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5. A fonologia segmental do portugués europeu Mateus et ah 2005 35° 5.1 Os segmentos Objectivos e resumo Pretende-se, na seceao 5.1., que o aluno: + apreenda a diferenga entre som e fonema, identifique fonemas a partir de pares minimos, distinga fonema de fone, alofone ¢ arquifonema compreenda a natureza da neutralizagio de fonemas; + reconhega a variagao linguistica através de variantes livres e em distribuicgo complementar. Observe a importincia do contexto de ocorréncia. Distinga variagéo geogréfica e social e reconheca algumas, caracteristicas que diferenciam as variedades europeia e brasileira do portugués; + capte e interiorize o caracter abstracto do nivel fonolégico; ‘+ identifique os segmentos fonol6gicos do portugués — vogais, semivogais e consoantes ~e observe a distribuigdo desses segmentos; + consiga desenvolver o raciocinio necessério para propor segmentos fonol6gicos a partir de diferentes realizagGes fonéticas; + seja capaz de construir uma regra simplificada que represente @ realizagio fonética de um segmento fonolégico em determinado contexto. Para permitir que sejam atingidos os objectivos indicados, apresentam-se neste capitulo, na primeira parte, as definigdes estruturais de fonema, fone, alofone ce arquifonema e exemplificam-se estes conceitos. Discute-se depois a variagao lingufstica e as diferencas entre variedades e dialectos do portugués. Em seguida, apresenta-se a distribuigo das vogais, consoantes e semivogais do portugues com base nos dados empiricos. A partir da andlise dos dados, propde-se 0 método de estabelecimento dos segmentos abstractos subjacentes (fonolégicos) discutindo-se, com esse fim, a natureza das vogais nasais, das semivogais e de certas consoantes. O capitulo termina com a construgéo de uma regra simplificada que representa a realizacao fonética de um segmento fonol6gico. 159 qe Trubetzkoi, 1949:12, 1 ico nosso 2 Bsa secpo em que se apre sentant 05 métodos e tent as de lingofstica estratral com exempliticagio no por lugués deve ser estudade tendo presente 0 que se diz em 1 160 Como dissemos em 2.3.1., os linguistas que desenvolveram a fono! estrutural nas primeiras décadas do século XX apresentavam a fono’ ‘ogia como 0 estudo que “deve procurar que diferengas fonicas esto ligadas, na linen, estudada, a diferengas de significagdo"! e preocupavam-se com ¢ estabelecimento dos seus sistemas fonolégicos, procurando as, relegdes entre ‘Jonemas. Com este fim criaram uma metodologia e uma técnica que permitiay trabalhar com rigor na andlise das linguas, ¢ propuseram a existéncia de uny nivel abstracto: @ nivel fonoldgico. Os conceitos ¢ a terminclogia que apresentamos na primeira parte deste capitulo estao ligados linguistica estrutural. logia Naparte final do capftulo introduz-se um conceito diferente de nivel fonolégico ~ onivel subjacente que se relaciona com o nivel fonético através de regras, Este conceito assenta na teoria generativa hoje designada como Classica, A unidade minima que corresponde ao fonema da fonologia estrutural é denominada segmento. O titulo deste capitulo esta relacionado com 9 conceito de segmento da fonologia generativa. 5.1.1 Fonemas, fones, alofones e arquifonemas Numa sequéncia sonora correspondente a uma palavra podem idertificar-se uunidades que, substitufdas por outras, provocam alteragao de significado. Estas Uunidades so denominadas fonemas em linguistica estrutural® . No par de Palavras bela [béle] / bola [bste], por exemplo, as vogais abertas [é] ¢ [2] do nivel fonético correspondem a fonemas do portugués. A identificagio dos diferentes fonemas de uma lingua faz-se, assim, por comparagao entre palavras ue se encontram ‘em oposigao distintiva’ porque, ao diferirem apenas num som, diferem também no significado. Pelo facto de os fonemas serem elementos fonolégicos que distinguem palavras denominam-se unidades distintivas. Fepresentando-se convencionalmente entre barras obliquas (//). Os pares de Palavras que servem para determinar estas unidades so os pares minimos. Utilizando este método, podemos identificar os fonemas de uma lingua Um conjunto de fonemas que possuem propriedades comuns como a consoantes denomina-se classe natural, A classe riatural das consoantes pode ainda dividir-se, por exemplo, nas classes naturais das consoantes eclusivess (1b, d, 8 Ps ts W), fricativas (Iv, 2, 3, f, s, ), vibrantes (Ie, RI) ow laterais (A, AN. As oclusivas e as fricativas constituem, em conjunto, a classe das obstruintes. A constituig&o do inventério dos fonemas das Iinguas e o estudo da sua organizagéo em sistema iniciou-se e desenvolveu-se coma linguistica estrutural, como se disse em 5.1. Neste médelo, cada elemento do nfvel fonolégico tem correspondéncia numa realizagio do nivel fonético, ow seja, a relagko estabelecida entre um fonema e a sua realizagao fonética € biunivoca. Nesta perspectiva, portanto, nao se inserem ou suprimem fonemas entre 0 nivel fonoldgico € o fonético. Tendo em atengio que as realizagées fonéticas de um tinico fonema podem apresentar algumas diferengas entre si, o estruturalismo europeu pos em relevo ocarécter abstracto desses elementos fonolégicos. Astealizagées fonéticas dos fonemas so os fones. Por exemplo, o fonema /b/ realiza-se como [b] em boi [béj], 0 fonema /a/ realiza-se como [a] em pai [paj]. Os fones que corespondem a um mesmo fonema denominam-se variantes ou alofones. Por exemplo, o fonema /a/ realiza-se como [a] em arto [pactu] e como [8] em partir [pertir]. Quando as variantes distinguem sociolectos (usos da lingua caracterizados socialmente), dialectos (usos da lingua caracterizados geograficamente) ou idiolectos (usos da lingua caracterizadores de um individuo), podem ser designadas como variantes livres, embora seja possfvel, em certas circunstancias, determinar os seus contextos de ocorréncia. Assim, o fonema /s/ da palavra passo pronuncia-se em certos dialectos portugueses com uma dental [s] ([pasu]) enquanto em outros dialectos se pronuncia como uma épico-alveolar [3] ({pasu])? Se, pelo contrério, as variantes ocorrerem sistematicamente em contextos diferentes, diz-se que esto em distribuicao complementar e denominam-se variantes combinatérias. No portugués europeu (PE) e no portugués brasileiro (PB), 0 /V/ pronuncia-se como dental, [1], antes de vogal, como por exemplo em lado [Iédu. Porém, antes de outra