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“Texto w Amedeo Giorgi Daniel Sousa Método Fenomenoldgico de Investiga¢gao em Psicologia y 72. | Método Fenomenclégico de Investigacio em Psicologia progresso, Mas se, actualmente, existem diferentes propostas de aplicacio do método fenomenolégico, o presente texto pretende explicitar um contexto sistematico que fornega uma coeréncia ontolégica, epistemolégica e metodo- logica a praxis da pesquisa fenomenolégica em Psicologia. Trata-se de clarifi- car critérios epistemolégicos atinentes & Fenomenologia, como adequadas cstratégias deinvestigacio cientifica, Nos capitulos subsequentes, procurarse- “Go explicitar estes aspectos. METODO FENOMENOLOGICO DE INVESTIGACAO EM PSICOLOGIA Pressupostos Teéricos Apesar de ter delineado um método adequado ao estudo dos processos| meniais, Edmund Husser! nfo apresentou, contudo, uma metodologia que! pudesse ser aplicada directamente no contexto cientifico de uma Psicologia que tenha como abjecto deestuclo 0 sentido da experiéncia humana, © filésofo apresentou as linhas gerais e nfio um contexto sistematico para a investigacio em Psicologia Fenomenolégica””. Ométodo aqui apresentado tem como objective midge as SuRenES Ep nolégicas da Fenomenologia, enquanto teoria do conhecimento, e os requi- Jos necessérios para se constituir como conjunto metodolégico especifico, ssivel de ser aplicado por diferentes investigadores, no ambito da psicologia ienifica, enquanto conhecimento dos fenémenos humanos: f apénas dentro de uma mesma comunidade cientifica que possivel evoluir o saber, que se pretende sistematico e que passe pelo crivo da critica entre pares. A Fenomenologia Filos6fica tem como primado fundamental a intencio- nalidade da consciéncia, Permite ao proprio investigador iniciar as diferentes redugdes (cidética, fenomenoligica, transcendental), procura alcangar a esséncia de um determinado fendmeno de estudo, disgosnde.o minucio. samente, com 0 abjectivo de obter conhecimentos Gpodicticos)Ao seguir estes passos, exactamente como foram descritos, esti-se a desenvolver uma analise filos6fica, no sentido fenomenolégico do termo. Coma foi referido, 0 objectivo é apresentar um método fenomenoligico adequado i psicologia Método Fenomenoldgico de Investigagio em Psicologia | 75 Descrigées de Outros Sujeitos Quando surgiram 03 primeiros métodos de investiguso qualitatives, 0 ambiente cultural ¢ cientifico era, consideravelmente, comparando com o que acontece actualiente, menos propfcio a reconhecer a pertinéacia destes méto dos, muito embora ainda haja um longo caminho a percorres, A Psicologia vivia, ‘enorme fervor na adopcio do método.experimental, como Gnico alicerce. ‘pata se escabclecer enquanto disciplina cientifica. No caso da Fenomenologia, cracstritamente necessitio estabelecerem-se eritérios de coeréncia interna para que o método fenomenclogico pudesse ser aplicado & Psicologia, procurando evitar-se erros epistemolégicos que colocassem em causa a credibilidade do processo de investigagio, Nio se pretend, por exemplo, regeesar a uma perspectiva que: embora de um jeremos com isto afirmar que © método, na sua vertente fenomenolégica, remeta para uma perspect introspectiva. Como foi explicitado nos capitulos anteriores, essa interpretagio da fenomenologia husserliana nao nos parece adequada. No entanto, a trans: posicio do métoco para o eontexto da Este é um exerhplo claro da mediacio exercida entre 0s pressupostes filos6ficos ed aplicacao do método a Psicologia. A Feno- menologia afirma a possibilidade ec i acca GRID No cso io reco Tremere meter procedimento SGseeesgeeceer eek ieee mantendo em aberto a possibilidade de uma visio.critica dos pares. Como é sabido, poder contar com a visio critica dos pares e possibilitar« replicagao dos estudos sio dois, fundame Esta questo seré melhor compreendida quando se apresentarem 0s passos do método, Neste momento, o cr 76 | Método Fenomenolégico de Investigagao em Psicologia no estas s¢ apresentam A consciéncia do sujcito, mantendo, no entanto, smetodologicos que permitam enquadrar o processo de investigacio em 5 unanimemente considers wanidlade cientifica, mnétoda mantém uma componente descritiva, no sentido em que o da investigagio. Depois de usar a variacao livre imaginativa, nos significados elaborados a partic do protocolo, o investigador apresenta os constituintes- -chave que fazem pai igo da estrutura da experiéncia. Como, geralmente, cada descrigio de estrurara engloba varios constituintes-chave, toma-se igualmente importante explicitar as relagdes entre estes que englobam ‘a estrutura final. O que so os constituintes-chave e como se articulam entre sisio aspectos que serio melhor compreendidos quando se analisar em por menor a aperacionalizacio do método. Redusio Fenomenoldgica-Psicolégica Depois de obter descrigdes de outros sujeitos, o seaundo passo é desenvol- vera redugio fenomenolégica, No método filos6fico € possivel entrar imediata mente na reduglo, visto que todo o processo poder ser executado pelo proprio sujeito. Numa investigagio em Psicologia, primeio, oinvestigador recolhe des- crigdes de experignciag de outros sujeitos. Num segundo momento, ao realizar « redugio fenomenl6gica, na sentido psicoldgico, {é-lo a um nivel distinto da redugio trinscendental de Husscr. A redugio do investigador que usa o método Scromencégio eplicdo gig aalaia ida So” redugio que Husserl denominou | no usando um paso metodolégico-subsequente, que sc wanscendental. Como foi relerido no capitulo anterior, ‘gicos so considerados quando se refere a reducao fenomenolégica psicolégica. ntido da redu -a-psicalégica é de que 0s objectos ¢ ituagdes, 1, ¢., tudo o que surge A consciéncia dos sujeites, passam pela 1G30, mas niio os actos de consciéncia, aos quais esscs objectos € situagves correlacionados. Em suma, a redugio fenomenolégica utilizada em investigagiio em ciéncias humanas é parcial. A radicalizacio de Husserl, de querer avangar para uma sedugo transcendental, na qual ndo seria suficiente realizar uma reducio sobre acxisténcia dos objectos dados ao sujeito, e, num passo subsequente, colocar Método Fenomenolégico de Investigagao em Psicologia | 77 centre parénteses 0 préprio suj cia pura”, nio é considerada. consciente, de forma a aleangar a “consci te exercicio esté fora do ambito da investiga- ‘0 cientifica em Psicologia, pelo que os passos metodolégicos de Hussel sio apenas considerados parcialmente. Finalmente, importa sublinhae que ‘partir de uma atitude de