dos segmentos nulos é chamada de vetor nulo. O conjunto de todos os vetores será indicado por V3 .
Notação: Vetores são normalmente denotados por uma letra minúscula com uma seta acima (por exemplo,
#» #» #» #»
v , u , w, · · · ). O vetor nulo é normalmente denotado por 0 .
4 CAPÍTULO 1. VETORES
#»
(a) Qualquer segmento orientado (A, B) ∈ #»
v é dito um representante do vetor #»
v . Neste caso, escrevemos #»
v = AB.
(b) Chamaremos de norma do vetor #» v o comprimento de qualquer um de seus representes e denotaremos esse valor
#»
por k v k. Observe que todos os representes de um mesmo vetor têm o mesmo comprimento.
(c) O vetor #»
v é dito um vetor unitário quando k #»
v k = 1.
O BSERVAÇÃO 1.8:
(i) Os conceitos geométricos tais como paralelismo, direção, sentido, ângulos, etc, envolvendo vetores são definidos
#» #»
através de seus representantes. Por exemplo, dizemos que o vetor #» v = AB é paralelo ao vetor #» u = CD se os
segmentos (A, B) e (C, D) forem paralelos. Além disso, convencionamos que o vetor nulo é paralelo a qualquer
outro vetor.
(ii) Decorre naturalmente das propriedades anteriores que dois vetores não nulos são iguais se, e somente se, possuem
mesma norma, direção e sentido.
(iii) Note que nunca poderemos desenhar um vetor. O que faremos a partir de agora é desenhar um representante do
vetor.
#»
D EFINIÇÃO 1.9: Dado um vetor #» v = AB, o vetor oposto de #»v , denotado por − #»
v , é o vetor que tem como um de
#» #»
seus representantes o segmento orientado (B, A), isto é, − v = BA.
B B
A A
representates de #»
v representates de − #»
v
O BSERVAÇÃO 1.10:
(i) O vetor − #»
v tem mesmo comprimento, direção e sentido oposto do vetor #»
v.
#»
(iii) #»
v = (− #»
v ) ⇔ #»
v = 0.
A seguir apresentar um resultado importante e que será muito usado ao longo do curso.
#»
P ROPOSIÇÃO 1.11: Dado um vetor #» v e um ponto A, existe um único ponto B tal que #»
v = AB, isto é, existe um
único ponto B de modo que o segmento orientado (A, B) seja representante do vetor #»
v.
1.3. ADIÇÃO DE VETORES 5
Uma das operações básicas envolvendo vetores é a adição. Veremos que esta simples operação envolvendo
vetores nos permite resolver alguns problemas geométricos como por exemplo, mostrar que as diagonais de um
paralelogramo têm o mesmo ponto médio.
Geometricamente temos
B
#»
v
#»
u
C
#»
u + #»
v
A
O BSERVAÇÃO 1.13:
B B0
#»
v #»
v
#»
u #»
u
C C0
#»
u + #»
v #»
u + #»
v
A A0
D
B
#»
u + #»
v
#»
u
C
#»
v
A
(A1) ( #»
u + #» #» = #»
v )+ w u + ( #» #» (Associativa)
v + w).
(A2) #»
u + #»
v = #»
v + #»
u . (Comutativa)
#»
(A3) #»
u + 0 = #»
u . (Elemento neutro)
Geometricamente temos
D
B
#»
u − #»
v
#»
u
C
#»
v
A
#» #» #»
E XEMPLO 1.15: Mostre que BC − BA = AC.
Resolução: Usando as definição de vetor oposto, a propriedade comutativa e a definição de soma de vetores temos
#» #» #» #» #» #» #»
BC − BA = BC + AB = AB + BC = AC.
#»
u + #»
v = #» #» ⇒ #»
u +w #»
v =w e #»
v + #»
u=w#» + #»
u ⇒ #» #»
v = w.
1.4. MULTIPLICAÇÃO DE NÚMERO REAL POR VETOR 7
− #»
u + ( #»
u + #»
v ) = − #»
u + ( #» #»
u + w)
#» #» #» #»
0 + v = 0 + w.
Pela propriedade do elemento neutro temos #» #» A segunda lei decorre da primeira usando a propriedade
v = w.
comutativa.
E XEMPLO 1.17: Mostre que as diagonais de um paralelogramo têm o mesmo ponto médio.
D C
A B
#» # » # » #» # » # » # » # »
Observe que valem as igualdade AB = DC, AD = BC e AM = MC. Basta mostrar que BM = MD. De fato, usando as
propriedades vistas anteriormente temos
# » #» # » # » # » # » # » # »
BM = BA + AM = CD + MC = MC + CD = MD.
Nesta seção vamos introduzir a operação de multiplicação de um número real por um vetor e veremos que, com
suas propriedades básicas, será possível caracterizar algebricamente o conceito de paralelismo.
D EFINIÇÃO 1.18 (M ULTIPLICAÇÃO DE NÚMERO REAL POR VETOR ): Sejam α um número real e #» v um vetor.
#» #»
Definimos a multiplicação (ou produto) de α por v como sendo o vetor, denotado por α v , que satisfaz as seguintes
condições:
#» #»
(a) Se α = 0 ou #»
v = 0 então α #»
v = 0.
#»
v
#»
α #»
v =0
α =0
8 CAPÍTULO 1. VETORES
#»
(b) Se α 6= 0 e #» 6 0 então α #»
v = v é caracterizado por:
(i) kα #»
v k = |α|k #»
v k (tamanho de α #»
v é igual ao tamanho de #»
v multiplicado por |α|);
(ii) α #»
v tem mesma direção de #» v (α #»
v e #»
v são paralelos);
(iii) • Se α > 0 então α #»
v e #»
v têm o mesmo sentido;
#»
v α #»
v #»
v
α #»
v
• Se α < 0 então α #»
v e #»
v têm sentidos opostos.
#»
v α #»
v #»
v
α #»
v
(M1) α( #»
u + #»
v ) = α #»
u + α #»
v (Distributiva do produto de número real pela adição de vetores).
(M2) (α + β ) #»
v = α #»
v + β #»
v (Distributiva da adição de números reais pelo produto por vetor).
(M3) 1 #»
v = #»
v (Elemento neutro da multiplicação de número real por vetor).
(M4) (αβ ) #»
v = α(β #»
v ) (Associativa do produto de números reais pelo produto de vetor).
O BSERVAÇÃO 1.20: Um conjunto qualquer V onde estão definidas operações de soma e multiplicação por número
real satisfazendo as propriedades (A1)-(A4), (M1)-(M4) é chamado de um espaço vetorial sobre o corpo dos reais.
Finalizamos esta seção apresentando um resultado muito importante que caracteriza algebricamente a propriedade
de paralelismo entre vetores.
E XEMPLO 1.22: Mostre que o segmento que une os pontos médios de dois lados de um triângulo é paralelo ao
terceiro e tem a metade da sua medida.
Resolução: Sejam ABC um triângulo, M o ponto médio do segmento AC e N o ponto médio do segmento BC.
1.4. MULTIPLICAÇÃO DE NÚMERO REAL POR VETOR 9
M N
A B
# » #» # » #»
Observe que valem as igualdade MC = 12 AC e CN = 12 CB. Assim
# » # » # » 1 # » 1 # » 1 # » # » 1 # »
MN = MC + CN = AC + CB = AC + CB = AB.
2 2 2 2
# » #» # » #»
e, portanto, MN é paralelo a AB e kMN|| = 12 kABk.
E XEMPLO 1.23: Mostre que o segmento que une os pontos médios dos lados não paralelos de um trapézio é paralelo
às bases e sua medida é a média aritmética das medidas das bases.
Resolução: Sejam ABCD um trapézio, M o ponto médio do segmento AD e N o ponto médio do segmento CB.
D C
M N
A B
# » # » #» #»
Observe que valem as igualdade AM = MD, CN = NB e além disso, como as bases são paralelas e o comprimento de
#» #»
AB é maior que o comprimento de DC, existe λ > 1 tal que AB = λ DC. Então, somando as duas equações no sistema
acima temos
# » # » # » # » # » #» # »
2MN = MD + DC + CN + MA + AB + BN
# » #»
= DC + AB
e, portanto
# » 1 # » # »
MN = DC + AB .
2
#» #»
Como AB = λ DC então
# » 1 # » # » 1 + λ # »
MN = DC + λ DC = DC
2 2
10 CAPÍTULO 1. VETORES
# » # » #»
e, portanto, MN é paralelo a DC e AB. Por fim, note que
# » 1+λ # » 1 # » # » 1 # » # » 1 # » #»
kMNk = kDCk = kDCk + λ kDCk = kDCk + kλ DCk = kDCk + kABk .
2 2 2 2
#»
Vimos na Proposição 1.11 que dados um vetor #»v e um ponto A, existe um único ponto B de modo que #»
v = AB.
Através dessa propriedade definimos a seguinte operação:
D EFINIÇÃO 1.24 (S OMA DE PONTO COM VETOR ): Dados um vetor #» v e um ponto A, definimos a a soma do
#»
#»
ponto A com o vetor v como sendo o ponto B, denotado por A + v , onde B é o único ponto que satisfaz #»
#» v = AB, isto
é,
#»
B = A + #»
v ⇔ AB = #» v.
B = A + #»
v
#»
v
A
#»
(PV1) A + AB = B.
#»
(PV2) A + #»
v = A ⇔ #»
v = 0.
(PV3) (A + #»
u ) + #»
v = A + ( #»
u + #»
v ).
(PV4) A + #»
u = A + #»
v ⇒ #»
u = #»
v.
(PV5) A + #»
v = B + #»
v ⇒ A = B.
O BSERVAÇÃO 1.25: A operação de soma de ponto com vetor nos permite introduzir uma maneira adicional para a
#» #» #»
notação de um vetor. Dado um vetor #»
v = AB, como B = A + AB, também denotamos o vetor AB por (B − A). Assim,
se #»
v for um vetor com um representante (A, B), temos
#» #»
v = AB = (B − A).
Observemos que o símbolo “ − ” em (B − A) não significa a subtração do ponto B pelo ponto A, uma vez que tal
operação não está nem definida.
1.6. DEPENDÊNCIA LINEAR 11
# » # » # » #»
E XEMPLO 1.26: Um ponto G é chamado de baricentro dos pontos A, B e C se vale a igualdade GA + GB + GC = 0 .
Mostre que, dado qualquer ponto O, vale a igualdade
1 # » # » # »
G = O+ OA + OB + OC .
3
#» #» #» # » #» #» #»
OA + OB + OC = 3OG + GA + GB + GC
e, usando a definição de baricentro e as propriedades de soma de vetores e multiplicação de escalar por vetor vistas
anteriormente, temos
# » 1 # » # » # »
OG = OA + OB + OC .
3
Portanto, segue da definição de soma de ponto e vetor que
1 # » # » # »
G = O+ OA + OB + OC .
3
O conceito de dependência linear, que veremos na sequência, será muito importante para responder algumas
questões, como por exemplo: é possível expressar um vetor qualquer usando as operações de soma de vetores e
multiplicação por escalar sobre alguns vetores fixados? Caso seja possível, qual é o número mínimo de vetores
necessários para isso e como escolher tais vetores?
D EFINIÇÃO 1.27 (C OMBINAÇÃO LINEAR ): Dados n vetores v#»1 , · · · , v#»n e n escalares a1 , · · · , an , chama-se combi-
nação linear do vetores v#»1 , · · · , v#»n com coeficientes a1 , · · · , an o vetor #»
v dado por
#»
v = a1 v#»1 + · · · + an v#»n .
(LD) Dizemos que o conjunto de vetores {v#»1 , · · · , v#»n } é linearmente dependente (e abreviamos LD) se existem
coeficientes a1 , · · · , an ∈ R, NÃO todos nulos, tais que
#»
a1 v#»1 + · · · + an v#»n = 0 ,
12 CAPÍTULO 1. VETORES
admite solução não trivial (chamamos de solução trivial o caso em que x1 = · · · = xn = 0).
#»
x1 v#»1 + · · · + xn v#»n = 0
admite apenas a solução trivial, dizemos que o conjunto de vetores {v#»1 , · · · , v#»n } é linearmente independente
(e abreviamos LI).
O BSERVAÇÃO 1.29:
#»
(i) Observemos que a equação vetorial x1 v#»1 + · · · + xn v#»n = 0 sempre admite uma solução, a solução trivial x1 =
· · · = xn = 0.
(ii) Qualquer conjunto de vetores que contém o vetor nulo será um conjunto de vetores LD. De fato, dados os vetores
#» #» #» #»
0 , v2 , · · · , v#»n , a equação vetorial x1 0 + x2 v#»2 + · · · + xn v#»n = 0 possui uma solução não trivial, basta tomar x1 = 1
e x2 = · · · = xn = 0.
(iii) Um conjunto de vetores {v#»1 , · · · , v#»n } é LD se, e somente se, um dos vetores é combinação linear dos demais.
(iv) Se { #»
u , #» #» é LD, tal que { #»
v , w} u , #» #» é combinação linear de #»
v } é LI, então w u e #»
v.
(v) Se { #»
u , #»
v } é LD, então { #»
u , #» #» também é LD, seja qual for o vetor w.
v , w} #»
(vi) Se { #»
u , #» #» é LI, então os vetores { #»
v , w} u , #»
v } também é LI.
(vii) A dependência linear é uma propriedade inerente ao conjunto de vetores e não a cada elemento desse conjunto.
Apesar disso, é comum dizer “os vetores #» u e #»
v são LI", “os vetores #» u , #» #» são LD"ao invés de dizer “o
v, w
conjunto de vetores { #»
u , #»
v } é LI", “o conjunto de vetores { #»
u , #» #» é LD". Evite que esse abuso de linguagem
v , w}
cause o erro de concluir que se #»u é LI e #»
v é LI então os vetores #» u e #»
v são LI. Por exemplo, se #»
v for um vetor
#» #» #» #»
não nulo então os vetores v e 2 v são LI mas o conjunto { v , 2 v } é LD.
(1 vetor) Um vetor #»
v será LD se, e somente se, o vetor #»
v for o vetor nulo.
#» #»
#» v 6= 0
0
vetor LD vetor LI
vetores LD vetores LI
vetores LD vetores LI
A seguir apresentamos um importante resultado que nos diz que, fixados três vetores LI, qualquer vetor de V3
pode ser escrito, de maneira única, como combinação desses três vetores fixados. Este resultado será crucial para a
definição das coordenadas de um vetor com relação a uma base.
P ROPOSIÇÃO 1.30: Sejam v#»1 , v#»2 , v#»3 três vetores LI fixados. Então dado qualquer vetor #»
v ∈ V3 , existe uma única
tripla de escalares a1 , a2 , a3 tal que
#»
v = a1 v#»1 + a2 v#»2 + a3 v#»3 .
#»
x1 v#»1 + x2 v#»2 + x3 v#»3 + x4 #»
v = 0. (1.1)
#»
x1 v#»1 + x2 v#»2 + x3 v#»3 = 0
e sendo v#»1 , v#»2 , v#»3 vetores LI temos x1 = x2 = x3 = x4 = 0 contrariando a existência de solução não trivial para (1.1).
Assim, podemos escrever
#»
v = a1 v#»1 + a2 v#»2 + a3 v#»3 ,
#»
v = a1 v#»1 + a2 v#»2 + a3 v#»3 = b1 v#»1 + b2 v#»2 + b3 v#»3 .
Então
#»
(a1 − b1 )v#»1 + (a2 − b2 )v#»2 + (a3 − b3 )v#»3 = 0
14 CAPÍTULO 1. VETORES
e como v#»1 , v#»2 , v#»3 são vetores LI segue que a1 = b1 , a2 = b2 e a3 = b3 o que conclui a demonstração.
O BSERVAÇÃO 1.31: A proposição anterior nos mostra que qualquer conjunto com 4 ou mais vetores necessariamente
é LD. Por exemplo, mesmo que o vetores #»u , #» #» sejam LI, se adicionamos qualquer vetor #»
v ew a , o conjunto formado
#» #» #» #»
pelos vetores u , v , w e a será LD como podemos observar pela construção a seguir.
#»
w
#»
a = α #»
u + β #» #»
v +γw
#» #»
a
γw
β #»
v
#»
v
α #»
u #»
u
O quadro abaixo sumariza o conceito de dependência linear de um conjunto de vetores em função da quantidade
de vetores neste conjunto.
N. Vet. LD LI
1 vetor nulo vetor não nulo
2 vetores paralelos vetores não paralelos
3 vetores coplanares vetores não coplanares
4 sempre nunca
#»
{ #»
a , b , #»
c } é LI ⇔ { #»
u , #» #» é LI.
v , w}
#»
Resolução: Primeiramente vamos supor que os vetores #»
u , #» #» são LI e mostre que os vetores #»
v,w a , b , #»
c são LI.
Considere a equação vetorial
#» #»
α #»
a + β b + γ #»c = 0. (1.2)
#»
Substituindo as expressões de #»
a , b e #»
c em (1.2) obtemos
α( #» #» + β (2 #»
u + w) u + #» #» + γ( #»
v − w) #» = #»
v − 2 w) 0
(α + 2β ) #»
u + (β + γ) #» #» = 0.
v + (α − β − 2γ) w
Como os vetores #»
u , #» #» são LI, pela definição de dependência linear temos
v,w
α + 2β = 0
β +γ = 0
α − β − 2γ = 0
1.6. DEPENDÊNCIA LINEAR 15
o que implica em α = β = γ = 0. Logo, a única solução da equação (1.2) é a solução trivial e, portanto, os vetores
#» #»
a , b , #»
c são LI.