consoante ou em fim de palavra, © MM! pronuncia-se velarizado (representado por [#]) em portugués europeu (alsa {sés6] ou mal {mat]*), ¢ em portugués brasileiro como semivogal ({w}) ({s4wse], [maw]. As realizagdes fonéticas [I] /[H no PE e [IV/fw] no PB, determinadas exclusivamente pelos contextos atrs indicados, so variantes combinat6rias do fonema /V/¢ esto, portanto, em distribuigao complementar, Deve contudo notar-se que diferentes fonemas podem coincidir ao nivel fonético por serem condicionados foneticamente pelos sons que os rodeiam. Por exemplo, se as palavras asa [4ze], acha [4fe] e assa [4se] apresentam trés sons que correspondem a trés fonemas, /2/, /S/* e /s/, porque distinguem significados, esta oposigio nao existe em fim de palavra, em que sé pode ocorrer 0 som {f] (veja-se a prontincia idéntica de paz [péf] e pds [paf)’). Neste caso considera-se que existe um segmento abstracto que retine os trés. fonemas e que se denomina arquifonema. O arquifonema representa-se por uma letra maitiscula, /S/, e constitui uma neutralizacdo entre fonemas, ou A prontncia destes conso antes distingue-se pele pon to de aniulagac: 0 dpice da lingua aproxima-se dos entes no [s] © no [2] den tai, € dos alvéslos no Is = 90 (2) spico-tiveolares * Nos ceptuls de fonologia 6 portugues europea e > portugués brasileiro seria frequentemente referid em abreviatura, respectiva mente PE © PB. * Na prondacis do [41 velarizedo, a parte posteri oF 9 corpo da lingua le vantase em aire palatina A consoante iff € uma con soante palatal, na pronin cia de qual 0 dorso da lin gua se eleva em diecsio se palato uss palavras cor uma diferenga fonol © morfolégica: © plurel dx pos (paces (pézif}) most qve o radical da palavrs im © fone /2h,# pa lavra pds € 0 plural de pd e portanto,{f] € 0 sufixo de plural, tt 161 WS * Ver, por exemplo, 0 pro: 2880 do vocalismo étono em 5.31 "As tansrigdesfonétieas de (14) sto transergdes até certo ponto abstractes, que representa uma ‘lasse de realizagSes individuais, di, feremtes em aspectos font 08 de pormenor que no So linguisticamente rele 162 Seja,o desaparecimento da diferenca distintiva entre fonemas que, nc exemplo apresentado, se pode representar do seguinte modo: Arquifonema IS/ / | Fonemas ta MS bb. Habitualmente, as neutralizagdes e outros processos fonolgicos* dao-se entre fonemas que mantém entre sialgumas relagdes. Neste caso, rata-sede frcatvas com ponto de articulaco muito proximo. 5.1.2 Variantes e variagoes Todas as Iinguas possuem variagdo, quer se observe a sua evolugéo no tempo ner se estude a sua realizagdo no espago, No que respeita & realizagao de luma Ingua em diversas regides (8 sua distibuigGo geogréfica), deve pér-se emrelevo que as variedades nacionais (correspondentes a diferentes paises due falam uma tnica lingua) e as variedades regionals, ou dialectos, tem todas o mesmo estatuto lingufstico. Assim, o dialecto néo € uma forma “diferente (¢ até desprestigiada) de falar uma lingua, mas ¢ ‘qualquer" forma de falar uma lingua conforme a regio a que pertence o falante. Apreser tam-se & seguir algumas diferengas entre as vatiedades do portugués eurapeu e brasileiro ¢ entre os grandes grupos de dialectos portugueses, Portugués europeu (PE) e portugués brasileiro (PB) ‘Vejamos a representaco fonética da mesma frase nas variedades portuguesa < brasileira, com distingao de registos: formal (pausado) ou cologuial (rapido)! “A Maria faltou ao teste de psicologia” (1) [e merie fats aw tefti di psikulusie) (2) fe merte fats aw téfe d psiklusie] (3) [a marie fawtow aw tefifi di pisikolozée) 4) fa marie fawts aw tef}i. Gi pisikolozie} Estas quatro transcrigdes da mesma frase distinguem-se por representarem, de | forma simplificada, as seguintes prontincias: @ (b) © © © (1) pausada (¢ silabada) em PE; (2) coloquial em PE; (3) pausada (¢ silabada) em PB; (4) coloquial em PB . Analisemos em pormenor as diferengas na prontincia das vogais tonicas dtonas'” e nas consoantes: A vogal étona [i]"" s6 ocorre no registo pausado e silabado de PE (cf. (1); a mesma vogal € suprimida no registo coloquial (cf. (2)) e ocorre como [i] no PB (cf. (3) e (4)); A vogal correspondente & grafia , quando dtona, manifesta-se como [u] em PE (cf. (1) e (2) e como [o] no PB (cf. (3) e (4); a vogal ortografada quando dtona apresenta-se como [] em PE ¢ como [a] em PB, excepto em posigao final”; o ditongo [ow] reduz-se a vogal [o] em PE e no registo coloquial de PB (cf. (1), (2)¢ (4)), e apenas se manifesta na protincia pausada de PB (cf. (3)); A consoante correspondente a grafia na palavra faltow € velarizada, [4], em PE (cf. (1) e (2)), e semivogal [w] em PB (cf. (3) € (4); (d) As consoantes [t] ¢ [d] seguidas de [i] tornam-se respectivamente [ifi] (i O grupo de consoantes [ps] que no constitui em portugués um ‘grupo préprio’ (denominagio tradicional atribuida a outros grupos como [br], Iki}, ouseja, consoante octusiva seguida de Iiquida'*), manifesta, no registo coloquial do PB, a insergéo de um [i] designado vogal ‘epentética’™ (cf, (3)e (4); > em PB (cf. (4)); O gréfico ocorre como [f] antes de uma consoante ndo-sonora (eem final de palavra) em PE e PB (cf. (1) - (4)). As constatagdes acima feitas merecem algumas consideragdes em relacdo & perspectiva estruturalista em que se enquadram. "As denominagbes tadici- conais de ‘éniea’ e “étons sho discutveis p rem no conceito errado ce que existem vogais “com tom” e “sem tom”. No er= acelt, ela sera uiizada nee capitilos de fonologis, <2 mesmo modo que ‘acentuc- a! € ‘no acentuada, apl:- eando-se tanto as vogais como as sflabas em que se ‘A vogal i) € uma muito reduzida) corresponde 20 thwa em 0 tras linguas e que, em tebe Ines tradicionaie eobre 9 portugues, esté representa da pelo sfmbolo [3]. Em 5.23. encontrase a sua clas sifieagSo com tra ” A vogal Atona [e} em po- sigio final em PB & sem do- vida mais “audivel” do que fem PE. A sus representagio com © mesmo simbolo eo PE e PB destineze 1 estbe- lecer uma diferenga, na va rlante brasileira, ene a vex gal em posiglo final e naz restantes posig6es em que também no € acentuada, " atas consoantes denomi- nam-se aficadas e tém um infeio de consoante clusiva, terminando erm “Sobre estas sequéncias de consoantes, ver a alive de atague da sflaba em 62.3 " Sobre & insergéo de ame vogal epentética em por gues do Brasil ver tambérr 163 * Sobre supressdo e inser %0, ver 5.33. 