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Portfólio Mod. 1 e 2 - Saúde Mental
Portfólio Mod. 1 e 2 - Saúde Mental
GKMS
O hospital é uma instituição médica por excelência, mas nem sempre foi assim. É muito
importante saber que religiosidade e filantropia marcavam o início da assistência no hospital
a necessitados. Entre os necessitados havia pessoas de muitas condições de vulnerabilidade
sociais.
A criação do Hospital Geral de Paris transformou o contexto da medicina em praticamente
toda a Europa ocidental. O termo “Geral” no nome do hospital não foi atribuído por acaso,
mas indica a população que seria alvo de internação voluntária e involuntária.
Consequentemente, era necessário um poder rigoroso e total no interior dos prédios do
hospital geral, que se tornava cada vez mais uma instituição pública, de Estado. Michael
Foucault denominou essa estrutura institucional de Grande Internação. Outro termo
importante de Foucault ao analisar esse momento é o “Terceira Ordem de Repressão''.
Início da Idade Média: a loucura era vista como expressão das forças da natureza. Mais
tarde, era tida como possessão por espíritos maus, que deveriam ser eliminados por práticas
inquisitoriais, sob o controle da Igreja. Os indivíduos com transtornos mentais eram
considerados possuídos e endemoniados.
O crescimento da migração das pessoas do campo para as cidades no fim da idade média
criou uma desorganização inicial nos centros urbanos. A “medicina urbana” tinha um papel
importante nesse momento histórico. Assim os Hospitais Gerais auxiliavam a ordem pública.
A Academia de Ciências solicitou a Tenon que reestruturasse o Hospital Geral de Paris e ele
começou estudando a quantidade e tipo de doentes existentes nos hospitais e como eram
tratados. Produziu-se, pelo acompanhamento médico no hospital, um saber sobre as doenças
fundamentadas no modelo epistemológico das ciências naturais. A presença deste não era
mais esporádica naquele contexto, mas cotidiana. E era com métodos das ciências naturais
que os médicos estudam as doenças e construíram uma taxonomia. A Ciência assume neste
contexto a palavra da verdade, objetividade, ordem e moral.
Final do séc. XVIII: Pinel define a apropriação da loucura pelo saber médico. A partir de
então, a loucura passa a ser sinônimo de doença mental. Por um lado, tal iniciativa cria um
campo de possibilidades terapêuticas, por outro, define um estatuto patológico e negativo
para a loucura. O asilo passa a ser a melhor terapêutica, com objetivo de tratamento moral. O
louco ainda é considerado alienado, sem razão, e assim, perde o direito de ser sujeito,
restando-lhe o controle absoluto. Assim, a instituição psiquiátrica, de inspiração manicomial,
configura-se como um lugar de segregação, expurgo social, onde são confinados.
Esperava-se que estes tratamentos promovessem o confronto com sua própria loucura. O
objetivo final era despertar no indivíduo a consciência do absurdo e da inutilidade de suas
crenças delirantes.
Grécia Antiga: o “louco” era considerado uma pessoa com poderes diversos. A loucura era
tida como uma manifestação dos deuses, reconhecida e valorizada socialmente..
Racionalismo: a loucura passa a assumir status de desrazão, sendo o “louco” aquele que
transgride ou ignora a moral racional. A loucura ganha um caráter moral, passando a ser algo
desqualificante, e que traz consigo um conjunto de vícios, como preguiça e
irresponsabilidade.
Mercantilismo: toda população que não servia de mão-de-obra, era descartada, como velhos,
crianças abandonadas, aleijados, mendigos, portadores de doenças venéreas e os loucos.
Após as Guerras Mundiais do séc XX: surge o Aconselhamento psicológico que retoma a
inserção do homem no mundo, resgatando a sua condição humana. Iniciam-se em diferentes
lugares, movimentos para humanização de asilos.
