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osior2021 Juventude: apostande no prasente joes ype deste — ROpsie | ema ee Pentieos Eanes em Psion Imaginario Servigos Personatizados versdo impressa ISSN 1413-666 artigo Imaginari “ v.12 n.12 Sio Paulo jun. 2006 By Attigo em xm [B) Referencias do artigo PARTE I | Come etar este artigo P Tradugio automatica Juventude: apostando no presente Indicadores lily Acessos Youth: betting on present ‘Compartithar: Masat Mais Maria Cristina Rocha* Permalink Instituto de Psicologia, Universidade de Sao Paulo Enderaco para correspondéncia RESUMO Ajuventude como grupo com caracteristicas comuns é uma construcdo sociocultural. Esse concelto vincula-se a realidades especificas, épocas determinadas, relacdes socials e experiéncias culturais definidas. Segundo 2 ONU, a Juventude esté compreendida, por faixa etéria, entre os 15 e os 24 anos. No Brasil, temos 33 milhdes de jovens, 0 {que corresponde a 20% da populagdo. Predominantemente, os jovens sao vistos como produtores e como vitimas de problemas. Essas visées traduzem uma inseguranca dos adultos diante de situacées de risco frequentemente associadas a juventude e um nao-saber o que fazer para evité-las, Essas imagens esto presentes, também, na formulago de politicas pUblicas para a juventude que se traduzem em propostas disciplinadoras e contentivas, Nosso convivio com jovens, por meio de plantdo psicolégico, produto de parceria com o Conselho Tutelar do Butantd, colocou-nos em contato direto com essas visdes e mobilizou-nos a realizar intervencées, nos ambitos individual e coletivo, que questionassem esse posicionamento, bem como facilitasse a abertura para outras possibilidades de inserc&o social da juventude. Palavras-chave: Juventude, Politicas publicas, Planto psicolégico, ABSTRACT (Youth: betting on present) Youth as a group with common features is a sociocultural construct. This concept is connected to specific realities, determined time frames, defined social relationships and cultural experiences. ‘According to the UN, youth as an age interval embraces people ranging from 15 to 24 years old. There are 33 million young people in Brazil, a number that comprehends 20% of the population. Young people are predominantly seen as producers and victims of problems. This viewpoint conveys the adults’ insecurity on dealing with risk situations commonly associated to youth, and an unknowingness of how to avoid them. Those images are also present in the formulation of public policies addressing youth, translated into disciplinary and coercive proposals. ur contact with young people through counseling, a result of the partnership with Conselho Tutelar do Butant3, put us in close contact with those points of view and motivated us to intervene, both individually and collectively, in ways that questioned this stance and facilitated the openness to other possible social insertions for Brazilian youth, pepsic.bvsalud.oralscelo php scrip 413-686x2006000100011 19 .c_attextéph osior2021 Juventude: apostande no prasente Keywords: Youth, Public policies, Counseling. A juventude como grupo com caracteristicas comuns é uma construso social e cultural. Esse concelto vincula-se @ realidades especificas, épocas determinadas, relacées sociais e experiéncias culturais definidas. Tem seus limites dados por uma faixa étaria, a qual muda em decorréncia das varidvels que acabamos de citar ~ temporals, socials e culturais. Até hoje, a juventude era considerada como uma época de transigo da infancia para a vida adulta e compreendia, basicamente, o periodo da adolescéncia, Seu limite final era marcado pelo desligamento da familia de origem & pela constituicdo de uma nova familia, pela insercdo no mercado de trabalho e pelo fim de certo perfodo de escolarizacao. Nas ltimas décadas, houve um alargamento de seu tempo de durac3o, e a juventude tem-se consolidado como um momento no ciclo de vida com caracteristicas préprias. Varias sdo as faixas etdrias caracterizadas como Juventude, em diferentes sociedades, Falaremos, neste texto, daquela compreendida entre os 15 e 0s 24 anos, por Ser esta adotada pela Organizaglo das Nacdes Unidas, em Assembléia Geral realizada em 1985 (Abdala, 2003 125), e @ mais frequentemente referida nos estudos sobre juventude. © prolongamento dessa fase da vida para além do periodo da adolescéncia, adentrando o que outrora se caracterizou como inicio da idade adulta, esta intimamente relacionado as mudancas culturais e sociais que tém provocado 0 adiamento de algumas experiéncias. O incentivo & permanéncia na escola, tendo a escolaridade como etapa intrinseca & condicdo juvenil necesséria como preparacao para o mundo do trabalho e formacgo cultural, retarda a busca pela independéncia financeira e a consequent entrada no mercado de trabalho. E claro que essa mudanga est intimamente relacionada 3 falta de postos de trabalho para todos e 8 necessidade de preparar-se cada vez mais e melhor para a concorréncia que se estabeleceu nessa nova ordem econémica. A permanéncia na casa dos pais também se prolongou, principalmente em virtude da dificuldade para arcar com as préprias despesas. Nota-se que permanecer morando com a familia de origem no significa adiar a criacdo de uma nova familia; a gravidez na adolescéncia é uma realidade atual. A limitagao financeira nfo é a Unica razéio para permanecer na casa dos pais. Atualmente, observam-se jovens de classes média-alta e alta