senso comum, Estes explicitam as suas experincias apartir da atitude. de: ‘ém, presumivelmente, que ter conhecimentos. Anilise Eidética ~ Variagao Livre Imaginativa Apés assumir a atitude da redugio fenomenolégica, o investigador centra no objecto de estudo, cuja esséncia, a sintese de significado psicoldgico, ve ser determinada. O terceiro passo do investigador & ha investigagio, Outta alzeragio 20 método filos6fico decorre do que foi afirmado. Se se pretendealcancar uma descrigio da estratura psicol6gica do fenémeno, nesse «ao, estamos ja delimitar o nosso campo de estudo e a excluirinvestigagées de gatiz filoséfico, sociolégico ou outro. Nao estamos a afirmar que estas perspectivas niio serio viiveis. Esté-se, antes, a salientar que o investigados, to dar os pasos, come agui foram recomendads, werd de seguit a perspectiva da sua disciplina cientifica, seja ela psicol6gica, ou outra, e assumi-la, Outro aspecto igualmente importante prende-se com 0 facto de o psicélogo invest gador procurar, nesta fase do desenho metodolégico, ter uma perspectiva sicoligica, embora evitando catalogar os protocolos com linguagem especi fica de uma determinada escola tedrica (psicanalitica, cognitiva, et) A sintese final de significado psicologico remete para uma generalizagio cidética dos resultados da investigagfo. Importa sublinhar que nose esté num paradigma er e Jinesma. Finalmente, importa destacar que a andlise eidética em investigagi psicoliygica & mantida, mas sofrendlo uma alteragiio. Realizada no fimbite da 18 | Método Fenomenolégico de Investigagio em Psicologia Psicologia Fenomenolégica clonic pale ai Raper de sili Procurar alcangar a anilise eidética é procurar a esséncia de cariz psicologico. A variagio livre imaginativa é levada a cabo com 0 constrangt ‘mento da perspeetiva do investigador. ‘A Tabela I contém os procedimentos os objectivos do método Fenox nolégico aplicado a Psicologia. Em sintese, este método cierifico inicia com a recotha de descrigées de senso comum de outros sujeitos, que ni investigador. Tem como resultado final uma descrigao, realizada pelo inv gador, da estrutura psicol6gica essencial do fendmeno em estudo. A redus: QQ was Procedimentos e objectives do método fenomenolégico aplicado & Psicologia ecole descgGesdeexpenéncss | Mantémaregrafenomanctgica ‘vidas por Outros suits, sentidodo que urged consi ‘iatal comosuige Sul Diferenta método flossica NSo é ‘ptipiainvestigadoraapresen tras suas descriges ‘eplicagio dos estudos poche suspenders attudenatu- | Rigor epistemoldgico~ evar aldo senso comm, ‘isamentos Rech pial objects estva- | Distinguir 0 odo como. ob ‘ses passa pela redugso, nao | sedbaconsclénciae como ex 25 Recs acts de consclénca, sceaidace Fenomenologicr icollea Colocar entre partateses coahec- | Fromoverconhecimento de now ‘ements teicas cultura ‘menses da experiencia vier expltar nowas perspe twas sobre 0 objecto de estuda Eliminates particularidades ou | Definisintese psicoogica, contingéacias des fenémenos femestuto, GeneraizacBo dos resultados ae eee validade apodictica). Voriagio ie | Eyeeuterareducio elétcs, numa ee Pepectivapseotogce, etn: | Manteracomponente desciivad ‘00 a utllzagao de uma teosla | processometodolégica. > Método Fenomenoldgico de Investigacio em Psicologia | 79 Tevada a cabo no método cientifico ¢ parcial e nfo tem como objective chegar mplitude tra em Psicologia Estes tiltimos sio considerados como actos de sujcitos humanos em relagZo com 0 mundo. Visa-se compreender o sentido dos actos de conscigncia, mbora aquele nao implique a assuncio de que os objectos existem na realidade, como percepeionados pelos sujcitos.. Antes de se analisarem, pormenorizadamente, os pasos do método de anélise, uma nota sobre a recolha de dados, em particular, sobre a entrevista fenomenolégiea. a eee Recolha de Dados Em primeiro lugar, antes de recolher os dados, o investigador assey de autos exaido os stable nn er de ol6gio, Qualquer estudo deve partir de uma pergunta de investigacio. Caso se assuma que 0 método feno: menoligico é adequado a questio de investipacio, entio, a investigagio tem a. O etitério fundamental 6, tanto quanio possivel, obter descrigdes to detalhadas ¢ coneretas das experiéncias dos sujeitos. Nao cexistem desctigdes perfeitas, definitivas ou completas. O investigador tera de cettificar-se da adequabilidade das descrigdes, assegurada quando a pactit destas € possivel gerarem-se diféréntes estruturas de significados de carécter psicolégico, sobre o.tema de esiudo, Para isso, é importante que a descricio scja tio especifica c concreta quanto possivel, relacionada no tanto ou apenas. com racionalizagées apresentadas pelos sujeitos da amostra, mas com a sua subjectividade ineorporada, tl como é experienciada na vida quotidiana. surge em primeiro lugar, seguida de uma entrevista, na qual se utilizam as desctigdes como material base para maior apcofundamento. E comum os depoimentos directos serem mais curtos ¢ organizados. As entrevistas tendem «ser mais dispersas quanto 20 contetido, mas tém a vantagem de ser mais, espontineas. Os depoimentos escritos nfo colocam grandes dtvidas. Aos sujeitos, deve ser dito, com toda a clareza, © que se pretende eo tema exacto subjacente& recolha do sen depoimento, Por exemplo: “descreva tio detalha: ____ ou de questiondrios previamente organizados ¢ fechados, de modo a que os 80 | Método Fenomenologico de Investigacio em Psicologia damente quanto possivel uma experiéncia, na qual viveu uma sitnagio de aprendizagem”. Deve ser indicado também o espaco disponivel para a deseri- ‘ao escrita (exemplo: duas paginas Ad). A Entrevista Fenomenolégica Ateoria da entrevista fenomenolégica € distinta de eatrevistas esteucuradas entrevistados sejam colocados exactamente perante as mesmas questoe Jnyestigacies que normalmente tém como objectivo testar hipdteses” re nomenoligica ndo.é apenas a aplicacio de.umn instrument de rec ha de dados diferente, reflecte, em si mesmo, uma concepcio diferente de pra- “dugio de conhecimento, de construgio de significadg sobre a acca humana. Pressiipostos epistemoldgicos que tém sido expressos neste trabalho, colocam a entrevista fenomenolégica como procedimento metodolégico, distinto de investigagao que procura recolher dados através da abservacao externa, da manipulacio experimental, para uma situacio onde a entrevista se tora num espaco inter-relacional, dialéctico e de conyersagio ens z Dito de outta forma, o didlogo existente numa entrevista fenomenol6gica, iniplica que a investigacao psicoldgica deixe de ter uma perspectiva daterceira pessoa ou, mesmo, da primeira pessoa que os métodos introspectivos defen- diam, A perspectiva da segunda pessoa, criada na situagio da entrevista, promove um A tcoria da pst implica considerar conceptualizagdes sobre a conscigncia inten truco de significado, abandono da dicotomia sujeito/mundo, 0 relagao homem/munde (intersubjectivdade), necessidade de considerar 0 contexto da acco, mancer uma dialéctica entre-a “subjectividade do conhecer ea objectividade do contciide-de conhecimento”™*. % Polkinghorne, 1989, p. 43 ® Kea, 1996, p 1 » Pallia, Henley « Thompson, 1997, p. 29. 