Entre as décadas de 30 e 50: a Psiquiatria parece acreditar ter a cura da doença mental, com
a descoberta da Eletroconvulsoterapia, da Lobotomia e com o surgimento dos primeiros
neurolépticos
1852: o imperador Pedro II cria o primeiro hospital psiquiátrico. O tratamento era com base
na "moral", retirando o sujeito da ordem social e isolando-o da sociedade. Muitas fazendas se
transformaram em hospitais psiquiátricos, onde os loucos viviam em condições insalubres.
Nas déc de 70 e 80: ocorreu o movimento da reforma psiquiátrica, com base nos princípios
humanos. Também nessa época surge o Sistema de Saúde (SUS), promulgado na constituição
de 88.
1989: surge o Projeto de Lei 3657/89 do Deputado Federal Paulo Delgado, que dispõe acerca
da extinção progressiva dos manicômios.
Luta Antimanicomial
-Reabilitação psicossocial.
No Brasil, hoje, ainda existem outros serviços públicos para a saúde mental como as UBS, os
CAPS I, II e III (equipes multidisciplinares com enfermeiro, assistente social, psicólogo e
médico dão um cuidado personalizado a pacientes com maior grau de complexidade),
CAPSad (álcool e drogas), CAPSi (infantil), serviços de emergência psiquiátrica em PS e
hospitais, ambulatórios de especialidades, Centros de convivência (CECO), residências
terapêuticas, programa "de volta para casa".
CAPS:
Esses serviços têm ajudado a manter as portas abertas para o tratamento de usuários e seus
familiares; porém, principalmente em países em desenvolvimento, a indisponibilidade de
serviços de saúde mental que correspondem às necessidades da população é uma questão que
merece atenção.
É possível considerar que Nise da Silveira entrou nesse hospital psiquiátrico no qual ainda os
médicos utilizavam métodos antigos e até mesmo agressivos e que nada resultava na
melhoria dos que se encontravam ali com o objetivo de melhoria, porém com a chegada de
Nise ela implementou a chamada “arte terapia”, e estimulou seus clientes de várias formas e
uma delas que pintassem telas, as primeiras eram sem formas e sem sentido aparente, pois
refletiam o subconsciente desses pacientes, e até que depois de varias pinturas e estímulos
eles começaram a esboçar o seu subconsciente de uma forma diferente e assim os quadros
foram tomando formas, e com todo esse trabalho humanista feito por Nise, revolucionou a
vida desses indivíduos que viviam sem perspectivas de mudanças. Ela os tratou como seres
humanos e olhou para realidade de cada um, e isso fez total diferença na saúde mental e até
mesmo física dos clientes. A arte terapia é usada nos principais hospitais psiquiátricos do
mundo, e tem revolucionado a vida de muitas pessoas. Um trabalho de forma humanizada e
que é feito com amor, dedicação e respeito.
Ainda hoje, após tantos séculos de história, ainda há uma luta constante em favor da
integração desses indivíduos no meio social, como escolas e trabalhos. Ainda hoje também
são notáveis o preconceito e a discriminação em relação a essas pessoas. É mais incrível
ainda como depois de tantos estudos e esclarecimentos ainda hoje haja esse tipo de
preconceito, e esse tipo de “tratamento” em hospitais psiquiátricos. Sabemos que houve
grandes modificações nos últimos anos, mas ainda é importante a luta por mais mudanças
para dar melhores assistências para essas pessoas.
A partir de 1970, quando foi nomeado diretor do Hospital Provincial na cidade de Trieste,
iniciou o processo de fechamento daquele hospital psiquiátrico
Em Trieste, ele promoveu a substituição do tratamento hospitalar e manicomial por uma rede
territorial de atendimento, da qual faziam parte serviços de atenção comunitários,
emergências psiquiátricas em hospital geral, cooperativas de trabalho protegido, centros de
convivência e moradias assistidas (chamadas por ele de “grupos-apartamento”) para os
loucos.
Como consequência das ações e dos debates iniciados por Franco Basaglia, no ano de 1978
foi aprovada na Itália a chamada “Lei 180”, ou “Lei da Reforma Psiquiátrica Italiana”,
também conhecida popularmente como “Lei Basaglia”.
