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Direito Penal I

O Direito Penal é o ramo do Direito mais intrusivo na vida cidadão e que faz inserir as
consequências jurídicas
O Direito Penal só age quando existe um ataque grave a bens juridicos e é o último recurso na
proteção dos mesmos
Direito Penal tem uma dimensão preventiva

Jus Purindi - Poder de Punir (Direito Penal)


Jus imperii – Poder de Imposição - Uma das características do Direito Público (O Direito Penal é
uma expressão/manifestação primeira do Direito Público)
O Direito Penal é uma forma de proteção de bens jurídicos (Ex: integridade física)

Direito Penal em Sentido Formal


- A atuação/generalização do Direito Penal provem do Princípio da Legalidade (art.º 1 Código
Penal) (Serve para fundamentar o princípio de culpa do agente)

 O Princípio da Reserva de Lei faz parte do Princípio da Legalidade (a Assembleia é a


única que pode fazer as leis porem o Governo também as pode fazer se a Assembleia
autorizar, art.º 165º CRP)
- Toda a pena é uma restrição a um Direito Fundamental
- O Direito é um conjunto de normas que define os comportamentos puníveis e define também
as penas aplicáveis

Direito Penal em Sentido Material


A pena é uma consequência ao crime cometido
O Direito Penal tem que ser proporcional ao dano causado – Princípio da proporcionalidade
O crime é uma ofensa, não há crime sem ofensa a bens juridicos – Princípio da Ofensividade
Em sentido Formal (Estático) - Princípio da proporcionalidade
Em sentido Material (Dinâmico) - Princípio da proporcionalidade e Princípio da Ofensividade

A pena não é a única sanção pois também existe a medida de segurança :


Crime - é um facto típico + ilícito + culposo

 A inimputabilidade afasta a culpa do agente porem não retira o facto de ser um facto
típico e ilícito
Um facto suscetível de desencadear medidas de segurança - facto típico + ilícito + perigosidade
do agente

 Em caso de inimputabilidade
Pena é em caso de culpa
Medida de segurança é em caso de inimputabilidade
Nunca se pode aplicar as duas em simultâneo

Em regra, o Legislador Português só pune o dano a um objeto jurídico se o dano foi feito de
forma dolosa
Quanto mais valioso for o bem jurídico menor é o grau de ofensa suficiente para preencher o
princípio da proporcionalidade. Ex: Dolo + Negligência

O Direito Penal, em regra, só pune atos dolosos, porém a vida é um bem jurídico bastante
valioso, ou seja, não basta julgar de forma dolosa mas também se pune o mesmo for de forma
negligente.
Direito Penal numa conceção Onto-Antropológica (Estudo ser (Onto) – Um ser
específico: o ser humano (antropológica))
- Ontologia do Ser-ai: Uma relação do eu com o outro
- Relação de cuidado-de-perigo (Não invadir a esfera jurídica do outro): De um modo ou
de outros estamos sempre em relação com um outro
- Em sentido material, crime é ruptura dessa relação de cuidado-de-perigo e a pena é a
reconstrução da relação rompida
- Fundamento: Relação cuidado-de-perigo
- Finalidade: Realização da justiça
- Funções: Efeitos que o Direito Penal geralmente alcança

- Função primária: Proteção de bens juridicos (art.º 40 Código Penal)

- Função Secundária:

- Função de Garantia: Uma ordem de garantia para o potencial delinquente


contra eventuais abusos de poder do Estado. Limite ao poder do Estado
Fran Von Liszt – Dizia que o Direito Penal é a magna carta do Delinquente – Proporciona ao
delinquente a que o Estado não abuse do seu poder sobre a sua pessoa
- Função de Coesão: Através da ordem jurídica, o Direito Penal promove e
partilha certos valores que são fundamentais para a convivência pacífica, transmite a
mensagem de que vale a pena respeitar certos valores
- Função de segurança: Promover um Estado geral de integridade dos bens
jurídicos. Segurança no sentido de certeza jurídica

O Direito Penal não é um sistema porem possui um sistema : conjunto de normas


jurídicas*
- Fragmentariedade: Diferentes bens juridicos
- Unidade: Harmonia entre os fragmentos
Direito Penal são fragmentos e cada um desses fragmentos devem estra em harmonia uns com
os outros
Unidade da ordem jurídica como um todo (Todos os ramos da ordem jurídica)
Se uma conduta é licita no direito civil, esta tem quer licita no direito penal
- Não pode haver contrariedades
- É um axioma
- Porém um ato ilícito no direito administrativo pode não ser no direito penal pois este é a
última ratio na proteção de bens juridicos, não se importa com “pequenas coisas”