164 (@) As vogais stonas que distinguem as duas variedades da linea (em pormgués europeu, [i], [u] e [e] que comespondem, respectivamente. em portugués brasileiro a [i], [0] ¢ (a) podem considerar-se alofo7es dog mesios fonemas visto que cada par (i]/ {i; [ul /{o};[e]/ Lal) correspond a duas realizagées fonéticas do mesmo fonema. Contudo, a simples descrigdio dessas variantes nao nos permite explicar que se trata, em cada aso, de vogais relacionadas entre si. O mesmo sucede com {t] antes de [i] em PE co seu alofone [i] antes de [i] em PB. Veremos em 5.2. que sio 0s tragos distintivos que véo permitir relacionar entre si as vogais desses pares. (b) As variantes combinatétias em PE de [I] antes de vogal e [t] antes de consoante ou em fim de palavra esto em distribuigdo complementar porque a sua realizacio fonética depende do contexto. O mesmo se pode dizer em PB relativamente as realizaces de [I] antes de vogal e [wr] antes de consoante ou em fim de palavra. Precisamos, portanto, do contexto de ocorréncia para explicar a realizaco destes dois alofones do fonema/l. Veremos em 5.2.5. como se pode representar esta realizagao dependente de contexto. (©) A supressao das vogais [i] e [u] étonas em PE néo pode ser explicada em fonologia estrutural, tal como a insergéo, em PB, de [i] em psicologia [pisikolo3ia}, dado o cardcter biunivoco da relagfi entre os segmentos fonoldgicos e fonéticos. A apresentaco do processo do vocalismo dtono (5.3.1.), dos precessos p6s-lexicais (5.3.3) e a consideracéio da unidade silaba permite compreender arelago entre variantes e o funcionamento de alguns fenémenos fonéticos como a supressio e a insergéio'® Os dialectos do PE Os dialectos do portugués europeu nio sao muito distintos entre si embora permitam a identificagao de diferengas de prontinciae de léxico. Essa aparente uniformidade fez com que, durante muito tempo se considerasse o mirandés como © tinico dialecto do portugués, dadas as profundas diferengas que apresenta em relaco aos dialectos de Portugal. Na realidade, essas profuncis diferengas devem-se ao facto de o mirandés ser um dialecto de uma outra lingua, o asturiano ou asturo-leonés, que tem caracteristicas distintas do portugués. A partir de 1997 o mirandés foi considerado oficialmente uma li minoritéria com estatuto reconhecido no territ6rio linguistico portugués. ts\ Nogue respeita& distribuigio dialectal do portugués europeu (sem referéncia Sah s cnctiaso ds go mirandés por se tratar de uma outra lingua), os dialectos podem agrupar-se ope. er Gene), Pa guinte formal” : inns detates, ver Segura = dasegnn Saramago. 2002. As dife- Tengae enire of distectas (a) Osdialectos setentrionais, caracterizados pelo desaparecimento da poragusts si basicamer oposigdo entre {b]¢ [v] sua fusdo numa tnica consoante, realizada © s sarkter fondo, quer como [b] quer como [v]'*, pela manutengao das fricativas 4pico-alveolares [s] e (4]"” (graficamente e , como em —_™ Serie que ss consdeye saber, passo), pela conservacao do ditongo fow] (graficamente Sow enue yrtnesce esto, , comoem pouco, soube), pela manutencao da oposigio entre —_{. qvande stats ds ta pronkncia (ou sea, 80 1 a afticada [if], (graficamente , como em chave, chama) © a ‘et fonice)« ene bars fricativa palatal [J], (graficamente , como em xaile, paxd). obras 6 wo ee fonologco, com 208 ¥ (b) Os dialectos centro-meridionais apresentam a substituigo das ios islets «varedaes. consoantes épico-alveolares [$] ¢ [2] pelas dentais [s] e [2], redugao, do ditongo [ow] a fo] ¢ a perda do segundo elemento do ditongo _" Sobre» pronincia devas [ej] (como em leite, feira) reduzido a [e?”. Sonsoamirs, ver noth 3. (©) Os dialectos dos Agores ¢ da Madeira exibem caracteristicas Na reito de Lisbos ee especificas. No arquipélago agoriano, 0 dialecto micaelense woe apresenta as vogais palatais [ti] a [8] que correspondem, respectivamente, a [u] ¢ [0] noutros dialectos (como em uva, {ii]va;, ‘pouco, p{]eo; bei, b{S}i; piotho, pilé)lho) ¢ arealizacdo de [0] t6nico como [u] (como em: doze, d[u}ze; amor, am[u}r). No arquipélago ‘madeirense nota-se a realizagao do [a] ténico por vezes como [3] (ex:casa, c[5]sa,), a substituicao do [i] tonico por [¥] (exs: idha [xjllha, Jardim, jard{i) e a realizacao de [1] como [<] quando precedido de {il (ex: filetes, fi[4Jetes,). No Mapa seguinte pode observar-se a di sa tage da ave com a caracterizagao acima apresentada”. Latse visto dialectal proposta por Lindley Cintra em 1971. foi reprodvzido de Caminvos do Portugués, cetélogo da, Exposigio Comemorativa de Ano Europeu das Lin- ae, Helena bboa: Biblioteca Nacional. 2001 165 (she 166 Dialectos portugueses setentrionais Discos wasnontnce # ako-nishotoe Bo. Dialectos portugueses centro-meridionais BEd Dates do cea cet Dineto do cent ince «dos [3 Fr Como se observa no Mapa, os dialectos setentrionais agrupam-se em duas regides: Trés os Montes e Alto Minho, em que se conservaram as quatro consoantes fricativas com prontincias distintas (as dpico-alveolares sonora [2] sonora [s}, que correspondem 2s grafias , , e as dentais sonora {ze nao-sonora [s], que correspondem as grafias e <¢>) e a regidio que engloba 0 Baixo Minho, o Douro Litoral e a Beira Alta, que manteve apenas as ficativas épico-alveolares. Por sua vez, nos dialectos centro-meridionais notam-se também duas regiées: 0s dialectos do Centro-Litoral (Estremadura e parte das Beiras) conservam 0 ditongo [ej] ¢ os do Centro-Interior e Sul, (Ribatejo, Beira Baixa, Alentejo e Algarve) reduzem este ditongo A vogal [e]. 