Sobre Itamar Viera Júnior
Itamar Vieira Júnior é um renomado escritor brasileiro,
TORTO ARADO
Por Raul Castro e Vanesca Ferro
Uma nova literatura, um novo grande autor
Por Raul Castro
O que faz uma obra ser grandiosa? O que faz uma
literatura ser vencedora de um prêmio Leya em Portugal em
2018 depois vencer o prêmio Jabuti de 2022 elevando Itamar
Viera júnior como um dos nomes mais proeminentes de nossa
Literatura nacional e que sem dúvidas estará em nossos livros
didáticos de Literatura?
Dois pontos fazem de Torto Arado um romance ímpar, a
primeira é o que se é dito, a segunda é como se é dito.
Em seu livro A Bagaceira, de José Américo de Almeida
no seu prefácio nos diz: “O naturalismo foi uma bisbilhotice de
tropeiros. Ver bem não é ver tudo: é ver o que os outros não
vêem.”
Isso nos mostra o primeiro grande ponto da Literatura de
Vieira, ver o que os outros não veem. O escritor nos traz
histórias dentro uma história, vozes dentro de uma só voz,
mostra-nos uma realidade que poucos ousaram falar. Dentro de
um espaço em poucos penetrariam.
Assim como Rachel que tão bem falou das secas do
Ceará e sua vivência no Rio de Janeiro, assim como Jorge
Amado que tanto falou de sua Bahia, na capital e no interior de
Itabira e Itabuna ou como José Lins do Rego que tanto falou de
Paraíba e de seus engenhos, temos um Vieira que fala de modo
único da Chapada Baiana, de seus costumes, de sua religião, de
suas lutas, seus sofrimentos e claro, de suas mortes.
Mostrando que mesmo as histórias sendo tão particulares
a dor é universal fazendo-nos mergulhar dentro da psiquê
humana e transportar para uma realidade que não é nossa, mas
de todos.
Um outro ponto que também faz de Torto Arado uma obra
grandiosa, é como é feita, digo no seu aspecto narrativo.
O livro dividido em três partes me fez lembrar a divisão de
Os sertões de Euclides da Cunha: a terra, o povo, a luta. Assim
temos três vozes: Bibiana e Belonísia e Santa Rita Pescadeira.
Cada uma dessas vozes tem um estilo narrativo
diferenciado, Bibiana, tendo se tornado professora, tem mais
jogos metafóricos e simbológicos e reflexivos. Já Belonísia que
ficou na fazenda e não gostava muito da escola tem uma
narrativa mais enxuta e direta.
Torto Arado se configura como um livro da epopeia
humana da diáspora negra, um livro que mostra a luta em uma
terra árdua e difícil, e que se nessa terra sobrevive o mais forte,
os homens, mesmo com tanto sofrimento e perdas tende a
vencer, ou melhor, a sobreviver.
Prof. Raul Castro
nascido em 1979, cuja obra se destaca pela sensibilidade
narrativa e pela abordagem de temas sociais relevantes.
Nascido em Salvador, Bahia, sua conexão com a rica cultura
nordestina muitas vezes se reflete em suas histórias,
enriquecendo sua escrita com nuances regionais.
Vieira Júnior é conhecido por explorar as complexidades
da condição humana e as disparidades sociais, mergulhando em
questões profundas e provocativas. Sua escrita é caracterizada
por uma linguagem poética e uma habilidade única para criar
personagens vívidos e envolventes.
Uma de suas obras mais notáveis é o romance "Torto
Arado" (2019), que recebeu amplo reconhecimento e diversos
prêmios literários. O livro, ambientado no sertão nordestino,
aborda temas como a luta pela terra, as tradições culturais e as
relações familiares. A trama intricada e a prosa envolvente de
Vieira Júnior cativaram tanto críticos quanto leitores,
consolidando-o como uma voz relevante na literatura
contemporânea brasileira.
Além de sua atuação como escritor, Itamar Vieira Júnior
também é jornalista e mantém uma presença ativa na discussão
de questões sociais e culturais no Brasil. Sua habilidade em
mesclar a observação aguda da realidade com a imaginação
literária contribui para uma narrativa que transcende o mero
entretenimento, proporcionando uma reflexão profunda sobre a
sociedade.
Com uma carreira ascendente e uma contribuição
significativa para a literatura brasileira, Itamar Vieira Júnior
continua a ser uma figura importante no cenário cultural do país.
Seus escritos, marcados pela autenticidade e pela sensibilidade,
convidam os leitores a explorar as múltiplas camadas da
experiência humana e a refletir sobre as complexidades do
mundo que habitamos.
ELEMENTOS DA NARRATIVA
TEMPO
Apesar de o autor não nos dar um tempo específico,
temos algumas dicas, a sensação que temos é de vermos é uma
realidade que acontecem ao longo de tempos, tanto no passado
como em nosso presente.
Temos o carro da Ford rural que fora criada em 1946 e
que é citada na obra quando as meninas vão para o hospital,
Zeca Chapéu Grande, ao longo do tempo, envelhece, e se
recorda da seca de 1932, mas ele a viveu, ou fala apenas de
memória? Isso não sabemos, entretanto, tudo indica que ele
viveu esse processo, contabilizando temos a história se
passando entre 1950 a 1990, atravessando um percurso de 40
anos. Uma interessante curiosidade é que por mais que as
vozes se alternem na narrativa, o tempo continua, um exemplo
disso é que quando Bibiana foge no último capítulo da primeira
parte, a segunda parte, narrada por Belonísia, inicia-se com um
flashback e seguida dos momentos após a fuga da sua irmã.
Além disso, temos alguns aspectos importantes, a saber:
Cronologia Linear e Não Linear:
A obra parece seguir uma cronologia linear na maior
parte, mas também incorpora elementos não lineares, como
flashbacks, que remontam a eventos passados. Essa técnica é
evidente nos capítulos que fornecem informações sobre eventos
anteriores na vida de Zeca e sua família.
Ciclos Temporais:
Há uma exploração dos ciclos temporais relacionados às
estações, à agricultura e à natureza. A descrição das estações,
períodos de estiagem e a influência desses ciclos na vida
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cotidiana dos personagens reflete uma ligação intrínseca entre o
tempo natural e as experiências humanas.
A Passagem do Tempo na Vida dos Personagens:
A vida dos personagens é marcada por eventos
significativos que ocorrem ao longo do tempo. Desde a infância
de Zeca até a sua maturidade, a obra parece destacar as
mudanças e os desafios enfrentados por ele e sua família.
Ritmo Lento e Contemplativo:
A descrição detalhada de eventos e a atenção aos rituais
diários criam um ritmo lento e contemplativo na narrativa. Esse
ritmo permite uma imersão profunda nas experiências dos
personagens e na ambientação.
Tempo como Elemento Cultural e Espiritual:
A presença de elementos culturais e espirituais, como
práticas de cura, cerimônias religiosas e crenças, contribui para
uma dimensão temporal única. O tempo é vivenciado não
apenas como uma progressão linear, mas também como uma
espiral que se conecta a aspectos espirituais e tradicionais da
vida dos personagens.
Mudanças Socioeconômicas ao Longo do Tempo:
A obra aborda as mudanças na sociedade e na economia
ao longo do tempo, evidenciadas pela venda da fazenda e a
transição para um novo proprietário. Essas mudanças
influenciam as vidas dos personagens e destacam a
complexidade das relações sociais.
ESPAÇO
A trama se passa na fazenda de Água Negra, a qual os
moradores possuem um imenso apego, inicialmente pertence a
família Peixoto, que só aparecem mesmo na inauguração da
escola e mencionados quando Sutério saqueava a produção das
famílias, após vender a fazenda para Salomão, Água Negra,
antes um reduto de lar, passa a ser uma ameaça àquele grupo
de pessoas que lá vivem.
Água Negra é o palco central da trama, mas alguns
lugares são mencionados, como a fazenda Caxangá e a cidade,
em que as meninas vão quando ferem a língua.
FOCO NARRATIVO
A história possui três narradoras, em um discurso indireto
livre, cada umas das narrativas complementam a história dentro
de seu ponto de vista, cada uma a seu jeito e maneira
descrevendo suas vivências, medos, angústias e lutas naquela
terra hostil.
A primeira parte, temas Fio de Corte, narrado por Bibiana,
com ela inicia a infância com uma experiência traumática, o corte
da língua e a amputação da língua da irmã Belonísia. Os
conflitos são mais pueris, como ambas disputando a atenção do
primo Severo, mas com o crescimento de ambas Bibiana vai
percebendo os problemas mais complexos e intrínsecos, narra
as brincadeiras de jarê e a relação de servidão do povo para
com a família Peixoto. Bibiana se retira da fazenda para viver
com Severo, torna-se professora, com o tempo retorna, mas a
narrativa agora é de Belonísia.
A segunda parte, Torto Arado, que dá inclusive o título da
obra, é a perspectiva de Belonísia, que já não gosta tanto da
escola, não fala, por conta da amputação da língua, mas tem
uma vivência de mundo ampla, e com isso sua narrativa também
se amplia, mostra-nos a partida da irmã, os problemas da casa,
as secas e enchentes, a casamento mal logrado com Tobias que
a maltrata, mas ela luta e o enfrenta, mostra o retorno de Bibiana
e Severo à fazenda e as lutas sindicais, a morte de Zeca Chapéu
e o passar do tempo, até a morte de Severo, quando outra voz
surge.
Prof. Raul Castro
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Na terceira parte, Rio de Sangue, temos a voz de Santa
Rita Pescadeira, que monta o corpo de Muída, uma velha
centenária que busca abrigo na fazenda e passa a narrar a partir
da morte de Severo, a relação com os moradores, a ação de
Bibiana fazendo sobreviver a luta do esposa, a morte de
Salomão, depois habita outros corpos para assim se tornar
onisciente sendo capaz de adentrar no tempo e na mente e até
mesmo preencher lacunas ao longo da história, como por
exemplo, como Donana conseguia faca de marfim e por a avó
das meninas a guardavam com tanto medo.
A terceira parte explora temas como injustiça, resistência,
luta por direitos e o impacto das mudanças sociais na
comunidade. A narrativa se desenrola em camadas, revelando
segredos e conexões entre os personagens. A presença de
elementos espirituais e místicos adiciona uma dimensão
simbólica à história.
A narrativa também destaca a resistência contra a
opressão e a busca por justiça, culminando na vingança contra
Salomão no final da obra.
CLASSIFICAÇÃO
Um Romance pós-moderno com aspectos e temáticas
regionais, ao vermos a densidade de contrução da obra, o seu
início, amadurecimento e fim, podemos notar que se trata de um
Romance de Formação.
Esse estilo tem origem no romantismo alemão e se trata
de um romance em que se explora um percurso de vida de um
personagens, ou vários personagens explorando aspectos
psicológicos, éticos, morai e socias. O livro considerado um
marco nesse processo é encontrado no romance alemão de J. W
Goethe por meio da obra de Os anos de aprendizado de Wilhelm
Meister.
TEMÁTICAS DESENVOLVIDAS
Em um romance dessa envergadura é bem complexo se
trabalhar uma temática central, então aqui estão alguns aspectos
trabalhados na obra e que se desenvolvem ao longo da obra:
Tradição e Modernidade:
A obra explora a tensão entre tradições culturais e a
influência da modernidade nas comunidades rurais do sertão.
Relações Familiares:
As dinâmicas familiares, especialmente na relação entre
Bibiana e Belonísia, destacam-se, explorando temas como amor,
rivalidade e lealdade.
Espiritualidade e Religiosidade:
A presença de entidades espirituais, práticas religiosas
afro-brasileiras e o papel da espiritualidade na vida cotidiana são
temas recorrentes.
Conflitos Sociais:
A obra aborda questões sociais, como a luta pela terra, as
relações entre trabalhadores e patrões, e a desigualdade social
no contexto rural.
Identidade e Pertencimento:
Os personagens enfrentam questões de identidade,
pertencimento e resistência cultural, especialmente em relação à
herança afro-indígena.
Violência e Resistência:
A narrativa explora a violência sistêmica e as formas de
resistência adotadas pelos personagens diante das
adversidades.
Condição Feminina:
 A condição da mulher na sociedade é explorada por meio
das experiências de Bibiana e Belonísia, destacando desafios e
superações.
Ciclos de Vida e Morte:
A obra lida com temas ligados aos ciclos de vida, morte e
renascimento, muitas vezes associados a elementos espirituais
e naturais.
Migração e Deslocamento:
O deslocamento de Zeca em busca de melhores
condições de vida aborda questões de migração e a busca por
oportunidades.
Natureza e Ambiente:
A relação entre os personagens e o ambiente natural,
incluindo a seca, a terra e os rios, é uma temática essencial que
permeia a narrativa.
PERSONAGENS
Personagens centrais
Bibiana – irmã mais velha da família e narradora da parte 01
(Fio de Corte), ela inicia cortando a língua no início da história,
conhece Severo, casa-se, tem filhos e depois assume a luta na
terceira parte após a morte do esposo. É uma das figuras
centrais da trama.
Belonísia – irmã mais nova de irmã mais nova de Bibiana.
Juntas, elas exploram o conteúdo da mala da avó e enfrentam
as consequências do incidente com a faca. Após a saída da irmã
da fazenda de Água Negra ela assume o papel de narradora da
segunda parte, uma mulher valente que luta pela sobrevivência
em meio às intempéries da vida. Chega a morar junto com
Tobias com que sofre maus bocados, mas não se deixa abater,
ao final, fica do lado com a irmã na luta que Severo lidera.
Santa Rita Pescadeira – narradora onisciente da terceira parte,
Santa Rita é uma entidade que percorre corpos chamando-os de
cavalo, inicialmente está em Miúda, que está centenária e nos
narra os eventos após a morte de Severo, bem como a nova luta
quando a fazenda é vendida.
Zeca Chapéu Grande – o pai das meninas, é pai de santo e
curador, reflete o elemento tradicional e religioso, realiza muitas
obras e cura enfermos, inclusive da loucura. Seu nome real é
José Alcino e falece na segunda parte vindo a ser enterrado no
cemitério Viração, casado com Salustiana e filho de Donana,
chegou a enfrentar a loucura e depois de curado se dedicou a
abraçar a tradição religiosa.
Severo – filho de Servó e Hermelina, prima de Bibiana e
Belonísia, chega ainda criança em Água Negra, depois casa com
Bibiana a qual terá com ela filho e adentra na luta sindical e pela
reforma agrária, acaba sendo assassinado no final da segunda
parte. Sua morte é um divisor central dentro da narrativa.
Salustiana Nicolau – também chamada de Salu, é a esposa de
Zeca e assume os partos após a morte de Donana, com a morte
do marido, fica abalada passando a beber bastante.
Donana – avó das meninas, guarda uma faca que acaba por
ferir as meninas, representa os elementos da matriarcalidade,
acaba morrendo no rio sendo encontrada pelas netas. Em um
flashback narrado por Belonísia, ficamos sabendo que quando
se negou as obrigações espirituais chegou a ser punida com a
loucura do filho.
Outros personagens
Prof. Raul Castro
Sutério - Administrador da fazenda, que pede a Zeca Chapéu
Grande para trazer trabalhadores.
Crispina e Crispiniana - Gêmeas que causam comoção na
história. Crispina é tratada por Zeca Chapéu Grande, enquanto
Crispiniana observa a recuperação da irmã.
Saturnino - Pai das gêmeas, Crispina e Crispiniana.
Hermelina e Servó - Tio e tia que se mudam para a fazenda
com seus seis filhos.
Dona Carmeniuza - Personagem que expressa
descontentamento com a exploração dos patrões e suas
práticas.
Tobias – vaqueiro que chega na segunda parte do livro e leva
Belonísia para morar com ele, chega a abusar do álcool e tenta
até maltratá-la, mas Belonísia resiste, mesmo não podendo falar.
Morre porque desrespeitou Valmira, que naquele momento
estava com Santa Rita Pescadeira e duvidou de sua
espiritualidade.
Maria Cabocla – casada com Aparecido, sofre maus tratos e
recorre a Belonísia, ambas se aproximam, mas depois se
afastam.
Inácio – filho de Bibiana e Severo, na terceira parte do livro
chega a ir para a cidade prestar vestibular, pois queria ser
professor.
Zezé e Domingas – filho e filha de Zeca Chapéu Grande e
irmãos de Bibiana e Belonísia.
João do Lajedo – curador da fazenda Caxangá que tira a
loucura de Zeca em um flashback narrado por Belonísia.
Tia Carmelita – irmã de Zeca e tias das narradoras, em um
flashback narrado por Santa Rita Pescadera, chega a revelar
que foi abusada sexualmente pelo parceiro de Donana que o
matou com a faca de marfim que ela guardava com tanto medo.
Família Peixoto – família dona da fazenda, que só administram
de longe, acabam depois por vende-la para Salomão.
Salomão e Estela – compram a fazenda, Salomão começa
como sendo alguém bom, mas depois se revela ser alguém
nefasto confabulando para a morte de Severo. Depois é
assassinado pelas irmãs como vingança pela morte de Severo.
RESUMO COMPLETO
FIO DE CORTE
Capítulo 1
A narradora, Bibiana, relembra um momento de sua
infância quando tinha pouco mais de sete anos. Ela e sua irmã
mais nova, Belonísia, estavam brincando no terreiro da casa
antiga, fazendo bonecas de espigas de milho. As duas eram
curiosas sobre o conteúdo da mala de couro de sua avó,
Donana, que estava sempre muito cuidadosa com suas coisas e
misteriosa.
Quando perceberam que Donana se afastou da casa em
direção ao quintal, decidiram que era a oportunidade de
descobrir o que havia na mala. Bibiana foi até o quarto da avó e
abriu a mala, que estava coberta de poeira e sujeira. No meio
das roupas antigas e mal dobradas, encontraram um objeto
envolto em um tecido sujo. Ao desfazer o nó do tecido,
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revelaram uma faca em perfeito estado, sem manchas nem
arranhões.
As duas irmãs ficaram fascinadas pela faca e tentaram
segurá-la. Bibiana a colocou na boca para sentir seu gosto, mas
antes que Belonísia pudesse fazer o mesmo, ela retirou a faca
de forma brusca da boca de Bibiana, causando um ferimento. O
sangue começou a escorrer da boca de ambas, manchando o
tecido que envolvia a faca.
Nesse momento, Donana as chamou para a cozinha,
alertando-as sobre batatas queimando. Ela notou a mala fora do
lugar e o sangue em suas roupas, exigindo explicações das
meninas sobre o que estavam fazendo ali. O capítulo termina
com as crianças sob a ameaça de Donana, que está chocada e
furiosa com a descoberta e sangramento das meninas sendo
que uma das meninas haviam amputado a língua.
Notas e análises
O capítulo 1 de "Torto Arado" apresenta uma linguagem rica e
descritiva que mergulha os leitores na vida e nas experiências das
personagens.
Já se percebe que o capítulo é narrado em primeira pessoa pela
personagem Bibiana, o que permite que os leitores tenham acesso aos
pensamentos e sentimentos dela enquanto ela relembra esse evento de
sua infância.
Além disso, a linguagem é altamente descritiva e rica em
detalhes sensoriais, como a cena em que ela descreve o cheiro da faca
que coloca na boca e até o gosto do sangue quando sofre o corte ou
como sente o cheiro das batatas queimando quando sua avó chama sua
atenção e até a textura das peças de tecidos que envolviam a faca, isso
tudo remete a própria curiosidade da crianças que ainda tem o costuma
de cheirar, toca e experimentar bucalmente as coisas.
O capítulo contém elementos simbólicos, como a faca
encontrada na mala de Donana, que representa um segredo e
desencadeia uma série de eventos na história.
Além disso, o sangue derramado torna-se um símbolo do
mistério e da transgressão das crianças quase que uma punição para
quem mexe na árvore proibida, ou como quem abre a caixa de Pandora.
Itamar Vieira também incorpora elementos da cultura nordestina,
como o cenário rural, a linguagem coloquial e os costumes da vida no
interior do Brasil.
A narrativa alterna entre o passado (a infância das personagens)
e o presente (a lembrança do evento) de forma fluida, criando uma
sensação de imersão no tempo e no espaço.
Mas o que mais me chamou a atenção nesse capítulo foram os
diálogos internos que revelam seus pensamentos e reflexões enquanto
ela revive essa memória. Ainda mais ao percebermos que ambas as
meninas estão sem a língua fica o ponto, como elas irão se comunicar?
O que nos leva a pensar que a introspecção se ampliará ao longo do
romance.
Capítulo 2
Após o incidente, os pais das meninas, Zeca Chapéu
Grande e Salustiana Nicolau, retornaram da roça e encontraram
Donana desorientada e as duas meninas chorando com suas
cabeças mergulhadas em uma tina de água. Donana repetia que
"ela perdeu a língua, ela cortou a língua," o que deixou os pais
confusos sobre o que tinha acontecido.
O gerente da fazenda, Sutério, chegou em um carro para
levar as meninas ao hospital. Durante a viagem, as meninas
estavam em estado de choque, e a mãe delas tentava estancar
o sangue e rezar para amenizar a situação.
O pai levava a língua de uma delas na camisa e o
sentimento era de estranhamento naquele lugar:
Foi o primeiro lugar em que vi mais gente branca que
preta. E vi como as pessoas nos olhavam com curiosidade,
mas sem se aproximar.
No hospital, após um exame médico, foi determinado que
a língua de uma das meninas havia sido amputada, enquanto a
outra havia sofrido um corte profundo, mas sua língua ainda
estava intacta. As duas precisariam ficar no hospital por algum
tempo e passariam a se alimentar com alimentos pastosos.
Prof. Raul Castro
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O capítulo também descreve a experiência das meninas
ao saírem da fazenda pela primeira vez e conhecerem a cidade
com suas casas próximas, ruas calçadas e carros.
Nunca havíamos andado no Ford Rural da fazenda ou
em qualquer outro automóvel. E como era diferente o
mundo além de Água Negra! Como era diferente a cidade
com suas casas grudadas uma às outras, dividindo paredes.
As ruas calçadas com pedras. O chão das nossas casas e
dos caminhos da fazenda eram de terra. De barro, apenas,
que também servia para fazer a comida de nossas bonecas
de sabugo, e de onde brotava quase tudo que comíamos.
Onde enterrávamos os restos do parto e o umbigo dos
nascidos. Onde enterrávamos os restos de nossos corpos.
Para onde todos desceriam algum dia.
Esse mundo diferente as impressiona, mas elas estão em
silêncio, absorvidas por suas próprias reflexões. Quando
retornam à fazenda, encontram Zezé e Domingas
acompanhados de dona Tonha avisando que Donana saiu
sozinha em direção ao rio, levando um embrulho, deixando todos
preocupados com seu paradeiro.
Notas e análises
O capítulo 2 explora as consequências do incidente e como as
personagens estão lidando com essa reviravolta em suas vidas. A
narrativa continua aprofundando a complexidade das relações familiares
e da cultura regional presente na história. Além disso relata a experiência
para fora do ambiente da fazenda como se as meninas fosse
transportadas para um novo mundo, saindo do mundo comum e quase
adentrando em um mundo mágico em uma cidade com casas, carros e
de pensar que todo aquele sentimento de miséria e de pobreza não é de
um tempo histórico do século XIX é o presente, é ainda a realidade de
muitas famílias brasileiras.
Capítulo 3
A narradora, Bibiana, reflete sobre a sua família e a sua
posição como a filha mais velha de quatro filhos vivos. Ela
menciona que houve outros irmãos que nasceram natimortos.
Bibiana narra a ordem de nascimento dos irmãos, com
Belonísia vindo logo após o seu nascimento. Entre ela e
Belonísia, não houve natimortos, ao contrário dos irmãos mais
novos.
A avó de Bibiana, Donana, era uma parteira experiente e
ajudou a mãe de Bibiana nos partos. Donana desempenhava o
papel tanto de avó quanto de mãe na vida das crianças.
O capítulo aborda a mudança da família para a Fazenda
Água Negra, onde os pais de Bibiana se tornaram trabalhadores.
Essa mudança foi motivada pela fragmentação da terra na
Fazenda Caxangá e pela necessidade de encontrar trabalho.¹
Bibiana compartilha algumas histórias sobre sua infância,
destacando as brigas frequentes com Belonísia e como essas
disputas diminuíram após o acidente que resultou na perda de
sua língua.
O capítulo explora a relação de Bibiana e Belonísia após
o acidente, destacando como as duas irmãs aprenderam a se
comunicar de maneira não verbal, desenvolvendo uma conexão
única.
A narradora descreve como a empatia e a compreensão
mútua cresceram entre ela e Belonísia ao longo dos anos,
tornando-as quase siamesas na forma como compartilham suas
experiências e sentimentos.
Notas e análises
¹ Aqui a narradora nos fala do processo de grilagem, que
consistia em latifundiários que falsificavam documentos e tomavam as
terras daqueles que eram mais desafortunados, reparem:
Os homens investidos de poderes, muitas vezes acompanhados
de outros homens em bandos armados, surgiam da noite para o dia com
um documento de que ninguém sabia a origem. Diziam que haviam
comprado pedaços da Caxangá. Alguns eram confirmados pelos
capatazes, outros não.