*O sistema do Direito Penal tem:


- Normas que enunciam axiomas (condição de racionalidade do próprio discurso
jurídico) - Ex: Se um comportamento é considerado lícito no Direito civil então tem de ser lícito
no Direito Penal, não pode haver contrariedades.
- Normas que enunciam princípios - Ex: Art.º 1 do Código Penal
- Normas que enunciam regras (conteúdo mais preciso, aplicação imediata, obedece a
uma logica de tudo ou nada) - Ex: Art.º 131 do Código Penal (não matar outra pessoa), Art.º 118
do Código Penal
- Normas definitórias - Art.º 14, Art.º 15 do Código Penal (traz a sua definição)
- Normas sobre normas (meta-normas) - São normas que disciplinam as condições de
aplicação de ouras normas, sobrepõem-se sobre outras normas – Ex: Art.º 4 (Quando o Direito
Penal Português é aplicado)

Política Criminal e Criminologia


Política Criminal - Escolhas/Medidas que o legislador faz no combate à criminalidade
Alguns crimes possuem penas acessórias (Não são todas as leis/regras que têm) - Ex: Art.º 152
do Código Penal (além da pena imposta, a pessoa em questão terá que frequentar programas
específicos de prevenção de violência doméstica)
A criminologia ajuda os juristas a determinar a eficácia das penas e se as mesmas funcionam ou
não através de análises documentais
Em certos contextos a criminologia efetua um papel de apoio e noutros contextos efetua um
papel de provocação (papel mais ativo, desperta a atenção do legislador)
Os pareceres criminológicos têm um forte papel nos legisladores na questão das penas, se as
mesmas são alteradas ou não
A criminologia influencia a política criminal, esta influência o Direito Penal “normativo” e este
influencia a criminologia
Feuerbach – pena como coação psicológica

Direito Penal Clássico (Nuclear, Primário)


Do ponto de vista formal:
É o direito penal de justiça (liberal)
Nasce com a Revolução francesa
Tendencionalmente trata de bens jurídicos individuais – Crimes de lesão ao bem jurídico
Do ponto de vista material:
Em regra, está acomodado no Código Penal

Direito Penal Secundário


Do ponto de vista formal:
Tendencionalmente trata dos crimes contra bens juridicos supra-individuais
- Bens juridicos coletivos (noutras palavras)
- Pertencem a todos mas não imputados (não podem ser distribuídos de forma exclusiva) a
qualquer um de nós (Ex: Ambiente, economia, etc)
Do ponto de vista material:
Em regra, está acomodado na legislação disparsa ou extravagante

Há exceções em que certas leis do Direito Penal Secundário que estão no Código Penal (Ex:
Art.º 279), assim como o Direito Penal primário/clássico, existem leis que não estão no Código
Penal (Ex: Cyberbullying)

Direito Penal e Direito Penal de Mera Ordenação Social


Semelhanças: Ambos aplicam uma sanção/têm carater sancionatório
Do ponto de vista formal o D.P.M.O.S aplica coimas referentes a contraordenações
Do ponto de vista material A contraordenação é um facto axiologicamente neutral
O D.P.M.O.S não busca proteger bens juridicos mas sim organizar a vida humana, organização
da sociedade (Ex: Trânsito) (Factos axiologicamente neutrais)
A coima é uma sanção pecuniar (certa quantia) e não uma pena.
- A coima é regida por um critério económico.
- Pena é uma censura pelo mau uso da liberdade
- Diferença do ponto de vista material
- Pena é imposta pelo tribunal judicial num âmbito de um processo criminal
- Coima pode ser imposta por entidades administrativas e pode ser contestada por um
tribunal administrativo (Diferença de regime jurídico)
- A pena de multa pode ser substituída por pena de curta duração (Ex: Prisão -
Fungibilidade da pena de multa – pode-se tornar pena de prisão se a pena de multa não
for paga)
- As coimas são infungíveis (não pode substituída por nada), não substituem nenhuma
sanção jurídica e não podem ser substituídas

Princípio da territorialidade – O Direito Penal Português só pode ser aplicado em território


português (Art.º 4 Código Penal)
Princípio da extraterritorialidade – O Direito Penal Português pode ser aplicado fora do
território português perante algumas exceções (Art.º 5 Código Penal)