sem nenhuma intencao de ter sua prépria casa, mas trata-se, ainda, de um grupo restrito. A vida adulta no é mais, necessariamente, sindnimo de independéncia, e sim uma fase cheia de amarras, responsabilidades, excessiva seriedade e, portanto, nada sedutora. Além disso, para grande parte da populacéo, ela pode representar uma quase inevitavel vivéncia do fracasso, principalmente pela falta de empregos e pela dificuldade de ascenséo social. juventudes Os jovens constituem 18% da populaco mundial, e 85% deles vivem em paises em desenvolvimento, como 0 Brasil. (Abdala, 2003: 125) ‘Aqui, vivemos em plena “onda jovem", momento em que a juventude representa uma porcentagem considerével da populagdo brasileira - cerca de 20%. Seré que essa juventude é homogénea? Seré que podemos falar de uma juventude? Néo seria mais apropriado pluralizar esse conceito? Por mais que a faixa etdria e algumas caracteristicas subjetivas e biolégicas aproximem essa multido, 0 contexto sécloeconémico e cultural proporciona experiéncias, realidades e juventudes diversas. Podemos falar das diferencas de género numa sociedade onde a mulher tem remunerago menor que a do homem quando desempenham as mesmas funcées, acupa menos cargos de destaque nas empresas e é vista como @ responsavel pelo cuidado da casa e das criancas, o que Ihe confere dupla jornada de trabalho, quando tem um ‘emprego. Isso tudo, apesar de, no geral, estudar mais tempo que os homens, 0 que deixa claro que a desvantagem néo esté ligada a capacidade, mas a (des)valorizacdo da mulher em nossa sociedade. Temos, ainda, as diferengas de raga/etnia. Os negros so discriminados por sua aparéncia (cor, textura do cabelo, formato do nariz, tamanho da boca) e a ela séo agregados adjetivos pejorativos, ofensivos e perversos. O branco é reconhecido como um modelo, Como vemos, ser jovem, mulher, pobre € negra é ter que vencer uma batalha por dia para sobreviver nessa sociedade, ‘Temos, ainda, as diferentes orientagdes sexuais. Os heterossexuais compéem o modelo dominante, ¢ os homossexuais so discriminados. pepsic.bvsalud.oralscelo php scrip 413-686x2006000100011 29 .c_attextéph osior2021 Juventude: apostande no prasente As desigualdades, para além das diferencas, sdo miltiplas no Brasil. A primeira que sempre nos ocorre é a de classe social. Assim como a populacdo em geral, temos também uma massa de jovens pobres e uma faixa bem menor daqueles provides financeiramente, Esses grupos de jovens tém acessos diferentes a cultura, ao lazer, a0 trabalho, a escolarizaco, a circulacao nas cidades, nos estados e no pais. Os primeiros véem-se empurrados para © mercado de trabalho para suprir suas préprias nécessidades e aquelas de suas familias. Trabalhar e estudar no 0 ages excludentes, mas um torna 0 outro, no minimo, extenuante. Isso sem entrar nas particularidades das escolas, bem pouco interessantes para o jovem, e do trabalho a que tém acesso — informalidade e subemprego. Estamos falando daqueles que precisam @ encontram trabalho, o que ndo ocorre com todos, Esses so os jovens que permanecem menos tempo na escola e tentam entrar no mercado de trabalho o quanto antes, em contraposicao aqueles que tém a formagao intelectual como prioridade, permitindo-se trabalhar, apenas, apés a universidade, por exemplo. © local de moradia também revela grupos diferentes. Os moradores da periferia tm pores condicdes de vida, com acesso precério a infra-estrutura de satide, educacao e cultura, além de contarem com o preconceito por morarem na periferia e/ou em favelas, locais associados Imediatamente 2 violéncia e a pessoas violentas. A disténcia compromete a circulagio, e © preconceito dificulta o acesso a varios espacos, bem como ao mercado de trabalho. Todas essas diferencas e desigualdades, assim como os valores a elas agregados precisam ser considerados, quando pensamos em oferecer espacos de participago, de educagao, de cultura e de formagao aos jovens. As diferencas aqui apontadas so as mais gritantes e ndo representam todos os grupos. Ha diversidade ideolégica, religiosa, cultural. Ndo podemos esquecer, também, das marcas que diferenciam os moradores do interior, das, capitais e das cinco regides do pais, que apresentam caracteristicas muito préprias. Os diferentes interesses dos jovens tém-se manifestado por meio de produgées grupais: rap, samba, desenhos, teatro, movimentos politicos, religiosos, raciais etc. Com essas manifestacdes, eles tém a possibilidade de responder a uma realidade social que Ines é inéspita, ao mesmo tempo em que vivenciam situagies fundamentals para seu crescimento: afetividade, criatividade, construcdo de objetivos e, sobretudo, identidade. £ claro que as respostas nem sempre so positivas, ha os grupos de pichadores, aqueles que se organizam em torno de preconceitos ou de exposicéo exagerada ao perigo. As experimentacées sdo intensas e necessérias 4 construcéo da identidade dos jovens. © problema fundamental ndo & que a experimentago acontega, mas que olhemos exclusivamente para seu aspecto perigoso, de risco, e ignoremos todas as outras producées, tao fundamentais para o crescimento, as descobertas e a insercio social dos jovens. Olhamos para os problemas e desconsideramos as solucies reveladas, principalmente nas assoclagées grupais, como os reafirma Teixeira (s/d: 6) “Reconhecer as heterogeneidades dos jovens em seus horizontes, ritmos, aspiracées e assegurar as “mesmas possibilidades de voz e participacdo’ na