Capítulo 4
Donana, a avó das narradoras Bibiana e Belonísia,
retorna de uma viagem à beira do rio com a saia molhada. Ela
afirma ter deixado o "mal" lá, que se refere a uma faca com cabo
de marfim.
A narradora nota que essa faca pode estar dentro de um
embrulho que Donana levou consigo. Ela parece cansada e
abatida.
Donana interage com as meninas, acariciando-as com as
mãos nodosas. No entanto, ela não diz muito mais e entra em
seu quarto, onde permanecerá até o dia seguinte.
Enquanto isso, o pai das meninas acende uma vela no
quarto dos santos, e a mãe as leva para seu quarto, amarrando
uma cortina para vigiá-las.
Donana parece estar lidando com algum trauma ou
segredo do passado, pois fica obcecada em arrumar e
desarrumar sua velha mala de couro, que contém vários objetos
pessoais e documentos.
Ela lamenta não ter nenhum retrato de seus filhos e
gradualmente perde o interesse nas atividades que costumava
realizar, como trabalhar no quintal e cuidar das plantas.
A avó fica cada vez mais reclusa e só se interessa por um
cão chamado Fusco, que Belonísia encontrou com a pata
quebrada na estrada. Fusco se torna uma fonte de conexão para
Donana e a ajuda a sair de sua concha emocional.
A avó começa a confundir as meninas, chamando-as pelo
nome de Carmelita, e conta histórias intermináveis antes de
adormecer ou que as próprias meninas começam a dormir.
Em um momento de delírio, Donana acredita que Fusco
se transformou em uma onça e pede que as meninas o protejam.
Ela também afirma que seu pai está dormindo aos pés de um
jatobá ao lado da onça.
As meninas acompanham Donana em suas caminhadas
e colhem frutos de buriti enquanto cuidam dela. Em um trágico
acontecimento, Bibiana encontra Donana caída e submersa no
rio Utinga, mas não consegue retirá-la da água e corre para
buscar ajuda deduzindo que a avó já estaria morta.
Notas e análises
Este capítulo descreve a deterioração da avó Donana, que
parece estar lutando contra lembranças ou traumas do passado. Sua
fixação em Fusco e a confusão em relação aos nomes das meninas são
indicadores de seu estado mental precário. A descoberta de Donana no
rio no final do capítulo cria um momento de suspense e tensão na
história, o fato da mala de Donana ser arrumada ao longo do capítulo já
era um adiantamento de sua despedida desse mundo. Esse capítulo já
os faz refletir sobre o porquê da primeira parte se chamar Fio de Corte,
pois representa não só as perdas da vida, mas a fragilidade da mesma,
estando na condição em que as meninas estão fazem perceber que
todos ali estão por um fio cujo corte da morte pode a qualquer momento
arrrebatá-las daquele lugar.
Capítulo 5
Após a morte de Donana, ninguém desfez a mala que ela
costumava arrumar diariamente nos últimos meses de sua vida.
A família conhecia cada objeto e peça de roupa dentro da mala.
A mãe das meninas sugeriu doar a mala a alguém
necessitado, mas o pai não teve coragem de se desfazer das
coisas de Donana.
Não se menciona o paradeiro da faca com cabo de
marfim, que era motivo de mistério. A faca estava envolta em
tecido com manchas de sangue e Bibiana chegou a se perguntar
porque não vendiam a faca já que viviam em uma situação tão
miserável.
A narradora descreve como a casa frequentemente
recebia visitas de pessoas enlouquecidas ou perturbadas que
buscavam a ajuda do pai, Zeca Chapéu Grande, um curador de
jarê.¹ Essas visitas perturbavam a rotina da família e criavam um
ambiente de medo e tensão.
Prof. Raul Castro
A chegada de Crispina, uma das gêmeas Crispina e
Crispiniana, causa comoção. Crispina chega amarrada e
enlouquecida, gritando e se debatendo.
Saturnino, o pai das gêmeas, explica que estavam
procurando por Crispina havia uma semana, e ela foi encontrada
no cemitério da cidade, escondida.
Crispina é desamarrada e levada para um banho,
enquanto o pai e Zeca Chapéu Grande preparam um ritual com
uma vela acesa para determinar se ela pode ser curada ou não.
Notas e análises
¹ O "jarê" é uma prática religiosa de matriz africana que se
encontra exclusivamente na região da Chapada Diamantina, localizada
no estado da Bahia, Brasil. Essa tradição religiosa é notavelmente
observada em cidades como Iraquara, Lençóis, Mucugê, Palmeiras e
outras que fazem parte dessa região.
O jarê é caracterizado por ser uma vertente menos ortodoxa do
candomblé, resultando de um processo de fusão que incorpora
elementos dos cultos das nações bantu e nagô, além de influências do
catolicismo rural, da umbanda e do espiritismo kardecista.
Etimologicamente, a palavra "jarê" pode ter duas possibilidades.
Ela pode ter origem no iorubá, onde "jarê" significa "quase cair ao solo"
ou "cortar através". Outra hipótese é que seja uma corruptela da palavra
"njale", que designava uma cerimônia realizada pelos habitantes das
regiões atuais da Nigéria e Benim.
O pai Zeca Chapéu Grande é, portanto, um pai de santo curador.
Este capítulo aborda a chegada de Crispina, uma pessoa
perturbada, à casa da família. A narradora destaca a influência do pai,
Zeca Chapéu Grande, como um curador de jarê e as consequências que
essas visitas perturbadoras têm sobre a família e sua rotina. A chegada
de Crispina promete ser um evento importante na história. Além disso,
Bibiana apona para o fato das meninas serem gêmeas e serem iguais
uma a outra, mostrando que na casa, por ausências de espelhos, não
tinham como se verem, exceto pelo reflexo do rio ou pela lâmina em que
elas se feriram, isso mostra a condição de pobreza da família e na
importância de se observar como partida para o autoconhecimento.
Capítulo 6
Crispina, após algumas semanas de tratamento com
Zeca Chapéu Grande, começa a se acalmar e a recuperar parte
de sua sanidade. Durante esse período, a família tem que lidar
com seus gritos e gemidos, que ocorrem tanto durante o dia
quanto à noite.
A narradora e suas irmãs, Belonísia e Domingas,
frequentemente escutam os sussurros vindos do quarto de
Crispina à noite, quando ela está perturbada, enquanto sua mãe
e Zeca Chapéu Grande tentam acalmá-la.
Certo dia, as duas irmãs, Crispina e Crispiniana, que
costumavam ser muito próximas, têm uma discussão acalorada
no quarto de Crispina. A discussão envolve acusações de traição
e envolvimento com um homem chamado Isidoro.
A briga entre as irmãs fica intensa, com Crispina entrando
em um estado agitado e começando a salivar excessivamente,
enquanto Crispiniana chora e tenta se defender das acusações.
A mãe das narradoras intervém para separar as irmãs e
ameaça chamar o pai de Crispina, compadre Saturnino, para
levá-las embora de casa se não pararem com a briga.
Crispiniana é instruída a sair do quarto e trabalhar nos
afazeres domésticos. Enquanto isso, Crispina continua chorando
e revela parte de sua história, incluindo seu desaparecimento e
como foi encontrada no cemitério da cidade.
Crispina repetiu o que havia dito, que encontrou seu
noivo deitado com a irmã na roça dele. Que foi tomada de
um sentimento de amargor que nunca havia experimentado.
Que já não atinava mais coisa com coisa e foi tomada de
uma coisa ruim que a perturbou por completo.
A narradora e suas irmãs escutam a história de Crispina,
que envolve seu desaparecimento, as buscas realizadas por seu
pai e noivo, e sua descoberta no cemitério.
5
 Crispina gradualmente se recupera e recobra a saúde
física e mental. A família espera que em breve ela retorne para
casa, às margens do rio Santo Antônio.
Crispina e Isidoro decidem viver juntos em uma casa de
barro na fazenda, apesar da oposição do pai de Crispina.
Crispiniana observa a vida de sua irmã com grande paixão
surpreendendo as meninas que não esperavam por esse “final
feliz”.
Capítulo 7
Anos depois do acontecimento, Sutério administrador da
fazenda, pediu que Zeca Chapéu Grande chamasse alguns
trabalhadores para a fazenda, que não tivessem medo do
trabalho, o que leva o pai das meninas a convidar o cunhado
para trabalhas na fazenda de Água Negra. Nesse momento
ocorre uma crítica a forma de trabalho nesses ambientes, note:
Podia construir casa de barro, nada de alvenaria,
nada que demarcasse o tempo de presença das famílias na
terra. Podia colocar roça pequena para ter abóbora, feijão,
quiabo, nada que desviasse da necessidade de trabalhar
para o dono da fazenda, afinal, era para isso que se permitia
a morada. Podia trazer mulher e filhos, melhor assim,
porque quando eles crescessem substituiriam os mais
velhos. Seria gente de estima, conhecida, afilhados do
fazendeiro. Dinheiro não tinha, mas tinha comida no prato.
Poderia ficar naquelas paragens, sossegado, sem ser
importunado, bastava obedecer às ordens que lhe eram
dadas.
Zeca ainda diz para o cunhado que era bom, pois no
passado era bem pior. Mostrou a plantação de arroz que era
vasta e com os filhos que viria com o casal para espantar os
miudinhos que atacavam as plantações de arroz.
Bibiana chega a dizer que acordavam bem cedo para
espantar e em alguns casos até matar os pássaros.
Assim, convencido pelo cunhado chegou Servó, sua
esposa Hermelina e seis filhos.
O tio torna-se um membro ativo da família e contribui para
a alegria nas festas da fazenda tocando pífaro, tornando-se uma
tradição nas celebrações religiosas e sociais.
Depois nos é descrito as festas religiosas, em particular a
de São Sebastião, padroeiro da fazenda. Nessas festas, a
família acolhe muitos devotos de fora da fazenda, que vêm
celebrar e agradecer pelas bênçãos recebidas dos encantados.
Bibiana escuta as conversas da dona Carmeniuza
quando os patrões faziam visitas indesejadas, observe:
Queriam saber se eles haviam chegado por aqui, se
tinham levado as batatas do nosso quintal também. «Mas as
batatas do nosso quintal não são deles», alguém dizia, «eles
plantam arroz e cana. Levam batatas, levam feijão e
abóbora. Até folhas pra chá levam. E se as batatas colhidas
estiverem pequenas fazem a gente cavoucar a terra para
levar as maiores» – disse Santa, arregalando os olhos para
mostrar sua revolta. «Que usura! Eles já ficam com o
dinheiro da colheita do arroz e da cana.»
Severo, um dos filhos do tio Servó, desenvolve um
relacionamento próximo com as filhas da narradora,
especialmente com Belonísia, despertando ciúmes entre as
duas. Severo aprende a se comunicar usando a linguagem de
sinais que as irmãs desenvolveram.
Belonísia desaparece durante a festa, sendo encontrada
debaixo de uma árvore com Severo. Ela, após testemunhar isso,
experimenta sentimentos de decepção e rivalidade em relação à
irmã.
Notas e Capítulos
Prof. Raul Castro
6
Esse capítulo estabelece a primeira quebra de confiança entre
as irmãs gerada pela chegada de Severo bem como o crescimento das
meninas já quase adolescentes. O nome do rapaz também é bem
sugestivo, Severo, a forma como a relação das meninas ficará daqui
para frente. O capítulo também nos mostra a relação de exploração dos
patrões ao pegar batatas e outros legumes da terra trabalhada com tanto
suor, mas como disse a própria Carmeniuza, não adiantava reclamar,
senão seriam colocados para fora das terras.
Capítulo 8
A narradora relata que, ao amanhecer, ela comunicou à
mãe que Belonísia havia passado a noite anterior debaixo de um
umbuzeiro com o primo Severo. Ela também sugeriu que havia
testemunhado um beijo entre os dois.
Sem esperar explicações, a mãe impôs uma punição a
Belonísia, dando-lhe uma surra de sandália. A narradora sentiu
um misto de desejo de vingança pela punição de sua irmã e
culpa por tê-la delatado.
A surra afetou profundamente Belonísia, que passou
semanas sem olhar diretamente para a narradora. Isso levou a
uma intensificação do distanciamento entre as duas, que antes
compartilhavam uma relação próxima.
Ela percebeu que a mãe também estava arrependida da
surra e tentava compensar sua dureza com gestos de carinho
para Belonísia, como oferecer-lhe um mingau antes dos outros
filhos e atribuir-lhe tarefas domésticas menos árduas.
O relacionamento tenso entre as duas irmãs continuou, e
elas passaram a se comunicar apenas por meio de sorrisos e
gestos amigáveis provocados por Domingas, uma das irmãs
mais novas, a mãe chegou a repreendê-las, veja essa cena:
Quando minha mãe percebeu o mal-estar que havia
se introduzido entre nós, tratou de repreender com rigor,
que aquela não era a atitude de duas irmãs que conviviam
na mesma casa, que cresceram na mesma barriga e que
vieram ao mundo pelas mãos do encantado Velho Nagô.¹
Que ela havia parido irmãs, e não inimigas, e que não iria
tolerar mais nossos calundus.²
A mãe levou as filhas para pescar no rio Santo Antônio,
onde elas capturaram peixes após um temporal inesperado.
Durante a pescaria, a mãe tentou reconciliar as duas irmãs,
repreendendo-as por sua falta de comunicação.
Durante a pescaria, Bibiana feriu o pé em um casco de
caramujo quebrado. Belonísia ajudou a remover o objeto e
cuidar do ferimento, enquanto Salu, a mãe, coletou ervas para
tratar o corte.
O capítulo termina com a narradora e Belonísia a
caminho de casa, onde esperam para ver qual será a reação do
pai diante do ferimento dela.
Notas e capítulos
¹ Aqui podemos notar mais uma interessante referência da
religião africana, Velho Nagô é uma referência a uma entidade espiritual
ou ancestral na tradição religiosa afro-brasileira conhecida como
Candomblé. No Candomblé, os "nagôs" são um dos principais grupos
étnicos africanos que foram trazidos para o Brasil durante o período da
escravidão. Eles têm uma cultura religiosa rica e complexa que inclui
uma variedade de divindades, rituais e tradições.
O "Velho Nagô" se refere a uma figura mítica ou ancestral dentro
da religião Candomblé, que é reverenciada e invocada em rituais
religiosos. Essas figuras ancestrais têm grande importância na crença e
na prática religiosa, muitas vezes atuando como intermediários entre os
humanos e as divindades. Eles são invocados para orientação espiritual,
proteção e bênçãos.
No contexto do livro, a menção ao "Velho Nagô" sugere a
influência e a presença contínua das crenças e práticas religiosas afro-
brasileiras na vida das personagens e na cultura da região em que
vivem. Além disso, destaca a importância da espiritualidade e das
tradições culturais na vida cotidiana e na compreensão do mundo das
personagens.
² a palavra "calundus" é usada para se referir a conflitos,
desentendimentos ou brigas entre as duas irmãs.

