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BAGGIO, FR Hugo D (1974) Frei Fabiano de Cristo
BAGGIO, FR Hugo D (1974) Frei Fabiano de Cristo
A
PROVfNCIA
FRANCISCANA
DA !
IMACULADA
CONCEIÇÃO
DO SUL
.\
DO BRASIL,
CONVENTO DE S. ANTONIO
Rio de Janeiro
1974
....
PREFACIO
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5
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twlus 11 pouco que se sabe sobre a figura dirigidos ao Convento de S. Antônio e às
d1·:llc- it·utllo frundscano que viveu no muitas procuras de pessoas devotas de
:tl.'l'lllo XVIII, na cidade do Rio de Janeiro, Frei Fabiano. Além disso, quer ser uma
luz1'111ln !'ll' amnr por todos os seus eolaborução para mante r vivo o culto de
l'llltl<'ntpor:lncos e continuando até os Fr. Fabiano, uma vez que é uma das
11nsso:; dias a ser procurado e invocado. rr s fi rruras
:::>rande :::> da Província Fmnciscana
1\ 11'• o momento a Igreja não se pronunciou da Imacu lada Conce ição do Brasil
ol'idulmcnte sobre a l1eroicidade das que, no ano de 1975, celebrará o
vi rh11IPs deste servo de Deus, ainda que se Terceiro Centenário de sua criaçuo.
IC'uhn tentado, embora sem um trabalho
VC'rclndcirmnente organizado c capaz de Rio de Janeiro, 15 de agosto de 1974
ll'vnr a causa até o fim. Frei Hugo D. Baggio, O.F.M.
6 7
�
..
DA TERRA
DOS DESCOBRIDORES
9
pouco po�·menores guardou desta fase. Le
ta a llura da hislól'iu, por aqui aportaram,
interessa-nos a figura de João Barbosa ...
vou, certamente, a vida simt)les e sofrida de
família pobre que devia arrancar da terra
Bem, mas antes de falarmos desta via o pão ele cada dia. Sabe-se que João� por
gem e desta chegada, vejamos um pouco o nle�nns anos, tomou conta do pequeno rebH
passado <leste homem. Ao UOl'le ue Portugal, nl� do pni, constituído por um grupinho de
üs margens tio rio Minho, existe, ainda hoje, ovelhas. Ali, na pureza do campo c na sim
uma pequena aldeia que leva o nome ue plicidade da natmeza aprendeu a docilidadc
Soengas. Entre as muitas famílias de vida c a meiguice próprias de um pastor, que
simples que ali viviam, dedicadas sobretudo mais tarde empregaria no trato com os ho
ao cultivo da uva, encoutrava-se a de Ger
mens. Além disso, nas estações da coll1eiln,
vúsio Barbosa, que conh·aha matl'imônio
njudnva a família a recolher os cereais, a
com uma filha da família Gonçalves. Cinco
única fonte de renda familiar. Assim, pouca
meninas e um menino eram a preocupação
oportunidade teve 1le travar contacto com os
c, no mesmo tempo, a alegria dacruele lar.
livros.
A pobreza era-lhes um peso, mas mesmo as
sim a felicidade morava lá, pois viviam a
venlaue «com Deus o pouco é muito». Deus
eontuva, em verdade, naquele lar, tanto as
sim true quatro das filhas se fizeram religio
sas, o mesmo acontecendo com o menino,
como veremos.
João veio à luz do cUa em 8 de feverei
ro de 1676. Na pia batismal lhe puseram o
nome de João porque, neste c.lia, a Igreja ce
lebrava a festa litúrgica de S. João da :Mala.
Os anos de infância e adolescência de João
permaneceram na obscuridade, pois a histó
ria - tanto em Portugal como no Brasil -
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....