construgo de um projeto coletivo de sociabilidades, de cidade e de cidadania é um dos principais desafios de uma politica para e com a juventude.” Juventude: os adultos falam So varias as visdes da juventude. Duas delas predominam: os jovens so vistos como produtores e como vitimas de problemas. Essas visées traduzem uma inseguranga dos aduitos diante de situagées de risco frequentemente associadas & juventude e um ndo-saber o que fazer para evité-las.2 Aviso de jovem como produtor de problemas logo se transforma numa associago direta que confunde juventude ‘com problema. € como se a juventude estivesse sempre se contrapondo & sociedade adulta. Conseqilentemente, ganha forca a idéia de que se deve desconfiar de tudo o que vern desse grupo, como se fossem incapazes de construir 0 que quer que seja de positive para a coletividade. Suas propostas parecem sempre destrutivas, quando, de fato, 0 sao ou quando trazem um ar de revolucao e questionamentos para o status quo. Associacdes com violéncia, desemprego, drogas, problemas sociais so constantes e automaticas, apesar de no serem privilégio dessa faixa etaria. Segundo Abramo, “A tematizacdo da juventude pela éptica do “problema social” é histérica ¢ jé foi assinalada por muitos autores: a juventude sé se torna objeto de atencao enquanto representa uma ameaca de ruptura com a continuidade social - ameaca para si prépria ou para a sociedade. Seja porque o individuo jovern se desvia do seu caminho em direcao a integracao social - por problemas localizados no préprio individuo ou nas instituigdes encarregadas de sua socializacao ou ainda por anomalia do préprio sistema social -, seja porque um grupo ou movimento juvenil propde ou produz transformacées na ordem social ou ainda porque uma geragdo ameace romper com a transmisséo da heranga cultural.” (Abramo, 2000: 169) Partindo dessa imagem, os jovens sio tratados, genericamente, como se fossem todos violentos, membros do tréfico, desregrados, com pouquissimas tentativas de compreensao do significado e contexto dessas situacdes, quando ocorrem. Dai, as intervengées direcionadas a eles assumem um cardter preventivo, para evitar que os problemas aparecam, e corretivos, para aqueles j4 manifestados. Basicamente, oferecemos atividades de controle @ contencdo. £ 0 que para criancas e adolescentes corresponde as medidas repressivo-correcionals pepsic.bvsalud.oralscelo php scrip 413-686x2006000100011 ai9 .c_attextéph osior2021 Juventude: apostande no prasente Também amplamente disseminada é a visdo dos jovens como vitimas do contexto sécioeconémico. Trata-se de uma juventude em particular: aquela formada, em sua maioria, por jovens de baixa renda, moradores das periferias dos grandes centros ou de cidades com baixo indice de Desenvolvimento Humano ~ IDH, que abandonaram a escola ou, apesar de terem freqllentado as aulas, so analfabetos funcionais, sem acesso a satide, ao lazer, aos direitos basicos de todo cidadao. Na concepcao que os vé, exclusivamente como vitimas, as propostas de intervengdo sao, preponderantemente, compensatérias, Percebé-los dessa maneira significa percebé-los parcialmente, deixando de lado algo fundamental que séo suas possibilidades, capacidades e criatividade. E ver o jovem descontextualizado de sua época, cultura, pais. Considerando-o problema ou vitima, esquecemos de atentar para a complexidade das situagdes que produzem ¢/ou fortalecem essas situagdes. As acées, de controle ou compensatérias, conseguem apenas, quando obtém sucesso, esconder 0 produto de uma relagdo social perversa e desumana, da qual todos e cada um de nés fazemos parte. Segundo afirmacao de Telxeira, “Esta concepcdo da juventude tem sido dominante também nas politicas piblicas: em grande parte, 0 foco dos programas desenvolvidos tem sido a cantengio do risco real ou potencial dos adolescentes, pelo seu afastamento das ruas ou pela ocupagio de sua ociosidade, Esses programas, baseados em. pollticas repressivas ou de prevencdo, buscam enfrentar os problemas socials que afetam a juventude, tomando os préprios jovens como problemas sobre os quais é necessdrio intervir, para salva-los ¢ reintegré-los & ordem social.” (Teixeira, s/d: 4) E preciso que um outro olhar, mais recente, tome corpo e ocupe espacos: 0 do jovem como sujeito de direitos. Nesse caminho, o Estatuto da Crianca e do Adolescente? foi um marco, e sua concepcdo no campo dos direitos merece ser ampliada, englobando, também, a parte da juventude maior de 18 anos.4 Quando privilegiamos os direitos, trazemos a tona sua condicao de cidadao, que pressupde a participacao como articulagao de projetos pessoais e coletivos. Portanto, o jovem pode ser considerado, em sua totalidade, como alguém que vitima e é vitimado dentro de um contexto social préprio. Dai, é possivel ver, nessa populacéo, possibilidades de resolucao dos problemas que nao sdo exclusivamente deles, mas da sociedade da qual fazem parte, ressaltando seu poder criativo, participativo, solidério, inovador. O presente passa a ser foco da intervengio @ 0 caminho € o da potencializaco e da defesa de direitos. E preciso, cada vez mais, olharmos e atuarmos no presente, tendo os jovens como parceiros. Essa concepséo contribui sobremaneira para que deixemos de vé-los como fonte de problemas e olhemos com mais atencao para ‘suas potencialidades e necessidades. Nesse caminho, é fundamental que os jovens sejam ouvidos, possam contribuir para o planejamento, a