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2 Rendido (Trilogia Recomecos) - Natalia Tilcailo
2 Rendido (Trilogia Recomecos) - Natalia Tilcailo
Rendido
1ª edição
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser
reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou
mecânicos, sem consentimento e autorização por escrito do
autor/editor.
Capa: G.B Design Editorial
Revisão: Stephany C. Gomes
Leitura Sensível: Marília M. Bezerra
Diagramação: Nathalia Santos e Jullyanne Aquino
Ilustração 1: Gabriela Góis Santos @olhosdtinta
Ilustração 2: Nia Oliveira @niaoliveirart
Playlist
Epógrafe
Prólogo
1. Café
2. Jornal
3. Amizade
4. Radiante
5. Exultante
6. Sopa
7. Consciência
8. Esteban
9. Dardos
10. Culpa
11. Honestidade
12. Bloquinho
13. Peste
14. Risada
15. Strike
16. Terno
17. Discurso
18. Fisgada
19. Guarda-roupa
20. Xadrez
21. Domínio
22. Arisca
23. Cama
24. Salvadora
25. Biquíni
26. Vergonha
27. Experiência
28. Anitta
29. Espera
30. Condenado
31. Fama
32. Gatridão
33. Chuva
34. Despedida
35. Estrelas
36. Casamento
37. Borboletas
38. Vídeo
39.Pintinha
40. Passado
41. Casa
42. Rendido
Epílogo
Bônus
Agradecimentos
“Em uma outra realidade, numa em que eu não tivesse tantos
poréns e muito mais possibilidades, eu realmente daria uma chance
a ele. A minha realidade é muito mais dolorosa, difícil e cheia de
arrependimentos. Não preciso de mais um para a lista.”
Penélope tem 27 anos e já passou por muita coisa. Perdeu o
pai quando ainda era criança e cresceu determinada a sustentar a
própria família. Depois de ser traída pelo noivo, ela está decidida a
não se envolver com alguém tão cedo.
Arthur é um CEO reconhecido, bilionário, bonito e
mulherengo. Aos 32 anos, é dono de um dos melhores jornais
econômicos do país, que abriu e gerenciou sozinho. Conhecido
como “O Herdeiro Galinha”, nunca teve nada além de
relacionamentos casuais e está decidido a permanecer desse jeito.
Os dois têm algo em comum: eles se detestam.
Entretanto, quando seus amigos se envolvem, a vida os
obriga a conviverem juntos, mesmo que isso seja a última coisa que
queiram.
Um bar, um surto, um momento de fraqueza, e os dois acabam
fingindo um namoro. O problema, é que essa farsa durará mais
tempo do que eles imaginaram.
Agora, duas pessoas que não se suportam, terão que
embarcar em um namoro falso para conseguirem alcançar seus
objetivos.
O que eles não contavam era com a química forte e a atração
avassaladora que sentem um pelo outro.
Ela o acha insuportável.
Ele a acha irritante.
Ela o odeia.
Ele a odeia.
Ela, talvez, o ache bonito.
Ele, talvez, a ache atraente.
O que acontecerá quando a farsa parecer real demais, e o
coração se tornar rendido?
Olá, seja bem-vindo (de volta, ou não) ao universo da minha
cabeça.
Primeiramente, gostaria de agradecer por escolher “Rendido”
para ler, mesmo que haja inúmeras opções por aí.
Arthur e Penélope são dois personagens derivados do meu
primeiro livro, “Regenerado”, e “Rendido” é o segundo livro da
trilogia “Recomeços”. É uma história que acontece logo após os
acontecimentos do primeiro livro e é totalmente independente.
Porém, recomendo que, após conhecê-los (ou até mesmo
antes), leia o primeiro livro e o conto derivado deste mesmo
universo, e conheça a história de amor de alguns personagens
secundários que você conhecerá neste livro. Prometo muitas
risadas, lágrimas e suspiros.
Adoro o fato de poder dizer a vocês que esse livro foi
totalmente diferente do que eu achei que fosse ser.
Arthur e Penélope são personagens que sempre estiveram
presentes, desde quando eu sonhei com o meu primeiro livro. Eles
estavam lá, estavam destinados um ao outro.
Eu não imaginava que o desenrolar da história deles fosse
ser dessa forma, mas o que eu sempre soube é que haveria um
atrito entre eles. Conhecê-los no primeiro livro foi legal, entretanto
quando sentei pra escrever e os conheci de verdade, eu me
apaixonei.
Amo o fato de entender que as pessoas são mais profundas
do que deixam transparecer e que é sempre muito fácil julgar o
outro. Falo isso por Arthur, que parecia ser apenas um cafajeste que
gosta de pegar todo mundo, e por Penélope, que parecia centrada
demais, focada demais e amargurada demais.
Eu, como uma boa psicóloga que sou, sabia que ambos
tinham muito mais para mostrar do que deixavam transparecer.
Arthur me encantou de um jeito que eu não esperava, e Penélope
me deu tanto, que eu nem estava preparada.
Eles me fizeram rir, me fizeram suspirar, me fizeram gritar e
me fizeram chorar. Eu chorei muito. E o livro nem é tão dramático.
Mas quando você se dispõe a estar aberto à dor e à tristeza do
outro, você se permite sentir e compreendê-lo.
E é isso o que eu proponho. Que deixe que esses
personagens mostrem a você o que eles são de verdade e, mesmo
que não concorde com algumas de suas atitudes, saibam que eles
são humanos. Fictícios ou não, são tão sujeitos a erros quanto você.
Um dos assuntos que eu me senti honrada em abordar neste
livro foi a doença chamada Artrite Reumatoide. Além de todas as
pesquisas que eu fiz, conversei diretamente com uma pessoa que
luta contra a doença. Portanto, caso encontre algo incongruente
com a sua ou a realidade de uma pessoa que você conheça, saiba
que as informações são particularmente de alguém e que não
precisa necessariamente ser a realidade de todos. Espero que
tenha a mente aberta para receber alguns assuntos aqui abordados
e espero, de coração, que tenha tratado desse, da melhor forma
possível.
Sempre bom lembrar de considerar a Licença Poética, mas
que esta autora realizou inúmeras pesquisas para que pudesse
tratar de tudo o mais condizente possível com a realidade.
Por fim, minha torcida é para que se divirta pra caramba com
eles. Se você gosta de um bom clichê, com as frases mais surtáveis
de todas, com uma generosa pitada de erotismo e uma pequena
pitada de drama, você está lendo o livro certo.
Penny e Arth me mostraram que uma história de amor pode
começar a ser escrita em meio à mágoa e ao rancor, mas que pode
se transformar em algo genuíno e gigantesco. Você só precisa se
permitir.
Espero que você se permita e se renda, tanto quanto eu. Boa
aventura.
Foi o sorriso.
O culpado por me fazer lembrar daquela festa. Da noite em
que eu me esforcei para conseguir tirar o brilho do sorriso que eu
tanto gostava.
A forma como gargalhou agora, foi como um gatilho. Por
alguns instantes, eu ouvi sua risada, vi seu rosto se contorcendo em
alegria e tive medo.
Temi que um dia esse sorriso se apague de novo por algo
que eu faça.
Que ele suma e nunca mais apareça para mim.
Então, eu finalmente disse as palavras. As palavras que
estavam entaladas na minha garganta há meses. O que eu deveria
ter dito desde o momento em que despejei aquelas coisas nele,
naquela noite.
No entanto, o orgulho me impediu. E a vergonha.
Nossa, essa foi grande.
Uma vergonha que nunca senti antes e que me corroía por
dentro.
Entretanto, as últimas semanas me mostraram que eu estava
errada.
Não apenas naquela noite, mas ao pensar que Arthur não me
perdoaria. Que ele me condenaria por ser uma completa idiota.
Essas semanas me mostraram um pouco do seu coração. O
quanto é bondoso e bonito.
Tão bonito quanto ele.
Levo minhas mãos até as suas, ainda repousadas em meu
rosto.
Seus olhos estão diferentes do que imaginei que estariam.
Pensei, de verdade, que ele não facilitaria para mim.
Porém, é dor o que vejo.
Não por ele.
Por mim.
Ah, Arthur… Como é impossível te odiar.
Ele continua sem dizer nada, estático e surpreso com minhas
palavras.
– Eu me arrependo do que disse pra você naquela noite,
desde o momento em que pus os pés pra fora da sua casa –
continuo. – Eu queria voltar, me ajoelhar na sua frente e… e
implorar por seu perdão. Dizer que fui uma completa estúpida e que
você não merecia aquele tratamento.
– Penélope… – ele tenta dizer, mas eu o impeço.
– Por favor, me deixe falar. Eu… eu preciso falar. – Minha
respiração fica desregulada.
Ele concorda com a cabeça, abraça meu ombro e me puxa
para o seu lado.
– Vem, vamos sair daqui.
Andamos alguns metros para o lado, deixando o caminho
livre para quem ainda vai descer a cachoeira.
Saímos da água e paramos ao lado de uma árvore grande,
longe de todos.
Minha mente dá voltas, meu corpo treme, e eu tento controlar
a respiração.
Quando Arthur para à minha frente, seu olhar fica mais
preocupado.
Por que se preocupar? A culpa foi minha.
Ele abre a boca querendo dizer algo, só que logo a fecha.
Fica em silêncio, até que eu esteja pronta para continuar.
Sem saber ao certo por onde começar, começo por onde dói
mais.
– Ele me traiu.
Arthur fica completamente imóvel à minha frente.
– A mulher que está com ele aqui, é a mesma que eu
encontrei nua, nos lençóis da minha cama, gemendo o nome do
meu noivo. – Respiro com dificuldade. – Naquele dia, eu dei as
costas para tudo, Arthur. Para ele, para nosso casamento, para o
nosso passado e para o futuro. Eu me fechei em um casulo
impenetrável. No momento em que lhe dei um tapa na cara e joguei
a aliança no seu peito ainda nu, eu enterrei uma parte de mim.
Meus olhos lacrimejam, porém eu não choro. Ainda não.
– Tem ideia do que eu dei para ele? Do que eu fiz? Eu
entreguei meu coração, confiei em alguém que dizia me amar, e na
primeira crise que tivemos, ele me traiu. Ele tirou tudo de mim, e eu
não sabia como recuperar.
Arthur leva as mãos até seus cabelos molhados e bagunça
os fios. Seu olhar se perde por alguns instantes, provavelmente, é
sua mente tentando compreender, e se volta para mim.
– O que houve depois? – me pergunta com um fiapo de voz.
– Eu me parti, em milhões de pedaços. Como um espelho
quebrado, eu tinha tantos cacos espalhados pelo chão, que todas as
minhas forças se foram. – Engulo em seco, tentando manter a voz
intacta. – Eu não comia, não dormia, não falava com ninguém, não
via ninguém. O jeito como fiquei, não me permitiu nada. As roupas
que ficaram em nossa cobertura de luxo, foram trazidas por minhas
amigas. O apartamento que eu batalhei tanto pra ter, ficou para ele,
assim como tudo lá dentro. Eu não queria nada, nada que pudesse
me lembrar dele. Nada que representasse o que eu havia perdido.
Desvio o olhar, quando seus olhos espelham a dor em meu
coração.
– Acha que eu não sei que a casa onde eu moro é simples?
Eu não tinha forças nem para isso. Nem pra procurar algo melhor
pra mim, que trabalhei muito pra ter. – Eu o encaro novamente. – Eu
não queria mais viver, Arthur. Se não fosse pela minha família, por
minhas amigas, eu não sei se estaria aqui, conversando com você.
Eu não sei afirmar ao certo se teria tirado minha própria vida,
mas certamente eu me afundaria no buraco negro que engoliu meu
coração, e não sairia mais dali.
Agora é a vez da respiração de Arthur mudar. Ele se
aproxima, segura meu rosto em suas mãos de novo e me olha
intensamente.
– Você não pensa mais assim, certo? Você… você superou.
Você está bem, não está?
Eu quase sorrio.
– Se está perguntando se eu não o amo mais, não. Não amo.
O que eu perdi nesse relacionamento, foi muito maior do que a
confiança. Eu levei alguns meses pra parar de chorar durante à
noite. Pra conseguir sair, trabalhar, viver novamente.
Sua cabeça sobe e desce rapidamente.
– Isso. Você está vivendo e vai continuar assim. – Ele franze
a testa. – Naquela noite…
– Naquela noite, eu não soube lidar com algo que estava
acontecendo comigo e que não acontecia há muito tempo.
– E o que era?
– Você. Eu não estava sabendo lidar com você, com o que
você me fez sentir.
Seu rosto se contorce em confusão de novo, e eu esclareço.
– Eu estava oca, vazia, não sentia. Não desejava, não
ansiava por ninguém. Quando fiquei solteira e finalmente saí de
dentro de casa, eu não me senti atraída por ninguém. Tinha certeza
de que havia perdido essa possibilidade e que jamais voltaria. – Um
leve sorriso surge em minha boca. – Até o dia em que nos
conhecemos.
Seus olhos se arregalam, e suas mãos caem do meu rosto.
– O que quer dizer com isso? – questiona.
– Quando aquele cliente horrível machucou minha amiga,
foram seus braços que me envolveram e me impediram de fazer
alguma coisa. – Levo minha mão até seus ombros e aliso sua pele,
até alcançar as mãos. – Eles eram quentes, fortes, seguros. Foi
uma sensação tão estranha. Uma que eu nunca havia sentido. –
Volto a focar em seus olhos. – Eu queria continuar ali. Permanecer
sendo abraçada pelo cara desconhecido que surgiu do nada atrás
de mim. E isso me assustou.
Ele concorda, como se entendesse o que eu quero dizer.
Completo:
– Foi como um interruptor de luz, me iluminando em meio à
escuridão.
– Mas… Se você se sentiu assim, por que me rejeitou tantas
vezes?
Desvio os olhos dos seus. Essa é a parte que demorei muito
tempo pra entender. A parte que me envergonha.
– Eu não queria aquilo, não queria sentir. Eu não merecia
sentir nada.
– Como não merecia, Penélope? – Suas mãos seguram meu
rosto de novo, e eu sou obrigada a olhá-lo.
Dou de ombros.
– Estava machucada. E morrendo de medo de me permitir e
não conseguir lidar com o que viesse. Fosse algo bom ou ruim. E
então eu te repeli. Afastei o causador do sentimento, simplesmente
porque não merecia isso de você.
– Para de dizer besteiras.
– Eu te magoei, Arthur.
– Eu não me importo.
– Eu quis te magoar.
– Aquilo não foi nada. Era ego ferido, eu não aceitei sua
rejeição.
– Não diga isso. Não diminua o que eu fiz.
– Não estou diminuindo, estou te compreendendo, Penélope.
– Ele umedece os lábios. – Você estava na defensiva. Atacou antes
de ser atacada.
– E isso é horrível, Arthur. Eu chamei você de imaturo e mal
te conhecia. – Ele nega com a cabeça. – Eu era a imatura que não
soube lidar com os próprios sentimentos. Fui eu quem te afastei e te
fiz me odiar.
– Eu não te odeio, Penny.
– Pois deveria. Deveria me odiar, porque eu não mereço
nada além disso. Tudo o que eu recebi por confiar em alguém que
não me amava, eu mereci. Foi minha culpa que…
– Não diga isso. Não ouse terminar essa frase, Penélope.
Seu tom de voz firme me cala.
Seus dedos calejados acariciam minha bochecha, e por
alguns segundos, fecho os olhos.
Sua respiração se mistura com a minha, conforme ele
aproxima o rosto do meu.
– Nem a pior pessoa do mundo, merece o que ele fez com
você. Não há justificativas para uma quebra de confiança tão grande
como essa. Aquilo não foi postura de um ser humano de caráter.
Não importa os erros que você possa ter cometido ou que pensa
que cometeu.
Se ele soubesse de tudo… Talvez não pensasse assim.
Todavia, eu não conto. Não posso contar o meu maior
fracasso.
Esse é meu segredo, para que me puna diariamente.
Levo minha mão direita até seu rosto, acariciando a barba
baixa e bem feita de sua bochecha. Me concentro em seus olhos
castanhos, querendo que ele me diga o que preciso ouvir.
– Você me perdoa?
– Penny, não precisa…
– Por favor, eu preciso disso. Preciso ter certeza.
Ele suspira e me olha profundamente, antes de dizer.
– É claro que eu te perdoo, Penélope. Mesmo que não tenha
o que perdoar.
O alívio que sinto é tão grande, que meus joelhos falham.
Arthur me segura e me abraça apertado, deixa um beijo no topo da
minha cabeça, com meu rosto no seu peito nu.
Permanecemos assim por um tempo, ele com o nariz enfiado
no meu cabelo, e eu sentindo as batidas do seu coração.
Fortes e ao mesmo tempo, serenas.
Como uma canção, elas me acalmam. Me trazem de volta
para o estado pacífico em que estava.
– O que acha de voltarmos pra mansão? – Arthur me oferece,
depois de um tempo.
Como sempre, sabendo exatamente do que eu preciso.
– Acho uma ótima ideia.
Saímos de lá depois de encontrarmos outra carona para
Letícia e Alfred. De volta para a mansão, depois de um banho,
conheci mais alguns familiares de Arthur, passei um tempo com os
seus sobrinhos, conversei com algumas pessoas e em nenhum
momento, vi Marcos ou Samara de novo.
À noite, depois do jantar ao ar livre que as noivas nos
proporcionaram, ficamos conversando do lado de fora da casa, até
que quis me deitar.
Arthur permaneceu ao meu lado o tempo todo. Sempre
perguntando se estava bem, sempre me tocando, sempre me
observando.
De alguma forma, ele sempre estava lá. Me sondando.
E já está na hora de admitir que gosto disso.
Depois de vestir meu pijama, olho-me pelo reflexo do espelho
do banheiro do quarto.
Minha pele está um pouco queimada de sol, entretanto não
de um jeito ruim.
Estou tentando não pensar sobre a única cama, mas quer
saber? Dane-se.
Estou cansada demais para me importar com isso.
Saio do banheiro e olho para a janela. Arthur está de costas,
olhando a noite estrelada. Com uma calça de moletom preta e nada
mais no corpo, suas costas estão marcadas pela luz fraca do abajur.
Limpo a garganta, chamando sua atenção, e ele se vira para
mim.
– Vou dormir… Eu… – Coço a cabeça nervosamente. – Não
tem problema dormir na cama também. Ela é enorme…
Solto uma risada nervosa, e ele sorri. Viro-me depressa,
antes que veja o rubor nas minhas bochechas e me enfio debaixo
dos lençóis.
Alguns segundos depois, sinto a cama afundar e seu cheiro
de sabonete invadir minhas narinas. Ficamos alguns segundos em
silêncio, até que eu o quebro.
– O que significam as tatuagens?
Como ficou de sunga, pude ver que as pinturas estão
espalhadas pela perna esquerda inteira, assim como no braço.
Ele fica em silêncio por tanto tempo, que sou obrigada a me
virar para conferir se está acordado.
Seus olhos já estão em mim, quando o faço.
– Não tem um significado específico, na verdade. – Sua voz é
baixa. – Eu gostei dos traços do tatuador e quis fazer.
– Entendi. Vi que tem rosas, um lobo e mais algumas outras
coisas que não consegui decifrar.
Ele abre um sorriso malicioso, e eu estreito os olhos na sua
direção.
– Está querendo me pedir para conferir os desenhos,
formiguinha? Que curiosa.
Pego um dos travesseiros sobrando e jogo na sua cara. Ele
ri, e eu me esforço para não sorrir de volta.
– Você é impossível – resmungo, me ajeitando melhor
embaixo dos lençóis e fechando os olhos.
– É você quem está interessada em meu corpo. – Abro os
olhos no mesmo instante, o pegando com aquele mesmo sorrisinho.
– Não se preocupe com isso. Você tem passe livre quando quiser.
Minha boca se abre em choque.
– Sem vergonha – digo.
– Irritadinha – ele rebate.
– Arrogante.
– Mal humorada.
– Irritante.
– Linda. – E sorri, quando me calo.
Bufando, volto a fechar os olhos, mas não antes de dizer:
– Eu te odeio.
O silêncio predomina o quarto, e eu começo a pegar no sono.
A última coisa que lembro de ouvir, é:
– Mentirosa.
Eu pensei que já tinha sentido ódio.
Pensei que odiei as pessoas que tentaram impedir que minha
empresa crescesse. Pensei que odiei situações que saíram do meu
controle. Pensei que tivesse odiado quem fez mal às pessoas que
amo.
