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FOLEY, Robert. 2003. “Quando nos tormamos humanos?”. Jn. Os hi sda hn i: ‘evolucionista. Sao Paulo: Editora UNESP, pp. 71-105. PLOTTER COPY ORIGINAL DA PASTA Ne: PROF QUANTIDADE: VALOR: _ Quando nos Tornamos Humanos? © Problema do Tempo ‘Uma pesquisa de opinido reelizada recentemente nos Estados Unidos, com o fim de avaliar o conhecimento cientifico da populace, mostrou 0 resultado ligeiramente alarmante de que 60% das pessoas pensavam que os humanos foram contemparfineos dos dinossauros. Néo hé duvida de que essa situago, em parte, se deve a filmes como Dois bilhdes de anos a.C., que mostrava Rachel Welch como uma garota das cavernas no meio de dinos- sauros pesaddes, mas ela revela também uma generalizada falta de compre- enséo da dimensfo temporal da histéria, Embora possa fazer pouco sentido conhecer a cronologla evolucionéria exeta, ¢ tampouco saber que a Batalhé de Hastings ocorreu em 1066, ¢ nfo em 1067, & imporcante ter alguma nogdo da escala geral, Se a espécie humane tivesse apenas dois mil anos, {sso terla implicag6es extremamente diferentes quanto a varias quest6es, do que se cla tivesse dois milhées de anos (mais préximo de resposta corre- 1), ou duzentos milhées de anos (mais préximo dos dinossauros), Parte do problema, sem dtivida, reside na difculdade que qualquer pessoa tem de compreender perfodos de tempo muito vastos. Se a Batalha de Hastings, ‘ocorrida h4 menos de mil anos, parece totalmente remota, 0 quéo mais dificil néo serd entender um perfodo de mais de um milhio de anos, ‘A concepefo temporal humana nos permite compreender perfodos de ‘tempo que tenham significado pessoal ~ quantos dias falta para um feria- do, ou quanto tempo de cadela merece uma pessoa que roubou tum carto =. mas, além desse tempo humano, toda a operagdo se torna bastante aleatérid: 2 ROBERT FOLEY A longevidade dos humanos ¢ tal que a maior parte das pessoas pode facll- ‘mente lidar com os perfodos de tempo que elas, ou as pessoas que a cercam, tenham testemunhado. Na prética, sso quer dizer os avés ~ trés geras6es, ‘ow um perfodo de cerca de 75 anos. Sendo assim, para ume pessoa que hoje tem trinta oti quarenta anos, a Primeira Guerra Mundial representa o limite do tempo que pode ser pelo menos indiretamente compreendido em ter- mos pessoais, Fara pessoas de vinte anos, essa linha-base seria a Segunda Guerra Mundial. Quando pensamos apenas na histéria registrada~a partir ddo comego da era cristd, por exemplo ~ esse perfodo incluiré cerca de oiten- ta gerag6es, Voltar as origens da espécie humane implica tes, no minimo, ‘uma leve compzeensio do que significam oito mil geragées. E ébvio que xnés nem podemos nem quererfamos saber o que aconteceu em cada uma dessas geragées, mas é necessério entender que, nesse tipo de contexto, o8 acontecimentos de uma tinlee, ou mesmo de uma cizia ou de cem geragdes siio insignificantes. As unidades e conceitos em escala humana nfo podem ser aplicados a um perlodo de tempo que v4 além dos tipos de andlises interpretagdes que ajudam a por ordem e a explicar acontecimentos recen- tes. E 0 papel ca biologia evolucionéria mostrar como o longo ¢ 0 curto prazos poder, de alguma maneira, ser unificados, e dar uma resposta signi- ficativa a pergunta “quando nos tornamos humanos?” A pergunta é significativa por outras razdes, além de simplesmente nos tomar capazes ce dizer “hd muito tempo”, ou até mesmo “hé muitissimo tempo”, Em terrios filoséficos, pode haver implicages quanto a compreen- sto dos efeitos que os humanos causam em seu melo ambiente, ou da estabi- lidade das formes de comportamento e adaptago humanos; 20 passo que, tecnicamente, pode haver implicacGes importantes em diversidade genética, ‘Muitas vezes foi preciso levantar hipéteses a respeito de h quanto tempo certos povos vivem em determinadas regides e, portanto, de quais seriam seus direitos sobre aquela terrae