Aplicação das normas extraterritoriais


- O Direito Penal permite (Art. 5 e 6 Código Penal)
- O D.P.M.O.S não permite
Responsabilidade jurídica de pessoas coletivas
- O D.P.M.O.S pode sancionar pessoas coletivas - É o seu “cartão de visitas”, há uma abertura
ilimitada
Os grupos coletivos não conseguem delinquir então criou-se o D.P.M.O.S (societas delinquere
non potest)
- O Direito Penal não pode porém tem exceções de sancionar pessoas coletivas (Art.º 11 Código
Penal)
- Capacidade de sancionar pessoas coletivas – Se podem atuar em outros ramos de
ordenamento jurídico, podem atuar também no Direito Penal
- Capacidade de receber culpa
- Capacidade de receber pena - - Como privar a liberdade de pessoas coletivas? - Receber penas
pecuniárias (Penas de multa)
- O Estado é uma pessoa coletiva porém não pode ser punido
Regime da Punibilidade da tentativa
- O Direito Penal nem sempre pune a tentativa, só pune os casos mais graves (Art.º 23 nº1
Código Penal)
- Art.º 203 nº2 Código Penal
- Nos crimes consumados com pena de prisão inferior a três anos, a sua tentativa
é punível caso o legislador entenda
- No D.P.M.O.S a tentativa só é punível aonde o legislador expressamente prevê essa
possibilidade – Princípio dos números clausos (números fechados) - Só quando o legislador
determinar que se deve aplicar (daí a designação de números fechados)

1ª Modalidade - Descriminalização
Uma conduta perde a sua relevância jurídica
Apaga-se por completo a norma

2ª Modalidade - Despenalização
- Própria ou Relativa
- Diminui a moldura penal em ação/do comportamento
- Diminui a realidade da pena
- Desagravamento da pena
- Ex: Moldura Penal de 5 anos, o individuo está preso há 3 anos, entretanto o legislador diminui
a moldura penal para 3 anos, então o individuo tem que ser libertado
- Imprópria
- Um crime passa a ser uma contraordenação
- Num momento o legislador pode passar a pena de prisão para uma coima

Beccaria
Assenta no pressuposto de que “É a razão e não o divino que deve orientar o ser humano”
Autor da obra “Dos Delitos e Das Penas”, o qual teve um grande impacto no Direito Penal
No antigo regime, o Direito Penal tinha na sua base a violência, punição, crueldade, etc.
- Quais os principais pontos de mudança que Beccaria assentou para mudar a questão
racionalidade penal?


Secularização do Estado e do Direito Penal

O afastar da Igreja
Justiça Divina para um lado e Justiça Penal para outro

Beccaria substitui o Divino pelo Contrato Social

Beccaria traz a proporcionalidade das penas
- Penas adequadas aos crimes cometidos
- Beccaria queria convencer os soberanos que era mais fácil e útil trabalhar com penas mais
leves e proporcionais do que penas desproporcionais e mais pesadas que eram utilizadas na
altura – Princípio da utilidade
- Beccaria defendia a abolição da pena de morte
- Pena mais branda e efetiva do que uma pena mais grave mas sem resultado certo -
Argumentação empírica
- A privação da liberdade começa a ser o centro das penas/do sistema penal. A pena “rainha”
passa a ser a pena de prisão
- Traz também a pena pecuniária - Pena de multa para crimes menos graves

Beccaria adota uma lógica utilitarista que se foca na ideia da prevenção. As pessoas veriam as
consequências do crime cometido logo não o faziam

Crime como dano social – Incumprimento do contrato Social

Beccaria é um defensor do Princípio da Legalidade
- Não havia fundamento na lei
- O soberano é que decidia o peso do castigo na hora da punição
- Não havia segurança jurídica
- O delinquente tem que saber as consequências e o é incorreto na hora do seu
comportamento, na altura de Beccaria não havia essa noção

Beccaria defendia obtenção de informação sem a tortura (Queria convencer os soberanos de
que a tortura não era útil)

O processo de investigação não poderia ser secreto pois muitas vezes o individuo só tinha
conhecimento do processo na altura da execução da pena
Os processos judiciais têm que ter um tempo razoável e não demorado, pois mutas vezes
durante a investigação o individuo era mantido em prisão preventiva durante todo o processo
de investigação e por vezes o processo demorava imenso tempo, logo o individuo era mantido
preso durante esse tempo todo

Formas de ataque a um bem jurídico


- Lesão - Destruição total ou parcial do bem jurídico
- Perigo concreto
É o crime de perigo cuja configuração requer a demonstração de que o bem jurídico
efetivamente foi posto em perigo
É uma efetiva situação de risco para o bem jurídico (Ex: Art.º 291 n1 b Código Penal)
Refere-se à situação em que há uma probabilidade real e iminente de um dano real
- Perigo abstrato
A sua consumação não depende da demonstração de que tenha colocado o bem jurídico em
risco. O risco é presumido, de forma absoluta, pela lei.
Presume que o comportamento coloca em causa o bem jurídico (Ex: Art.º 292 n1 Código Penal)
Envolve situações em que uma conduta é considerada perigosa independentemente da
existência iminente de um dano real