5.1.3 Identificagdo e distribuigdo dos sons Até agora analisémos realizagdes foneticas de fonemas na perspectiva estrutural. ‘Também dissemos que a relacdo biunivoca entre fonemas e fones, nessa perspectiva, nao permitia compreender a insergio e a supressfio de segmentos. Para resolver este problema —e outros como, por exemple, a relagdo entre uma determinada realizado fonética e 0 contexto que a determina — estabeleceu-se, em lingufstica generativa, um nivel subjacente, que ¢ abstracto como o da fonologia estrutural mas que se relaciona com o de superficie por meio de regras. E neste nivel que se encontram os segmentos fonolégicos de cada lingua organizados em sistema. Para estabelecer o sistema fonol6gico de uma lingua é necessério comegar por observar os dados fonéticos, determinando a sua identificagio e distribuigao. Assim, para 0 estabelecimento do sistema fonolégico do portugués torna-se indispensével procurar as realizagées fonéticas que correspondem a elementos do sistema e as que correspondem a variagdes desses elementos. Utilizamos para esta identificagdo 0 método dos pares minimos. Em (5) ~ (7) esto inclufdas palavras que se relacionam por grupos e em que ocorrem todas as vogais (acentuadas ou t6nicas e niio acentuadas ou dtonas) € todas as consoantes (em posigao inicial, medial e final) do portugués. © As transerigdes fonéticas cocrespondetn a dialecto de Lisboa, © na quase totalide- 4e ao dialecto de Coimbra, entendidos ambos como constituinds 0 dialecto-pa- rao do portugués exropen. ‘Supoe-se, para estes trans crigbes fnéieas, uma pro- inca pausada, mas na es Pecialmente cuidads. Estio incluidas nas transerigdes ‘duas varantes regolares re= sultantes do contexto fons ico: a velarizagto do em final de sfaba, representa or [F] © 8 paletalizasio de ficatva is! em final de fae be, cepresentada por {f} ou or {3} conforme a conso- Ante que se segue ([f] ee @ consoance ndo for sonora © [5] se @ consozne fer ono. ra}. O seenta de paves nas lranserigbes fonctices esté colocade sobre 2 vogal, © alfabeto vilieado € 0 Alfa beto Fonético Internacional (AF. As palavras exemplificativas das vogais ‘© consoanies do portugués coincidem, na sua maior, ‘com a5 apretentadas no ca. pitulo 25 da Gramatica da Lingua Portuguesa » As vogais stonas pés.té nicas nfo finais nfo podem fer determinadss partir de ates rsnimos, por nto exis= tinem no poragués palavras ‘ue se distingsm apenas por ‘esse segmento, Assim, os ‘exempios de () server para indicar todas as vogais que conten nesta posigao, A vogal fi] pode encon: rare ex posit final em aigumas pelayras importa das ov cultas como réxi (caksi) © Jar? (3673, sendo, no entanto,excepcional esta ‘ocorrbncis 168 ‘Vogais ¢ consoantes do portugués europeu (nivel fonético)” (5) Vogais orais (a) Acentuadas {silo [stu [4] selo [sélu] (N) [€] selo—{setu) (Vv) (b) Atonas pré-ténicas (i) mirar (i) selar [i] selar [8] tetha — [téAe] (dial. de Lisboa) (4) talha [tae] [5] bola [bste) [6] bola [béle] [i] bula (bale) fe] talhar [u] bolada [micéc} {silér) {[silde] (tesér] (c) Atonas pés-tonicas ndo finais® @ Atonas em posigdo final fi) divida [divide] {u] cémoda [kémude] [e] id6latra fidstetce) Li] Gmega — [smige] (6) Vogais nasais® (@) Acentuadas (i) cinto sft) {8 sento — [séu} [é] canto [ku [6] mondo [médu} [a] mundo {miidu) [u]bato [e] bata [i] bate (batu) [bate] [bati) (b) Atonas pré-tonicas cintar sentar cantar mondar ‘mundial {sitar} [setae] [kta] {médée] [nda] [et bl 10) [e] ft [e) tl |) Consoantes (a) Iniciais pala tom calo fala selo cha mata lato (b) Mediais ripa lato rasca estafa caga acha mala gama sanha caro (©) Finais mal mar mas {pale} 06) (kélu) Ifate} {sélu] al [mate] {l4tu) Inipe] {létu] [Rafe] (rate) (kase] (afel (mate) {géme] [séne] {kéeu) (mat] {mde} {maf} bala dom. galo vala zelo ata rato riba lado rasga estava casa haja malha gana carro [bate (a6) {galu] [vale] {zélu} [34] {ndte) {Ratu] {ribe] (1édu] {rageu] {ftave] (kéze} (4e] [mace] (gene) {séne] [kéru] 2 No existern vogns nasis stonas pés-t6nieas. Anica sal tana em posigho al, [8], esté sempre ince fda num aitongo, como em pager (083i. ditongo (7. ov drféalsefew], ditonge (ow 159 \o6 * Outs normas e dalctos do portugues possuem alan- mas vogais econscertes que fo se encontram inclldas 10s grupos (5)(7), De en tue elas devem destaer (2) (B) © 1&3} 20 portaguss do Brasil (f. $.1.2) © (0, 1B) [8h © (2), nos dialectos sctentrionais de Portugal (vera referencia a antes dilectais em 5.1.1; (6) vibrant (7) que spr runeia com a coros da tin aus tocando vérias vezes, fos alvéolos © que se en conta nos ditectos do Nor te de Portugel e em alguns socilestos (esta eonsoante esd em variagto livre com (2, 04 seja, nat dialetoe em gue ocorre uma, no corte » outta) (4) (8), © {6}. 00 dialecto des. Miguel, Agores » Sobre a natureza das semivogais, ver também a intespretagio estrutaralista fem Morais Barbosa (1994), 6.18 170 Os grupos (5)-(7) incluem todas as vogais e consoantes do portugués ¢uy a ‘Opeu que ocorrem no n{vel fonético do dialecto-padrao™* Semivogais (ou glides) As semivogais ou glides que se encontrar no nivel fonético do po-tugusy (representadas por [j] € [w], {j] e [W]) constituem, com as vogais que as antecedem, ‘ditongos decrescentes’. As semniivogais fonéticas tém caracteristica, idénticas as das vogais [i] e [u), [i] € [ti], mas distinguem-se delas per terem uma prontincia mais breve, ndo poderem receber 0 acento de palavra nem constituirem nticleo de sflaba. A existéncia de semivogais fonolégicas tem sido muito discutida””. Em 5.1.4, propée-se que apenas as semivogais que ocorrem em ditongos decrescentes correspondam a semivogais no nivel fonol6gico, dado que somente nestes ditongos elas nunca podem ser pronunciadas como vogais mesmo numa fala pausada. A ocorréncia ce vogal € semivogal no nivel fonético esta apresentada nos exemplos seguintes em que se incluem todos os ditongos decrescentes do portugués europeu. Em ditongos nasais, as semivogais so necessariamente nasalizadas, 8) (a) Semivogais orais il Iw) (iw) vin (éw] teu [é]_hotéis [éw] véu [ej] ret [ew} saudade [ai] vai [a] vu [il dei {oj} coitado [uj] cuidado Como se pode verificar, as semivogais constituem ditongos orais com todas as vogais, excepto nos seguintes casos: *[ij], *[aw], *[uw]. Os ditonges [ej] ¢ [ow] existem em dialectos do portugués europen diferentes do dialecto-nadrio. e-em dialectos brasileiros, {or (b) Semivogais nasais a Iw) (mae, bem (éW7] mao (6) propse (iff) muito Distribuigdo das vogais e consoantes (fonotactica do portugues) No que respeita a distribuigo fonética dos segmentos, observa-se que: (@) Todas as vogais orais podem ser acentuadas, excepto a vogal [i]. (©) A vogal [i] ocorre entre consoantes (C-C) e em fim de palavra depois de consoante (C-#), mas nunca no inicio de palavra, Em fala coloquial, esta vogal é habitualmente suprimida (©) Em posigio final nao acentuada apenas se encontram trés vogais, (0), [i] eful. (@®_ As vogais nasais so em menor niimero do que as orais e nao ocorrem em sflaba pés-t6nica, excepto nos ditongos de palavras como viagem (vidgef], ditongo [xj], ou drgdo [Srgéw], ditongo [EW] ou, ainda, nas 9 lime anaes oe terceiras pessoas do plural dos verbos, como falem [fél8f] ¢falam [£416]. pose indcar-se com o sn bolo ($) 08 com um ponte (e) Omaior ntimero de consoantes ocorre em posigéio medial. 