implementacSo e 2 avaliacao das polticas e propostas 2 eles destinades. As aces voltadas para a populacao juvenil devem ser, ento, mais proativas e menos reativas, de maneira que possamos romper circulos viciosos calcados no medo de possiveis descaminhos dos jovens. E preciso owvir, planejar, agir ¢ avaliar com os jovens, apostar em seu poder de criacdo, de compreensdo de suas necessidades de execugo de propostas diferenciadas. Pol jicas piiblicas A histéria da atengdo a Infancia e a juventude no Brasil tem sido marcada por propostas de atendimento repressivo-correcionals e assistencialistas, que compreendem essa populacdo como ameaca social e/ou como fonte de incapacidades e privacdes. A primeira vertente ~ repressivo-correcional ~ fixa-se naquilo que de nocivo e perverso o jovern expressa, procurando livré-lo desses aspectos. A postura assistencialista vé no jovem alguém que nao tem, ndo sabe e ndo pode nada e que, portanto, precisa ser suprido. Essas so as visdes predominantes subjacentes as politicas publicas nacionais, fundamentadas na Doutrina da Situago Irregular, expressa no Cédigo de Menores®, A partir das décadas de 70 e 80, proliferam-se as organizacées da sociedade civil com propostas de atendimento inovadoras para a época, ancoradas na Declaragdo Universal dos Direitos da Crianga. Tals acdes construiram uma mudanca de concepgdo no atendimento: de ameacadores ou carentes, criangas e jovens tomam o lugar de sujeitos de sua historia, Como fruto dessas experiéncias ¢ intensa mobilizacdo social, em 1990 é aprovado o Estatuto da Crianga e do Adolescente ~ ECA, regulamentando a garantia de direitos de todas as criancas e adolescentes, independentemente de sua condicdo social e experiéncias de vida. Desde ento, s8o considerados, legalmente, prioridade absoluta pelo estado brasileiro. © ECA representa um inegavel avanco no campo do Direito, trazendo em seu bojo propostas concretas de caminhos e ages direcionados & mudanca de mentalidade, a valorizaco da familia, ao respeito a dignidade, ao importante papel da comunidade na educacao das criancas e adolescentes, das responsabilidades do Estado, enfim, da garantia de que todas as criancas possam ser sujeitos de direitos, sem esquecer, é claro, de seus deveres, como reza 0 artigo 227 da Constituigéo da Republica Federativa do Brasil (1988): pepsic.bvsalud.oralscelo php scrip 1413-686x2006000100011 aio osior2021 Juventude: apostande no prasente “E dever da familia, da sociedade e do Estado assegurar a crianca e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito & vida, a satide, & alimentago, & educacao, ao lazer, & profissionalizagao, & cultura, a dignidade, ao respeito, & liberdade e 8 convivéncia familiar e comunitéria, além de colocé-los a salvo de toda forma de negligéncia, discriminacdo, exploragdo, crueldade e opressao.” Friso 2 questo dos deveres porque hé muitos equivocos na compreensdo dessa lei, e um dos mais prejudiciais & dizer que ela sé fala dos direitos das criangas e dos adolescentes, esquecendo-se dos direitos das outras pessoas. Isso no verdade. No ECA, encontramos artigos que tratam explicitamente das medidas a serem adotadas no caso de a crianca ou 0 adolescente incorrer no desrespeito aos direitos alhelos. As medidas de protecSo (artigos 988 ¢ 1012) e sdcioeducativas (artigo 1128) so claras ¢ trazem propostas concretas para 0 atendimento dessa populacdo, descrita como pessoas em situacéo peculiar de desenvolvimento, Traduz 0 reconhecimento da infancia € da adolescéncia como fases diferenciadas da vida e que, portanto, devem ser tratadas de maneira ciferenciaca, Esse foi um marco fundamental na histéria da atenco a populacdo infanto-juvenil; saimos da Doutrina da Situagio Irregular, em que as aces repressivas, de contengdo e compensatérias eram a ténica, e assumimos compromisso com a Doutrina da Proteco Integral, que reconhece criancas e adolescentes como cidadaos, sujeitos de direitos, pessoas em condigées peculiares de desenvolvimento, como prioridade absoluta. E dessa premissa que nascem as propostas de atendimento comprometidas com a inclusdo, 0 crescimento e a conquista da autonomia. Inova, ainda, quando atribui ao municipio a responsabilidade pelo atendimento dessa populacio, a fim de fortalecer os vinculos comunitarios e respeitar as particularidades regionais. Propde meios para a participacso comunitaria na formulagéo, no acompanhamento, no controle e na avaliago dos servicos destinados & crianca e a0 adolescente. Outra importante inovagde é a criagdo dos Conselhos Tutelares, dois quais falaremos mais detidamente. O Conselho Tutelar Tendo em vista o quadro descrito, o Estatuto da Crianga e do Adolescente inova, ainda, quando atribui ao municipio a responsabilidade pelo atendimento dessa populacao,a fim de fortalecer os vinculos comunitdrios e respeitar as particularidades regionais. Propde meios para a participagdo comunitadria na formulagdo, no acompanhamento, no Controle e na avaliacéo dos servicos destinados & crianga e 0 adolescente. E com essa intenco que prope a criacgéo de Conselhos Tutelares, formados por pessoas da sociedade civil eleitas diretamente pela populacao. Os conselheiros tutelares tém mandato de trés anos com possibilidade de apenas uma reeleicao consecutiva. © Consetho Tutelar tem por funcéo zelar e defender os direitos de criancas e adolescentes, sem dlstingo de raca/etnia, credo ou classe social. £ 0 érgéo de referéncia de uma cidade, ov de partes