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14. Considere o texto seguinte.

Quando nós [os céticos] perguntamos se um objeto é como parece, admitimos que ele tem

uma aparência. Deste modo, a nossa investigação não se dirige à própria aparência. Em vez

disso, questiona o juízo que fazemos acerca dela, e isto é muito diferente de investigar a
própria

aparência. O mel, por exemplo, parece-nos doce. E isto nós concedemos, porque temos uma

sensação de doçura ao sermos afetados pelo mel. A questão, no entanto, é se este é doce,

independentemente do modo como nos afeta. Portanto, não é a aparência que é questionada,

mas o juízo que fazemos acerca dela.

14.2. Em que medida Descartes e Hume poderiam subscrever a dúvida cética expressa no
texto?

Na sua resposta, explicite os aspetos relevantes das perspetivas de Descartes e de Hume.

RESPOSTA:

A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.

Explicitação dos aspetos relevantes das perspetivas de Descartes e de Hume:

− segundo Descartes (na fase em que apresenta os argumentos céticos), não só não podemos
confiar nos sentidos, pois estes já nos enganaram, como não podemos ter a certeza de que
não sonhamos quando julgamos estar acordados;

− por exemplo, quando mergulhamos uma vareta de vidro num copo de água, podemos ter a
ilusão de que a forma da vareta se alterou; mas Descartes mostra que nem sequer podemos
afastar a hipótese de o próprio ato de mergulhar a vareta de vidro no copo de água ser, afinal,
parte de um sonho;

− segundo Hume, apenas temos perceções (impressões e ideias), mas não temos acesso aos
objetos que consideramos serem as causas das nossas perceções;

− ora, para sabermos/admitirmos que as perceções resultam dos objetos, teríamos de


observar as perceções a serem causadas pelos objetos, o que é impossível (pois nós só temos
acesso às perceções).
16. .............................................................................................................................

...................... 14 pontos A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros

igualmente relevantes.

• Clarificação do problema:
− o problema é o de determinar se, do resultado das experiências realizadas,
é correto inferir que as teorias são verdadeiras OU determinar o resultado
da aplicação do método científico;
− está em causa decidir que papel têm os testes empíricos na
validação/justificação das teorias. • Apresentação inequívoca da
posição defendida.
• Justificação da posição defendida ‒ cenários de resposta:

RESPOATA:

No caso de o examinando defender que, na condição indicada, se


pode considerar que a teoria é verdadeira:
− a indução está na base do conhecimento do mundo e da nossa
sobrevivência;
− depois de se observar repetidamente que um dado fenómeno ocorre em
certas circunstâncias, está justificada a nossa crença de que fenómenos
semelhantes ocorrerão sempre que as mesmas circunstâncias se
verificarem (por exemplo, depois de observarmos repetidamente que os
ovos se partem quando caem no chão, a nossa crença de que os ovos se
partem quando caem no chão está justificada);
− a indução também desempenha um papel fundamental na avaliação das
teorias;
− se um conjunto extenso de testes está de acordo com a teoria, sem
exceção, é aceitável inferir que nenhum teste a refutará e que é
verdadeira.
No caso de o examinando defender que, na condição indicada, não se
pode considerar que a teoria é verdadeira:
− a indução desempenha um papel fundamental na avaliação das teorias;
− se um conjunto extenso de testes está de acordo com a teoria, pode dizer-
se que a teoria foi confirmada pelos testes e que é provavelmente
verdadeira;
− o grau de confirmação depende do número e da exatidão dos testes
realizados;
− contudo, não é possível excluir a possibilidade de, no futuro,

haver testes que refutem a teoria. OU

− a indução não desempenha qualquer papel na avaliação das teorias;


− se testes rigorosos estão de acordo com a teoria, pode dizer-se que os
testes realizados não refutaram a teoria e que, nessa medida, a teoria foi
corroborada pelos testes;
− mas a procura da verdade, o objetivo da atividade científica, requer que
façamos testes mais exigentes, que continuem a pôr a teoria à prova;
− a possibilidade de a teoria falhar perante testes mais rigorosos nunca pode
ser excluída.
Nota ‒ Os aspetos constantes nos cenários de resposta apresentados são apenas ilustrativos, não
esgotando o espectro de respostas adequadas possíveis.

16. Leia o texto seguinte.

Estabelecemos [...] que todos os corpos [...] são compostos de uma mesma matéria,

indefinidamente divisível em muitas partes [...], as quais se movem em direções diferentes

[...]; além disso, estabelecemos [...] que continua a haver a mesma quantidade de movimentos

no mundo. No entanto, não podemos determinar apenas pela razão o tamanho dos pedaços

de matéria, ou a que velocidade se movem [...]. Uma vez que há inumeráveis configurações

diferentes de matéria, [...] apenas a experiência pode ensinar-nos que configurações


realmente

existem.

