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Adriana Thomazotti
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Apresentação
Quando tratamos do fazer psicopedagógico, é preciso lembrar que vai muito além da
simples indagação sobre as razões pela qual a criança não aprende. É preciso
considerar que o aprendente domina os recursos que são elaborados na sua realidade,
a partir dos quais poderá dar significado, ou não, à aprendizagem.
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E compreender tais processos implica perceber que estes não se restringem a uma
simples adaptação à cultura, mas se estabelecem na ação e transformação dos
contextos culturais. E como a escola surge nestes contextos de interação? Na medida
em que a educação tem suas normas, valores e condições alicerçadas na cultura (não é
possível pensar a educação sem considerar que está integrada aos contextos culturais
de sua criação), as instituições escolares também são fruto da relação entre
cultura/educação/meio social.
Por exemplo, um aprendente que pertença a um meio social mais aberto, em linhas
gerais, terá, provavelmente, maior dificuldade de interação em uma instituição escolar
mais conservadora, na qual tenha menores probabilidades de agir como está
acostumado em seu meio, devendo se adaptar à normas e regras que talvez não façam
sentido para sua percepção de mundo.
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A psicanálise não pode ser simplesmente alinhada como mais uma teoria do
desenvolvimento e da aprendizagem na formação de professores como se
apenas prolongasse a própria visão que a escola tem de si. (BACHA, 2003, p.
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É preciso pensar a psicanálise como um caminho, através do qual se faz possível olhar
para a educação a partir de novos pontos de vista, associada à própria humanidade,
que passa a ser percebida como sujeito do saber.
Mas é preciso lembrar o lugar da psicopedagogia: ela não trabalha estritamente com o
sujeito cognoscente, como o faria a partir do olhar pedagógico, nem com o sujeito do
inconsciente, desejante, característico da psicanálise.
1.2 Eu é um outro
Forbes (2021) lembra um verso de Rimbaud: “Eu é um outro", e destaca que “tudo o
que de mim captarem será sempre de um outro”, o que significa dizer que toda a
representação que temos sobre nós mesmos é construída a partir do olhar do outro:
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(...) Num quarto onde existe uma única vela, a mão colocada perto da fonte
luminosa pode obscurecer a metade do quarto. O mesmo ocorre com a
criança se, no começo de sua vida, lhe for infligido um dano, ainda que
mínimo: isso pode projetar uma sombra sobre toda a sua vida. É muito
importante entender a que ponto as crianças são sensíveis; mas os pais não
o creem; não podem imaginar a extrema sensibilidade de seus filhos e
comportam-se, na presença deles, como se as crianças nada sentissem
diante das cenas excitantes a que assistem. (FERENCZI, 1928/2011, p. 5-6)
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Podemos perceber, assim, que o investimento do outro, a relação com o outro são
essenciais para se organizar um cenário no qual a criança possa se sentir segura,
desejada, amada, de modo a desenvolver o desejo pela aprendizagem – a ausência de
investimento está relacionada à ausência de desejo, o que conduz a uma
aprendizagem que não se apresenta como significativa para o sujeito.
Uma aprendizagem que não se apresente como significativa não é algo indiferente: a
aprendizagem leva a transformações no comportamento do aprendente, em uma
combinação complexa de intencionalidade e vontade, que se apresenta na melhor
forma quando se dá em um contexto sócio-afetivo, ou seja, quando há o vínculo entre
aprendente e ensinante.
A relação entre ensinante e aprendente é uma relação que se estabelece entre dois
sujeitos que compartilham, além de conhecimentos, um espaço de intersubjetividade.
Mais importante que o conteúdo a ser ensinado, é o molde relacional que se imprime
na subjetividade do aprendente, que pode ser marcada pela alegria ou pela frustração,
pela facilidade mediada pelo ensinante ou por perturbações, dificuldades e desafios
que parecem instransponíveis.
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É possível dizer, assim, que é a partir da subjetividade que se coloca na relação entre
ensinantes e aprendentes, que se colocam as possibilidades de pensar, sentir e criar
mais ou menos livres.
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Mas essa é uma abordagem que exige um cuidado especial: o psicopedagogo deve
trabalhar uma real percepção de si, de modo a não permitir que seus próprios valores
guiem suas estratégias de intervenção, uma vez que sua postura com relação à
aprendizagem influencia o trabalho com os membros da família, propiciando a
ressignificação dos seus papéis de ensinantes (e também de aprendentes), levando a
uma maior segurança para lidar com o próprio processo de aprendizagem.
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Conclusão
REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES
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