Capítulo 9
No Capítulo 9, a narradora relembra um período marcante
em sua vida quando um corte profundo no pé a deixou incapaz
de andar, e nesse momento de fragilidade física, ela encontrou
apoio em sua irmã Belonísia e em Domingas. Essa adversidade
física acabou aproximando novamente as duas irmãs, que
haviam se afastado devido a um incidente envolvendo primo
Severo. A narradora reflete sobre como a comunicação e a
conexão íntima entre ela e Belonísia são essenciais para a
relação delas.
Além disso, o capítulo destaca a figura respeitada do pai
da narradora na fazenda em que vivem. Ele é um trabalhador
admirado e confiável, frequentemente recorrido pelos vizinhos e
patrões para solucionar problemas e liderar trabalhos na
comunidade. Devido à reputação de seu pai e ao status da
família como membros respeitáveis na região, a narradora e
Belonísia são protegidas do assédio comum que muitas meninas
de sua idade enfrentam, mas isso para elas era uma exceção,
nem todas tinham tal benefício.
Muitas caíam sob o peso da insistência, não resistiam
às abordagens, e com as bênçãos dos pais se uniam com
seus corpos ainda em formação. Sucumbiam ao domínio do
homem, dos capatazes, dos fazendeiros das cercanias.
O capítulo também menciona uma conversa entre a mãe
da narradora e dona Tonha, na qual discutem um conflito
envolvendo duas irmãs, Crispina e Crispiniana, que estão
grávidas e em desacordo.
A mãe da narradora fica chocada ao descobrir que
Isidoro, um homem envolvido com uma das irmãs, pode ser o pai
das crianças.
Isso ficou na cabeça de Bibiana se perguntando até que
ponto seria amiga eterna de Belonísia caso uma das duas
fizesse uma ação como essa.
Notas e capítulos
Esse capítulo trata de mostrar o assédio que ocorria naquele
meio e da exploração sexual que se era feito com as moças que,
inocentes e entrando na puberdade, acabavam cedendo às investidas
dos homens.
Capítulo 10
Bibiana descreve como sua mãe assumiu o papel de
parteira na comunidade de Água Negra. Antes disso, seu pai
havia sido o parteiro, mas devido à sua timidez diante das
mulheres em trabalho de parto, ele transferiu essa
responsabilidade para sua esposa, Salustiana. A mãe da
narradora aprendeu com Donana, sua sogra, sobre os rituais e
práticas envolvidos nos partos, desde as mulheres até os
animais.
A narradora reflete sobre como sua mãe não tinha a
mesma força e aura mística que Donana durante os partos.
Donana parecia transcendental em suas habilidades, enquanto
Salustiana era mais humana e vulnerável. No entanto, a
narradora observa a transformação de sua mãe quando ela
estava em ação durante um parto, como se ela fosse possuída
por uma energia especial que a permitia lidar com situações
desafiadoras.
O capítulo também descreve um incidente em que a mãe
da narradora é chamada para ajudar no parto de uma das
gêmeas de Saturnino, que estava enfrentando problemas sérios
durante o parto. O Velho Nagô, um ente espiritual conhecido na
comunidade, é invocado para trazer serenidade e auxiliar no
processo. Eventualmente, o bebê nasce, trazendo um senso de
alívio e paz para todos.
Mais tarde, a mãe da narradora é chamada novamente
para ajudar no parto da outra gêmea, Crispina, e Belonísia a
Prof. Raul Castro
acompanha. No entanto, uma situação adversa ocorre, e
Belonísia corre de volta para buscar o pai da narradora, Zeca,
pois algo parece estar errado com o parto de Crispina. O
capítulo termina com a mãe da narradora afirmando que o bebê
é um anjo, sugerindo que algo fora do comum aconteceu durante
o parto de Crispina, deixando todos preocupados com o que está
por vir.
Capítulo 11
Bibiana descreve um período de tensão e mudanças na
comunidade de Água Negra. Após o difícil parto de Crispina,
havia temores de que ela pudesse ter uma recaída em sua
loucura ou que precisasse ser recolhida novamente à casa da
narradora para tratamento.
Crispina estava mergulhada em melancolia e não cuidava
de si mesma, e Isidoro, seu companheiro, estava preocupado
com a tristeza dela. A situação se torna ainda mais complexa
devido à presença do filho natimorto, que poderia ser de Isidoro
ou de outro homem. No entanto, Crispiniana, a irmã gêmea de
Crispina, cuida do sobrinho e eventualmente oferece seu seio
para amamentá-lo, já que o da irmã havia secado, o que
fortalece o vínculo entre as irmãs, passaram-se dois anos.
A narradora também descreve a celebração da noite de
Santa Bárbara, onde seu pai, Zeca Chapéu Grande, assume o
papel de incorporar a entidade Santa Bárbara durante a festa
religiosa. Essa tradição é importante na comunidade e conta
com a presença do prefeito da cidade. Durante a celebração,
Santa Bárbara faz uma demonstração pública para o prefeito,
pedindo que ele cumpra uma promessa feita no passado de
construir uma escola para os filhos dos trabalhadores da
fazenda.
Havia uma professora que havia sido mandada pelo
prefeito como forma de pagamento por Zeca ter curado o filho do
prefeito, mas nada de escola, a sala de aula era improvisada e
os moradores da Água Negra sabiam da importância da
educação, observe:
Inclusive, no princípio, o prefeito sugeriu uma
solução menos trabalhosa e, sabendo que minha mãe era
alfabetizada, quis fazê-la professora. Minha mãe, consciente
de suas limitações, recusou. Reforçou em sua fala a
expressão «tenho a letra, mas não tenho o número», e que
queria muito que seus filhos de sangue e de pegação
tivessem estudo e pudessem ter uma vida melhor do que a
que tinha. Essa era a razão de todo o esforço que meu pai
fez para que tivéssemos um professor e, percebendo que
não era o suficiente, uma escola. Meu pai não era
alfabetizado, assinava com o dedo de cortes e calos, de
colher frutos e espinhos da mata. Escondia as mãos com a
tinta escura quando precisava colocar suas digitais em
algum documento. De tudo que vi meu pai bem querer na
vida, talvez fosse a escrita e leitura dos filhos o que
perseguiu com mais afinco. Quem acompanhasse sua vida
de lida na terra ou a seriedade com que guardava as crenças
do jarê, acharia que eram os bens maiores de sua
existência. Mas pessoas como nós, quando viam o orgulho
que sentia dos filhos aprendendo a ler e do valor que davam
ao ensino, saberiam que esse era o bem que mais queria
poder nos legar.
O prefeito, diante da pressão da comunidade e da
encantada, concorda em cumprir sua promessa e construir a
escola, o que é visto como uma grande vitória para a narradora e
sua família, pois eles valorizam muito a educação e o acesso à
aprendizagem.
Notas e capítulos
Esse capítulo é estupendo, primeiro que a narradora justifica o
fato de aprender a ler e escrever, já que durante toda a narrativa é falado
de suas dificuldades, além disso se destaca também a festividade
7
religiosa e o sincretismo religioso, no festa comandada pelo pai há
também imagens de santos da Igreja Católica, como Nossa Senhora e
santos populares como Pe. Cícero e até fotografias de entes queridos
como o de Donana, fazendo referência a festividade dos mortos da
cultura mexicana.
Capítulo 12
Bibiana descreve como a construção da escola na
comunidade começou em poucos meses, embora não soubesse
os detalhes dos acordos entre o prefeito e a família Peixoto que
possibilitaram a obra.
Os moradores começaram a construir a escola em regime
de mutirão, nos domingos, quando podiam deixar de cuidar da
roça, mas ainda precisavam alimentar seus animais. O local
escolhido para a construção da escola era o cruzamento dos
caminhos para os rios Santo Antônio e Utinga.
O capítulo continua descrevendo um período de estiagem
que se iniciou naquele mesmo ano. A seca foi devastadora, e os
recursos destinados à construção da escola ajudaram a garantir
a sobrevivência de muitas famílias. A narradora menciona que,
segundo seu pai, essa foi a pior seca desde 1932, e que a
produção agrícola foi afetada drasticamente, com plantações de
arroz, cana, feijão e outros alimentos secando.
Com a escassez de alimentos, os moradores precisaram
pescar cada vez mais nos rios, mas só conseguiam pegar peixes
pequenos. Nos é descrito a luta pela sobrevivência, incluindo o
consumo de beiju de jatobá e a competição com o gado pela
palma, uma planta usada na alimentação. A caça também se
tornou difícil, com animais como veados, pacas e capivaras se
tornando raros.
A situação foi especialmente difícil para as crianças, que
pararam de crescer, ficaram frágeis e adoeceram devido à má
alimentação. Muitas crianças morreram nesse período, apesar
dos esforços de curadores locais para ajudá-las.
A narrativa também destaca as atividades da família para
sobreviver, como a colheita de buriti e dendê para vender na
feira da cidade. A narradora descreve como as mulheres
carregavam os frutos na cabeça e como o sol forte castigava a
todos durante essas jornadas.
No caminho para a cidade, a narradora encontra seu
primo Severo, que a acompanha até a feira. Eles compartilham
suas preocupações e sonhos, e Severo expressa seu desejo de
estudar e ter sua própria fazenda no futuro. A narradora fica
impressionada com as ideias de Severo sobre uma vida além da
fazenda e começa a inventar desculpas para passar mais tempo
com ele, ansiosa para explorar novas possibilidades.
Notas e análises
O capítulo 12 oferece um vislumbre das dificuldades enfrentadas
pela comunidade devido à seca e mostra como essa situação influencia
os relacionamentos e perspectivas dos personagens. Também destaca a
esperança e os sonhos de uma vida melhor que começam a surgir,
especialmente na mente da narradora, à medida que ela se aproxima de
Severo.
Capítulo 13
Bibiana continua seu envolvimento com Severo,
encontrando-o regularmente na estrada às segundas-feiras
quando vai para a cidade. Nesse período, a seca persiste,
forçando mudanças nas práticas agrícolas, com algumas
plantações sendo feitas no leito do rio Santo Antônio. As
adversidades fazem com que Severo seja visto como um
protetor durante as idas à cidade, e Belonísia parece mais
retraída, percebendo que as atenções de Severo estão voltadas
para ela.
A convivência com Severo se intensifica, e eles passam
mais tempo juntos, compartilhando risos, divergências e até
mesmo momentos de silêncio à beira do rio. A narradora revela
que, à medida que os frutos do buriti, que diversificavam a dieta
da família, começam a rarear, ela se aproxima mais das
Prof. Raul Castro
8
margens do rio, se aproximando também de Severo e das terras
de seus tios.
A relação entre a narradora e Severo evolui, com toques,
gestos e momentos de intimidade. Eles compartilham
experiências na tranquilidade da mata seca, até que a narradora
descreve o momento em que, após limparem o rosto um do
outro, ela permite que a boca de Severo toque a sua. Esse
acontecimento evoca a memória do beijo entre Severo e
Belonísia, e a narradora inicialmente se sente culpada, como se
tivesse traído sua irmã.
Apesar desse sentimento inicial de traição, a narradora
destaca a grandiosidade do que está sentindo pelo primo. A
relação deles continua a crescer, tornando-se uma expressão de
vida em contraste com a seca e as tragédias que assolam a
comunidade, como as mortes de crianças. A narradora sugere
que a natureza, misteriosa e violenta, os impulsiona a conceber
a vida, mesmo em meio às dificuldades e à ausência de chuva.
Notas e capítulos
O capítulo 13 destaca o desenvolvimento do relacionamento
entre a narradora e Severo, explorando emoções conflitantes em meio
às circunstâncias desafiadoras que a comunidade enfrenta. A história
revela como o desejo e a intimidade podem florescer mesmo nas
condições mais áridas.
Capítulo 14
Aos dezesseis anos, começa a experimentar intensa
ansiedade, tonturas e enjoos diários, suspeitando estar grávida.
Essa possibilidade a aflige, especialmente pela reação que teria
de seus pais e, em particular, de Belonísia. Apesar disso, ela
continua seus encontros com Severo, compartilhando a notícia
com ele, que se mostra eufórico com a possibilidade de ser pai.
A narradora relata seus sintomas de gravidez, inclusive o
desagrado ao ingerir frutos de jaca com Severo. A relação entre
eles se intensifica, e Severo sugere a ideia de deixar a fazenda,
estudar e tentar a sorte em outro lugar. Essa proposta deixa a
narradora atordoada, mas ela planeja contar aos pais e enfrentar
Belonísia.
Ao longo do tempo, a barriga da narradora começa a
crescer, mas ela tenta esconder a gravidez. Severo, preocupado
com a situação, sugere falar com os pais, mas a narradora
resistente e paralisada pelos acontecimentos planeja uma fuga
noturna sem avisar seus pais. Apesar da empolgação de Severo,
a narradora se sente mais abatida e confusa com a situação.
Em meio a esse contexto, surge uma figura enigmática, a
encantada Santa Rita Pescadeira, que se manifesta durante as
festas de jarê. Dona Miúda, uma viúva da região, é possuída
pela encantada, que faz evoluções e entoa uma canção. Durante
essa manifestação, a encantada menciona algo sobre um filho
da narradora e profetiza que "de seu movimento virá sua força e
sua derrota".
Essa sentença se tornará uma marca duradoura na
memória da narradora, atravessando sua vida nos anos
seguintes.
Capítulo 15
Belonísia descobre que a irmã está fazendo preparativos
para deixar a fazenda, guardando roupas na mala da avó. O
encontro tenso revela a distância que se formou entre as duas
irmãs nas últimas semanas, com a narradora se isolando em
seus próprios pensamentos. Sentindo-se culpada pela surpresa
e pelo sofrimento de Belonísia, a narradora chora depois que a
irmã sai.
Decidida a não deixar a fazenda, a narradora planeja
conversar com Severo, explicar sua decisão de ficar e enfrentar
seus pais. Ela imagina construir uma casa próxima à de seus
tios e permanecer na fazenda, contrariando os planos iniciais de
partir com Severo.
 A narradora revisita a ideia de fuga, mas ao se encontrar
com Severo, expressa suas dúvidas e inseguranças. Ela
argumenta que é jovem demais para tomar tal decisão e ressalta
as possíveis consequências negativas para suas famílias.
Apesar da conversa difícil, eles se despedem sem resolver
completamente seus destinos.
No dia seguinte, Sutério, representando a família Peixoto,
realiza uma pilhagem na casa da narradora, levando parte de
sua produção.¹
A narradora, atormentada pela insônia, reflete sobre as
palavras de Severo e a difícil situação de suas famílias na
fazenda. Ela se encontra novamente com Severo, e, olhando
para ele, decide seguir adiante com a partida. Juntos, planejam
os detalhes da fuga, até onde caminharão e onde tentarão pegar
carona para a Chapada Velha.
Na véspera da partida, a narradora arruma sua mala,
pede a Deus por proteção e saúde para sua família e reza para
que os encantados a ajudem a não ser considerada uma
desonra. Ao sair de casa, ela olha para trás diversas vezes,
enumerando o que está deixando para trás. A imagem de
Sutério pilhando suas batatas e o sofrimento subsequente a
impulsionam a seguir em frente, apesar das dúvidas.
A narradora menciona, de maneira simbólica, levar
consigo a língua ferida, que representou sua comunicação
peculiar e um meio de liberdade, especialmente para Belonísia.
Notas e análises
¹ O episódio evidencia a exploração e dominação da família
Peixoto sobre os trabalhadores da fazenda, aumentando a humilhação
de seu pai. Ele leva as batatas-doces que eles haviam comprado no
mercado com o dendê que haviam feito alegando ser a quinta parte de
tudo que produziam no quintal da casa, o que aqui não era o caso.
Esse capítulo marca a decisão da narradora de partir em busca
de uma vida diferente, enquanto enfrenta dilemas familiares e as duras
condições impostas pela exploração na fazenda.
TORTO ARADO¹
Capítulo 1
Belonísia descreve um sonho recorrente que a assombra
desde a infância. Ela corre por paisagens diversas, enfrentando
desafios, como espinhos de tucum e campos áridos. No sonho,
um homem bem vestido a bloqueia, e ela se depara com uma
pedra de marfim, que se revela como a faca de Donana, usada
anteriormente em um incidente com sua irmã Bibiana.
Ao despertar, a narradora descobre que Bibiana partiu
durante a noite, deixando a casa vazia. A decisão de sua irmã
causa tumulto emocional na família, mas a narradora, ao
contrário de quando foi prejudicada no passado, decide não
revelar imediatamente o ocorrido, evitando mais sofrimento. Ela
tenta entender e perdoar Bibiana, mesmo que sua partida tenha
deixado cicatrizes nela e em seus pais e tios.
A narrativa destaca o período de calmaria que se segue à
partida de Bibiana, marcado pelo início das chuvas e pela
inauguração da escola na fazenda, que recebe o nome de
Antônio Peixoto. A família Peixoto, apesar de sua presença
esporádica, mantém uma relação ambígua com os moradores
locais. O capítulo também revela os esforços do pai da narradora
para trazer a escola para a fazenda, mesmo enfrentando
resistência de alguns moradores e mesmo não tendo o
reconhecimento merecido.
Enquanto a narradora reflete sobre a mudança de
Bibiana, ela continua a sua jornada para a escola, observando a
paisagem encharcada pela chuva e se perguntando sobre o
destino de sua irmã e Severo.
Notas e análises
¹Agora o romance dá voz e vez para Belonísia, irmã de Bibiana e
que teve a língua mutilada, é interessante perceber como o jogo
narrativo muda bastante quanto ao Estilo e Tom:
Prof. Raul Castro
Fio de Corte (Parte 1): O tom pode ser mais inocente e marcado
pela descoberta das personagens infantis em relação ao mundo ao seu
redor.
Torto Arado (Parte 2): O tom pode ser mais reflexivo e
contemplativo, já que Belosínia narra eventos passados com uma
compreensão mais profunda.
Capítulo 2
Belosínia relata sua experiência na escola após a partida
de Bibiana. Sua vida na escola se torna um tormento sem a
presença da irmã para ajudá-la. A professora, dona Lourdes, é
informada por sua mãe sobre a mudez de Belosínia, sendo
inicialmente cuidadosa e generosa em ensinar as tarefas. No
entanto, Belosínia não se interessa pelas aulas e prefere as
atividades na roça e em casa. Seu desinteresse cresce, e ela
inventa desculpas para evitar a escola, retornando ao trabalho
na roça e na casa. Apesar do descontentamento de seu pai, ela
faz valer sua vontade.
Belosínia reflete sobre suas ambições em comparação
com as de Bibiana, percebendo diferenças fundamentais.
Enquanto Bibiana sonhava em ser professora, Belosínia se
sente mais conectada às atividades práticas da vida no campo.
A narradora destaca seu desinteresse pelas aulas,
considerando-as enfadonhas e distantes da realidade de sua
vida. O capítulo também destaca a conexão de Belosínia com a
natureza, aprendendo com seu pai sobre as nuances do
ambiente ao seu redor, contrastando com as histórias
fantasiosas da professora sobre o Brasil.
A relação próxima com seu pai é destacada como mais
significativa do que a presença na escola. Belosínia prefere
aprender sobre as ervas, raízes, nuvens e movimentos da
natureza com seu pai e Zeca Chapéu Grande. Seu pai, apesar
de não ter educação formal, possui um profundo conhecimento
prático da terra, das fases da lua e do cuidado com as plantas. O
capítulo enfatiza a sabedoria e a ligação de Belosínia com a
natureza, contrastando-a com a falta de relevância percebida
nas aulas da escola.
Notas e análises
Esse capítulo perfaz uma crítica bem interessante à questão da
educação nas escolas daquele tempo que para Belonísia não atraía
nada de útil e não agregava valor de vida e aprendizagem, como por