Pensei que odiei doenças incuráveis, catástrofes irreparáveis,
injustiças e mais algumas outras situações que presenciei na vida.
Pensei até que tivesse odiado Penélope.
Mas nada, absolutamente nada, me fez odiar algo, tanto
quanto Marcos.
Qualquer sentimento antes disso, não chegou nem perto da
dimensão que foi sentir o que eu senti.
Eu escondi bem.
Me concentrei nela e em ouvir o que tinha para me contar, e
não no que aquilo causava em mim.
Tenho certeza de que ela nem percebeu que cada palavra
que saía da sua boca ontem, incendiava minhas veias de uma forma
tão intensa, que cheguei a me assustar.
Se aquele filho da puta aparecesse na minha frente naquela
hora, eu não responderia por mim.
Eu o mataria.
Com minhas próprias mãos.
O mais medonho de tudo isso, não é o ato em si, mas sim o
fato de que eu não ligaria, nem mesmo por um segundo, de que
pudesse ser errado.
Que provavelmente a assustaria, assustaria meus familiares,
meus amigos.
Estava pouco me fodendo.
Não sei se foi Deus ou apenas a sorte, porém pelo restante
do dia, eu não o vi.
Porque se tivesse visto…
Ele não só a magoou.
Ele a dilacerou.
Desconsiderou toda a fidelidade e lealdade que ela tinha por
ele. A desrespeitou de tal maneira, ao trazer para a casa deles, uma
outra mulher. Não se preocupou com ninguém, além de ele mesmo.
O que aconteceu meses atrás, entre Penélope e eu, se
tornou algo muito irrisório e muito insignificante, comparado a tudo o
que me contou.
Mesmo me conhecendo há pouco tempo, mesmo que algo
esteja nascendo entre nós agora, ela se abriu.
Se abriu de verdade.
Sem agressividade. Sem defensiva. Ela me deu exatamente
aquilo que eu pedi, quando tudo isso aconteceu.
Honestidade.
Eu posso ser visto como uma pessoa rasa, aos olhos de
muitos. Penny não foi a única a dizer aquele tipo de palavra para
mim.
Contudo, eu jamais brincaria com os sentimentos de alguém.
Nunca magoaria ninguém, propositalmente.
E, por mais que nunca tenha passado pelo que ela passou,
sei que não foi fácil.
Imagina você ouvir promessas de amor eterno e fidelidade
inabalável, construir algo, planejar, idealizar, sonhar e ver tudo isso
ruir bem diante de seus olhos.
Pois foi isso o que aconteceu com Penélope.
Noites em claro, choro incessante e muitas outras coisas, que
eu sei que ela passou, mesmo que não tenha me dito.
E para completar, nem viver ela queria.
Sinto uma pontada tão forte no meu coração, que preciso
respirar fundo.
Não consigo imaginar um mundo em que Penélope Duarte
não exista. Um mundo onde não ouvirei sua risada estranha, não
verei seus olhos vibrantes, não me irritarei com algo que sair da sua
boca.
Um mundo onde eu não a tocaria mais. Não a beijaria mais.
Não a veria mais.
Esse mundo não pode existir. Nunca.
Já faz uma meia hora que acordei e percebi que ela estava
aconchegada em meus braços. Deitados de conchinha, não movi
um milímetro, com medo de acordá-la e ter uma morte lenta e
dolorosa.
Seus cabelos estão espalhados pelo meu peitoral, sua mão
segura a minha próxima ao rosto, e, para o meu total desespero, a
bunda está acomodada bem em cima do meu pau.
Ficar imóvel, não é apenas para que ela não acorde, mas
também para que meu estado de paudurecência não piore.
Deus, quando ficar de pau duro virou algo tão fácil e tão difícil
ao mesmo tempo?
Não sei em que momento da noite ficamos dessa forma.
Penélope dormiu rápido, já eu, fui pegar no sono horas depois dela.
Mesmo cansado da viagem e do dia, não conseguia desligar minha
mente de tudo o que havia descoberto.
Precisava me acalmar e tirar da cabeça a ideia de descer um
andar e bater na porta do quarto daquele merdinha.
Quando peguei no sono, ela ainda estava no seu canto da
cama, e eu no meu.
Ouço um resmungo baixinho, e meu corpo fica todo tenso,
quando a loira se remexe. Como se despertasse aos poucos, sua
cabeça se move um pouco, depois os braços, os pés e por fim, sua
bunda. Quando faz isso, para de se mover no mesmo instante.
Prendo o riso, sabendo que sentiu minha nada discreta
ereção matinal e aguardo, para saber o que fará em seguida.
Lentamente, sua cabeça vai virando para trás, até que seus
olhos sonolentos e assustados encontrem os meus.
Não resisto ao abrir um sorrisinho sedutor.
– Bom dia, formiguinha. – Minha voz sai rouca de sono.
Ela pisca uma, duas, três vezes, até que solta um arquejo
alto e pula para longe de mim.
Começo a dar risada da sua exasperação. Seu rosto
marcado pela noite de sono, está tomado de raiva.
E começamos o dia assim.
– Por que você estava me abraçando, Arthur? – pergunta,
enquanto passa as mãos rapidamente pelos cabelos.
– Eu estava te abraçando? Eu acordei, e você tinha se
enfiado no meio dos meus braços.
– Eu não enfiei nada.
– Enfiou sim.
– Arthur, eu dormi bem longe de você.
– E pelo jeito, não resistiu aos braços fortes e com tatuagens.
– Ela me olha, ultrajada. – Eu sabia que você queria explorar meu
corpinho. Que safada, Penélope.
– Safada? Ora, seu… – exclama, antes de pegar um
travesseiro e jogar em mim.
Seguro ele com a mão facilmente, impedindo de atingir meu
rosto.
Largo o travesseiro de lado e começo a me arrastar para
perto dela, bem devagar.
– O que mais você quer saber, loirinha? – Seus olhos vão se
arregalando, conforme me aproximo. – Ou será que gostaria de
aprender? Eu posso te mostrar tantas coisas…
– Arthur, para já com isso…
– Eu posso te fazer sentir tantas coisas diferentes… – Ela se
afasta para a beirada da cama. – Você só precisa pedir.
– Eu não… Eu não vou pedir nada…Ah! – Antes que eu
consiga segurá-la, Penélope cai da cama.
Me estico para a beirada, para ver se está bem. Com os
cabelos espalhados por todo lado, e com as mãos apoiadas no
chão, ela caiu de bunda.
Um rosnado animalesco deixa sua garganta, ao olhar para
cima, e quando meu cérebro entende que ela está bem, uma
gargalhada sonora cria vida dentro de mim.
Rolo na cama, segurando a barriga e rindo como uma
criança.
– Você… tinha… que ter visto… a sua cara! – tento dizer,
mas não consigo parar de rir.
Resmungando audivelmente, Penny se levanta e deixa um
tapa forte no meu ombro.
– Babaca – me xinga.
– Gostosa – eu elogio. – Sua bunda fica espetacular nesse
shortinho de seda… Ai! – A mulher me belisca no braço.
– Eu te odeio, Arthur Rabello.
– E você é uma mentirosa, Penélope Duarte.
Ela simplesmente me dá as costas e entra no banheiro,
batendo a porta.
Tudo está tão lindo, que não consigo tirar o sorriso do rosto.
Eu casei minhas amigas!
A cerimônia foi perfeita, foi tudo muito lindo, e a festa não fica
atrás. No jardim principal, um varal de luzes flutuantes foi posto
sobre nossas cabeças. Mesas espalhadas, com arranjos de flores e
velas compõem quase todo o jardim. Um grupo instrumental, que
toca música clássica, está em um dos cantos, mantendo o clima
ameno, porém há uma pista paris enorme em frente à mesa do DJ.
As pessoas riem e se divertem, mesmo que esteja lotado de
gente que nem conheço.
Já comi mais do que poderia, bebi, ri e me diverti com meus
amigos.
Achei que estaria melancólica, que não conseguiria disfarçar
a tristeza, mas surpreendentemente, eu não estou triste.
E isso é mérito totalmente do homem ao meu lado.
Cutucando minhas unhas como sempre.
Arthur está conversando com Milene alguma coisa sobre
fotografia. Alfred e Letícia conversam com Rebeca e Antony,
enquanto as crianças correm para lá e para cá.
O jornalista já está sem gravata. Na verdade, ele a arrancou
assim que terminamos de jogar arroz na cabeça das noivas. É claro
que eu o fiz colocar de volta, porque ainda teríamos centenas de
fotos para tirar.
Ele não gostou nada disso.
Dou risada sozinha e acabo chamando a sua atenção.
Seu olhar encontra o meu, e ele sorri de lado.
– Do que está rindo? – questiona, virando-se para mim.
– De você e de sua aversão a gravatas.
Ele ri, tomando um gole de champanhe.
– Gravatas são superestimadas – afirma, me fazendo rir.
– Eu acho que você fica muito bem com elas.
O olhar sedutor que me lança, causa um espasmo entre
minhas pernas.
– Consigo pensar em coisas muito mais interessantes que
poderia fazer com uma gravata. – Umedece os lábios e se aproxima
para sussurrar. – Todas elas, envolvem você nua.
Sinto minha calcinha molhar e cruzo as pernas na cadeira.
Arthur desce os olhos até minhas pernas, que ficaram de fora,
devido à fenda do vestido.
– É muito estranho eu já estar com saudade de foder sua
boceta? – diz no meu ouvido, antes de morder meu lóbulo.
– Não… Não é – sussurro e sinto seu sorriso contra minha
pele.
– Vocês dois, há vários quartos disponíveis nesta casa –
Alfred fala, fazendo-se ser ouvido por todos.
Sinto meu rosto queimar, e Arthur lança um olhar astuto para
o irmão.
– Por que, Alfredo? Está precisando de um?
– Não preciso de um quarto, moleque. – Ele segura a taça de
champanhe próxima à boca. – Cuidei da minha esposa no banheiro
mesmo.
Antony engasga com a bebida, Rebeca escancara a boca,
Letícia solta uma gargalhada alta, e Milene tenta disfarçar o riso,
enquanto bebe uma taça de vinho.
Arthur fica tão chocado quanto eu, que leva bons segundos
para dizer alguma coisa.
– Qual é o lance de vocês com lugares públicos?
Alfred dá de ombros.
– Proibido é sempre mais gostoso.
– Cristo Amado. – Antony passa a mão pela testa.
Dessa vez eu rio, fazendo uma nota mental para um dia
perguntar à Letícia que papo é esse.
Conversamos por mais um tempo, assistimos às noivas
fazerem a primeira dança, até que o DJ começa a tocar a música “At
Last”, da Etta James. Vários casais, incluindo as noivas recém
casadas, se preparam para dançar.
Arthur segura a minha mão, me fazendo olhá-lo.
– Dança comigo, formiguinha?
Sorrio.
– Danço.
Nos levantamos, e as primeiras estrofes da bela música,
iniciam quando entramos na pista de dança.
Arthur segura a minha cintura com uma mão, e minha mão
direita com a outra. Sem qualquer hesitação, nossos corpos
começam a dançar em uma sincronia perfeita.
Prendemos o olhar um no outro. Seus olhos castanhos tão
alegres, me fazem desejar me perder neles.
Me perder em Arthur.
À medida que dançamos, rodamos e balançamos conforme a
música, tenho aquela sensação de pertencimento.
De estar onde deveria estar.
Mesmo que tudo tenha começado com uma mentira, com um
acordo entre duas pessoas que não se gostavam, eu nunca quis
tanto, que algo fosse verdade.
Que o falso se tornasse real.
Porque, para mim, é mais que real.
É como uma tatuagem. É permanente.
Arthur se curva, descendo o rosto até o meu ouvido, e eu
levo alguns segundos para perceber que está cantando e traduzindo
a música.
– Eu encontrei um sonho, que eu posso falar. Um sonho que
posso chamar de meu. Eu senti uma emoção apertar minha
bochecha. Uma emoção que eu nunca havia conhecido. – Fecho os
olhos, ouvindo sua linda voz rouca. – Ohh, sim, sim. Você sorriu,
você sorriu. Oh, e assim o encanto foi lançado. E aqui estamos nós,
no paraíso. Pois você é meu enfim.
Arthur ergue delicadamente meu rosto com os dedos e beija
a minha boca. Seus lábios me beijam com tanto carinho, que sinto
algo apertar meu peito.
É bom e ruim. E me causa medo.
Medo de não ter mais disso.
Nossas bocas se separam, e nossas testas se tocam.
Inspiro seu cheiro bom, tocando seu rosto com a barba bem
feita.
– O que estamos fazendo, Arthur? – sussurro.
– Estamos dançando conforme a melodia – responde no
mesmo tom.
– Eu não sou uma boa dançarina.
– Nem eu sou. – Nos olhamos. – Mas eu não preciso ser um
bom dançarino. Preciso apenas dançar conforme o seu ritmo.
– E se eu pisar no seu pé? E se doer?
– Eu aguento. Tudo o que você me der, eu aguento,
Penélope.
Uma emoção vagueia por mim, por saber que não estamos
falando da nossa dança.
Estamos falando de nós. Disso.
Respiro profundamente, quando meus pensamentos
começam a ficar confusos. Escolho contar a ele como me sinto.
Pelo menos, uma parte.
– Eu… Eu acho que não te odeio.
Ele me lança aquele sorriso. O sorriso que me fez me
apaixonar por Arthur.
– Eu sei. Eu sempre soube.
Eu não me lembro da última vez que tive ressaca.
Provavelmente foi na faculdade, depois da formatura.
Naquela vez, minhas amigas e eu fizemos a loucura de inventar a
noite da Tequila e, bom… Nunca mais fizemos aquilo.
Hoje, eu acordei com uma ressaca horrível. Tudo por conta
da festa de ontem. Mais especificamente, quando o DJ começou a
tocar as músicas agitadas e clássicas, que todo mundo ama.
Foi ali que tudo desandou.
Eu, Arthur, Alfred, Letícia, Milene, Thays, Larissa e mais uns
primos um pouco mais jovens ou da nossa idade, começamos a
beber e dançar como se não houvesse amanhã.
É sério.
Esquecemos completamente que haveria um dia seguinte.
A gente bebeu pra caramba, vi Alfred sarrar a esposa,
enquanto esta tinha as mãos no chão e a bunda para cima. Milene
deu um show, mesmo que não saiba dançar muito bem e aproveitou
que estava todo mundo bêbado para se soltar. Thays e Larissa só
se beijavam. Rebolavam e se beijavam no meio de todos, e a cada
dez minutos, nos diziam o quanto nos amavam.
No entanto, acho que nada, nem ninguém, vai superar Arthur
me ensinando a fazer o quadradinho.
Das minhas amigas, a que sabe fazer isso com maestria é
Diana. Aquela lá tem molas no lugar da coluna e faz movimentos
com a bunda, que deveriam ser estudados.
Como não sou igual à minha amiga, no momento em que
começou a tocar algum funk da Anitta, eu fiquei triste, porque não
sabia fazer como a cantora. Foi então que meu companheiro e
especialista no assunto “Anitta”, colocou as mãos nos joelhos e
começou a me ensinar.
Eu até aprendi, mas ninguém supera o homem requebrando
perfeitamente daquele jeito.
Eu já disse que Arthur tem uma bunda muito redonda e
durinha?
Tudo para colaborar com o melhor quadradinho de todos.
Dançamos, rimos e cantamos pra caramba, até que Letícia
sugeriu que todo mundo subisse e transasse.
Milene ficou triste.
Saiu de lá batendo o pé no chão, mesmo que Larissa tenha
dito que arrumaria um primo dela para a minha irmã.
Entretanto, ela não quis e foi dormir.
O resto adorou a ideia, e fomos todos para nossos quartos.
Alfred e Letícia aproveitaram que os filhos ficaram com os avós, as
noivas já tinham uma edícula separada para elas, e eu e Arthur
subimos aqueles três lances de escada correndo.
Literalmente correndo.
Tropeçamos nos nossos pés, nos degraus, no ar e ríamos
toda vez que isso acontecia. Às vezes, ele me mandava ficar quieta,
às vezes, eu o fazia, apenas para que no fim, caíssemos na risada.
Quando finalmente chegamos no nosso quarto, entramos aos
beijos e morrendo de tesão. Tropeçando nos próprios móveis do
cômodo, tiramos, sei lá como, nossas roupas, sem desgrudar
nossas bocas.
Quando estava apenas de calcinha, e ele de cueca, Arthur
ergueu a gravata rosa no alto e gritou para casa inteira que ia
transar com a gravata.
Aí ele ficou confuso e explicou que iria transar usando a
gravata.
Começou a dizer palavras sujas para mim, beijar meu corpo,
meus peitos, eu alisei seu corpo tatuado, apertei sua bunda, e nossa
excitação só aumentava.
Caminhamos para a cama, nos agarrando e fazendo
promessas e mais promessas, e, quando caímos em cima do
colchão, nós dormimos.
Sim, exatamente isso.
Com meu rosto ainda lotado de maquiagem, um cílio postiço
sumido, Arthur com uma mão no meu seio, e a outra segurando
firmemente a gravata, caímos num sono profundo.
Eu estou verdadeiramente impressionada com o fato de me
lembrar de tudo isso. Acordamos na hora do almoço, ambos com
uma ressaca do cão.
Olhamos um para a cara do outro, vimos nosso estado e
rachamos de rir, ao nos lembrarmos do fiasco da noite anterior. Nos
aprontamos para ir embora, tomamos remédios para dor de cabeça
e descemos para comer alguma coisa.
Encontramos Milene com cara de poucos amigos, comendo
em uma das mesas do jardim e nos juntamos a ela.
Quando comentamos sobre ir embora, a loira disse que
ficaria mais esse dia, para conhecer pelo menos um pouco de
Brotas, a convite de Alfred e Letícia, e pegaria carona com eles à
noite.
Portanto, Arthur e eu pegamos a estrada logo no início da
tarde, e estamos agora, a caminho da minha casa.
Gostaria de dizer que estamos bem, que conversamos o
caminho todo, nos lembrando de ontem e rindo de tudo. Porém, não
é isso o que está acontecendo.
Não quando fui me despedir dos pais, do irmão, da cunhada
e dos sobrinhos de Arthur, e a realidade caiu como um piano de
cauda sobre a minha cabeça.
O casamento acabou.
Consequentemente, o namoro de mentirinha também.
Agora, dentro do carro de Arthur, olho para o céu com nuvens
carregadas, sentindo uma dor espremer o meu peito.
A mudança de clima e humor de poucas horas atrás para
agora, é palpável.
Em duas horas de viagem, nós não dissemos nada.
Eu mal olhei em sua direção.
Tudo, porque eu não sei o que fazer. Não sei o que falar.
Eu topei esse acordo, pensando que seria apenas um
negócio vantajoso para nós dois. Sabia perfeitamente que Arthur
não tem e nunca teve, nenhum interesse em relacionamentos
sérios.
Quando aceitei me deitar com ele e deixá-lo fazer o que
quisesse com o meu corpo, fiz plenamente ciente de que seria
passageiro.
Eu só não contava que sairia completamente apaixonada
desse namoro de mentira.
Solto um longo suspiro no momento em que viramos a
esquina da minha casa, e pingos grossos de chuva começam a cair
do céu.
Por que a vida não pode facilitar para mim só um pouquinho?
Por que meu coração tinha que se envolver?
Era para ser apenas sexo. Duas pessoas satisfazendo suas
necessidades básicas.
Mas aí ele sorriu para mim, me fez rir, cuidou de mim e me
deu uma despedida para minha filha, e pronto.
Meu coração se apaixonou.
E eu me fodi, é claro.
Não posso pedir isso a ele. Arthur é um espírito livre. Gosta
de ser desapegado e ficar com outras mulheres.
Jamais abrirá mão desse seu lado, por mim.
Para ficar com apenas uma mulher.
Simplesmente, não consigo dividi-lo com ninguém. Não
consigo… não me envolver.
Então, terei que seguir em frente sem o meu Arthur.
Paramos em frente à minha calçada, ele desliga o carro, e
apenas a chuva caindo lá fora, é ouvida por nós.
O nervosismo em mim, faz minhas mãos suarem, e não
colabora em nada para o que tenho que fazer.
Respiro fundo e viro meu rosto para o homem que fodeu meu
coração.
Seu olhar é de confusão. E um pouco aflito.
Provavelmente, está sem graça por ter que terminar nosso
acordo.
Resolvo fazer isso eu mesma, o poupando do
constrangimento.