7% Conceitos definidos aos capitulos de “Psicologia Fenomenoloyica” ¢ “Validagio da Investigasio Quaticava” Método Fenomenolégico de Investigagao em Psicologia | 81 bjectivo da entrevisiade.investigaciio qualitativa é o de Para Kvale”, ter descricoes periencial,.do mundo da vid? is fo ¢ suas explicitagdes de significados sobre os fendmenos desctitos. As competéncias envolvidas na entrevista de investigagao qualitativa cruzam-se com o saber fazer do psicoterapeuta, mas os ghiectivos de uma entrevista ¢ de um difloga terapéuticos-sio-distintos,.a primeira pictende cumprir 0” intuito, do investigador, de recolher informagdes a partir da experiéncia do participante, o segundo procura contribuir para que a outra pessoa alcance 1 seus objectivos™. Kvale definiu as estruturas essenciais da entrevista qui litativa, explicitando, deste modo, a diferenciagio em relagiio a outros tipos de recotha de dados”: SIUM — © reava central da entrevista qualitativa é as, a entrevista qualitativa€ theme-oriented, not entrevista tem como objectivo descrever 0 sigMieado G08 ido mundo da vida dos participantes. [importante clarficar aspectos pouco claros ¢ estar atento ao que € dito ¢ modo como é dito, indo a postura comporal ate - O objec €seoler das qualities, expresso em linguagem do senso comum, eno dados quantitativos. D —Na recolha de dados é solicitado que os participantes GE RI icra an sca dntbada erences ne zirem explicagées ou interpretagdes do mundo expericnciado, Especfia ~O quese pretende alcangar so deserigoes de situagese acgGes especifcas, no sendo licito considerar opinides gerai =O ents dor deve: ieee ‘mas 6, no entanto, focada num determinado tema de estudo. Ambiguidade — Os dados da entrevista qualitativa podem, por vezes, cexpressar contradigées e ambiguidades sobre a experi € sua relacio com 0 mundo. ted. * Keale, 1996, p-5 ™ Palkinghorne, 2005, p. 142. Kale, 1996, p30. 82 | Método Fenomenol6gico de Investigacao em Psicologia Mudanca ~ A entrevista é um processo reflexivo, 0 entrevistado pode expressar novos insights ou pensamentos durante a entrevista, podendo mesmo mudar significados previamente estabelecidos. Sensibilidade ~ Apcsar de abordarem o mesmo tema, diferentes entrevis- tados podem expressar diferentes descrigoes, dependendo da sua sensibilidade ‘¢ conhecimento sobre o tema de estudo. Situagia Luterpessoal As descrigdes recolhidas e 0 conhecimenco destas vadas emergem a partir de uma interaccio pessoal entre duas pessoas. Experiéneia Positiva ~ Uma entrevista qualitativa pode revelarse uma cexperiéncia positiva para o entrevistado (e entrevistador) no qual duas pessoas, abordando um tema de interesse comum, podem alcangar novos saber e pers pectivas sobre uma dimensao especifica da vida, berea, de iclamse com uma perigunta racter exploratorio, € a8 quesides subsequentes ou as intervencbes do inves: jador surgem a partir do fluxo das descrigées dos participantes, nfo para lidar hipoteses ou questdes previamence delineadas. Neste sentido, € muito importante fazer uso da redugio psicolégica-fenomenolégica, tal como foi acima definida. © entrevistador procurarii suspender o conhecimento que passa ter sobre o tema de estudo co que é presente na descrigio € entendido ‘como sendo um fenémeno, ov seja, tal como foi experienciado pelo sujeito, implicando que nenhuma teivindicagao é feita no sentido de afirmar-quic © objecto da descrigiio existiu exactamente tal como foi-experienciado, ou tal como se manifestou 4 pessoa que apresenta a descrigio. -sujeitos, importa manter a nogao fenomen que estas esto, ou podem estar, a um nivel pré-reflectido © que, por 6 sentido da experiéncia surge como provesso refleaivo da deseris significados psicol6gicos podem, assim, ser explicitados, embora mantendo tuma nogio dos constrangimentos que a linguagem possa impor (apesar de set simultaneamente, pela linguagem que, pelo menos em parte a experiéncia fumana se desvela) ¢ das suas limitagdes, ja que as entrevistas nunca esgo tam, por inteito, as préprias possibilidades descritivas de um determinado fendmeno. > Método Fenomenoligico de Investigacao em Psicologia | 83 Neste caso, deve ser dado algum espaco, explorar eventuais conexdes ¢ no reencaminh; fevistado com uma pergunta fechada. Juando os ‘ou pouco claros, o entrevistador deve Importa distinguir entre direccion, vistada, que é signifcaria conduzir sujeito@ referiraspectos que o investigador procurati encontrar nos dados, e entre critério fundamental é, tanto quanto possivel, obter desctigées tio detalhadas ¢ concretas das experincias dos sujeitos. Como ja foi referido, nia existem descrigoes perfcitas, dfinitivas ou completas. O investigador tera de certificarse da adequabilidade das descrigdes, assegurada quando, partir estas, € possivel gerar significados de carscter psical6gica sobre 0 tema de estudo. Para isso, & importante que a descrigio seja tio especifica ¢ concreta ‘quanto possivel, relacionada nfo tanto com racionalizagées, explicages ou intel resentadas pelos in na sua [a a oentrevistador pode seguir eritérios que validem a ua intervengo no ambito da entrevista fenomenolégica: descriges alequaadas sio aquelas que contém _suliciente profundidadee detalhe para que alguns novos conhecimentos sobre ‘08 fendmenos psicolgicos possam ser obtidos. Deserigdes adequadas sic também aquelas que'permitem que o mundo Fenomenal do sujeito se revele co sufitiente, de maneira a que o modo do suijeito esteja presente numa situacio ‘em que experiencia esse determinado fenémeno, possa scr dilerenciado e que as estruturas invariantes possam ser descritas. Finalmente, Kvale™ delineou as competéncias de um entrevistador de investigasio qualitativa, passiveis de serem aplicadas, pelo menas em parte, na entrevista fenomenoldgica Conbecedor ~ Nao obstante fazer uso da redugio fenomenolégica -psicol6gica, o entrevistador tem conhecimentos