exemplo o fato da professora ensinar o hino sendo que para ela não
tinha valor, não era compreensível e ainda não podia cantá-lo em função
de sua mutilação.
Capítulo 3
Meses após a abertura da escola, Belosínia relata a
chegada de novos trabalhadores à fazenda. Entre eles, destaca-
se Maria Cabocla, uma mulher com o marido e seis filhos.
Tobias, um vaqueiro alto e magro, também chega à fazenda e
estabelece amizade com Zeca Chapéu Grande. Tobias participa
das festas de jarê na casa de Belosínia e, ao longo do tempo,
começa a se aproximar dela.
O capítulo descreve a crescente relação entre Tobias e
Belosínia, que, inicialmente, a deixa desconfortável com suas
cortesias, como colocar sempre-viva em seu cabelo. Tobias, no
entanto, parece respeitar a condição de Belosínia e não a
importuna com perguntas. O capítulo também aborda a
ascensão de Tobias na fazenda, substituindo o gerente em
algumas responsabilidades e tornando-se mensageiro nas idas à
cidade.
A narrativa toma um rumo emocional quando Tobias
entrega uma carta para a família, era de Bibiana. A carta revela
que Bibiana e Severo estão bem, trabalhando em uma fazenda
em Itaberaba, e Bibiana está grávida. Ela expressa o desejo de
que sua mãe faça o parto e menciona planos futuros, como
estudar para ser professora. A notícia é recebida com diversas
emoções pela família, desde lágrimas de alívio da mãe e de
perplexidade de Zeca, até sentimentos complexos de Belosínia,
9
que se vê em um misto de conforto e mágoa pela ausência de
Bibiana.
O capítulo conclui com a ambivalência de Belosínia em
relação a Tobias, ela sente o couro ainda mal curtido mesclado
ao seu suor, sentindo-se atraída por ele e fantasiando sobre uma
vida semelhante à de Bibiana.
Essa ambivalência é marcada pela vontade de que
Tobias retorne e a conduza para um destino semelhante ao de
sua irmã.
Capítulo 4
Belosínia continua a narrar suas experiências com os
partos que acompanhou em Água Negra após o período de
estiagem. Ela expressa a conexão entre o nascimento das
crianças e a pulsante vitalidade que sente em seu próprio corpo,
comparando-a à terra que pede para ser semeada. A narrativa
destaca a quantidade de nascimentos na comunidade,
especialmente após o término da seca, e como a presença de
Belosínia nos partos tornou-se uma constante.
Após a estação seca, as chuvas chegaram,
proporcionando um alívio à comunidade, mas também causando
prejuízos significativos devido às cheias. O capítulo descreve a
destruição causada pelas enchentes, levando algumas casas à
ruína e prejudicando as plantações. Apesar disso, a comunidade
demonstra resiliência ao aproveitar a água para cultivar os
quintais novamente.
A ausência de notícias de Bibiana e Severo causa
apreensão na família de Belosínia. A expectativa de que
retornariam no final do ano não se concretiza, e a incerteza
sobre o bem-estar da irmã e a falta de informações sobre o
nascimento do filho geram preocupação.
O capítulo também aborda a relação de Belosínia com
Tobias, o vaqueiro da fazenda. Inicialmente, ela percebe seu
interesse, mas com o tempo, o comportamento de Tobias se
torna menos frequente, e ele parece direcionar sua atenção a
outras mulheres da comunidade. Belosínia, ressentida, passa a
ignorá-lo.
A narrativa se intensifica quando o pai de Belosínia, Zeca
Chapéu Grande, informa que Tobias expressou interesse em
levá-la para morar com ele. O pai destaca o respeito de Tobias e
dá a Belosínia a liberdade de decidir. Neste momento, Belosínia
reflete sobre a proposta e imagina a possível conversa entre
Tobias e seu pai, incluindo a discussão sobre sua deficiência
auditiva.
O capítulo termina com Belosínia lembrando-se de
Donana, sua avó, e pensando sobre a resposta que daria a uma
proposta semelhante, enquanto reflete sobre a misteriosa vida
de tia Carmelita.
Capítulo 5
Belosínia relata sua mudança para a casa de Tobias,
levando consigo uma trouxa pequena de roupas. Ao chegar na
casa do vaqueiro, ela se depara com um ambiente
desorganizado e precário. A descrição da casa revela a
dificuldade e o choque inicial de Belosínia diante da realidade de
seu novo lar.
Tobias, apesar de parecer contente, demonstra não
perceber a situação precária de sua casa. Ele mostra a Belosínia
os objetos e pertences, muitos em estado de deterioração.
Tobias, agitado, apresenta a ela os arredores da casa, incluindo
um pequeno jirau, um fogão de barro, um porco e uma plantação
de palma como se ela fosse uma menina da cidade que havia
acabado de se mudar.
Belosínia, inicialmente paralisada, começa a perceber a
necessidade de colocar ordem na casa. Tobias parte para o
trabalho na roça, deixando Belosínia sozinha. A protagonista
enfrenta o desafio de organizar o ambiente e preparar o almoço
em condições precárias, com falta de água e utensílios
adequados. Ela descobre a falta de recursos básicos, como
Prof. Raul Castro
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fósforos e querosene, e decide sair para buscar fogo, levando
um pedaço de lenha consigo.
Notas e análises
O capítulo retrata a dificuldade inicial de Belosínia ao se adaptar
à sua nova vida na casa de Tobias, destacando as condições
desfavoráveis e a falta de recursos básicos. Sua determinação em
enfrentar os desafios, como conseguir fogo e organizar o ambiente,
ressalta a força da personagem diante das adversidades.
Capítulo 6
Belosínia relata a continuidade de sua vida na casa de
Tobias. Ela descreve o seu dia a dia, enfrentando desafios na
preparação das refeições e na organização da casa. A
protagonista busca lenha na casa de Maria Cabocla para
acender o fogo e se depara com a dificuldade de achar o
equilíbrio nas tarefas domésticas.
Tobias parece apreciar a comida de Belosínia no início,
mas com o tempo, suas reclamações aumentam, seja sobre a
quantidade de sal, a textura do peixe, ou outros detalhes. Essas
queixas causam angústia na personagem, que se esforça para
agradar, mas não consegue evitar a insatisfação do
companheiro.
A narrativa aborda a intimidade entre Belosínia e Tobias,
especialmente nas noites em que ele se aproxima dela. A
protagonista descreve a experiência de se tornar mulher,
inicialmente sem grandes emoções, quase como mais uma
tarefa cotidiana. No entanto, ela revela um desconforto interno,
uma sensação de desconexão consigo mesma e com a situação
em que se encontra.
A presença constante de Tobias, suas queixas e
exigências, fazem com que Belosínia se sinta uma intrusa em
sua própria casa. Ela vive um conflito interno, tentando se
adaptar aos papéis que a sociedade impõe às mulheres, mas
sentindo-se desconfortável e deslocada. A personagem também
relembra sua vida na escola e as dificuldades de interação com
os rapazes, sugerindo uma sensação de isolamento e falta de
pertencimento.
Ao longo do capítulo, fica evidente a tensão emocional de
Belosínia diante das expectativas e pressões sociais, assim
como das dinâmicas de poder e controle presentes no
relacionamento com Tobias.
Notas e análises
Além disso, revela para nós um ambiente patriarcal, em que
Tobias aprova apenas com o olhar sem agradecer, assim como diria a
narradora: “Não agradeceu, era um homem, por que deveria agradecer,
foi o que se passou em minha cabeça, mas conseguia ver em seus olhos
a satisfação de quem tinha feito um excelente negócio ao trazer uma
mulher para sua tapera.
Capítulo 7
Belosínia narra um episódio em que Maria Cabocla, uma
mulher da vizinhança, busca refúgio em sua casa devido a
agressões do marido. Maria Cabocla está visivelmente
machucada e assustada, carregando seu filho caçula. Belosínia
a acolhe, oferece ajuda e trata dos ferimentos dela.
Durante o episódio, Belosínia revela sua compaixão por
Maria Cabocla, observe:
De Maria guardava, sobretudo, as histórias das
muitas fazendas por onde havia andado. Da avó que havia
sido pega no mato a dente de cachorro. Maria estava magra,
parecia ter uma fome permanente. Seu corpo miúdo tinha
manchas púrpuras, era possível ver à luz do dia. Mulher
bonita, minha mãe diria, mas maltratada. Todas nós,
mulheres do campo, éramos um tanto maltratadas pelo sol e
pela seca. Pelo trabalho árduo, pelas necessidades que
passávamos, pelas crianças que paríamos muito cedo, uma
atrás da outra, que murchavam nossos peitos e alargavam
nossas ancas. Em pé, olhando Maria sentada na cadeira, vi
seus seios pequenos, subindo e descendo na inquietude de
sua respiração desolada.¹
Mais tarde, Tobias retorna embriagado e agressivo,
insultando Belosínia e destruindo a comida que ela preparou. A
protagonista, no entanto, não se deixa intimidar e, em meio aos
insultos, encontra na terra e no trabalho no canteiro um refúgio
para acalmar seu coração. A cena ressalta a força interior de
Belosínia diante das dificuldades.
No dia seguinte, Tobias sai cedo, e Belosínia decide não
fazer comida para ele como forma de demonstrar sua
insatisfação com o comportamento agressivo. Ela expressa seu
orgulho e a vontade de retornar à casa de sua mãe. A narrativa
termina com a chegada surpresa de Bibiana, a irmã de
Belosínia, que retorna à casa, deixando a protagonista com uma
mistura de sentimentos e a perspectiva de reencontrar
elementos familiares.
Notas e análises
¹ essa cena destaca a solidariedade feminina diante das
adversidades evidenciando as dificuldades enfrentadas pelas mulheres
do campo, maltratadas pelo trabalho árduo, pela seca e pelas
responsabilidades familiares.
Capítulo 8
Belonísia rememora um evento traumático de sua
infância. Ela e sua irmã, Bibiana, decidem explorar a mala da
avó Donana e encontram uma faca de cabo de marfim.
Fascinadas pelo brilho, colocam a faca na boca, resultando em
um acidente em que Bibiana se machuca e Belonísia perde parte
da língua.
O capítulo revela as consequências duradouras desse
incidente. Belonísia mantém em segredo a dificuldade resultante
da lesão na língua e relata suas tentativas frustradas de
recuperar a fala ao longo dos anos. A narrativa destaca a
metáfora da língua ferida, simbolizando os desafios e traumas
enfrentados por Belonísia, especialmente em relação aos maus-
tratos de seu marido, Tobias.
O som que deixou minha boca era uma aberração,
uma desordem, como se no lugar do pedaço perdido da
língua tivesse um ovo quente. Era um arado torto,
deformado, que penetrava a terra de tal forma a deixá-la
infértil, destruída, dilacerada. Tentei outras vezes, sozinha,
dizer a mesma palavra, e depois outras, tentar restituir a fala
ao meu corpo para ser a Belonísia de antes, mas logo me vi
impelida a desistir. Nem mesmo quando o edema se desfez
consegui reproduzir uma palavra que pudesse ser entendida
por mim mesma. Não iria reproduzir os sons que me
provocavam desgosto e repulsa e ser alvo de zombaria para
as crianças na casa de Firmina, ou para as filhas de Tonha.
O capítulo culmina na reflexão de Belonísia sobre suas
palavras deformadas, carregadas de emoção intensa, ecoando
não apenas suas experiências pessoais, mas também as vozes
e os sofrimentos das mulheres de sua comunidade ao longo das
gerações. Essa narrativa se entrelaça com temas mais amplos
de opressão e resistência feminina.
Capítulo 9
Belonísia encontra sua irmã Bibiana, agora mãe de um
menino chamado Inácio. Bibiana está diferente, com os sinais da
maternidade e uma nova maturidade. O reencontro é marcado
por sentimentos complexos de surpresa, alegria e mágoa, havia
se passado dois anos
Bibiana conta sobre sua vida fora da fazenda, incluindo
seu trabalho cuidando de crianças e os estudos que pretende
iniciar no magistério. Também compartilha informações sobre
Prof. Raul Castro
Severo, que agora está envolvido com atividades no sindicato
dos trabalhadores rurais.
O capítulo destaca a tentativa de Belonísia de se
reconectar com sua irmã e compreender as mudanças que
ocorreram durante a separação. A presença de Severo, agora
mais maduro, evoca lembranças da infância e revela uma nova
perspectiva sobre a vida na fazenda.
A discussão entre Severo tensões sobre as condições de
vida na fazenda, apontando para possíveis mudanças e
questionamentos sobre a relação de servidão. A visita de
Bibiana e Severo desperta em Belonísia a esperança de que o
retorno seja em breve, trazendo consigo transformações e novos
rumos para suas vidas.
Notas e análises
Um capítulo notável, pois para Zeca falar mal daqueles que lhe
davam acolhida era ingratidão, mas para Severo havia a necessidade de
se discutir a condição do trabalhador nas fazendas, há portanto uma
nova forma de pensar, ou uma forma diferente de se liderar, antes pela
religião por meio de Zeca, agora quem sabe no papel político de Severo.
Esse capítulo me fez lembrar muito de Jorge Amado em seu
romance Seara Vermelha, em que o um dos personagens principais na
terceira parte se filia ao PCB e inicia uma luta em torno da servidão na
fazenda, mostrando que não havia mais possibilidade de mudança por
meio de sangue como o cangaço, nem no terço da religião, mas sim na
Revolução.
Capítulo 10
A agressividade de Tobias aumenta, tornando a vida de
Belonísia mais difícil. Ele culpa constantemente Belonísia por
pequenas coisas e seus ataques verbais são frequentes.
Belonísia pondera sobre retornar à casa de seu pai, que já havia
demonstrado preocupação, mas decide permanecer, sentindo
que não deve se acovardar.
Tobias se entrega ao vício da bebida, e seus excessos
tornam as noites de jarê insuportáveis para ela. Ela prefere evitar
a companhia dele, buscando refúgio em outras atividades e
pessoas. A protagonista sente um forte sentimento de culpa por
ter aceitado viver com Tobias, embora ele não tenha sido tão
cruel quanto outros maridos na região.
A narrativa destaca um episódio em que Tobias ameaça
bater em Belonísia, mas ela o desafia com olhos determinados,
impedindo a agressão. A relação entre eles é marcada por
tensões e Belonísia reflete sobre as escolhas que a levaram a
essa situação.
Ela sente imensamente a falta do respeito e da segurança
que via no relacionamento de seus pais. Percebe que sua vida
com Tobias pode piorar, temendo ser alvo dos mesmos maus-
tratos que outras mulheres enfrentavam. Tobias passa mais
tempo fora de casa, frequentando festas, e Belonísia reza para
ter forças diante dessa difícil realidade.
O capítulo culmina com Genivaldo, o vaqueiro da
fazenda, chegando com más notícias. Ele convida Belonísia a
acompanhá-lo até o local onde encontrou Tobias caído. O
capítulo termina com um suspense sobre o destino de Tobias e a
possível reviravolta na vida de Belonísia.
Capítulo 11
Belonísia narra o falecimento de Tobias. Após encontrar
seu corpo caído, ela o prepara para o enterro e o acompanha
junto com os moradores da região até sua casa. Durante o
funeral, ela expressa pouco luto e não chora, revelando seu
alívio pela morte de Tobias.
A narrativa apresenta um flashback sobre um episódio em
que Tobias se indispos com uma curadora chamada Valmira. Ele
questiona a existência da encantada Santa Rita Pescadeira e
continua desrespeitando Valmira, recebendo uma sentença que
somente ele pode ouvir. A comunidade especula que a desgraça
que recaiu sobre sua casa pode estar relacionada a esse
incidente.
11
 Assim como Donana, que segunda Salu, mãe de Bibiana,
os maridos que sua avó havia enterrado tinham sido por esse
mesmo motivo
Belonísia lida com a morte de Tobias de maneira distante
e sem demonstrar grande tristeza. Durante o velório, ela evita
olhar para o rosto do falecido e tenta apressar o fim da cerimônia
ao lado de Belonísia que ainda estava lá. Ao final, ela decide não
voltar para a casa de seus pais e prefere viver sozinha,
cultivando o espaço que construiu com Tobias.
A protagonista reflete sobre sua vida após a morte de
“marido”. Ela decide não se casar novamente e inicia a
construção de uma nova casa em que seus parentes ajudam na
construção.
Apesar de enfrentar desafios de saúde, como um
ferimento no pé causado por um espinho, ela continua
trabalhando arduamente na roça. Belonísia encontra satisfação
no sofrimento que compartilha com outros trabalhadores da
fazenda.¹
Maria Cabocla, uma vizinha em dificuldades, pede abrigo
após ser ameaçada novamente por seu marido, Aparecido.
Belonísia a acolhe, apesar das dificuldades, e decide levá-la de
volta para sua casa para protegê-la de possíveis confrontos
violentos.
O capítulo encerra com Maria Cabocla observando uma
faca de prata que Belonísia levou consigo, sem ousar perguntar
por que a estava levando.
Notas e análises
¹ A narrativa destaca a persistência de Belonísia em construir
sua própria moradia, utilizando técnicas tradicionais. Ela se mantém
independente, recusando a oferta de sua mãe para morar com ela.
Capítulo 12
Neste capítulo, Belonísia enfrenta dificuldades no
caminho para a casa de Maria Cabocla, com seu pé inchado e
doendo. Ao chegar lá, depara-se com um ambiente precário,
com garrafas de cachaça, sujeira e moscas. Ela ajuda nas
tarefas domésticas, enquanto observa a tensão crescente no
rosto de Maria Cabocla.
A narrativa destaca a resistência de Belonísia em
enfrentar a situação e sua disposição para ajudar. Maria Cabocla
compartilha sua história de vida, revelando ter nascido cativa e
vivido em diversas fazendas antes de chegar a Água Negra. A
noite se desenrola com Belonísia preparando comida para as
crianças, enquanto o ambiente torna-se mais tenso.
A relação entre Belonísia e Maria Cabocla se aprofunda à
medida que compartilham conversas na sala. Maria Cabocla se
dedica a fazer fuxicos enquanto conta sobre sua vida. A cena
culmina com Maria Cabocla cuidando dos cabelos de Belonísia,
proporcionando-lhe conforto e afeto como nunca sentira antes.
A noite se desenrola com Belonísia resistindo ao sono,
mas depois se entrega ao sono sonhando com imagens
perturbadoras relacionadas ao passado e às figuras de Tobias,
Bibiana e Severo.
Ao acordar alarmada, ela encontra Maria Cabocla
cochilando, e retorna para casa antes do amanhecer,
preocupada com seus afazeres e animais.
A relação entre Belonísia e Maria Cabocla se torna mais
íntima, marcada por gestos de cuidado e confiança mútua.
Capítulo 13
Neste capítulo, Belonísia é informada por um dos filhos
de Maria Cabocla sobre a violência doméstica que está
ocorrendo na casa dessa mulher. Sem hesitar, Belonísia se
dirige à casa de Maria Cabocla, levando alimentos e disposta a
intervir. Chegando lá, encontra o marido, Aparecido, agredindo
Maria.
Belonísia enfrenta Aparecido, recusando-se a sair e
ameaçando-o com uma faca. Maria Cabocla, mesmo
Prof. Raul Castro
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machucada, mostra-se firme em sua decisão de expulsar o
marido. Aparecido, diante da determinação de Belonísia, chora,
pede perdão e é finalmente afastado.
Após o incidente, Belonísia continua a ajudar Maria
Cabocla, levando mantimentos regularmente. No entanto, com o
tempo, percebe que Maria afasta-se e torna-se mais triste.
Belonísia também reflete sobre a mudança na relação entre elas
e na atitude de Maria Cabocla em relação a ela.
A narradora compartilha suas experiências e desafios na
roça, destacando como ela é admirada por trabalhar sozinha e
resistir às expectativas sociais em relação ao trabalho agrícola.
Sutério, que passa semanalmente para recolher produtos,
recebe apenas o que Belonísia considera menos valioso,
preservando o fruto de seu esforço como uma forma de
resistência, observe:
Sutério passava rigorosamente toda semana e levava
o que podia. Mas não deixava levar o melhor, como meu pai