A PROCURA DE ALGO MAIS dantes e ricas, pois, sendo uma cidade ma
rítima, aportavam ali navios de todas as co
lônias portuguesas e de outras partes do mun
do com quem Portugal de então mantinha
relações comerciais. Como é fácil de com
preender, aportavam à cidade tipos de indi
víduos de variados matizes, h·azendo dinhei
ro, mas também mil histórias fantásticas de
Apesar de ler adquirido poucos conhe terras e gentes distantes e de riquezas das
cimentos científicos, tinha a inteligência su Mil e Uma Noites. Tudo isso acendia, com
fieientcmente aberta para perceber que o am facilidade, a fantasia e o entusiasmo de qual
hiente que o cercava não era resposta para quer jovem.
seus ideais. Sabia ele que sua família forn,
No final do século XVII, a novidade
outrora, abastada e que em seu sangue cor
mais ambiciosa que os marinheiros traziam
rin n uohrczn antiga, agora oculta na pobre
a Portugal era a descoberta abundante do ou
zn, nnsci<'lrt de reveses históricos. Parece que
ro em Minas Gerais, onde o ouro se encon
no rapn;r, despontou o desejo de restabelecer
trava não só nos filões perdidos no coração
n antiga nobrezn dos Barhosas. Mas não se
da montanha mas a própria montanha j.á
rin em Soengns que isso poderia acontecer.
se transformara em ouro. Bastava deitar a
Para fugit· ú estreiteza daqueles hori
peneira nas á· guas límpidas do regato e ela
zontes acnnhados, onde o futuro parecia ter
saía cintilante de pepitas de ouro. E a co
encalhado, o jovem João lançou seu olhar
biça começava a arquitetar planos a partir
para o sul do país. E, no primeiro instante,
das notícias maravilhosas vindas do Brasil.
pareceu-lhe que o caminho mais conforme a
suas possibilidades e mais apto a realizar ra João Barbosa não podia ficar alheio a
pidamente seus planos seria o comércio car- estes convites. Como os demais, também ele
. '
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...
,
.
Rio de Janeiro seguiam por mar até Para ti, esta a profissão que João Barbosa abraçou,
na enseada de Angra dos Reis. Subiam, en logo que chegou à terra do ouro. Diga-se de
tão, a serra até Taubaté, às margens do Pa passagem que também esta profissão, no as
raíba. Por ali cruzava a estrada que vinha pecto moral, não se distinguia muito dos de
de São Paulo rumo a Minas. Daí vinham mais que por lá viajavam, pois um escritor
a Pindamonhangaba e Guaratinguetá, onde do tempo registra: «quem passou a serra da
abandonavam o rio Paraíba e metiam-se pela Mantiqueira aí deixou dependurada ou se
serra da Mantiqueira adentro. A travessia da pultada a consciência».
serra era algo de sobre-humano. Por causa Não sabemos exatamente qual a espe
do péssimo estado das estradas, deviam os cialidade do negócio de João, mas sabemos
homens descarregar as montarias e levar as que seu tino administrativo, sua decisão de
cargas aos ombros. Atravessada a serra vi conseguir riquezas e sua capacidade de tra
nha mais um trecho de caminho que subia balho tornaram-no um próspero negociante.
montes e cortava vales, para afinal desem Em poucos anos conseguira r e s p e i t á v e 1
bocar na região das promessas douradas: o fortuna.
Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo (hoje
Mariana) e Ouro Preto.
Estabelecera-se por ai uma estranha so
ciologia: escravos vindos da Africa ou apri
sionados enh·e os ín,dios, senhores e adminis
tl·adores, operários que morriam à míngua,
homens que arrancavam da terra quantida
de enorme de ouro que os tornava, da noite
para o dia, ricos aquisidores de tudo quanto
em mercadorias aparecesse na região. Donde,
ao lado da exploração das minas, surgiu ou
tra fonte de rendas: a vida de comerciante,
chamada então de «Carreira das minas». Foi
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NA CIDADE DE PARATI das obri t:rações de um bom católico:.. Assim,
i
ligou-se ogo ao pároco da vila, auxiliando-o
em tudo, fez-se irmão da Irmandade do SS.