aprofundados sobre o tema de estudo, € capaz de ter uma conversa sobre o t6pico e esti ao corrente dos principais aspectos sobre o objecto de estudo. Estruturante - Embora a entrevista fenomenolgica sa aberta e de cardc- tet exploratéria, o entrevistador introduz © propésito da entrevista, dé indi- cages aos patticipantes, antes desta se inicias, explicando os objectives ¢ 0 % Kee, 1996, p16 CEE eC eap NNee TUTTE TUIEETTIEEEL a B4 | Método Fenomenclégico de Investigagzo em Psicologia ‘que se pretende com a investigacZo, dando tempo para que os entrevistados cologuem diividas e questies. Claro —Coloca questées custas, de forma simples ¢ clara. Utiliza linguagem do senso comum, excluindo conceitos cientificos ou académicos. ‘Adequado ~ O entrevistador tem 0 cuidado de seguir o fluxo narrativo do participante, accitando 0 ritmo deste, eventuais pausas, demonstrando acei- taco de aspectos mais controversos € estando receptive a dimensées emocio- nis que possam surgir na entrevista ‘Stnsitel Eum ouvinte activo e aento, no sentido de estar concentrado ‘bas nuances presentes n0s significados expressos nas descrigées, procurando, ‘quando € apropriado, clavficé-las. Procura ter uma postura empiitica e focar- -se, nfo apenas no que é dito, mas no modo come € dito ¢ nos eontetidos emocionais ‘Aberto,~ Esti disponivel para ouvir que aspectos so mais importantes a os participantes em relagéo ao t6pico central da entrevista ¢ esta aberto ‘taspectos ou questées novas que possam surgi, procurando segui-las ¢ con. siderar as relagGes destas com o tema da entrevista. Dirige—Apesat da sua abertura, cabe ao entrevistador estar ciente do tema lem que a entrevista se procura centrar e sobre o qual pretende recolher dads, tendo um papel importante para voltar « focar 0 participante, caso este se afaste, em demasia, do tema da entrevista Relaciona ~ Recorda aspectos ditos em fases anteriores da entrevista, ._ podendo refer coisas dtas anteriormente, em articulagio com outrasafizma. das pelo participante, no sentido de procurar aprofundar as descrigSes € os seus significados. © autor sefere ainda duas qualidades que, no caso da entrevista fenome- nnolégica, devem ser consideradas com maior cuidado: _Perypectiva Critica ¢ Interpeetativa — Se ser critico significa testar a verac dade do que é dito pelos participantes, entio esta postura tem de ser muito ‘mais suave na entrevista fenomenol6gica, pode apenas significar que o entre Jpantes € os seus e menos de interpretagdes, sobre aquilo que os sujeitos expressam. Numa entrevista presencia, a M6 UM08 Ha NeADuis POUR SEEAORS. (ERED ee mca se conseguccaptar na otaldadeo que foi Método Fenomenolégico de Investigasio em Psicologia | 85 cexpericnciado ¢ esta limitagao deverd ser tida em conta em todas as andlises. Consequentemente, todo o trabalho de investigacto requer que o investigador esteja sempre atento aos Factores contextuais, co-determinantes, mesmo que estes no sejam claramente manifestes. Embora as descrigdes retrospectivas scjam frequentemente a fonte de dados. fenomenoldgicos, clevido & sua conveniéncia, estes nao so, no entanto, a tinica fonte. E possivel abter deserigdes no momento (ongoing descriptions) de par. ticipantes através do uso do método de conversar em vou alta (“salking aloud””). E também possivel reunir descrigdes de comportamentos prove: nientes de outras pessoas, desde que sejam boas descrigdes da perspectiva do dia-a-dia, em ver de descrigdes técnieas. De facto, € até possivelfilmar o com- portamento de outras pessoas ¢, depois, observar a gravagio e estabelecer tunidades de significado comportamentais em vex de verbais. Outra opgio, é ravar 05 comentirios, enquanto se observa a gravagio. Estes podem ser dia pessoa que gravow o video, de outro investigador ou dos préprios participan- tes. Estas opges silo mencionadas piara que o leitor saiba que a anélise de daclos fenomenol6gicos nao esta limitada 1 descrigées retrospectivas Metodologia Apis a obtencdo dos dados de investigacio e da transcriclo, na integra, das deserigoes dos sujeitos, 0 protocolo esta pronto para ser analisado pelo método fenomenolégico de investigagdo em psicologia. O método esta dividido em quatro passos: Estabelecer o Sentido Geral. | 2, Determinagao das Partes: Divisio das Unidades de Significado, ‘Transformacao das Unidades de Significado em Expressdes de Cardicter || Psicobigico. | Determinagiio da Estrutura Geral de Significados Psicolégicos. 1, Estabelecer 0 Sentido do Todo Apés a transcrigio, o primeiro, ¢ tinico, objective é apreender 0 sentido zcral do protocolo, Nesta fase, o investigador pretende apenas ler calmamente « transcrigao completa da entrevista, E importante realgar que, metodologica- > Aanstoas, 1985 6 | Método Fenomenolégico de Investigagio em Psicologia io fenomenolégica ade, © objectivo principal é obter um fe. Geralmente, quando se trata de uma entrevista ou de uma tra extensa, so necessérias varias leituras. ‘Com o decorrer do método, verificar-se-A a existe fo. Este aspecto 6, particularmente, importante como argumento epistemol6gico, impedindo o investigador de cair em detivas semanticas ou interpretativas. Desde as Investigacées Légicas que a relacio entre 0 todo € as partes foi desenvolvida por Husserl, mas, neste momento inicial do método, interessa, sobretudo, reter que a finalidade é captar 0 sen- tido geral da transcrigio. 2. Determinagao das Partes: Divisdo das Unidades de Significado Do ponto de vista operacional, e depois de apreendido o sentido geral (primeio passo), o investigador retoma a leitura do protocolo, com um segundo objectivo: dividi-lo.em partes mais pequenas. A divisie tem um intuito sobretudo pratico. A maior parte dos protocolos tem uma extensio .que impede uma andlise fenomenoldgica suficientemente cuidada, A divisio, em partes, denominadas ado, permite uma andlise mai aprofundada. Como o objective € realizar uma andlise psicolégica, pretende se (unidades de signifieado}. Este passo resulta no seguinte procedimento: ao reler o protocolo desde o inicio, dentro da atitude da redugio fenomenoldgica, e mantendo uma perspectiva psicolé- aica sabre o tema em estudo, o investigador coloca uma marca (um trago na vertical) no protocalo sempre que identificar uma mudanga de sentido nas descrigdes dos sujeitos. Este procedimento mantém-se até ao final do pro- tocolo, obtendo-se, como resultado final, a divisio e definigio das unidades de significado, Trata-se de um procedimento deseritivo, que considera que significados