#»
Reciprocamente, suponha que os vetores #»
a , b , #»
c são LI e mostremos que os vetores #»
u , #» #» são LI. Resolvendo
v,w
o sistema linear vetorial
#» #» #»
a = u +w
#»
b = 2 #»u + #» #»
v −w
#» #»
#»
c = v − 2w
#» #» #»
nas incógnitas #»
u , #» #» obtemos #»
v e w, u = − #»
a + b − #»c , #»
v = 4 #»
a − 2 b + 3 #» #» = 2 #»
c ew a − b + #»
c . Considere a equação
vetorial
α #»
u + β #» v +γw #» = #»
0. (1.3)
Substituindo as expressões de #»
u , #» #» em (1.3) obtemos
v ew
#» #» #» #»
α(− #»
a + b − #»
c ) + β (4 #»
a − 2 b + 3 #»
c ) + γ(2 #»
a − b + #»
c)= 0
#»
(−α + 4β + 2γ) #»
a + (α − 2β − γ) b + (−α + 3β + γ) #»
c = 0.
#»
Como os vetores #»
a , b , #»
c são LI, pela definição de dependência linear temos
−α + 4β + 2γ = 0
α − 2β − γ = 0
−α + 3β + γ = 0
o que implica em α = β = γ = 0. Logo, a única solução da equação (1.3) é a solução trivial e, portanto, os vetores
#»
u , #» #» são LI.
v,w
#» # » # »
E XEMPLO 1.33: No tetraedro OABC, determine m para que X = O + m OA 3 − OB + 2
OC
pertence ao plano ABC.
X
A
B
# »#» #»
Dizer que X pertence ao plano ABC é equivalente a dizer que o conjunto {AX AB, AC} é LD, isto é, que a
equação
#» #» # » #»
α AX + β AB + γ AC = 0 (1.4)
#» #» #»
admite solução não trivial. A estratégia será tentar exprimir os vetores dessa igualdade em termos de OA, OB e OC, que
são LI uma vez que OABC é tetraedro. Temos
#» #» # » #» #» # » # » #» #» #»
• AX = AO + OX = −OA + m OA OC
3 − OB + 2 = m
3 − 1 OA − mOB + m2 OC
#» # » # » #» #»
• AB = AO + OB = −OA + OB
#» # » # » #» #»
• AC = AO + OC = −OA + OC
Concluímos até agora que o sistema acima é equivalente a equação (1.4), isto é, toda solução do sistema é solução de
(1.4) e vice-versa. Como estamos buscando valor de m tal que (1.4) admita solução além da trivial, então isso significa
procurar m que faça o sistema acima ter solução além da trivial. Pelo Teorema de Cramer, isso ocorre se, e somente se,
o determinante do sistema é nulo:
m
3 − 1 −1 −1
−m 1 0 = 0,
m
2 0 1
isto é, se, e somente se, m = −6.
Nesta seção utilizaremos o conceito de dependência linear visto anteriormente para introduzir os conceitos de
base e de coordenadas de vetores.
D EFINIÇÃO 1.34 (BASE ): Qualquer tripla ordenada de vetores E = {e#»1 , e#»2 , e#»3 } LI, é dita uma base de V3 .
A seguir iremos introduzir o conceito de coordenadas de um vetor e para isso usaremos a Proposição 1.30.
D EFINIÇÃO 1.35 (C OORDENADAS DE UM VETOR ): Sejam E = {e#»1 , e#»2 , e#»3 } uma base de V3 e #»
v ∈ V3 um vetor
qualquer. A tripla de escalares (a1 , a2 , a3 ) tal que
#»
v = a1 e#»1 + a2 e#»2 + a3 e#»3
1.7. BASE E COORDENADAS 17
Notação: #»
v = (a1 , a2 , a3 )E .
O BSERVAÇÃO 1.36:
(i) São fundamentais a ordem dos vetores da base E e a ordem dos escalares a1 , a2 , a3 para se determinar as
coordenadas de um vetor com relação a esta base E. Por exemplo, se E = {e#»1 , e#»2 , e#»3 } for uma base de V3 e
#» v = (1, 2, −1)E . Por outro lado, F = {e#»1 , e#»3 , e#»2 } também é uma base de V3 (e possui os
v = e#»1 + 2e#»2 − e#»3 então #»
mesmo vetores que E, porém ordenados de maneira diferente) e as coordenadas de #» v com relação a base F são
#»
diferentes das coordenadas de v com relação a base E, uma vez que v = (1, −1, 2)F . #»
(ii) Segue da proposição 1.30 que fixada uma base, cada vetor está associado a uma única tripla ordenada de escalares
e vice-versa.
(iii) Quando não houver dúvidas com relação a base de V3 que esta sendo fixada, escrevemos simplesmente #»
v =
(a1 , a2 , a3 ) (sem o índice da base).
#»
(i) 0 = (0, 0, 0)E .
(ii) Se #»
v = (a1 , a2 , a3 )E e #»
u = (b1 , b2 , b3 )E então #»
v + #»
u = (a1 + b1 , a2 + b2 , a3 + b3 )E .
(iii) Se #»
v = (a1 , a2 , a3 )E e α um escalar qualquer então α #»
v = (αa1 , αa2 , αa3 )E .
#» #» #»
E XEMPLO 1.37: Sejam E = {e#»1 , e#»2 , e#»3 } e F = { f1 , f2 , f3 } bases de V3 , tais que
#» #» #» #» = (1, 1, 1) .
f1 = (2, 0, −1)E , f2 = (0, 1, 2)E , f3 = (0, 0, 2)E e w E
#» na base F.
Encontre as coordenadas de w
#» #» #»
e, resolvendo o sistema (encontrando e#»1 ,e#»2 e e#»3 em termos de f1 , f2 e f3 }) temos
#» 1 #» 1 #»
e1 = 2 f1 + 4 f3
#» #»
e#»2 = f2 − f3
#» 1 #»
e3 = 2 f3 .
18 CAPÍTULO 1. VETORES
1 #» 1 #» #» #» 1 #» 1 #» #» 1 #»
#» = 1 · e#» + 1 · e#» + 1 · e#» =
w f1 + f3 + f2 − f3 + f3 = f1 + f2 − f3 .
1 2 3
2 4 2 2 4
Seja E uma base de V3 fixada. Vejamos como verificar a dependência linear de um conjunto de vetores
conhecendo as suas coordenadas. Para o caso de 1 vetor já sabemos que ele só é LD se for o vetor nulo e para o caso de
4 ou mais vetores já sabemos que sempre é LD. A seguir analisamos os casos de conjuntos com 2 ou 3 vetores.
xa1 + yb1 + zc1 = 0
xa2 + yb2 + zc2 = 0 (1.5)
xa3 + yb3 + zc3 = 0
admite solução não trivial. Observe que o sistema acima é equivalente a equação matricial
a1 b1 c1 x 0
a2 b2 c2 y = 0 ,
a3 b3 c3 x 0
a qual possui solução não trivial se, e somente se, o determinante da matriz 3x3 formada pelas coordenadas dos
vetores #»
u , #» #» for igual a 0. Portanto
v ew
a1 b1 c1
{ #»
u , #» #» LD ⇔
v , w} a2 b2 c2 = 0.
a3 b3 c3
E XEMPLO 1.38:
(a) Os vetores #»
u = (1, 2, −1) e #»
v = (−8, −16, 8) são LD pois #»
v = −8 #»
u.
(b) Os vetores #»
u = (1, 0, 0), #» #» = (1, 1, 1) são LI pois
v = (1, 1, 0) e w
1 1 1
0 1 1 = 1 6= 0.
0 0 1
1.7. BASE E COORDENADAS 19
(c) Os vetores #»
u = (1, 0, 3), #» #» = (−1, −2, 3) são LD pois
v = (1, 1, 0) e w
1 1 3
1 1 0 = 0.
−1 −2 3
BASE ORTONORMAL
Notação: #»
u ⊥ #»
v.
#»
u #»
v C
O BSERVAÇÃO 1.40:
#»
(i) Vamos convencionar que o vetor nulo 0 é ortogonal a qualquer vetor de V3 .
#»
u ⊥ #»
v ⇔ k #»
u + #»
v k2 = k #»
u k2 + k #»
v k2
#»
u + #»
v #»
v
#»
u
D EFINIÇÃO 1.41 (BASE ORTONORMAL ): Uma base E = {e#»1 , e#»2 , e#»3 } é dita ortonormal se os vetores e#»1 , e#»2 , e#»3
forem dois a dois ortogonais e ke#»1 k = ke#»2 k = ke#»3 k = 1.
20 CAPÍTULO 1. VETORES
e#»2
e#»1
e#»3
O BSERVAÇÃO 1.42:
#» #» #»
(i) É comum denotar uma base ortonormal por B = { i , j , k }. Quando são dadas as coordenadas de vetores
sem mencionar a base, convencionamos que essas coordenadas são dadas com relação a esta base ortornormal,
isto é, se escrevemos simplesmente #»v = (a1 , a2 , a3 ), sem fazer menção qualquer base, fica convencionado que
#» #» #» #» #» #» #»
v = a1 i + a2 j + a3 k , com B = { i , j , k } uma base ortonormal.
(ii) Trabalhar com coordenadas de vetores numa base ortonormal facilita os cálculos deixando as fórmulas mais
simples. Por exemplo, se (a, b, c) forem as coordenadas de um vetor #» v numa base ortonormal, isto é, #»
v =
#» #» #» #»
a i + b j + c k , segue do Teorema de Pitágoras que o tamanho do vetor v é dado por
√
kvk = a2 + b2 + c2
Nesta seção veremos uma maneira de definir coordenadas de pontos a partir de uma base e um ponto fixado.
Para isso vamos definir o que chamamos de um sistema de coordenadas.
D EFINIÇÃO 1.44 (S ISTEMA DE COORDENADAS ): Sejam O um ponto e E = {e#»1 , e#»2 , e#»3 } uma base de V3 . O par
Σ = (O, E) é chamado de sistema de coordenadas em V3 e o ponto O é chamado de origem. Quando a base E for
ortonormal dizemos que o sistema de coordenadas Σ = (O, E) é um sistema de coordenadas ortogonal.
e#»3
e#»2
O
e#»1
D EFINIÇÃO 1.45 (E IXOS COORDENADOS ): Considere o sistema de coordenadas Σ = (O, E) onde E = {e#»1 , e#»2 , e#»3 }.
Cada reta orientada que passa pelo o ponto O, é paralela e tem a direção de um dos vetores a um dos vetores e#»1 , e#»2 , e#»3 , na
qual adota-se a unidade medida dada pela norma deste vetor, é chamado de eixo coordenado. Além disso, definimos:
1.8. SISTEMA DE COORDENADAS 21
(a) O eixo x (ou das abscissas), indicado por Ox, o eixo coordenado paralelo ao vetor e#»1 .
(b) O eixo y (ou das ordenadas), indicado por Oy, o eixo coordenado paralelo ao vetor e#»2 .
(c) O eixo z (ou das cotas), indicado por Oz, o eixo coordenado paralelo ao vetor e#»3 .
Eixo y
e#»2
2
ke#»2 k e#»1
1
O 1 2 3
Eixo x
ke#»1 k
1
2
e#»3
3
3k
ke #»
Eixo z
Eixo y
e#»2 y
e#»1
O x
Eixo x
e#»3 z
Eixo z
O BSERVAÇÃO 1.47:
22 CAPÍTULO 1. VETORES
(i) Quando não houver confusão com relação ao sistema de coordenadas, escrevemos as coordenadas de um ponto P
sem o índice referente ao sistema de coordenadas.
P ROPOSIÇÃO 1.48: Fixado um sistema de coordenadas (O, E), sejam A = (x1 , y1 , z1 ), B = (x2 , y2 , z2 ), #»
u = (a, b, c)
e λ ∈ R. Então:
#»
(a) AB = (x2 − x1 , y2 − y1 , z2 − z1 )
(b) A + λ #»
u = (x1 + λ a, y1 + λ b, z1 + λ c)
#» #» #»
AB = −OA + OB = −(x1 , y1 , z1 ) + (x2 , y2 , z2 ) = (x2 − x1 , y2 − y1 , z2 − z1 )
(b) Seja D = (A + λ #»
u ) = (x, y, z). Como
#»
AD = λ #»
u = λ (a, b, c) = (λ a, λ b, λ c),
#»
do item (a) temos AD = (x − x1 , y − y1 , z − z1 ) e, portanto
(x − x1 , y − y1 , z − z1 ) = (λ a, λ b, λ c),
isto é, x = x1 + λ a, y = y1 + λ b e z = z1 + λ c. Logo
D = (A + λ #»
u ) = (x, y, z) = (x1 + λ a, y1 + λ a, z1 + λ a).
O BSERVAÇÃO 1.49: Vimos na Proposição 1.48 que, quando dadas as coordenadas dos pontos A = (x1 , y1 , z1 ) e
#»
B = (x2 , y2 , z2 ), o vetor AB = (B − A) tem coordenadas igual a (x2 − x1 , y2 − y1 , z2 − z1 ), isto é, podemos interpretar o
símbolo “ − ” em (A − B) como o sinal de subtração em cada coordenada.
E XEMPLO 1.50: Sejam A = (x1 , y1 , z1 ), B = (x2 , y2 , z2 ) e M o ponto médio do segmento AB. Então:
(a) Sendo o sistema de coordenadas é ortogonal, a distância entre os pontos A e B é dada por
#»
q
d(A, B) = kABk = (x2 − x1 )2 + (y2 − y1 )2 + (z2 − z1 )2 .
#» #»
Demonstração: Segue direto da Proposição 1.48 uma vez que AB = (x2 − x1 , y2 − y1 , z2 − z1 ) e M = A + 12 AB.
O produto escalar é uma operação entre dois vetores que tem como resultado um escalar. Esta operação possui
propriedades importantes como veremos na sequência. Iniciamos definindo o conceito de ângulo entre vetores.
(a) se #»
u ou #»
v é o vetor nulo então #»
u · #»
v = h #»
u , #»
v i = 0.
(b) se #»
u e #»
v são ambos não nulos e θ é o ângulo entre eles então
#»
u · #»
v = h #»
u , #»
v i = k #»
u kk #»
v k cos(θ ).
O BSERVAÇÃO 1.53:
(i) O produto escalar entre dois vetores tem como resultado um número real (e não um vetor).
(ii) Conhecendo os tamanhos e o produto escalar podemos encontrar o ângulo entre dois vetores.
Sejam #»
u , #» #» vetores e λ ∈ R. Valem as propriedades:
v ew
(PE1) h #»
u , #» #» = h #»
v + wi u , #»
v i + h #» #»
u , wi.
(PE2) hλ #»
u , #»
v i = λ h #»
u , #»
v i.
(PE3) h #»
u , #»
v i = h #»
v , #»
u i.
#»
(PE4) se #» 6 0 então h #»
v = v , #»
v i > 0.
(PE5) k #»
p #» #»
vk= h v , v i.
(PE6) #»
u ⊥ #»
v ⇔ h #»
u , #»
v i = 0 (MUITO IMPORTANTE!).
Sejam #»
u = (a1 , a2 , a3 ) e #»
v = (b1 , b2 , b3 ) vetores cujas coordenadas são dadas na base B e θ o ângulo entre #»
u e
#»
v . Segue da Lei dos cossenos (na forma vetorial) que
#»
v #»
u − #»
v
k #»
u − #»
v k2 = k #»
u k2 + k #»
v k2 − 2k #»
u kk #»
v k cos(θ )
θ
#»
u
e, portanto,
k #»
u k2 + k #»
v k2 − k #»
u − #»
v k2
h #»
u , #»
v i = k #»
u kk #»
v k cos(θ ) = .
2
Como
k #»
u k2 + k #»
v k2 = (a1 )2 + (a2 )2 + (a3 )2 + (b1 )2 + (b2 )2 + (b3 )2
k #»
u − #»
v k2 = (a1 − b1 )2 + (a2 − b2 )2 + (a3 − b3 )2
= (a1 )2 + (a2 )2 + (a3 )2 + (b1 )2 + (b2 )2 + (b3 )2 − 2(a1 b1 + a2 b2 + a3 b3 ),
h #»
u , #»
v i = a1 b1 + a2 b2 + a3 b3
O BSERVAÇÃO 1.54: Não vale a lei do cancelamento para o produto escalar, isto é, a igualdade h #»
u , #»
v i = h #» #»
u , wi
NÃO implica que #» #» Por exemplo, se #»
v = w. u = (1, 0, 1), #» #» = (3, −1, 0) então
v = (0, 2, 3) e w
h #»
u , #»
v i = 3 = h #» #»
u , wi
mas #» #»
6 w.
v =
O produto escalar nos permite calcular o ângulo entre dois vetores e em particular, nos permite verificar quando
dois vetores são ortogonais.
#» #»
Resolução: Dado um losango ABCD, sejam #»
u = AB e #»
v = AD conforme figura abaixo.
1.9. PRODUTO ESCALAR 25
D C
#»
u + #»
v
#»
v #»
u − #»
v
A #»
u B
Observe que k #»
u k = k #»
v k pois ABCD é um losango. Vamos usar calcular o produto escalar entre os vetores #»
u + #»
v e
#» #»
u − v . Usando as propriedades de produto escalar temos
h #»
u + #»
v , #»
u − #»
v i = h #»
u , #»
u i − h #»
u , #»
v i + h #»
v , #»
u i − h #»
v , #»
vi
= k #»
u k − k #»
v k = 0,
isto é, #»
u + #»
v e #»
u − #»
v são ortogonais. Portanto, as diagonais de um losango são sempre perpendiculares.
D EFINIÇÃO 1.57 (P ROJEÇÃO ORTOGONAL ): Seja um vetor #» u um vetor não nulo. Dado #»
v qualquer, o vetor
#»
p = proj #» #» #» #»
u v é chamado projeção ortogonal de v sobre u se satisfaz:
(a) #»
p // #»
u
(b) ( #»
v − #»
p ) ⊥ #»
u
#»
v
#»
proj #» #» u
u v
26 CAPÍTULO 1. VETORES
#» #» #» #» #»
E XEMPLO 1.59: Sejam #»
u = 2 i − 2 j + k e #»v = 3 i − 6 j . Assim, #»
u · #»
v = 2 · 3 + (−2) · (−6) + 1 · 0 = 18, e
#» p
2 2 2 #» #»
k u k = 2 + (−2) + 1 = 3. Nesse caso, a projeção ortogonal de v sobre u será
#» 18 #» #» #» #»
proj #»
u v = u = 2 #»
u = 4 i −4 j +2 k .