7 (© Asconsoantes que se encontram em fim de palavra so apenas [r], ft] 08 vorsade, ver vores [f]. No que respeita a estas consoantes, verifica-se que: + [F], além de terminar palavra ou sflaba, também pode iniciar silaba 5. sequtnia vives ume (peex. par [pée] /paro [pé-ru]); ordem contéris, ou seja femivogal e vogal, const + [flapenas se encontra em final de palavra ou de sflaba(p.ex. cal {kat} (tm Slane oeveenre ecaldo {kat-du}).. {ual ipo, Neste cas, femivogal ¢ promunciads ~ [f] encontra-se em final de palavra, mas em fim de sflaba’® alterna SoM" 88 fol pruse: com [3] conforme a sonoridade da consoante que se Ihe segue (p.ex. _guéacia de duas voguis © [J], nao-sonora®, ocorre em rasca [RAf-ke] ou em suspiro [suf-pieu) yn ee se porque as consoantes seguintes, {k] e [p] séo ndo-sonoras; [3], sonora, —_(misdu] / [mjédul, pie- ocorre em rasga [R45-ge] ou em Lisboa [li5-bée] porque [z}e [b] so (24, PED. A sssuincls sonoras).. jam pronuneadas como di tong erescente a fala co (g) No grupo (8) encontram-se ditongos decrescentes formados por vogale sie ¢ Pouce freavente semivogal® fe Bato (ex. boa (oe. im 172 (b) Nas sequéncias de consoantes devem distinguir-se: ~ 88 consoantes que terminam sflaba [cf] € que, por isso, sBo seguiday de outras sem constitufrem, no entanto, um grupo (eXs, carta, {rt remorso, (ts; marcha [e}, pulso, (+), palra, [-R); testa (f4) molusco [f-K); ~ duas consoantes sucessivas que pertencem mesma sflaba e que forman ‘um grupo préprio constituido, como se disse atras, por uma consoante oclusiva e uma liquida (exs. encontro, [tr], sobre, [br], claro, [kl] (pl). |, plural, Finalmente, se estabelecermos uma comparacdo entre as vogais acentuadas (tGnicas) ¢ as vogais nfo-acentuadas em trés posigées (pré-t6nicas, pds-ténicas ¢ finais étonas), classificando-as como altas, médias e baixas, vetificamos que as vogais em posigtio acentuada sfio em maior niimero e distribuem-se pelas trés alturas, enquanto as vogais finais sfio as menos numerosas, Quadro 1 Tonicas Pré- e Pés-t6nicas no finais Finai altas i u |i i uli u médias & ° baixas fe a 9 e z 5.14 Como estabelecer os segmentos fonolégicos Onivel fonolégico, ou seja, o nivel subjacente das realizagbes fonéticas, é um nivel abstracto, construido a partir (i) da andlise dos dados fonéticos e da formulagio de hipéteses para estabelecimento dos segmentos que corresporem a esses dados e (ii) da anilise e interpretagdo dos processos a que es segmentos esto sujeitos A formulagao de hipsteses para o estabelecimento dos elementos do sistema fonoldgico baseia-se em principios metodolégicos e na observagio das Tealizagdes fonéticas, Ion ‘As vogais Vejamos em primeiro lugar como se estabelece o sistema das vogais do portugues no nivel fonolégico, No caso de estarmos diante de vogais que tém uma tinica realizacao fonética, os segmentos fonolégicos correspondem a essa realizagio. Assim, podemos propor as vogais /i/,/e/, /e! /ol, /o/¢ Jal como segmentos fonol6gicos visto que em sflaba t6nica tém uma tinica realizacdo. J4 no que respeita a/a/e /e/, ambos emsflaba t6nica (tatha {te} e telha {véAe}) teremos que discutir se se trata de dois segmentos fonolégicos ou de um s6. Se for possivel determinar os contextos em que ocorre (v] t6nico, poderemos partir de um segmento fonol6gico /a/ e propor as condigdes contextuais em que esse /a/ passa a [e] ‘mesmo que seja acentuado, Vejamos os casos de ocorréncia de [e] ténico que sao exemplificados em confronto com palavras em que essa vogal esté em silaba dtona. @) cama [keéme) caminha — [kemipe) cana [keine] canavial (keneviét] (10) lenha [lipe] lenhador —[ipedér} telha [née] telhado — [tidadu] fecho {féfu)/{fjfu) fechar —_[fifr] cereja [singe [singe] cerejeira —[sirigejre] areia_[ergje) arenoso — ferinézu} Em (9) a vogal [2] t6nica esta seguida de consoante nasal, e ocorre também como [z] em posicao dtona, Podemos, neste caso, dizer que 0 /a/ subjacente passa a [e] quando acentuado e seguido de consoante nasal. A ocorréncia de [z] neste caso é, portanto, dependente do contexto. ‘Uma forma extremamente simplificada de indicar esta realizaco do segmento fonol6gico /a/ é a seguinte: (ly [MJemre Eo] nasal 173 Lito Como se disse ars, esta é uma pronéncia da vogel no Aialecto de Lisbos, % No dialecto-padrto, 0 e/ ‘fo acentuado também se realize como [o] antes da semivogal () (Pex. leraria Uejerie), Ver, a eae respei- 533. 174 Estaregra simplificada indica, depois da barra (/), 0 contextoem que corre & vogal sobre que se aplica a regra (precede uma consoante nasal 0s Barénteses recto indicam a informacéo pertinenteralativa ao segmer to ( (avogal acentuada ¢ a consoante é nasal). Por outro lado, esta regra de elevagio do /a/ actua depois da ap cago do acento ¢ por isso se indica que a vogal /a/ € acentuada ([+ac]) Observemos agora a ocorréncia de [x] t6nico nos exemplos de (10), no sentido de determinarmos se ele deve ser considerado fonol6gico ou resulta de aplicagio de alguma regra sobre um segmento de base. Os exemplos mostram que a vogal ténica [2] se manifesta [i] quaado étona (Dex. telha [téke] /telhado (tau). Logo, pode tratar-se das vogais /e ou &/ em forma subjacente, visto que sao estas vogais que sempre passam 2 fi avando niio acentuadas (p.ex. elo [sélu] ou selo [sé] /selar [si]. Vejamos Endo se as condigdes de contexto dessas possiveis vogeis /e/ cu /e/ nos icam 0 facto de se manifestarem como [e] em silaba As consoantes que se seguem a0 [2] nos exemplos apresentados so as palatais al, 4), [5] e [3]. Se propusermos que as vogais acentuadas Je/ ou fe! subjacentes passam a [2] quando seguidas de consoante palatal, teremos as formas correctas de (10). Mas essa regra nio se aplica a palavras como velha {véle], Teo [té5t], mecha Lmefe] em que 0 [e] ocorre no nivel fonético mesmo seguido de consoante Palatal. Podemos ento admitir a hipétese de que em velha, Tejo, mecha temos um /e/ subjacente e em lenka, relha ou fecko temos um /e/ subjacente. Se assim for, o [2] t6nico deriva de um /e/ seguido de consoante palatal, e nao de um /ei. Na realidade no dialecto de Lisboa munca se encontra fe} seguido destas consoantes, Por outro lado, palavras como area {eng permitem formulara mesma hipstese (lel [e]) antes de semivogal {j}, visto que no dialecto de Lisboa também ilo se encontra a sequéncia [ej]. A realizagio dele! como [v] nestes dois