importantes pata o tema de estudo esto concentrados naqucla “unidade”, carecendo de um maior aprofundamento e clarificagio nos passos subsequentes do método. Método Fenomenoligico de Investigacao em Psicologia | 87 ‘Mais uma ver, realga-se que no método Fenomen ,estabelecidas de acordo com critérios psicol6gicos. Estas uni- dades nfo “existem” nas descrigées em si mesmas, esto apenas correlaciona. das com as opgdes de divisio do investigador, que segue a perspectiva da sua disciplina de estudo. Assim, por exemplo, se estiver a desenvolver uma inves- tigacio de cariz psicolégico, preocupar-se-a em dividir as partes segundo ctitétios de importincia psicolégica, se estiver a conduzir uma pesquisa socio- Togica, seguiré pressupostos de importancia desta natureza, Este aspecto demonstra haver ja, nesta fase do método, a possibilidade de outros colegas verificarem as odes de divisio do investigadlor, mantendo, portanto, a capa: cidade de seguir, desde o inicio, os procedimentos metodeligicos, caso se pretenda replicar o estudo. Muito embora, seja de realgar que, nesta fase do método, o fundamental nai € haver uma concordancia absoluta nas divisoes, Pequena diferencas de dvisio nesta fase metodolgiea nfo implicam resal- tados finais distin No segundo paso, a um nivel cientifico, o investigador entra na reducio fenomes ol6gica. S40 os objectos que passam pela reducio é itos. Isto quer dizer que quanto a sua realidade ou nao, Por exemplo, no caso de um estudo em que os sujeitos descrevain éxperiéncias alucinat6rias, o investigador estari focado nas descri- es e nos significados por estas produzidos, shen de gdeteea ieee eer : Noentanto, nao recla- mado que essas situagdes existam ou tenham existido da forma como foram afirmadas. Por outras palavras, no ambito da redugio fenomenol6gica, ha uma dlistingZo clara entre o rrodo como um fenémeno se apresenta e como existe cenquanto facto, o que podera ser determinadlo, eventualmente, por vtios actos de consciéneia ‘A Fenomenologia reconhece haver uma posicio espontinea na vivén- cia quotidiana das coisas e siouagdes, @ qual ¢ suspensa quando usamos a reducio, implicando, igualmente, uma suspensio de juizos, entendimentos passados, com o objectivo de proporcionar uma visao aberta a novas pers- pectivas, Assim, ao nivel cientifico, fazendo uso da redugio fenomenolégica, > 88 | Método Fenomenolégice de Investigaczo em Psicologia 10 sendo fenémeno, embora nao mantenha qualquer tipo de certeza quanto & sua realidade, Dizer que é aceite como um fenémeno, significa que tudo 0 que surge nas descricées deste € considerado valido, exactamente na maneita como foi dado ao sujcito, embora no se afisme sobre se 0 fenémeno & exactamente como foi dado a0 sujeito. A reducao fenomenoldgica procura cevitar 0 enviesamento do senso comum de que as coisas sio tal como si ‘experienciadas por nés, colocando assim, a nivel de metodologia, a exis do rigor cienuific. 3. Transformacao das Unidades de Significado em Expressées de Caracter Psicolégico Em primeiro lngar, leu 0 protocolo todo, apreendendo o sentido geral. No passo seguinte, div descrigdes em partes, estas ja psicologicamente relevantes em relagio a0 tema de estudo, embora mantendo a linguagem dos participantes. O tereeiro passo Gum momento crucial no método. Neste, alinguagem quotidiana da aritude natural dos sujeitosétransformada, Com a aplicacio da redugio fenomenol6gica -psicolégica e da anilise eidética a linguagem de senso comum ¢ ento trans: formadaem expressdics que tém como intuito clatificar ¢ explicitar o'significado psicol6gico das descticées dadas pelos sujeitos. © objectivo do método é desvelar e articular 0 sentido psicolégico vivilo pelos participantes, em rel 440 objecto de estudo da investigacio. ‘As desctigées originais esto repletas de linguayem de senso comum ¢ de referéncias ao mundo da pessoa. As descrigSes sto idiossineritieas, embora ricas em contetido ¢ na pluralidade de sentido nelas incluido, Os sentidos retirados das descrigdes, por parte do investigador, Naturalmente, é possivel que haja unidades de signilicado com pouco ou nenhum valor psicoligicorNesse caso, menciona-se, sitaplesmente, esse facto. Como foi referido, até ao terceiro passo do método, a linguagem do sujeito foi modifcads, sa eee Método Fenomenalégico de Investigagao em Psicologia | 89 sujeitos, com a ajuda da reducio fenomenolégica-psicolégica e da variagio |, 0 que implica retiar os aspectos contingentes e particulates que nio sio essenciais para clarificar a estrutura esseacial dos significados psicologicos. io ter em mente lar 0 contexto, no lsgico, com 0 método fenomenolégico, nfo se pretende aleangar explicagoes teéricas a0 longo do processo. Neste momento, 0 objective € proceder, cautelosa- mente, de modo a se estabelecerem significados psicol6gicos invariantes, de cada unidade de significado, discriminados durante o passo dois do método. A Soguagem de senso comum é transformada em expressies psicologicamente revelatéxias ‘Também nfo se pretende rotular, reformular ou dizer, por outras palaveis, ‘que o sujeito descreveu, Mantendo uma lingtiagem desertiva,o investigador deve ser capaz de expressar e trazer & hz significados psicolégicos, que estio mplicitos nas descri¢des originals dos sujeitos. Para tal, contribui o primeiro. passo do método. E também neste momento que a inter-relagio entre. as pat- tes e o todo sobressai como instrumento metodolégico. O facto de se ter © sentido geral das desctigdes permite ao investigador clarificar e explicitar sentidos que esto, por vezes, implicitos nas unidades de significado, que foram delimitadas no passo dois do método, 4, Determinacao da Estrutura Geral de Significados Psicolégicos O terceiro momento termina com a anilise de um conjunto de unidades de significado, originalmente expressas na linguagem do sujeito, agora transformadas m si c 0 tema de estudo, fi 90 | Método Fenomenologico de Investigagao em Psicologia {A descrigio dos sentidos mais inva- ‘iantes, denominados constituintes essenciais da experiéncia, contidos nas vtias tnidades de significado, assim como das relagdes que € stes tiltimos, resulta na claboracao de uma estrutural geral. Same E possivel que o investigador faga uso de termos que nao esto incluidos nas unidades de significado, de modo a articular e descrever a estrutura final. Como ja foi referido, cada passo do método é um refinamento, um aprofundamento do passo anterior, até A Método Fenomenologico de Investigago em Psicologia | 91 cionais, ete. Por esta