9
O produto vetorial é uma operação entre dois vetores e tem como resultado um vetor. Assim como o produto
escalar, o vetor resultado do produto vetorial possui propriedades importantes as quais veremos na sequência.
Para a definição de produto vetorial que iremos introduzir a seguir faz-se necessário o conhecimento do conceito
de orientação de V3 , o qual classifica as bases de V3 . Apresentamos a seguir uma definição informal para classificar as
bases de V3 . A definição formal deste conceito pode ser consultada no Capítulo 10 da referência [Livro Boulos].
D EFINIÇÃO 1.60 (R EGRA PRATICA PARA ORIENTAÇÃO DE V3 ): Seja E = {e#»1 , e#»2 , e#»3 } uma base de V3 . Dizemos
que E obedece a regra da mão direita se podemos posicionar o dedos indicador, médio e polegar nas direções de
e#»1 , e#»2 , e#»3 , respectivamente. Neste caso, dizemos que E é uma base dextra. De modo análogo, dizemos que E é uma
base sinista se E obedece a regra da mão esquerda.
1.10. PRODUTO VETORIAL 27
O BSERVAÇÃO 1.61: Note que toda base de V3 pode ser classificada como dextra ou sinistra e nenhuma delas pode
ser dextra e sinistra ao mesmo tempo. Logo, esta classificação divide as bases de V3 em dois conjuntos disjuntos: o
conjunto das bases dextras, o qual denotares por D, e o conjunto das bases sinistras, denotado por S.
D EFINIÇÃO 1.62 (O RIENTAÇÃO DE V3 (D EFINIÇÃO INFORMAL )): Cada um dos conjuntos D e S é chamado de
orientação de V3 . Um vez escolhido e fixado um desses conjuntos, dizemos que V3 está orientado e, neste caso, cada
base da orientação escolhida é chamada de base positiva. Nessa condições, se E é uma base positiva, também dizemos
que V3 está orientado pela base E.
#»
(a) se #»
u , #»
v são vetores LD então #»
u ∧ #»
v = 0.
(b) se #»
u , #»
v são vetores LI e θ é o ângulo entre #»
u e #»
v então
(b1) k #»
u ∧ #»
v k = k #»
u kk #»
v ksen (θ ),
(b2) #»
u ∧ #»
v ⊥ #»u e #»
u ∧ #»
v ⊥ #»v,
(b3) { #»
u , #»
v , #»
u ∧ #»
v } é uma base positiva de V3 .
#» #»
O BSERVAÇÃO 1.64: Dados os vetores LI #» u e #»
v , sejam O, A, B pontos tais que #»
u = OA, #»
v = OB, r uma reta
que passa pelo ponto O e é perpendicular ao plano OAB e C e D são pontos distintos na reta r tais que d(C, O) =
k #»
u kk #»
v ksen (θ ) = d(D, O).
r
D
k #»
u kk #»
v ksen (θ )
#»
u O
A θ
#»
v
k #»
u kk #»
v ksen (θ )
B
C
28 CAPÍTULO 1. VETORES
Note que:
r r
D D
# »
OD
#»
u O #»
u O
A θ A θ
#»
v #»
v
B B
#»
OC
C C
Base dextra Base sinistra
#» #» #»
Seja B = { i , j , k } uma base ortonormal positiva fixada.
Sejam #»
u = (a1 , a2 , a3 ) e #»
v = (b2 , b2 , b3 ) vetores cujas coordenadas são dadas na base B. O produto vetorial
#» #»
entre os vetores u e v , em termos de suas coordenadas na base B, é dado por
#»
u ∧ #»
v = (a2 b3 − a3 b2 , −a1 b3 + a3 b1 , a1 b2 − a2 b1 ) .
O BSERVAÇÃO 1.65: Para facilitar a memorização do produto vetorial podemos interpretar o vetor #» u ∧ #»
v como um
#» #» #»
determinante simbólico de uma matriz 3 × 3. A matriz é construída colocando os vetores i , j , k na primeira linha, as
coordenadas do vetor #»
u na segunda linha e as coordenadas do vetor #»
v na terceira linha, e o cálculo do determinante
é feito de maneira usual, como se os vetores da primeira linha fossem números reais. Calculando o determinante
simbólico através da Regra de Sarrus temos:
1.10. PRODUTO VETORIAL 29
+ + +
#» #» #» #» #» #» #» #»
i j k i j k i j
a1 a2 a3 = a1 a2 a3 a1 a2
b1 b2 b3 b1 b2 b3 b1 b2
− − −
#» #» #» #» #» #»
= a2 b3 i + a3 b1 j + a1 b2 k − a2 b1 k − a3 b2 i − a1 b3 j
#» #» #»
= (a2 b3 − a3 b2 ) i − (a1 b3 − a3 b1 ) j + (a1 b2 − a2 b1 ) k = #»
u ∧ #»
v
Uma maneira alternativa de memorizar as coordenadas do produto vetorial é calcular o determinante simbólico através
#» #» #»
dos cofatores das posições de i , j , k . Desta maneira temos
#» a2 a3 #» a1 a3 #» a1 a2 #»
u ∧ #»
v = i − j+ k.
b2 b3 b1 b3 b1 b2
Portanto #»
u ∧ #»
v = (2, 1, −2).
Sejam #»
u , #» #» vetores quaisquer e λ um número real.
v ew
#»
(i) #»
u ∧ #»
v = 0 ⇔ #»
u e #»
v são LD. Em particular, #»
u ∧ #»
u = 0, qualquer que seja #»
v.
(ii) #»
u ∧ #»
v = − #»
v ∧ #»
u.
(iii) (λ #»
u ) ∧ #»
v = λ ( #»
u ∧ #»
v ) = #»
u ∧ (λ #»
v ).
(iv) #»
u ∧ ( #» #» = #»
v + w) u ∧ #»
v + #» #» e ( #»
u ∧w u + #» #» = #»
v )∧ w #» + #»
u ∧w #»
v ∧ w.
(v) k #»
u ∧ #»
v k2 = k #»
u k2 k #»
v k2 − h #»
u , #»
v i2 (Identidade de Lagrange).
#» #» #» #» #» #»
O BSERVAÇÃO 1.67: Dada uma base ortonormal positiva B = { i , j , k }, o produto vetorial entre os vetores i , j , k
satisfaz:
#» #» #» #» #» #» #» #» #»
i ∧ j = k, j∧k = i, k ∧ i = j,
#» #» #» #» #» #» #» #» #»
j ∧ i =−k, k ∧ j =−i, i ∧ k =− j.
30 CAPÍTULO 1. VETORES
Observando o diagrama vemos que o produto vetorial de quaisquer dois vetores consecutivos, no sentido horário, tem
como resultado o vetor seguinte, enquanto que, no sentido anti-horário o resultado é o vetor oposto ao vetor seguinte:
#»
i
#» #»
k j
#» #» #» #» #» #» #» #» #» #» #» #»
i ∧ ( i ∧ j ) = i ∧ k = − j 6= ( i ∧ i ) ∧ j ) = 0 ∧ j = 0 .
Vejamos a seguir que a área de um paralelogramo determinado por dois vetores LI é dada pela norma do produto
vetorial destes vetores.
Sejam #»
u , #»
v vetores LI, θ o ângulo entre eles e h a altura do paralelogramo conforme figura abaixo:
#»
u ∧ #»
v
#»
v h
θ
#»
u
A = k #»
uk·h
= k #»
u k · k #»
v ksen (θ )
= k #»
u ∧ #»
vk
Área = k #»
u ∧ #»
vk .
E XEMPLO 1.68 (Á REA DO TRIÂNGULO ): Qual é a área do triângulo determinado pelo pontos não colineares A, B
e C?.
#» #»
Resolução: Considere os vetores #»u = AB e #»
v = AC e observe que a área do triângulo gerado pelos pontos A, B e C é
#» #»
igual a metade da área do paralelogramo gerado pelos vetores AB e AC.
1.11. PRODUTO MISTO 31
C
#»
v
A #»
u B
Portanto, a área do triângulo determinado pelos pontos não colineares A, B e C é dada por
k #»
u ∧ #»
vk
Área = .
2
O produto misto é uma operação entre três vetores usando o produto vetorial e o produto escalar e tem como
resultado um escalar. Veremos que esta operação nos permitirá encontra o volume de um paralelepípedo determinado
por três vetores LI.
D EFINIÇÃO 1.69 (P RODUTO MISTO ): Sejam #» u , #» #» três vetores. O produto misto dos vetores #»
v,w u , #» #» (nesta
v ew
ordem), indicado por [ #»
u , #» #» é o número real dado por
v , w]
[ #»
u , #» #» = ( #»
v , w] u ∧ #» #»
v · w).
O BSERVAÇÃO 1.70: Esta claro que devemos calcular primeiro o produto vetorial e depois o produto escalar do
resultando com o vetor restante. Se calculamos primeiro o produto escalar obtemos como resultado um escalar e não
teria sentido calcular o produto vetorial do vetor restante com esse escalar.
Sejam #»u = (a1 , a2 , a3 ), #» #» = (c , c , c ) vetores cujas coordenadas são dadas com relação a
v = (b1 , b2 , b3 ) e w 1 2 3
#» #» #»
uma base ortonormal B = { i , j , k }. Mostremos que
a1 a2 a3
[ #»
u , #» #» =
v , w] b1 b2 b3 .
c1 c2 c3
Do produto vetorial de #»
u por #»
v temos
#» a2 a3 #» a1 a3 #» a1 a2 #»
u ∧ #»
v = i − j+ k.
b2 b3 b1 b3 b1 b2
32 CAPÍTULO 1. VETORES
a1 a2 a3
#» a2 a3 a1 a3 a1 a2
u ∧ #» #» =
v ·w c1 − c2 + c3 = b1 b2 b3 ,
b2 b3 b1 b3 b1 b2
c1 c2 c3
isto é,
a1 a2 a3
[ #»
u , #» #» =
v , w] b1 b2 b3 .
c1 c2 c3
Sejam #»
u , #» #» três vetores.
v ew
(i) [ #»
u , #» #» = 0 se, e somente se #»
v , w] u , #» #» vetores LD.
v,w
[ #»
u , #» #» = [ #»
v , w] #» #»
v , w, #» #»
u ] = [ w, u , #»
v ].
No entanto, o produto misto muda de sinal se trocar as posições de dois vetores consecutivos, isto é
[ #»
u , #» #» = −[ #»
v , w] v , #» #»
u , w].
( #»
u ∧ #» #» = #»
v )· w u · ( #» #»
v ∧ w).
Vejamos a seguir que o volume de um paralelepípedo determinado por três vetores LI é dado pelo módulo do
produto misto destes vetores.
Sejam #»
u , #» #» vetores LI, θ o ângulo entre os vetores #»
v,w u ∧ #» #» e h a altura do parelelepípedo determinado
v ew
por #»
u , #» #» conforme figura abaixo:
v ew
1.11. PRODUTO MISTO 33
#»
u ∧ #»
v
#»
h θ w
#»
v
#»
u
Note que o volume V do paralelepípedo determinado por #» u , #» #» é dado pelo produto da área A do paralelogramo
v ew
gerado por #»
u e #»
v pela altura h, a qual pode ser calculada em termos dos vetores #»
u ∧ #»
v ew#» e do ângulo θ entre eles.
#»
u ∧ #»
v
#»
h θ w
#»
v
#»
u
A = k #»
u ∧ #»
vk #» cos(θ )
h = k wk
Logo,
V = A·h
= k #»
u ∧ #» #» cos(θ )
v k · k wk
= |h #»
u ∧ #» #»
v , wi|
= |[ #»
u , #» #»
v , w]|
Volume = |[ #»
u , #» #»
v , w]|
E XEMPLO 1.71 (VOLUME DO TETRAEDRO ): Qual o volume do tetraedro determinado pelos pontos não coplana-
res A, B, C e D?
#» # » #» # »
Resolução: Considere os vetores #»u = AB, #»
v = AC e w = AD e observe que o volume do tetraedro determinado pelos
#» #» # »
pontos A, B, C e D é igual a um sexto do volume do paralelepípedo gerado vetores AB, AC e AD.
34 CAPÍTULO 1. VETORES
#»
AD
C
#»
AC
A #» B
AB
Portanto, o volume do tetraedro determinado pelos pontos não coplanares A, B, C e D é dado por
#» #» # »
[AB, AC, AD]
Volume =
6
C APÍTULO 2
R ETAS E PLANOS
Neste capítulo estudamos as equações de retas e de planos no espaço, bem como as possíveis posições relativas
e intersecções envolvendo os dois conceitos. Por fim estudamos ângulos e as fórmulas de distâncias.
Seja r uma reta que passa por um o ponto A e tem a mesma direção do vetor #»
v . Um ponto X pertence a reta r se,
# » #» #»
e somente se, os vetores AX e v têm mesma direção (LD), isto é, existe λ ∈ R tal que AX = λ #»
v . Assim,
#»
X ∈ r ⇔ ∃ λ ∈ R | AX = λ #»
v ⇔ X = A + λ #»
v.
Observemos que para cada ponto X na reta r, existe um único número real λ de modo que X = A+λ #»
v e, reciprocamente,
para cada número real λ existe um único ponto X em r, tal que X = A + λ v .#»
λ #»
X
v
A
r
#»
v
D EFINIÇÃO 2.1 (E QUAÇÃO VETORIAL DA RETA ): Seja r uma reta que passa por um o ponto A e tem a mesma
direção do vetor #»
v . A equação
X = A + λ #»
v, λ ∈R
Considerando agora um sistema ortogonal de coordenadas fixado, seja r uma reta que passa por um ponto
A = (x0 , y0 , z0 ) e tem a mesma direção do vetor #»
v = (a, b, c). Então, da equação vetorial da reta r, um ponto X = (x, y, z)
pertence a r se, e somente se, existe λ ∈ R tal que
Analisando cada uma das coordenadas na equação acima, obtemos três equações.
D EFINIÇÃO 2.2 (E QUAÇÕES PARAMÉTRICAS DA RETA ): Seja r uma reta que passa por um ponto A = (x0 , y0 , z0 )
e tem a mesma direção do vetor #»
v = (a, b, c). Então as equações
x = x0 + λ a,
y = y0 + λ b, λ ∈ R.
z = z0 + λ c,
Seja r uma reta que passa por um ponto A = (x0 , y0 , z0 ) e tem a mesma direção do vetor #»
v = (a, b, c), com a, b e
c não nulos. Então, das equações paramétricas de r, um ponto X = (x, y, z) pertence a reta r se, e somente se, existe
λ ∈ R tal que
x − x0 y − y0 z − z0
λ= = = .
a b c
A expressão acima é uma outra forma de descrever a reta.
D EFINIÇÃO 2.3 (E QUAÇÕES SIMÉTRICAS DA RETA ): Seja r uma reta que passa por um ponto A = (x0 , y0 , z0 ) e
tem a mesma direção do vetor #»
v = (a, b, c), com a, b e c não nulos. Então as equações
x − x0 y − y0 z − z0
= =
a b c
O BSERVAÇÃO 2.4:
(i) Podemos encontrar as equações de uma reta r se conhecemos dois pontos distintos pelos quais a reta passa. Por
#»
exemplo, se r passa pelos pontos A e B, com A 6= B, basta considerar o vetor diretor AB.
(ii) As equações de uma reta não são únicas. Por exemplo, se A, B,C são 3 pontos distintos de uma mesma reta r, as
equações
#» #»
X = A + λ AB, λ ∈ R e X = B + λ BC, λ ∈ R
E XEMPLO 2.5: As equações da reta r que passa pelo ponto A = (3, 0, −5) e tem vetor diretor #»
v = (2, 2, −1) são:
x−3 y z+5
Equações simétricas: = = .
2 2 −1
E XEMPLO 2.6: Seja r a reta que passa pelos pontos A = (1, 0, 1) e B = (3, −2, 3).
(b) Verifique se os pontos P = (−9, 10, −9) e Q = (1, 0, −1) pertencem a reta r.
Resolução:
#»
(a) O vetor AB = (B − A) = (3 − 1, −2 − 0, 3 − 1) = (2, −2, 2) é vetor diretor da reta r. Assim:
x−1 y z−1 y
Equações simétricas: = = , o que é equivalente à x − 1 = = z − 1.
2 −2 2 −1
(b) Vamos substituir as coordenadas de P e Q nas equações simétricas e verificar se temos uma sentença verdadeira ou
falsa. Substituindo as coordenadas de P
10
−9 − 1 = = −9 − 1 =⇒ −10 = −10 = −10,
−1
0
1−1 = = −1 − 1 =⇒ 0 = 0 = −2,
−1
x = 1−λ,
E XEMPLO 2.7: Obtenha dois pontos e dois vetores diretores da reta y = λ, λ ∈ R.
z = 4 + 2λ ,
Resolução: De imediato, segue das equações paramétricas dadas que (1, 0, 4) é um ponto da reta, enquanto que
(−1, 1, 2) é um vetor diretor. Para encontrar outro vetor diretor, basta considerarmos um vetor paralelo (múltiplo). Por
exemplo 3 · (−1, 1, 2) = (−3, 3, 6) é um outro vetor diretor da reta. Para encontrar pontos da retas, devemos atribuir
valores para o parâmetro λ . Façamos por exemplo λ = 1, assim obtemos x = 0, y = 1 e z = 6. Ou seja, (0, 1, 6) é um
outro ponto da reta.