fazia por gratidão. Separava os legumes maiores para a
casa, para meus pais. Só não deixava apodrecer nos pés, de
desgosto, porque achava um desrespeito com a própria
terra. Mas se desse para dar aos animais, eu dava, só para
não deixar que ele levasse meu suor, minhas dores nas
costas, meus calos nas mãos e minhas feridas nos pés,
como se fosse algo seu.
Capítulo 14
Bibiana e Severo retornam à fazenda com seus quatro
filhos após alguns anos. Durante esse tempo, Belonísia batiza
dois de seus sobrinhos. A família agora conta com a presença
de uma televisão, a primeira na fazenda, trazida por um dos
filhos de Damião. No entanto, a energia elétrica ainda não está
disponível, e a televisão é alimentada por uma bateria
recarregável.
Ao longo dos anos, a paisagem ao redor da fazenda
muda gradualmente devido a cheias e estiagens. As grandes
roças trabalhadas pelos homens são reduzidas, e a família
Peixoto demonstra menos interesse na produção agrícola.
Belonísia reflete sobre as mudanças na fazenda e destaca que
muitos pioneiros estão se aposentando, orientados por Sutério a
requerer benefícios.
Apesar das melhorias lentas, algumas restrições dos
fazendeiros continuam a ser impostas, e o dinheiro não é
utilizado para melhorar as condições das casas. No entanto, as
pessoas começam a investir em melhorias internas, como
colchões de espuma, camas, mesas, cadeiras, remédios, roupas
e alimentos.
Bibiana, agora professora formada, e Severo constroem
uma casa perto dos pais deles. Belonísia, por sua vez, continua
morando perto do rio Santo Antônio, mas passa os finais de
semana com a família de Bibiana.
Belonísia também fala do envelhecimento gradual do pai,
Zeca Chapéu Grande, que, após uma romaria à Bom Jesus da
Lapa, nunca mais foi o mesmo.
Sua saúde deteriora-se, talvez devido à exaustiva
caminhada, e isso marca uma mudança significativa na dinâmica
familiar.
Capítulo 15
No último ano de vida de seu pai, Belonísia relata que ele
ignorou as recomendações sobre os interditos do jarê e
começou a construir uma nova casa nos primeiros meses do ano
bissexto. Mesmo sabendo que isso poderia atrair má sorte, seu
pai plantou árvores e construiu a base da casa.¹ Ele não
mencionou as proibições e agiu como se as crenças anteriores
fossem superstição, indicando que era hora de viver o presente.
O capítulo destaca a deterioração gradual da saúde de
seu pai, Zeca Chapéu Grande, evidenciada pela construção da
nova casa como se antecipasse seu próprio fim. Mesmo
mantendo a disposição para o trabalho, seu pai começou a
mostrar sinais de cansaço. Ao mesmo tempo, ele participou das
festas religiosas, como São Sebastião, mesmo sem a mesma
vitalidade de antes.
Com o tempo, seu pai começou a mostrar sinais de
fraqueza, recusando-se a ir para o hospital. A família tentou
convencê-lo, mas ele permaneceu resistente. A ambulância foi
chamada, mas, após a visita do médico, decidiram não levá-lo.²
O capítulo narra a batalha da família para cuidar de seu pai
enquanto ele enfrenta problemas respiratórios e agravamento de
sua condição de saúde.
Na última parte do capítulo, Zeca Chapéu Grande chega
ao fim de sua vida, com a família cuidando dele em casa durante
seus últimos momentos. O capítulo termina com a notícia de sua
partida durante a madrugada do domingo de Páscoa.³
Notas e análises
¹ A construção da nova casa por Zeca Chapéu Grande durante o
ano bissexto é uma metáfora poderosa para sua própria jornada final.
Ignorando as tradições e superstições, ele decide construir algo novo,
simbolizando uma busca por renovação e talvez a preparação para uma
nova fase da existência. A ação de plantar árvores também pode ser
vista como um ato de simbolismo, representando a continuidade da vida,
apesar da iminência da morte.
² Sua resistência em aceitar a ajuda médica e ir para o hospital é
uma expressão de sua determinação e, talvez, de sua conexão profunda
com a terra e a vida na fazenda. Sua relutância em abandonar a casa e
o ambiente que ele conhece tão bem reflete uma resistência à mudança,
mesmo diante da inevitabilidade da morte.
³ A descrição da corrente de ar fria e úmida na madrugada do
domingo de Páscoa é uma representação simbólica da transição da vida
para a morte. Esse elemento atmosférico pode ser interpretado como a
chegada de algo transcendental, possivelmente representando a
passagem da alma de Zeca para além deste mundo.
Capítulo 16
Somos levados a uma imersão nas raízes e na juventude
de José Alcino, o Zeca Chapéu Grande. As histórias, tanto
vindas diretamente de sua narrativa quanto pelas lembranças de
sua esposa, proporcionam um retrato fascinante de suas origens
desafiadoras. Zeca, nascido em meio a uma plantação de cana
na Fazenda Caxangá, emerge como o primeiro filho de Donana
Chapéu Grande, uma figura misteriosa cujas habilidades de cura
e envolvimento com o mundo espiritual são destacados.
A narrativa mergulha na infância de Zeca, narrando sua
entrada tumultuada no mundo, nascido em circunstâncias
difíceis e cercado pelas mulheres que cortavam cana ao lado de
sua mãe. Donana, apelidada de Chapéu Grande devido ao
hábito de usar o chapéu de seu falecido marido, é pintada como
uma mulher forte e enigmática, cujas práticas espirituais e dons
de cura a tornam uma figura respeitada e temida na
comunidade.
O capítulo também revela os desafios enfrentados por
Zeca, desde dores de cabeça persistentes até um período de
comportamento enlouquecido. Donana, por sua vez, se vê diante
de uma escolha espiritual difícil, recusando-se a cumprir uma
missão que exigiria sacrifícios significativos. A resistência de
Donana à imposição de tais obrigações espirituais desencadeia
uma série de eventos, incluindo o enclausuramento de Zeca em
casa como uma medida para conter seu comportamento
perturbador.
O capítulo culmina em um momento de suspense com o
desaparecimento de Zeca após Donana retornar para casa,
deixando os leitores ansiosos por entender os desdobramentos
dessa narrativa rica em simbolismo, espiritualidade e
complexidades humanas.
Capítulo 16
Belonísia reflete sobre a ausência de registros escritos de
suas experiências ao longo da vida e lamenta não ter
compartilhado suas histórias de vida para inspirar seu povo. Ela
Prof. Raul Castro
expressa o desejo de ter adquirido cadernos para documentar
seus pensamentos. A narrativa destaca a importância da leitura,
uma paixão que surgiu quando Bibiana e Severo retornaram.
Essa ânsia por leitura se tornou uma fonte de enriquecimento
durante suas atividades diárias.
O capítulo também foca no enterro de Zeca Chapéu
Grande.. O velório reúne pessoas de várias localidades,
compartilhando histórias sobre Zeca. A casa, que antes era um
local de cura, torna-se palco das homenagens. O som das
conversas e o zumbido das moscas criam uma atmosfera única.
O cortejo em direção ao cemitério da fazenda, Viração, é
descrito poeticamente.
Depois de uma madrugada em vigília, depois de
coarmos cafés e cobrirmos nossas cabeças, rumamos num
cortejo para Viração, o cemitério da fazenda, onde estavam
Donana e Tobias. Onde estavam as crianças que não
vingaram no parto. Onde estavam as dores e as lembranças
de muitas famílias que nos acompanhavam. Onde estavam
os que morreram de doença e do esgotamento que advinha
da labuta. Os que morreram de feitiço ou porque Deus assim
o quis, como ouvia. A cova estava pronta, havia um monte
de terra acumulada em sua borda para depois das rezas ser
lançada sobre o caixão.¹
Notas e análises
¹A cova preparada simboliza o ciclo da vida e da morte,
conectando-se aos entes queridos que descansam ali. A narrativa reflete
sobre a importância de lembrar e honrar aqueles que partiram,
destacando a inevitabilidade desse ciclo.
Capítulo 18
Belonísia narra um flashback focado nos dias de aflição
após o desaparecimento de Zeca Chapéu Grande. Donana, sua
avó, lidera a busca pelo filho, dividindo tarefas entre os irmãos e
percorrendo as matas com um misto de esperança e temor. As
notícias chegam lentamente, e a incerteza paira sobre o destino
de Zeca.
A narrativa destaca o empenho de Donana, que, após
informações de um vaqueiro da Fazenda Piedade, segue com os
filhos em direção a um pé de jatobá na mata. Lá, encontram
Zeca vivendo de maneira selvagem, próximo a uma onça
enfeitiçada que o protege. Donana acampa na região, colhendo
alimentos e enfrentando o medo da onça para garantir a
sobrevivência da família.
Numa noite de vigília, Donana avista Zeca, agora agindo
como um animal selvagem. Com coragem e sabedoria, ela o
laça e o leva de volta para casa, demonstrando a força do
vínculo familiar. Ao passar pela casa do compadre João do
Lajedo, Donana compartilha sua dor e acredita que os santos a
castigaram por sua desobediência. A cena encerra com Zeca
gritando, Donana pedindo a cura ao compadre João do Lajedo e
seguindo para casa com os filhos.
Capítulo 19
Após a morte de Zeca Chapéu Grande, a fazenda Água
Negra é vendida, e a família de Belonísia enfrenta incertezas. A
nova família proprietária traz mudanças, e a proibição de
sepultamentos na Viração, onde seus ancestrais eram
enterrados, causa consternação.
Sutério havia se aposentado e os novos não se
incomodavam de realizar enterro na cidade, mas para os mais
velhos isso foi uma ofensa.
A história da fazenda remonta à corrida do garimpo de
diamantes, marcada por conflitos, e a terra se torna palco de
uma longa luta pela posse.
A narrativa explora o medo que permeou a história do
povo, desde os tempos da colonização até a corrida do garimpo,
abordando temas como a adaptação, a construção de
13
irmandades e a resistência contra aqueles que buscavam
enfraquecê-los.
A proibição de sepultamentos na Viração torna-se um
ponto crucial, representando mais do que uma restrição sobre a
morte, indicando um possível despejo futuro da comunidade. O
capítulo termina deixando no ar a ameaça iminente sobre a
permanência na terra que há gerações chamam de lar.
Capítulo 20
Novamente em um flash-back, após muitos meses, Zeca
Chapéu Grande é considerado curado da loucura. Donana, sua
mãe, continuamente visita a casa do compadre João do Lajedo
para ajudar em tratamentos e cuidados. Zeca participa
ativamente das cerimônias, aprendendo sobre rituais e preceitos.
Seus olhos não mais refletem inocência, e um peso parece ter
se instalado em seus ombros.
Gradualmente, ele retorna à vida cotidiana, trabalhando
na colheita e preparando remédios naturais. Contudo, algo
mudou permanentemente dentro dele. À medida que Zeca
recupera suas habilidades, ele decide deixar a casa do curador e
retorna a Caxangá para trabalhar com a mãe na colheita e no
reconhecimento das ervas da mata.
Entretanto, a estiagem afeta a região, tornando a vida
difícil. Notícias de uma fazenda chamada Água Negra, onde há
rios abundantes, peixes e terras férteis, chegam até Zeca. Ele
decide partir em busca desse lugar promissor, deixando para
trás sua família e sua terra natal. O capítulo encerra com a
emocionante despedida de Zeca, que parte antes do amanhecer,
levando consigo uma sacola de palha com provisões e as
bênçãos de Donana.
Diante disso ele chega em Água Negra para ali passar o
resto de sua vida.
Capítulo 21
Um dia Zezé pergunta ao pai Zeca o que era viver de
morada a fim de entender o porquê a terra não ser deles que
nasceram e trabalham nela desde sempre e Zeca respondeu:
Trabalhe mais e pense menos. Seu olho não deve crescer
para o que não é seu.” p.182. Zezé não se cansava dos
questionamentos , principalmente porque ouvia muito as
palavras de Severo, que sempre levantava discussões coletivas
em torno da posse das terras e do direito dos trabalhadores. Os
mais jovens sabiam que tinham direito à terra, eram quilombolas.
Era um desejo que estava latente em cada um dos moradores.
Capítulo 22, 23 e 24
Após a partida do companheiro Zeca Chapéu Grande,
Salu fica cada vez mais abatida , começa a beber e Belonísia
fica bastante preocupada com o abatimento da sua mãe. Depois
que Salu retorna da viagem de Cachoeira volta decidida a não
tocar mais em bebida e retomar a construção da casa que Zeca
tinha iniciado antes de falecer.
Enquanto Zeca estava vivo Severo respeitou o desejo
dele de não confrontar os que haviam lhe dado abrigo porque
para Zeca questionar o domínio das terras da fazenda seria um
gesto de ingratidão.
Severo foi moldando Água Negra fazendo-a se
transformar num lugar diferente. Colheu assinatura para fundar
uma associação de trabalhadores e ganhou desafeto do novo
fazendeiro. Quando estavam de posse das assinaturas para
levar ao cartório ele foi atingido por vários tiros e não resistiu:
Severo estava caído. A terra seca aos seus pés
havia se tornado uma fenda aberta e nela corria um rio de
sangue. (p. 196)
Prof. Raul Castro
14
RIO DE SANGUE
Capítulo 1 e 2
Santa Rita Pescadeira é conhecida na comunidade a
partir da incorporação em pessoas, seus mentores espirituais,
“forma que um encantado deve se apresentar entre os homens,
como deve aparecer por esse mundo”. Ela assume o papel de
narradora nesta última parte da obra. Como narradora e
protagonista também descreve sua existência e a dos outros
personagens a partir do diálogo e dos vínculos com a realidade
do povo de Água Negra.
Santa Rita narra que seu cavalo (corpo) era Miúda,
mulher que procurava terra e morada. A entidade descreve todos
os acontecimentos após a morte de Severo e o sofrimento de
Bibiana e da família. No momento do velório fizeram discursos,
louvaram sua luta e a consciência que ele despertou no povo.
Alguns chegaram a jurar vingança pelo assassinato ocorrido e
enterraram o corpo dele no cemitério da Viração, que estava
fechado por ordem de Salomão, o dono que sucedeu a família
Peixoto. Com as insistentes sacudidas no portão, eles
conseguiram derrubá-lo e o enterro enfim aconteceu.
Capítulo 3 e 4
Os novos proprietários da fazenda Água Negra,
Salomão e esposa chegaram um ano após a morte de Zeca
Chapéu Grande. Salomão tentou se aproximar e ganhar a
amizade do povo dizendo que não tinha nenhum tipo de
preconceito racial. Ficava interessado em escutar os
trabalhadores para depois argumentar contra eles. A fazenda era
para o proprietário a menina dos olhos e estava almejando
ganhar muito com ela. Pensou em produzir café, depois criar
porcos e por último quis fazer um santuário ecológico. Em
nenhum de seus planos o povo de Água Negra tinha lugar, ele
via os trabalhadores como intrusos.
Salomão mandou construir uma casa de madeira e
vidro e o povo se queixou porque também desejava construir
com materiais duradouros e deixar de construir casas de barro
precárias. Antes da morte de Severo Salomão e Estela fizeram
uma viagem e deixaram a casa por uns dias. A polícia chegou a
fazer a perícia do local do crime, pediu depoimentos de pessoas
próximas e familiares de Severo. Dias depois quando chegou a
notícia de que o inquérito havia sido concluído e que haviam
descoberto uma plantação de maconha e que Severo havia sido
morto numa disputa por tráfico de drogas na região.
Capítulo 5 e 6
Bibiana resolveu reunir o povo de Água Negra para dar
maiores esclarecimentos sobre a injustiça e mentiras envolvendo
o nome de Severo. Não permitia que a memória e imagem do
marido fossem violadas por uma mentira planejada.
Assim que começou seu discurso Bibiana notou que
Salomão a estava observando atentamente acompanhado do
atual gerente da fazenda. Mesmo com a presença dele querendo
intimidá-la , Bibiana não se acovardou e disse:
Querem desonrar Severo, porque desonrando seu
nome enfraquecem nossa luta. Querem proteger os
poderosos. Querem nos calar, nos retirar daqui a qualquer
custo. Querem nos dobrar, mas não vergaremos... p. 216.
Após um intenso discurso o povo a aplaudiu e sinalizou
o apoio a ela. Salomão se aproxima para falar com Bibiana e
dizer que lamenta pelo ocorrido e Bibiana não acredita nas
palavras dele se afastando e dizendo que da justiça de Deus
ninguém escapa.
 Capítulo 7 e 8
Levaram um pastor de igreja para celebrar um culto na
fazenda. Estela saiu convidando de casa em casa acompanhada
do pastor e ao chegar na casa de Salustiana a convidaram, mas
ela recusou e aproveitou para dar um bom sermão sobre o
respeito às crenças de cada um ali e salientar que em momento
nenhum ela abriria mão com a família de sair de Água Negra.
Bibiana ao mexer na sacola de palha da irmã, encontra
a faca de marfim que pertencia à Donana, este objeto causador
do acidente delas na infância faz com que Bibiana acione as
memórias daquele dia marcante. Quando Belonísia entra e a vê
com a faca explica a ela que o objeto estava com Tobias na casa
dele e ao encontrar dentro de um pote achado entre os entulhos
o guarda, pois a faca pertencia a sua família. Após a morte de
Tobias, Belonísia anda e usa a faca em diversas situações.
As duas ficam imaginando como esse objeto na época
foi parar nas mãos da avó delas e porque Donana a guardava
com tanto medo.
Capítulo 9 e 10
O leitor descobre por meio da narrativa de Santa Rita
Pescadeira que Donana roubou a faca do coldre esquecido no
alpendre da casa sede da fazenda Caxangá no começo da
tarde. Havia viajantes em visita naquele dia e ela aproveitou para
pegá-la. Pensou em vendê-la, já que valeria um bom dinheiro,
mas depois decidiu guardá-la embaixo da cama. Com medo de
que alguém a encontrasse ela decidiu enterrá-la. Teve que usar
tempos depois, para assassinar seu companheiro que abusava
sexualmente da sua filha Carmelita, pois quando tomou
conhecimento da situação quis fazer justiça por si mesma.
O leitor também passa a perceber o sofrimento de
Bibiana após a morte do marido e de como os filhos sentem a
falta do pai. Ela passa a sair durante as noites levando uma
enxada e quando volta suja de barro e com as mãos
extremamente machucadas a ponto de sangrarem.
Capítulo 11 e 12
ajuda de Belonísia,, Zezé e Inácio. Dentre muitas mudanças,
Inácio se preparava para deixar a casa da mãe e estudar na
cidade para realizar o vestibular e estudar, pois queria ser
professor. A partida de Inácio aproximou cada vez mais
Belonísia e Bibiana e as irmãs puderam experimentar algo que
puderam chamar de perdão.
No último capítulo, o leitor toma conhecimento de que
Santa Rita Pescadeira tomou o corpo das duas irmãs e elas
foram as responsáveis pela morte de Salomão: “ São tantas
noites cavando a terra para o fojo que as mãos de Bibiana estão
laceradas. Quando deixo seu corpo pela manhã, ela cuida das
palmas dormentes e castigadas com bolhas e feridas surgidas
de nossa guerra.”p.255.
A entidade se une ao corpo de Belonísia e a conduz à
estrada para a armadilha feita a fim de capturar a onça (
Salomão) como constatamos no parágrafo final do romance.
“ A onça caiu com as presas enterradas no chão.
Retirou uma porção de terra da boca. Não, era uma armadilha
tola para capturar uma caça. Mas antes que levantasse, se
abateu sobre seu pescoço um único golpe carregado de uma
emoção violenta, que até então desconhecia . Sobre a terra há
de viver sempre o mais forte.” P.257.
Questões sobre FIO DE CORTE
01. A faca com que Bibiana se corta com sua irmã pertence
a) ao seu pai b) à sua avó.
c) à sua mãe d) a Belonísia.
02. As meninas acabam ferindo
a) a língua b) as orelhas
c) os lábios d) os olhos
03. No fragmento: “Nunca havíamos andado no Ford Rural da
fazenda ou em qualquer outro automóvel. E como era diferente o
mundo além de Água Negra!”
Nas palavras da narradora, o que mais chama a atenção ao
experimentar pela primeira vez andar de carro?