ra20, € muito importante a forma co tigad: razio, & muito im smo © investigador explora os dados finais da investigagao, apds a aplicago do método, sendo fundamental a andlise p6s-estrutural que levard a cabo, Este aspecto pode set consttado a segunda pare através dos exemplospriios referents api cago do método. Passos do Método Fenomenolégico de Investigacao.em Psicologia Passo determinacio da estrutura geral, ou seja, o quarto momento do desenho~ metodolégico. Mais uma vez, um proceso de articulagdes, holistico, de caracter psicoldgico. “Todos os dados clevem ser considerados neste passo, nas, obviamente, nem todas as unidades de significado tém igual valor. © importante € que a estrutura resultante expresse a rede essencial das relages entre F c |Lpossa sobressair. Nao se deve, no entanto, forgar os dados a serem incluidos necessaria- mente numa tnica estructura final. Por hipétese, num estudo com dez par. ticipantes, o investigador pode terminar a investigagio com duas estruturas finais ¢ nao apenas com uma. Numa investigagiio fenomenolégica nao é imperativo ter apenas uma estrutura, Seré esse 0 objectivo se os dados assim oo ca de modo a alcangar uma simplicidade desejada: “Tao ou mais importante que as partes, os constituintes essenciais, € after dependéncia existente entre estes. Mais ainda, as partes nao sao fins em si mesmas. Recorrendo a uma analogia estatistica, diriamos que representam uma medida para uma tendéncia central. Expressam como os Jados do objecto de investigacio convergem. No entanto, existem também varia- ges ou diferenciacdes correspondentes, mantendo a analogia, a medidas de dispersiio. Consequentemente, apés a delineagio da estracus final, o. investigador verifica os dados iniciais do protocolo € explicta as variages ‘empiricas que esto contidas no material. ‘O resultado final de uma andlise fenomenolégica cientifica nfo se resume apenas a estrutura final, mas a0 modo como esta se relaciona com as diferen. tes manifestagées de umaidentidade essencial. Por exemplo, nun: estudo sobre a aprendizagem, definiu-se que uma das partes da estrutura era “entear numa situagdo com falsas suposigoes”, No entanto, esta estrutura pode ter tido variagdes, estar relacionada com ignorancia, falsas memérias, contlitos emo- entrevista P ou obtém ‘Se of dados da favesti- Dentro do perspective ‘de Puma decrigsa que ‘93580 foram cecelhi- cientifica da reducdo Feflecte uma stuacio dos por uma entrevista, fencmenotoaicasico- sobre temade esto, | eranscreve-a na tots logic, ea transercso >] tse. >| ervicadrdraes ‘Adescrgiooignal dada ‘de modo apreender & ‘a perspectia deP, em ‘Se a descrigdo original Seatidogera, Tinguagem de senso co- ‘dada por escrito, usa mum a desrigao tal coma fot ‘Nad mais raleadones foxnecida por tepaso, Passo Poss03 Pessoa Mado actminods | | vitdmporetemer | | pomdemoer nents e tendo em mente o >) vn > oem au suetnay as Lina unidade de signi Este poszorequera uso da Poder ser necessrio que ‘analise eitica, assim use termos que nao semtido, a medida que como a explictagio de esto nculdos m3 un rele a wansrcio dasde facores quo se mand ddades de significado, nici, ham ewpictes, ‘de modo a articular 8 Imerdependénciaentee Icaloca ume msreaque de as lerentes unidades. Timi a ferntes uni dadesdesigniicada. {-tnvesigador PPariipante 92 | Método Fenomenologico de Investigacao em Psicologia Discussao e Comunicagao dos Resultados pretados e comunicados é igualmente importante e, sem diivida, neste processo, tomam parte muitas contingéncias, em especial para aqueles que tém uma perspectiva minoritazia, Noentanto, muitas das dificuldades encontradas nesta fase do processo de investigacio nao so exclusivas da Fenomenologia, Estio, ‘geralmente, presentes em relacio a qualquer perspectiva minorititia. No dimbito da discussio de resultados, fase subsequente a utilizagio da metodologia propriamente dita, o investigador poder proceder, basicamente, ded 3: — desenvolver a abordagem sobre 0s resultados. Poder-se-io salientar, individualmente, os diferentes constituintes, como é que se relacionam entre si, como & que esta directamente ligados sos dalos bru- tos da investigacio,f. e., aos protacolos da investigacio, que poderio servie para sustentar os constituintes-chave e que variagdes empiricas se podem encontrar em cada um destes dtimos. — depois ‘tae pormenorizadamente e de ;plicado os resultados, ido for exemplo, 0 In ‘com as teorias existentes, se apresentam algo de novo que possa conduzir a comunicam-se os resultados aos pares, O método & Clari ‘ages Metodologicas ‘O método fenomenolégico procurs alcancar o significado da experiéncia. ‘Toda a implementacio dos passos da metodologia gira em torno de signif cados. O primeito passo exige que se leia a descri¢io na integea, de modo que se possa obter um sentido de totalidacle o que, em troca, pode ajuda a Método Fenomenolégico de Investigagao em Psicologia | 93 dliscriminar as partes que serdo estabelecidas no segundo passo. Estabelecer co sentido geral poderé auxiliar, igualmente, o investigador no terceito passo, no qual se pretende realizar a descrigio dos significados psicolégicos, bem como tomar explicito 0 que, por vezes, se mantém em recesso. Esta operagio € realizada com informagées conticas na totalidade no protocolo, néo apenas com os dados que esto nas unidades tidas individualmente, Depois de algum treino, o segundo passo é, facilmente, apreendido pelo investigador, que nfo terd dificuldade em dividir as descrigées dos participan- tes em partes. Estas, a serem constitufdas, baseiam-se na transig&o de signifi cado percebida pelo investigador, sob uma perspectiva psicol6xica. Pretende. -se que as unidades de significado sejam suficientemente extensas, de modo a produzirem significados psicolégicos, e suficientemente pequenas para pode- rem ser manuseadas. Como foi referido, o passo dois tem um caricter essen- cialmente pritico, Pretende-se dividir 0 protocolo cm unidades de sentido, ‘que permitam uma andlise mais cuidada ¢ aprofundada. © terceiré momento é, geralmente, tido como mais problemética, pela aparente falta de critérios externos, claramente discemiveis, Isto nio significa ue nfo haja critérios estabelecidos. As unidades de significado sio apresen- tadas de forma explicita, de modo a que qualquer leitor eritica possa acom- panhar 03 passos do investigador, verificando, assim, quais as unidades de significado que foram estabelecidas e a que explicitagdes de cardcter psicol6- sgico deram origem. No catanto, as