seus recursos. A importancia, por exemplo, do fato de que osaborfgines australianos habitam a Austrdlia hd quarenta mil anos depende nao apenas do perfodo relative do tempo da colonizagéo euro- péia (cerca dé duzentos anos), mas também do perfodo de tempo em que os Jhumanos estiverim presentes em outras partes do mundo, £ claro que § relativamente simples fazer a pergunta “quando nos tar- ‘amos humanos?”, e somos tentados a dara ela urna resposta muito trivial, No entanto, o que acontece é que essa pergunte, na verdade, & muito dificil de responder. Hé duas razGes para isso. Uma, é que o registro dos féssels, 2 fonte priméria de informacéo sobre o passado distante, ¢ apenas um regis- tuo parcial e, os poucos restos que foram pfeservados nfo nos déo nada (08 HUMANOS ANTES DA HUMANIDADE n ld} de uma imagem censurada do passado, Hé sempre a possibilidade de que lim féssil ainda mais remoto venha a ser encontrado, e que isso vera 4 fier que as origens humanas recuer ainda um milho de anos, ou coisa issih. Fatos como esse aconteceram repetidamente ao longo da histéria da posdlisa sobre a evolusdo humana, desde a descoberta dos primeiros Aus tralopithecus, na Africa do Sul, em 1924 (que,"ao que se pensava & época, datallam de cerca de um milhdo de anos), até a descoberta de “Lucy”, ou 0 Austfalopithecus afarensis, na década de 1970 (cerca de tr€s milh&es de anos), ‘ou o\Australopithecus ramidus (quatro milhGes de anos), encontrado em 1994.! ‘Um jnilhio de anos a mais ou a menos,pode ngo fezer muita diferenca, em cerigs sentidos, mas quanco isso representa a duplicagko da antigiidade da JinhAgem humana, ea,ggneeqtiéncias podem ser importantes. outra razdo & que, embora possa ser importante datar de forma pre- origens dos grupos especifices de hominfdeos e de nossa prépria , nem, sempre & claro o que isso possa significar para as origens da finidade ou da condicio de ser humano, Encontrar um fossil de cinco milhGes de anos que tenha dentes semelhantes aos nossos pode ser impor- tanté; mas isso ndo significa necessarlamente que essa criatura fosse huma- na, Na verdade, o real propésito deste livro é mostrar que ser humano e ser ‘um hiomninideo nfo sfo, de modo algum, a mesma coisa. Perguntar “quando ‘nod tornamos humanos?” virrualmente nos aprisiona na resposta “depende olglle voc# quer dizer por ser humano”, E é bem claro que diferentes pes- ‘s0gs)usario dritérios diferentes para determinar se uma determinada popu- lego eruzou ou nfo a inka que a transforma em humana, f © Longo, o Curto, o Bipede (© que necessério & examinar alguns desses critérios e ver como eles forietem respostas diferentes & questo da antighldade da humanldade, Dois problemas inffuenclam a maneire pela qual a pergunta poderia ser respondida: ‘primeira é se 0s crtérios deixaram indicios no registro de fésseis. E a segunda é estes indicios ttm alguma utiidade? Serd que eles realmente contém infor- rmaj6es sobre os humanos, ou seriam apenas marcas incidentais de um proces- 80 evoluciontrio continu e graduel, ocorrido no longo prazo? Logo ficaré claro ue essa pergunta é mais complexa do que parece & primeira vista. Y Reader (1988); White eral. (1994) %4 ROBERT FOLEY Basa complexidade hd multo fol reconhecida, Nos 150 anos que se pas- saram desde que a evolugio humana fol-reconhecida como um problema sério, houve, de fato, duas perspectivas:muito diferentes quanto a essa questéo, Para fins de simplificaco, elas poderiam ser chamades deo “Ion- go” €0 “curto”, Por um lado, hé a tradi¢fo de ver os humanos como tendo ‘uma ancestralidade singular, datando de jum passado longinquo. Embora o perfoco exato de tempo tenha variado, & thedica que nosso conhecimento e nossa capacidade de mensurar 0 passado geolégico progrediram, acreditou- se que os humanos fossem suficlentemente diferentes dos demais animais para que eles tivessem, necessariamente, que ter evoluido de forma inde- ‘pendente por um longo