Contextos entende-se por a semivogal {j] ser palatal como as consoantes de lenha, telhae fecho. Em conclusio, podemos propor uma tinica vogal subjacente, /a, pera estes or ): (12) (a) tengéo/ intengdo {téséw7] / [kes] posto/imposto [postu] / fipsfiu] (b) acabado/ inacabado —_{wkebddul/ finekebédu] oportuno/ inoportuno — {opurténu] / [inopurténu] ‘Como vemos, quando o prefixo esta antes de consoante, a sua realizagao fonética é [7]; quando esté antes de vogal, realiza-se como [in]. Se partirmos do princfpio de que se trata de um prefixo com uma tinica forma subjacente, 0 que ocorre em inacabado € inoportuno & que o segmento nasal se realiza como consoante antes da vogal, ¢ a vogal que o antecede nao fica nasalizada. (iii) Do mesmo modo podemos explicar as palavras relacionadas dos grupos seguintes: (13) [@lirma [iemé} (14) irmanar — [iemende} [elpao [péw] panito —_ [penitu) Ver 5.3.3. sobre est res: igo, % Sobre & representesto do procesto de nasalisagto em geometria de trag0s, yer 2 Ver sobre esta questo em fonologiaestruraral, Morais Barbosa (1994), 79. 7.10. % Ver o tratamento desta ‘questo em Mateus (1975). Ta "As slabas esto separadas or pontos 176 (fim [ef] final [fina] [S]som [sd] sonoro — [sunseu) A vogal nasal de (13) corresponde & vogal seguida de consoente nasal em (14). E conveniente por em relevo que a consoante nasal Cue existe nas formas ortogréficas de muitas palavras como fim, som, ou ainda, amaram nao tem realizagao fonética como consoante e apenas indica nasalidade da vogal (iv) Resta notar que nao podemos ter uma vogal nasal em pemtiltima silaba se @ palavra for acentuada na ante-pentiltima (se for uma esdréixula), da mesma forma que essa pentiltima silaba nao pode terminar em consoante [2] ou [er] (exs. divida [divide] mas néo *[divida), comodo [R-Smudul mas nao *{Rémédu]) Estabelecemos assim, com base nestes argumentos, que as vogais nasais resultam de uma sequéncia de vogal e segmento nasal, © recebem a sua nasalidade desse segmento, Em certas circunstncias de contexto, o segmento nasal realiza-se como uma consoante e, nesse caso, a vogal nao é nasalizada™ A proposta aqui apresentada coincide com a da fonologia estrutura! e coma da fonologia generativa clissica no facto de considerar que as vogais nasais do portugués nao sao nasais no nivel fonol6gico. Diverge, todavia, dessas outras propostas pelo facto de apresentar um segmento [nasal] a seguir vogal, substituindo assim 0 arquifonema /N/ da fonologia estrutural™ e a consoante nasal da generativa cldssica®. A proposta de um segmento que no é um arquifonema nem uma consoante — porque pode realizar-se como nasalidade da vogal ou como consoante nasal -s6 6 possivel no quadro da teoria autossegmental aplicada em geometria de tragos, porque s6 nessa “eoria se pode considerar um segmento auténomo, funcionando num nivel p-6prio e, como veremos em 5.3.2., expandindo a sua propriedade nasal scbre o(s) segmento(s) que o antecede(m). ‘As semivogais (ou glides) Se pedirmos a um falante de portugués que pronuncie pausadamente as palavras leite ou paixdo (foneticamente [I¢jti] e [pajféw]), nao obtemos uma Separagdo de sflabas entre a vogal e a sefnivogal, ou seja, nao obtemos uma prontincia deste tipo “le.i.te ou *pa.i.xao”, mas sim, lei.te e pai.xdo, Por outro lado, as semivogais de ditongos decrescentes nunca podem altemar cor vogais, LR acentuadas em palavras relacionadas, ou seja, ndo encontramos duas palavras que se distingam como as duas prontincias de Leite [Iti] vs. *[lti). [Algo de diferente sucede se pedirmos para alguém pronunciar pausadamente palavras como piar, criada, petréleo. Neste caso, € natural que obtenhamos pir, cri.ada, pe.tré.le.o, em que o [i] de piar ou de criada é pronunciado como uma vogal € nao como uma semivogal. Apenas na fala coloquial, a ‘yogal [i] se manifesta, por vezes, como semivogal (veja-se [pjar], (krjade), {pitestjul). Alids, a ortografia de palavras como petréleo, oficio, estratégia inclui um diacritico com a justificagao de se tratar de palavras ‘esdnixulas’, 0 que supe que os dois sons finais so interpretados como duas vogais (e nao como um ditongo crescente). Podemos, assim, por a hipétese de que, nestes casos, 0s dois sons correspondam a duas vogais no nivel fonolégico Um outro argumento que justifica a afirmagdo de que este tipo de sequéncias éconstitufdo por duas vogais € 0 facto de, em certos paradigmas, a primeira poder ser acentuada, Veja-se, por exemplo, as formas pio [piu] (verbo piar) ou crio (kefu] (verbo criar), No seria aceit4vel que o mesmo segmento fosse, no nfvel subjacente, uma semivogal em criar ¢ uma vogal em crio. Em conclusao: perante os argumentos apresentados, deve considerar-se que as semivogais dos ditongos decrescentes correspondem a semivogais no nivel fonoldgico, enquanto os denominados ‘ditongos crescentes’ so constitufdos por duas vogais no nivel fonolégico as quais, na fala répida, se pronunciam como semivogais. As consoantes Vejamos agora como estabelecer o sistema das consoantes. No caso em que existe uma tinica realizago, 0 segmento subjacente corresponde a essa realizago. Tal sucede com as oclusivas /p/, /b/, It, /d/, IkJ, [gf e.com as fticativas /ff e /v/, 14 as fricativas (s}, [2], [f]e [3] apresentam alguns problemas. Como se disse em 5.1.1., estas tr€s consoantes estabelecem entre si oposigGes distintivas (p.ex. assa [4st], asa (4ze], acha [4fe), aja (438) oque permite consideré-las correspondentes a segmentos fonolégicos da lingua (sh, I2l, I$1, (3/)*. No entanto, em certos contextos nao encontramos esta ‘oposicao: em fim de sflaba ocorre [3] e (f] conforme a consoante que se segue 6 sonora ou nfo sonora (p.ex. lesma [Ié3me] ¢ lesta [I¢fte}) , no fim absoluto de palavra temos apenas [f] (p.ex. boas [b6uf]*) e, se a essa palavra se seguir outra comegando por vogal, realiza-se a consoante [z] (p.ex. boas amigas {bévz umige{]). Dado que 0 contexto implica a realizacio de apenas uma das consoantes, teremos de propor um segmento fonolégico tinico que se realizaré diferentemente conforme a consoante, vogal ou pausa que se Ihe seguir. © Bxtas consoantes fiat vas podem também denomiear se sbllantes © Em certs dialects bua leis, esta frcativa er f nal absoluto realiza-se come fs in HY Ver 5.22, + Vee nota, 178 Como se verd em 5.2.6., existem segmentos mais frequentes nas mundo que constituem muitas vezes, nas linguas particulares, os