dela, para onde devem ser encaminhadas denUncias, dificuldades ou pedidos de apoio e orientagao. Por essas solicitagdes, pode-se montar um diagnéstico do territério onde esta localizado e oferecer informacées que possibilitem a criacéo e o aprimoramento de politicas piblicas antenadas com o local, a populagao e a época, ou seja, fortemente vinculades aos acontecimentos presentes. Suas atribuigSes estdo descritas no artigo 136 do ECA2 Conselho Tutelar do Butanté e plantdo psicolégico: uma parceria22 Em 2003, fomos procurados pelo Conselho Tutelar do Butanta (CT), que solicitava atendimento psicolégico para muitos daqueles que se beneficiavam de seus servicos. Dada a impossibilidade de atender em psicoterapia tantas pessoas, optamos por oferecer o planto psicolégico como forma de acolher aquelas enviadas pelo CT e, com base no esclarecimento da demanda, realizar encaminhamentos, quando necessarios. Nosso trabalho teve inicio em agosto de 2003 com a escolha e a preparagio de um espaco para os atendimentos. © Conselho Tutelar do Butant3 combinou com 0 Centro Comunitério Lions Clube do Butantd a cess3o de uma sala em suas dependéncias (do Lions), por tratar-se de local neutro e de facil acesso a toda a populacdo do distrito. Era necessério garantir que todos pudessem frequentar o local, o que néo aconteceria se fosse dentro de uma comunidade, por exemplo, pols as rivalidades impediriam que outras por all circulassem, A acessibilidade também era fator importante, pois o Butants, distrito atendido pelo CT, é muito extenso e de dificil acesso em alguns de seus pontos, A idéia era tornar acessivel o atendimento psicoldgico para pessoas com dificuldades de locomocéo, com situagdo financeira precéria e urgéncia para ser atendida. Em setembro de 2003, teve inicio 0 plant&o psicolégico, propriamente. Dois estagidrios*t permaneciam no Lions uma vez por semana, durante trés horas, em dia prédeterminado e de conhecimento do Conselho Tutelar. Plantao Psicolégico!2 plantao psicolégico!? é uma modalidade de atendimento em que, em dia e horério preestabelecidos, um ou mais psicélogos se encontram em local conhecido da clientela em potencial, disponiveis para receber as pessoas com 413-686x2006000100011 59 pepsic bvsalud orgisclelo php script=scl_attext&ph osior2021 Juventude: apostande no prasente algum sofrimento psiquico e auxilié-las no esclarecimento de sua demanda, ou seja, na compreensdo de seu momento de vida, considerando os incémodos, as dificuldades, as necessidades e as possibilidades nela envolvidos, Esse processo de esclarecimento da demanda pode durar um ou mais encontros, e seu fechamento aponta para possibilidades de lidar com a questo que mobilizou a procura por atendimento, como encaminhamentos para psicoterapia, para outros profissionais, outras instituicBes ou, até mesmo, nenhum encaminhamento, caso o cliente sinta-se satisfeito apds o plantéo. ‘A empatia, a congruéncia e a aceitacao positiva incondicional dos plantonistas sao os pilares desse trabalho. E fundamental poder aproximar-se da experiéncia de quem nos procura, aproximar-se ao maximo de sua vivéncia para entao levantar nossas possibilidades de compreenso do que nos é relatado, sem julgar as atitudes desesperadas, as omisses e, até mesmo, os abusos cometides. Importante, ainda, é a atengao voltada a0, plantonista/estagidrio, aquele que esta em contato direto com as mais diversas situagbes, no caso dessa parceria, envolvendo relacdes entre pais e filhos, muitas vezes, negligentes, descumprimento de direitos, impoténcia dos pais e culpabilizagao dos filhos. E necessdrio entrar em contato com os sentimentos despertados por essas situacBes, discrimind-los e transformé-los em intervencdes terapéuticas, Para chegar ao plantdo, era necessdrio ser encaminhado pelo Conselho Tutelar que, na maioria das vezes, 6 procurado pelas familias por meio de uma solicitago da escola que ndo sabe mais 0 que fazer diante das faltas excessivas, da indisciplina, da agressividade e das dificuldades de aprendizagem de seus alunos. Apesar de nossa insisténcia e de inimeras conversas com os conselheiros, mostrando-Ihes a importéncia de contar para os possiveis clientes o motivo do encaminhamento e ouvi-los a respeito disso, a grande maioria chegava a0 plantdo sem saber ao certo porque estava Id ou em que poderia ser ajudado por um psicélogo. Nosso trabalho, portanto, comecava, muito freqilentemente, facilitando a contextualizacao desse encontro. Este parecia ser 0 primeiro momento em que essas pessoas ~ criancas, adolescentes, jovens ou adultos ~ eram ouvidas. Cada vez ficava mais claro o quanto eram desconsiderados e desautorizados em todos os espacos porque tinham passado. ‘As conversas relatadas na escola ou no Conselho apareciam como meros instrumentos para que o ouvinte desse uma solugde ao problema, que, nos casos que chegaram até nés, era mandar para o plantéo. Durante esses dois anos de plantao, os jovens, a partir de 15 anos, foram a minoria dentre os clientes, mas fizeram-nos refletit muito. Soubemos, por meio dos conselheiros ou de familiares, que varios deles se recusaram a nos procurar por no ver necessidade, por receio de serem considerados loucos ou por no entenderem como poderiam ser ajudados. Diante do cenario em que protagonizavam as historias como agressivos, destrutivos, rebeldes, por que procurar mais uma pessoa que reforcaria essa imagem, poderiam estar pensando? Desde os primeiros