unidades de significado sto consideradas constituintes dependentes de_um context ~a descri¢ao total da experiéncia do participante -, pelo que carecem de sustentagio enquanto elementos indi- viduais. Isto significa que nao pode haver uma teansformacio rigidae fechada «em cada uma das unidades, realizada de forma completamente:inilependemte. Partes relevantes do contexto, externo a uma determinada unidade, podem ‘judar a determinar a transformagio que é processada pelo investigador «quando este passa a linguagem de senso comtim do participante para expres- sbes de caricter psicol6gico O objectivo das transformagdes € tomar tao explicito, quanto possivel, as dimensées psicoldgicas das experiéncias deseritas pelos participantes, que esto, assim, inicialmente em linguagem de senso comum ¢ sem uma articula- io precisa quanto a0s significados psicolégicos nelas contidos. A medida que Oo investigador vai transformando a linguagem de senso comum das descrigoes, surgem algumas possibilidades quanto aos significados que estas expresses possam conter. No entanto, estas possibilidades niio podem set, simplesmente, aceites, O investigador deve analisé las criticamente, fazendo uso da variacio livre imaginativa e relacionando 0 sentido que surge numa determinada uni- dade com o contexto geral de todo 0 protocolo. 94 | Método Fenamenoldgico de Investigagio em Psicclogia Para a Fenomenologia, o mundo da vida, ou mundo pré-tesrico, €0 suporte para todo o conhecimento, pelo que a ciéncia é uma atitude derivada, motivada por aspectos desse mesmo mundo da vida. Este é mais abrangente, muito embora a ciéacia possa trazer outra precisio, numa analise que nfo deixa de ser parcelat. A ttansformago da linguagem do dia-a-dia dos sujeitos é um ‘constrangimento necessitio, de modo a alcangar a perspectiva psicolégica, obtida pela descrigio do mundo da vida. A adopgio de uma atitude da nossa disciplina de estudo, a Psicologia, por um lado, contribui para uma sensibili- dade propria da area de conhecimento, por outro, possibilita que os dados possam ser tratados de forms aclequada, lictamente apreendidos como dadlos de investigagio. ‘Uma iltima nota ainda acerca das transformactis que ocottem no terceiro passo. E frequente que colegas investigadores fiquem surpreendidos ao veri ficarem 0 que consideram ser transforma¢ies activas de significado, por parte do investigador, na utilizagdo deste momento do mérodo fenomenoligico. No centanto, « ciéncia requer quase sempre transformacdes ou modificagBes dos dados originais. O que torna isto dificil de compreender é, muitas vezes, tradigao do laboratSrio. Patece que se entra neste local e se obtém os dados de forma bastante directs. No entanto, muitas vezes, ignora-se 0 facto de que 6 laboratério nfo é uma situagio ou ambiente natural. E, pelo eontsasio, um ambiente altamente artificial, construido com 0 propdsito de melhorar as condigies dos ambientes naturais, Ha cimaras escuras, salas insonotizadas, insirumentos para controlar a intensidade € qualidade dos estimulos, bem como outros equipamentos para controlar as reacgdes dos participantes, sejam ates hutmianos ou animais, Noutras palavras, as transformagées ocorrem ini cialmente na situagio de forma a que os dlados possam ser recolhidos clara ‘mente. Com o métod fenomenol6gico, os dacos sio obridos através de uma perspectiva do dia-a-dia, mas, de forma a tomar os dads em bruto os mais relevantes possiveis para a Psicologia, pelo que as transformagies tém de, ‘ocorrer apés os dados serem recolhidos. Porqué esta diferenca entre a tradigio de laboratério ¢ a investigacio experiencia? Basicamente, a diferenca depende de as varidveis ¢ 0s factos serem independents uns dos outros € externamente relacionados, ou inter dependentes ¢ intrinsecamente relacionados. A tradi¢io de laborat6rio come- {cou por investigar “coisas” ou fenémenos, que so fundamentalmente inde pendentes ¢, portanto, a manipulacio destas varidveis era relativamente fc No entanto, dado que as-experiéncias pertencem a um dado individuo, elas tendem a ser interdependentes c intrinsccamente relacionadas. Podem-se abstrair varidveis experimentais isoladas ou factores, mas niio se pode fazer isto sem modifica, simultaneamente, a estrutura da experiéncia. Quando se Método Fenomenolégico de Investigacio em Psicologia | 95 pensa em seres humanos, as relagdes sfo to primirias/essenciais que uma pessoa nio pode ser definida sem referéncia a clas, Consequentemente, a0 pattirmos de uma descricio da perspectiva do mundo do dia-a-dia lifeworld), estamos a recolher as experiéncias com as suas proprias referencias e contex tos, de acordo com a importincia que pareciam ter para o participante. Dado que 0s significados so também, basicamente, relacionais, comecamos a ver como diferentes dimensdes de uma mesma experiéncia se relacionam umas com as outras na tealidade, deixando para trés mundo das hipéteses. Final- mente, a relevancia especial destas conexdes para a Psicologia tem de ser ‘wortiada éxplicita, visto que ¢ Sbvio que o mesmo conjunto de dados pode servir de base para a anslise de vérias disciplinas. O tipo de transformagies que se procura obter pode ser especificado mais claramente. Um dos objectivos é transformar o que € implicito numa linguayem explicita, especialmente com respeito ao significado psicoldgico. Este aspecto da transformaciio € 0 que permite anilise revelar significados que sio vividos, mas nfio necessariamente articuladlos de forma clara ou totalmente conscie Um segundo objective é, de alguma forma, generalizat, de modo a que a a lise niio seja tao especifica em relacio a uma dada situacio. Procurar ® signi- ficado psicolégico de uma situacio significa, em parte, ir do concreto da situacao vivida, como um exemplo de algo, ¢ clarficar 0 que € que afinal esta ‘exemplifica. Por fim, um tereeiro objectivo €, sempre que possivel, descrever ‘© que ocorren, de um modo psicologicamente sensivel. Isto no significa “eti- ‘quetac” 0s significados em termos de jargio psicolSgico, mas, genuinamente, articular e tornar visiveis os significados psicolégicos, que tém maior impor tncia na experiencia, Em termas priticas, no terceiro passo, 0 investigador pode produzir uma unidade de significado de cardcter psicol6gico, substan- cialmente, maior do que a unidade de significado que Ihe deu origem, estabe lecida nos passos dois e anterior. Isto acontece pelo facto de se pretender que significados psicol6gicos, que estejam implicitos, possam ser clarificados explicitados de