16.2. Colocando-se na perspetiva de Hume, como avaliaria a distinção exposta no texto por
Descartes?

Na sua resposta, considere os factos referidos no texto.

RESPOSTA:
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.

Avaliação da distinção exposta no texto por Descartes à luz da perspetiva de


Hume:
− Descartes afirma corretamente que tanto o tamanho e a velocidade dos
pedaços de matéria como as configurações de matéria que realmente
existem se determinam pelo recurso à experiência;
− no entanto, está errado ao afirmar que apenas pela razão se pode
determinar que os corpos sejam compostos de uma mesma matéria,
indefinidamente divisível em partes que se movem em direções
diferentes, e que a mesma quantidade de movimentos se mantém no
mundo (pois estes factos também só podem ser determinados pelo
recurso à experiência);
− estas são questões de facto, e não relações de ideias (pelo que não
podem ser determinadas apenas pela razão).
2. Leia o texto seguinte.

Há uma questão que, na evolução do pensamento filosófico ao longo dos séculos, sempre

desempenhou um papel importante: Que conhecimento pode ser alcançado pelo pensamento

puro, independente da perceção sensorial? Existirá um tal conhecimento? [...] A estas


perguntas

[...] os filósofos tentaram dar uma resposta, suscitando um quase interminável confronto de

opiniões filosóficas. É patente, no entanto, neste processo [...], uma tendência [...] que
podemos

definir como uma crescente desconfiança a respeito da possibilidade de, através do


pensamento

puro, descobrirmos algo acerca do mundo objetivo.

A. Einstein, Como Vejo a Ciência, a Religião e o Mundo, Lisboa,

Relógio D’Água Editores, 2005, p. 163. (Texto adaptado)

Será que tanto Descartes como Hume contribuíram para a «crescente desconfiança» referida
no texto?

Justifique a sua resposta.

RESPOSTA:
2. .....................................................................................................................................................
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Indicação de que é falso que ambos tenham contribuído para a desconfiança referida no
texto (desconfiança a respeito de haver conhecimento substancial a priori) OU de que
apenas Hume contribuiu para a desconfiança referida no texto OU de que Descartes não
contribuiu para a desconfiança referida no texto.
Justificação:
‒ Hume defendeu que podemos descobrir a priori relações de ideias; todavia, os raciocínios
pelos quais descobrimos relações de ideias não permitem conhecer questões de facto
(conhecimento substancial); por exemplo, saber a priori que nenhum solteiro é casado não
fornece qualquer indicação acerca do estado civil de quem quer que seja, o qual só pode
ser conhecido a posteriori/recorrendo à experiência;
‒ Descartes defendeu que «pelo pensamento puro»/de modo «independente da perceção
sensorial»/a priori podemos ter conhecimento substancial, e não apenas de relações de ideias;
por exemplo, podemos conhecer a priori que existimos enquanto coisas pensantes ou que
Deus existe (ou que a extensão é uma propriedade do mundo físico).
2. Leia os textos seguintes, um de Hume e outro de Descartes.

A geometria ajuda-nos a aplicar leis do movimento, oferecendo-nos as dimensões corretas

de todas as partes e grandezas que podem participar em qualquer espécie de máquina, mas

apesar disso a descoberta das próprias leis continua a dever-se simplesmente à experiência

[...]. Quando raciocinamos a priori, considerando um objeto ou causa apenas tal como aparece

à mente, independentemente de qualquer observação, ele jamais poderá sugerir-nos a ideia


de

qualquer objeto distinto, tal como o seu efeito, e muito menos mostrar-nos a conexão
inseparável

e inviolável que existe entre eles.

D. Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, IN-CM, 2002, pp. 46-47 (texto
adaptado).

As coisas corpóreas podem não existir de um modo que corresponda exatamente ao que

delas percebo pelos sentidos, porque, em muitos casos, a perceção dos sentidos é muito

obscura e confusa; mas, pelo menos, existem nelas todas as propriedades que entendo clara

e distintamente, isto é, todas aquelas que, vistas em termos gerais, estão compreendidas no

objeto da matemática pura.

R. Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Livraria Almedina, 1985, p. 210
(texto adaptado).

Haverá conhecimento a priori do mundo?

Confronte as respostas de Hume e de Descartes a esta questão.

Na sua resposta, integre adequadamente a informação dos textos.

RESPOSTA:

A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.