Sacramento. Uma das devoções do tempo era
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dirigida às almas do Purgatór o. Por isso,
.
cuidou ele de consegmr as devidas licenças
para erigir, na vila, a Irmandade da �
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Morte. Todas as obras de caridade recebiam
O comércio arnhulante que lhe rendera �
da parte do próspero comercia?t e argas es
bons lucros parece não ter satisfeito o jovem ..
molas, além do exemplo que s1gmhcava sua
João, mais habituado a urna vida estável. �
<;orreção, sua presença e seu ze o por tudo
Por isso, vamos encontrá-lo, a partir de 1704, .
o que se referisse ao campo espiritual.
fixado na vila de Parati. O principal mo
A nota mais característica, porém, foi
tivo deve ter sido a situação geográfica e
se�1p1·e sua simpatia e compaixão pelos po
comercial ·da vila. Pois, sendo ela porto de
bres que enconh·avam nele a mão gcne�osa
mar, podia conseguir diretamente as merca
sempre pronta a minorar-lhes a� necess•d�
dorias da metrópole. Assim, João recebia as
mercadorias de Portugal e as remetia a Mi des, a tirá-los de apuros, a garanllr-lhe o P?O
de cada dia que, naqueles tempos como hoJe,
nas, onde, ao que parece, amigos ou sócios
faziam o resto da transação comercial. falta a tantos homens, enquanto na mesa de
muitos sobra. Esta sua caridade ser-lhe-.á a
Também aqui, como em �finas, suas
nota típica em toda a vida. Ele que conhece
qualidades de homem de negócios levaram
ra na própria carne os efeitos da pobreza
no a grande prosperidade. Mas esta vida de
procurava que outros não sofressem o que
negócios não deixou o jovem João perder
sofrera com as limitações que a pobreza ha
contacto com as coisas de Deus, o que em
via imposto a ele e a sua família .
semelhante gênero de vida não seria nada . ".
de estranhar. Um de seus primeiros biógra
fos observa: «as agências do mundo nunca
lhe serviram de embaraço para lembrar-se
18 19.
OUTRO TIPO DE NEGOCIOS de Salanús». Mas nada demovin o nobre co
merciante. Apenas lhe aumentava o desgos
to por este gênero de vida e pelo ambiente
que o cercava.
Foi se acentuando nele o convite para
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a vida religiosa. Hesitava. Esperava ma or
clareza. Algum sinal, talvez. Mas afinal, pe
Como corriam as coisas, tudo levava a sando todos os prós e os contras, achou que
crer que João Barbosa estava atingindo seus realmente deveria deixa1· tudo e entrar na
objetivos. Mais alguns anos de trabalho e po vida religiosa. O problema era agora: como
deria regressar a Portugal com suficiente for dispor dos bens e onde realizar o novo pro
tuna para alterar a situação da família e tal jeto. Ficar no Brasil ou reg1·essar a Portu
vez mesmo restaurá-la no antigo brilho feu gal? Assim, passou um tempo relativamente
dal. Mas aí Deus entrou-lhe na vida de for longo, antes de dar o passo decisivo. Um
ma diferente e alterou os planos do homem. acontecimento trágico veio pôi· fim às he
O ti·abalho espiritual exercido em Parati foi sitações. Na aldeia da Aparição, não longe de
mudando as concepções de João. Foi perce Parati, um sócio e companheiro seu, por mo
bendo que havia outras formas para empi·e tivos hoje desconhecidos, foi assassinado. A
gar os talentos e o calor do seu coração. Es notícia abalou profundamente a João. Con
tava ele na casa dos 30 anos e ainda não forme seu biógrafo, este acontecimento «le
tomara estado. Uma das insistências que os vou-o a ponderar o desgraçado fim das ri
amigos lhe faziam constantemente era a rela quezas e quão breves são os seus gostos».
tiva ao casamento. E os partidos não lhe fal
Nesta altura da história, muitas Ordens
tavam, como observa seu biógrafo, o que não
religiosas já estavam estabelecidas e organi
é difícil de entender, ·dado o estado de for
zadas no Brasil, florescendo algumas com in
tuna atingido por ele. Usaram mesmo de
vulgar presença na Igreja. Examinando-as e
ardis e ataques astuciosos, a ponto de seu
considerando o espírito de cada uma, nenhu
biógrafo chamar a tais amigos de «ministros
ma se afigurou «tão propo1·cionada a dar
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•,
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NO CONVENTO poimentos são unânimes em exaltar a ati
tude caritativa c a capacidade de receber as
DE SANTO ANTôNIO
DO RIO · rt ·
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:
pessoas, sem fazer distinção de classe. O que
se tornou proverbial, porém, foi sua dedica
.