nGo-marcados, entendendo-se por este termo os mais naturais, os q ‘em muitas circunstncias na lingua. No caso das consoantes, $80 ma linguas do Seginentos Me Ocorrem, s frecuentes as dentais; por outro lado, as consoantes no sonoras so mais frequentes dy que as sonoras. Aplicando esta afirmagSes ds quatro consoantes [3,2 |) £5] devemos escolher/s/ como segmento fonolégico, admitindo que ee pas, a consoante palatal ([J}, [5]) ou a sonora ({z) em certas condicées de contexty Note-se que, como fricativa, ela mantém as suas propriedades bisicas era todgs as realizagoes" Relativamente as laterais, e como se disse em 5.1.1, estamos perante duas realizagdes do mesmo segmento fonol6gico([l]e[#)) visto que essas real zacBes se encontram em distribuicdo complementa, Teremos, portanto, que escolher entre as duas consoantes qual delas pode ser proposta como segmento fonol6gico. Vimos em 5.1.1. que {4} ocorre antes de outra consoante ou em final absoluto de palavra (p.ex. mal [mét], maldade [makdadi]). Os contextos de oco:réncia de [I] so mais numerosos: depois de outra consoante, antes de vogal e 2m fim de palavra se se seguir uma palavra iniciada por vogal (p.ex. placa [oléke) lado (Iédu}, mal amado [mél emédu}). Dado que contextos mais nurrerosos implicam, neste caso, maior frequéncia de acorréncia da consoante, ¢ dado que a lateral [#}, por ser velarizada, se pronuncia com um ponto de articullagio secundério 0 que torna a sua prontincia mais rara nas Iinguas do mundo, determinamos que 0 /I/ € 0 segmento fonolégico subjacente a an-bas as, consoantes, e sujeito a alteracéio nos contextos atrds indicados. Veja-se a Tepresentagio da alteragio de /l/ em final de palavra (simbolo #) e antes de consoante. Tal como em (11), trata-se de uma representagéo muito simpl ficada (15) vows i Do lado direito da barra encontra-se a indicaco da localizagéo da cor soante fonética. A chaveta abrangendo os dois simbolos do contexto indica que eles so alternativos: a consoante pode estar antes de outra (C) ou antes de fron de palavra (#) ira Coneluindo, ficam deste modo estabelecidos os segmentos fonolégiens do Portugués tanto no sistema das vogais como no das consoantes. is Leituras complementares Cintra, Luts Filipe Lindley, 1971 Novaproposta de classificagdo dos dialectos galego-portugueses. Boletim de Filologia, XXII, 81-116. Faria, Isabel Hub, Carlos Gouveia, Emilia Pedro e Inés Duarte (orgs.), 1996 Introducdo & Linguistica Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho. (Capitulo 4) Mateus, Maria Helena e Maria Francisca Xavier, 1990/1992 Diciondrio de Termos Linguisticos. Associagao Portuguesa de Linguistica ¢ Instituto de Linguistica Te6rica e Computacional Lisboa: Edigdes Cosmos (Volume 1). Morais Barbosa, Jorge, 1994 Introducdo ao Estudo da Fonologia e Morfologia do Portugués. Coimbra: Almedina, Actividades 1. Faga a wanscri¢&o fonética das seguintes palavras agrupadas em pares. Diga quais dos pares aparentados constituem ‘pares mfnimos’. a) catar / matar; b) cave / clave; c) casta / lasca; d) gente / quente 2, Partindo do nivel fonético do portugués, apresente dois pares de palavras gue contenham alofones do mesmo fonema. Justifique os exemplos dados referindo-se a distribuicdo complementar. 3. Explique por que se pode dizer que certas fricativas em fim de sflaba sofrem uma neutralizagiio. Apresente outro exemplo de neutralizagao de fonemas no portugués europeu. 4, Tendo presentes dois dialectos do portugués, faga duas transcrig6es fonéticas da mesma frase que mostrem a variac&o dialectal. Classifique as diferencas que encontrou do ponto de vista fonético. 179 ke —— 5. Apresente, em transcrigo fonética, a mesma frase pronuneiada po. yp brasileiro e um portugues. Explicite as diferencas clasificando-as do porn de vista fonético. « 6. Das transcrigdes fonéticas que se seguem, indique: ) As que constituem palavras do portugues. b) As que nao so mas podiam ser palavras desta lingua. Justifique [sebide] [préku] [zugéti] [plzd] [pire] [kefgu) 7, Diga aque restrigdes esta sujeita a distribuigdo das consoantes em port tendo em conta a sua posigo na palavra (inicial, medial e final). 8. Na diferenga entre fonética e fonologia, importa fazer notar o “car‘eter abstracto da fonologia” Explique o que entende por esta frase estabelecendo uma relagdo entre uma sequéncia de sons e a correspondente sequéne a de fonemas. 9. Represente sob a forma de regra, de modo simplificado, as seguintes descrigdes (a) /e/ passa a [e] quando estd seguido de uma consoante palatal (b)/sf realiza-se como [f] quando esta seguido de uma conscante [-vozeadal. Sugestées de solucées para as actividades propostas 1. Faga a transcrigdo fonética das seguintes palavras agrupadas em pure’. Diga quais dos pares apresentados constituem ‘pares minimos’ a) catar/matar; b) cave / clave; c) casta /lasca; d) gente /quente Resolugéo: a) (ketée] / [meta]; b) [kévi] /[klévi]; 2) [kéfte] / [lage]; d) (3 [keti] Pares minimos: a), d) 180 > +, Partindo do nfyel fonético do portugues, apresente dois pares de palavras ~ contenham alofones do mesmo fonema. Justifique os exemplos dados = eferindo-se & distribuicio complementar. Resolugdo: (a) épis [14pif] / salto [sétru] - fonema: MV; alofones: {I} [4] Justificacdo: Antes de vogal, /V/ ocorre sempre como [I]. Depois de vogal, se estiver em fim de silaba, /V/ ocorre sempre como [#]. Como no ocorrem nos mesmos contextos, considera-se que estéo em distribuigao complementar visto que a realizagao do fonema implica a realizago dos dois alofones. (b) pasta {péfte] / pasmo [p45mu] —fonema: /s/; alofones: {fe (5) Justificagao: O fonema /s/ em final de silaba ocorre como [f], nao- ‘sonora, quando a consoante seguinte é ndo-sonorae ocorre como [5], sonora, quando a consoante que se segue € sonora. A justificagio idéntica & dada em (a). 3. Explique por que se pode dizer que certas fricativas em fim de silaba sofrem uma neutralizagdo. Apresente outro exemplo de neutralizagtio de fonemas no portugués europeu. Resolugdo: Em fim de sflaba, a tinica fricativa que ocorre € /s/, que se realiza como [f] ou {1 conforme a sonoridade da consoante seguinte. Estas duas consoantes podem, no entanto, corresponder a fonemas distintos como em acha [4fe] € haja (43e]. O facto de, em fim de sflaba, s6 se poder realizar uma ou outra de acordo com o contexto mostra que, nesse contexto, existe uma neutralizagiio das duas possibilidades que, em acha ¢ haja, esto em oposig&o distintiva. Outra neutralizacao de dois fonemas € a que se da no inicio de palavra e no fim de sflaba, entre as duas vibrantes: no inicio, s6 pode ocorrer (R); no final, apenas {r]. No entanto, entre consoantes, podem ocorrer as duas consoantes: caro (kéRu] € caro (kara). 