38 CAPÍTULO 2. RETAS E PLANOS
#»
X ∈ π ⇔ ∃ λ , µ ∈ R | AX = λ #»
u + µ #»
v ⇔ X = A + λ #»
u + µ #»
v.
Observemos que para cada ponto X no plano π, existe um único par de números reais λ , µ de modo que X =
A + λ #»
u + µ #»
v e, reciprocamente, para cada par de números reais λ , µ existe um único ponto X em π, tal que
X = A + λ u + µ #»
#» v.
#»
v
λ #»
u + µ #»
v
A X
#»
u
π
D EFINIÇÃO 2.8 (E QUAÇÃO VETORIAL DO PLANO ): Seja π um plano que passa por um ponto A e é paralelo aos
vetores LI #»
u , #»
v . A equação
X = A + λ #»
u + µ #»
v , λ,µ ∈ R
O BSERVAÇÃO 2.9: Vetores diretores de um plano surgem sempre aos pares e são LI. De fato, apenas um vetor, ou
ainda, um par de vetores LD não são suficientes para definir um plano.
Seja π um plano que passa por um ponto A = (x0 , y0 , z0 ) com vetores diretores #»
u = (a1 , b1 , c1 ) e #»
v = (a2 , b2 , c2 ).
Então, da equação vetorial do plano π, um ponto X = (x, y, z) pertence a π se, e somente se, existem λ , µ ∈ R tais que
Analisando cada uma das coordenadas na equação acima, obtemos três equações.
D EFINIÇÃO 2.10 (E QUAÇÕES PARAMÉTRICAS DO PLANO ): Seja π um plano que passa por um ponto A =
(x0 , y0 , z0 ) com vetores diretores #»
u = (a1 , b1 , c1 ) e #»
v = (a2 , b2 , c2 ). Então as equações
x = x0 + λ a1 + µa2 ,
y = y0 + λ b1 + µb2 , λ , µ ∈ R,
z = z0 + λ c1 + µc2 ,
2.2. EQUAÇÕES DO PLANO 39
O BSERVAÇÃO 2.11: Podemos encontrar as equações de um plano π se conhecemos três pontos distintos e não
colineares pelos quais passa π. Por exemplo, se π passa pelos pontos não colineares A, B e C, basta considerar como
#» #»
vetores diretores o par de vetores (LI) AB, AC.
E XEMPLO 2.12: Seja π o plano que passa pelo ponto A = (3, 7, 1) e tem vetores diretor #»
u = (1, 1, 1) e #»
v = (1, 1, 0).
Resolução:
(b) Vamos substituir as coordenadas de P nas equações paramétricas e verificar se existem λ , µ ∈ R satisfazendo as
equações. Substituindo as coordenadas de P temos
1 = 3 + λ + µ,
2 = 7 + λ + µ,
2 = 1+λ,
e subtraindo a equação da segunda linha pela equação da primeira linha obtemos a sentença 1 = 4, o que é um
absurdo. Portanto, não existem λ , µ ∈ R, tais que P = A + λ #»
u + µ #»
v , isto é, P não pertence ao plano π.
#» será paralelo ao plano π se, e somente se, #»
(c) Observemos que o vetor w u , #» #» forem LD. Assim, calculando o
v,w
determinante
1 1 1
1 1 0 = 0,
2 2 5
isto é, #»
u , #» #» são vetores LD. Portanto, w
v,w #» é paralelo a π.
E XEMPLO 2.13: Obtenha uma equação vetorial e equações paramétricas do plano que passa pelos pontos A =
(1, 0, −3), B = (0, 0, 7) e C = (5, −2, −3).
#» #»
Resolução: Notemos que AB = (−1, 0, 10) e AC = (4, −2, 0) são dois vetores diretores do plano. Utilizando o ponto
B para escrever as equações (poderia utilizar tanto A quanto o ponto C), obtemos:
As equações de plano estudadas até aqui são descritas através de parâmetros λ , µ ∈ R. De fato, ao variar esses
parâmetros pelo conjunto dos números reais, as equações vetoriais e paramétricas descrevem o plano. A equação que
estudaremos nessa seção descreverá um plano sem a utilização de parâmetros, ou seja, obteremos uma equação de
plano envolvendo apenas as variáveis x, y, z.
Seja π um plano que passa por um ponto A = (x0 , y0 , z0 ) com vetores diretores #»
u = (a1 , b1 , c1 ) e #»
v = (a2 , b2 , c2 ).
# » #» #»
Sabemos que um ponto X = (x, y, z) pertence ao plano π se, e somente se, AX, u e v são LD, isto é
x − x0 y − y0 z − z0
a1 b1 c1 = 0. (2.1)
a2 b2 c2
b1 c1 c1 a1 a1 b1
(x − x0 ) + (y − y0 ) + (z − z0 ) = 0,
b2 c2 c2 a2 a2 b2
onde obtemos
!
b1 c1 c1 a1 a1 b1 b1 c1 c1 a1 a1 b1
x +y +z + −x0 − y0 − z0 = 0.
b2 c2 c2 a2 a2 b2 b2 c2 c2 a2 a2 b2
| {z } | {z } | {z } | {z }
a b c d
O BSERVAÇÃO 2.15:
(i) É possível provar que toda equação de primeiro grau a três incógnitas é equação geral de um plano. Observemos
ainda que existem infinitas maneiras de expressar um plano por equações gerais. De fato, duas equações gerais
equivalentes representam um mesmo plano.
(ii) Na prática não é necessário memorizar as expressões que definem os números a, b, c, d, pois é possível determinar
a equação geral de um plano através da fórmula (2.1), uma vez conhecido um ponto e dois vetores diretores. Veja
no exemplo a seguir.
2.2. EQUAÇÕES DO PLANO 41
E XEMPLO 2.16: Determine uma equação geral do plano π que passa por A = (9, −1, 0) e é paralelo aos vetores
#»
u = (0, 1, 0) e #»
v = (1, 1, 1).
Resolução: Notemos que #» u e #»v são LI (não são múltiplos um do outro), e logo podemos utilizá-los como vetores
diretores do plano. Para obter a equação geral de π, basta calcular o determinante
x − 9 y − (−1) z − 0
0 1 0 = 0 ⇔ x − z − 9 = 0.
1 1 1
D EFINIÇÃO 2.17 (V ETOR NORMAL AO PLANO ): Seja π um plano. Qualquer vetor não nulo ortogonal ao plano
π é chamado vetor normal ao plano π.
O BSERVAÇÃO 2.18: Pela definição acima um vetor é normal a um plano π se, e somente se, é ortogonal a qualquer
vetor diretor de π.
E XEMPLO 2.19: Obtenha um vetor normal ao plano π determinado pelos pontos A = (1, 1, 2), B = (3, 4, 1) e
C = (2, 2, −3).
#» #»
Resolução: Os vetores AB = (2, 3, −1) e AC = (1, 1, −5) são diretores de π. Logo um vetor normal a π é
#» #» #»
i j k
#» #» #» #» #» #»
n = AB ∧ AC = 2 3 −1 = −14 i + 9 j − k = (−14, 9, −1).
1 1 −5
A proposição a seguir apresenta uma importante relação entre as coordenadas de um vetor normal a um plano e
uma equação geral desse plano. Em verdade o resultado diz que os coeficientes de x, y, z de uma equação geral de um
plano π, são as coordenadas de um vetor normal a π, e vice versa.
P ROPOSIÇÃO 2.20: O vetor #»n = (a, b, c) é normal a um plano π se, e somente se, π tem uma equação geral da
forma ax + by + cz + d = 0.
Demonstração. Suponhamos que #» n = (a, b, c) é um vetor normal ao plano π e seja A = (x0 , y0 , z0 ) um ponto de π.
#»
Assim, um ponto X = (x, y, z) pertence a π se, e somente se, AX ⊥ #»
n . Ou seja,
#»
AX · #»
n = 0 ⇔ (x − x0 )a + (y − y0 )b + (z − z0 )c = 0 ⇔ ax + by + cz + (−x0 a − y0 b − z0 c) = 0.
| {z }
d
E XEMPLO 2.21: Obtenha uma equação geral do plano π, que passa pelo ponto A = (1, 0, 2) e tem vetor normal
#»
n = (1, −1, 4).
Resolução: Sabemos que a equação do plano será 1x − 1y + 4z + d = 0. Substituindo as coordenadas do ponto A dado
1 · 1 − 1 · 0 + 4 · 2 + d = 0 ⇒ d = −9.
O BSERVAÇÃO 2.22: Podemos utilizar o raciocínio do exemplo acima para encontrar uma equação geral do plano a
partir de sua equação vetorial (ou equações paramétricas). Para isso precisamos de um vetor normal e um ponto do
plano. O ponto é obtido diretamente da equação dada, enquanto que como vetor normal podemos utilizar o produto
vetorial dos diretores (da mesma forma que foi feito no exemplo 2.19). No exemplo a seguir veremos a situação inversa:
como obter equações paramétricas de uma plano a partir de uma equação geral conhecida.
E XEMPLO 2.23: Seja o plano π com equação geral dada por x − 3y + 5z − 12 = 0. Obtenha equações paramétricas
para π.
Resolução: Para obter equações paramétricas precisamos de dois parâmetros λ e µ. Podemos escolher duas das
incógnitas da equação geral para serem utilizados como parâmetros. Por exemplo, podemos tomar y = λ e z = µ.
Desta forma, x = 12 + 3λ − 5µ. Portanto, temos as seguintes equações paramétricas
x = 12 + 3λ − 5µ,
π: y = λ, λ , µ ∈ R.
z = µ,
O BSERVAÇÃO 2.24: Outra forma de resolver a questão acima é extrair três pontos do plano a partir da equação
geral dada (para isso devemos atribuir valores para duas das incógnitas e calcular a terceira), e seguir como feito no
exemplo 2.13.
π2
#»
n2
r
#»
n1
π1
Agora, precisamos encontrar um ponto da reta r. Para isso, vamos utilizar as equações gerais de π1 e π2 . Notemos
que são duas equações para três incógnitas. Para encontrar pontos pertencentes a reta r (intersecção dos dois planos)
devemos assumir valores para uma das incógnitas e encontrar os valores das outras duas. Tomando x = 0 nas duas
equações, obtemos o sistema linear (
−y − 3 = 0
y + 2z − 1 = 0
de onde segue que y = −3 e z = 2. Ou seja, o ponto (0, −3, 2) pertence a reta r. Portanto, as equações paramétricas de
r são
x = −2λ ,
r: y = −3 − 4λ , λ ∈ R.
z = 2 + 5λ ,
O BSERVAÇÃO 2.26: Vimos acima um exemplo de reta r que está determinada por dois planos concorrentes (que se
intersectam). Ou seja, os pontos da reta r devem satisfazer as equações dos dois planos simultaneamente. Uma forma
algébrica de expressar isso é usando o sistema linear formado pelas duas equações dos planos. No exemplo acima, a
reta r ficaria representada da seguinte forma:
(
2x − y − 3 = 0,
r:
3x + y + 2z − 1 = 0.
Nas próximas seções vamos analisar com mais detalhes as intersecções e posições relativas envolvendo retas e planos.
44 CAPÍTULO 2. RETAS E PLANOS
No que segue analisaremos as formas de estudar a posição relativa de duas retas r e s dadas. A saber, existem
três possíveis posições relativas entre retas: paralelas (coincidentes ou não), concorrentes ou reversas (não coplanares).
Sejam #»r um vetor diretor da reta r, #»
s um vetor diretor da reta s, A ∈ r e B ∈ s. Assim:
#»
s s
#»
r r
#»
r , #»
(ii) r e s são retas concorrentes se, e somente se, { #» r , #»
s } é LI e { #» s , AB} é LD, isto é, r e s são coplanares e
não são paralelas. Note que a intersecção de duas retas concorrentes é um ponto, cujas as coordenadas devem
satisfazer as equações das duas retas.
B #»
r
#» r
AB
s
#»
s
A
#»
(iii) r e s são retas reversas se, e somente se, { #» r , #»
s , AB} é LI. Em termos das coordenadas, se #»
r = (a1 , b1 , c1 ),
#» #» #» #»
s = (a2 , b2 , c2 ), A = (x1 , y1 , z1 ) e B = (x2 , y2 , z2 ) então, { r , s , AB} é LI se, e somente se,
a1 b1 c1
a2 b2 c2 6= 0.
x2 − x1 y2 − y1 z2 − z1
B #»
s
s
#»
AB
r
#»
r
A
E XEMPLO 2.27: Estude a posição relativa das retas r e s onde suas equações são dadas abaixo. Caso concorrentes,
encontre o ponto de intersecção.
2.3. POSIÇÃO RELATIVA DE RETAS E PLANOS 45
r = (0, 1, 3) e #»
Resolução: (a) Temos #» s = (0, 2, 6). Claramente #»
s = 2 #» r , #»
r e logo { #» s } é LD. Assim r//s. Além
disso, tomando P = (1, 2, 3) ∈ r e substituindo na equação de s
1=1
1
(1, 2, 3) = (1, 3, 6) + µ(0, 2, 6) ⇔ 3 + 2µ = 2 ⇔ µ =− .
2
6 + 6µ = 3
#» #»
r , #»
Logo, podemos considerar B = (1, 5, 0) ∈ s. Dessa forma, AB = (0, 3, −3). Com isso, { #» s , AB} é LD, pois
0 1 3
0 −1 1 = 0.
0 3 −3
Concluímos que r e s devem ser concorrentes. O ponto de intersecção P = (x, y, z) deve satisfazer as equações
das duas retas (em outras palavras, é solução do sistema formado pelas equações das duas retas). Como P ∈ r,
devemos ter x = 1, y = 2 + λ e z = 3 + λ . Substituindo na equação de s
( (
1 + 2 + λ + 3 + 3λ = 6 λ =0
⇔ .
1 − 2 − λ − 3 − 3λ = −4 λ =0
No que segue analisaremos as formas de estudar a posição relativa de uma reta r e um plano π. A saber, podemos
ter r paralelo (contido ou não) ao plano π ou r transversal a π. Sejam #»
r um vetor diretor da reta r, #»
u e #»
v dois vetores
diretores do plano π. Assim:
um ponto do plano π na reta r, pois existem infinitos pontos do plano que não pertencem a reta, mesmo que r
esteja contida em π.
#»
r r
#»
v #»
v
#»
r #»
r r
π #»
u #»
π u
r//π e r ∩ π = 0/ r⊂π
#»
n
#»
r
#»
v
π #»
u
E XEMPLO 2.28: Estude a posição relativa da reta r e o plano π em cada um do itens abaixo. Caso transversais,
encontre o ponto de intersecção.
3 2 1
1 −1 1 = −17 6= 0,
0 1 3
implicando que a r e π são transversais. O ponto P = (x, y, z) de encontro da reta com o plano deve satisfazer
2.3. POSIÇÃO RELATIVA DE RETAS E PLANOS 47
2 6 10
o que nos dá t = − 17 , λ = − 17 e µ = − 17 . Substituindo o valor de t na equação de r obtemos (x, y, z) =
2 11 13 15
(1, 1, 1) − 17 (3, 2, 1), concluindo que P = 17 , 17 , 17 .
(b) Temos #»
r = (1, −1, 1) um diretor da reta r e #»
n = (1, 1, 0) um vetor normal do plano π. Como
#»
r · #»
n = 1 · 1 + (−1) · 1 + 1 · 0 = 0,
então r e π não são transversais. Assim r está contida em π ou é paralela e não contida em π. Tomando
A = (1, 1, 0) ∈ r, e substituindo suas coordenadas na equação de π, obtemos
1 + 1 − 2 = 0 ⇔ 0 = 0,
(c) Sendo #»
r = (3, 3, 0) um vetor diretor da reta r, #»
u = (1, 1, 1) e #»
v = (0, 0, 3) dois vetores diretores do plano π, temos
3 3 0
1 1 1 = 0,
0 0 3
implicando que r e π não são transversais. Assim, r está contida em π ou é paralela e não contida em π. Tomando
A = (2, 2, 1) ∈ r, e substituindo suas coordenadas na equação de π
2 = 1+λ
(2, 2, 1) = (1, 0, 1) + λ (1, 1, 1) + µ(0, 0, 3) ⇔ 2=λ
1 = 1 + λ + 3µ
o qual é um sistema incompatível (não existem λ e µ satisfazendo todas as equações simultaneamente). Logo,
A∈/ π e, portanto, r é paralela mas não contida em π.
Dados dois planos π1 e π2 , podemos ter as seguintes posições relativas entre eles: π1 e π2 são paralelos
(coincidentes ou não) ou são transversais (e neste caso a intersecção é uma reta). Sejam #»
n 1 e #»
n 2 vetores normais aos
planos π1 e π2 , respectivamente. Assim:
(i) π1 e π2 são planos paralelos (coincidente ou não) se, e somente se, { #»n 1 , #»
n 2 } é LD, isto é, os vetores normais
são paralelos. Para analisar se são coincidentes basta verificar se possuem um ponto em comum (por exemplo,
tomar um ponto de um dos planos e testar se satisfaz a equação do outro plano).
48 CAPÍTULO 2. RETAS E PLANOS
#»
n2
π2
#»
n1
π1
π2
π1
(b) π1 : 2x − y + z − 1 = 0 e π2 : x − 12 y + 21 z − 9 = 0;
Resolução: (a) Precisamos primeiro encontrar vetores normais para os planos. Temos #» n 1 = (1, 1, 1) ∧ (1, 0, 0) =
(−1, 0, 1) e n 2 = (1, 0, 1) ∧ (−1, 0, 3) = (0, −4, 0). Desta forma, os planos são transversais, pois #»
#» n 1 e #»
n 2 não são
paralelos.
(b) Temos #»n 1 = (2, −1, 1) e #»n 2 = 1, − 12 , 21 que são proporcionais, e logo vetores paralelos. Desta forma π1 //π2 .