forma inteligivel e evidente. Por um lado, pretende-se extrait todos os aspectos relevantes de um ponto de vista psicologico, por outro, 0 Ieitor critico pode verificar 2 anilise desenvolvida pelo investigador. Finalmente, aestrutura final, o quarto passo, tem como objectivo transi tiro que é verdadeiramente essencial, numa perspectiva psicolégica, sobre um, conjunto de experiéncias relacionadas com um tema. A sintese estratural € necesséria, x fim de condensar os dados em bruto, € suas elaboragées, em proporcées manipulaveis, de modo a se revelarem as relagdes entre as partes. ‘A estrutura no reclama uma validade universal, mas sim umn caracter geral (Os aspectos clas descricdes das experiéncias que sejam especificos ou contin: entes nao fardo parte da estrutura. Apenas os constituintes e os aspectos 96 | Método Fenomenolégico de Investigagao em Psicologia telacionais entre estes, directamente conotados com o fenémeno sob investi- gacio, serio inseridos. O critério a seguir para a inclusao, ou nfo, de um constituinte é de que a esteutura final seria radicalmente diferente sem a inser- ‘gio de um constituinte-chave, Limitacoes "Todos os investigadotes sabem que niio ha métodos perfcitos. Cada método team pontos fortes e limitagdes. O processo de investigagiio beneficia quando “as limitagées do método so tornadas explicitas, a fim de serem estabelecidos 105 limites dos resultados. Obviamente, © mesmo se verifica em relagdo a0 método fenomenolégico. ‘© primeiro aspecto a salientar é o facto de os dados em bruto obtidos serem descrigdes retrospectivas, i ., haa possibilidade de erro ou engano por parce do participante. Erros “honestos” podem, obviamente, ocorrer, mas niio sio tio cruciais para a andlise psicol6gica como pode parecer & primeira vista. Afinal, a perspectiva psicolégica do método ferfomenol6gico tem como objec: tivo obter descrigdes, tio detalhadas quanto possivel, das experignecius vividas subjectivamente por sujcitos epistémicos, e nao relatérios objectivos. O inte- resse esta em como o participante experienciou as situagies, ainda que estas venham através de recurso i meméria. O modo como estas se destacam na ‘meméria é também psicologicamente reyeladot. Esta dupla possibilidade de erro (meméria e percepgao da situagao original) deverd, cereamente, fazer com ‘que 0 investigador seja cuidadoso, mas nfo apresenta um obstéculo inultra passavel, uma vez que nio se reclama uma qualquer realidade objectiva. Em vvez disso, epistemologicamente, o argumento é que os resultados se baseiam tunicamente em situagoes que foram éxperienciadas ou relembradas pelo par- ticipante. Em investigacio fenomenolégica, este passo deve-se ao uso da redugio fenomenolégica-psicolégica no contexto cientifico. O leitor deve ‘também recordar que, no ambito da redugio, que se reclama a nivel feno- ‘menol6gico é apenas em relagio a forma como “as coisas” se apresentaram pereneiaram no em relngao forma como cis realmente centa fazer Aqueles que . cexistem, Isto € precisamente 0 que uma perspectiva psicoldgic — descrever as situagdes como so experienciadas. Com esta énfase, o relatar objectivo de uma situagiio pode servir como um ausilio para detectar o perfil psicolégico, mas nfo o deverd substitu H ‘A. questio do engano é mais problemstica, no sentido em que um inves- tigador/entrovistador pode ser induzido em erro, durante um custo periodo de tempo, sobretudo em descrigdes breves. No entanto, com entrevistas mais Método Fenomenolgico de Investigago em Psicologia | 97 longas, como as que so usadas em dissertagdes de doutoramento ou investiga: io continuada, 0 facto de algo ser duvidoso é normalmente detectivel. Pode nio se saber exactamente 0 porqué das narrativas estarem afectadas ou pare- cerem “desligadas”, mas o facto de um participante estar a tentar controlar a descrigio é geralmente notado. Também aqui o uso da redugio fenomenolégica € til, dado que, epistemologicamente, se reclama apenas 0 acesso & estrutura experiencial ¢ nao a realidade objectiva. Este tipo de problema é, geralmente, visfvel na recolha de dados através de entrevistas mais longes, nas quais as disparidades ¢ paradoxos podem ser clarficados com os participantes. Ain: sim, o que se pretende alcancar so estruturas experienciais auténticas, nio estrururas consteuidas de forma enganosa. As dltimas oferccem apenas 0 modo como alguém construiu o fenémeno que niio chegou a ocorrer. A investigacéo fenomenolégica, orientada para a descoberta (diseovery- -orfented) em vez de visar provar uma teoria ou hipétese. Importa seferir que estas vulnerabilidades nao so exclusivas da investigacio fenomenolégica. Todaa investigagio qualitativa, que dependa de relatos de situagées por parte de participantes, €jgualmente vulnerivel. De facto, abordagens supostamente ‘mais objectivas, que dependem de instrumentos, tais como questionstios ou testes de itens, fo igualmente vulheraveis, apesae cle © participante apenas fazer cruzes em folhas de papel. Podemos fazer balangos gersis ou seguir critétios € protocolos, mas nao existe uma estratégia infalive! para detectar ‘enganos. Acresce o facto de, apesar de a Fenomenologia ser uma metodologia qualitativa, & medida que vai acumulando saber e conhecimentos sobre um determinado objecto de estuclo, estabelecer um corpo teérico, que vai sendo posto.a prova pelas regulates ¢ eonsequentes investigagdes sobre esse mesmo tema. A propria praxis, em que se insere esse objecto dé estudo, poder por em causa © conhecimento, implicando uma revisio do mesmo. Uma outra limitagio dbvia prende-se com a necessidade de os sujeitos terem de ter vivido situagées directamente relacionadas com o tema de investigagio, de modo a poderem apresentar as suas descrigdes, Caso contririo, nao poderio ser inclu idos na amostra. Outca vulncrabilidade bastante transparente neste método & 0 facto de todo o processo parecer estar dependente da subjectividade do investigados Isto é, especialmente, verdadeiro em relagio ao terceito passo do método, no qual as expressdes assumem uma sensibilidade psicolégica. Explicémos ja 0 porqué da necessidade desta transformagio, dado que toda a ciéncia converte 65 dados em bruto de alguma forma, quer seja 2 priori, através do setting da investigagio ou instrumentos, quer seja a posteriori, Uma vex que a transfor magio que ocorre no método fenomenolégico é a posteriori, e dado que con cemne expresstes precisas de significado psicol6gico, frequentemente, parece

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