Quanto mais valioso o bem jurídico, maior será a camada de proteção (Ex: Vida é
primeiramente protegido pelo Perigo abstrato, depois é protegido pelo Perigo concreto e
depois pela Lesão)

Funções do bem jurídico


Crítica ou de Legitimação ou de Limitação do Direito Penal
Justifica a intervenção do Direito Penal
É a partir d bem jurídico que o legislador define as molduras penais
Função Interpretativa ou Herminurtica do bem jurídico
A interpretação das normas depende do bem jurídico – elemento teleológico
Função sistemática/ordenatória
Através do bem jurídico, o legislador vai organizar os tipos penais (a parte especial)

Direito Penal no tempo – Art.º 2 Código Penal


O Direito Penal é mutável (alterado) ao longo do tempo (Ex: O Código Penal de 1984 é bastante
diferente do atual)
O Direito Positivo é modificável
Quando um facto acontece, pode vigorar um acerta lei, porém até ao julgamento a lei pode ter
sido alterada
Va Catio Legis – Vacância da lei – A lei foi publicada mas ainda não surgem os seus efeitos, pois
o tempo em que começa a entrar em vigor ainda não começou
Princípio da não-retroatividade da lei penal - Projeção de um princípio geral de Direito (Tempus
regit actum), é aplicada a lei que está vigorada no momento da prática do facto
A Constituição em vigor prevê a proibição da retroatividade da lei:
- No campo das leis que restringem liberdades e garantias no Art.º 18 nº3 da Constituição da
República Portuguesa, Ex: Os impostos, não pode haver retroatividade, a sua aplicação terá que
ser sempre para o futuro (Art.º 29 nº1/3 da Constituição da República Portuguesa)
- In mallon parton – Pior
In bonum parton – Melhor
Proíbe a aplicação retroativa quando a nova lei for desfavorável para o agente, quando
agrava/piora a situação do agente – In mallon parton
Se a nova lei for “amiga” do delinquente não há proibição mas sim um dever de
aplicação da lei – In bonum parton
Princípio da não retroatividade é aplicado quando a lei é desfavorável

As normas têm a função para influenciar a nossa formação de vontade. Antes da prática do
facto, o agente tem que saber o que é ilícito – Fundamento Nomológico do Princípio da Não-
retroatividade

Afloramentos
1º - Aparece nos casos de descriminalização (Art.º 2 nº2 Código Penal)
2º - Despenalização Relativa (Art.º 2 nº4 Código Penal)
3º - Lei intermédia
Em 2019 a moldura penal de um determinado crime que estava em julgamento era de 5 anos,
em 2020 passou para 3 anos e em 2021 subiu para 6 anos. A lei que se vai utilizar é a de 2020,
pois apesar de não estar mais em ação foi a lei que mais favoreceu delinquente durante o seu
processo
Basta ter vigorado por um dia durante o processo do agente para se aplicar quando a
situação/pena for mias favorável
A lei mais favorável é sempre definida em concreto e nunca em abstrato
É lei intermédia pois está entre duas que são mais desfavoráveis
4º - Lei temporária
Uma lei vigora até que outra a substitua, sem um tempo determinado de aplicação
Porém existem normas em que o seu tempo de vigoração está determinado, o caso das leis
temporárias (Ex: Algumas leis da Pandemia)
Estas leis são uma exceção ao princípio da aplicação retroativa da lei penal mais favorável - Na
altura do julgamento, o individuo é julgado pelas leis temporárias que estavam em vigor na
altura em que cometeu o ato, mesmo que existam leis mais favoráveis, a lei temporária da
altura em que se cometeu o ato é a que prevalece, mesmo que já não esteja em vigor.
Ultra-atividade (contrário de retro, para a frente) - têm efeitos mesmo depois de terem perdido
a sua vigência (Art. 2 nº3 Código Penal) se durante a sua vigência o facto tivesse sido feito (Art.º
3 Código Penal)

Direito Penal no Espaço


Princípio da territorialidade – As leis aplicam-se aos factos praticados em território nacional
Competência positiva – O que está acima referido
Competência negativa – O Estado não pode aplicar a sua lei penal fora do território nacional
A lei aplica-se independentemente da nacionalidade do agente
Critério do Pavilhão - Art.º 4 Código Penal

É melhor ter dois Estados com competência para punir um facto do que não ter nenhum