Belonísia recorda sua infância e todos os a) A novidade de andarem de carro pela primeira vez.
acontecimentos marcantes , entre eles, o achado do punhal da b) O contraste de mundo fora de Água Negra.
avó na casa de Tobias. Nos últimos dias, ela saía de manhã na c) O desconforto de andar no carro.
exploração de cada canto da terra voltando para casa suja e d) A velocidade do carro.
exausta.
Salustiana soube da morte de Salomão e foi avisar à 04. O nome da fazenda onde a família morava antes de ir para
Bibiana que não mostrou nenhum sentimento de compaixão Água Negra era
dizendo que poderiam ter queimado a casa com toda a família a) Caxangá b) Vassouras
junto para não deixar herdeiros que pudessem expulsar os c) Amontada d) Ibiapaba
moradores da fazenda. Salu ficou indignada com a fala da filha e
deu um tapa em seu rosto e foi embora, após a mãe ter saído 05. A fazenda onde antes a família de Bibiana morava sofreu
Bibiana desaba num choro doído e dilacerador. uma ação ilegal denominada
Belonísia ao chegar em casa e saber do ocorrido a) grilagem b) arrendamento
perguntou detalhes e soube que Salomão havia sido achado c) garimpagem d) invasões
degolado, caído numa vereda ao lado de uma cova grande.
Quando desarrumava a sacola na cozinha , caiu dura no chão 06. O nome do cachorro adotado pela avó das meninas chama-
desmaiada, a levaram para o quarto e ela caiu num sono se
profundo. a) Baleia b) Pegali
Apareceram os investigadores da polícia para tentar c) Corisco d) Fusco
descobrir quem foi o autor do assassinato de Salomão, mas as
investigações não foram bem sucedidas a fim de solucionar o 07. O nome da avó das meninas se chama
crime. a) Salu b) Belonísia
c) Tonha d) Donana
Capítulo 13 e 14 08. A avó das meninas sobre de uma doença chamada
a) esquizofrenia b) mal de Parkinson
Após a morte do marido, Estela vai embora morar na c) demência d) Alzheimer
capital, mas administra de longe as fazendas . Após algum
tempo, a paisagem local foi se modificando como nunca antes 09. O pai das meninas, Zeca Chapéu é visto pela comunidade
havia ocorrido, pois os moradores foram construindo suas casas como
com materiais duráveis. A casa de Salu foi levantada com a a) uma força bruta de homem b) um curandeiro
Prof. Raul Castro
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c) uma ameaça sobrenatural d) um ser desprezível
10. O motiva da loucura de Crispina, deveu-se ao fato de
a) o pai das meninas, Saturnino, bater demais em uma das
irmãs.
b) a irmã foi pega com o noivo da outra.
c) o fato de Isidoro ter abandonado Crispina.
d) o fato de que o pai de Crispina havia morrido.
11. Sobre o cunhado de Zeca Chapéu Grande, tio de Bibiana,
pode-se afirmar que
a) chama-se Severo e era casado com Cameniuza, chega na
fazenda com seis filhos.
b) era tocador de pífaro, animando as festas e também era
curandeiro como Zeca Chapéu Grande.
c) era casado com Hermelina, tocava violão e tinha 10 filhos.
d) chamava-se Servó e era casado com Hermelina.
12. Sobre o primo das meninas Bibiana e Belonísia pode-se
afirmar que
a) chamava-se Severino e desenvolve uma interação maior com
Bibiana.
b) chamava-se Severo e gosta das meninas, mas não se
comunica muito bem com elas.
c) chamava-se Servó e chega a ter mais intimidade com
Belonísia.
d) chamava-se Severo e aprende a se comunicar muito bem
com as meninas.
13. Entidade invocada para auxiliar nos trabalhos de parto
a) Iemanjá b) Olorum
c) Velho Nagô d) Pomba-gira
14. A história também narra uma festividade em que Zeca
Chapéu Grande veste-se de saias e brami uma espada de
madeira, essa é a festividade de
a) Santa Úrsula b) Santa Bárbara
c) Nossa Senhora d) São Sebastião
15. Com relação a Bibiana e Severo é correto afirmar que
a) ambos se aproximam, mas não se envolvem por respeito a
Belonísia.
b) há um envolvimento amoroso, mas que depois logo é
rompido, pois Belonísia engravida de Severo.
c) se aproximam cada vez mais e Bibiana acaba engravidando.
d) buscam reconforto nas brincadeiras de Jarê e acabam
construindo uma casa perto das terras do tio Servó.
16. Uma das motivações de Bibiana para fugir da fazenda,
consiste
a) na raiva que sentia todo dia por parte de Belonísia.
b) pela humilhação que sofreu ao ser denunciada por Santa Rita
Pescadeira
c) por Sutério que fez uma pilhagem da produção de sua família.
d) pelo pai Zeca Chapéu Grande que não aceitava o
envolvimeno entre primos.
Questões sobre TORTO ARADO
01. na segunda parte do romance de Itamar Vieira Jr., que por
sinal leva o nome da obra, a narradora é
a) Bibiana b) Domingas
c) Belonísia d) Maria Cabocla
02. Sobre a relação de Belonísia com a escola é correto afirmar
que
a) ela tem amplo interesse pela escola e nos ensinamentos de
Lourdes.
b) ela sente um imenso interesse em aprender, mas tem
dificuldades por causa de sua deficiência na fala.
Prof. Raul Castro
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c) ela tem desinteresse, pois dona Lourdes, a professora, não a
trata bem.
d) ela tem desinteresse, pois tem apreço em aprender sobre o
mundo fora de sala de aula.
03. Meses depois da fundação da escola ocorre a chegada de
um novo vaqueiro que atrai se atraído pela narradora, ele é
a) Tobias. b) Servó
c) Severo d) Sutério
04. Tobias leva Belonísia para morar com ele em sua tapera,
chegando lá
a) ela se depara com um ambiente precário, mas um parceiro
extremamente romântico.
b) ela se depara com um ambiente organizado, mas com uma
extrema indiferença de seu parceiro.
c) ela encontra um ambiente desorganizado e precário e Tobias
fica feliz inicialmente com o trabalho de Belonísia.
d) ela se depara com um ambiente desorganizado, mas recebe
ajuda dos pais para reorganizar sua nova morada.
Leia o trecho abaixo:
Depois que ele me deitou na cama, beijou meu pescoço e
levantou minha roupa, não senti nada que justificasse meu
temor.
Era como cozinhar ou varrer o chão, ou seja, mais um
trabalho. Só que esse eu ainda não tinha feito, desconhecia,
mas agora sabia que, como mulher que vivia junto a um homem,
tinha que fazer.
05. Com base na leitura, pode-se afirmar que a relação sexual
para Belonísia
a) era algo natural que não se devia temer.
b) era algo desconhecido, mas que toda mulher deveria fazer.
c) era algo natural e metódico, mas temia por não conhecer.
d) era algo metódico e total ausência de sentimentalismo.
06. Ao longo da obra a relação de Bibiana com Tobias
a) é marcado por abusos por parte de Tobias quase chegando a
uma agressão física.
b) é marcado pelo retorno da felicidade e boa vivência do casal.
c) é destacado como indiferentes, Tobias trabalha fora e Bibiana
em casa e nada mais do que isso.
d) piora bastante, Tobias passa a se tornar alcoolatr, mas
respeita Bibiana em todos os aspectos.
07. Com o retorno de Belonísia e Severo, Bibiana agora era tia e
seu sobrinho de chama
a) Edmundo b) Inácio
b) Genivaldo d) Zequinha
08. Nos é revelado que Severo amadureceu bastante e que
agora
a) decide tomar de conta das brincadeiras de jarê ao lado de seu
sogro Zeca Chapéu Grande.
b) possui uma percepção aguçada sofre a condição do homem
na fazenda, mas sem se envolver politicamente.
c) apresenta-se como uma pessoa esclarecida politicamente e
que agora tem se envolvido com os sindicatos.
d) continua envolvido na alienação em que a maioria dos
trabalhadores estavam imersos.
09. Tobias acaba sendo encontrado morto, motivado por
a) questões de saúde, pois bebia demais.
b) brigas e desentendimentos com outros vaqueiros da fazenda.
c) por desrespeitar Vamira chamando-a de vagabunda.
d) questões espirituais, por desrespeitar Santa Rita Pescadeira.
10. Aparecido, marido de Maria Cabocla, acaba por várias vezes
agredindo a esposa, sendo necessário a intervenção de
Belonísia, que culmina na expulsão do marido de casa, ao longo a) Uma carta. b) Uma faca de marfim.
da narrativa, ambas c) Um livro sagrado. d) Um amuleto.
a) se distanciam, mas depois se reaproximam com a morte de
Aparecido. 05. Por que Donana roubou a faca de marfim?
b) se reaproximam, mas depois se distanciam com o retorno de a) Para proteção pessoal
Aparecido para casa. b) Para vender e ganhar dinheiro
c) se reaproximam e Belonísia para a cuidar de Maria Cabocla e c) Para se vingar de alguém
ambas passam a viver juntas. d) Por acaso, sem motivo específico
d) se distanciam, pois Belonísia resolve casar novamente e
Maria Cabocla permanece separada. 06. Como Salustiana reage à notícia da morte de Salomão?
a) Com tristeza e compaixão b) Com indiferença
11. A morte de Zeca Chapéu Grande gera uma imensa comoção c) Com alegria d) Com raiva
na fazenda e na família ele é enterrado em
a) uma vala comum chamada Viração. 07 Quem parte para estudar na cidade visando tornar-se
b) em um cemitério onde seus ancestrais foram enterrados. professor?
c) é enterrado em sua terá natal a) Salomão b) Inácio
d) permanece embalsamado enterrado em seu quintal. c) Belonísia d) Estela