Para saber se os planos são coincidentes, tomemos um ponto de π1 e verifiquemos se satisfaz a equação de π2 .
Fazendo x = 0 e y = 0 em π1 , temos z = 1. Assim, A = (0, 0, 1) ∈ π1 . Substituindo suas coordenadas na equação
de π2 ,
1
0 − 0 + − 9 = 0,
2
o que é uma contradição. Logo os planos são paralelos e não coincidentes.
(c) Esse exercício pode ser resolvido de modo análogo ao item anterior. Uma alternativa é notar que as equações de π1
e π2 são equivalentes (de fato, basta multiplicar a equação de π1 por 4 e obteremos π2 ). Desta forma os planos são
coincidentes.
2.4. PERPENDICULARIDADE E ORTOGONALIDADE 49
E XEMPLO 2.31: Em cada um dos itens abaixo verifique se as retas são ortogonais, e se são perpendiculares.
( (
x − y + 2z = 1 2x − y + z = 1
(a) r : e s: ;
x + y − 2z = 2 x−y = 0
r · #»
#» s = 0 · 1 + 4 · 1 + 2 · (−1) = 2 6= 0,
e portanto as retas r e s não são ortogonais. Consequentemente também não são perpendiculares.
r = (2, 1, −3) e #»
(b) Temos #» s = (−1, 2, 0). Assim
r · #»
#» s = 2 · (−1) + 1 · 2 + (−3) · 0 = 0,
e portanto as retas r e s são ortogonais. Para verificar a perpendicularidade, devemos analisar se são concorrentes.
#»
Tomemos A = (1, 1, 1) ∈ r e B = (0, 1, 0) ∈ s, e logo AB = (−1, 0, −1). Analisemos a dependência linear de
#»
r , #»
{AB, #» s } através do determinante
−1 0 −1
2 1 −3 = −11 6= 0.
−1 2 0
#»
r , #»
Isso implica que {AB, #» s } é LI, e portanto as retas r e s são reversas (não coplanares). Concluímos assim que r
e s são ortogonais, mas não são perpendiculares.
O BSERVAÇÃO 2.33: A perpendicularidade entre uma reta r e um plano π pode também ser analisada através de
vetores diretores #»
u e #»
v do plano. De fato, a definição acima é equivalente a
r ⊥ π ⇔ #»
r // #»
u ∧ #»
v,
isto é, { #»
r , #»
u ∧ #»
v } é LD.
(b) Temos #» r = (2, −1, −1) ∧ (2, 1, −1) = (2, 0, 4) um vetor diretor de r e #»
n = (1, 0, 2) um vetor normal de π. Como
#» #» #» #»
r // n (pois r = 2 n ), então r e π são perpendiculares.
#»
n 1 · #»
n 2 = 1 · 2 + (−2) · (−7) + (−1) · 16 = 0,
implicando que π1 ⊥ π2 .
2.5. MEDIDA ANGULAR 51
r
r
#»
r #»
r
θ s #»
s θ s
#»
s − #»
s
π
θ = ang(r, s) ∈ 0, π2 θ = ang(r, s) ∈ 2 ,π
O BSERVAÇÃO 2.38: É claro que, se r e s são paralelas então ang(r, s) = 0 e se r e s são ortogonais então ang(r, s) = π2 .
Em qualquer outro caso 0 < ang(r, s) < π2 . Notemos ainda que a definição permite considerar a medida angular de
retas reversas.
r , #»
Dadas duas retas r e s, sejam θ = ang(r, s) e φ = ang( #» s ) o ângulo entre dois vetores diretores dessas retas.
Desta forma
π
• se cos φ ≥ 0, então 0 ≤ φ ≤ 2 e portanto cos θ = cos φ ;
r · (− #»
#» s) r · #»
#» s
cos θ = #» = − = − cos φ .
k r k k − #»sk r k k #»
k #» sk
r · #»
| #» s|
cos θ = #» #»
krkksk
(
x−y−1 = 0
E XEMPLO 2.39: Calcule a medida angular θ entre as retas r : X = (1, 1, 9)+λ (0, 1, −1), λ ∈ R e s : .
z=4
52 CAPÍTULO 2. RETAS E PLANOS
r = (0, −1, 1) e #»
Resolução: Temos #» s = (1, −1, 0) ∧ (0, 0, 1) = (1, 1, 0) vetores diretores de r e s, respectivamente.
Assim,
|(0, −1, 1) · (1, 1, 0)| 1 π
cos θ = √ √ = ⇒ θ= .
2 2 2 3
E XEMPLO 2.40: O lado BC de um triângulo equilátero está contido na reta r : X = (0, 0, 0) + λ (0, 1, −1), λ ∈ R, e
seu vértice oposto é A = (1, 1, 0). Determine B e C.
Resolução: Queremos obter os pontos de r que determinam, com A, retas que formam ângulos de 60◦ com r. Seja
#»
P = (0, λ , −λ ) um ponto genérico de r. O vetor AP = (−1, λ − 1, −λ ) é um diretor da reta AP e #»
r = (0, 1, −1) é um
diretor de r. Como cos 60◦ = 21
#»
1 | #»
r · AP| |2λ − 1|
= #» # » = √ √ .
2 k r kkAPk 2 2λ 2 − 2λ + 2
Elevando ao quadrado e simplificando, chegamos a equação λ 2 − λ = 0, cujas raízes são 0 e 1. Substituindo na
expressão de P, obtemos (0, 0, 0) e (0, 1, −1) que são os vértices procurados.
s r
#»
n
#»
r
θ r0
P
π
O BSERVAÇÃO 2.42: Sejam θ = ang(r, π), P = r ∩ π ponto de interseção de r e π e s a reta que passa por P e é
perpendicular a π. Então existe uma reta r0 ⊂ π contida no plano π de modo que θ = ang(r, r0 ) (projeção ortogonal de
r sobre π). Note que, o ângulo θ = ang(r, r0 ) é menor dentre todos os ângulos que r forma com retas contidas no plano
π. Além disso, como 0 ≤ ang(r, s) ≤ π2 então 0 ≤ π2 − ang(r, s) ≤ π2 e, portanto, 0 ≤ ang(r, π) ≤ π2 .
Dada uma reta r e um plano π, sejam θ = ang(r, π), s uma reta perpendicular a π, φ = ang(r, s) e #»
n um vetor
#» π
normal de π. Como n é um vetor diretor de s e θ = 2 − φ , então sen θ = cos φ e, portanto, θ pode ser calculado
através da igualdade
| #»
n · #»
r|
sen θ = #» #» .
k n kk r k
E XEMPLO 2.43: Obtenha a medida angular entre a reta r : X = (0, 1, 0) + λ (−1, −1, 0), λ ∈ R e o plano π : y + z −
10 = 0.
2.5. MEDIDA ANGULAR 53
√ √
Resolução: Um vetor normal a π é #» r = (1, 1, 0). Assim, k #»
n = (0, 1, 1), e um vetor diretor de r é #» n k = 2, k #»
rk= 2
e | #»
n · #»
r | = 1 e, portanto,
| #»
n · #»
r| 1
sen θ = #» #» = ,
k n kk r k 2
isto é, θ = π6 .
E XEMPLO 2.44: Obtenha uma equação vetorial da reta r que contém o ponto P = (1, 1, 1), é paralela ao plano
π1 : x + 2y − z = 0 e forma ângulo de π3 com o plano π2 : x − y + 2z = 1.
#»
r · #»
n 1 = 0 ⇔ a + 2b − c = 0 ⇔ c = a + 2b.
√
Por outro lado, #»
n 2 = (1, −1, 2) é um vetor normal a π2 e sen π3 = 3
2 . Logo
√
3 | #»
n 2 · #»
r| |(1, −1, 2) · (a, b, c)|
= #» #» = √ √ .
2 k n 2 kk r k 6 a2 + b2 + c2
π2
r1
θ
θ
r2
π1
O BSERVAÇÃO 2.46: Notemos que o conceito está bem definido uma vez que não depende da escolha de r1 e r2 .
Além disso, 0 ≤ ang(π1 , π2 ) ≤ π2 .
Dados os planos π1 , com vetor normal #» n 1 e π2 , com vetor normal #»n 2 , sejam θ = ang(π1 , π2 ) e r1 e r2 retas
perpendiculares a π1 e π2 , respectivamente. Então n 1 é um vetor diretor de r1 e #»
#» n 2 é um vetor diretor de r2 e, portanto,
54 CAPÍTULO 2. RETAS E PLANOS
E XEMPLO 2.47: Sendo π1 : x − y + z = 20 e π2 : X = (1, 1, −2) + λ (0, −1, 1) + µ(1, −3, 2), λ , µ ∈ R, calcule
ang(π1 , π2 ).
Resolução: Os vetores #»
n 1 = (1, −1, 1) e #»
n 2 = (0, −1, 1)∧(1, −3, 2) = (1, 1, 1) são normais a π1 e π2 , respectivamente.
Desta forma,
|(1, −1, 1) · (1, 1, 1)| 1
cos θ = √ √ = .
3 3 3
Logo, θ é um ângulo agudo (0 ≤ θ ≤ π2 ) tal que θ = arccos 13 .
(
x − 2y + 2z = 0
E XEMPLO 2.48: Obtenha uma equação geral do plano π que contém a reta r : e forma com o
3x − 5y + 7z = 0
plano π1 : x + z = 0 um ângulo de π3 .
Resolução: Para escrever a equação do plano π, vamos precisar de um ponto. Notemos que P = (0, 0, 0) ∈ π (basta
fazer basta fazer z = 0 no sistema que define r). Devemos também encontrar um vetor #» n = (a, b, c) normal ao plano π.
Seja r = (1, −2, 2) ∧ (3, −5, 7) = (−4, −1, 1) diretor da reta r. Como r está contida em π então #»
#» r ⊥ #»
n e, portanto,
#»
n · #»
r = 0 ⇔ −4a − b + c = 0 ⇔ b = c − 4a.
• Se a = 0 então b = c e #»
n = (0, b, b) = b(0, 1, 1). Assim, #»
n = (0, 1, 1) pode ser um vetor normal ao plano π.
Usando o ponto P encontrado, obtemos a equação π : y + z = 0.
• Se c = 45 a então b = − 11 #» 11 5 a #»
4 a e n = (a, − 4 a, 4 a) = 4 (4, −11, 5). Assim, n = (4, −11, 5) pode ser um vetor
normal ao plano π. Usando o ponto P encontrado, obtemos a equação π : 4x − 11y + 5z = 0.
2.6. D ISTÂNCIAS
#»
Sejam A = (x1 , y1 , z1 ) e B = (x2 , y2 , z2 ). A distância d(A, B) entre A e B é kABk, isto é,
q
d(A, B) = (x2 − x1 )2 + (y2 − y1 )2 + (z2 − z1 )2 .
(
2y + z = 2,
E XEMPLO 2.49: Obtenha os pontos da reta r : que distam 3 do ponto A = (0, 2, 1)
x + y = 2,
Resolução: Vamos encontrar uma equação paramétrica para a reta r. Para isso podemos fazer y = λ nas equações,
x = 2−λ,
obtendo r : y = λ, Assim, um ponto da reta r é da forma B = (2 − λ , λ , 2 − 2λ ). Calculando d(A, B) = 3,
z = 2 − 2λ .
q
(2 − λ )2 + (λ − 2)2 + (2 − 2λ − 1)2 = 3 ⇔ 6λ 2 − 12λ = 0,
em que #»
r é um vetor diretor e A um ponto de r, ambos escolhidos arbitrariamente.
r
A M B
Demonstração. Fazendo x = 0 nas equações de π1 e π2 , obtemos o ponto A = (0, −1, −1), que pertence à reta
#» #»
r = π1 ∩ π2 . Fazendo x = 1, obtemos B = (1, 0, 1) ∈ r. Logo #»
r = AB = (1, 1, 2) é um vetor diretor de r e AP = (1, 2, 0).
56 CAPÍTULO 2. RETAS E PLANOS
Assim, √
k(1, 2, 0) ∧ (1, 1, 2)k k(4, −2, −1)k 14
d(P, r) = = √ = .
k(1, 1, 2)k 6 2
Dados um ponto P e um plano π, para calcular a distância d(P, π) de P a π, podemos encontrar a projeção
# »
ortogonal M de P em π e, assim, d(P, π) = kPMk. Vamos apresentar agora uma forma alternativa, sem que seja
#»
necessário conhecer o ponto M. Sejam A ∈ π e #»
n um vetor normal a π. Então d(P, π) = k proj #»
n APk, isto é,
#»
|AP · #»
n|
d(P, π) = #» .
knk
P #»
n
d(P, π)
M
π
A versão em coordenadas da fórmula é muito útil na resolução de exercícios. Suponhamos que P = (x0 , y0 , z0 ),
A = (x1 , y1 , z1 ) e π : ax + by + cz + d = 0. Então #»
n = (a, b, c) é normal a π e vale a relação ax1 + by1 + cz1 = −d (pois
A ∈ π). Portanto,
#»
AP · #»
n = a(x0 − x1 ) + b(y0 − y1 ) + c(z0 − z1 )
= ax0 + by0 + cz0 − (ax1 + by1 + cz1 )
= ax0 + by0 + cz0 + d
e podemos escrever
|ax0 + by0 + cz0 + d|
d(P, π) = √ .
a2 + b2 + c2
O BSERVAÇÃO 2.51: Notemos que, para obtermos o numerador, basta substituirmos as coordenadas de P no primeiro
membro da equação geral de π (não esquecer do módulo).
E XEMPLO 2.52: Determine os pontos da reta r : X = (0, 1, 1) + λ (1, 1, 2), λ ∈ R, que equidistam dos planos
π1 : x + 2y − z − 3 = 0 e π2 : x − y + 2z = 1.
2.6. DISTÂNCIAS 57
|λ + 2(1 + λ ) − (1 + 2λ ) − 3| |λ − (1 + λ ) + 2(1 + 2λ ) − 1|
d(P, π1 ) = d(P, π2 ) ⇔ p = p ⇔ |λ − 2| = |4λ |,
12 + 22 + (−1)2 12 + (−1)2 + 22
isto é, λ = − 32 ou λ = 25 . Logo, P = 2 7 9
ou P = − 23 , 13 , − 13 .
5, 5, 5
A distância d(r, s) entre as retas r e s pode ser calculada com o auxílio de uma reta t perpendicular a ambas: se t
intercepta r e s em P e Q, respectivamente, então d(r, s) = d(P, Q). Sempre existe a reta t: se r e s são paralelas, há
infinitas, e se r e s são concorrentes ou reversas, t é única. Vejamos agora como é possível calcular d(r, s) sem conhecer
t, P e Q. Vamos considerar separadamente três casos:
• r e s são reversas. Existe um único plano π que contém r e é paralelo a s; se B é um ponto qualquer de s, então
d(r, s) = d(B, π). Um vetor normal a π é #» r ∧ #»
n = #» s ; escolhendo um ponto A qualquer de r, obtemos
#» #»
|AB · #» r ∧ #»
n | |AB · #» s|
d(r, s) = d(B, π) = = ,
k #»
nk r ∧ #»
k #» sk
isto é,
#»
r , #»
|[ #» s , AB]|
d(r, s) =
r ∧ #»
(2.2)
k #» sk
B
s
d(r, s) r ∧ #»
#» s
d(r, s)
#» r
r #»
s
π A
#»
r ∧ #»
• r e s são paralelas. A fórmula (2.2) não pode ser aplicada, pois #» s = 0 . Para calcular d(r, s), escolhemos um
ponto qualquer de uma delas e calculamos a distância a outra. Isto é,
em que A ∈ r e B ∈ s.
58 CAPÍTULO 2. RETAS E PLANOS
B s
d(r, s) d(r, s)
A r
O BSERVAÇÃO 2.53: Notemos que a distância entre retas r e s depende da posição relativa das mesmas. No entanto,
nem sempre é preciso estudar a posição relativa para calcular a distância. Podemos primeiramente calcular #» r ∧ #»
s . Se
#»
o resultado for 0 , percebemos que as retas são paralelas e então calculamos a distância de um ponto qualquer de uma
#»
r ∧ #»
delas à outra. Se #» s 6= 0 , com certeza não são paralelas, e então basta aplicar a fórmula (2.2).
(
3x − 2z − 3 = 0
E XEMPLO 2.54: Calcule a distãncia entre r : X = (−1, 2, 0) + λ (1, 3, 1), λ ∈ R e s : .
y−z−2 = 0
|12| 12
d(r, s) = =√ .
k(6, −1, −3)k 46
Para calcular a distância entre uma reta r e um plano π não precisamos de uma fórmula específica: escolhemos
um vetor diretor #»
r da reta, um vetor normal #»
n do plano, calculamos #»
r · #»
n , e:
• se #»
r · #»
n 6= 0, então r é transversal a π e, portanto, r ∩ π 6= 0.
/ Neste caso, d(r, π) = 0;
• se #»
r · #»
n = 0, então r está contida em π, e neste caso d(r, π) = 0, ou r é paralela a π e d(r, π) = d(A, π), onde
A ∈ r (é a distância de um ponto da reta ao plano). Observemos que A pode ser um ponto qualquer da reta r, uma
vez que todos os pontos de r possuem a mesma distância até o plano π. Mas, o contrário não é verdadeiro: o
pontos de π não estão todos a mesma distância de r. Não serve, portanto, escolher um ponto de π e calcular a
distância a r.
A
r
d(r, s)
Resolução: Temos #»
r · #»
n = (1, 1, 1)·(2, 1, −3) = 0 e, portanto, r é paralela ou está contida em π. Seja A = (0, 1, −3) ∈ r.
Então
|2 · 0 + 1 · 1 − 3 · (−3) − 10|
d(r, π) = d(A, π) = = 0,
k(2, 1, −3)k
e, portanto, r ⊂ π.