Temos outros princípios que complementa o princípio da territorialidade pois têm a capacidade
de fundamentar a capacidade extraterritorialidade – Permitem a aplicação da lei penal
portuguesa fora do país (Art.º 5 Código Penal):
Princípio da Nacionalidade (Art.º 5 alíneas B e E)
Quando a vítima for portuguesa ou o crime for feito por portugueses
Princípio da nacionalidade comulativa – O Direito Penal Português pode intervir em crimes
praticados por portugueses contra portugueses - Art.º 5 alínea B Código Penal
- Nacionalidade ativa – O autor do crime é Português
- Nacionalidade passiva – A vítima do crime é Portuguesa
Estabelece que o Estado pode punir um de seus nacionais, independentemente do lugar em
que o crime tenha sido cometido
Princípio da não extradição dos seus cidadãos:
Durante muito tempo foi absoluto em Portugal
Atualmente há exceções perante crimes ligados ao terrorismo e à criminalidade internacional
organizada (Art.º 33 CRP)
Portugal também não aceita a extradição perante crimes políticos
Portugal não admite a extradição perante sanções que vão contra a Constituição Portuguesa
(Ex: Pena de morte – Portugal não admite a extradição se o individuo em causa sofrer a pena de
morte no pais que está a pedir a extradição)

Princípio da defesa de interesses nacionais – Art.º 5 alínea A Código Penal

Princípio da universalidade – Art.º 5 alínea C e D Código Penal


Contra bens juridicos supranacionais

Princípio da administração supletiva de Justiça Penal – Art.º 5 alínea F Código Penal


Sempre que os outros princípios falharem ainda vai existir este princípio

Art.º 4 e 7 do Código Penal - São a regra


Art.º 5 – Exceciona essa regra
Art.º 6 - Restrições a essas exceções
Art.º 7 – Lugar da prática do fato

Instrumentos de aplicação do Direito Penal no espaço


1º - Mandado de detenção Europeu
Simplifica a extradição / Alternativa à extradição
Ordem judicial em toda a União Europeia
Princípio da confiança mútua:
- Circula em todos os países da União Europeia e assim que o individuo estiver preso
este deve ser mandado para o país de origem
- Cumprir com as garantias do Direito Penal do Estado em que o agente se encontra
2º - Tribunal penal internacional
Crimes contra a Humanidade
Crimes de Guerra
Mexem com crimes universais (globais)
Competência/Caracter subsidiária - só é exercida se o Estados Nacionais não puderem ou
quiserem exercer a sua competência penal, o seu poder punitivo

Aplicação do Direito Penal quanto às pessoas


Princípio da igualdade – Em princípio, ninguém está imune à jurisdição Penal
- Exceções:
Imunidades diplomáticas ou consulares
- Os funcionários das embaixadas que estejam a exercer funções noutros países gozam de
imunidade
- A lógica é garantir um certo desempenho das suas funções, eliminar uma ameaça de
perseguição penal
- São exercidas por tratados internacionais
- Exemplo: Convenção de Viena
- Responderá penalmente pelo Estado que representa e não por aquele onde se encontra
Imunidade de titulares de cargos políticos
- Presidente, Deputados e membros do governo
- Art.º 130º CRP – O Presidente só é condenado quando o mandato acabar – Imunidade
Temporária
- Art. 157 CRP (em relação aos deputados) e Art. 196 CRP (em relação aos membros do
governo)
- Garantia do desempenho da função
- Estas exceções são garantias funcionais

Fontes do Direito Penal


A Constituição
É uma fonte primária do Direito Penal
Depois da I Guerra Mundial surgem as Constitucionalizações do Direito
O Direito Penal é Constitucional

A Constituição pode desempenhar 3 papeis


1º - Imposição da incriminação
- A própria Constituição (o legislador Constitucional) pode incriminalizar certos tipos de
comportamento
- A constituição ordena ao Legislador ordinário (Art.º 117 nº2 CRP)
- Se o legislador não o fizer é declarado Inconstitucionalização por omissão
- Não compete à Constituição limitar a margem de atuação do legislador ordinário
2º - Impulso da Incriminação
- Menos intenso do que uma incriminalização
- Art.º nº3 - Não há imposição de incriminação
- Ou incrimina esses abusos ou então, pelo menos, definir como uma contraordenação
- Ou Direito Penal ou Direito de Mera Ordenação Social
3º - Constituição como limite (uma barreira) à incriminação
- O Direito Penal só pode, em princípio, proteger bens jurídicos que se encontram previstos na
Constituição
- Art.º 18 nº2 CRP
- O Direito Penal tem a sua própria autonomia intencional (Ex: Art.º 185 Código Penal) apesar
do bem jurídico/interesse jurídico não estar previsto na CRP