12. Zeca Chapéu Grande passa por um estado mental de 08. O que muda nas fazendas após a partida de Estela?
insanidade em decorrência de a) As fazendas são abandonadas
a) sua mãe se negar a realizar certas obrigações espirituais. b) A paisagem local se transforma positivamente
b) o próprio Zeca se negar a realizar curas milagrosas. c) A comunidade entra em declínio
c) Zeca cometer alguns pecados tidos como ofensivos para com d) A fazenda é vendida
os orixás.
d) Zeca se negar a receber o velho Nagô. 09. O que aproxima Belonísia e Bibiana após a partida de
Inácio?
13. Zeca Chapéu Grande chega a ser curado por a) A rivalidade b) O perdão
a) João do Lajedo b) Sutério. c) A desconfiança d) A indiferença
c) Iansã d) velho Nagô
10. Quem revela que Bibiana e Belonísia foram responsáveis
14. Zeca chapéu Grande é na verdade um epíteto, seu nome pela morte de Salomão?
real é a) Salustiana b) Inácio
a) José Fagundes b) José Alcino c) Santa Rita Pescadeira d) Estela
c) José Antônio d) José Rodrigues
11. Onde foi enterrado o corpo de Severo?
15. Após a morte de Zeca uma nova voz se levanta na voz a) No cemitério da Viração b) No cemitério da cidade
Severo que assume um papel alegórico voltado para um aspecto c) Na fazenda Água Negra d) Em um local não revelado
a) novamente religioso, que agora assume o lugar de seu
falecido sogro. 12. Qual era a relação de Salomão com a fazenda Água Negra?
b) científico, com o conhecimento trazido da cidade tenta inovar a) Era indiferente à fazenda
a fazenda com novas tecnologias. b) Queria transformá-la em um santuário ecológico
c) social, pois tenta melhorar a condição dos habitantes da c) Via os trabalhadores como aliados
fazenda por meio de ONGs e projetos sociais. d) Desejava vender a fazenda
d) político com a criação de sindicatos e a execução de um
abaixo-assinado. 13. Como Salomão reage ao discurso de Bibiana?
a) Com aplausos e apoio b) Com hostilidade
16. Severo, acaba, ao final da segunda parte do livro c) Com indiferença d) Com tristeza
a) sendo expulso da fazenda.
b) sendo assassinado. 14. O que Donana fez com a faca de marfim na época?
c) sendo preso. a) Usava para se proteger b) Matar o companheiro
d) sendo subornado e ficando do lado do patrão. c) Vendia para viajantes d) Usava em rituais religiosos