ção aos pobres. Um de seus biógrafos escre
.
.
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..
..
se ministério de enfermeiro ia consumindo FORA DOS MUROS
quase todo o restante da vida, cerca de trin
DO CONVENTO
ta e oito anos». Apenas, em certa altura, por
alguns tempos, foi exercer o mesmo trabalho
no convento de Nossa Senhora dos Anjos, em
Cabo Frio, para voltar, em seguida, ao Con
vento de S. Antônio, onde continuou a exer
cer sua caridade para com os doentes e
Enquanto Fr. Fabiano de Cristo se
idosos.
ocupava pacientemente com seus doentes, a
história da primeira metade do século XVIII
vivia dias perturbados. Assim, nas terras on
de tentara a primeira fortuna, desenrolava
se a guerra dos Emboabas, hTompida em
1708. A política de D. Pedro II de Portugal
criou embaraços com a França, repercutindo
sobre o Brasil também, pois foi ele atingido
pelas represálias francesas. Assim, em 1710,
o capitão . Carlos Duclerc desembarcou na
Guanabara e atacou a cidade. Frente ao pe
'
rigo, o Su perior -do Convento de S. Antônio
enviou ao Governador o bastão de S. Antô
nio, para que com ele nas mãos comandàsse
as tropas 'lusitanas. Mas o governador pre
feriu que se colocasse a estátua do Santo em
lugar bem: visível para presidir os combates.
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Pór esta o asião, ao que parece, Fr. Fabiano
' de Cristo ' recebeu muitos feridos em sua
enfermaria.
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28 29
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Embora derrotados nesta primeira ten fatos querem apenas ilusb:ar o momento his
tativa, os franceses vollaram ao ataque no tórico vivido por Fr. Fabiano, que no silên
ano seguinte - 1711 - melhor preparados, cio de sua enfermaria ficava quase ausente
pois na primeira vez haviam subestimado de tudo isso, mas sofria em seu espírito reto
as defesas da cidade e o valor dos seus de e desejoso de perfeição. Ao que parece, con
fensores. Desta vez vinham comandados por tentava-se com passar horas frente ao San
Duguay Trouin e foram melhor sucedidos: lísshno, para que o Senhor viesse em socor
ocuparam a cidade, obrigando os habitantes ro de seu povo e de seus frades, tt·azendo a
n fugirem. De Minas chegaram reforços co lodos' a paz e a compreensão.
mandados pelo general Antônio Albuquer
que Coelho que, com suas tropas, hospedou
se no convento de S. Antônio.
Além dos distúrbios causados pelos mo
vimentos políticos, a vida religiosa no conven
to de S. Antônio - naquela altura centro
da Província Franciscana - atravessava suas
crises, nascidas sobretudo de uma indiscipli
na que se ia estabelecendo, originada de pri
vilégios que eram concedidos aos religiosos,
por merecimentos ou por mera distinção,
além das desavenças surgidas por questões
de nacionalidade: portugueses e brasileiros.
A tal ponto agravou-se a situação que de Ro
ma veio a ordem da «alternância», ou seja:
os cargos seriam exercidos, .alternando-se as
nacionalidades.
No ano de 1738, deixou o cargo o Provin
cial Fr. José do Nascimento e seu sucessor
teve que renunciar dois meses depois. Estes
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ENFERMIDADE E MORTE los médicos: foi aberto a ferros em quatro
partes. Dentro das possibilidades da medici
na de então, sofreu terrivelmente, pois a in
tervenção afetou seriamente os nervos e, pa
ra agravar, não existiam então os antibióti
cos e outros calmantes para atenuar as do
res. E aqui o irmão dava um exemplo edi
ficante de paciência, poj.s, dizem os confra
Com o correr do tempo, o corpo de Fr.
