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Direito Penal I
Direito Penal I
O Direito Penal é o ramo do Direito mais intrusivo na vida cidadão e que faz inserir as
consequências jurídicas
O Direito Penal só age quando existe um ataque grave a bens juridicos e é o último recurso na
proteção dos mesmos
Direito Penal tem uma dimensão preventiva
A inimputabilidade afasta a culpa do agente porem não retira o facto de ser um facto
típico e ilícito
Um facto suscetível de desencadear medidas de segurança - facto típico + ilícito + perigosidade
do agente
Em caso de inimputabilidade
Pena é em caso de culpa
Medida de segurança é em caso de inimputabilidade
Nunca se pode aplicar as duas em simultâneo
Em regra, o Legislador Português só pune o dano a um objeto jurídico se o dano foi feito de
forma dolosa
Quanto mais valioso for o bem jurídico menor é o grau de ofensa suficiente para preencher o
princípio da proporcionalidade. Ex: Dolo + Negligência
O Direito Penal, em regra, só pune atos dolosos, porém a vida é um bem jurídico bastante
valioso, ou seja, não basta julgar de forma dolosa mas também se pune o mesmo for de forma
negligente.
Direito Penal numa conceção Onto-Antropológica (Estudo ser (Onto) – Um ser
específico: o ser humano (antropológica))
- Ontologia do Ser-ai: Uma relação do eu com o outro
- Relação de cuidado-de-perigo (Não invadir a esfera jurídica do outro): De um modo ou
de outros estamos sempre em relação com um outro
- Em sentido material, crime é ruptura dessa relação de cuidado-de-perigo e a pena é a
reconstrução da relação rompida
- Fundamento: Relação cuidado-de-perigo
- Finalidade: Realização da justiça
- Funções: Efeitos que o Direito Penal geralmente alcança
- Função Secundária:
Há exceções em que certas leis do Direito Penal Secundário que estão no Código Penal (Ex:
Art.º 279), assim como o Direito Penal primário/clássico, existem leis que não estão no Código
Penal (Ex: Cyberbullying)
1ª Modalidade - Descriminalização
Uma conduta perde a sua relevância jurídica
Apaga-se por completo a norma
2ª Modalidade - Despenalização
- Própria ou Relativa
- Diminui a moldura penal em ação/do comportamento
- Diminui a realidade da pena
- Desagravamento da pena
- Ex: Moldura Penal de 5 anos, o individuo está preso há 3 anos, entretanto o legislador diminui
a moldura penal para 3 anos, então o individuo tem que ser libertado
- Imprópria
- Um crime passa a ser uma contraordenação
- Num momento o legislador pode passar a pena de prisão para uma coima
Beccaria
Assenta no pressuposto de que “É a razão e não o divino que deve orientar o ser humano”
Autor da obra “Dos Delitos e Das Penas”, o qual teve um grande impacto no Direito Penal
No antigo regime, o Direito Penal tinha na sua base a violência, punição, crueldade, etc.
- Quais os principais pontos de mudança que Beccaria assentou para mudar a questão
racionalidade penal?
1º
Secularização do Estado e do Direito Penal
O afastar da Igreja
Justiça Divina para um lado e Justiça Penal para outro
2º
Beccaria substitui o Divino pelo Contrato Social
3º
Beccaria traz a proporcionalidade das penas
- Penas adequadas aos crimes cometidos
- Beccaria queria convencer os soberanos que era mais fácil e útil trabalhar com penas mais
leves e proporcionais do que penas desproporcionais e mais pesadas que eram utilizadas na
altura – Princípio da utilidade
- Beccaria defendia a abolição da pena de morte
- Pena mais branda e efetiva do que uma pena mais grave mas sem resultado certo -
Argumentação empírica
- A privação da liberdade começa a ser o centro das penas/do sistema penal. A pena “rainha”
passa a ser a pena de prisão
- Traz também a pena pecuniária - Pena de multa para crimes menos graves
4º
Beccaria adota uma lógica utilitarista que se foca na ideia da prevenção. As pessoas veriam as
consequências do crime cometido logo não o faziam
5º
Crime como dano social – Incumprimento do contrato Social
6º
Beccaria é um defensor do Princípio da Legalidade
- Não havia fundamento na lei
- O soberano é que decidia o peso do castigo na hora da punição
- Não havia segurança jurídica
- O delinquente tem que saber as consequências e o é incorreto na hora do seu
comportamento, na altura de Beccaria não havia essa noção
7º
Beccaria defendia obtenção de informação sem a tortura (Queria convencer os soberanos de
que a tortura não era útil)
8º
O processo de investigação não poderia ser secreto pois muitas vezes o individuo só tinha
conhecimento do processo na altura da execução da pena
Os processos judiciais têm que ter um tempo razoável e não demorado, pois mutas vezes
durante a investigação o individuo era mantido em prisão preventiva durante todo o processo
de investigação e por vezes o processo demorava imenso tempo, logo o individuo era mantido
preso durante esse tempo todo
Quanto mais valioso o bem jurídico, maior será a camada de proteção (Ex: Vida é
primeiramente protegido pelo Perigo abstrato, depois é protegido pelo Perigo concreto e
depois pela Lesão)
As normas têm a função para influenciar a nossa formação de vontade. Antes da prática do
facto, o agente tem que saber o que é ilícito – Fundamento Nomológico do Princípio da Não-
retroatividade
Afloramentos
1º - Aparece nos casos de descriminalização (Art.º 2 nº2 Código Penal)
2º - Despenalização Relativa (Art.º 2 nº4 Código Penal)
3º - Lei intermédia
Em 2019 a moldura penal de um determinado crime que estava em julgamento era de 5 anos,
em 2020 passou para 3 anos e em 2021 subiu para 6 anos. A lei que se vai utilizar é a de 2020,
pois apesar de não estar mais em ação foi a lei que mais favoreceu delinquente durante o seu
processo
Basta ter vigorado por um dia durante o processo do agente para se aplicar quando a
situação/pena for mias favorável
A lei mais favorável é sempre definida em concreto e nunca em abstrato
É lei intermédia pois está entre duas que são mais desfavoráveis
4º - Lei temporária
Uma lei vigora até que outra a substitua, sem um tempo determinado de aplicação
Porém existem normas em que o seu tempo de vigoração está determinado, o caso das leis
temporárias (Ex: Algumas leis da Pandemia)
Estas leis são uma exceção ao princípio da aplicação retroativa da lei penal mais favorável - Na
altura do julgamento, o individuo é julgado pelas leis temporárias que estavam em vigor na
altura em que cometeu o ato, mesmo que existam leis mais favoráveis, a lei temporária da
altura em que se cometeu o ato é a que prevalece, mesmo que já não esteja em vigor.