perfodo de tempo, Essa perspectiva, por sua vez, foi alimentada pelo desejo do paleontélogo = desejo muito natural, aliés - de encontrar fésseis humanos cada vez mais antigos ~ afinal, ninguém ganha- tla 0 Prémio Nobel por ter encontrado 0 Segundo féssil mais antigo. Por outro lado, hé os:se impressionaram com a simallaridade entre 08 hhumanos e.06.outros animals, os primatas ¢ 03 macacos antfopbides, em special. Ao pasto que a perspectiva longe s6 ve as diferencas, a perspectiva ‘cutta se surpreende com as similaridades, A inferéncia a ser extralda € que os hhumanos divergirem dos outros animais' apenas em épocas zelativamente recentes, tendo, portanto, uma curta histéria evoluciondtia independente, ‘A batalha entre o longo ¢ o curto vern sendo uma caracteristica da hist6- ria da paleontologia humana. E possivel tracar a histéria de ambas as pers- pectivas e da competicio entre elas, bem como do debate que vem se desen- rolando desde a publicagZo do primeito livro sobre a evolugdo humana ~ A linhagem do hemers, de Darwin2 O préprio Darvin, essencialmente, era parti- ério da cronclogia longa. Embora ele no contasse com registios de fosseis possu(sse apenas uma compreensio limitada da extensZo do tempo geolé- ico, ele, mesmo assim, acreditava que o homem tinha grande antigiidade. ‘As raz6es que ele tinha para essa crenca sfo interessantes.’ Para entendé-las, & necessério lembrar que, aquela época, a cronologia reconhecida e aceite pela maioria das pessoas cultas da Europe era excessivamente curta~ou sea, a cronologia baseada na hist6ria biblica. Esta sugeria que o mundo tinha apenas cerca de seis mil anos. Uma das principais controvérsias cientlficas do século XIX foi o ataque & Biblia como fonte de informacio geolégica. Lyell, 0 grande mentor de Darwin e fundador da geologia moderna, foi em grande 2 Darwin (1871), 3 Bowler (1989). se tink ie treed ulead ARN Ne de eevee in mugtsieseneee DA HUMANIDADE 6 parte responsével pelo estabelecimento da idéla de que o tempo geolégico era maior, por varias ordens de magnitude, Seu conceito de uniformica- rianismo ~ ou seja, que apenas 08 processos ¢ os mecanismos observaveis zo presente podem ser usados para explicar os acontecimentos passados ~ enfatizava a necessidate de perfodos de tempo multo mals longos para & ocorréncia de eventos zeolégicos (e biolégicos). De acordo com a ortodo- xia da Bfblia, o tempo era extremamente curto ~ segundo 0 Génesis, 0 mundo foi criado em seis dias, Para explicar todos os acontecimentos his- tbricos que podiam ser observados ~ 2 formagZo das montanhas, os depé- sitos macicos de sedimentos, a erosio de paisagens inteiras ~ num perio- co de tempo muito curto, seria necessério evocar pracessos que implicavam vastas quantidades de energie. Uma energia do tipo capaz de levantar mon tanhas em questio de horas, ou de criar as imensas transgress6es do mat que podem ser observidas nas vastas sedimentagdes marinhas encontra- das no alto dessas mentanhas ¢ que foram “testemunhadas” no grande cilivio biblico. Em outras palavras, uma cronologia curta exigia que os ‘gedlogos fossem extremamente econdmicos com o tempo, embora prédi- {gos com 2 energia.“ Foi sobre esse pano de fundo que Darwin eécreveu sua teoria da evolu- «io, Seu principal problema fol o de persuadir as pessoas de que selego natural era um mecanismo apropriado para as transformacées no mundo bioléyico. Para ta, usoa o principio do uniformitarianismo de Lyell e invo- cou apenas-os mecanismos que podia observar no mundo a sua volta. Con- seqtientemente, dado o tipo de mecanismos observados por ele ~ transfor- mages de geracio a geracdo por meio de variagdes em cruzamentos naturals ¢ artifcias -, reconheceu que as transformag6es deviam ser-multissimo Ientas e, portanto, gratuals. Isso significava que para que ele pudesse con- vvencer as pessoas de que tima ameba podia evoluir até transformar-se num peixe, eum peixe num anffbio, e um anfibio num mamifero, enormes peri- ‘odos de tempo eram necessérios. Isso se aplicava especialmente ao caso dos humanos. Os humanos, na visio vitoriana, eram completamente diferentes das demais espécies, e a implicagdo ébvia, portanto, era a de que eles vi- hem evoluindo hé ur: perfodo de tempo extremamente longo. 