Nesta seção, como na anterior, não precisamos de uma fórmula específica: para calcular a distância d(π1 , π2 )
entre os planos π1 e π2 , analisamos inicialmente a dependência linear de seus vetores normais #»
n 1 e #»
n 2.
• Se { #»
n 1 , #»
n 2 } é LI, então π1 e π2 são transversais e sua interseção é não vazia. Logo d(π1 , π2 ) = 0.
• Se { #»
n 1 , #»
n 2 } é LD, então π1 e π2 são paralelos e d(π1 , π2 ) é a distância de um ponto qualquer de um deles ao
outro. No caso dos planos serem coincidentes, esse cálculo resultará em distância igual a zero.
π2
d(π1 , π2 )
d(π1 , π2 )
π1 A
(a) π1 : 2x − y + 2z + 9 = 0 e π2 : 4x − 2y + 4z − 21 = 0.
(b) π1 : x + y + z + 5 = 0 e π2 : 3x + 3y + 3z + 15 = 0.
|4 · 0 − 2 · 9 + 4 · 0 − 21| 3
d(π1 , π2 ) = d(A, π2 ) = =√ .
k(4, −2, 4)k 40
(b) Temos #»
n 1 = (1, 1, 1) e #»
n 2 = (3, 3, 3) vetores normais de π1 e π2 , respectivamente. Como { #»
n 1 , #»
n 2 } é LD, tomemos
A = (0, 0, −5) ∈ π1 (basta fazer x = y = 0 na equação de π1 ) e, portanto,
|3 · 0 + 3 · 0 + 3 · (−5) + 15|
d(π1 , π2 ) = d(A, π2 ) = = 0.
k(3, 3, 3)k
60 CAPÍTULO 2. RETAS E PLANOS
C APÍTULO 3
C ÔNICAS
Neste capítulo apresentamos as cônicas, curvas planas descritas por uma equação de segundo grau em duas
variáveis em relação a um sistema ortogonal de coordenadas em duas dimensões. Para isto vamos restringir o nosso
universo ao conjunto dos pontos de um plano π fixado; estaremos assim, estudando um tópico de Geometria Analítica
Plana. A definição de sistema de coordenadas para o espaço (ver Seção 1.8) pode ser adaptada para duas dimensões. A
diferença é que as bases terão apenas dois vetores L.I (ambos paralelos ao plano π) ao invés de três vetores, e portanto
os pontos de π são representados por apenas duas coordenadas. Manteremos a notação Σ = (O, E) para representar um
sistema de coordenadas num plano π, em que E é uma base formada por dois vetores. Assim um ponto P ∈ π pode ser
representado em coordenadas P = (x, y) ou P = (x, y)Σ .
Começamos na Seção 3.1 definindo uma cônica e apresentando exemplos destas curvas. Na Seção 3.2 estudamos
as cônicas elipse, hipérbole e parábola. Na Seção 3.3 apresentamos a translação e rotação do sistema de coordenadas.
Por fim, na Seção 3.4 apresentamos um método para identificar uma cônica.
D EFINIÇÃO 3.1: Dado num plano π um sistema ortogonal de coordenadas, chamamos de cônica o lugar geométrico
dos pontos P = (x, y) ∈ π que satisfazem a equação
com A2 + B2 + C2 6= 0 (isso significa que A, B e C não podem ser simultaneamente nulos). Os termos Ax2 , Bxy
e Cy2 são os termos quadráticos, e para distinguir Bxy dos outros dois referimo-nos a ele como termo misto.
Ainda, Dx e Ey são os termos lineares e F é o termo independente. A expressão (3.1) é chamada equação
geral da cônica. Para simplificação de escrita, denotamos o primeiro membro dessa igualdade por g(x, y), ou seja,
g(x, y) = Ax2 + Bxy +Cy2 + Dx + Ey + F.
• Conjunto vazio: a equação x2 + y2 + 1 = 0 representa o conjunto vazio. De fato, esta equação não admite
61
62 CAPÍTULO 3. CÔNICAS
• Um ponto: a equação x2 + y2 − 2x + 1 = 0 representa o ponto (1, 0). De fato, esta equação pode ser reescrita
como (x − 1)2 + y2 = 0 que só admite como solução o par (x, y) = (1, 0).
• Uma reta: a equação x2 + 2xy + y2 = 0 representa uma reta. De fato, esta equação é equivalente a (x + y)2 = 0,
que descreve a reta r : x + y = 0.
• Par de retas paralelas: a equação x2 + 2xy + y2 + x + y = 0 representa um par de retas paralelas. De fato, esta
equação pode ser escrita como (x +y)(x +y+1) = 0, que descreve a união das retas r : x +y = 0 e s : x +y+1 = 0.
• Par de retas concorrentes: a equação x2 − y2 = 0 representa um par de retas concorrentes. De fato, esta equação
é equivalente a (x + y)(x − y) = 0, que descreve a união das retas r : x + y = 0 e s : x − y = 0.
• Elipse: a equação x2 + 2y2 − 1 = 0 representa uma elipse (será estudado na Seção 3.2).
É possível demonstrar que os nove exemplos acima apresentados representam todos os tipos de cônicas. Isso
significa que dada uma equação da forma (3.1), sua solução será, obrigatoriamente, uma curva de algum dos tipos
acima. O principal objetivo desse capítulo é resolver o problema de identificar uma cônica. Por exemplo, qual dos
nove tipos de cônicas a equação 4x2 − 4xy + 7y2 + 12x + 6y − 9 = 0 representa? A resposta para essa pergunta será
apresentada na Seção 3.4.
Nesta seção apresentamos as definições e respectivas equações reduzidas de Elipse, Hipérbole e Parábola.
E LIPSE
D EFINIÇÃO 3.2 (E LIPSE ): Consideremos num plano π dois pontos F1 e F2 , distantes 2c > 0 entre si. Seja a > c.
Chamamos de elipse o conjunto dos pontos P ∈ π, tais que
O BSERVAÇÃO 3.3: Em outras palavras, a elipse é o conjunto de pontos no qual a soma das distâncias até cada um
dos focos é igual a um valor constante que denotamos por 2a.
Para deduzir uma equação da elipse, vamos escolher um sistema ortogonal de coordenadas tal que F1 = (−c, 0)
e F2 = (c, 0), como na figura 3.1.
3.2. ELIPSE, HIPÉRBOLE E PARÁBOLA 63
y
P
x
F1 O F2
Assim, um ponto P = (x, y) pertence a elipse se, e somente se, satisfaz a equação (3.2). Substituindo a fórmula
da distância q q
(x + c)2 + y2 + (x − c)2 + y2 = 2a.
e simplificando, obtemos q
a (x − c)2 + y2 = a2 − cx.
desenvolvendo
a2 x 2 − 2
cx + a2 c2 + a2 y2 = a4 − 2
cx + c2 x2
2a 2a
Portanto, se P = (x, y) pertence a elipse, então (x, y) satisfaz a equação (3.3). Reciprocamente, se um ponto
P = (x, y) satisfaz a equação (3.3), então P é um ponto da elipse. Por essa razão a equação acima é chamada equação
reduzida da elipse.
O BSERVAÇÃO 3.4: Notemos que a escolha que fizemos do sistema de coordenadas foi essencial para obtermos a
equação reduzida no formato acima. Não fosse assim, a equação obtida poderia não ser tão compacta e de aspecto tão
peculiar. Por isso, é importante associar a forma da equação reduzida ao sistema de coordenadas adotado.
A fim de ter uma noção gráfica da elipse, façamos três observações a respeito da equação (3.3).
• Se (x, y) é solução de (3.3), então (−x, −y), (−x, y) e (x, −y) também são (verifique!). Assim, se (x, y) pertence
a elipse, os seus simétricos em relação a origem O, e aos eixos Ox e Oy também pertencem;
2 2
• Para qualquer ponto (x, y) pertencente a elipse, temos por (3.3) que ax2 ≤ 1 e by2 ≤ 1, implicando que −a ≤ x ≤ a
e −b ≤ y ≤ b (verifique). Isso significa que o gráfico da elipse está contido dentro do retângulo [−a, a] × [−b, b].
Considerando no primeiro quadrante, isto é, x ≥ 0 e y ≥ 0, temos que o gráfico da elipse é idêntico ao da função
b
√
y= a a2 − x2 (trata-se de uma função decrescente no intervalo x ∈ [0, a]). Por simetria é possível obter o gráfico da
2 2
elipse nos outros quadrantes. Na figura 3.2 apresentamos o esboço do gráfico da elipse de equação reduzida ax2 + by2 = 1.
Destacamos o triângulo OB2 F2 para lembrar e evidenciar a importante relação
0<b<a e a2 = b2 + c2 . (3.4)
y
B2
b a
A1 A2
x
F1 O c F2
B1
2
x2
Figura 3.2: Gráfico da elipse de equação a2
+ by2 = 1
3.2. ELIPSE, HIPÉRBOLE E PARÁBOLA 65
y
A2
F2
c a
B1 B2
x
O b
F1
A1
2
x2
Figura 3.3: Gráfico da elipse de equação b2
+ ay2 = 1
O BSERVAÇÃO 3.5: Sempre o maior dos denominadores na equação reduzida da elipse representa o número a2 , onde
2 y2
a é a metade da medida do eixo maior. Por exemplo a elipse de equação reduzida x5 + 13 = 1 tem eixo maior sobre o
2 2
eixo Oy e a = 13. Consequentemente, b = 5.
D EFINIÇÃO 3.6 (E LEMENTOS DA ELIPSE ): Cada um dos pontos F1 e F2 é chamado foco da elipse, o segmento
F1 F2 é chamado segmento focal, seu ponto médio, denotado por C, é dito centro da elipse, e 2c, é a distância focal.
Os pontos A1 , A2 , B1 e B2 são chamados vértices da elipse, e os segmentos A1 A2 (de medida 2a) e B1 B2 (de medida
2b) são ditos eixo maior e eixo menor da elipse, respectivamente.
O BSERVAÇÃO 3.8: Claramente 0 < e < 1, uma vez que 0 < c < a. Quanto mais perto e for do número zero, mais o
gráfico da elipse se aproximará de uma circunferência. Em verdade, podemos dizer (sem muito rigor matemático) que
a circunferência é uma elipse de excentricidade nula.
66 CAPÍTULO 3. CÔNICAS
E XEMPLO 3.9: Escreva a equação reduzida e esboce o gráfico da elipse com focos F1 = (−4, 0), F2 = (4, 0) e eixo
maior medindo 12.
Resolução: Como F1 = (−4, 0), F2 = (4, 0) então c = 4 e como a medida do eixo maior é 12 então a = 6. Da relação
a2 = b2 + c2 obtemos b2 = 20. Portanto, a equação reduzida da elipse é dada por
x 2 y2
+ = 1.
36 20
y
B2
A1 A2
x
F1 O F2
B1
O BSERVAÇÃO 3.10: Nas elipses estudadas até o momento, a origem do sistema de coordenadas coincide com o
centro da elipse, isto é, C = O. Trabalharemos em seções mais adiante, com elipses (e cônicas em geral) cujo centro é
um ponto diferente da origem do sistema de coordenadas.
H IPÉRBOLE
D EFINIÇÃO 3.11: Consideremos num plano π dois pontos F1 e F2 , distantes 2c > 0 entre si. Seja 0 < a < c.
Chamamos de hipérbole o conjunto dos pontos P ∈ π, tais que
O BSERVAÇÃO 3.12: Em outras palavras, a hipérbole é o conjunto de pontos no qual o módulo da diferença das
distâncias até cada um dos focos é igual a um valor constante que denotamos por 2a.
Para deduzir uma equação reduzida para a hipérbole, escolhemos um adequado sistema de coordenadas ortogonal,
como feito para a elipse (ver figura 3.1), tal que F1 = (−c, 0) e F2 = (c, 0). Assim, um ponto P = (x, y) pertence a
3.2. ELIPSE, HIPÉRBOLE E PARÁBOLA 67
hipérbole se, e somente se, satisfaz a equação (3.6). Substituindo a fórmula de distância, obtemos
q q
(x + c)2 + y2 − (x − c)2 + y2 = 2a.
É possível simplificar essa expressão a fim de obter uma equação mais compacta. Deixaremos esses cálculos como
exercício para o leitor (será preciso elevar a expressão ao quadrado duas vezes, como feito para a elipse). O resultado
final é
x2 y2
− = 1, (3.7)
a2 b2
onde
0<b<c e c2 = a2 + b2 . (3.8)
Portanto, se P = (x, y) pertence a hipérbole, então (x, y) satisfaz a equação (3.7). Reciprocamente, se um ponto
P = (x, y) satisfaz a equação (3.7), então P é um ponto da hipérbole. Por essa razão a equação acima é chamada
equação reduzida da hipérbole.
A fim de ter uma noção gráfica da hipérbole, façamos três observações a respeito da equação (3.3).
• Notemos primeiramente que fazendo y = 0, obtemos como solução x = −a ou x = a. Por outro lado, fazendo
x = 0 a equação (3.7) não tem solução. Concluímos que a hipérbole intercepta o eixo Ox nos pontos A1 =
(−a, 0), A2 = (a, 0) e não intercepta o eixo Oy;
• Se (x, y) é solução de (3.7), então (−x, −y), (−x, y) e (x, −y) também são (verifique!). Assim, se (x, y) pertence
a hipérbole, então os seus simétricos em relação a origem O, e aos eixos Ox e Oy, também pertencem;
• Nenhum ponto (x, y) da hipérbole pertence a faixa vertical caracterizada por −a < x < a, pois de (3.7) segue que
x2 ≥ a2 e, portanto, x < −a ou x > a;
• O retângulo [−a, a] × [−b, b] que chamamos de retângulo fundamental da hipérbole, tem diagonais contidas
nas retas
b b
r1 : y = − x e r2 : y = x
a a
que são chamadas assíntotas da hipérbole. Na prática essas retas são muito úteis para esboçar o gráfico da
hipérbole (dica: inicie o esboço pelas assíntotas, sempre que possível).
B2
b c
x
F1 A1 O a A2 F2
B1
2
x2
Figura 3.4: Gráfico da hipérbole de equação a2
− by2 = 1
F2
A2
a c
x
B1 O b B2
A1
F1
2 2
Figura 3.5: Gráfico da hipérbole de equação − bx2 + ay2 = 1
D EFINIÇÃO 3.13 (E LEMENTOS DA HIPÉRBOLE ): Cada um dos pontos F1 e F2 é chamado foco da hipérbole, o
3.2. ELIPSE, HIPÉRBOLE E PARÁBOLA 69
segmento F1 F2 é chamado segmento focal, seu ponto médio, denotado por C, é dito centro da hipérbole, e 2c, é a
distância focal. Os pontos A1 e A2 são chamados vértices da hipérbole, e os segmentos A1 A2 (de medida 2a) e B1 B2
(de medida 2b) são ditos eixo transverso e eixo conjugado da hipérbole, respectivamente. As retas r1 e r2 são as
assíntotas da hipérbole.
O BSERVAÇÃO 3.14: O termo com sinal positivo na equação reduzida da hipérbole, indica qual é o eixo transverso
(eixo coordenado tem intersecção com a hipérbole), e seu denominador representa o número a2 , onde a é a metade da
2 2
medida do eixo transverso. Por exemplo, a hipérbole de equação reduzida y5 − x9 = 1, tem seu eixo transverso sobre o
eixo Oy (logo a hipérbole intersecta o eixo Oy) e a2 = 5. Consequentemente b2 = 9.
√ √
E XEMPLO 3.15: Encontre a equação reduzida da hipérbole e suas assíntotas, sendo F1 = (− 13, 0), F2 = ( 13, 0)
e eixo transverso medindo 6.
√ √ √
Resolução: Como F1 = (− 13, 0), F2 = ( 13, 0) então c = 13 e como o eixo transverso mede 6 então a = 3. Da
relação, c2 = a2 + b2 obtemos b2 = 4. Portanto, a equação reduzida da hipérbole é dada por
x 2 y2
− = 1.
9 4
B2
x
F1 A1 O A2 F2
B1
Para determinar a assíntota r1 , basta ver que esta reta que passa pela origem (0, 0) e pelo ponto (3, −2), isto é,
r1 : y = − 23 x. Analogamente, obtemos r2 : y = 23 x.
O BSERVAÇÃO 3.16: Assim como no fizemos para elipse, estudamos até o momento hipérboles cujo centro é a
origem do sistema de coordenadas e focos sobre os eixos coordenados. Trabalharemos em seções mais adiante, com
hipérboles (e cônicas em geral) cujo centro é um ponto diferente da origem do sistema de coordenadas.
PARÁBOLA
D EFINIÇÃO 3.17: Consideremos num plano π um ponto F e uma reta r, com F ∈
/ r, fixados. Chamamos de
parábola o conjunto dos pontos de P ∈ π equidistantes de F e r, isso é,
A distância entre F e r será denotada por 2p, onde p é um número positivo chamado parâmetro da parábola, ou seja,
d(F, r) = 2p.
Para encontrar uma equação reduzida para a parábola, consideremos um sistema ortogonal de coordenadas
em que F = (p, 0) e r : x = −p. Então P = (x, y) pertence a parábola se, e somente se, satisfaz a equação (3.10).
Substituindo na fórmula de distância e simplificando a expressão, chegamos a (faça as contas!)
y2 = 4px. (3.11)
• Se (x, y) satisfaz a equação (3.11), então x ≥ 0. Assim, nenhum ponto da parábola tem abscissa negativa;
• O único ponto de intersecção da parábola com os eixos coordenados é a origem. De fato, de (3.11) x = 0 ⇔ y = 0;
• A parábola é simétrica em relação ao eixo Ox, pois se (x, y) satisfaz (3.11), então (x, −y) também satisfaz
(cuidado: observe que aqui não há simetria em relação ao eixo Oy).
Isolando x no primeiro membro de (3.11), obtemos uma função quadrática em y e, desta forma, o gráfico da parábola
fica como esboçado na figura 3.6.
y
r
p p
x
O F
Observemos que a equação e gráfico obtidos acima dependem fortemente do sistema de coordenadas introduzido.