atendimentos, percebemos a surpresa e a desconfianca iniciais dos jovens diante de outros Jovens, os plantonistas, quase adultos porque profissionais, interessados em saber suas opinides, em conhecer Seus motivos, em acolher suas duvidas e revoltas, dispostos a pensar juntos em alternativas para as situacées que viviam e acompanhé-los nas ressignificagées. Inicialmente, permaneciam mudos, recusando-se a ser mais um boneco a ser consertado. A expectativa das familias, da escola e do Conselho Tutelar era que transformassemos esses garotos e essas garotas em pessoas responsaveis, obedientes, estudiosas e conformadas, 0 que ficava claro quando eram encaminhados ao psicélogo porque ninguém mais “podia com eles”. Diante de nossa abertura, de nosso interesse e de nossa paciéncia, aos poucos se abriam e contavam versdes diferentes, em fatos ou significages, dos motivos que os fizeram chegar ao plantéo. Podemos compreender esse processo como a tentativa de auxiliar 0 jovem a culdar de si, ou seja, facilitar: + que perceba sue situaco de vide (desvelamento); - que the seja possivel falar daqullo que apareceu, comunicando seu significado (revelaglo); = que 0 garoto ou garota conte com a presenca de um interlocutor que reconhega o comunicado (testemunho); + que ele compreenda o sentido plural dessa experiéncia (veracizagao) e entre em contato com o sentido particular, com a emogao que vai dirigir a aco (autenticagao).14 Esse caminho, que nem sempre conseguimos finalizar, promove um encontro do jovem consigo préprio, sem a necessidade de contraposicS0, uma vez que no esta sendo julgado ou avaliado. Debrugar-se sobre 0 seu viver ¢ significd-Io olhando de varios lugares, em diversas situacdes e reconhecendo seus propésites coloca o jovem no lugar de responsével por si, com compromisso e atento as intervengdes que pode e faz em sua vida e no mundo. Parece um processo complicado e, talvez, por isso, evitamos realizé-lo. E complexo, sem duvida, mas absolutamente possivel e necessério para todos nés. Vivenciamos no plantdo aquilo que descrevemos no inicio deste texto: o adolescente visto como problema, o adulto temeroso, impotente e transferindo suas responsabilidades para outros ~ especialistas que deveriam saber como fazer 0 conserto. Tentamos, na verdade, fazer um concerto com todas as possibilidades que iamos descobrindo nos Jovens. Esse trabalho, muitas vezes, fol frustrante em razio das desisténcias, da impossibilidade de se abrirem e confiarem naquele momento, do incémodo dos pais a0 compreenderem que ndo disciplinariamos seus filhos e, até mesmo, da falta de noticias, uma vez terminado o proceso de esclarecimento da demande pepsc.bvsalud.orgiscelo phpscript=scl_attextépid=S1412-666X2006000100011 69 osior2021 Juventude: apostande no prasente Avaliamos a necessidade de rever nossa proposta, de criar novos caminhos, mas reconhecemos que a escuta ¢ a consideracdo daquilo que os jovens tém a dizer a respeito de si préprios e do mundo aponta para a construgo de projetos, bem como de sentidos individuals e coletivos em relacdo ao seu lugar na sociedade, as suas relagdes, as suas aspiracées. E preciso que seus interesses brotem, crescam, sejam vistos, aguados e fortificados. Os frutos, certamente virdo! Essa postura adotada durante os atendimentos, ancorada numa proposta teérica (a Abordagem Centrada na Pessoa e a Fenomenologia), nao deixou de considerar, em nenhum momento, uma andlise social e uma op politica, Dessa forma, nosso trabalho com os conselheiros era permeado por discussdes que traziam a baila, sempre, 0 questionamento de visées cristalizadas e a proposicdo de alternatives de experimentacdo que pressupunham sair de um lugar j4 conhecido e experimentar outro. Ressaltamos que os conselheiros com quem trabalhamos sao extremamente comprometidos com a defesa de direitos das criancas e adolescentes, mas, por vezes, incorrem compreensdes e atitudes pouco refletidas, tentando resolver problemas por meio de caminhos excessivamente diretos, sem atengdo para os desvios reveladores de motivagGes e interesses. Além da atengao individual, com as caracteristicas préprias dos atendimentos psicolégicos (sigilo, escuta, abertura, aceitacao incondicional), intensificamos nossa atuacéo num ambito mais extenso e explicitamente politico. Coube a0 plantdo no s6 receber e cuidar das demandas individuais, mas também iluminar e comunicar aquelas sociais, retomando com o Conselho Tutelar a possibilidade de realizar um diagnéstico da educagao nos bairros que atende encaminhar aces regionais, indicadoras de politicas publicas que efetivamente zelem e garantam os direitos de criangas e adolescentes deste pais. Nao aceitar a culpabilizacdo e a individualizacdo de problemas téo comuns nas instituicBes de atendimento & populago infanto-juvenil (indisciplina, dificuldade de aprendizagem, faltas excessivas e agressividade) foi uma constante em nosso trabalho, inclusive apresentando sugestdes de instituicbes ou grupos que pudessem ajudar os conselheiros e as escolas a lidar com as questGes mais presentes, Esse projeto permitiu-nos conhecer melhor @ populace que recorre ao Conselho Tutelar, acompanhar o trabalho dos conselheiros ~ arduo e fundamental -, bem como entrar em contato mais estreito com uma atuacgo ampliada do psicélogo, como parte de uma rede social de atendimento, trabalhando em parceria com outras instituicoes e Juntando esforcos no caminho para uma mudanca de mentalidade em relacdo & protecdo as criancas e aos ‘adolescentes, buscando a compreensao de seu trabalho pela populago em geral e percebendo a importéncia das redes sociais na vivéncia da cidadania. Fundamental, ainda, foi poder viver a indignacao de ver individuos serem culpabilizados por situagSes relacionais e sociais, assim como poder contribuir para que reflexdes acerca dos compromissos e responsabilidades coletivas sejam imprescindiveis para a compreensao e busca de alternativas de resolucao dos problemas, sem esquecer das questées individuals, particulares e psicolégicas que foram atendidas ou encaminhadas para os profissionais competentes, Perspectivas Se olharmos com atencéo para a juventude de hoje veremos nao apenas a critica ao modo de vida vigente, mas também a producao de solugées interessantes, com forte acento artistico cultural. Os grupos de jovens sao indmeros e diversos entre si, mas trazem em comum essa capacidade propositiva, questionadora e reflexiva Expressam suas criticas e seus desejos em prosas, versos, melodias, tracos, cores, gestos e olhares, Seré que a juventude é mesmo um problema como tradicionalmente tem sido combinado? Se a resposta for positiva, temos um grande problema formado por 33 milhdes de cidadaos na faixa de 15 a 24 anos. No entanto, se ‘os vemos como pessoas cheias de idéias, questionamentos, propostas e dificuldades camo todos nés, temos um terreno fértil e vasto pela frente. Bibliografia ABDALA, Ernesto. "O Espaco do trabalho: apresentaco". In Encontro estadual de politicas publicas de juventude. ‘So Paulo : Imprensa Oficial, 2003: 125-131 ABRAMO, Helena. “A visdo da juventude no Brasil: um panorama histérico”, In COSTA, Antonio Carlos Gomes (org.) Protagonismo juvenil: adolescéncia, educagdo e participacdo democratica. Salvador: Fundagdo Odebrecht, 2000 168-173 “Considerages sobre a juventude no espaco politico brasileiro”. In COSTA, Antonio Carlos Gomes. Protagonismo juvenil: adolescéncia, educagao e participagao democrética. Salvador: Fundagdo Odebrecht, 2000: 198-202, Abramo, H. W. "Consideragées sobre a tematizacéo social da juventude no Brasil”. In Revista Brasileira de Educagdo. Associacao Nacional de Pés-Graduaco e Pesquisa em Educago, nimeros 5/6, 1997. BRASIL, Constitui¢ao. Dispée sobre a Constituico da Republica Federativa do Brasil. Imprensa Oficial do Estado S. A. IMESP, So Paulo, 5 de outubro de 1988. [Links ] pepsic.bvsalud orglsclelo php script=scl_arttexpid=S141-666X2006000100011 19 osior2021 Juventude: apostande no prasente . Leis etc, n, 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispée sobre o Estatuto da Crianca e do Adolescente, Imprensa Oficial do Estado S. A. IMESP, So Paulo. [Links ] CRITELLI, Dulce Mara. Analitica do sentido: uma aproximago e interpretaco do real de orientacio Fenomenolégica. Sao Paulo: EDUC: Brasiliense, 1996. [ Links ] PROENGA, Marilene, ROCHA, Maria Cristina e col. Relatério final do Projeto de Extensdo Universitéria "Evasdo Escolar e Plantao Psicolégico: IP-USP e Conselho Tutelar do Butantd parceiros no atendimento 3 comunidade”. So Paulo: 1P-USP, 2004, ROCHA, Maria Cristina. A experiéncia de educar na rua: descobrindo possibilidades de ser-no-mundo. Dissertacao de Mestrado. Sao Paulo: IPUSP, 2000. _[ Links ] ROSENBERG, Rachel (coord). Aconselhamento Psicolégico Centrado na Pessoa. So Paulo: EPU, 1987, [ Links ] TEIXEIRA, P. (coord), Juventude e cidadania em Sao Paulo: o direito ao futuro. Grupo de Trabalho: Juventude e Cidadania. Instituto Florestan Fernandes, So Paulo, s/d. —[ Links ] @ Endereso para correspondéncia Maria Cristina Rocha R. Guido Oreggia, 32 05371-150 Sao Paulo, SP Recebido em 12/06/2005 Aceito em 15/08/2005 Notas 1 Psicdloga do Servico de Aconselhamento Psicolégico do Instituto de Psicologia da Universidade de S30 Paulo, Mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano. 2 Para aprofundamento ver Abramo, 1997 2 Esta tramitando na Camara dos Deputados 0 Estatuto da Juventude que assegura direitos a jovens entre 15 e 29 anos. Esse Estatuto, sugerido pela Comissao Especial da Juventude, pretende regulamentar os direitos assegurados {&s pessoas com idade entre 15 e 29 anos. Define como obrigaces da familia, da comunidade, da sociedade e do Poder Puiblico assegurar aos jovens a efetivacdo do direito a vida; a cidadania e participacao social e politica; @ liberdade, ao respeito e a dignidade; a igualdade racial e de género; a saiide e a sexualidade; & educacao; & representaco juvenil; a cultura; ao desporto e ao lazer; & profissionalizacdo, ao trabalho e a renda; bem como ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Entre essas obrigacdes, destacam-se: a viabilizacdo de formas alternativas de participacdo, ocupacao e convivio do jovem com as demais geracées; a participacdo desses jovens na formulaco, na proposigao e na avaliacao de politicas sociais pUblicas especificas; assim como a destinacao privilegiada de recursos pUblicos nas dreas relacionadas com a protecao ao jovem A proposta do Estatuto da Juventude define ainda medidas de protecdo aos jovens; politicas de atendimento; e garantia de acesso 3 Justica. (Fonte: Agéncia Camara de Noticias www. camara.gov.br, matéria de 25/11/2004). 