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HISTÓRIA DA MÍDIA

TELEVISÃO: HISTÓRIAS E DESAFIOS

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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1. Compreender a evolução da TV no mundo e no Brasil de seu contexto de surgimento ao cenário mais atual.

2. Verificar o papel da propaganda e da publicidade na TV.

3. Saber discernir sobre a influência da TV nas mudanças sócio-político-econômicas no país e conhecer a política

de concessões públicas.

4. Entender a segmentação advinda com a TV a cabo e as redes via satélite.

5. Conhecer programas e gêneros que marcam a televisão bem como experiências inovadoras ao longo da

história.

Fonte: //www.youtube.com/watch?v=JU6nXW_ixtA

1 Introdução
“A televisão me deixou burro muito burro demais”.

Ironizava a banda Titãs nos idos de 80 e depois em 1997 na MTV em apresentações na televisão aberta e rádio.

A MTV (Music Television) é um canal musical a cabo surgido nos EUA em 1981 e que chega ao Brasil dez anos

depois subsidiado pelo Grupo Abril. É um canal para jovens, uma tevê segmentada.

O sociólogo norte-americano Steven Johnson tem como argumento de sua obra traduzida para o português como

“Surpreendente”, a idéia de que a TV e os vídeo-games nos tornam mais inteligentes. É a esperança nas

tecnologias eletrônicas que se tornam digitais.

Não fiquemos nem com a idéia dos Titãs, nem com o experimentalismo da MTV e nem mesmo com a provocação

de Johnson a guisa de introdução.

Talvez uma boa postura para entendermos um pouco mais sobre a televisão sem expectativas ou críticas seja a

do teórico brasileiro Arlindo Machado que trazemos aqui:

É preciso, em todo caso, quando se fala de televisão, saber exatamente o que cada um está entendendo por esse

termo, ou seja, o que o analista efetivamente viu na televisão, que conjunto de experiências audiovisual ele

conhece, qual é a sua “ Cultura” audiovisual (Machado, Arlindo. A televisão levada a sério. São Paulo: Senac, 2000,

p.19)

Para levar a televisão a sério precisamos estudá-la com afinco sem preconceitos ou otimismos. Nessa aula

tentaremos entender como esse meio se consolida como um dos mais importantes da história.

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No Brasil segundo um censo do IBGE de 1980, o brasileiro possuía mais televisores que geladeiras em seus lares.

Alguns nem mesmo geladeira tinham, mas a televisão estava lá.

Funcionando como uma lareira, ligada para ninguém ver, a telinha faz parte da realidade mundial (lembrem do

fenômeno BBB, por exemplo) e a anedota que contavam há algum tempo sobre a TV parece-nos cada vez mais

real:

Se uma árvore cai na floresta ela pode ter caído ou não, mas se ela cai e a televisão mostra, mais uma árvore se

perdeu...

Nesta aula tentaremos aprender um pouco mais sobre esse veículo tentando ilustrar sua história duramente

criticada por muitos e vista com bons olhos como na expressão quality television (televisão de qualidade).

Expressão que nos ajuda a não demonizar o veículo, e sim a encontrar produtos de qualidade na televisão como

as experiências do cineasta Jean Luc Godard na TV francesa e de Glauber Rocha na brasileira no programa

Abertura.

Antes dessa idéia de televisão de qualidade, a expressão era de ouro também se aplicou a televisão nos anos 50,

essa década é dourada na TV européia e norte-americana.

No Brasil ela ainda engatinhava, mas logo começaria a causar abalos na primazia do rádio como veículo de

comunicação de massa. Desse período para cá, a televisão popularizou-se e encontrou boa parte de sua

linguagem. Ainda resta o desafio de elevar mais e mais a qualidade da programação e de democratizar a

informação.

É importante frisar logo no início dessa aula dois fatores importantes:


• O primeiro diz respeito as contínuas mudanças na “praça televisiva”. Inicialmente de curta distância,
depois com o desenvolvimento dos satélites e num terceiro momento com a evolução da TV a cabo, a
televisão hoje converte- se em digital (na próxima aula falaremos dela).
• A outra diz respeito ao caráter de concessão pública para a exploração das ondas do ar*. No Brasil
essa é uma discussão importante para repensarmos o monopólio de um grupo televisivo que a cada dia
sofre mais concorrência, mas que de fato não nos leva a acreditar em democratização da TV com mais
produções regionais e locais e produtos que realmente “sirvam” ao povo brasileiro.
* de concessão pública para a exploração das ondas do ar: No brasil para se criar um canal de televisa° há uma

regulamentação. O artigo 223 da constituição de 1988 trata disso. Veja no site http://www.dji.com.

briconstituicao_federalicf220a224.htm.