– Então… É isso – falo pateticamente.
– É isso…
Ficamos nos olhando de um jeito esquisito, e aquela dor no
meu peito, aumenta.
Sinto meus olhos umedeceram e um bolo se formar na minha
garganta. Tento assumir a postura de empresária e lidar com a
situação de forma racional, porém não consigo.
Não quando me lembro de tudo o que tivemos e de tudo o
que ele me fez sentir em um pouco mais de um mês.
Preciso acabar logo com isso, antes que chore na sua frente
como uma criancinha.
Abro a boca para dizer algo, mas nada sai. Sinto como se até
meu corpo não quisesse que isso tudo termine.
Assim como meu coração.
Arthur segura a minha mão e se aproxima.
– Penélope… – Sua voz rouca faz meu coração disparar
mais, e eu não aguento.
Solto sua mão da minha e seguro minha bolsa de colo com
firmeza.
– Então tá. Agradeço por ter topado essa farsa comigo. Você
me ajudou muito mais do que eu esperava então, serei eternamente
grata.
– O quê? Não, Penny, espera…
– Não precisa se preocupar comigo. Prometo nunca mais te
incomodar com uma loucura dessas. – Solto uma risada nervosa e
puxo a fechadura da porta. – Foi uma loucura, né? Fingir um
relacionamento na frente das pessoas.
– Penélope, preciso que me ouça…
– Hoje mesmo, eu apago nossas fotos das redes sociais e
começo a espalhar por aí que fiquei solteira de novo. – Abro a porta.
– Não terá que se incomodar comigo nunca mais.
– Penny, para!
– Obrigada mais uma vez, foi… divertido.
Saio como um raio de dentro do carro, apenas para ficar
totalmente ensopada em poucos segundos.
As primeiras lágrimas caem do meu rosto, conforme vou
andando até o portão da minha casa.
Contudo, no momento em que o abro, uma mão segura meu
braço e me faz girar no lugar. Minha mochila cai no chão, ao mesmo
tempo que os lábios mais gostosos que já provei na vida, grudam
nos meus.
Arthur me beija fervorosamente, segurando meu rosto, e nos
encharcando completamente.
Sua língua não pede passagem, ela exige.
E, como uma boa mulher apaixonada, eu sedo. Seguro seus
braços e me entrego ao melhor beijo de todos.
Nenhum outro beijo será como este. Nenhuma outra pessoa
será como ele. Nada se compara a Arthur, e isso esmaga meu
coração mais um pouquinho.
Ele separa nossas bocas e, mesmo com a chuva caindo
sobre nós sem parar, ele me olha nos olhos.
Respirando com dificuldade, assim como eu, ele fala por cima
do barulho da chuva.
– Por que você não pode calar a boca por um segundo?
– Arthur, eu…
– Eu não quero que acabe. – Meu coração para. – Eu não
quero que acabe, está me ouvindo? Não quero.
– Mas… Mas…
– Se tivesse me deixado falar e não saído daquele carro,
desesperada, saberia que eu estou completamente apaixonado por
você.
E então, silêncio.
A chuva nos molha, enquanto meu cérebro fica em absoluto
silêncio.
Apaixonado por você.
Apaixonado por você.
Apaixonado por você.
Apaixonado por você.
Suas palavras ecoam por minha mente. Meu corpo
estremece, e eu tenho certeza de que não tem nada a ver com a
chuva.
– Ap-paixonado? – gaguejo.
– Sim. – Ele sorri.
– Por mim?
– Sim. Por você. – Ele ri e passa a mão nos meus cabelos. –
E não quero que isso, que a gente, acabe. Quero ficar com você, só
você.
– Mas… Mas eu pensei que você não quisesse se relacionar
com uma pessoa só.
Ele dá uma risada, mostrando os dentes brilhantes em um
sorriso genuíno.
– Como eu posso querer outra coisa, se estou absoluta e
irrevogavelmente rendido por você?
Ai, meu Deus.
– Arthur…
– Eu sou rendido por você. Em você. Para você, Penélope. –
Aproxima o rosto do meu. – Eu sou todo seu, minha deusa. Em
você, eu me encontro.
Meu peito sobe e desce em uma respiração acelerada. Meu
coração parece querer pular do meu peito.
É felicidade.
A mais pura e maravilhosa, felicidade.
Abro um sorriso, segurando seu rosto entre as mãos e
sentindo a pele quente, mesmo em meio à chuva fria.
– Eu também me encontro em você, Arthur.
– Diz que quer ficar comigo. Diz que quer ser minha
namorada, minha mulher, minha amiga, minha companheira. Por
favor, diz que quer ser minha.
– Eu quero. É claro que quero.
Ele ri.
Arthur joga a cabeça para trás e solta uma gargalhada alta e
gostosa.
Ah, como eu amo esse som.
Ele pega minha mochila do chão e me puxa para dentro de
casa.
No momento em que entramos e fechamos a porta, nossas
bocas se chocam de novo.
De algum jeito, chegamos no meu quarto. De algum jeito,
tiramos nossas roupas. De algum jeito, entramos no banheiro.
Sem pararmos de nos beijar.
Nossos lábios se separam, apenas para que Arthur ligue o
registro, teste a temperatura da água e só então, estenda a mão
para que eu entre no box com ele.
Ele me abraça por trás, enquanto entramos debaixo da água
quente, beijando meus ombros, meu pescoço.
Eu aprecio a sensação, sentindo meu corpo se aquecer com
a água e com o seu toque. Seu pau já rígido, toca as minhas costas.
Arthur me vira e me beija com ternura. Sua boca se encaixa
na minha daquele jeito mágico e único, me fazendo suspirar em
seus lábios.
Ele se afasta, apenas para descer até o meu pescoço. Solto
um gemido baixo, quando sua boca espalha beijos por minha pele,
quando ele me lambe e me morde, ao passo que passeia as mãos
pelo meu corpo.
Sua palma e seus dedos calejados, causam um atrito gostoso
e arrepiam minha pele.
Arthur segura meu rosto entre as mãos e mira dentro dos
meus olhos.
– Você é minha, Penélope? – Seu tom de voz rouco e
autoritário, faz minha boceta piscar.
– Sim, eu sou sua.
– Toda minha?
– Cada parte de mim.
– Seu corpo é meu? Seu coração? Sua alma? – pontua cada
coisa de forma precisa.
– Tudo. Tudo o que há em mim é seu.
– Ótimo. Porque eu também sou seu, Penélope. Nunca
duvide disso, está me ouvindo?
– Sim.
– E o que eu faço com o que é meu? – Sua língua umedece
seu lábio carnudo.
Arranho seu abdômen, até alcançar o caminho de pelos até
seu pênis.
– Você faz o que você quiser, meu bem.
Seu sorriso de lado poderia matar qualquer um.
– Perfeito. Boa garota.
Arthur nos faz trocar de lugar, fazendo a água do chuveiro
cair em suas costas. Seu olhar sobre mim, arde como fogo do
inferno, incendiando cada gota de sangue no meu corpo.
– Ajoelhe-se.
Ordena, e eu me ponho de joelhos.
Sem hesitar.
Ele sorri, gostando do meu ato de obediência.
Uma mão repousa em minha bochecha, fazendo um carinho,
para logo em seguida, seu polegar tocar meus lábios e pedir
passagem para a minha boca.
Eu a abro, ele o enfia dentro, e eu o chupo com força.
Arthur sibila quando sugo seu dedão, e seu pênis se contrai.
– Segure meu pau e bata uma punheta.
Feliz em obedecer, seguro o seu membro duro como pedra e
faço movimentos lentos e precisos.
Arthur roda o dedo dentro da minha boca, tira e põe,
gemendo e mordendo os lábios no processo.
Eu continuo tocando-o e chupando-o com força.
Completamente ao seu dispor.
Ele retira o dedo, segura o seu pau e passa a acariciá-lo em
meu rosto. Ele passa por minha bochecha e pelos meus lábios,
observando a cena completamente vidrado.
– Você é tão linda, minha deusa. Nunca ninguém me fez
sentir tanto tesão quanto você. – Coloco a língua para fora, quando
passa por minha boca novamente. – Vou gozar em você assim, bem
nesse rostinho perfeito. Me chupe. Agora.
Seu pau entra em minha boca, um segundo depois.
Arthur geme e rosna ao mesmo tempo, quando minha boca o
envolve, e minha língua circula sua glande.
Sem quebrar o contato de nossos olhos, sugo seu pau com
vontade, sem nunca deixar de lambê-lo. O homem puxa os cabelos
do meu couro cabeludo com firmeza, me fazendo gemer com ele
ainda enfiado dentro da minha boca.
Ele solta diversos impropérios, conforme subo e desço sem
hesitar. Seu quadril começa a ir para frente e para trás, ainda de
forma controlada.
– Sua puta, gostosa. Essa boca em volta do meu pau é do
caralho, Penélope. – Minha mão masturba a parte que minha boca
não alcança, e ele contrai o maxilar. – Se toque. Quero que você
goze comigo.
Sem qualquer domínio sobre meu próprio corpo, levo minha
mão direita até o meio das minhas pernas.
Assim que meus dedos tocam meu clitóris, eu solto um
gemido alto. Estou totalmente excitada, e meu orgasmo não vai
demorar muito para chegar.
– Isso, deusa. Agora massageie seu clitóris devagar.
Sem soltar seu pau da minha boca, sigo o seu comando mais
uma vez. Meus olhos se fecham por alguns segundos, quando o
tesão se alastra por todo o meu corpo.
Ponho a língua para fora, lambendo seu membro de cima
para baixo e gemendo junto de Arthur.
– Agora… – Ele engole em seco e respira fundo,
provavelmente alcançando o seu limite. – Agora desça seus dedos
por seus lábios e espalhe sua lubrificação por toda a sua bocetinha.
Uso dois dedos para fazê-lo, remexendo meu próprio quadril
e chupando a cabeça do seu pau simultaneamente.
Mais palavrões deixam a boca de Arthur, e se a minha boca
não estivesse ocupada, eu faria o mesmo.
Aliso toda a minha boceta, espalhando a lubrificação por toda
a parte, sempre voltando para estimular meu clitóris.
Arthur segura meus cabelos com mais força e passa a
movimentar o quadril com mais afinco.
Relaxo a garganta e o recebo sem problemas.
– Agora… Enfie… dois dedos… em … você… Porra! – ele
manda, mesmo que esteja cada vez mais sem controle.
Faço como me foi ordenado, entrando com cuidado e me
concentrando em respirar.
Mas é difícil.
Arthur socando na minha boca, e meus dedos me
masturbando, é demais para mim, e meu orgasmo chega sem aviso.
Estremecendo violentamente, solto seu pau da minha boca
por uns segundos, para gritar seu nome enquanto gozo.
Reviro os olhos, sentindo aquela sensação avassaladora
dominar meu corpo.
Arthur se masturba rapidamente e em poucos segundos, está
gozando na minha cara.
Abro a boca e jogo a língua para fora, recebendo seus jatos
de porra.
Ele joga na minha boca, na minha bochecha, no meu queixo,
e eu sinto seu gozo escorrer até meu pescoço.
– Caralho! – ele sussurra, fechando os olhos e apoiando as
mãos no azulejo ao lado.
Aproveito para respirar algumas vezes, curtindo a sensação
magnífica pós-orgasmo.
Em um passe de mágica, Arthur está me pondo de pé, me
enfiando debaixo d'água e beijando minha boca.
Com força, paixão e urgência. Exigindo mais e mais de mim.
Seus lábios descem por meu pescoço, minha clavícula e
alcançam meus seios.
Sem esperar um segundo, ele abocanha um mamilo e o
chupa com força.
– Arthur! – grito, segurando seus cabelos e puxando seus fios
castanhos.
Sua mão apalpa o outro seio, e sua língua lambe minha pele
inteira.
Minha boceta palpita, louca pelas sensações que Arthur me
causa e pronta para recebê-lo. Sua boca desgruda do meu peito,
apenas para ir até o outro, que recebe a mesma atenção.
A água quente descendo por minhas costas, colabora para
que eu me sinta queimar, mais e mais, a cada segundo.
Logo, os lábios de Arthur seguem o caminho para baixo, até
que esteja de joelhos na minha frente e segurando minha cintura
firmemente.
Sem qualquer aviso, ele fecha a boca ao redor do meu
clitóris, me fazendo revirar os olhos e ver estrelas.
Eu me remexo, mesmo que seu aperto me mantenha no
lugar, soltando gemidos descontrolados e cada vez mais altos.
Ele passa a língua por entre meus pequenos e grandes
lábios, me chupa com vontade e rosna contra a minha pele.
Arthur parece um animal enjaulado.
Sua mão direita segura meu calcanhar e abre mais minhas
pernas. Essa mesma mão, vai até a minha boceta e enfia de uma
vez, três dedos na minha entrada.
– Puta merda, Arthur. – Quase arranco seus cabelos, de tanto
puxar.
Meu corpo fica tenso, sentindo seus lábios me chuparem, sua
língua rodear meu clitóris, e seus dedos me castigarem.
Até que eu jogo a cabeça para trás, gemendo loucamente em
um orgasmo arrasador.
Sua mão firme me mantém no lugar, enquanto meu corpo
treme, e minha cabeça gira.
Sensível demais, começo a empurrar a cabeça de Arthur
para longe, mas ele não me dá trégua. Suga tudo de mim, até que
quase desfaleça em suas mãos.
Assim que se põe de pé, sua mão agarra minha garganta
com força. Ele beija a minha boca com agressividade, mordendo
meus lábios e sugando minha língua.
– Você vai gozar de novo – determina, me fazendo arregalar
os olhos.
– Misericórdia… – sussurro, e o aperto em minha garganta se
intensifica.
– Está pedindo misericórdia a Deus ou a mim?
Abro um sorriso diabólico, adorando ter seus dedos ao redor
do meu pescoço.
– Responda, putinha – exige, afrouxando o aperto.
– A você. Peço a você.
Arthur inclina a cabeça, passa a língua por meus lábios e
depois por meu pescoço, até alcançar minha orelha.
– Deveria ter feito uma oração, Penélope. Porque eu não
serei misericordioso.
Em um piscar de olhos, Arthur segura a minha bunda e me
lança para cima. Ignorando a parede ao lado por completo, ele
encaixa a parte de trás dos meus joelhos na curva dos seus braços.
Seguro em seus ombros, sentindo uma aflição, por estar sem
nenhum apoio, porém os braços fortes do homem, me seguram sem
nenhuma dificuldade.
Sem precisar usar assistência da parede, suas mãos grandes
agarram minha bunda, encaixando a entrada da minha boceta em
seu pênis e iniciando uma descida lenta por toda a sua extensão.
– Caralho, que boceta apertada que você tem, Penélope.
Puta que pariu. – Mordendo os lábios, ele continua descendo o meu
corpo, até que esteja totalmente dentro de mim.
Um gemido arrastado deixa minha garganta, adorando a
sensação de ser preenchida por ele.
Rebolo, fazendo Arthur soltar um gemido e apertar mais a
carne da minha bunda e cintura.
Contraio as paredes internas da minha vagina, e ele me
aperta mais.
– Porra, faz isso de novo – exige, entredentes.
E eu faço. Ele rosna.
Sua boca beija a minha, e seus braços começam a nos
movimentar. Seu quadril vem de encontro a mim, enquanto subo e
desço no seu colo.
Os movimentos são lentos a princípio, mas como tudo com
Arthur é intenso demais, suas estocadas rapidamente se tornam
mais violentas.
Tentamos nos beijar em meio aos gemidos que saem de
nossas bocas, e seu pau entra e sai de mim, deliciosamente.
A cada segundo, os movimentos aumentam e aceleram, sua
pélvis faz um barulho alto quando entra em contato com minha pele,
e seu pau entra cada vez mais e mais fundo.
Minhas unhas arranham sua pele, meus dentes mordem os
seus lábios, e suas mãos apertam minha bunda cada vez mais forte.
Nossa! Essa, sem dúvidas, é a melhor de todas as fodas.
Ajudo com os movimentos o máximo que posso, entretanto
Arthur é implacável. Me faz subir e descer, e deslizar por seu
membro rígido, sem vacilar nem um único segundo.
Sinto minha boceta rasgar por dentro de um modo esplêndido
e minhas paredes internas voltarem a se contrair
Transar com Arthur é tudo o que há de melhor. E estarmos
apaixonados, apenas ajuda para que eu tenha as melhores
sensações.
Mordo o lábio no momento em que o terceiro orgasmo se
aproxima, e o homem gostoso me fodendo, percebe.
– Vai continuar sendo uma boa garota e me obedecer de
novo, Penélope? – Aceno com a cabeça, incapaz de dizer algo. –
Isso. Muito bom. Então goza no meu pau, putinha. Lambuza ele,
para que eu possa te encher de porra.
Meu corpo simplesmente o obedece.
Quando seu pau sai e entra de novo com firmeza, estou
gozando e gritando seu nome a plenos pulmões.
Com mais três estocadas curtas, Arthur finalmente se junta a
mim.
Gozando quente dentro da minha boceta.
Rapidamente, me apoia na parede, parecendo perder todas
as forças que o mantiveram de pé esse tempo todo.
Saindo de mim e respirando pesadamente, me põe no chão e
se afasta um pouco, para olhar em direção à minha vagina. Sinto
seu esperma escorrer por minhas pernas, causando um arrepio na
minha pele.
– Você é a mulher mais linda que existe, Penny. – Sua mão
segura minha bochecha com carinho. – Mas consegue ficar ainda
mais, com a minha porra em sua pele.
Sorrio, me apoiando em seu peito e tentando me manter de
pé.
– Você… é louco.
Seu sorriso se abre, e ele beija minha boca em seguida.
– Sou completamente louco por você, deusa.
Nos abraçamos e voltamos a nos beijar.
Trazendo aquela sensação de conforto ao meu coração de
novo.
Não acabou. Ele quer ficar.
Eu mal posso acreditar nisso.
Levamos um susto com uma batida leve na porta e
desgrudamos nossas bocas na hora.
– Quando resolverem parar de gastar água e energia,
venham tomar um café – minha mãe fala, do outro lado.
– Jesus Cristo, eu esqueci da minha mãe – murmuro
baixinho.
– Você esqueceu da sua mãe e do resto da vizinhança, né? –
fala, e eu poderia morrer de vergonha aqui mesmo.
– Já vamos sair, sogrinha – Arthur grita, segurando o riso.
Ao percebermos que minha mãe não diz mais nada, nos
limpamos rapidamente e saímos do box.
Enrolados em uma toalha, observo o sorriso bobo nos lábios
de Arthur e pergunto:
– Por que está sorrindo assim? – Ele me fita, sem perder a
expressão alegre.
– Porque eu amo estar apaixonado por você, linda. – E eu
sinto borboletas no estômago. – Vamos nos vestir. Quero tomar o
melhor café do mundo.
E com um beijo rápido, abre a porta e sai para o quarto.
E eu?
Eu sorrio como boba.
As férias, sem sombra de dúvidas, acabaram.
Na segunda-feira pela manhã, toda a energia caótica que
meu trabalho me proporciona, voltou com tudo, não me dando
nenhum minuto de paz.
A vantagem, é que manterei Luisa como minha secretária. De
maneira excelente, ela me passou todos os detalhes que não fiquei
sabendo enquanto estive fora e a forma como lidou com tudo.
Desde os problemas, até as situações mais simples.
A mulher é um crânio.
Pesquisou as vans mais econômicas do mercado, pois já
estava atrás dessa informação para melhorar a forma de entrega
dos meus produtos. Lidou com as crises que algumas lojas tiveram,
envolvendo clientes ou até mesmo, os próprios funcionários. E o
melhor de tudo, conseguiu lidar com a bendita fábrica de farinha.
Graças ao bundão do meu ex, acabei não ligando para eles,
como havia dito, e ela nem esperou que eu o fizesse. Pegou o carro
e foi pessoalmente lidar com os responsáveis.
Os superiores não demonstraram desrespeito, mas ela
contou que teve que passar bons minutos apontando todos os
problemas que eles vêm causando para nós e o prejuízo de tudo
isso.
Não satisfeita e se compadecendo da minha dor de cabeça
semanal com esses caras, também fez uma busca pelas melhores
opções no mercado.
Até o momento, não chegamos a nenhuma conclusão. Sendo
assim, teremos que aguentá-los por mais tempo.
Mais especificamente, agora.