A lei em sentido estrito


É uma fonte do Direito Penal
Art.º 165 CRP
Reserva de lei – Lei emanada pela Assembleia da República
Só a lei aprovada pela Assembleia da República é que pode definir crimes e penas - Só a
Assembleia da República pode definir leis, penas e medidas de segurança - Art.º 165 alínea c
CRP)
- Ou então por um decreto-lei do Governo quando expressamente autorizado pelo Parlamento
- O Governo fica impedido pelos limites dessa autorização
- Se ultrapassar esses limites é declarada Inconstitucionalização
As contraordenações podem ser criadas por um decreto-lei do Governo - Não é preciso um ato
legislativo autorizado pela Assembleia da República - Porém este tem que estar em sintonia
com o Regime Geral de Contraordenações (Estabelecido pela Assembleia da República – Art.º
165 alínea d CRP)
Só a criação de tipos penais está sujeita ao princípio de reserva de lei
A criação de tipos contraordenacionais não vigora o princípio da reserva de lei - Não é preciso a
autorização do parlamento
- Só o Regime Geral de contraordenações é que é definido pela Assembleia da República e está
sujeito ao princípio de reserva de lei
- O Governo tem competência para criar coimas e contraordenações mas não o Regime Geral
de contraordenações - Para esta situação, caso o Governo queira fazer alterações no Regime
Geral de contraordenações é preciso a autorização da Assembleia da República.

Direito Consuetudinário - Costumes como fonte de direito


Não se pode punir as pessoas baseados em meros costumes
Proibição do Direito Consuetudinário - Não se pode aplicar se os costumes forem contra o
individuo
É contra a lei mas se for a favor do agente é aplicado
Os costumes fundamentam uma oscilação na interpretação das normas
Não se pode usar na incriminação

Direito Europeu
Influencia os direitos nacionais dos países da União Europeia
Diretivas – A União Europeia estabelece certas finalidades a alcançar mas deixam ao critério dos
Estados Membros a escolha dos meios mais adequados para realizar essa finalidade
Dever de Transposição - Transformar em normas internas/Legislação interna de cada Estado
Membro as exigências da União Europeia

A interpretação da lei penal


Toda a norma jurídica requer interpretação - Densificação do sentido e do alcance da norma

Linha metodológica interpretativa – Passagem do “texto-norma” para “norma-texto”


Texto-norma – Enunciado linguístico que constitui o objeto de interpretação
- Vamos interpretar o enunciado linguístico
- Objeto de interpretação
Norma-texto – Comando/Imperativo de conduta que vamos retirar do texto-norma
- Completo enunciado do “dever-ser”
- Produto do resultado da interpretação
- Aquilo que se retira

Essa passagem do “texto-norma” para “norma-texto” é feita de 4 elementos:


- Gramatical – Estuda o significado das palavras utilizadas na lei. Procura-se o significado lexical
das palavras
- Histórico - Procuramos as intenções que motivaram o legislador no processo de criação da
norma (Qual foi a intenção do legislador)
- Sistemática - Interpretação que busca integrar essa norma com outras normas, comparar com
outras normas
- Teleológico - Finalidade da norma. Específico propósito da norma
Não existe uma hierarquia desses elementos (Isto na Introdução ao direito)
No Direito Penal, em nome do princípio da legalidade, temos que dar primazia ao elemento
gramatical. Os outros critérios só poderão ser trabalhados dentro da moldura do critério
gramatical
Moldura do sentido literal possível
- Nunca se pode ultrapassar a barreira do elemento gramatical – Desde que não se rompa esse
limite é suscetível a sua interpretação
Interpretação extensiva
Ainda é licita - Não passa a moldura da interpretação
- Ex: A perna mecânica é parte do corpo
Interpretação restritiva
Ex: Restringe o conceito de corpo humano – A perna mecânica não faz parte do corpo humano,
é património e não integridade física

Analogia – Ultrapassa-se essa barreira


- Só se for a favor do agente
Há analogia no uso impróprio da linguagem
Há também em casos de semelhança entre um caso coberto e outro não coberto pela norma
Ex: Art. 208 Código Penal - Não se usa a analogia num caso de um furto de uma prancha, tem
semelhanças com um barco, pois incriminaria o agente – In mallon parton