1ss0 signi ficava que, para tomar convincente o ponto defendido por ele, Darwin ti- mha que enfatizar a lentidio, a qualidade gradual ea longevidadé do processo ‘evoluciondrio que produziu os humanos. Dessa maneira, foi ele o responsé- 4 Rudwick (1970), oe 6 nose Fey t 3 ait [8 a 8s 1) dimen RECER ye Paleotnteopos He } ‘ramos Hy pee a Bb e 3 Beksenen aban iss Ea ae Fae UU sap PtzistocENo| aicbepeses UU vend WEY sectors WWE tn ans races Mp Secs funeeamch ane de todo 9 me raceme | LY #28 ( ey en fi me png he haze ieee nese opp en Soa cuscocano ni stn seers ‘Uma des primeicas reconstrugSes das relacSes evoluciondsas entre humane macacos € ‘Sssels hominideos, de autoria de Sir Arthur Keith, Ela mostra uma divergéncia muito antiga entre macacos e humanos, e profundas linhes divisdles entre as populeges hue ‘ants e para ca grupos féssels. Comparar com as estimativas modemnas mostradas na scala da evolusio humans, figura da pégina 81, ee (08 HUMANOS ANTES DA HUMANIDADE 7 I velptlaiéia de quea procura pelos humanos epor suas origens nos levaria ‘a ténipos cada vez mais remotos, registro de fosseis adentro, _Bssa tradigao foi mantida por muitos no decorrer dos cem anos seguin- tes! fla foi particularmente forte na Gri-Bretanha, onde os anatomistes, cujo. intérlsse em tcoria eyolucionista era em era limicado, adotaram o elemento ess cial do gradualismo como a parte-chave do pensamento darwiniano, orpinado assim o assunto, Em razéo desse graduallsmo, era natural que sem encontrar uma longa perspectiva, se estendendo até tempos re- Essa visio fol firmemente sustentada por Sir Arthur Keith, 0 decano estudos briténicos sobre a teoria da evolucéo. Como um dos autores mais inffadates do século XX, no tocante a questio da evolugie humana, ainfiuéncia de Kélth pode ser observada no trabalho de Louis Leakey, e também no do ‘lab He Louls, Richard.* Os Leakey contribufram mais do que qualsquer ou- twos jaca a descoberta de féssels humanos, ¢ seu éxito em encontrar féssels Ih Vex mais antigos foi, sem dévida, pelo menos em parte, alimentado por sualcpnvicsfo de que esses fosseis deviam datar de épocas muito mais remo tas lo que as que as demais pessoas nem sequer ousariam especular. Louis Leakey, em particular, estava preparado para levar a procura de fésseis huma- noslaké o Mioceno. De fato, tebalhando no Quénig Ocidental, na década de 1960] ele descobriu o que afirmava seremn ferramentas de pedira associadas a ‘um macaco conhecido como Kenyapitherus, Isso fez com que ele viesse a afir» mat dite seria possivel encontrar ancestrais dos humanos vivendo no apenas bcos milhes de anos, o que a maioria das pessoas considerava acltdve, ‘mas hé 14 milhées de anos, o que representava a perspectiva longa no seu aauge, Essa tradiZo continuou ao longo das décadas de 1960 ¢ 1970, quando surgiram polémicas quanto a, por exemplo, se Ramapithecus* merecia ou nfo © status de homindeo, Bsses debates sobre fésseis espectficos no passavam de continuagdo dos debates mais antigos, i Deve-se ressaltar que néo foram apenas as crencas herdadas de Darwin que fonsceram esse epolo perspective longa eeraram nteresse por el. De dotma clara, as contribulebes da anttopologia, da psicologla e da neuro- biologia, que pareciam, todas elas, enfatizaras diferencas entre os humanos of qutros animals, pareciam cotroborar a idéia da radical singularidade dosjhgmanos. Foi a combinagio dessa radical ingularidade de estrutura ¢ conjpjprtamento, associada & crenca de que a evolucdo tem que ser gradual, ‘Lewin (3987). 