Estou parada na entrada da área de descarregamento de
carga, com as mãos na cintura, batendo o pé no chão e olhando
furiosamente para o fundo vazio do caminhão.
Eu já nem tento mais respirar fundo e acalmar meus nervos,
porque já estou nervosa o suficiente.
Aponto com a mão na direção do caminhão e olho para o
entregador.
– Que porcaria é essa, Ronaldo? – O homem segura o boné
na mão com força e, diferente da última vez, olha para mim com
receio.
– Me disseram que era essa a entrega – responde.
Inspiro uma lufada de ar, me esforçando de verdade, para
não surtar.
– Isso não é nem de longe a quantidade que eu solicitei,
Ronaldo.
– Eu sei, dona Penélope. Eu falei pra eles. Disse que tava
estranho demais, mas eles falaram que essa semana seria uma
entrega menor.
Miro minha secretária ao meu lado, lançando para ela, um
olhar questionador. A mulher rapidamente liga o tablet na sua mão,
chega perto de mim e me mostra o pedido feito há duas semanas.
Pego o aparelho de suas mãos, levo até o homem, que dá
um leve passo para trás, quando me aproximo.
– Está vendo isso aqui, Ronaldo? É a confirmação do pedido
há mais de quinze dias. O que diz aqui no final da solicitação?
Ele aperta os olhos e quando entende, me olha, alarmado.
– Isso mesmo. Eu pedi quinhentos quilos de farinha de trigo,
Ronaldo. Quantos quilos você me trouxe no caminhão?
Ele faz uma careta de dor e me encara com angústia em
suas feições.
– Cinquenta.
– Exato. Cinquenta míseros quilos de farinha. E sabe,
Ronaldo… – Eu devolvo o aparelho à minha secretária e apoio a
mão no ombro do cara. – Eu estava com um excelente humor, mas
isso acabou com ele.
– Eu vou falar com eles, dona Penélope. Vou xinga-los e
pedir para que se retratem com a senhora – ele fala, todo
determinado, e é até admirável.
– Não será necessário, querido Ronaldo. Porque eu já sei
onde vou descarregar todo esse estresse que sua entrega me
causou.
Seus olhos se tornam enormes.
– A culpa não foi minha. Eu juro. Eu só subo no caminhão e
faço as entregas…
– Fica tranquilo, que eu sei muito bem que a culpa não foi
sua. – Viro-me para minha assistente. – Luisa, vou aceitar apenas a
entrega completa do produto que eu comprei, então veja se temos
estoques sobrando nas outras lojas, por enquanto, até que eu
resolva isso.
– Está feito, chefe.
Dou as costas para ambos, ciente de que Luisa lidará com o
pobre entregador.
Entro em minha sala minutos depois, já retirando o celular do
bolso.
O número deles está nas minhas últimas ligações, então em
poucos segundos, já estou ligando.
A próxima meia hora é transcorrida comigo colocando para
fora toda a frustração que a fábrica tem me feito passar nos últimos
tempos. Sem precisar gritar, uso de todos os argumentos possíveis,
para mostrar a eles que me irritar, é a pior decisão que poderiam
tomar.
Eu meto a influência do meu estabelecimento na jogada, a
entrevista no melhor jornal econômico do estado, e até meus
advogados são mencionados.
Tudo para que entendam que é uma péssima ideia tratar o
meu trabalho e o da minha equipe, desse modo.
É libertador.
Encerro a ligação com a cabeça doendo de tanto falar e com
esperanças de que possa surtir efeito dessa vez.
Sento-me em minha cadeira, fechando os olhos por alguns
segundos, até sentir meu celular vibrar com uma mensagem.
Normalmente, ignoraria qualquer conversa que não
envolvesse meu trabalho, porém assim que vejo que é de Arthur, um
sorriso genuíno brota em meu rosto, e eu me apresso para abrir a
conversa.
Peste: E aí, minha deusa. Como está sendo sua manhã,
depois de ter dois orgasmos incríveis assim que acordou?
Solto uma risada, ao mesmo tempo que meu corpo vibra, ao
lembrar de hoje cedo.
Eu:
Você só pensa nisso?
Peste: Em você nua e gozando na minha cara? Vinte e
quatro horas por dia.
Mando vários emojis de risada, enquanto gargalho na minha
sala.
Eu:
Você é muito pervertido.
Peste: Eu e minha namorada bunduda e gostosa.
Mordo o lábio, sorrindo fácil ao ler a palavra namorada.
A melhor parte de tudo isso, é que tivemos que contar a
poucas pessoas que continuaríamos namorando, já que para a
maioria, isso já estava acontecendo há um mês.
Eu:
Respondendo à sua pergunta. Minha manhã já começou me
tirando do sério.
Peste: Me deixa adivinhar, a fábrica de farinha.
Eu:
A própria.
Peste: Mas que merda, hein. Por que você não compra logo
essa porcaria? Assim nunca mais terá problemas com a produção e
a entrega, e ainda fará um trabalho dez vezes melhor do que eles.
Solto uma risada alta e irônica, mesmo que ele não possa
ouvir.
Seria um sonho.
Eu:
Seria maravilhoso, mas não tenho dinheiro para isso. Não
agora. Vou ter que aguentá-los por mais um tempo.
Peste: Que bom que você tem um namorado bilionário e que
facilmente pode comprar essa simples fábrica pra você.
Eu:
Não diga besteiras, homem.
Peste: Eu ainda vou surgir na sua frente com o contrato de
compra do lugar. Me aguarde.
Dou risada, porém digito uma resposta, apenas para garantir
que ele não cometa essa loucura.
Eu:
Não ouse fazer isso, Arthur Rabello. Não precisa gastar esse
dinheiro comigo. Mesmo que não vá fazer cócegas em sua fortuna.
Peste: Hum… Tá certo.
Sua resposta vaga me deixa intrigada, mas logo em seguida,
ele está digitando de novo.
Peste: Tenho uma coisa aqui, que pode te alegrar.
Eu:
O que é?
Alguns segundos depois, um vídeo aparece na conversa.
Clico, para ver o que é, e sorrio ao entender do que se trata.
Nas imagens, estamos no boliche da cidade, naquele nosso
primeiro encontro como um casal. Eu estou fazendo os movimentos
perfeitos com a bola, enquanto Arthur e todas as pessoas do lugar,
permanecem esperando em silêncio.
A bola rola pela pista e faz o strike perfeito.
Gritos, assovios e aplausos ecoam por todo o lugar, ao
mesmo tempo que uma chuva de papel colorido cai para todo o
lado.
A melhor parte do vídeo, vem em seguida, quando Arthur
grita e comemora com os braços para cima, e eu berro, correndo em
sua direção.
Sem hesitar e como se estivesse pronto para aquilo, ele me
pega assim que me jogo em seus braços.
Começo a dar risada do vídeo, reproduzindo-o várias vezes.
Arthur e eu estávamos longe de sermos um casal de
verdade, entretanto nossa troca de olhares nesse vídeo, mostra o
quanto um já afetava o outro.
Penso em mandar uma mensagem de volta, só que mudo de
ideia e inicio uma ligação.
Arthur atende no segundo toque.
– Onde conseguiu isso? – pergunto, sorrindo de orelha a
orelha.
– Essa preciosidade foi enviada para mim, logo depois
daquele dia. Eu acabei perdendo a mensagem em meio às dezenas
que eu tenho diariamente e a encontrei por acaso.
– Meu Deus, esse vídeo é maravilhoso!
– Ele é. Viu como sua bunda encaixa certinho na minha mão?
– Arthur! – Solto uma gargalhada alta, quase caindo da minha
cadeira. – Para de falar sobre a minha bunda, pelo amor de Deus.
– Como eu posso falar de outra coisa? Eu fiquei sentindo a
maciez dela na minha mão, dias depois. Acredita que até sonhei?
Solto outra risada, acreditando sim, que isso tenha
acontecido. Principalmente porque, hoje de manhã, eu disse que
precisava sair para o trabalho, e ele disse que iria sentir muita falta.
Eu sorri, achando que falava de mim, mas ele abraçou a
minha bunda e encostou a bochecha nela, dizendo que mais tarde
voltaria para ela.
Esse homem não é normal.
– Eu adorei o vídeo. Eu acho que você já gostava de mim
naquela época. Viu o jeito que me olhou? – provoco e ouço sua
risada gostosa do outro lado.
– Eu acho que você já gostava de mim naquela época,
loirinha. Não viu como seus olhinhos brilhavam para mim.
– Não, não. Eles estavam brilhando, porque eu quebrei o
recorde do boliche.
– Confessa, vai. Era porque eu estava te apalpando.
Rimos da conversa, sabendo muito bem que ambos estavam
igualmente mexidos um com o outro. Mesmo que eu dissesse a mim
mesma que o odiava.
Uma batida na minha porta chama a minha atenção, e Luisa
aparece, me olhando de um modo estranho.
– Espera só um segundo, Arthur. – Afasto um pouco o
aparelho da orelha e fito minha assistente.
– Desculpe te incomodar, Penélope. É que eu recebi uma
ligação, já que o seu telefone estava ocupado.
– O que foi, Luisa? – Sinto um aperto no coração, quando o
seu tom de voz muda.
– É a sua mãe. Sarah, a cuidadora, ligou e disse que chamou
a ambulância para a sua casa. Ela entrou em uma crise muito forte
e precisou ser levada ao Hospital Central.
Minha respiração fica presa na garganta, e meu coração
dispara.
Mesmo que já tenha passado por situações iguais a essa,
centenas de vezes, todas são terríveis. Eu sei como minha mãe
sofre, mesmo que nunca tenha realmente sentido sua dor, e o fato
de ter sido levada ao hospital, é porque as dores estão
insuportáveis.
Engulo em seco, fechando os olhos por um momento, para
me acalmar.
Levo meu celular para o ouvido de novo. A palavra sai como
um sussurro:
– Arthur…
– Já estou no carro. Chego aí em dez, quinze minutos, no
máximo.
Ele ouviu. Graças a Deus, ele ouviu.
– Ok…
– Vai ficar tudo bem, Penny. Já estou chegando.
Encerro a ligação, sentindo um pouco mais de alívio, por
saber que ele está comigo.
Deixo uma mensagem de voz para Milene, explicando o que
está havendo, sabendo que em algum momento, ela ouvirá.
Luisa me tranquiliza, dizendo que cuida de todos os meus
afazeres do restante do dia e aguarda a chegada de Arthur comigo,
na entrada do café.
Assim que seu carro vira a esquina, um peso esmagador
diminui no meu peito. Entro no carro quando para, e logo seguimos
para o hospital.
Segurando minha mão o tempo todo, Arthur nos conduz ao
hospital em alguns minutos.
Fico dizendo a mim mesma, o tempo inteiro, que é só mais
uma crise, que ela estará bem, e que os remédios para a dor vão
lhe fazer melhorar, só que é muito díficil.
Principalmente quando chegamos ao hospital, e eu sinto
aquele desconforto costumeiro.
Hospitais me deixam nervosa.
Desde que perdi meu bebê, se tornou o lugar que mais evito
entrar. Infelizmente, não tanto quanto gostaria, já que estou sempre
acompanhando a dona Marta.
Com a mão entrelaçada na minha, meu namorado
acompanha meu ritmo até a entrada, sem ao menos abrir a boca.
Está aqui para me dar o suporte que eu precisar, quando eu
solicitar.
A recepcionista nos informa que ela chegou há um tempo,
passou com o médico e já está tomando a medicação.
Pelo menos, dessa vez foi rápido.
Caminhamos até a entrada da sala de medicação, porém
Arthur não é autorizado a ir comigo. Seu dedo faz um carinho na
minha mão, quando eu o fito com tristeza.
– Pode ir, Penny. Estarei aqui se precisar de algo.
– Ok. Prometo voltar aqui o mais rápido possível.
– Não precisa ter pressa.
Ele deixa um beijo delicado em meus lábios e se afasta, para
que eu siga. Me sentindo bem mais leve do que o normal, vou até o
local indicado.
Sarah está ao lado da minha mãe, que recebe a medicação
direto na veia.
Ao me ver, se aproxima com um sorriso discreto no rosto.
Observo minha mãe deitada e com os olhos pesados, antes de me
voltar para a mulher à minha frente.
– Oi, Sarah. Obrigada por tê-la trazido – falo baixinho.
– Olá, Penélope. Não precisa me agradecer, faz parte do
trabalho.
– O que houve? O que o médico disse?
Seus ombros caem, e ela me lança um olhar decepcionado.
– Ela começou a reclamar de muita dor, mas quando não
conseguiu se levantar da cama, eu soube que tinha algo estranho.
Quando só piorou, entendi que era melhor ela tomar algo mais forte.
– Ela suspira e olha para a minha mãe no canto da sala. – Já o
médico, não disse nada demais. Apenas deu a medicação para
reduzir a dor e falou que ela precisa ir ao reumatologista.
– Claro que disse. – Como sempre acontece.
Não há muito o que fazer, na verdade. Ela precisa tomar
diversos remédios para controlar as dores e a rigidez nas
articulações, e torcer para que funcionem.
– Obrigada mais uma vez, Sarah. Pode deixar que eu
assumo daqui.
– Por nada. Precisando é só chamar. Estarei em casa, de
prontidão.
– Muito obrigada mesmo.
Ela vai embora, enquanto me aproximo da minha mãe.
Sonolenta, ela abre um pequeno sorriso ao me ver.
Seguro sua mão delicada, ao me posicionar do lado da sua
maca.
– Oi, dona Marta.
– Não precisava ter vindo, meu anjo. A Sarah estava me
fazendo companhia.
– Sarah, hein? Devo contar para ela qual foi o nome que a
senhora a chamou, quando sugerimos que te fizesse companhia?
Seus olhos crescem um pouco, e a danada dá risada.
– Ela tem as mãos suaves e gosta de Chitãozinho e Xororó.
Não posso perder essa mulher de jeito nenhum.
Dou uma risada, o mais baixo que consigo. Minha mãe pode
passar por um sufoco enorme sempre, por causa da doença, mas
nada, nem seus momentos de muita ansiedade, tiram seu bom
humor.
Uma pessoa entra pela porta da sala, e eu levo alguns
segundos para perceber que é Arthur.
Olho para ele, chocada, sabendo que ele não pode estar
aqui.
– O que está fazendo aqui? – sussurro, olhando a porta de
esguelha, com medo de alguém aparecer.
– Relaxa, eu convenci a enfermeira de que precisava entrar.
– Ele sorri para a minha mãe, e a senhora sorri de volta, toda
apaixonada. – Oi, sogrinha, veio tomar umas?
Ela ri, mesmo que esteja fraca pelas medicações.
– Arthur, como você convenceu a enfermeira? – Fico
verdadeiramente curiosa.
– Eu disse que precisava entregar uma blusa de frio para a
minha sogra, já que essas salas são sempre muito frias.
Franzo as sobrancelhas e olho para suas mãos vazias.
– Mas você não tem nenhuma blusa.
Ele simplesmente dá de ombros.
– Ela estava ocupada demais olhando meu belo sorriso para
perceber isso.
Fico boquiaberta, enquanto minha mãe desata a rir.
– Seu namorado não existe, Penélope – ela fala, ainda dando
risada.
Seu olho pisca para mim de modo atrevido, e eu nego com a
cabeça.
– Não, ele não existe.
Já se passou uma semana desde que minha querida sogra
teve que ir ao hospital por conta de dores.
Aquela segunda, serviu para que eu refletisse sobre algumas
coisas.
Eu tenho uma namorada.
Na verdade, eu continuo tendo uma namorada, a diferença é
que agora, eu a beijo e a fodo toda vez que briga comigo por
alguma coisa. Ou porque está linda. Ou porque disse algo fofo para
mim. Ou porque acordou, tomou banho, comeu e ficou com a boca
suja de algo.
Basicamente, estou arrumando qualquer desculpa pra tocar
em Penélope.
Se não soubesse que seus sentimentos são recíprocos,
ficaria preocupado, por me achar grudento demais.
O que eu posso fazer, se ela é viciante?
Além de ter adquirido uma apreciação ridícula por coisas
azuis e ter assistido aquele vídeo de nós dois no boliche mais de mil
vezes, houve outras coisas que eu entendi, que agora fazem parte
da minha realidade.
A principal é: fazer Penélope feliz.
A felicidade da pessoa que você ama, se torna mais
importante do que o ar que você respira. Vê-la sorrindo, assisti-la
respirando de alívio ou conquistando algo que tanto almejou é tão
prazeroso, que você fará tudo o que está ao seu alcance para
conseguir.
Acho que o que meu pai disse naquele casamento, começa a
fazer sentido. Tudo o que eu quero agora, é testemunhar o
acontecimento das coisas magníficas de Penélope em primeira mão
e admirar cada uma.
Descobrir que amo Penélope foi fácil. No entanto, a forma
como subiu no meu carro e relaxou visivelmente ao me ver, quando
fomos ao hospital, fez algo comigo.
Posso nunca ter me apaixonado antes, mas sei que devo
valorizar a confiança de alguém em mim. Foi assim com a sua mãe,
foi assim quando a levei ao morro para ver as estrelas e foi assim
quando topou ficar comigo, mesmo eu sendo um homem tão falho.
Essas e outras coisas magníficas, me fizeram entender que
eu a amo.
E, portanto, há algumas coisas que preciso fazer.
A começar pela doença da sua mãe.
Infelizmente, não encontrei algo que possa curá-la. Em
minhas incansáveis pesquisas, eu entendi que, até o momento, não
há cura para a doença, que é autoimune.
E eu pesquisei muito.
Há uma semana, eu venho passando horas e horas no meu
trabalho lendo e entendendo melhor do que se trata. Quais são os
tratamentos disponíveis e os mais recomendados.
E em meio a tanta procura, encontrei um tratamento
alternativo.
Ainda não tenho certeza se Penélope, Milene ou sua mãe
sabem, porque foi autorizado o uso dele há poucos anos.
Obviamente, não apresentaria uma proposta dessa
magnitude para elas, sem ter todo o conhecimento e base para isso,
e foi quando entrei em contato com um colega da UNICAMP, a
Universidade de Campinas, e ele me direcionou à equipe de
pesquisa.
Conversei com Andreza, a pesquisadora e cientista
responsável pela pesquisa desse tratamento alternativo para
diversas doenças. A mulher se dispôs a explicar tudo para Penélope
e Milene, que provavelmente não se contentarão com alguns
simples vídeos explicativos do YouTube.
Minha loira é cética demais para isso.
É por isso que estou aguardando ambas em frente a uma das
cafeterias, no final da tarde de segunda-feira.
Pedi para as duas me encontrarem hoje, pois consegui
marcar uma reunião com a cientista da Universidade.
Confesso que estou nervoso, temendo ter ultrapassado
algum limite, porém farei o possível para que elas foquem em ajudar
a mãe, e não a me matarem.
Depois de alguns minutos, as duas loiras bonitas saem da
cafeteria, sorridentes, e conversando entre si.
Espero que continue assim.
Já do lado de fora, espero que se aproximem um pouco, para
eu ir de encontro à minha mulher.
Quando me vê, seu sorriso aumenta, e meu coração palpita.
Porra, como eu sou ridículo.
– Boa tarde, minha deusa. – Seguro sua cintura e deixo um
beijo na sua boca. – Boa tarde, olhos de águia.
Me refiro à Milene, e ela dá uma risada, antes de me
cumprimentar com um beijo na bochecha.
– Boa tarde, ex-cafajeste.
Solto uma risada e abro a porta do carona, e do passageiro,
para que elas entrem.
Minha cunhada e eu começamos a nos chamar assim, depois
do casamento. Mais especificamente, quando me mostrou algumas
de suas fotos, e eu fiquei completamente abismado com o talento da
mulher.
A loira de cabelos volumosos e cacheados tem verdadeiros
olhos de águia e faz maravilhas com sua câmera fotográfica.
Como é mais sagaz do que deixa aparentar, disse que ela
também deveria me dar um apelido, e escolheu esse, dizendo que
faz total sentido.
Eu não poderia concordar mais.
– Ok, pra que tanto mistério sobre para onde vamos? –
Penny questiona, assim que me sento no meu banco.
– Alguém já te disse que você é muito curiosa? – Lanço uma
piscadinha, e ela estreita os olhos para mim.
– Isso tá mais pra ansiedade, viu? – Milene diz, no banco de
trás, me fazendo dar risada.
– Que traiçoeira. – Penny olha para ela, e a vejo dar de
ombros, pelo espelho retrovisor.
– Você sempre foi assim, irmã. – Meu furacão cruza os
braços, e eu dou risada.