Confronto entre as respostas de Hume e de Descartes à questão de haver
conhecimento a priori do mundo: – Hume considera que a geometria, que é
a priori, apenas «nos ajuda a aplicar as leis do movimento» e que estas só
podem ser descobertas pela experiência, pois, quando consideramos «um
objeto [...] tal como aparece à mente [...], ele jamais poderá sugerir-nos [...]
o seu efeito»;
– Descartes, em contrapartida, considera que só é seguro que existam nas
coisas as propriedades que «entende clara e distintamente», descobertas
pela matemática pura (que inclui a geometria), e não aquelas que são
percebidas pelos sentidos, pois «a perceção dos sentidos é muito obscura e
confusa»;
– de acordo com Hume, não há conhecimento a priori do mundo (a
importância do conhecimento a priori é, assim, minimizada);
– em contrapartida, de acordo com Descartes, há conhecimento a priori do
mundo, e esse conhecimento é conhecimento fundamental (a importância
do conhecimento a priori é, assim, salientada).

GRUPO V

Suponhamos então que a mente seja, como se diz, uma folha em branco, sem quaisquer

carateres, sem quaisquer ideias. Como é que a mente recebe as ideias? [...] De onde tira todos
os

materiais da razão e do conhecimento? A isto respondo com uma só palavra: da EXPERIÊNCIA.

J. Locke, Ensaio sobre o Entendimento Humano, Vol. I, Lisboa,

Fundação Calouste Gulbenkian, 2014, p. 106 (adaptado)

Concorda com a posição expressa no texto?

Na sua resposta,

‒ identifique e esclareça o problema filosófico a que o texto responde;

‒ apresente inequivocamente a sua posição;

‒ argumente a favor da sua posição.

RESPOSTA:

Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Nota – Os aspetos constantes dos cenários de resposta apresentados são apenas ilustrativos, não
esgotando o espectro de respostas adequadas possíveis.

Identificação e esclarecimento do problema filosófico a que o texto responde:


– problema da fonte (origem) do conhecimento.
– o problema consiste em determinar se o conhecimento provém fundamentalmente dos
sentidos (é a posteriori) ou antes da razão (é a priori)
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Justificação da posição defendida:
No caso de o examinando concordar com a posição expressa no texto e defender que
a experiência é a fonte de todo o conhecimento.
− se, por exemplo, uma pessoa não dispuser do sentido da visão, não poderá formar
impressões da cor dos objetos nem, por consequência, poderá formar as ideias
correspondentes;
− é a experiência que fornece os materiais mais básicos do conhecimento do mundo, ou
impressões (todas as ideias derivam das impressões dos sentidos; por exemplo, a ideia de
maçã deriva da impressão de maçã);
− por conseguinte, o conhecimento do mundo natural (conhecimento substancial) não é
possível sem recurso à experiência (o conhecimento do mundo natural é a posteriori) (a
atividade dos sentidos é indispensável ao processo de conhecimento do mundo natural);
− é possível obter conhecimento matemático (por exemplo, que três vezes cinco é igual a
metade de trinta) ou conhecimento conceptual (por exemplo, que todas as esferas têm
superfície curva) sem recurso à experiência (apenas pelo pensamento), isto é, a priori, mas
o conhecimento a priori, tratando se de conhecimento meramente conceptual ou
meramente linguístico, não pode ser considerado conhecimento substancial;
− o conhecimento científico (com exceção da matemática) depende da observação e da
experiência: o teste das teorias depende sempre de dados fornecidos pela experiência
(experimentais), e não apenas do raciocínio.
No caso de o examinando não concordar com a posição expressa no texto e defender
que a experiência não é a fonte de todo o conhecimento.
− algum conhecimento do mundo, e não apenas o conhecimento meramente conceptual ou
linguístico, é obtido recorrendo exclusivamente ao pensamento, isto é, a priori;
− há factos básicos que são conhecidos a priori, não dependendo o conhecimento desses
factos das impressões dos sentidos; por exemplo, o conhecimento da nossa existência (o
cogito) é um caso de conhecimento a priori que não é meramente conceptual nem
linguístico, tratando-se de conhecimento substancial;
− o conhecimento matemático, pela certeza que oferece (por ser infalível, tal como o cogito), é
o modelo de conhecimento; ora, este conhecimento é a priori;
− além da certeza que proporciona, o conhecimento matemático tem aplicação no mundo,
como mostram as ciências naturais, que recorrem à matemática para formularem as suas
teorias; por ter aplicação no mundo, o conhecimento matemático é substancial;
− os sentidos (e a experiência) não podem ser a fonte de todo o conhecimento, porque os
sentidos são enganadores; por exemplo, nós sabemos que o Sol é maior do que a Terra, mas
os sentidos indicam exatamente o contrário.

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