Fabiano foi sentindo o peso da idade e dos des que o assistiam, jamais se ouviu dele
sacrifícios, na forma de sofrimentos físicos a minima queixa ou atitude de revolta. Ape
que o crucificaram por quase 30 anos. A cau nas uma coisa o atormentava: não poder
sa inicial destes sofrimentos foi uma erisi exercer sua função de enfermeiro e ter que
pela - Cl'Ônica ou intermitente - localiza ser cuidado, quando seu desejo era cuidar.
da nas pernas, acentuadamente na esquerda, Quando sua doença reclamava repouso, ele
qualificada por seu biógrafo como «mais que dificilmente se entregava a ele e isso tam
monstruosa». Na perna direita irrompeu uma bém colaborou para agravamento de seu es
chaga que o mesmo biógrafo qualifica de tado físico geral.
«grande e horrorosa chaga, que vertia con Fr. Fabiano atingira a casa dos 70. O
tinuamente copioso pus». mês de outubro de 1747 trouxe agravamento
Para aumentar estes sofrimentos nas em seu estado de saúde. Pressentiu que ia
pernas, apareceu-lhe um quisto num dos joe «chegando ao fim de seu desterro» e, con
lhos, atribuído por alguns ao muito tempo forme o biógrafo, anunciou-o a seus confra
que o bom irmão permanecia de joelhos nas des, avisando o dia e a hora. Desde então,
suas longas horas de oração. Sendo que os viveu na preparação para o encontro com
recursos do tempo eram primitivos e o es a morte que, na espiritualidade franciscana,
pírito de J?enitência de Fr. Fabiano era sem aprendera a ver como uma irmã e aquela que
limites, pode-se fazer uma idéia do quanto o conduziria aos braços do Pai, o endereço
sofreu ele. O quisto do joelho foi tratado pe- certo das almas que crêem.
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...
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O dia 17 de outubro de 1747 foi o esco
lhido pelo Pai para chamar seu fiel servo. O
O RECONHECIMENTO
Guardião c demais confradcs rodeavam o
leito do moribundo. Pelas 14 horas recita
ram o salmo dos agonizantes: do abismo cla
mei a vós, Senhor. Ao chegar ao final, Fr.
Fabiano calmamente voou para o Senhor.
Quase despercebidamente como vivera, sem
barulho, sem chamar a atenção sobre si: Os irmãos de hábito prestaram ime
tranqüilo c reconciliado com Deus e a vida diatamente todos os serviços necessários ao
que terminava, entrou na casa do Pai. querido irmão, sinceramente pranteado por
todos, pois aquela existência humilde signi
fica1·a, de maneira extraordinária, uma pre
sença exemplar na comunidade. Renderam
lhe as últimas homenagens no interior do
convento mesmo e, na intenção de evitar tu
multos, haviam decidido entcn�á-lo às ocul
tas. .Mas não lograram tal, pois sendo o Go
vernador Geral amicíssimo de Fr. Fnbiano
·fez questão de participar das últimas home
nagens. E assim, com rapidez, espalhou-se
a notícia do passamento do santo irmão, e a
população do Rio de Janeiro, segundo seu
biógrafo, acorreu ao convento de Santo An
tônio, com exclamações de «Vamos ver o
Santo. Vamos ver o Servo de Deus Fr.
Fabiano».
A multidão era tamanha que se fez ne
cessário chamar um corpo de guarda para
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..
..