Tudo parece circunspecto ao espetáculo televisivo e à venda de espaços comerciais.

2 A questão técnica
Com o isolamento do Selênio - elemento químico que na tabela periódica é simbolizado por SE -, Jakob Berzelius

estudou o desprendimento de elétrons através da fotossensibilidade do SE já em 1817.

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Alexander Bain em 1842, consegue a primeira transmissão telegráfica de uma imagem de forma rudimentar e

quase 30 anos depois reforça a tese de Berzelius de transformação de energia luminosa em elétrica.

Com o alemão Paul Nipkow e a patente do disco de Nipkow (1884) se dá a transmissão com fio de imagens a

distância e oito anos depois Elster e Getble desenvolvem a chamada célula fotoelétrica.

Um último nome importante deste primórdio da mídia televisiva é o russo naturalizado norte-americano

Vladimir Zworykin que desenvolve o iconoscópio a primeira televisão mecânica.

O russo deixa uma frase um tanto curiosa para refletimos até hoje:

“De tudo que criei, acho que o melhor foi o botão de desliga”.

Com uma ilustração de Albert Robida o termo televisão aparece pela primeira vez. Ver à distância é um ato que

revolucionou a história da humanidade.

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O pai da televisão o escocês John Baird ao lado do americano Charles Jenkins, aperfeiçoam os experimentos

anteriores e demonstram a transmissão de imagens a distância na década de 20. Mas é com o também norte-

americano Philo Farnsworth que em sete de setembro de 1927, quando nossa independência completava 105

anos, que a televisão eletrônica é apresentada ao mundo.

Com uma resolução bem baixa (nada se comparamos com as novas tv’s de cristal líquido) comprovava-se que os

raios catódicos sendo secados os elétrons formavam uma imagem distante. Em paralelo a história técnica dos

aparelhos receptores o desenvolvimento também técnico das câmeras também é fundamental ser ao menos por

aqui mencionado.

Na foto, Farnsworth ao lado de um equipamento que certamente ajudou-o a projetar a primeira televisão

eletrônica.

Joyce cria uma imagem curiosa da relação da televisão com outros meios e que nos parece importante para

entendermos os primórdios da tela pequena.

Em uma chamada de Finnegans wake, ataca: “Televisão mata telefone em rixa de irmãos”.

Poético e profundamente atual vermos as pessoas usando os celulares para assistir televisão.

Seria a vingança dos telefones?

Qual o destino da TV?

Outra imagem curiosa vida da literatura é O Grande irmão (Big Brother) de Orwell. Lá a TV não era só pra ser

vista por nós, mas também para nos ver (interatividade a serviço do controle).

Qualquer semelhança com a “franquia” BBB não é mera coincidência...

3 A televisão em expansão pelo mundo


Curiosidades:
• Na Inglaterra existe uma taxa paga pelo cidadão para se ter serviços de TV, no sentido de garantir
qualidade ao telespectador.
• O Butão na Ásia, conhecido como terra do dragão só foi ter uma televisão em 1999. È a última nação a
ligar um aparelho de TV.
• O historiador Daniel Boorstin observou: “Não podemos mais dizer como Oscar Wilde, que a vida imita a
arte, porque agora a vida imita a televisão”.

4 Publicidade e Propaganda na TV
No filme recomendado na aula sobre a história da fotografia, “Nós que aqui estamos por vós esperamos” de

Marcelo Masagão, vemos o poder da publicidade e da propaganda na televisão. Os exemplos da aspirina e outros

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lá contidos atestam a vocação que a TV tem com essas práticas. Os programas em terra brasileira na televisão

como no rádio eram batizados pelos patrocinadores.