Crime
Tipicidade + Ilicitude + Culpa do agente

Crime de realização livre


Não exige nenhum específico modo de causação do resultado
Ex: Homicídio (Art.º 131 Código Penal) - Não exige uma forma especifica de matar alguém
Crime de realização de vinculação
O tipo penal exige um resultado produzido através de um determinado meio/maneira
- Ex: Crime de Burla (Art.º 217) - Crime contra o património (o legislador fala em prejuízo
patrimonial – Esse é o resultado)
- O agente tem que induzir o proprietário a erro ou engano e este tem que fazer um ato de
disposição patrimonial - É a maneira especifica que vai ao resultado
Restringe a punição

Tipo legal de crime


Conjunto de elementos legais que dá relevância jurídico penal a um comportamento

Existem duas maneiras de olhar o tipo penal:


Tipo de ilícito - Define a chamada matéria de proibição, ou seja, aquilo que está proibido –
Princípio da Ofensividade
Tipo de garantia – Princípio da legalidade. Para que haja crime e preciso que haja lei, que se
preencha o tipo legal de crime. Garantia em serviço do cidadão - Para que não haja abusos de
poder

Elementos do tipo
O legislador utiliza certas estruturas para a matéria penal
Elementos objetivos do tipo - Não envolve um estado anímico (vontade) ou psicológico do
agente
- Elementos descritivos do tipo – Enunciam uma realidade que é apreensível pelos sentidos
(Uma realidade que é empiricamente observável)
- Ex: Morte no homicídio
- Elementos normativos do tipo - Só podem ser compreendidos através de um juízo de
valor de interprete - através das normas do Direito Penal, de outros ramos do ordenamento
jurídico e de outras valorações ético-sociais
- Ex: Ato sexual de relevo (art.º 163 Código Penal) - Não é explicito, temos que fazer um
juízo de valor

Um tipo penal também pode ter elementos subjetivos


- Envolvem um estado anímico ou psicológico do agente
- Ex: Crime de furto (é necessário que o agente haja com intenção de apropriação)

Tipos de Tipicidade
Quanto ´à conduta
Tipos dos crimes de ação - Crimes comissivos - Ação de ataque ao bem jurídico - Em regra, o
Direito Penal só se interessa por esses crimes
Tipos dos crimes de omissão - Crimes omissivos – Pune-se a omissão. O Direito Penal
reconhece, excecionalmente, alguns crimes de omissão, por exemplo, o artigo 200 do código
penal

Crimes de resultado – Crimes materiais


- Cujo tipo penal não permite mas como exige uma separação espácio-temporal do ato do
agente (Ex: O disparo e o momento em que acerta no individuo) e uma modificação do mundo
exterior
- É nos crimes de resultado que vai se colocar o problema da causalidade (causa-efeito)
- Ex: Dispara-se e morre - Será que o disparo foi a causa da morte?
Crimes de mera atividade– Crimes formais
- O problema da causalidade não se coloca
- Não é importante a separação espácio-temporal do ato do agente e a modificação do
mundo exterior
- Basta-se a mera execução de um determinado comportamento
- Ex: Crime de invasão a domicílio (art.º 190 Código Penal)
3 grandes teorias da causalidade
Teoria da equivalência das condições
Teoria da condition sine qua non
Causa de um resultado é toda a condição sem a qual o resultado não ocorreria
Utiliza a fórmula da supressão mental hipotética
- Para identificar uma determinada condição, temos que a eliminar do crime cometido, temos
que eliminar mentalmente – Ex: Num caso de disparo de arma de fogo que resultou em morte,
se eliminarmos o disparo da arma de fogo a morte não teria acontecido?
- Alguns autores afirmam que é a melhor forma para explicar a causalidade
Problema desta teoria
- Causa é tudo aquilo que contribuiu para que o crime existisse
- É uma teoria muito ampla
- Ex: Se a vítima do crime do disparo de arma de fogo não existisse o crime não teria acontecido
- Permite uma interpretação muito ampla
Esta teoria não permite acrescentar cursos causais hipotéticos
- Ex: Se eu não disparasse outro ia disparar
No Direito Penal não se pode convocar cursos causais hipotéticos pelo menos para a questão da
causalidade