Questões sobre RIO DE SANGUE 15. Porque Donana matou o companheiro?

a) porque ele a maltratava b) abusou de sua filha
01. Quem assume o papel de narradora nesta parte da obra? c) Ficou com raiva de Zeca d) porque teve um surto
a) Severo. b) Salomão.
c) Bibiana. d) Santa Rita Pescadeira. 16. O que muda nas fazendas após a partida de Estela?
a) A fazenda é abandonada
02. Salomão inicialmente parece ser gentil, mas ao longo da b) A paisagem local se transforma positivamente
narrativa muda seu pensamento passando a ver os moradores c) A comunidade entra em declínio
como d) A fazenda é vendida
a) como aliados. b) como intrusos.
c) como uma ameaça. d) como familiares.

03. Como a comunidade reage ao discurso de Bibiana sobre as

mentiras envolvendo Severo?
a) Com desinteresse. b) Com aplausos e apoio.
c) Com hostilidade. d) Com indiferença.

04. O que Bibiana encontra na sacola da irmã que evoca

memórias do passado?
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 GABARITO – FIO DE CORTE
01. B 02. A 03. B 04. A 05. A 06. D 07. D 08. C
09. B 10. B 11. D 12. D 13. C 14. B 15. C 16. D

GABARITO – TORTO ARADO

01. C 02. D 03. A 04. C 05. D 06. A 07. B 08. C
09. D 10. B 11. B 12. A 13. C 14. B 15. D 16. B

GABARITO – RIO DE SANGUE

01. D 02. B 03. B 04. B 05. C 06. B 07. B 08. B
09. B 10. C 11. A 12. B 13. B 14. B 15. B 16. B

Prof. Raul Castro

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