4 até esse momento, quando se fala em populaco infanto-juvenil, faz-se referencia a criancas e adolescentes até 18 anos. Sé recentemente, em decorréncia de mudancas sociais, econémicas, culturais e demograficas jé ‘comentadas, os olhares voltaram-se para os jovens de 15 a 24 anos. Durante as Ultimas décadas, no entanto, principalmente a faixa etéria de 19 a 24 anos representava um incémodo, pois, considerados adultos, os jovens no conseguiam assumir as responsabilidades esperadas para essa populacao, principalmente a insergao no mercado de trabalho, e nao podiam se valer das pollticas destinadas aos adolescentes (medidas de protecao e socioeducativas). 5 Para aprofundamento, ver Rocha, 2000. S art. 98 - As medidas de protecdo a crianca e ao adolescente so aplicavels sempre que os direitos reconhecidos nesta Lel forem ameacados ou violados: I - por agdo ou omissdo da Sociedade ou do Estado; II - por falta, omissdo ou abuso dos pais ou responsdvel; III - em razdo de sua conduta. Zart. 101 - Verificada qualquer das hipéteses previstas no Art. 98, a autoridade competente podera determiner, entre outras, as seguintes medidas: I - encaminhamento aos pais ou responsavel, mediante termo de responsabilidade; II - orientago, apoio e acompanhamento temporarios; III - matricula e frequiéncia obrigatérias, em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - incluso em programa comunitario ou oficial, de auxilio & familia, a crianga e ao adolescente; V - requisi¢ao de tratamento médico, psicolégico ou psiquiatrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI ~ incluso em programa oficial ou comunitério de auxilio, orientacao e tratamento a alcodlatras e toxicémanos; VII - abrigo em entidade; VIII - colocag3o em familia substituta. Paragrafo nico. 0 pepsic.bvsalud orglsclelo php script=scl_arttexpid=S141-666X2006000100011 a9 osior2021 Juventude: apostande no prasente abrigo é medida proviséria e excepcional, utilizével como forma de transi¢ao para a colocagéo em familia substituta, no implicando privacdo de liberdade, Sart. 112 - Verificada a prética de ato infracional, 2 autoridade competente poderé aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - adverténcia; IT - obrigagdo de reparar o dano; III - prestacdo de servigos 8 comunidade; IV - liberdade assistida; V - insercdo em regime de semiliberdade; VI - internagdo em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. Paragrafo primeiro - A medida aplicada ao adolescente levaré em conta a sua capacidade de cumpri-ia, as circunstancias e a gravidade da infracdo, Parégrafo segundo - Em hipétese alguma e sob pretexto algum, serd admitida a prestagao de trabalho forcado. Paragrafo terceiro - Os adolescentes portadores de doenca ou deficiéncia mental receberso tratamento individual e especializado, em local adequado as suas condicées. 2 Art, 136 - Séo atribuicées do Conselho Tutelar: I - atender as criangas e aos adolescentes nas hipsteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, Ia VII; Il - atender e aconselhar os pais ou responsavel, aplicando as medidas previstas no Art. 129, Ia VII; Ill - promover a execuco de suas decisées, podendo para tanto: (a) requisitar servicos pliblicos nas areas de satide, educacdo, servico social, previdéncia, trabalho e seguranca; (b) representar perante & autoridade judicidria nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberaces. IV'- encaminhar ao Ministério Publico noticia de fato que constitua infraco administrativa ou penal contra os direitos da crianca ou adolescente; V - encaminhar a autoridade judicidria os casos de sua competéncia; VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciaria, entre as previstas no Art. 101, de Ia VI, para 0 adolescente autor de ato infracional; VII - expedir notificagdes; VIII - requisitar certidées de nascimento e de ébito de crianca ou adolescente, quando necessario; IX - assessorar 0 Poder Executivo local na elaboracdo da proposta orcamentaria para planos e programas de atendimento dos direitos da crianca e do adolescente; X'- representar, em nome da pessoa e da familia, contra a violago dos direitos previstos no Art. 220, § 39, inciso II da Constituigao Federal; XI - representar ao Ministério Publico, para efeito das acdes de perda ou Suspensdo do patrio poder. 19 Essa parceria foi possivel como Projeto de Extensdo realizado com apoio financeiro da Pré-reitoria de Extensdo e Cultura da Universidade de So Paulo, na forma de bolsa-auxilio para alunos de graduacdo. 0 projeto é coordenado pela Profa. Dra. Marilene Proenca, e o plantéo psicolégico supervisionado pela psicéloga Maria Cristina Rocha. 41 Durante o periodo da parceria, de agosto de 2003 até agosto de 2005, participaram do projeto como estagidrios/plantonistas: Adriana Ribeiro, Camila Pavanelli, Carla Goncalves, Elisabete Lopes, Isabel Botter, Juliana Oliveira, Matias Mickenhagen e Ricardo Lemos, alunos de graduaco do Instituto de Psicologia da Universidade de Sao Paulo. +2 A partir desse momento, esse texto traz contribuigées de Adriana Ribeiro, Camila Pavanelli, Elisabete Lopes, Isabel Botter e Juliana Oliveira por meio das discusses realizadas em supervisdo e do relatério de atividades correspondentes ao periado de agosto de 2003 a julho de 2004. 43 para aprofundamento, ver Rosenberg, 1987. 44 para aprofundamento, ver Critelli, 1996. Universidade de Sao Paulo Instituto de Psicologia Laboratério de Estudos do Imaginario Av, Prof, Licio Martins Rodrigues, trav. 4, Bloco 17, sala 18 ‘5508-900 Sao Paulo - SP - Brasil 55-11 3091-4386 ramal 22 Fax.: +55-11 3091-4475 Antait lnbi@ecy.usp.be pepsic.bvsalud.oralscelo php scrip 413-686x2006000100011 s9

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