Franco Basaglia esteve algumas vezes no Brasil realizando seminários e conferências. Suas
ideias se constituíram em algumas das principais influências para o movimento pela Reforma
Psiquiátrica no país....
“A realidade não pode ser definida a priori: no momento mesmo em que é definida,
desaparece para tornar-se um conceito abstrato.” (BASAGLIA, 1985, p.126).
Ao longo das décadas seguintes, impulsionados pela Constituição de 1988 e pela criação do
SUS (Sistema Único de Saúde), os movimentos nacionais e seus apoiadores fizeram avançar
ações práticas de cuidado em liberdade sob o lema “por uma sociedade sem manicômios”.
Entre elas, as primeiras experiências regionais bem sucedidas de atendimento psicossocial de
base comunitária que inspiraram, ainda nos anos 80, a formulação – e posterior aprovação –
da Lei nº 10.216, conhecida como “Lei da Reforma Psiquiátrica”.
Promulgada em 6 de abril de 2001, a Lei 10.216 estabeleceu novas diretrizes para políticas de
saúde mental, ao prever a substituição progressiva dos manicômios no país por uma rede
complexa de serviços que compreendem o cuidado em liberdade como elemento
fundamentalmente terapêutico.
Dessa forma, estabeleceu-se, entre outras garantias, que a pessoa com transtorno mental,
“sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião,
opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e gravidade ou tempo de
evolução de seu transtorno (…)”, deve ser “tratada com humanidade e respeito e no interesse
exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família,
no trabalho e na comunidade [art. 2º, § II]”.
Clínica Peripatética
Amarante e Costa (2012, p. 47), também, advertem que a conexão entre arte e saúde mental
deve escapar às armadilhas da docilização e da imposição laborativa por si só enquanto
intervenção clínico-terapêutica, deixando “de ser um meio terapêutico para serem um fim em
si”. Nesse sentido, trata-se de pensar o campo artístico-cultural efetivamente conectado à
atenção psicossocial e autonomamente afirmado na conquista de direitos e cidadania
(AMARANTE et al., 2012). Da mesma forma, os movimentos sociais ligados à luta
antimanicomial mais e mais têm se consolidado e obtido reconhecimento na esfera pública,
bem como vêm contribuindo significativamente para as conquistas e o incremento dos
direitos dos usuários de saúde mental (SANTOS, 2012).
Assim como colocar a doença entre parênteses não supõe rejeitar o específico do sofrimento
psíquico, e sim suspender a construção ideológica que, principalmente, a psiquiatria constrói
sobre ele; suspender a clínica, colocá-la entre parênteses, não significa outra coisa senão
produzir a ruptura com uma ação que apassiva e docilizar corpos, que exclui das interações
sociais, dos direitos e da cidadania, e que, perante aqueles que demandam - ou não -
cuidados, responde com um projeto preestabelecido e marcado pela tutela. Longe de rejeitar a
clínica ou a terapêutica, a suspensão apresentada neste trabalho pretende contribuir para
melhor operar nas continuidades e descontinuidades estruturais e históricas da
loucura-doença. Se consideramos, tal qual Basaglia, que o terapêutico em saúde mental
implica “viver dialeticamente as contradições do real” (BASAGLIA, 2005, p. 115), vemos
que ele se insere em um circuito paradoxal no qual é simultaneamente refutado e executado
(BASAGLIA, 1985, p. 315-316).
AMARANTE, Paulo. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
2007. P. 21-36.
AMARANTE, P.; CAMPOS, F. N. (Org.). Saúde Mental e Arte - Práticas, Saberes e Debates.
São Paulo: Editora Zagodoni, 2012a, p. 23-38.
BASAGLIA, F.. Escritos selecionados em saúde mental e reforma psiquiátrica. Org. Paulo
Amarante. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.
OLIVEIRA Aline, Lara Eponina Reis, Lucas Rocha Delatorre, Manainy Avezani Miranda
Carrilho, Robson Moraes dos Santos e Tatiane Nicolela Prata Costa. História da reforma
psiquiátrica e Políticas públicas de saúde mental. Universidade Federal de Ouro Preto,2022.