– Vocês já vão descobrir.
Para descontrair, ligo o som e inicio uma conversa sobre
amenidades. Quando começo a sair da cidade e entrar na pequena
estrada para a Universidade, Penélope percebe a mudança do
trajeto.
Quando me olha, sinto um nervosismo estranho, entretanto,
sigo sem dizer nada.
Assim que chegamos no campus gigante, é Milene quem faz
a pergunta:
– Porque estamos entrando na UNICAMP?
Ambas parecem confusas, e minha namorada me olha
daquele jeito que me deixa com medo.
Estaciono na vaga para visitantes, depois de liberarem nossa
entrada, e desligo o carro. Viro-me, de modo que as duas me vejam
e respiro fundo.
As testas franzidas delas, me deixam mais nervoso ainda.
– Você tá me deixando ansiosa, Arthur Rabello – Penny diz,
em tom de aviso, e eu concluo que é melhor falar de vez.
– Desde semana passada, eu estive fazendo algumas
pesquisas sobre a doença da sua mãe. – Elas me olham com mais
atenção agora. – Primeiro, eu queria entender como ela realmente
funciona e quais são os tratamentos disponíveis. Aí, eu fiquei um
pouco obcecado em descobrir uma cura e…
– Não há cura. Não para a doença autoimune – Penélope
avisa.
– Eu sei, eu entendi isso. Mas existe aquela coisa chamada
remissão, certo?
– Isso. Quando a doença adormece, e os sintomas somem,
podendo durar semanas, meses ou anos – Milene confirma.
– Exatamente. E mesmo que ela não tenha uma remissão tão
cedo ou que tenha, mas os sintomas um dia voltem, ainda assim,
pensei que seria interessante vermos outra alternativa de
tratamento.
– Que outra alternativa? – Penélope me pergunta, com o
semblante extremamente sério.
Certo, isso não é um sinal ruim. Ela apenas está tentando
entender tudo.
– É um medicamento que foi aceito no Brasil recentemente. E
como eu não sou nenhum especialista, trouxe vocês para
conversarem com uma pessoa. Ela é médica e a cientista
responsável por algumas pesquisas desse remédio aqui na
Universidade, e se disponibilizou para conversar conosco.
As irmãs ficam em silêncio por bons minutos. Tento mostrar
tranquilidade, porém meu coração retumba forte no peito.
– Se eu tiver passado dos limites, me desculpem, de
verdade. Dou meia volta agora, e saímos daqui como se nada
tivesse…
– Nós queremos ver. Claro que queremos, né Penny? –
Milene olha, ansiosa, para a irmã.
Minha loira tem os olhos fixos em mim. Mesmo ansioso,
sustento seu olhar, para que perceba que minhas intenções são
boas e que não estou aqui para brincadeira.
Sua boca se abre.
– Você entrou em contato com ela e marcou essa reunião?
– Sim.
Mais alguns segundos de contato visual intenso, até que ela
feche os olhos e inspire fundo. Quando os abre, segura a sua bolsa
e nos olha.
– Então vamos, a mulher deve estar nos esperando.
Milene e eu soltamos uma respiração ao mesmo tempo.
Saio do carro um pouco mais aliviado, e caminhamos para a
área de pesquisas da faculdade.
A mais nova até tenta manter uma conversa amigável,
conforme andamos, mas Penny está nitidamente nervosa.
Após alguns minutos de caminhada, nos é informado a sala
da mulher que nos aguarda. Passamos por uma sala de aula dentro
de um laboratório, e uma mulher de meia estatura, negra, com
cabelos crespos ao redor do rosto e óculos quadrados, nos espera
em frente à uma porta, com um sorriso simpático no rosto.
– Olá, você deve ser o senhor Arthur Rabello. – Aperta a
minha mão.
– Oi, você deve ser a Andreza. É um prazer conhecê-la. –
Olho para as duas irmãs ao meu lado. – Essa é minha namorada
Penélope, e minha cunhada Milene.
Elas se cumprimentam.
– É um prazer recebê-los em nosso centro de pesquisas
universitário. Marquei esse horário por ser a troca de turnos, senão,
isso aqui estaria caótico. – Sorrimos para a mulher. – Entrem e
fiquem à vontade.
Nos sentamos nas três cadeiras de frente para a mesa da
cientista, que se acomoda do outro lado. A sala branca e lotada de
livros é fresca e confortável.
Andreza cruza as mãos em cima da mesa larga e olha para
as irmãs. Um sorriso divertido brinca em seu rosto, provavelmente
por notar o nervosismo das duas.
– A senhora disse que poderia explicar para nós a respeito do
tratamento alternativo, certo? – começo, quebrando o silêncio.
– Por favor, senhora está no céu. Eu não me casei e não
pretendo fazer isso tão cedo – a mulher pontua, nos fazendo rir, e
visivelmente relaxando as duas ao meu lado.
– Então, nada de senhor para mim também.
Ela sorri para mim.
– Como preferir. Bem, vamos ao que interessa. – Ela ajeita os
óculos no rosto. – Poderia apresentar a vocês todo o meu currículo
acadêmico, mas acho que é perda de tempo. Algo me diz que o
CEO de um dos jornais mais bem sucedidos do Brasil, já fez suas
pesquisas.
Ela me olha com um sorriso de lado, e eu faço o mesmo.
– É o meu trabalho.
– Ótimo. Nesse caso, antes de apresentar a vocês o remédio,
preciso que me contem todo o histórico de medicação que a
paciente usou nos últimos anos e como reagiu a eles.
Penny e Milene trocam um olhar, concordam com a cabeça, e
a mais velha começa a falar.
– Minha mãe começou o tratamento com corticoide todos os
dias e três comprimidos de Metotrexato aos sábados, mais 3 aos
domingos. E Ácido Fólico na segunda-feira.
– Porque o MTX te obriga a tomar o ácido por conta da
toxicidade – Milene complementa.
Andreza escuta atentamente, e Penélope prossegue.
– Como ela precisa fazer exames de três em três meses, por
conta de a doença ser autoimune e os remédios fortes demais,
descobrimos que o remédio estava atacando o fígado, e ela
precisou parar com ele. – Sem ao menos perceber, sua mão segura
a minha, e eu tento fingir costume, mesmo que tenha feito meu
estômago revirar. – Em seguida, ela passou a tomar Leflunomida
todo dia com o corticoide, só que também não funcionou. E agora,
ela toma corticoide mais Leflunomida todo dia, e o Tofacitinibe duas
vezes ao dia, todos os dias.
– Infelizmente, isso está causando uma reação ruim à pele
dela, deixando-a ressecada demais – a caçula lamenta.
– Certo. E em algum momento, a paciente teve problemas
com ansiedade?
Penny concorda com um aceno.
– Principalmente no início de tudo, quando foi diagnosticada,
e ainda éramos muito pequenas. Uma pessoa que era muito ativa e
de repente precisa de auxílio para os afazeres mais simples, tende a
desenvolver sintomas de transtorno de humor e de ansiedade. – Ela
suspira, e eu faço um carinho em seus dedos. – Foi exatamente o
que houve com ela, além de algumas medicações também
desencadearem isso, mesmo que tenham ajudado com a dor.
– Mas sabemos que é um ciclo sem fim. A dor vem. Ataca a
ansiedade. Ansiedade piora a dor. A ansiedade vem. Ataca a dor.
Aumenta a ansiedade. Aumenta a dor – a médica completa, e as
duas concordam.
Minha sogra e todas as pessoas que lutam contra essa
doença terrível, são guerreiras. Eu não teria nem metade da força
que elas têm e não sei como lidaria com isso. Não só com as dores,
mas também com o emocional, que é nitidamente afetado.
– Bem, o que vou mostrar a vocês é uma medicação que foi
aprovada pela ANVISA[24], para ser produzida e distribuída no Brasil,
há mais ou menos dois anos. Mais especificamente, no estado de
São Paulo. – A mulher abre a gaveta da sua mesa, retira de lá um
pequeno frasco com um líquido transparente e o deposita no meio
da mesa. – Isso aqui se chama Canabidiol. – Ela ri, quando ambas
arregalam os olhos. – Sim, é o primeiro e único produto brasileiro à
base de Cannabis.
Ela se levanta, enfia as mãos dentro dos bolsos do jaleco e
inicia a explicação que tanto pesquisei nos últimos dias.
– Ele é um fitofármaco, ou seja, fármaco de origem vegetal, e
a indicação terapêutica é determinada pelos profissionais médicos
na prescrição. Sua venda é totalmente controlada e com receitas
muito específicas. – Olho para as duas, que mal piscam enquanto
escutam. – O Canabidiol Prati-Donaduzzi é produzido a partir do
princípio ativo puro, ou seja, contendo somente o Canabidiol, sem
nenhuma outra substância da Cannabis. O produto é livre de THC,
tetrahidrocanabinol, que é o composto psicoativo.
Andreza faz uma pequena pausa, esperando alguma
pergunta, porém as duas permanecem em silêncio. E então, ela
prossegue:
– Há diversas pesquisas sendo feitas sobre os benefícios do
uso dessa medicação. Não só para a artrite reumatóide, como
também para esquizofrenia, Parkinson, Alzheimer, e muitas outras
doenças que atacam o Sistema Nervoso Central. – Ela solta um
suspiro cansado. – O problema que envolve o uso desse
medicamento, é o preconceito da sociedade. Por ter princípios da
maconha, fazem todo e qualquer tipo de interpretação sobre ele, e
acabam fugindo do remédio, antes mesmo de pesquisarem sobre.
– E a eficácia? Já foi comprovada? – Penélope pergunta,
depois de um tempo.
– Sim, mesmo que cada organismo reaja aos tratamentos de
formas singulares, já foi comprovado cientificamente que é um
produto cem por cento eficaz, e não envolve nenhum ato ilícito.
– Sem contar que, pelo que eu pesquisei, você consegue de
graça pelo SUS[25] aqui no estado de São Paulo – afirmo e olho para
a cientista, que confirma com a cabeça.
– E quais são as reações ou sequelas? – Milene questiona.
– Como eu disse, varia de pessoa pra pessoa. Como sua
mãe tem histórico de problemas com ansiedade, precisaria fazer um
acompanhamento psiquiátrico e quem sabe, tomar uma medicação
junto do Canabidiol, apenas para controle.
As irmãs tiram mais algumas dúvidas com a mulher, que as
responde prontamente. Parecendo realmente interessadas em
tentar esse novo tratamento, isso faz com que me sinta muito mais
aliviado.
Saímos da sala da Andreza com uma nova possibilidade para
a dona Marta. A mulher se disponibilizou para qualquer dúvida que
tivessem.
Já é noite quando entramos no estacionamento, as duas
mulheres pensativas e caladas.
Penso em perguntar algo, quando Penélope para no lugar.
Milene e eu a olhamos, confusos, e a loira olha para mim e depois
para a irmã.
– Mih, pode esperar um pouco lá no carro? Nós já vamos –
pergunta à mais nova, que concorda sem problemas.
Destravo o carro, dando a possibilidade que espere lá dentro
e quando se afasta, me viro para o meu furacão.
Seu rosto impassível não demonstra nada, o que é uma
raridade, por ela ser bem expressiva. Volto a sentir aquele
nervosismo de antes, chegando perto dela bem lentamente.
– Penny, eu sei que é bastante coisa pra digerir. Eu só queria
deixar bem claro, que eu nunca quis causar nenhum desconforto a
vocês duas.
– Por quê? – apenas diz.
– Por quê, o quê?
– Por que fez tudo isso?
Seus olhos azuis me sondam com intensidade. A imagem do
jeito como olhou para a cientista com atenção e esperança, me volta
à mente. Estava claro o quanto isso poderia fazer diferença para
suas vidas e, quem sabe, trazer uma grande melhora para a mãe.
E saber que eu ajudei a trazer esperança à sua vida, me
torna o homem mais fodidamente feliz do mundo.
Trazer isso à Penélope, foi muito maior do que eu imaginava
e causou um impacto irreversível ao meu coração.
Coração que pertence totalmente a essa mulher.
Opto por dizer o que precisa ser dito.
– Quer saber de verdade por que eu fiz tudo isso, Penélope?
– Sim, por favor.
Sorrio, aproximo meu corpo do seu, seguro sua cintura com
uma mão, e com a outra, sua nuca. Inspiro, sentindo seu cheiro de
mar e limão. O cheiro mais gostoso do mundo.
– Porque eu te amo.
Testemunho seu olhar mudar de espantado para
emocionado.
– Você me ama? – sussurra baixinho.
– Eu te amo com todo o meu coração, Penélope. – Meu
polegar toca seus lábios bonitos. – Amo cada minúscula parte sua.
Amo seus olhos lindos, sua boca atrevida, seu cérebro e seu corpo.
Amo quando fica brava comigo e quando solta aquela risada
esquisita. Amo sua força, seu coração e também suas fraquezas.
Amo até essa pintinha quase invisível no canto da sua boca.
Seus olhos marejam, e ela ri, levando a mão até a pinta.
– Você reparou na minha pintinha…
– Sim. Eu vejo cada detalhe seu. Aqueles que todos
enxergam, e os que você tenta esconder. Eu fiz tudo isso e farei
muito mais, simplesmente porque eu te vejo. E eu amo o que eu
vejo.
– Arthur… – Não resisto e beijo sua boca.
Mostro a ela tudo o que está em meu coração, através dos
meus lábios nos seus. Toda a minha vontade de vê-la feliz e
realizada. Todo o meu desejo de estar ao seu lado, não importa a
situação.
Eu nunca quis tanto algo na minha vida, como quero viver
com a Penélope para sempre.
Não há mais escapatória. Eu finalmente me encontrei.
Às vezes, passamos por situações que nos fazem refletir e
perceber que precisamos tomar certas atitudes.
A morte do meu pai foi um ponto chave na minha vida. Eu vi
a vida da minha pequena família mudar por completo, porque o
homem e provedor da casa havia falecido. Em seu leito de morte,
enquanto me despedia, jurei que sustentaria minha família e
ajudaria a minha mãe, até o dia em que não precisasse mais
trabalhar.
Sua morte, por mais triste que tenha sido, e por mais que eu
sinta saudade dele até hoje, foi importante para que essa semente
nascesse dentro de mim.
A perda da minha filha, não foi muito diferente. Mesmo que
um pedaço de mim tenha ficado naquele hospital, e que, toda vez
que olhar para as estrelas, me lembrarei da minha Angel, o que veio
depois disso, também foi algo crucial na minha vida.
Eu me tornei uma mulher que cuida muito mais dos seus,
meu trabalho decolou, e com ele, eu pude ajudar muitas pessoas.
Aquilo me transformou e, por mais que eu trocaria qualquer coisa
para ter visto minha filha crescer, eu consegui enxergar muitas
coisas, que antes eu não via. Marcos foi uma delas.
Dito isso, há o terceiro acontecimento mais marcante na
minha vida.
O momento em que ouvi Arthur dizer que me ama.
Naquele instante, eu soube que precisava tomar algumas
atitudes com relação a mim, ao meu passado e ao meu futuro.
Eu precisava ter coragem para encerrar o passado, para que
pudesse ter um futuro.
Um futuro ao lado do homem que eu amo.
O que nos traz a esse exato momento.
Estou dentro de um outro carro, que eu não faço ideia da
marca, mas que tem bancos muito confortáveis e de couro branco,
ao lado de Arthur.
Mesmo que eu tenha meu próprio carro de marca, nunca vou
me acostumar com os carros infinitos e variados dele.
O braço tatuado está tenso no volante, assim como seu
maxilar. Passo as mãos sobre suas tatuagens, sentindo a pele
quente e os músculos definidos.
Trago ele para mim, vendo Arthur me olhar de relance e
reparo em cada detalhe das tatuagens. Tem desenhos diferentes de
outros, mas que ao mesmo tempo, se completam. Há rosas
desenhadas no antebraço, uma andorinha voando, uma caveira com
sombreamento escuro, e tudo isso harmonizado com traços finos,
grossos e mais sombreados.
Sua perna não é muito diferente. Mesmo que esteja de calça
jeans agora, eu já reparei o suficiente, para entender que segue o
mesmo padrão.
– Eu acho suas tatuagens lindas – digo, passando minha
mão pelas linhas.
– Obrigado, eu também gosto delas.
– Nunca pensou em fazer algo que tivesse um significado
muito grande pra você?
Seu olhar encontra o meu, de modo penetrante, por alguns
instantes, antes que se vire e foque na rua de novo.
– Já. Já pensei sim.
Penso em perguntar mais sobre, contudo, chegamos ao
destino.
Arthur estaciona em uma vaga próxima a uma das praças
mais movimentadas de Campinas, conforme eu havia indicado.
A princípio, eu pensei em vir sozinha, entretanto o
conhecendo como conheço, nem cogitei dar essa sugestão.
Ele desliga o carro, só que quando estendo a mão para abrir
a porta, ela trava de novo.
Franzo a testa e me viro para ele.
Meu namorado está com uma cara muito fofa de bravo,
olhando para frente e mexendo os dedos ao redor do volante.
– Arthur? – o chamo, e ele não se move. – Eu vou ficar bem.
Ele começa a negar com a cabeça, parecendo uma
criancinha. Prendo o riso, sabendo que só pioraria a situação.
– Nada vai me acontecer, eu prometo. – Ele bufa. – Desde
quando você se tornou tão superprotetor?
Seu olhar cai sobre mim, e eu vejo o quanto ele está irritado.
– Desde que você teve a ideia mais sem noção do mundo.
Dessa vez, eu que bufo, olhando-o com tédio.
– Não é sem noção.
– Conversar com o seu ex-noivo sozinha, depois de tudo o
que ele fez, não é sem noção, Penélope?
– Por isso, escolhi um lugar público.
– Não é o suficiente.
– Por isso, você está aqui.
– Não vou junto e, portanto, não é o suficiente.
– Eu preciso disso. Preciso ter essa conversa.
– Por quê? Não podemos simplesmente fingir que ele nunca
existiu?
Respiro fundo, me esforçando para não brigar com ele. Eu o
entendo, de verdade, porque eu estaria do mesmo jeito. Senão, pior.
Porém, isso precisa acontecer. De uma vez por todas.
Levo ambas as mãos até seu rosto e acaricio sua pele. Meu
CEO nervosinho relaxa os ombros no mesmo instante.
– Preciso fazer isso por mim. Para que não haja nada
pendente.
– Você não deve nada a ele, Penny – insiste, repousando a
mão na minha.
– Eu sei, meu bem. Mas eu sinto que tenho que fazer isso. –
Ele abre a boca, e eu logo o corto. – Você confia em mim?
Seu olhar muda.
– Com minha vida.
– Ótimo. Eu também confio em você, por isso, grito se
precisar de algo. – Me inclino, deixando um beijo demorado em seus
lábios. – Prometo que vai ser rápido.
Mesmo com os olhos angustiados e odiando isso, ele
concorda com a cabeça.
Abro um sorriso, grata por ele não tentar me impedir.
Arthur destrava as portas, e quando eu saio, ele vem junto.
Um pouco à frente, Marcos me espera sentado em um dos
bancos da praça. O sol está se pondo, e há diversas pessoas
passeando pelo local.
Quando chego ao lado do carro com Arthur, Marcos nos vê.
Dou um passo à frente, porém a mão forte do meu namorado,
me puxa para si. Sou virada, e minha boca é atacada.
Com fervor.
Arthur enfia a língua dentro da minha boca e de quebra,
aperta a minha bunda sem nenhuma vergonha na cara, quase me
arrancando do chão. Ao desgrudarmos nossas bocas, eu fico
levemente tonta e levo alguns segundos para me recuperar. Miro
seus olhos castanhos, que brilham em diversão e tantos outros
sentimentos.
– Que possessivo… – digo, olhando para sua boca com um
sorriso de canto e sentindo muita vontade de beijá-la de novo.
– Sou possessivo com o que é meu. – Seu tom de voz baixo,
me deixa arrepiada.
Mordo o lábio, quase deixando meu ex para trás e montando
em Arthur, dentro do carro mesmo.
– Droga, por que você tem que ser tão bom?
Ainda com um sorriso travesso, ele tenta aproximar a boca da
minha de novo, mas eu me afasto.
Senão, não saio mais daqui.
Volto a caminhar em direção ao homem com quem um dia eu
dividi a mesma cama, notando o seu desconforto visível pelo que
acabou de ver.
Minha vontade é de voltar lá e fazer tudo de novo, isso sim.