São famosos:
• "Teatrinho Trol"
• “Espetáculo Eletrolux”
• “Repórter Esso”
Os comerciais filmados ganham força na década de 60. Diretores de cinema se aventuram no campo da direção

de vídeos publicitários e os comerciais para televisão ganham linguagem própria e novos profissionais.

Na TV brasileira
• O merchandising aparece pela primeira na telenovela “Beto Rockfeller”, na qual um personagem após
noites de ressaca recorria ao antiácido Alka Seltzer, da Bayer.
• Na “Família Trapo”, humorístico da Record o mershandising também aparecia, as sandálias Havaianas
eram importantes “personagens” da história.
• Em “Dancing days”, A personagem vivida por Sônia Braga usava jeans Staroup.
• Recentemente o merschandising invadiu - e como haveria de não invadir os reality shows como o Big
Brother - criado pela empresa holandesa Endemol e sucesso na programação da atual televisão mundial e
especialmente brasileira. O Big Brother é inspirado no livro de Orwell, 1984.
O custo mensal do programa religioso “Show da fé” no canal bandeirantes custa 2,5 milhões de reais.

Com valores como esse entendemos um pouco mais o papel da publicidadade na televisão.

Tabela com padrões de Publicidade na emissora de televisão e na Tv a cabo nos EUA (adaptada do livro de

Wilson Dizard Jr. A nova mídia, Rio de Janeiro: JZE, 1998, p. 137).

Para saber mais:

Volume de anúncios televisivos (US$ milhão).

5 A TV no Brasil
As experiências do rádio foram relevantes para a televisão no Brasil, embora tenham muito mais ficado no

terreno dos testes. Em 1929 a imprensa assiste a primeira demonstração em uma feira tecnológica no Rio de

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Janeiro. Roquete Pinto, o pai da radiodifusão no Brasil, fez em 1933 na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro uma

experiência sem muito sucesso com televisão no Brasil. Na década de 40, a TV segue sua vocação experimental.

Primeira Fase da TV: TV para a elite - Em 1950, surge, em São Paulo, TV Tupi, primeira estação da América do

Sul. Pouco tempo antes da primeira transmissão oficial, ainda não se tinha televisores em São Paulo. Assis

Chateaubriand, dono da Tupi, foi o responsável pela vinda dos primeiros receptores do sinal de Televisão (cerca

de 300). Mandou instalar aparelhos de TV no Jockey Club de São Paulo. A Tupi também chega logo o Rio de

Janeiro. Em 51 inicia-se a produção de televisores e teledramaturgia* produzidas aqui. No dia de estréia da

televisão, em 18 de setembro de 1950, a programação contou com benção do bispo auxiliar de São Paulo,

discurso de Chateaubriand e o primeiro programa de variedades, o “TV na Taba”.

* teledramaturgia: A primeira telenovela é na Tupi e chama-se “Sua vida me pertence”.

Na estréia da TV, foi cantado o hino da Televisão, de Marcelo Tupinambá e Guilherme de Almeida:

Primeira Fase da TV: TV para a elite

“Vingou como tudo vinga

No teu chão, Piratininga

A cruz que Anchieta plantou

Pois dir-se-á que ela hoje acena

Por uma altíssima antena

Em que o Cruzeiro pousou.

E te dá, num amuleto,

O vermelho, branco e preto

Das contas do teu colar.

E te mostra num espelho,

O preto, branco e vermelho,

Das penas do teu tocar”.

O primeiro telejornal também é de 1950: “Imagens do dia”. Em 52, o sucesso do rádio “O Repórter Esso” estréia

na telinha. Em 1959 surge a TV Excelsior, a primeira TV em moldes comerciais. Nos anos de 1960 são famosos os

festivais da Record (fundada por Paulo Machado de Carvalho em 1953 e anos depois comprada pelo bispo Edir

Macedo).

Algumas características importantes desse primeiro momento da TV brasileira:


• Artigo de luxo, o televisor era caro e acessível somente para a elite. Os musicais, as variedades e o teatro
eram integrantes da programação.
• A principal marca dos programas eram os improvisos. A TV era feita ao vivo.
• Falta de recursos e de pessoal. Amadorismo e experimentalismo ainda como marcas.

• A publicidade era (e será, dessa fase em diante) a principal fonte de renda, ainda que, nos anos 50, de

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• A publicidade era (e será, dessa fase em diante) a principal fonte de renda, ainda que, nos anos 50, de
forma precária e escassa.
No início de 1960 surge o Videoteipe.