4, Tendo presentes dois dialectos do portugues, faca duas transcrigdes fonéticas da mesma frase que mostrem a variagdo dialectal. Classifique as diferengas gue encontrou do ponto de vista fonético. 182 Resolugdo: (@) Dialecto de Chaves (transmontano) achave caiu (e Tavs keiu}] Dialecto de Lisboa (centro-meridional) a chave caiu [e sévt kefu] (b) Dialecto de Lisboa (centro-meridional) gostas da feira? [gafiws de fejce] Dialecto de Evora (centro meridional) gostas da feira? (géftwg de fére] Em (a) temos uma consoante afticada, {iJ}, no dialecto transmonteno, correspondendo a uma palatal fricativa, [J], no dialecto de Lisboa, Em (b) temos um ditongo no dialecto de Lisboa, [yj], que corresponde a uma Vogal, [é], no dialecto de Evora. 5. Apresente, em transcri¢ao fonética, a mesma frase pronunciada por um brasileiro e um portugués. Explicite as diferengas classificando-as de ponto de vista fonético, Resolugdo: A menina saltou de alegria (a) Portugués brasileiro (PB) [aminine sawt6 djalegrie) (b) Portugués europeu (PE) [eminine sats djvligeie] Diferengas: ‘Vogais dtonas: No PB, as vogais étonas saio menos reduzidas do que no PE ((a]/ fe}; [i] / fi); [e] / [i]), excepto o [e] final de palavra. Consoantes: No PB o /I/ final de sflaba realiza-se como a semivogal [w]. No PE realiza-se como a velarizada (2). UG oPB, a ocusiva dental realiza-se como uma aticada, [G). antes de [i] (neste oro, (i) dtono correspondente a0 [i} do PE). A vogal étona semivocaliza star seguida de uma vogal no encontro das duas palavras. No PE a oclusiva Rios tome afticada e, no encontso das duas palavras, 0 [i] passa aj] antes da vogal (e]- Das transcrig&es fonéticas que se seguem, indique: ‘a, As que constituem palavras do portugués. b, As que néo sto mas podiam ser palavras desta lingua. Justifique. [sebide] {pedku] [3ugéti] {plai] [pire] {kefgu] Resolugdo: Palavras do portugues: {sebide), [sugéti), [pire] Palavras que podiam ser do portugués [prékul (como [frékul) e [krigu] (como [trfgul). {plat] tem uma sequéncia de trés consoantes inadmissivel em portugues. 7, Digaa que restrigGes esta sujeita adistribuigdo das consoantes em portugues, tendo em conta a sua posigao na palavra (inicial, medial e final). Resolugaio: Consoantes simples Inicjal: Nao se encontram em posigao inicial as consoantes palatais {p] ¢ [A]. Medial: Nao hé restrigdes de ocorréncia nesta posicao. Final: Apenas as consoantes [4], [f], {e]- Existem variantes contextuais: {{] concorda em sonoridade com a consoante seguinte; se forem seguidas de vogal realizam-se da seguinte maneira: (#] como [Je [f] como [z]. Sequéncias de consoantes Em posigao inicial ou medial existem restrigGes que levam a que os grupos aceites na lingua sejam constitufdos por oclusiva seguida de Ifquida ([pr}, [br], {t, [ar], Oke), (gel; pl, (OI), (kt, [gH (ule [al] so raros). As sequéncias de consoante fricativa e liquida ocorrem também em portugués mas nao cobrem 183 |Z SESE 3 © Vero capitulo sobre sflsba selatvamente 8 restrgho de sequtnciss de consoantes em exaque 184 todas as possibilidades (p.ex. livro [ve] ou frito {fe}). Outras sequencias como [ps], de psicologia, ou [tm], de ritmo, ocorrem por vezes em portugues europeu mas nao sao habituais. Em posigdo final, as trs consoantes /V/, /t/ ¢ /s/ ocorrem sempre scinhas, 8. Na diferenga entre fonética e fonologia, importa fazer notar o “carécter abstracto da fonologia”. Explique o que entende por esta frase estabelecendo ume relagdo entre uma sequéncia de sons e a correspondente sequéncia de fonemas, Resolugaio Tendo presente que a fonologia estuda os sons com o fim de determinar como é que as realizagbes fonéticas correspondem a segmentos que t m fungao linguistica, e como que esses segmentos se organizam em sistema, é necessario observar os dados fonéticos ¢ integrar essa observagio em prinefpios tedricos e metodoldgicos. Neste contexto, é possfvel propor hipdteses acerca dos segmentos que constituem o nivel fonolégico da lingua € que devem corresponder ao conhecimento que o falante tem da sua lingua neste nivel da gramética. O nivel fonolégico é, portanto, um nivel abstracto, construido a partir da analise dos dados fonéticos, da formulacao de hipéteses para estabelecimento dos segmentos que constituem esse nivel e dos processos a que estes segmentos esto sujeitos. 9. Represente sob a forma de regra, de modo simplificado, as seguintes descrigdes (i) /e/ passa a [e] quando esté seguido de uma consoante paletal. (ii) /s/ realiza-se como [f] quando esta seguido de uma consoante {-vozeada). Resolugao: (@) ry fel > [fe] / EY lp palatal | ) c 1 1 Sse Os segmentos como conjuntos de tracos Objectivos e resumo Pretende-se, na secgo 5,2., que o aluno: + compreenda a importancia da classificagio dos segmentos com tragos distintivos e distinga tragos fonéticos de tracos fonolégicos; + conhega os tracos distintivos de base articulatéria, necessérios para a classificagzo dos segmentos fonol6gicos do portugués. Relacione os tragos com 0 modo € o ponto de articulagdo dos segmentos e saiba construir uma matriz fonolégica; + compreenda os conceitos de redundincia e de subespecificagao; + apreenda o interesse do modelo da geometria de tragos, compreendendo a sua possivel aplicagao ao portugués. Para permitir que sejam atingidos os objectivos indicados, neste capitulo faz- -se uma primeira referéncia a importncia dos tragos distintivos, apresentando- -se de seguida aqueles com que serdo classificados os segmentos fonol6gicos do portugués, As matrizes fonoldgicas das vogais e das consoantes sfio a aplicaglo desses tragos na classificago dos segmentos e possibilitam a discussio do conceito de redundancia que permite eliminar alguns tragos na identificagao dos segmentos. Em seguida € apresentado 0 modelo da geometria de tragos provando-se a vantagem da sua utilizagdo e exemplificando a sua aplicagao na identificagao de segmentos fonolégicos. O capitulo termina com a discussao do conceito de subespecificagao e a sua aplicagao sobre uma consoante do portugués. 185 l22/p. ase

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