Ando os bons metros até ele e ao me aproximar, ele ameaça
se levantar do banco e vir na minha direção.
Eu o impeço com um olhar.
Sento-me ao seu lado, em uma distância boa e tomo uma
inspiração profunda.
Diferente de algumas semanas atrás, quando o vi naquele
bar e simplesmente travei, hoje, eu não sinto aquele nervosismo.
Não sinto nada, na verdade.
Apenas uma vontade louca de voltar para o homem que tem
meu coração.
Viro meu rosto para o lado, notando que Marcos me olha
atentamente. Os cabelos loiros escuros penteados para o lado, a
camisa polo batida, os jeans impecáveis e sapatos sociais compõem
um conjunto caro e sem graça.
Tão diferente do despojado chique que amo ver em meu
namorado.
Seu rosto está tenso, assim como todo o resto do corpo.
É claro que ele é o primeiro a falar:
– Oi, Penny. Obrigado por conversar comigo.
– Há algumas regras que você vai seguir, Marcos. Caso não
o faça, eu simplesmente vou dar as costas e nunca mais você me
verá.
Seus olhos se arregalam levemente, antes de ele engolir em
seco. Quando estuda meu rosto e percebe que não estou brincando,
concorda com a cabeça.
– Tá certo.
– Bom. Em primeiro lugar, me chame de Penélope. Penny é
apenas para meus amigos, e você não é meu amigo. Em segundo
lugar, se pensar em me tocar, eu mesmo quebro a sua cara. E caso
não seja o suficiente, chamo meu namorado, para fazer isso melhor
que eu – declaro, e ele se encolhe, quando digo a palavra
namorado. – E em terceiro lugar, eu vou te ouvir. Ouvirei tudo o que
insistiu tanto em dizer no casamento, mas depois, será sua vez de
me escutar. Entendeu?
– Sim – responde fraco e encolhendo os ombros.
Deus, como eu pude me apaixonar por um bunda mole
desses?
– Ótimo, pode começar.
Mantenho meu rosto impassível, enquanto ele toma um
fôlego, antes de começar a falar.
– Em primeiro lugar, quero me desculpar por ter sido um
idiota com você no casamento da minha prima. Eu estava
desesperado para que finalmente conversasse com você e não
pensei que isso poderia não ser sua vontade.
E quando eu disse não? Aquilo foi o quê?
Permaneço em silêncio, mesmo que já esteja fervendo de
raiva.
Ele continua:
– Em segundo lugar, eu quero te pedir perdão por ter te
traído. – Ele parece esperar alguma coisa de mim, porém continuo
sem reagir – Eu não devia ter feito aquilo com você. Você não
merecia ver as coisas que viu, e eu fui um completo idiota.
Eu quase me convenço de que ele realmente está
arrependido. Quase. Conheço muito bem Marcos e não fico nada
surpresa com suas próximas palavras.
– Mas você estava distante, Penny… Quer dizer, Penélope –
se corrige. – Fazia meses que você mal olhava para mim. Não
conversava comigo, não me dizia o que estava pensando ou
sentindo. Eu tentei me aproximar. Tentei entender seu lado, mas eu
tenho necessidades que precisam ser supridas.
Desvio o olhar para o horizonte, não porque fiquei
constrangida, nem nada. E sim, porque se continuar olhando para a
sua cara de idiota, vou perder o controle.
Meu coração se aperta ao ouvir isso. Ao saber que, no fim,
ele vai continuar pondo a culpa em mim. Mesmo depois de um ano.
Puta merda, como eu pude dar meu cu para esse imbecil?
– Eu juro que não estou dizendo que estava certo em te trair.
Eu só estou te dizendo que tive motivos para isso. E eu sinto muito
por tudo, Penélope. De verdade.
Ele se cala, me dizendo que essas foram as palavras de
merda que tanto queria me dizer.
Que patético.
Respiro mais uma vez e fito seu rosto. O rosto do homem que
achou que tinha direito de quebrar meu coração e seguir a vida
tranquilamente com isso.
– Acabou? – questiono, apenas para garantir.
– Acabei sim.
Perfeito. Minha vez.
– Acha que a pior coisa que me fez, foi me trair? É uma
pergunta retórica, não precisa responder – acrescento, quando ele
abre a boca. – Pensa que eu fiquei devastada, quebrada e arrasada,
quando deixei o meu apartamento naquele dia? Outra pergunta
retórica.
Eu solto uma risada curta, quando fica confuso.
– Pegar você comendo outra mulher na minha cama, foi
apenas a última das inúmeras coisas que você fez comigo, Marcos.
Começou quando não me deixou enterrar minha filha. – Seus olhos
se tornam enormes. – Quando tratou a pior situação da minha
existência, como algo que eu poderia simplesmente esquecer. Ali,
Marcos, eu já tinha deixado de te amar.
Seu olhar se torna perdido e doloroso. Eu também sinto dor,
só que pelos anos desperdiçados.
– Às vezes em que me cobrou atenção, que dizia que eu
estava chorando demais, que eu tinha que me levantar e trabalhar,
que me pediu para engordar, pois havia perdido peso demais ou
quando me pediu sexo, mesmo que não estivesse em condições
para aquilo. – Eu o encaro, para que não perca nada em meus
olhos. – Basicamente, Marcos, você condenou nosso
relacionamento, quando não me respeitou. Você não respeitou meu
tempo, meus sentimentos, meu luto e minha perda. Eu sei muito
bem que a forma que encontrou de superar a perda do seu tão
amado filho, foi seguindo em frente, mas deixa eu te contar uma
novidade: essa forma não funcionaria comigo.
Preciso fazer uma pausa, quando a raiva tenta nublar meus
pensamentos.
Tenho que acabar logo com isso.
– Você destroçou o meu coração, mas isso não teve nada a
ver com o seu pau minúsculo entrando dentro de outra boceta. –
Seu rosto se torna vermelho, principalmente por saber que estou
certa. – O que me magoou, foram as inúmeras vezes em que
escolheu a si mesmo e não a nós dois. Quando não escolheu ficar
ao meu lado, a enxergar a dor que eu estava sentindo e o quanto
aquela perda me magoou.
Olho por cima do ombro, para o homem de pé e se
remexendo nervosamente, sem desviar os olhos de mim.
Eu abro um sorriso. Arthur me acalma.
Volto-me para Marcos, decidida a finalizar.
– É por isso que, o que fez comigo, não tem perdão. Não a
traição, mas o motivo que o levou a cometê-la. Sei que também
perdeu um filho, mas a forma egoísta com que lidou com isso, foi
sua pior escolha. Eu escolhi falar com você, para encerrar essa fase
tão dolorosa da minha vida e seguir em frente, mas principalmente
para que você saiba, o tipo de homem que você foi para mim. – Ele
fecha os olhos por uns segundos, parecendo realmente magoado. –
Eu espero, do fundo do meu coração, que você seja mais sensível
com aquela menina. Que você cresça e amadureça, para que não
tenha mais nenhum coração partido por aí.
– Ela me deixou – ele solta, mesmo que não tenha
autorizado. – Depois do casamento, ela me deixou, dizendo que eu
ainda te amava. – Ele me olha de um jeito angustiado e irritante. –
Eu ainda te amo, Penélope.
Dou risada e balanço a cabeça de um lado para o outro.
– O que você sente por mim está muito longe de ser amor.
Arrependimento? Eu tenho certeza de que se arrepende. Afinal… –
Me levanto, e ele faz o mesmo, meio apressado. – Eu sou uma
mulher foda pra caralho. Mas isso nunca foi amor. E tudo bem, o
que eu sentia por você também não era.
Por um instante, ele se encolhe com minhas palavras. Acho
que até cogita argumentar, entretanto, sabe muito bem que não vai
adiantar.
Ele pode ter sido um babaca, porém me conhece o suficiente
para entender que suas chances acabaram há tempos.
Seus ombros caem, compreendendo que a conversa não terá
a conclusão que imaginou.
Ele fala mais uma vez.
– Acha que, sei lá, eu e você poderemos ser pelo menos a…
– Não existe a mínima possibilidade de sermos amigos,
Marcos. Na real, nunca fomos. E eu não quero mantê-lo na minha
vida. Isso não me acrescentaria em nada, e daqui pra frente, eu
quero apenas o que me faz bem.
Marcos olha por cima do meu ombro e se volta para mim.
Aponta a cabeça em direção à Arthur.
– Ele te faz bem?
Abro um pequeno sorriso, no entanto, decido não responder.
Não devo satisfação a ele há muito tempo. Aliso o meu vestido e
concluo o que vim fazer aqui.
– Só mais uma coisa, vou vender aquele apartamento.
– O quê? – pergunta, alarmado.
– Exatamente o que ouviu. Vou vender o apartamento que eu
comprei, com o meu dinheiro.
– Mas… Eu moro lá.
– Pois se mude. Te darei um mês para encontrar um lugar e
depois disso, já o colocarei à venda.
– Mas…
– Minha secretária entrará em contato com você. – Seus
lábios crispam, e ele não diz mais nada. – Adeus, Marcos. Desejo
que você seja feliz.
Olho em seus olhos frios uma última vez. Fiz isso por mim,
por minha filha e por todas as vezes em que me senti presa e
impedida de seguir à diante.
Finalmente, deixo meu passado onde ele deve ficar: no
passado.
Viro-me de costas, mais do que pronta para voltar para os
braços do meu futuro, mas paro quando ouço a voz de Marcos.
– Adeus, Penélope. Que você continue sendo muito feliz.
Pela primeira vez, sorrio de verdade para ele. Eu já sou muito
mais feliz, e ele sabe disso.
Sinto um friozinho na barriga, conforme vou me aproximando
de Arthur. Solto uma risada, quando o vejo andando de um lado
para o outro, muito ansioso.
Assim que atravesso a rua, seus braços já estão vindo em
direção à minha cintura. Ele a abraça, assim que o alcanço.
– Está tudo bem? Ele fez alguma coisa com você? – Ele
avalia o meu rosto, me fazendo sorrir mais ainda. – Se ele fez, já me
fala já, que eu tô no jeito. Acabo com aquela cara de cão chupando
manga que ele tem de uma vez.
Jogo a cabeça para trás, soltando a maior gargalhada de
todas. Arthur me olha de um jeito estranho e intrigado.
– Por que está rindo desse jeito?
Mordo o lábio, com aquela sensação de felicidade que só ele
me causa. Abraço seu corpo e olho em seus lindos olhos castanhos.
– Porque eu te amo, Arthur Rabello.
Ele para de respirar, ficando completamente surpreso com a
minha afirmação.
– Eu amo tanto você, que às vezes acho que meu coração
vai parar – completo.
Ele ri de nervoso, me envolvendo em seus braços.
– Por favor, não diga uma coisa dessas.
– O quê?
– Não diga que me ama e logo em seguida, que seu coração
para de bater. É muita coisa pra eu absorver em poucos minutos.
Dou mais uma risada e observo seu rosto relaxar.
– Então, saiba que esse mesmo coração é seu, e que eu me
encontrei, quando te encontrei – falo, sorrindo para o amor da minha
vida.
Agora, seu sorriso é imenso. Suas mãos seguram meu rosto,
e sua boca cola na minha.
– Eu te amo, formiguinha.
Franzo as sobrancelhas.
– Vai continuar me chamando assim?
Ele pensa um pouco.
– Eu gosto de formiguinha. E de deusa. Gosto muito de te
chamar de deusa. – Reviro os olhos, e ele ri. – Do que você vai me
chamar agora?
– Oras, não é óbvio? – Ele nega, me olhando divertido. –
Amor. Vou te chamar de amor.
Arthur morde o lábio inferior, sorrindo daquele jeito bobo.
– Eu gostei desse. – Ele me beija mais uma vez, antes de se
afastar e abrir a porta do carro para mim. – Agora que resolvemos
isso, vamos para a minha casa. Mais especificamente, para a sala
de cinema.
Minha boca escancara.
– Você tem uma sala de cinema dentro de casa?
– Penélope, tem uma sala só de porta-retratos da minha
família. Acha que não teria um cinema? – Dou risada, porque faz
sentido.
– E o que vamos assistir?
– O homem mais gostoso do mundo. – Fico confusa, e ele
esclarece com um sorriso safado. – Vamos maratonar o
Exterminador do Futuro.
Saímos de lá com a barriga doendo de tanto rir.
A casa de John e Rosa está vagamente caótica. Isso porque,
resolvemos vir todos para cá e ter uma sexta-feira entre amigos.
E quando digo todos, eu quero dizer eu, Arthur, Diana,
Benjamin, Chéri, a cachorrinha fofa deles, Milene, Yolanda, o casal
anfitrião e um bebê, e pela primeira vez com todo o restante da
turma, Alfred, Letícia e as crianças.
Como eu disse: caótico.
Para a tristeza de mamacita, ela não pôde vir, por conta de
algumas questões do orfanato, mas nos convidou a ir para lá na
semana que vem, em um evento.
As crianças estão adorando a companhia da labradora mais
fofa que existe, brincando com ela no quintal dos fundos sem parar
e gastando toda a energia acumulada. Isso se aplica à Chéri e às
crianças.
Rosa e Letícia engataram em uma conversa sobre
maternidade há alguns minutos, e minha amiga baixinha está
pegando todas as dicas que pode com a outra, que já teve
experiência em dobro.
Os homens estão bebendo no balcão da cozinha,
conversando sobre assuntos nos quais eu nem me atrevo a me
meter, fazendo de tudo para Alfred se sentir à vontade, já que
precisa se acostumar com o caos. Mesmo que faça parte de uma
família grande, nada se compara à minha.
Diana está tendo uma conversa baixinha com Yolis do outro
lado da sala, e eu tenho um palpite muito bom sobre qual é o
assunto.
Milene carrega Esteban no colo, com todo o cuidado do
mundo, só que minha irmã está estranha. Não sei dizer ao certo,
porém seus sorrisos estão mais contidos, e ela age de forma
ansiosa. Sinto que quer compartilhar algo, entretanto não teve
oportunidade ainda.
Quando todos estiverem distraídos, eu a levo para o quarto
de hóspedes, e conversamos.
Observo todos ao meu redor, sem conseguir conter o sorriso
em meu rosto.
Os dias passam, as batalhas são vencidas, e novas lutas são
travadas, a gente perde, a gente ganha, a gente conquista e a gente
desiste. Tudo passa como um foguete, e no final, é isso aqui o que
mais importa.
A família.
A minha é estranha, escandalosa, dramática e nem todos
compartilham do mesmo sangue, ainda assim, é a melhor família de
todas.
Saio de dentro da cozinha, depois de beber um copo d’água
e ouço a notificação do meu celular. Vejo mais um anúncio de
apartamento para alugar e o abro para ver melhor.
Estudo o preço, a qualidade do imóvel, porém a localização
não me agrada.
É em um lugar muito agitado, e estou procurando algo mais
tranquilo para a minha mãe.
– Penélope Duarte, está vendo apartamentos de novo? –
Rosa chama a minha atenção, sem deixar passar nada.
Agora, todos estão olhando para mim, curiosos. Meu
namorado estica o braço e me puxa para ele, me posicionando no
meio das suas pernas. Sua boca deixa um beijo no meu pescoço,
arrepiando minha pele toda.
– O que chegou pra você, desta vez? – Ele segura o celular
da minha mão, faz um beicinho fofo, avaliando o anúncio, e nega
com a cabeça. – Localização muito ruim. Minha sogrinha vai odiar.
Abro um sorriso bobo, por ele saber exatamente o que eu
quero, sem eu ter dito nada. Mas então, meu sorriso desaparece, ao
perceber que já se passou um mês, e eu não consegui achar nada
que me agrade.
– Você precisa relaxar, logo vai surgir alguma coisa muito boa
pra vocês. – Diana se aproxima e se posiciona do mesmo jeito que
eu, só que entre as pernas do seu namorado.
– Já faz um mês… – lembro.
– E você é uma pessoa muito exigente. Ou pensa que não
me lembro de quando escolheu o apartamento que você colocou pra
vender agora? – Yolis solta uma risada anasalada. – Foram meses
até que escolhesse um ponto entre suas cafeterias, pra que a
locomoção fosse melhor.
– Por que você não fica nesse apartamento, mesmo? – Ben
questiona, apoiando o queixo no topo da cabeça da namorada.
Solto um suspiro e me acomodo melhor nos braços de Arthur.
– Porque eu não vou, de jeito nenhum, voltar a morar no
lugar onde eu fui corna – digo, e eles dão uma risada meio
compreensiva. – Sem contar que o prédio é alto demais, e fica na
cobertura. Mesmo que tenha elevador, será muito ruim para a minha
mãe e para a minha melhor amiga. – Olho para Didi, que segura a
minha mão, agradecida. – Quero algo que seja, pelo menos, no
térreo.
– Mulher, você está sendo bem específica, não? – Lety diz,
apoiando-se no encosto do sofá.
– Se você quiser, eu conheço ótimos corretores de imóveis.
Posso passar alguns contatos pra você – Alfred se disponibiliza.
Abro a boca para agradecer a ele, quando Arthur me
interrompe, pegando o celular e o deixando na bancada.
– Que tal… não nos preocuparmos com isso agora? – Seu
olhar cai sobre mim, e eu franzo a testa. – Tenho certeza de que
uma sugestão muito boa vai surgir logo.
Arthur me olha de um jeito estranho. Troca olhares com seus
amigos e não diz mais nada.
Fico confusa por alguns segundos, porém logo ouvimos
passinhos apressados vindo do quintal, e em seguida, Rian, Victória
e Chéri entram na sala a toda velocidade.
– Mamãe! Mamãe! – Vic a chama, indo até o sofá onde a
mãe está. – Eu posso jogar a senhor patinho pra Chéri pegá?
– Eu disse pra ela que a Chéri vai rasgar o brinquedo todo,
mas ela não me escuta. – Rian cruza os braços e olha para o pai.
– Mas eu falo pra ela não rasgá – a menina tenta argumentar.
– Meu amor, a Chéri é uma cachorrinha muito agitada. Ela
não vai ouvir você pedir pra ela não rasgar – Alfred explica, olhando
divertido para a cena.
– Mas papai… – a pequena choraminga. – Ela não qué mais
a boinha…
– E ela te disse isso, gênio? – Rian retruca.
– Rian! – sua mãe o repreende, e ele se encolhe um pouco. –
Filha, a Chéri está muito feliz com a bolinha que você está jogando.
Olha a carinha dela.
Todo mundo se vira para a labradora, que balança o rabo
sem parar, tem as orelhas atentas e a língua para fora. Apenas
aguardando que a pequena jogue.
– Nós temos outra coisa que você pode jogar – Benjamin
avisa, e Vic se vira para ele com os olhos brilhantes.
– O que é, tio Benji?
Ele ri, entretanto, é minha melhor amiga que se apressa para
dentro e volta com mais dois brinquedos de plástico para cachorro
na mão.
– Onde conseguiu isso? – John questiona, olhando para as
mãos ocupadas de Diana.
– Eu sou uma mulher prevenida, irmão. E me preparo para
casos como esse. – Diana entrega para os irmãos, que sorriem
felizes. – Trago alguns em minha bolsa.
– Está se referindo àquela mala que é quase do seu
tamanho, e que você leva tudo quanto é tipo de coisa dentro? –
Yolis questiona e dá risada.
– Essa mesma.
– Obrigado, tia Diana – Rian agradece.
– Obigada, tia Diana – Victória fala, antes de segurar o
brinquedo atrás da cabeça e ameaçar jogá-lo no meio da sala.
– NÃO! – todo mundo diz ao mesmo tempo, assustando a
pequena, que arregala os olhos.
– Lá fora, meu amor. Tem que brincar com a Chéri lá fora –
Rosa avisa, engolindo em seco, provavelmente imaginando o
estado em que a sala ficaria.
As duas crianças saem, para o alívio de todos.
– ¡Ahí cabrones! [26] – Yolanda chama a atenção para ela. –
Mamacita está ligando.
Sorrimos para a mulher, que atende o telefone e fala com a
idosa.
– Espera, vou colocá-la no viva-voz. – Ela aperta um botão, e
a voz muito alta da senhora, é ouvida.
– ¡Buenas noches, niños![27]
– Boa noite, mamacita – dizemos em uníssono.
– Como estão todos? Ouvi dizer que meus hombres[28]
gostosos estão com vocês.
– Mamacita! – exclamo, quando todos, incluindo a velha, dão
risada.
– Semana que vem levaremos mais um, mamacita – Arthur
diz, olhando para Alfred. – Os braços dele não são tão fortes quanto
os meus, mas dá pro gasto.