Podemos, de modo análogo, obter outras três equações reduzidas, se mudarmos a forma de introduzir o sistema de
coordenadas. Estas equações e seus respectivos gráficos são apresentados na figura 3.7.
3.3. TRANSLAÇÃO E ROTAÇÃO 71
y y y
r
r
F
p p
p p
x x x
F O O O
p p
r
F
D EFINIÇÃO 3.18 (E LEMENTOS DA PARÁBOLA ): O ponto F é chamado foco da parábola e a reta r é a diretriz.
O número positivo p, tal que d(F, r) = 2p é chamado de parâmetro da parábola. A reta que contém o foco e
é perpendicular a diretriz chama-se eixo ou eixo de simetria da parábola. O ponto médio entre F e o ponto de
intersecção da diretriz com o eixo, é o vértice da parábola, que denotamos por V .
• Pode-se demonstrar que a parábola é simétrica em relação ao seu eixo. Por exemplo, na parábola da figura 3.6, o
eixo é o próprio eixo Ox (cuja simetria já comentamos anteriormente para esboçar o gráfico);
• As parábolas vistas até aqui, associadas as equações reduzidas y2 = ±4px ou x2 = ±4py, possuem o vértice
coincidindo com a origem do sistema de coordenadas (isto é V = O) e eixo de simetria sendo um dos eixos
coordenados. Casos mais gerais de parábolas serão abordados nas próximas seções.
• Na literatura também encontramos algumas referências que definem o parâmetro p como a distância do foco a
diretriz.
E XEMPLO 3.19: Obtenha uma equação reduzida da parábola de vértice (0, 0), parâmetro igual a 2 e foco no
semi-eixo positivo das abscissas.
Resolução: Como a equação reduzida desta parábola é na forma y2 = 4px (é uma parábola com a concavidade a direita,
como na figura 3.6) e sendo p = 2, então a equação reduzida é dada por y2 = 8x.
Nessa seção veremos como a translação e a rotação do sistema de coordenada são utilizadas para simplificar
uma equação de cônica dada da forma (3.1).
Consideremos num plano um sistema ortogonal de coordenadas xOy e um ponto O0 = (h, k). Vamos introduzir
um novo sistema ortogonal de coordenadas x0 O0 y0 , tal que os eixos O0 x0 e O0 y0 tenham a mesma direção e sentido dos
eixos Ox e Oy, respectivamente. A representação geométrica está na figura 3.8. Assim, todo ponto P ∈ π tem duas
representações:
P = (x, y), no sistema xOy (em azul);
(3.12)
P = (x0 , y0 ), no sistema x0 O0 y0 (em vermelho)
y P
y0
k
O0 x0
O h x
As equações
x = x0 + h x0 = x − h
ou (3.13)
y = y0 + k y0 = y − k
As fórmulas obtidas acima nos permitirão determinar equações que descrevam, por exemplo, elipses, hipérboles
e parábolas sob condições um pouco mais gerais que na seção anterior. Vejamos abaixo um exemplo de uma elipse
cujo o centro não coincide com a origem do sistema de coordenadas.
E XEMPLO 3.20: Encontre uma equação que descreva a elipse cujo eixo maior é paralelo ao eixo Oy, com centro
C = (4, −2), excentricidade e = 12 e eixo menor medindo 6.
Resolução: Consideremos um novo sistema ortogonal de coordenadas x0 O0 y0 (como o sistema vermelho da figura 3.8)
em que O0 = C, isto é, h = 4 e k = −2. Nesse novo sistema, sabemos que a elipse possui equação reduzida da forma
(x0 )2 0 2
b2
+ (ya2) = 1, pois seu eixo maior está sobre o novo eixo coordenado O0 y0 . Sendo a medida do eixo menor igual a 6,
temos 2b = 6 e logo b = 3. Além disso, e = 21 ⇒ c = a2 . Assim
a2
a2 = b2 + c2 ⇒ a2 = 9 + ⇒ a2 = 12.
4
(x0 )2 0 2
Portanto temos a equação reduzida da elipse em x0 O0 y0 , dada por 9 + (y12) = 1. Agora, basta utilizarmos (3.13) para
3.3. TRANSLAÇÃO E ROTAÇÃO 73
(x − 4)2 (y + 2)2
+ = 1. (3.14)
9 12
Observemos que a resolução do exercício acima consiste em encontrar uma equação reduzida num novo sistema
de coordenadas adequado e depois transcrever essa equação no sistema dado inicialmente. O mesmo método pode
ser aplicado para hipérboles ou parábolas. Dessa forma, podemos determinar equações de elipses e hipérboles cujo
centro não está na origem do sistema de coordenadas. Para isso, basta substituir na equação reduzida os termos x e y
por x − h e y − k, respectivamente, onde (h, k) são as coordenadas do centro. Notemos que isso só é válido nas elipses e
hipérboles cujo os eixos sejam paralelos aos eixos coordenados Ox e Oy. Analogamente, vale o mesmo para parábolas
com vértice V = (h, k) e diretriz paralela a um dos eixos coordenados.
Uma equação de cônica na forma reduzida, mas que no lugar das variáveis x e y aparecem os termos x − h
e y − k, como (3.14) obtida no exemplo anterior, é chamada equação padrão da cônica. A partir disso, é possível
obter a expressão na forma geral (ver definição 3.1). De fato, se eliminarmos os denominadores e desenvolvermos os
quadrados, obtemos
4(x − 4)2 + 3(y + 2)2
= 1,
36
4(x2 − 8x + 16) + 3(y2 + 4y + 4) = 36,
Agora vejamos como a translação nos auxilia na simplificação da expressão Ax2 + Bxy +Cy2 + Dx + Ey + F = 0.
O objetivo é partir da equação geral de uma cônica para tentar obter uma equação na forma padrão num novo sistema de
coordenadas. Em verdade, com a translação obteremos um método para tentar eliminar os termos lineares da expressão.
74 CAPÍTULO 3. CÔNICAS
O método consiste em descobrir o ponto O0 = (h, k) do plano para o qual devemos transladar o sistema xOy, obtendo
um sistema x0 O0 y0 , tal que a equação geral nesse novo sistema fique da forma
Desenvolvendo, segue
A(x0 )2 + Bx0 y0 +C(y0 )2 + (Bk + 2Ah + D)x0 + (2Ck + Bh + E)y0 + Ah2 + Bhk +Ck2 + Dh + Ek + F = 0.
| {z }
g(h,k)
O BSERVAÇÃO 3.21: Observemos que a possibilidade de eliminar os termos lineares depende da solubilidade do
sistema linear acima. Caso esse sistema não possua raízes reais, significa que não existe nenhuma translação tal que a
equação da cônica será expressa sem os termos lineares. Essa situação ocorre, por exemplo, quando a cônica envolvida
é uma parábola cuja a presença de termos lineares é obrigatório em sua equação reduzida (ou padrão).
O BSERVAÇÃO 3.22: Notemos ainda que a parte quadrática da equação não se altera por translação.
E XEMPLO 3.23: Transforme a equação g(x, y) = 9x2 − 4y2 − 18x − 16y − 8 = 0 numa equação sem termos lineares.
Resolução: Devemos encontrar uma adequada translação, ou seja, determinar o ponto O0 = (h, k) para o qual
devemos transladar o sistema de coordenadas. Como vimos, (h, k), se existir, é solução do sistema
18h − 18 = 0,
−8k − 16 = 0.
Portanto temos h = 1 e k = −2. Além disso, g(1, −2) = 9(1)2 − 4(−2)2 − 18(1) − 16(−2) − 8 = −1. Substituindo
em (3.16), temos
9(x0 )2 − 4(y0 )2 − 1 = 0.
(x0 )2 0 2
O BSERVAÇÃO 3.24: A equação resultante do exercício anterior pode ser reescrita como 1 − (y1) = 1 que, em
9 4
x0 O0 y0 , é a equação reduzida uma hipérbole com eixo transverso sobre o eixo O0 x0 . Concluímos então que a equação
geral original 9x2 − 4y2 − 18x − 16y − 8 = 0 representa uma hipérbole de centro (1, −2) e eixo transverso paralelo ao
eixo Ox.
3.3. TRANSLAÇÃO E ROTAÇÃO 75
Uma maneira alternativa de eliminar os termos lineares de uma equação geral de cônica, sem precisar resolver o
sistema (3.15) é utilizar a técnica de completar quadrados.
E XEMPLO 3.25: Vamos completar quadrados na expressão 9x2 − 4y2 − 18x − 16y − 8 = 0 do exercício que fizemos
anteriormente. Primeiramente reordenamos a expressão separando os termos com variáveis x e variáveis y, e isolamos
o termo independente
9x2 − 18x − 4y2 − 16y = 8.
9 x2 − 2x + (−4) y2 + 4y = 8.
Em seguida, transformamos cada um dos parênteses em quadrados perfeitos. Para isso, será necessário somar dentro de
cada um deles um número que corresponda a relação (a2 ± 2ab + b2 ). Nesse exemplo, precisamos somar 1 no primeiro
parênteses e 4 no segundo.
9 x2 − 2x + 1 + (−4) y2 + 4y + 4 = 8 + 9 − 16.
Como somamos 1 dentro do primeiro parênteses que está multiplicado por 9, o efeito causado no primeiro membro é
somar 9. Analogamente para o segundo, o efeito no primeiro membro foi somar −16. Para não desbalancear a equação,
é preciso somar esses mesmos termos lá no segundo membro. Em seguida, transformamos cada um dos parênteses
num quadrado perfeito
9 (x − 1)2 + (−4) (y + 2)2 = 1.
76 CAPÍTULO 3. CÔNICAS
que é a mesma obtida no exemplo resolvido onde as novas coordenadas são x0 = x − 1 e y0 = y + 2, e a translação que
elimina os termos lineares é para o ponto O0 = (1, −2).
v
P
θ
x
O
Notemos que, pelas relações trigonométricas de seno e cosseno (veja Figura 3.10), podemos escrever os vetores
#»
u e v em termos dos vetores #»
#» x e #»
y como
#»
u = cos θ #»
x + sen θ #»
y,
#»
v = −sen θ #»
x + cos θ #»
y.
3.3. TRANSLAÇÃO E ROTAÇÃO 77
#»
y #»
y
v
cos θ #»
y
u
sen θ #»
θ
y
θ
#»
x − #»
x
O cos θ #»
x −sen θ #»
x O
#»
u = cos θ #»
x + sen θ #»
y. #»
v = −sen θ #»
x + cos θ #»
y
E XEMPLO 3.26: Sejam P = (1, 2) e r : x − 2y − 1 = 0 a equação de uma reta no plano. Obtenha as coordenadas de
P e uma equação da reta r no sistema de coordenadas obtido através de uma rotação de π6 radianos.
Resolução: Temos
u = x cos θ + ysen θ ,
v = −xsen θ + y cos θ ,
substituindo θ = π6 , temos √
u = x 3 +y1,
2 2
√
v = −x 1 + y 3
2 2 .
√
3
√
Assim P = (1, 2) em xOy terá coordenadas u = 2 + 1 e v = − 12 + 3 em uOv.
e substituindo θ = π6 , segue √
x = u 3 −v1,
2 2
√
y = u1 +v 3
2 2 .
√ !
3 √
r: − 1 u − 1 + 3 v − 1 = 0,
2
78 CAPÍTULO 3. CÔNICAS
e, uOv.
A rotação do sistema de coordenadas nos permitirá eliminar o termo misto Bxy da equação geral de uma cônica.
O método consiste em descobrir um ângulo de rotação, tal que a equação (3.1) se transforme numa equação da forma
Au2 +Cv2 + Du + Ev + F = 0.
Substituindo as fórmulas de rotação em (3.1), e manipulando de modo a obter uma expressão no formato acima (para
isso devemos isolar os termos u2 , uv, v2 , u, v e termo independente), chegamos a
A = A cos2 θ + B2 sen (2θ ) +Csen 2 θ ,
B = (C − A)sen (2θ ) + B cos(2θ ),
C = Asen 2 θ − B sen (2θ ) +C cos2 θ ,
2
(3.18)
D = D cos θ + Esen θ ,
E = E cos θ − Dsen θ ,
F = F (Obs: a rotação não afeta o termo independente).
• se a equação original não apresenta termos lineares (isto é, D = E = 0), o mesmo sucede com a nova equação
(D = E = 0);
• as expressões de D e E são semelhantes as equações obtidas em (3.17) (troque x por D, y por E, u por D e v por
E), o que facilita a sua memorização.
Caso 1: se
√
A = C, então podemos
√
tomar θ = π4 . Neste caso, por temos A = 21 (A + B + C), C = 21 (A − B + C), D =
2 2
2 (D + E) e E = 2 (E − D).
3π
O BSERVAÇÃO 3.27: Outra solução seria tomar θ = 4 , e nesse caso devemos substituir em (3.18) para obter
os novos coeficientes.
2
equação de segundo grau na variável λ dada por λ 2 − (A +C)λ + AC − B4 = 0. Essa equação pode ser escrita
na forma (mais fácil para memorizar)
B
A−λ 2
B
=0 (3.20)
2 C − λ
Resolvida a equação de segundo grau em λ , a tomada de decisão sobre qual das duas raízes é A e qual é C
depende da escolha de θ , observando a relação (que pode ser demonstrada a partir de (3.18) subtraindo a terceira
da primeira igualdade)
A −C
cos(2θ ) = (3.21)
A −C
E XEMPLO 3.28: Faça a devida mudança de coordenadas transformando a equação 4x2 − 24xy + 11y2 + 20 = 0,
numa equação sem o termo misto, e exprima o ângulo de rotação.
Resolução: Vamos eliminar o termo misto através de uma rotação de um ângulo θ tal que
B 24 24
tg(2θ ) = =− = .
A −C 4 − 11 7
de onde segue λ 2 − 15λ − 100 = 0. As raízes são λ = 20 e λ = −5. Como vimos a decisão de qual deles é A e qual é
C depende da relação
A −C 4 − 11 7
cos(2θ ) = ⇔ cos(2θ ) = =− .
A −C A −C A −C
Uma vez que fixamos 2θ no primeiro quadrante, temos que cos(2θ ) > 0, e desta forma devemos ter A −C < 0. Logo
A = −5 e C = 20.
Na equação inicial temos D = E = 0, logo não precisamos calcular os novos termos lineares, pois ambos serão
nulos. Logo a nova equação será
−5u2 + 20v2 + 20 = 0,
θ
x
2
O BSERVAÇÃO 3.29: Notemos que −5u2 + 20v2 + 20 = 0 é equivalente a u4 − v2 = 1 que é uma hipérbole com eixo
transverso sobre o eixo Ou. Portanto, no sistema xOy a equação original 4x2 − 24xy + 11y2 + 20 = 0 representa uma
hipérbole com centro na origem, no formato de eixo transverso sobre Ox, mas rotacionada de ângulo θ ∈ 0, π4 no
sentido anti-horário (exercício: faça o esboço).
Como se vê, sempre é possível, por meio de uma rotação conveniente, obter uma nova equação da cônica que
não contenha o termo quadrático misto (diferente do que ocorre com translação, pois lá o sistema envolvido pode ser
B
incompatível e não ter solução). Isso se dá pois a equação tg(2θ ) = A−C sempre terá ao menos duas soluções. A escolha
de qual ângulo de rotação utilizar será importante para determinar A e C, pois impactará na equação cos(2θ ) = A−CA−C
(ver exemplo acima).
Considere a seguinte equação 4x2 − 4xy + 7y2 + 12x + 6y − 9 = 0. Sabemos por definição que se trata de uma
equação geral de cônica. A pergunta é, qual é essa cônica? Para responder esta pergunta, vamos nessa seção apresentar
um método que transforma a equação geral (3.1) de uma cônica, numa nova equação mais simples sem o termo misto e
termos lineares (se for possível). Para isso utilizaremos como ferramentas a translação e rotação estudadas nas seções
anteriores. Encontrando essa equação mais simples, é esperado que consigamos identificar a cônica. Abaixo temos um
roteiro de como devemos proceder.
O BSERVAÇÃO 3.30: Os passos i) e ii) podem ser feitos em ordem invertidas que o resultado final será o mesmo. A
vantagem de seguir a maneira apresentada é que ao eliminar os termos lineares em i) teremos menos contas a fazer na
rotação do passo ii), uma vez que D = E = 0.
Após os passos acima, é esperado encontrar uma equação quadrática numa forma mais compacta que a original, e
portanto mais fácil de analisar. Essa equação, representará nas novas variáveis, uma das nove cônicas apresentadas no
início do capítulo. Abaixo apresentamos dois exercícios resolvidos para ilustrar melhor o método.
Resolução: Começamos eliminando os termos lineares. Para isso é preciso encontrar um ponto O0 = (h, k) que
satisfaça (3.15), isto é,
8h − 4k + 12 = 0,
−4h + 14k + 6 = 0.
Vamos agora determinar o ângulo de rotação θ que simplificará essa equação eliminando o termo misto. Como A 6= C,
sabemos que θ deve satisfazer (3.19), isto é
4 4
tg(2θ ) = − = > 0.
4−7 3
Podemos escolher 2θ no primeiro quadrante, de modo que cos(2θ ) > 0. Combinando esta informação com (3.21),
segue
3
cos(2θ ) > 0 ⇒ − > 0 ⇒ A −C < 0 ⇒ A < C.
A −C
Além disso, sabemos que A e C são as raízes de (3.20)
4−λ −2
= 0 ⇒ λ 2 − 11λ + 24 = 0 ⇒ λ = 3 ou λ = 8.
−2 7−λ
Portanto A = 3 e C = 8. Lembremos ainda que F = 24 (não se altera por rotação). Por fim, temos então a seguinte
equação
3u2 + 8v2 − 24 = 0.