Ultra-atividade (contrário de retro, para a frente) - têm efeitos mesmo depois de terem perdido
a sua vigência (Art. 2 nº3 Código Penal) se durante a sua vigência o facto tivesse sido feito (Art.º
3 Código Penal)
É melhor ter dois Estados com competência para punir um facto do que não ter nenhum
Temos outros princípios que complementa o princípio da territorialidade pois têm a capacidade
de fundamentar a capacidade extraterritorialidade – Permitem a aplicação da lei penal
portuguesa fora do país (Art.º 5 Código Penal):
Princípio da Nacionalidade (Art.º 5 alíneas B e E)
Quando a vítima for portuguesa ou o crime for feito por portugueses
Princípio da nacionalidade comulativa – O Direito Penal Português pode intervir em crimes
praticados por portugueses contra portugueses - Art.º 5 alínea B Código Penal
- Nacionalidade ativa – O autor do crime é Português
- Nacionalidade passiva – A vítima do crime é Portuguesa
Estabelece que o Estado pode punir um de seus nacionais, independentemente do lugar em
que o crime tenha sido cometido
Princípio da não extradição dos seus cidadãos:
Durante muito tempo foi absoluto em Portugal
Atualmente há exceções perante crimes ligados ao terrorismo e à criminalidade internacional
organizada (Art.º 33 CRP)
Portugal também não aceita a extradição perante crimes políticos
Portugal não admite a extradição perante sanções que vão contra a Constituição Portuguesa
(Ex: Pena de morte – Portugal não admite a extradição se o individuo em causa sofrer a pena de
morte no pais que está a pedir a extradição)
Direito Europeu
Influencia os direitos nacionais dos países da União Europeia
Diretivas – A União Europeia estabelece certas finalidades a alcançar mas deixam ao critério dos
Estados Membros a escolha dos meios mais adequados para realizar essa finalidade
Dever de Transposição - Transformar em normas internas/Legislação interna de cada Estado
Membro as exigências da União Europeia
Crime
Tipicidade + Ilicitude + Culpa do agente
Elementos do tipo
O legislador utiliza certas estruturas para a matéria penal
Elementos objetivos do tipo - Não envolve um estado anímico (vontade) ou psicológico do
agente
- Elementos descritivos do tipo – Enunciam uma realidade que é apreensível pelos sentidos
(Uma realidade que é empiricamente observável)
- Ex: Morte no homicídio
- Elementos normativos do tipo - Só podem ser compreendidos através de um juízo de
valor de interprete - através das normas do Direito Penal, de outros ramos do ordenamento
jurídico e de outras valorações ético-sociais
- Ex: Ato sexual de relevo (art.º 163 Código Penal) - Não é explicito, temos que fazer um
juízo de valor
Tipos de Tipicidade
Quanto ´à conduta
Tipos dos crimes de ação - Crimes comissivos - Ação de ataque ao bem jurídico - Em regra, o
Direito Penal só se interessa por esses crimes
Tipos dos crimes de omissão - Crimes omissivos – Pune-se a omissão. O Direito Penal
reconhece, excecionalmente, alguns crimes de omissão, por exemplo, o artigo 200 do código
penal
Proporcionalidade
Estamos perante um agressor que criou a situação de perigo. Se este tentou violar alguém e é
morto, não deixa de ser legitima defesa
Embora não seja necessário haver proporcionalidade entre os interesses envolvidos, há que
haver consideração por uma crassa/grosseira desproporção entre a defesa e a agressão
- Ex: Matar uma criança por roubar uma cereja
No Direito Português, o uso de arma de fogo, e por sua vez, o homicídio, só pode ser aplicado
em situações que põem em risco a vida ou a integridade física essencial
Pressupostos
Elementos objetivos - Situação e ação de legitima defesa
Elemento subjetivo – O agredido tem que saber que está a agir perante os
princípios/pressupostos da legitima defesa – conhecimento da ação justificativa
Desvalor do resultado
Eu quando a ajo em legitima defesa, eu produzo um resultado (Ex: morte do agressor). Por ter
agido em legitima defesa, esse resultado perde o seu valor.
Segundo a doutrina dominante, quem provoca o agressor para haver legitima defesa, este não
pode depois beneficiar dela, estaria a manipular a ordem jurídica