Teoria da causalidade adequada


A causa de um resultado é a condição que segundo um juízo de prognose póstuma objetiva á
apta ou idónea a produzir um resultado
Prognose (Juízo sobre um futuro; Probabilidade de ocorrências futuras) póstuma (Depois da
ação; Posterior aos factos) objetiva (Feito na perspetiva de um observador, um terceiro, neutral
que foi colocado posteriormente ao momento da ação)
- Ex: X foi convidado por Y para passear num parque durante uma tempestade, esse passeio
leva à sua morte. Não considerar que o convite de Y, apesar de contribuir para a morte de X, foi
a causa adequada e direta do resultado a que se procedeu
Não basta a causa do ponto de vista empírico/naturalístico, é preciso uma adequadação
Teoria da imputação objetiva do resultado
Distingue a causalidade e conexão do risco (2 juízos)
Nos crimes de resultado, num primeiro momento separamos o juízo de causalidade e num
segundo momento separamos um juízo de conexão de risco
Para que uma conduta preencha o tipo legal de crime, é necessário que ela seja causal para o
resultado mas também que ela crie um risco proibido e que esse risco se realize no resultado
É necessário estabelecer que a ação do agente criou um risco proibido e que o resultado foi
uma concretização desse risco
Em resumo, essa teoria considera um resultado como sendo imputado ao agente se a sua
conduta criou um risco proibido e esse risco se concretizou no resultado
Ex: Convidar alguém para passear na floresta enquanto chove, não é um risco proibido mas sim
permitido. Perante a morte de X, Y não preencheu o tipo legal de homicídio
Um critério da Imputação objetiva:
Comportamento Ilícito alternativo
Numa situação especifica, o resultado prejudicial teria ocorrido de qualquer maneira, mesmo
que o acusado não tivesse agido de maneira ilícita. Mesmo sem a ação ilícita do acusado, o
mesmo resultado teria ocorrido devido a outro comportamento ilícito ou evento
Esse critério não é aplicado no campo dos ilícitos dolosos, só nos casos negligentes. Só vale,
segundo a doutrina dominante, para os crimes negligentes. Nos crimes dolosos o agente já tem
a vontade de agir

Causas de justificação (Exclusão de Ilicitude)


O crime é um facto típico, ilícito e culposo
O preenchimento legal de crime arrasta com ele uma presunção de ilicitude
Um comportamento típico é também ilícito a não ser que ele tenha uma justificação - Justificar
um facto
- Apresentar razões para que um comportamento inicialmente ilícito seja considerado lícito ou
tolerado pela ordem jurídica
- Matar é ilícito mas em legitima defesa é lícito - É a única causa de justificação que
permite o homicídio
Legitima defesa (Art.º 32 Código Penal)
É composta por 2 princípios:
1º princípio
Princípio da defesa individual (autotutela)
Proteger um bem jurídico próprio ou alheio
2º princípio
Defesa da ordem jurídica
Protege não um bem jurídico seu mas também a ordem jurídica

O Direito não precisa ceder perante o injusto

Pressupostos da Legitima Defesa


Para que possa haver legitima defesa tem haver uma agressão (Situação de perigo criada por
uma conduta humana) (1º elemento)
É preciso que a agressão seja ilícita (Contra o Direito, e tem que ser atual) (2º elemento)
O agredido faz cessar uma situação de agressão atual. Quando a agressão acaba já não há nada
para repelir - Não há vingança
- Fazer cessar um ato ilícito atual
Legitima defesa de terceiros – Proteger bens juridicos de outros/terceiros

Alguns requisitos para atuar em legitima defesa:


Necessidade
Ação necessária para repelir a ação ilícita
Requisito de subsidiariedade
- Estando disponível no momento, tem preferência para atuar as forças do Estado
- O particular só pode usar a legitima defesa se não for possível, no momento da ação, usar a
força policial
- Se a força policial estiver presente, esta tem prioridade em utilizar a força
- Se mesmo assim o particular decidir agir, já não é considerado legitima defesa
- Se houver mais d que um meio, o particular deverá utilizar o meio menos intrusivo na esfera
jurídica do agressor, deve-se utilizar o meio mais suave (Ex: Dar um tiro ao agressor vs utilizar
um tijolo – Usamos o tijolo)

Proporcionalidade
Estamos perante um agressor que criou a situação de perigo. Se este tentou violar alguém e é
morto, não deixa de ser legitima defesa
Embora não seja necessário haver proporcionalidade entre os interesses envolvidos, há que
haver consideração por uma crassa/grosseira desproporção entre a defesa e a agressão
- Ex: Matar uma criança por roubar uma cereja
No Direito Português, o uso de arma de fogo, e por sua vez, o homicídio, só pode ser aplicado
em situações que põem em risco a vida ou a integridade física essencial

Pressupostos
Elementos objetivos - Situação e ação de legitima defesa
Elemento subjetivo – O agredido tem que saber que está a agir perante os
princípios/pressupostos da legitima defesa – conhecimento da ação justificativa

Desvalor do resultado
Eu quando a ajo em legitima defesa, eu produzo um resultado (Ex: morte do agressor). Por ter
agido em legitima defesa, esse resultado perde o seu valor.

Segundo a doutrina dominante, quem provoca o agressor para haver legitima defesa, este não
pode depois beneficiar dela, estaria a manipular a ordem jurídica

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