O mais velho estreita os olhos para o mais novo, que lhe
lança uma piscadinha.
– Ay, Dios mío.[29] Vou estar muito bem servida.
Todos riem, enquanto eu balanço a cabeça em negativa.
Essa velha atrevida…
Sinto um arrepio passar por minha pele no momento em que
Arthur aproxima a boca do meu ouvido, e seu hálito bate contra ele.
– Com ciúmes, minha deusa? – Sua língua passa por meu
lóbulo, antes de seus dentes morderem a pontinha.
Me encolho no lugar, tendo aquela sensação costumeira de
quando ouço sua voz, nesse tom baixo e rouco.
– Não preciso ter ciúmes, amor. Eu me garanto.
Ele solta um gemido baixo, ao passo que abraça mais o meu
corpo. Por um instante, estamos em nosso mundinho, esquecendo
todo o resto ao redor.
– Toda vez que você me chama de amor, eu fico de pau duro
e louco pra te comer gostoso na primeira superfície que encontrar.
Solto um riso e me viro para olhá-lo nos olhos.
– Você sempre fica de pau duro, Arthur – sussurro baixinho. –
Essa é só mais uma desculpa.
Mordo o lábio, quando suas mãos apertam mais minha
cintura.
– Essa é só mais uma das coisas em você que me deixam
louco, formiguinha.
– Eu te deixo louco? – provoco.
Arthur sorri de lado e aproxima a boca da minha.
– Você sabe que sim.
Ele me beija, de um jeito que diz que mais tarde irá me
mostrar o quanto o deixo louco.
E minha calcinha molha de expectativa.
Nossas bocas se desgrudam, e eu solto um suspiro
apaixonado.
Volto para a agitação das pessoas na sala, vendo Yolanda
encerrar a ligação com a minha avó de coração. Ao lado, Milene
entrega Esteban nas mãos de John, e chega a ser engraçado, ver
um homem de um e noventa de altura segurando um bebezinho tão
pequeno.
– Com licença – Milene não olha para ninguém ao dizer isso
e sai para outro cômodo.
Franzo a testa, achando muito estranho o comportamento
dela. Na mesma hora, Yolanda e eu fazemos uma troca de olhares.
É, não sou só eu que estou a achando estranha.
Quando cogito ir atrás dela, o celular de Arthur apita junto do
meu. Olhamos ao mesmo tempo para nossas telas e o que vemos,
nos faz sorrir.
– Essas aqui, não estão querendo sair das Maldivas tão
cedo, viu – falo alto e viro o meu celular, para mostrar para Letícia.
Arthur mostra o dele para o irmão, que sorri abertamente.
Thays e Larissa receberam, de mim e de Arthur, uma viagem
com tudo pago para passarem a Lua de Mel nas Maldivas.
Meu namorado podre de rico quis pagar tudo sozinho, mas
obviamente, eu não deixei, porque queria participar do presente,
como uma boa madrinha que sou.
As coisas foram tão corridas, que mal pensamos no que dar a
elas, até que a mãe de Larissa comentou que elas ainda não tinham
definido o que fariam depois da festa de casamento. Foi então que
me lembrei de Thays já ter comentado o quanto adoraria ter dias de
paz nas ilhas, então Arthur e eu resolvemos dar exatamente isso às
noivas recém-casadas.
Ao que parece, um mês depois, elas continuam lá. Na foto,
ambas estão segurando seus drinks, vestindo seus biquínis e
deitadas confortavelmente em espreguiçadeiras.
Eu queria ter padrinhos tão maravilhosos quanto nós.
A foto passa de mão em mão, até que para em Rosa, que
solta um longo suspiro.
– Eu queria ir para as Maldivas…
– Bonitão, vamos para as Maldivas de novo? – Letícia mira
Alfred, que a encara com aquele semblante sério, entretanto, com
um sorrisinho despontando do seu rosto. – Eu mereço as Maldivas.
– Você merece o lugar que quiser, gatinha. – Ele pisca,
fazendo todas nós suspirarmos um pouquinho.
– Eu também mereço as Maldivas, marido – Rosa pontua,
sorrindo sacana para John.
– Se eu passar no processo para ser Major, nós vamos com
certeza. – Ele pisca, e a mulher comemora.
– Está tentando subir de cargo? – Benjamin questiona,
sorrindo para o cunhado.
John dá ombros, antes de apoiar o filho no ombro e segurá-lo
com uma única mão.
– Vou tentar, vamos ver se consigo.
– É claro que consegue. Você é o melhor bombeiro do
mundo. – Diana sorri para o irmão.
A baixinha estende o potinho de amendoim para o namorado,
que pega alguns na mão, e depois o deixa ao nosso lado, no balcão
da cozinha.
Meus olhos se arregalam, e eu me jogo na frente dela na
hora.
– Ficou maluca, Diana? – Seguro o potinho e o levo até a
mesa de centro, do outro lado.
Minha melhor amiga me olha, alarmada, assim como Yolanda
e Rosa.
– Arthur é alérgico a amendoim… – Letícia explica.
– Mas precisava quase jogar o pote na parede? – Yolis
pergunta, exagerada como sempre.
Coloco as mãos na cintura e olho para Arthur.
– A partir de hoje, está terminantemente proibido o amendoim
nas nossas reuniões de família – determino.
Um falatório se inicia. Todo mundo protestando e dizendo que
é só o Arthur não pegar, só que eu não quero saber. Não vou
arriscar.
– Nem adianta reclamarem – falo por cima de todos. –
Amendoim nem é tão gostoso assim.
– Não foi você que disse que é uma das melhores tortas da
sua cafeteria, até algumas semanas atrás? – Rosa arqueia a
sobrancelha, contudo, eu não me abalo.
– Isso foi antes de começar a namorar. – Chego perto de
Arthur, e ele abraça minha cintura de novo.
– Minha namorada é muito protetora – se gaba, levando a
cerveja até a boca e me fazendo sorrir.
Tomo um fôlego, para explicar para todos o meu ponto mais
uma vez, quando Milene entra em um rompante na sala, fazendo
todos a olharem e simplesmente solta:
– Eu vou perder a virgindade!
– O quê? – Rosa, Diana e eu soltamos.
Arthur cospe a cerveja que estava tomando, toda na minha
cara, Benjamin se engasga com um amendoim, e Diana corre para
bater nas suas costas, Alfred olha para a minha irmã com os olhos
arregalados e totalmente petrificado, Letícia tem o semblante
confuso e John tem um sorriso discreto no rosto, nem um pouco
abalado com o que acabou de acontecer.
Yolanda está caída no chão, dando risada sem parar.
– Milene, você enlouqueceu? – pergunto, enquanto ajudo
Arthur a respirar, depois que também começou a tossir.
Yolis não consegue parar de rir.
– Essa… foi… a … melhor coisa… da minha… vida! – E ri
mais ainda.
Diana e eu olhamos bravas para a minha irmã, que tem o
rosto roxo, de tão vermelho.
– Ai, meu Deus, me desculpem, eu… eu …
– Rapazes, gostariam de ver a churrasqueira que eu estou
construindo no meu quintal? – John, sereno e nada abalado,
pergunta.
– Sim! Por favor, sim! – Arthur se apressa a dizer e vai atrás
de John, que ainda carrega o pequeno Esteban.
– Churrasqueira. Eu adoraria ver a churrasqueira – Alfred
fala, largando a garrafa de cerveja na pia e seguindo o irmão para
os fundos.
Benjamin ainda parece transtornado, tentando se recuperar
do baque, e balança a cabeça para cima e para baixo, seguindo os
outros.
Tomo uma respiração bem longa, pegando um guardanapo
na pia e secando o rosto.
Agora, as mulheres reunidas, olhamos para a Bebê, que
parece estar prestes a chorar.
Aponto para o sofá.
– Senta aí e explica isso direito – mando, e ela obedece na
hora.
Ao seu lado, Letícia olha ainda mais estranhamente para ela.
– Você é virgem? – a morena questiona.
– Ela… Ela é um neném virgem, sim – Yolanda responde,
finalmente parando de rir e se sentando ao lado da melhor amiga.
Rosa começa a andar de um lado para o outro, Diana leva os
dedos até a boca, e eu cruzo os braços em frente ao corpo.
– Foi uma decisão dela – acrescento, já que o rosto de
Letícia continua confuso.
– Entendi. Faz sentido, na verdade. Uma mulher tão linda
assim, não teria transado ainda por opção. – Ela sorri para a minha
irmã de modo simpático. – Você é uma pessoa muito religiosa?
– Não. Quer dizer, eu tenho a minha fé… Isso não tem nada
a ver com religião. – Ela cutuca os dedos das mãos. – Eu só ainda
não encontrei um cara que me fizesse desejar isso, sabe?
– E, por um acaso, você o encontrou agora? – Diana indaga.
– Ainda não.
– E por que caralhos você disse que vai perder o cabaço, de
uma hora para outra, Bebê? – Rosa parece verdadeiramente
inconformada.
– E tinha que jogar isso na roda? No meio de todo mundo? –
eu questiono.
Milene faz aquela cara de choro de novo, e Yolanda a abraça,
apoiando a sua cabeça no ombro. Rindo, mas abraça.
– Eu acho que sei o que aconteceu – a morena de cabelos
curtinhos diz.
Milene afasta a cabeça e a olha.
– Sabe?
– Sei, Bebê. Você viu os casais formados aqui dentro e ficou
triste.
– Eu não fiquei triste, eu estou muito feliz por todas vocês… –
Ela nos olha, desesperada.
– Sabemos que está feliz por nós, Milene. – Diana se agacha
na sua frente. – Principalmente por sua irmã.
A Bebê fita meus olhos, e eu sinto meu coração se apertar.
– Oh, meu amor! Conta o que está acontecendo. – Me sento
na mesinha no centro da sala, Rosa faz o mesmo, ficando ao meu
lado.
Rodeada de amigas – depois dessa, Letícia é oficialmente
nossa amiga –, minha irmã parece mais confortável para falar.
– Começou no casamento. Eu fiquei tão feliz por você ter tido
coragem de seguir seu coração, Penny. – Ela me olha, e eu abro um
sorriso. – Você estava tão apaixonada pelo Arthur. Abriu mão dos
seus medos, do seu orgulho, de toda a ideia de ódio que sentia por
ele e tentou de verdade.
Minhas amigas se viram para mim, uma sorrindo de modo
mais orgulhoso que outra.
– Eu tive, sim, que abrir mão do orgulho. Tive que parar e
enxergar Arthur de verdade, e perceber o homem extraordinário que
ele é.
Meu peito se enche, ao pensar na nossa trajetória. Quando
tudo começou de um jeito estranho, com duas pessoas magoadas,
e acabou com um amor que eu jamais imaginei sentir por alguém
um dia.
Todos os dias, eu aprendo como é amar uma pessoa. Todas
as vezes em que eu vejo o calor nos olhos castanhos de Arthur e o
brilho do sorriso que me desestruturou.
Assistir Arthur vivendo, é o que encoraja a prosseguir. É o
que me motiva e incentiva.
Qualquer coisa que eu tenha pensado que senti por meu ex,
não se compara ao que eu sinto por ele.
Arthur me mostra todos os dias que eu posso ter a vida que
sempre quis, e eu quero que seja ao seu lado.
– Isso! É isso o que eu quero. – Milene aponta para mim, me
tirando dos meus pensamentos. – Eu quero pensar no homem que
está comigo e ter essa feição.
– De boba? – Yolis brinca.
– De amada. Eu quero ser amada por alguém, como vocês
são.
– Mas por que você precisa perder a virgindade, Bebê? –
Rosa pergunta.
– Foi o que a Larissa disse, não foi? – Letícia diz, e ela
concorda com a cabeça. – Ela disse que apresentaria um cara pra
você, e você não quis.
– Exato. E eu não quero mais isso. Sexo é pra ser só sexo.
Se ele será a porta de entrada para que eu encontre minha outra
metade, então vai ser assim que farei.
– Milene, talvez seja melhor pensar mais a respeito – eu
sondo.
– Eu já pensei muito, Penny. Foram vinte e três anos
pensando. Estou prestes a fazer vinte e quatro. – Seu olhar é
decidido. – Chega de pensar. Está na hora de agir.
Estudo seus olhos verdes bonitos, não encontrando nenhuma
dúvida. Ela vai mesmo fazer isso.
Eu só espero que não se arrependa e que tenha um final
feliz.
– Então é isso? Você é a próxima – Yolanda conta, nos
fazendo sorrir.
– Próxima? – Lety pergunta.
– Quem, de nós, terá sua próxima história de amor contada –
Diana esclarece.
– Não é como se tivesse sobrado muitas opções. Só vocês
duas, na verdade – Rosa pontua.
– Você também é virgem? – Letícia se vira para Yolanda, e
todo mundo ri.
– Só do cu mesmo.
– Mentirosa, você já deu o cu! – Milene afirma, dizendo mais
alto que o recomendado.
– Aquilo não conta. Entrou errado! – Yolis protesta.
Rosa e Diana jogam a cabeça para trás e cascam o bico.
– Mas só tem dois buracos lá embaixo. Como entrou errado?
– eu questiono, mesmo já sabendo essa história de cor e salteado.
– Então, quando o pau ficou na entradinha…
– Yolanda, não vai assustar a visita. Pelo amor de Deus –
Rosa tenta controlá-la, se referindo à Lety.
– Ah não, não. Eu quero saber dessa história agora! – A
morena até se desencosta do sofá.
Dou risada, observando a cena na minha frente e ouvindo
pela enésima vez, a história da quase perda de virgindade do cu da
Yolanda.
Rodeada por quem eu amo, me traz a sensação de estar em
casa.
Como eu disse, os dias voam. Mas isso aqui…
Isso aqui é a melhor parte dos meus dias. Isso e Arthur
Rabello.
Eu nunca imaginei que seria um homem que cometeria
loucuras por amor.
Para começar, eu sempre o evitei. Nunca me relacionei com
alguém tendo intenções de aprofundar a relação, criar algum laço ou
ter algum sentimento envolvido.
Tudo o que eu sempre procurei foram fodas passageiras, que
suprissem minhas necessidades, e nunca tive nenhuma pretensão
de iniciar um relacionamento sério.
Amor? Esse, eu nunca nem cheguei perto de sentir.
Sempre foi algo que apenas vi em casa, na relação dos meus
pais, do meu irmão e minha cunhada, entretanto, nunca havia
experimentado.
No fim, acho que se trata muito mais de encontrar a pessoa
certa, do que apenas estar disposto a amar alguém.
Porque, mesmo que eu tivesse tentado, não seria em nada
parecido com o que eu sinto por Penélope.
Eu entendi que é ela. Se trata dela. E que eu só precisava
encontrá-la, para viver o amor que eu apenas conheci, mas nunca
realmente senti.
E chegamos na minha loucura de amor.
Eu queria mostrar à Penélope o quanto eu estou nessa. Em
nós. Em nosso amor e no que ele significa para mim.
No que ela significa para mim.
Eu pensei muito a respeito e no que isso implicaria. Analisei
todas as nuances e probabilidades. Tentei encontrar qualquer
resquício de incerteza, porém não encontrei nada.
Tudo o que encontrei foi o que eu sinto por ela e o quanto
desejo passar o resto da minha vida ao seu lado.
Da sacada do meu quarto, vejo Penny entrar pelo grande
portão da minha casa e depois, seu carro desaparecer na garagem
coberta.
Saio de onde estou e me posiciono no meio do meu quarto.
Um nervosismo cresce dentro de mim, com meu corpo
percebendo que algo muito importante está prestes a acontecer.
Respiro fundo algumas vezes, contudo, a cada segundo de
espera, fico mais ansioso.
E se eu tiver sido precipitado demais? E se assustá-la? E se
ela se sentir pressionada?
E se…
Qualquer dúvida que tenha nascido em minha mente é
completamente evaporada, no momento em que Penny entra no
meu quarto.
Como é linda…
Seus cabelos bonitos estão soltos ao redor do rosto, ela usa
um vestido azul, na altura dos joelhos, e sandálias rasteiras nos pés.
Seu rosto está um pouco aflito e preocupado, como
normalmente acontece por causa de alguma questão no trabalho,
entretanto, assim que deixa sua bolsa na minha poltrona e ergue os
olhos para mim, sua feição muda por completo.
E é isso. Esse é o momento que confirma tudo.
Que me dá a certeza de que tomei a decisão certa.
O ar ao meu redor se torna mais fácil de respirar. Meu corpo
relaxa os músculos tensos. Meu coração bate mais forte.
Tudo melhora, quando o amor da minha vida para à minha
frente, carregando um sorriso lindo e espalhando o seu cheiro bom
para todo o lado.
– Oi, amor – diz.
– Você tem cheiro de mar. – São as minhas palavras.
Como se fosse possível, seu sorriso se torna mais radiante.
– Eu tenho?
– É um cheiro de maresia. Que me lembra praias, águas
cristalinas e verão. Mas também… – Aproximo, até que sinta o calor
do seu corpo no meu. – Também tem um cheiro de limão. Algo
cítrico.
Ela solta um risinho e me agracia com o toque delicado de
suas mãos nos meus braços. Elas deslizam por minha pele,
alcançando meus ombros e se infiltrando em meus cabelos.
– Acho que é o creme hidratante que passo. Esses dias,
estava pensando em mudar, porque…
– Por favor, não mude. – Seus olhos encontram os meus,
curiosos. – Eu amo esse cheiro misturado com o seu. Eu amo tudo
em você, na verdade.
Seus olhos cintilam de uma maneira que destaca os detalhes
azuis em suas írises. Nunca vi olhos tão azuis como os dela, tão
marcantes.
Nunca vi nada como ela, sinceramente.
Penélope é uma obra feita por mãos divinas e que merece
ser zelada pelas mãos do melhor curador que existe.
E hoje, pedirei para que seja eu, o felizardo.
– Vamos assistir o filme? – Ela segura a minha mão e
começa a me puxar para a cama. – Paramos no terceiro, né?
– Espera um pouco – a impeço de prosseguir e a puxo de
volta. – Tem algumas coisas que queria dizer.
Penny me olha, curiosa, porém faz o que eu peço. Ando um
pouco, até chegarmos de frente para o espelho de corpo inteiro que
toma quase toda a parede do quarto.
– O que você tem? – A preocupação em seu rosto, faz meu
peito se encher.
Como eu amo essa mulher.
– Você acredita em amor à primeira vista? – Miro seus olhos
bonitos.
Ela pensa um pouco, antes de responder.
– Não tenho certeza. Parece ser uma coisa muito significativa
para acontecer de primeira. Por que a pergunta?
– Porque eu acho que te amei na primeira vez em que te vi.
Penélope para de respirar por um momento. Levo minhas
mãos até seu rosto, afastando uma mecha de seu cabelo e a
colocando atrás de sua orelha. Abraço sua cintura, trazendo-a para
mais perto.
– Você estava tão linda, que eu fui levado à você, Penélope.
Atraído, como uma mariposa é atraída pela luz. Mal percebi o que
estava fazendo. Eu só andei. Caminhei até você e acho que sei o
que aconteceu. – Seus olhos marejam, tornando-se mais vívidos. –
Meu coração foi ao encontro daquilo que ele sempre buscou.
Uma lágrima escorre pelo seu olho esquerdo, e eu a pego
com o dedo. O mesmo acontece com o direito, e eu a pego também.
– Eu sempre tive de tudo na minha vida, Penny. Desde
dinheiro a poder. Mas nada, nem o item mais valioso dentro dessa
mansão, se compara ao que você é e ao que me faz sentir. Não
chega aos pés da luz que você trouxe aos meus dias nublados.
– Arthur… – ela sussurra, e eu sorrio.
Isso sempre acontece quando fica sem palavras. E eu adoro
o fato de sussurrar meu nome.
– Eu vejo você. Eu estava perdido, até te encontrar. – Seguro
sua mão e levo até meu coração, batendo violentamente. – Meu
coração bateu de verdade, quando você entrou em minha vida, meu
amor. Mesmo que a princípio tenha despertado raiva, você ainda foi
o que o despertou. Eu te amei, quando te odiei. Eu te amei, quando
você me fez rir pela primeira vez. Eu te amei, quando me deu uma
parte sua que eu nem merecia. Eu te amei, quando se entregou
para mim. E eu te amei muito mais, por você me amar de volta.
Respiro fundo e digo a frase que habita o mais profundo da
minha alma.