Indica ela o lugar onde foi colocado o corpo
manter a ordem, pois Lodos desejavam ver deste irmão que o biógrafo exalta com as
e tocar aqueles restos que representavam a palavras: «Ditosa vida e ditoso Religioso
santidade de Fr. Fabiano. As testemunhas que na morte se fez credor de aplausos de
do tempo afirmam que a santidade do ir seus próprios Irmãos, de um povo inteiro,
mão transparecia quase concretamente, pois composto de doutos, nobres e plebeus . . . :.
seu rosto, que a doença empalidecera e afea
As vozes que em torno de seu corpo
ra, tornou-se, na morte, de uma serenidade
c de seu túmulo se ergueram nunca mais
e beleza impressionantes, tanto assim que o
silenciaram, porque ainda hoje, de todos os
Provincial pediu a um artista fixasse aque
cantos do Brasil, os fiéis recorrem a Fr. Fa
les traços, e o mesmo o fez o Governador Ge
biano, numa eloqüente prova de confiança.
ral. Além disso conservou a flexibilidade dos
membros, sem ser tomado pela rigidez ca
davérica. Tudo isso era para os presentes a
evidente forma de que Deus se encarregara
de glorificar aquele humilde filho de S.
Francisco.
Naquela época era costume, nos con
ventos religiosos, sepultar os Religiosos no
chão dos claustros. Assim, Fr. Fabiano tam
bém foi levado ao local de seu descanso no
claustro do convento, no mesmo claustro que
ele, muitas vezes ao dia, havia percorrido
para exercer sua caridade ou fazer suas ora
ções e meditações. Quem hoje visita o con
vento de Santo Antônio poderá encontrar, na
parede do claustro, quase junto ao chão, uma
lápide, onde se lê: Sepultura do Servo de
Deus Frei Fabiano de Cristo - ano 1747.
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NA VORAGEM DO TEMPO biano de seu sepulcro primitivo e colocá-los
�n� uma urna de chumbo, que, por sua vez,
I 01 colocada na parede que da enfermaria
levava à Capela do Senhor Bom Jesus, ou
h·ora cela de Fr. Fabiano. A urna ficou ocul
ta por uma camada de cimento. Uma placa
de cobre assinalava o local com uma inscri
ção latina, cuja tradução dizia: «Como ou
Depois da morte de Fr. Fabiano pro h·ora, Fabiano, procuravas a saúde dos en
curaram os Superiores trabalhar pelo reco fermos, ajuda-nos, agora, com tua inter
nhecimento oficial das virtudes e da santi cessão».
dade deste humilde irmão franciscano. Che
A intenção dos superiores foi a me
garam mesmo a instaura1· os começos do pro
lhor: dar um lugar mais digno aos santos
cesso que deveria levar a este reconhecimen
despojos. Mas aconteceu o contr.ário do de
to, processo, aliás, nada simples, pois neste
sejado: os fiéis, não tendo mais acesso às
particular a Igreja ditou normas muito seve
rel'íquias, lentamente foram esquecendo seu
ras. As dificuldades de comunicação com
benfeitor. A esta circunstância acrescem vi
Homa, as sucessivas mudanças de superio
res, as perturbações politicas e religiosas le cissitudes que caíram sobre a Provincia Fran
varam a uma demora que; por sua vez, re ciscana e o Convento de Santo Antônio, re
dundou num como resfriamento no entu sultantes de uma indisciplina interna e da
siasmo. legislação jmperial contra as Ordens Reli
giosas no Brasil.
Todavia, o povo continuava a venerar
e a invocar o santo frade em todas as ne O local onde estavam encerrados os os
cessidades c os testemunhos de sua carida sos de Fr. Fabiano começou a ser abando
de multiplicavam-se, numa eloqüente prova nado, terminando por cair em ruínas. Dos
de sua santidade. Passados 30 anos de sua cento c tantos religiosos do tempo de Fr. Fa
morte, resolveram os superiores do Conven biano o Convento não abrigava, em 1870,
to de S. Antônio retirar os ossos de Fr. Fa- mais que seis e, aos poucos, o Convento se
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....