82 CAPÍTULO 3. CÔNICAS
y0
u
x
O
θ
x0
O0
x2 − 6xy + 9y2 + 3x − 9y − 10 = 0.
Resolução: Procuremos uma oportuna translação que simplifique a equação eliminando os termos lineares. Para isso,
devemos encontrar O0 = (h, k) que satisfaça (3.15), isto é,
2h − 6k + 3 = 0,
6h + 18k − 9 = 0
6h + 18k − 9 = 0 ⇔ 3(2h − 6k + 3) = 0 ⇔ 2h − 6k + 3 = 0,
isto é, o sistema acima é compatível indeterminado e, portanto, admite infinitas soluções. Isso significa que existem
infinitas translações (formas de escolher O0 = (h, k)) capazes de eliminar os termos lineares. Basta escolhermos uma
dessas formas, o que é equivalente a escolher uma das infinitas soluções do sistema. Fazemos isso atribuindo um valor
qualquer para k e encontrando o respectivo h pela relação 2h − 6k + 3 = 0. Tomemos, por exemplo, k = 1 e h = 32 .
Desta forma, g 32 , 1 = − 49
4.
49
(x0 )2 − 6x0 y0 + 9(y0 )2 − = 0.
4
3.4. IDENTIFICAÇÃO DE UMA CÔNICA 83
Vamos agora determinar o ângulo θ de rotação que eliminará o termo misto dessa equação. Como A 6= C, θ deve
satisfazer (3.19), isto é
6 3
tg(2θ ) = − = .
1−9 4
Podemos escolher 2θ no primeiro quadrante, e assim cos(2θ ) > 0. Segue de (3.21) que
1−9
cos(2θ ) > 0 ⇒ > 0 ⇒ A −C < 0 ⇒ A < C.
A −C
1−λ −3
= 0 ⇒ λ 2 − 10λ = 0 ⇒ λ = 0 ou λ = 10.
−3 9−λ
49
10v2 − = 0.
4
49 49 7
10v2 = ⇔ v2 = ⇔ v=± √ ,
4 40 2 10
que representa um par de retas paralelas (ambas as retas são paralelas ao eixo O0 u).
84 CAPÍTULO 3. CÔNICAS
C APÍTULO 4
Q UÁDRICAS
Neste capítulo apresentamos as principais superfícies do espaço, conhecendo suas visualizações gráficas e
respectivas equações.
D EFINIÇÃO 4.1 (Q UÁDRICA ): Uma quádrica ou superfície quádrica é o conjunto de pontos de P = (x, y, z) ∈ R3
que satisfazem a equação
O BSERVAÇÃO 4.2: Em outras palavras podemos dizer que uma quádrica é o lugar geométrico dos pontos descritos
por uma equação quadrática nas variáveis x, y e z.
D EFINIÇÃO 4.3 (T RAÇO ): A intersecção de uma quádrica com um plano é chamada de traço.
4.2. E LIPSÓIDE
D EFINIÇÃO 4.4 (E LIPSÓIDE ): O elipsóide é a quádrica descrita por uma equação da forma
x 2 y2 z2
+ + = 1, (4.2)
a2 b2 c2
O BSERVAÇÃO 4.5: Alguns elipsóides podem ser obtidos a partir da revolução de uma elipse em torno de um dos
eixos coordenados. Um elipsóide obtido através dessa revolução possui em sua equação dois dos coeficientes a, b, c
iguais (esse fato será melhor explicado na seção 4.7).
85
86 CAPÍTULO 4. QUÁDRICAS
O BSERVAÇÃO 4.6: Se na equação (4.2) tivermos a = b = c, então esta equação representa uma esfera ou superfície
esférica de centro (0, 0, 0) e raio a.
O gráfico de um elipsóide pode ser visto na figura 4.1. A figura 4.2 representa em preto a curva obtida pela
interesecção de um elipsóide com um plano paralelo a um dos planos coordenados. Notemos que essa intersecção pode
ser conjunto vazio, uma elipse ou um único ponto.
2
x2 2
E XEMPLO 4.7: Qual o traço obtido pela intersecção do elipsóide 9 + y4 + 16
z
= 1, com o plano z = 3?
4.3. HIPERBOLÓIDES 87
Resolução: O traço será uma curva que satisfaz ambas as equações, e portanto o sistema
x2 + y2 + z2
=1
9 4 16
z =3
2 2
x2 x2
Substituindo z = 3 na primeira equação, temos 9 + y4 + 16
9
= 1, resultando em 63 + y7 = 1, que representa uma elipse
16 4
contida no plano z = 3.
Se na equação (4.2) no lugar das variáveis x, y e z aparecerem os termos (x − h), (y − k) e (z − l), significa que o
elipsóide está transladado da origem do sistema de coordenadas, e neste caso seu centro é o ponto de coordenadas
O0 = (h, k, l). Analogamente temos o mesmo raciocínio para superfície esférica.
x2 + y2 + z2 + 6x − 4y − 12 = 0,
Resolução: Para resolver esse problema basta completar quadrados na equação acima. Reescrevendo, temos
4.3. H IPERBOLÓIDES
O BSERVAÇÃO 4.10: Alguns hiperbolóides de uma folha, podem ser obtidos a partir da revolução de uma hipérbole
em torno da reta suporte de seu eixo conjugado. Neste caso teremos a = c na equação (4.3).
O BSERVAÇÃO 4.11: Dizemos que o hiperbolóide descrito pela equação (4.3) está ao longo ou em torno do eixo Oz.
As equações
x 2 y2 z2
− + =1 (4.4)
a2 b2 c2
88 CAPÍTULO 4. QUÁDRICAS
e
x2 y2 z2
− + + = 1. (4.5)
a2 b2 c2
representam hiperbolóides de uma folha ao longo dos eixos Oy e Ox, respectivamente.
Ilustramos o gráfico de um hiperbolóide de uma folha ao longo do eixo Oz na figura 4.3. As figuras 4.4, 4.5 e
4.6 representam em preto, a curva obtida pela interesecção de um hiperbolóide de uma folha com um plano paralelo a
um dos planos coordenados. Notemos que essa intersecção pode ser uma hipérbole, uma elipse ou um par de retas
concorrentes.
O BSERVAÇÃO 4.13: Alguns hiperbolóides de duas folhas, podem ser obtidos a partir da revolução de uma hipérbole
em torno da reta suporte de seu eixo transverso. Neste caso teremos b = c na equação (4.6).
O BSERVAÇÃO 4.14: Dizemos que o hiperbolóide de duas folhas descrito pela equação (4.6) está ao longo ou em
torno do eixo Ox. As equações
x2 y2 z2
− 2 + 2 − 2 =1 (4.7)
a b c
e
x2 y2 z2
− − + = 1. (4.8)
a2 b2 c2
representam hiperbolóides de duas folhas ao longo dos eixos Oy e Oz, respectivamente.
90 CAPÍTULO 4. QUÁDRICAS
Ilustramos o gráfico de um hiperbolóide de duas folhas ao longo do eixo Ox na figura 4.7. As figuras 4.8, 4.9 e
4.10 representam em preto, a curva obtida pela interesecção de um hiperbolóide de uma folha com um plano paralelo a
um dos planos coordenados. Notemos que essa intersecção pode ser conjunto vazio, uma hipérbole, uma elipse ou um
ponto.
Se na equação de hiperbolóide de uma folha ou hiperbolóide de duas folhas, no lugar das variáveis x, y e z,
aparecerem os termos (x − h), (y − k) e (z − l), significa que o hiperbolóide está transladado da origem do sistema de
coordenadas, e neste caso seu centro é o ponto de coordenadas O0 = (h, k, l).
E XEMPLO 4.15: Encontre uma equação para a curva obtida da intersecção do hiperbolóide de uma folha x2 − 4y2 +
5z2 = 1 com o plano z + √15 = 0.
Resolução: Pela equação do plano temos z = − √15 . Substituindo na equação do hiperbolóide, ficamos com
1 2
2 2
x − 4y + 5 − √ = 1 ⇔ x2 − 4y2 = 0,
5
E XEMPLO 4.16: Identifique a quádrica de equação −9x2 + 36y2 − 4z2 + 18x + 72y + 16z − 7 = 0.
que representa um hiperbolóide de duas folhas ao longo de Oy, com centro em (1, −1, 2).
4.4. PARABOLÓIDES
PARABOLÓIDE ELÍPTICO
D EFINIÇÃO 4.17 (PARABOLÓIDE ELÍPTICO ): O parabolóide elíptico é a quádrica descrita por uma equação da
92 CAPÍTULO 4. QUÁDRICAS
forma
x 2 y2
z= + (4.9)
a2 b2
com a e b números reais positivos.
O BSERVAÇÃO 4.18: Parabolóides elípticos podem ser obtidos a partir da revolução de uma parábola em torno da
reta suporte de seu eixo de simetria. Neste caso teríamos a = b na equação (4.9).
O BSERVAÇÃO 4.19: Dizemos que o parabolóide elíptico descrito pela equação (4.9) está ao longo ou em torno
2 2
do eixo Oz. A equação z = − ax2 − by2 também representa um parabolóide elíptico ao longo de Oz. A diferença desta
superfície para a da equação (4.9) é apenas a concavidade.
As equações
x 2 z2
y=± ± (4.10)
a2 c2
e
y2 z2
x=± ± (4.11)
b2 c2
representam parabolóides elípticos ao longo dos eixos Oy e Ox, respectivamente.
Ilustramos o gráfico de um parabolóide elíptico ao longo do eixo Oz na figura 4.11. As figuras 4.12, 4.13 e
4.14 representam em preto, a curva obtida pela interesecção de um parabolóide elíptico com um plano paralelo a
um dos planos coordenados. Notemos que essa intersecção pode ser conjunto vazio, uma parábola, uma elipse, uma
circunferência ou um ponto.
4.4. PARABOLÓIDES 93
PARABOLÓIDE HIPERBÓLICO
D EFINIÇÃO 4.20 (PARABOLÓIDE HIPERBÓLICO ): O parabolóide hiperbólico é a quádrica descrita por uma
equação da forma
x 2 y2
z= − (4.12)
a2 b2
94 CAPÍTULO 4. QUÁDRICAS
O BSERVAÇÃO 4.21: Parabolóide hiperbólico, diferente das outras quádricas estudadas até aqui, não pode ser obtido
pela revolução de uma curva no plano em torno de uma reta. Dizemos assim que ela não é uma superfície de revolução.
O BSERVAÇÃO 4.22: Dizemos que o parabolóide hiperbólico descrito pela equação (4.12) está ao longo ou em torno
2 2
do eixo Oz. A quádrica de equação z = − ax2 + by2 também representa um parabolóide hiperbólico ao longo de Oz, que
graficamente é a mesma superfície da equação (4.12) refletida em torno do plano xy.
As equações
x 2 z2
y=∓ ± (4.13)
a2 c2
e
y2 z2
x=∓ ± (4.14)
b2 c2
representam parabolóides hiperbólicos ao longo dos eixos Oy e Ox, respectivamente.
Ilustramos o gráfico de um parabolóide hiperbólico ao longo do eixo Oz na figura 4.15. As figuras 4.16, 4.17 e
4.18 representam em preto, a curva obtida pela interesecção de um parabolóide hiperbólico com um plano paralelo a
um dos planos coordenados. Notemos que essa intersecção pode ser uma parábola, uma hipérbole ou um par de retas
concorrentes.
y2 − 2y + 1 − 4(z2 − 4z + 4) = −x + 15 + 1 − 4 · 4
D EFINIÇÃO 4.24 (Q UÁDRICAS CILÍNDRICAS ): A quádrica cilíndrica elíptica, ou quádrica cilíndrica hiper-
bólica, ou quádrica cilíndrica parabólica são as quádricas descritas, respectivamente, pelas equações
x 2 y2 x2 y2
+ = 1 (a 6= b) − =1 y2 = cx. (4.15)
a2 b2 a2 b2
A quádrica cilíndrica de rotação (ou cilindro circular) é a quádrica descrita pela equação
x2 + y2 = a (4.16)
O BSERVAÇÃO 4.25: Dizemos que as quádricas cilíndricas definidas acima estão ao longo ou em torno do eixo Oz.
No entanto estas mesmas quádricas podem ser descritas em torno do eixo Ox ou Oy, se suas respectivas equações não
tiverem a variável x ou y, respectivamente.
As figuras 4.19, 4.20, 4.21 e 4.22, apresentam a representação gráfica das quádricas definidas acima.
Resolução: Primeiramente vamos identificar no plano Oxy qual cônica a equação acima representa. Fazendo o processo
de identificação, após uma translação para (h, k) = (1, 0) e rotação de ângulo θ = 3π
8 , obtemos a equação
√ √
(2 − 2)u2 + (2 + 2)v2 = 4,
que representa uma elipse no plano O0 uv. Desta forma, temos uma quádrica cilíndrica elíptica, ao longo do eixo Oz.
98 CAPÍTULO 4. QUÁDRICAS
D EFINIÇÃO 4.27 (Q UÁDRICAS CÔNICAS ): A quádrica cônica é descrita por uma equação da forma
x2 y2
z2 = + . (4.17)
a2 b2
Se a = b dizemos que é uma quádrica cônica de rotação e, se a 6= b, uma quádrica cônica elíptica.
O BSERVAÇÃO 4.28: Dizemos que a quádrica cônica definida acima está ao longo ou em torno do eixo Oz. As
equações
y2 z2
x2 = + . (4.18)
b2 c2
e
x2 z2
y2 = + . (4.19)
a2 c2
representam quádricas cônicas ao longo dos eixos Ox e Oy, respectivamente.
Ilustramos o gráfico de uma quádrica cônica ao longo do eixo Oz na figura 4.23. As figuras 4.24, 4.25 e 4.26
representam em preto, a curva obtida pela intersecção de uma quádrica cônica ao longo de Oz com um plano paralelo a
um dos planos coordenados. Notemos que essa intersecção pode ser uma hipérbole, um par de retas concorrentes, um
ponto ou uma elipse.
4.6. QUÁDRICAS CÔNICAS 99
Se na equação da quádrica cônica, no lugar das variáveis x, y e z, aparecerem os termos (x − h), (y − k) e (z − l),
significa que está transladado da origem do sistema de coordenadas, e neste caso seu centro é o ponto de coordenadas
O0 = (h, k, l).
Resolução: Completando quadrados na equação, obtemos (x−2)2 −(y+3)2 +(z−1)2 = 0, isto é, (x−2)2 +(z−1)2 =
(y + 3)2 , que representa uma quádrica cônica ao longo de Oy com centro (2, −3, 1).
D EFINIÇÃO 4.30 (S UPERFÍCIES DE REVOLUÇÃO ): Uma quádrica é dita superfície de revolução se foi gerada
pela revolução de uma curva plana (chamada geratriz) em torno de uma reta (chamada eixo) situada no mesmo plano
da curva.
E XEMPLO 4.31: Seja a parábola z2 = 2y no plano x = 0. Fazendo uma revolução dessa parábola em torno do eixo
Oy, obtemos um parabolóide elíptico ao longo do eixo Oy, cuja equação é dada por x2 + z2 = 2y.
√
Notemos que para determinar a equação da superfície de revolução obtida, basta substituirmos z por ± x2 + z2
na equação da curva geratriz (ver figura abaixo).
De um modo geral, se a geratriz estiver contida em um dos planos coordenados e fazermos a revolução em torno
de um dos eixos coordenados desse plano, a equação da superfície gerada será obtida da seguinte maneira: se a cônica
gira em torno do
p
• eixo Ox: substitui-se y ou z na equação da geratriz por ± y2 + z2 ;
√
• eixo Oy: substitui-se x ou z na equação da geratriz por ± x2 + z2 ;
p
• eixo Oz: substitui-se x ou y na equação da geratriz por ± x2 + y2 .
E XEMPLO 4.32: Obter a equação da superfície gerada pela revolução da curva z = 2y, x = 0, em torno do eixo Oy.
√
Resolução: Basta substituirmos z por ± z2 + x2 na equação da curva. Assim obtemos
p
± z2 + x2 = 2y.
102
ÍNDICE REMISSIVO 103
orientação, 27 nulo, 2
origem, 2, 20 sentido, 2
sistema de coordenadas em V3 , 20
parabolóide elíptico, 91
sistema de coordenadas ortogonal, 20
parabolóide hiperbólico, 93
soma de ponto e vetor, 10
parábola, 70
subtração (ou diferença), 6
parâmetro
superfície de revolução, 100
de parábola, 72
superfície esférica, 86
planos
coincidentes, 47 versor, 8
paralelos, 47 vetor, 3
perpendiculares, 50 diretor da reta, 35
transversais, 48 normal ao plano, 41
produto misto, 31 nulo, 3
produto vetorial, 27 oposto, 4
projeção ortogonal, 25 ortogonal, 19
unitário, 4
quádrica, 85 vetores
quádrica cilíndrica de rotação, 96 diretores do plano, 38
quádrica cilíndrica elíptica, 96 vértice
quádrica cilíndrica hiperbólica, 96 de elipse, 65
quádrica cilíndrica parabólica, 96 de hipérbole, 69
quádrica cônica, 98 de parábola, 72
representante, 4 ângulo
reta entre retas, 51
contida em um plano, 46 ângulo (ou medida angular), 23
paralela a um plano, 46
perpendicular a um plano, 50
transversal a um plano, 46
retas
coincidentes, 44
concorrentes, 44
coplanares, 44
orotognais, 49
paralelas, 44
perpendiculares, 49
reversas, 44
segmento
focal de hipérbole, 69
segmento focal
de elipse, 65
segmento orientado, 2
comprimento, 2
direção, 2
equipolentes, 3
104 ÍNDICE REMISSIVO
R EFERÊNCIAS B IBLIOGRÁFICAS
[1] Boulos, P. e Camargo, I.: Geometria Analítica - Um Tratamento Vetorial, 3a. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2005.
105