5 6 | Lewin (1987) 7% ROBERT FOLEY que, essencialmente, constituiu o ponto-chave da crenga de que a evolugéo humana se processara por um tempo muito longo, e de que, desde um pas- sado muito remoto, os homens diferiam dos animais “comuns”. O fato de que essa visio era filosoficamente mais aceitAvel e mais compativel com as crengas raligiosas pode bem ter sido um fator significativo na predominan« cla da perspectiva longa, ° . MACACOS vivos ‘A escala de tempo estimada da evolupfo dos hominideos & poca do debate sobre 0 Rangpithecs (1960-70). Se 0 Ramapithes fol um hominideo, isso indica que a cisio ‘entre os macacos e 0s hominideos ocorreu ha cerca de 15 millhGes de anos. As primeires ‘escimatlvas molecularese bloqulmicas paraa época desse acontecimento sugeriram uma deta entre cnco e dols milhées de anos atrés, (05 HUMANOS ANTES DA HUMANIDADE ® ‘No entanto, embora aperspectiva longa tenha preponderado durante os Ulkimos cem anos, ela nfo dominou o campo por completo. Na verdade, pra- ticamente todas as polémicas ocorridas na histéria des descobertas de fésseis humanos, desde o Australopithens africanus de Dart, até 0 "1470" de Richard Leakey, foram alimentadas pela contracrencade que os dados disponivels nfo corroboravam a cronolbgia longa. Esses dados se apolavam no trabalho de alguns enatomistes comparativos, que devam énfase nfo as diferencas, mas as similaridades entre os humanos e os macacos. Na verdade, a tradicéo da ‘perspectiva curta, como contrapeso para a perspectiva longe predominante, teve infcio com o principal partidério de Darwin nos debates sobre a evolu- ‘io, T. H. Hunley, Huxley era, antes de tudo, um anatomista, e realizou as primeiras andlises detalhadas da anatomia dos humanos e dos grandes maca- os.” Esses estudos mostraram que, em relagéo a estrutura anatémica bésica, a similaridades eram notéveis, e que, mesmo quanto 20 cérebro, havia, na verdade, pouces diferencas realmente fundamentais entre humanos ¢ macé- cos, Consegtientemente, ele nfo se impressionou tanto com as diferencas¢, de sua parte, estava preparado para aceitar que, embora a evolugéo tenha ‘ocorrido de forma gradual, 0s perfodos de tempo em questio no eram, ne~ cesserlamente, tfo vastos. Tem-se que admit que Huxley nfo estava prepa- rado para precisar a cronciogia com algum grau de detalhe, mas, apeser di 49, talvezIhe fosse possivelreivindicar a condi¢fo de precureor da perepectiva curta, na forma em que ela foi desenvolvida durante este século, Entre outros que talver se encaixassem, nesse padrlo de pensamento estava Reymond Dert,' o descobridor dos primeiros australopitecinos, na Aftica do Sul, em 1924, que estava disposto a aceltar essa espécie relative- mente primitiva como um ancestral, apesar do fato de ela ser mais jover que o Homem de Piltdown (mais tarde desmascarado como uma falsifcacio'), Isso traz para o primeiro plano a questo do que & aceitével como prova de que algo é humano. O que chama a atengéo nos australopitecinos é que eles possufam dentes e mandfbulas que pareciam relativamente modemos, mas tinham cérebros bastante pequenos, em totil contraste com o Homem de Piltdown, que mostrava as caracterfsticas contrdtias, um cérebro modemo dentes primniives. Isso nfo deve causar surpresa, uma vez que 0 crinio era, de fato, de um humano moderno, ea mandifbula pertencia a um orangotango. 7 Huxley (1863). 8 Dart (1925). 9) Spencer F (1980) & ROBERT FOLEY © que o Piltdown parecia sugerir, entretanto, era que a linha que levava aos +humanos caracterizava-se por uma ampliagio precoce do cérebro, Esperava- se que essa, a caracterfstica distintiva dos humanos, fosse o que primeiro se desenvolvere, No entanto, se 08 australopitecinos eram verdadeiramente an- cestrais dos humanos, os cérebros grandes devem ter-se desenvolvido em época relativamente tardiae, por inferéncia, de maneira bastante répida. Como tal, adescoberta de Dart foi rejeitada, ou pelo menos tratada de forma bastante

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