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foi transformando numa espec1e de hospe
O REENCONTRO
daria até que, em 1885, D. Pedro li hospe
dou ali o sétimo Batalhão de Infantaria do
Exército atacado de béri-béri. E vieram as
depredações e os estragos. A ruína começara
u m trabalho demolidor, levando consigo a
placa de bronze que assinalava o local da
urna com os ossos de Fr. Fabiano e os ou
tros vestígios do santo irmão. Assim, quan Não ,queria Deus fosse este o fim dos
do o batalhão se retirou, ninguém mais sa ossos de Fr. Fabiano. Escolheu o dia para
restitui-los aos devotos. Fr. Pedro Sinzig nar
bia do sítio. Inclusive reinava a crença de
ra como os santos despojos foram trazidos
que o mesmo havia sido violado e os santos
novamente à luz: «em fins de janeiro do
despojos roubados. Todos os esforços foram
baldados para reenconh�-los. ano de 1924, chuvas fortes e prolongadíssi
mas causaram grandes estragos e mesmo
mortes no Rio e em vários Estados. As 3
horas da madrugada do dia 2 de fevereiro,
com estrondo terrível, ruiu grande parte do
muro que, atrás do Convento de S. Antônio,
segurava o morro naquela parte onde, anti
gamente, se achava a enfermaria servida por
Fr. Fabiano de Cristo. Em meados de abril,
o Guardião da casa, Fr. Inácio Hinte, man
dou iniciar as obras de reconstrução do dito
muro, e como lhe faltassem pedras, mandou
derrubar, no dia 1'� de maio deste ano de
1924, o resto do muro que ruíra. . . Parte do
muro havia já sido derrubado, quando, do
lado do Convento, de repente, apareceu uma
40 41
..
,,
quias e a capela onde são acesos os ch·ios
urna de chumbo, cheia de ossos. Retiraram
a S . Antônio. Ainda hoje, a p1·ocissão de de
na os operários e chamaram o Guardião que
votos continua a desfilar diante do altar sin
logo ficou convencido de tratar-se dos ossos
gelo que abriga os ossos de Fr. Fabiano.
de Fr. Fabiano, pois foram encontrados no
De todos os cantos do Brasil chegam cartas
local descrito. Abrindo a urna, encontrou em
comunicando graças e· pedindo lembranças
cima, coberto de cal, um documento tão car
do santo irmão que, pequeno n a terra, con
comido que só poucas palavras ainda se
tinua, no céu, uma presença benéfica, ates
liam. Estas, porém, nítidas e perfeitas: Frei
Fabiano. . . enfermeiro deste convento . . . tando como Deus é magnífico em seus san
Rio . . »
.
tos, pois neles manifesta sua imensa mise
ricórdia e sua paterna solicitude de ajudar
Foi imensa a alegria desta descoberta.
os homens pelos homens.
Primeira p�·eocupação: encontrar um lugar
condigno para os despojos. Resolveram, en
tão, encerr.á-los em uma urna de mâ1·more,
com uma pequena abertura lateral, por on
de se poderiam ver os ossos. A urna foi co
locada numa capela, ao lado esquerdo, da
Igreja do Convento de Santo Antônio. Para
lá chegar, passa-se primeiro pela capela do
Senhor Bom Jesus, devoção muito do gosto
de Fr. Fabiano de CristQ.
E a veneração recomeçou. Em pouco
tempo, os fiéis começaram a procurar o san
to irmão, como nos primeiros dias após sua
morte. Que Fr. Fabiano continua com a mes
ma caridade dando, pacientemente, atendi
mento a todos os pedidos, atestam-no os inú
meros ex-votos que ornam a capela das relí-
42
.,
.,
AP,BNDICE
45
Para pedir o pão de cada dia
47
...
.,
tcs. Que vistes no trabalho u forma de reali
zar os planos ele Deus. Que sabíeis que pelo
trabalho cada um pode encontxar seu lu Nas angústias e tribulações
gar na história c ser útil aos outros homens.