A programação começa a ter novelas diárias.

Torna-se um hábito assistir um programa no mesmo horário.

Em 1963, um marco para o Telejornalismo: desenvolvido por Fernando Barbosa Lima, o Jornal de Vanguarda

estréia na TV Excelsior, trazendo a informalidade ao caráter noticioso do telejornal. A figura do colunista social

fazia daquele programa conhecido como “Show de Notícias” uma importante referência para a história da mídia

televisiva no Brasil.

Para mais informações sobre a segunda fase da TV no Brasil, leia agora o texto A Segunda Fase da TV no Brasil.

Segunda Fase da TV: conhecida como período populista da TV no Brasil (1964-1975)

As tecnologias permitiram o surgimento de novos canais e programas. O SBT, antiga TVS de Sílvio Santos, é de

1976. O canal 11 do Rio de Janeiro tinha em sua grade desenhos e filmes. Destacam-se, ao longo de sua história,

programas como Moacyr Franco Show e O Povo na TV, além dos domingos com o Programa Sílvio Santos.

Características:
• Com o apoio estatal, a programação passa a ser produzida de forma quase integral pelas emissoras.
Ainda resta, e sempre restará, espaços para os filmes, mas a televisão, nesse período, com novos
dispositivos tecnológicos, começa a produzir, inclusive, para exportação.
• Diminui a influência norte-americana, que existe desde o início e dura de forma menor até hoje:
Programas, técnicas administrativas, roteiros, idéias, temas, entre outras coisas.
Com o desenvolvimento tecnológico, se dá grande crescimento da audiência. A luta medida pelo Ibope (Instituto

Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), criado em 1942, se torna árdua.

No final dos anos 80, em 1988, o telejornalismo brasileiro entra na era dos âncoras com destaque para o TJ Brasil

na figura do jornalista Boris Casoy.

Já na era da TV a cabo, o primeiro canal integralmente voltado para o jornalismo na América Latina é a Globo

News de 1996.

6 Do satélite ao cabo. Do experimental ao espetaculoso


A TV passa por mais uma mudança que não pode ser lida somente em função do espetáculo midiático televisivo.

A entrada em cena do modelo digital. As tecnologias digitais redimensionam a mídia e fazem parte de nossa

próxima unidade.

Saiba mais

Procure também o livro de Arlindo Machado para saber mais sobre como levar a televisão

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Procure também o livro de Arlindo Machado para saber mais sobre como levar a televisão
mais sério. A televisão levada a sério. São Paulo: Senac, 2000.

O que vem na próxima aula


Nesta aula, você conheceu mais sobre a história da Televisão e seus desafios.

Na próxima aula, entraremos na última unidade de nossa disciplina. A quarta parte de História da mídia reserva

assuntos dedicados às novas mídias. Estudaremos as relações das mídias até aqui observadas com a nova

configuração digital do mundo. Muitas mídias que analisamos até aqui serão vistas em um novo e decisivo

contexto. Para isso, o tema da convergência de mídias é chave já em nosso próximo encontro. A era da

informação digital e da multimídia está dividida em duas aulas.

Os computadores e a sociedade em rede serão analisados em uma perspectiva histórica, já em nossa próxima

aula, a penúltima de nosso longo trajeto, que além das relações apontadas também terá a evolução dos satélites e

dos cabos, das dificuldades que envolvem rádio e TV digital. Estudaremos também a questão da liberdade de

expressão e na questão do autor nos dias de hoje bem como o futuro da comunicação de massa e os impactos na

sociedade de consumo. Do analógico ao digital, o meio é cada vez mais a mensagem.

Então, até lá!

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Compreendeu a dificuldade em analisar o veículo, lendo-o para além de uma postura otimista ou
negativa diante do meio;
• Identificou o surgimento tecnológico e as experiências que antecedem a televisão até a TV via satélite e a
cabo;
• Conheceu um panorama dos modelos de televisão pelo mundo identificando fases importantes para o
avanço do veículo televisivo;
• Compreendeu o papel da televisão em seu vínculo com a publicidade;
• Conheceu as etapas da televisão no Brasil, destacando os principais marcos na história desse veículo.

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