Por tudo isso vos peço me ajudeis a encon 1\fcu amado Frei Fabiano, que tivestes a
trar um trabalho honesto, pelo qual possa graça de ter sempre a paz da alma e tives
eu çumprir com as minhas obrigações e pro tes sempre uma palavra consoladora a to
ver minhas necessidades e as daqueles que dos aqueles que vos procuravam com a al
Deus me confiou. Alcançai-me do Cristo que ma ferida, vede a angústia que me atormen
foi operário a graça de encontrar um tra ta o espírito e alcançai-me de Maria Santís
balho. Amém. sima a paz da alma e a h·anqüilidade do
espírito, para que possa desempenhar as
minhas obrigações de cada dia sem temor
Para pedir saúde e sem desfalecimento. Fazei . com que a con
fiança em Deus se estabeleça em meu co
1\Ieu bondoso Frei Fabiano, que grande ração c nele floresça a esperança. Assim
parte de vossa vida consumistcs no cuidado posso confiar em Deus e ler meu espírito
'
aos doentes, deixai vosso olhar pousar so tranqüilo. Amém.
bre a enfermidade crue me atormenta e, se
for da vontade de Deus, concedei que volte
a 1:eçupcrar minha saúde, para que com cor
po sadio possa melhor servir a Nosso Se Tríduo a Frei Fabiano de Cristo
nhor c aos irmãos. E junto com a graça da
saúde alcançai-me também a graça de fazer Deus onipotente, que vos comprazeis em
bom uso da saúde, que é também um dom exaltar a humildade de vossos filhos, nós
de Deus. Lembrai-vos de todos aqueles que · vos agradecemos pelos favores concedidos
sofrem enfermidades no corpo ou na alma e ao vosso humilde servo Frei Fabiano e vos
obten <le-lhes o alivio e a paciência. Por Cris pedimos que por sua intercessão nos conce
to Nosso Senhor. Amém. dais a graça . . . qne vos pedimos com o mes-
49
�.
mo espíxito com que rezava Frei Fabiano, vés de vossa intercessão, ouviu-me numa ho
sempre dóceis à vossa vontade. Manifestai, ra de aflição. Fico agradecido e espero me
ntravés de Frei Fabinno, a vossa bondade de recer sempre a vossa proteção, para que
Pn i e fazei que este ,·osso servo seja elevaelo livre elos perigos da alma e do corpo possn
:'t honra dos altares, se isto estiver em vossos percorrer os cnminhos da vida e nlcancar
planos. Yossn compnnhia na casn do Pai. Amém :
E vós, humilde servo de Deus, alcançni
nos do Senhor a graça crue com tanta con
l'innça pedimos, certos de vossa valia junto
no trono de Deus, poro que sentindo estn
bondade de Deus caminhemos com mais se
gul' ança no caminho cln nossa santificação
prssoal.
Sc·jn Drus por tnclo e sempre louvaclo.
Amóm.
Reznm-se 1 Pni-Nosso, 1 Ave-1\'Taria c 1
Glórin no Pai.
50 51
..
íNDICE
1 . Prefácio 5
2. Da Terra dos Descobridores 9
3. A Procura ele Algo Mnis 1 2
4 . A Busca d o Ouro 15
!S. Na Cidade de Parnli 1 8
Este livro foi impresso
6. Outro Tipo de Negócios 20 nas oficinas gráficas oa
Editora Vozes Limitada
7. O Franciscano 23 Rua Frei Luis. 100
Petrópolis, Estado do Rio
8. No Convento de Santo Antônio do Rio 26 de Janeiro. Brasil.
52
.
"
ORAÇAO
Deus onipotente e misericor
dioso. agradecemos à vossa bon
dade infinita todos os favores
que concedestes ao humilde Frei
Fabiano de Cristo e vos rogamos
que por sua Intercessão nos con
cedais a graça . . . (nomeie-se a
graça) que vos pedimos. e se for
do vosso agrado deis ao vosso
servo fiel a honra dos altares.
E vós, grande servo de Deus.
Frei Fabiano de Cristo, junto ao
trono de Deus. rogai por nós para
que cresçamos no divino amor.
na devoção à Virgem Santissi
ma. no ódio ao pecado e no ver
dadeiro amor aos irmãos. Prote
gei-nos nos perigos da alma e do
corpo. para que um dia. convos
co. lá no céu. louvemos ao Pai.
ao Filho c ao Espírito Santo. por
toda a eternidade. Assim seja!
Com npa·ovnção eclcslflstlcn.
Acresccnlnm-sc Ires Pnl-Nos.�os c três
Ave-Marlns em honrn du Santlsslmn
Trlndnde.