– Eu cheguei tarde para ser o seu primeiro amor. Mas por
favor, me deixe ser o último.
– Ah, Arthur…
– Eu pensei em como poderia demonstrar para você o que
sinto. O quanto desejo tê-la ao meu lado para sempre. E então, eu
cometi uma loucura.
Seu olhar se espanta ao ouvir isso.
– Arthur Rabello, o que você fez? – Seu nariz avermelhado
funga.
– Eu te marquei, permanentemente em mim.
Seus olhos ficam maiores ainda, e eu sorrio. Ela não faz
ideia…
Sem precisar dizer mais nada, me afasto um pouco do seu
corpo e me viro de frente para o espelho.
Penny parece confusa, mas eu escolhi esse lugar, para não
perder nenhuma reação dela.
Seguro a barra da minha camiseta, a levanto e a retiro de
uma vez.
E um arfar deixa os lábios de Penélope.
Os olhos azuis dela se arregalam. No início, fica sem reação
nenhuma. Em seguida, mais lágrimas molham sua bochecha
corada, e seus olhos encontram os meus através do espelho.
– Angel?
Sorrio e concordo com a cabeça.
Na parte superior das minhas costas, há uma nova tatuagem.
Com as cores preta, azul cobalto, azul marinho e azul royal,
há um céu estrelado pintado permanentemente em minha pele.
Somos nós. Ou pelo menos, a visão que tivemos naquele
morro, a algumas semanas atrás.
O céu está banhado de pontos brilhantes, a paisagem
também leva o topo das árvores mais altas na parte inferior do
desenho, e não há nuvens. Apenas as estrelas que hoje, tanto para
mim quanto para Penélope, possuem um novo significado.
Com uma mão, minha mulher tapa a própria boca, ainda
chocada, e com a outra, passeia delicadamente os dedos pelo
desenho.
Ela toma o seu tempo. Observando cada detalhe com
cuidado.
Seu olhar encontra o meu novamente, e ela sussurra a
pergunta:
– Por quê?
Viro-me, para que entenda cada palavra que direi.
– Porque nós somos eternos. Permanentes. Como as tintas
em minha pele. – Minhas mãos secam o seu rosto, que agora
carrega um lindo sorriso. – Mesmo que já te quisesse, esse foi o
momento em que as coisas mudaram para nós. Foi o momento em
que eu soube que estava apaixonado e que eu faria de tudo para
ver você bem e feliz. E, se eu tivesse uma sorte do caralho, você
também estaria comigo.
– Deus… ela é linda. – Seu olhar se volta para atrás de mim,
em meu reflexo no espelho.
– Quero que, quando não puder olhar as estrelas do céu, as
veja em mim. – Seu olhar encontra o meu novamente. – Sempre
que quiser vê-las, elas estarão aqui. Comigo.
Suas mãos se apoiam em meu peito. Penny fecha os olhos
por alguns instantes, antes de se concentrar em mim.
– Arthur, eu… Não tenho palavras pra dizer o quanto eu amei
esse gesto. Eu… – Ela respira fundo. – Angel teria te amado. Tanto
quanto eu amo.
Essa declaração faz meus olhos pinicarem. Saber disso, é
tão precioso quanto ouvir que seu coração me pertence.
– Eu também teria a amado, Penélope.
– Eu sei. Eu tenho certeza disso. – Ela sorri. Há um
sentimento de tristeza junto, porém ela sorri.
Tomo um fôlego e me preparo para a segunda parte do meu
plano.
– Eu tenho uma proposta para te fazer. – Ela me olha,
assustada, e eu dou risada. – Calma, ainda não é uma proposta de
casamento. Mesmo que eu não vá demorar muito tempo para
colocar uma aliança em seu dedo.
Lanço uma piscadinha, e ela ri.
– Certo… E qual é a proposta?
Mordo o lábio, sentindo um frio na barriga. Levo a mão até o
bolso de trás da minha calça de moletom e pego o objeto.
Trago-o para frente do rosto dela e a deixo ver o que é.
Sua testa enruga, quando ela olha dele para o meu rosto,
depois para ele e para o meu rosto de novo.
– Uma chave? Pra quê uma chave? – Permaneço em
silêncio, com um sorriso discreto no rosto, até ela entender. Quando
acontece, sua boca escancara. – Você não está me sugerindo…
– Mora comigo?
– Eu?
– Sim.
– Morar aqui?
– Aqui.
– Com você?
– Eu pretendo morar na minha casa, sim. No caso, não
pensei em ir morar na rua, nem nada do tipo.
Ela solta uma risada desesperada e volta a olhar para a
chave, antiga e adornada, como se fosse um item mágico.
– Arthur, isso é loucura… E minha mãe? Eu não posso deixá-
la sozinha, principalmente agora, que vai começar o tratamento e…
– Penélope, já viu quantos quartos tem essa casa? Lugar
para a sua mãe, não vai faltar.
– Mas… É a sua casa…
– Sim, e eu tenho mais dezenas espalhadas por aí. Se não
gostar dessa, é só escolher outra.
– Meu Deus… – Ela segura a chave, ainda chocada.
– Não precisa mais quebrar a cabeça para tentar encontrar
um lugar tranquilo para a sua mãe, nem de companhia para ela,
porque aqui tem tudo isso. Ela ficaria em um quarto no primeiro
andar e teria acesso livre à cozinha sempre que quisesse. Só vejo
vantagens.
– E você faria isso? Nos traria para dentro da sua casa?
– Penélope, meu amor. – Retiro a chave da sua mão, a jogo
em cima da minha cama e seguro seu rosto entre as mãos. – Não
entendeu ainda que eu faria tudo por você? Eu vou poder acordar
todos os dias ao lado da mulher da minha vida. Essa foi a melhor
decisão que já tomei na vida.
Penny fecha os olhos por alguns instantes, nega com a
cabeça e volta a me olhar. Há um sorriso brincando em seus lábios.
– Você é completamente maluco, Arthur Rabello. Me tira do
sério, me irrita, me faz passar raiva… – Suas mãos se fecham ao
redor das minhas. – Mas é o único homem que eu amei de verdade
em toda a minha vida. Eu aceito vir morar com você.
E como fogos de artifício estourando no céu, meu peito se
enche da mais pura alegria.
Nossos lábios se encontram no instante seguinte. Há aquela
sincronia, aquela coreografia, aquela dança que fazemos com tanta
perfeição.
O que nossas mãos tocam, os sons que fazemos, e a
respiração que compartilhamos, fazem parte de uma sinfonia
perfeita.
Penélope nasceu para ser minha, e eu nasci para ser dela.
E sou grato por ter percebido isso a tempo.
O beijo se torna mais ardente. Mais necessitado.
Minhas mãos retiram seu vestido, suas mãos retiram minha
calça. Meus dedos arrancam sua calcinha, seus dedos puxam de
mim a minha cueca.
Minha boca desce até seu pescoço, eu beijo, eu chupo, eu
mordo sua pele.
Eu ouço seus gemidos. Sinto seu arfar.
Seus dedos buscam minha pele. Suas unhas me marcam.
Minha mão agarra seus seios, sua garganta deixa um
gemido. Meu coração dispara. Seu coração dispara.
Meu corpo pede por ela. Seu corpo pede por mim.
E eu me entrego.
Beijando e tocando sua pele sempre tão quente, eu dou à
Penélope tudo o que ela quer, e ela me dá o que preciso.
Afasto meus lábios de sua pele avermelhada, focando em
seu olhar languido e sensual. Sua boca em formato de coração está
inchada, os cabelos bagunçados, e seus peitos gostosos sobem e
descem em uma respiração ofegante.
– Você é linda pra caralho, Penélope. – Viro-a de frente para
o grande espelho, exibindo para nós dois, nossos corpos nus. –
Olha a perfeição de mulher que você é, minha deusa. Minha. Você é
toda minha.
Encosto meu pau endurecido em sua bunda, ao passo que
minhas mãos se fecham ao redor dos seus seios. Ela geme, se
esfregando com ousadia em mim, sem desviar o olhar de nós dois.
– Gosta do que vê, não gosta? – Ela murmura. – Sei que
gosta de ser espectadora, Penny. Ou pensa que me esqueci
daquele dia dentro do guarda-roupa, quando ficou excitada vendo
as nossas amigas se pegarem?
Seus olhos arregalam, e eu sorrio perversamente. Acho que
Penélope mal percebeu o que estava acontecendo ou o que estava
sentindo naquele momento. Contudo, eu vi. Não há nada nessa
mulher, que eu não veja.
– Você sabia que tinha tendências voyeurs, Penélope? –
Seus lábios se desgrudam um do outro, quando minha mão
escorrega para o meio de suas pernas. – Você percebeu que sua
bocetinha ficou molhada, exatamente como está agora?
Aliso meus dedos em seus lábios excitados, ouvindo o
gemido alto da boca dela. Enterro meu nariz em seu pescoço,
sentindo seu cheiro bom, para logo em seguida, morder sua pele.
– Eu acho que você gosta de olhar, de assistir… Talvez um
dia, te leve a uma casa de swing, não sei. – Minha outra mão solta
seu seio e segura firme o seu cabelo, a obrigando a me olhar. – Mas
hoje, você vai olhar nós dois, Penélope. Vou foder a sua boceta e o
seu cu em frente a esse espelho, e você não vai perder nenhum
segundo disso.
– Arthur, por favor… – choraminga, e eu não paro de torturá-
la com meus dedos, pressionando seu clitóris.
– Apoie as mãos no espelho – ordeno, e ela me obedece.
Afasto suas pernas, usando meu pé, e ela se abre mais ainda para
mim.
– Ai, Deus… – Seus olhos pesam.
– Me diz, Penélope. O que você vê? – Ela engole em seco,
me olhando atentamente. – Qual a história do casal à sua frente?
– Você quer…
– Quero que me diga qual é a história do casal em frente ao
espelho. – Tiro minha mão da sua boceta, e ela resmunga. –
Responda. Agora.
Olhando para mim através de nossos reflexos, ela faz o que
eu mando.
– A mulher teve o coração partido, vivia reclamando de tudo e
vivia de mau humor. – Solto uma risadinha e começo a beijar a sua
nuca. – Ela só pensava em trabalho e não queria ficar com nenhum
homem.
– E o que mais? – Meus lábios vão descendo por toda a sua
coluna, até que esteja ajoelhado atrás da sua bunda grande.
– O ho-homem… Ele era um galinha… – gagueja, quando
distribuo beijos por sua bunda, a segurando firme em minhas mãos.
– Ah, ele era?
– Era… Muito... Jesus! – Penny perde a compostura, quando
minha língua encontra sua vagina pela primeira vez. – E… E ele é
rico. Muito rico… Ah.
Seguro sua cintura, quando começa a se contorcer, passando
a chupar sua entrada. Minha língua se lambuza com sua excitação,
deixando seu sabor e fazendo meu pau pulsar a cada lambida. Levo
um dedo até sua entrada, o molho, e depois o levo até o seu cu.
Penny luta bravamente para permanecer com os olhos
abertos, mesmo que esteja gemendo e se contorcendo cada vez
mais.
– O que aconteceu com esse casal? – indago.
– Eles…
Sua fala morre e se transforma em um gemido, quando meus
lábios envolvem seu ânus, e em seguida, minha língua o lambe.
Enfio dois dedos dentro da sua boceta, entrando e saindo, enquanto
minha boca continua o serviço de enlouquecê-la.
– Eles… Porra… Eles brigaram – ela se esforça para falar.
– E depois, Penélope. O que houve? – Minha língua sobe e
desce. Desde sua boceta encharcada, até o seu cu apertado.
Penélope joga a cabeça para trás, gemendo alto quando uso
a outra mão para massagear seu clitóris.
E eu me concentro para não gozar aqui mesmo.
– Eles fizeram as pazes. Arthur, puta merda!
Seu corpo começa a estremecer, e eu paro tudo o que estou
fazendo. Ouvindo Penélope rosnar, furiosa, inclino seu tronco um
pouco mais para frente e trago sua bunda mais para mim. Posiciono
meu cacete na sua boceta, melando sua entrada com o meu pré-
gozo.
Bom pra caralho!
– E agora, meu amor, ele vai fodê-la. Como nunca a fodeu
antes.
– Por favor… – implora, e eu me afundo nela.
De uma vez.
Nós dois gememos com o impacto. Sinto sua boceta me
apertar e me engolir até o fundo.
Olho para baixo, admirando sua bunda encaixada na minha
frente e desfiro um tapa forte na sua nádega branca.
Ela geme. Outro tapa.
Ela geme de novo. Mais um tapa.
Sua bunda rebola, e eu começo a me mexer.
Fodo de encontro a ela. Assistindo em primeira mão, sua
bunda tremer conforme toca em meu quadril.
Saio e entro com vontade. Apertando sua pele e deixando
minhas marcas nela.
Foco no espelho à minha frente, vendo Penélope com os
lábios entreabertos, as mãos firmemente apoiadas no espelho, os
peitos balançando para frente e para trás, e os olhos fechados.
– Abra os olhos, Penélope. Olha como você fica linda sendo
fodida por mim.
Como sempre, ela obedece. Seu olhar encontra o meu, e eu
fico transtornado.
Arrasto minha mão por sua coluna, beijo sua nuca, mordo
seu pescoço e lambo sua orelha.
Estoco, cada vez mais descontrolado, sentindo a melhor
sensação de todas, que é ter meu pau sugado por ela.
Bato na sua bunda de novo uma, duas, três vezes.
Sua pele se torna avermelhada de um jeito magnífico, e
quando minha mão desfere mais um tapa, Penélope solta aquele
sonzinho estridente e delicioso, e goza.
Seu orgasmo é potente, me obrigando a segurar firme seu
corpo no lugar, quando estremece violentamente.
Ela mal termina, e eu já estou retirando o meu pau, e usando
minha mão para espalhar seu gozo na sua outra entrada.
Seu cu pisca quando melo sua pele, e quando olho para
Penélope, ela está de olhos arregalados.
– Eu não sei se aguento você… – fala, ofegante.
Sorrio, ao passo que meu dedo a penetra sem dificuldade.
– Você vai aguentar, deusa. Vai aguentar tudo o que eu tenho
pra te oferecer. – Enfio mais outro dedo e bombeio lá dentro. Minha
safada geme e rebola sem pudor algum. – Vou comer seu cu agora,
Penélope.
Quase choro de alegria.
Tiro os meus dedos, apenas para substituí-los por meu pau.
Quando a cabeça pede passagem, Penélope o contrai, e eu espero
até que relaxe. Levo minha mão livre até seu clitóris e inicio uma
massagem lenta.
Ela finalmente relaxa, e eu começo a entrar.
Pouco a pouco.
Centímetro a centímetro, Penélope vai me recebendo.
Trinco os dentes, quase perdendo o controle, por ser tão
apertado. Sentindo um calafrio se arrastar por minha coluna e o
tesão dominar cada parte do meu corpo.
Minha mulher me ordenha uma última vez, até que esteja
totalmente dentro dela.
– Puta que pariu. É a porra do paraíso! – rosno, olhando mais
uma vez para a imagem à minha frente.
Inicio o vai e vem devagar, deixando Penélope se acostumar,
mas sabendo que não vou durar muito mais tempo.
Meus dedos em seu clitóris começam um trabalho mais
preciso, fazendo-a gemer meu nome e revirar os olhos.
Começo a perder o controle e a aumentar a velocidade. Para
a minha felicidade, Penny não reclama.
Não faz careta.
Não resmunga.
Apenas me recebe. Gemendo, rebolando e se contorcendo.
E então, eu fodo o seu cu do jeito que sempre quis.
Seguro na lateral da sua bunda gorda e meto sem parar. Meu
coração martelando forte, cada músculo do meu corpo rígido, e
minha respiração quase inexistente.
Com a bunda mais gostosa de todas batendo de encontro a
mim, eu tenho a melhor foda da minha vida.
Penny já se perdeu, fechando os olhos, gritando sem parar e
arranhando o espelho à sua frente, e quando minha mão segura a
sua garganta, ela tem um segundo orgasmo.
Estremecendo e com vários sons deixando sua boca, seu
orgasmo chega e antecede o meu.
Esporro dentro do seu cu, soltando um rosnado entre os
dentes e vendo pontos pretos na minha visão por alguns segundos.
– Caralho… – digo ofegante, conforme toda a minha porra
deixa o meu corpo.
Ficamos em silêncio durante uns instantes, com nossas
respirações sendo o único som em meu quarto.
Saio de dentro dela devagar, estremecendo no processo e
vendo um filete branco escorrer por suas pernas.
Sorrio abertamente, como um maluco possessivo.
– Linda, com a minha porra em sua pele.
Penélope abre os olhos, ainda respirando com dificuldade e
nega com a cabeça.
– Você é maluco – sussurra.
Dou risada, virando-a para mim e em seguida, a segurando
no colo. Deixo um beijo lento e delicioso na sua boca, com ela
abraçando meus ombros.
– Eu posso ser maluco, mas eu sou um maluco rendido por
você. – Ela solta aquela gargalhada que eu tanto amo. Olho em
seus olhos brilhantes, para o sorriso aberto e o rosto mais lindo de
todos, antes de completar: – Eu me encontro em você. Eu vejo
você. Eu amo você.
Em sua boca há um sorriso carinhoso. Sua mão toca a minha
bochecha, e me olha com ternura.
– Eu me encontro em você. Eu vejo você. Eu amo você,
Arthur.
Toco nossas testas e inspiro seu cheiro.
– Briga comigo para sempre?
Sorrindo, concorda com a cabeça.
– Para sempre, como as tintas de uma tatuagem.
E, quando beijo a sua boca mais uma vez, entendo como é
amar alguém.
É fácil. É prazeroso. É perfeito.
Isso é tudo o que eu preciso. Isso e Penélope Duarte.
7 anos depois
O coração de Arthur Rabello batia à toda velocidade.
Anos depois, e ele continuava desafiando as leis, e pondo
sua vida em risco.
Eram momentos eletrizantes como este, que faziam de sua
vida a melhor de todas.
Não quando sua editora ganhara prêmios e reconhecimento
por ser o melhor jornal econômico de todo o país.
Ou quando sua esposa abrira outras lojas, e o Café da Penny
se tornara a melhor cafeteria do estado de São Paulo.
Nem quando a fábrica de farinha que Arthur lhe comprara, há
bons anos atrás, triplicou de tamanho e se transformara em uma
das maiores distribuidoras de farinha da região.
Não.
Os momentos em que Arthur mais sorria, mais se sentia
completo e mais agradecia por estar vivo, eram os entre família.
Sorrindo abertamente, ele anda devagar, agachado, até se
pôr atrás de uma das bancadas da cozinha. Seu rosto se vira, e ele
espia com cuidado, para avaliar a situação por completo.
Do outro lado da ilha da cozinha, Penélope remexe nos
ingredientes do bolo que decidiu preparar de última hora.
Depois de alguns anos, sua esposa resolveu ser mais ativa
na preparação de algumas das maiores receitas de sua mãe. Dona
Marta passou a frequentar a cozinha com menos frequência,
principalmente quando sua doença voltara, depois de alguns anos
de remissão. Foi então que a filha decidiu passar mais tempo
conhecendo suas receitas, do que somente as vendendo.
Nesse momento, por conta de uma visita de última hora, sua
mulher correu para preparar algo para receber as pessoas.
De costas para onde está, Arthur admira, sem nenhum pudor,
a bunda da esposa, sendo que essa, sem dúvidas, é uma das
características nele, que jamais mudará.
– Papai, você tá fazendo de novo. – O sussurro próximo ao
seu ouvido, faz com que Arthur tire sua atenção do corpo de
Penélope.
Virando-se para o seu lado, já com o indicador nos lábios, ele
pede silêncio ao filho.
O pequeno Carlos Eduardo, de apenas cinco anos, cruza os
braços e faz um bico irritado para o pai.
Sua cópia perfeita, a criança tem os cabelos castanhos de
Arthur, ondulados e sempre bagunçados, e o tom de pele bronzeado
dos Rabello. Se não fossem pelos olhos incrivelmente azuis como
os da mãe, diriam que ele é apenas filho de Arthur.
O pai não resiste. Deixa um beijo molhado na bochecha
gorducha do filho, só que a careta não se desfaz.
O gênio, claramente, igual ao da mãe.
E ela continua sendo meu carma…
– Filho, precisamos ficar em silêncio – sussurra o mais baixo
que pode.
– Mas o papai tá olhando bobo pa mamãe de novo –
resmunga.
O homem suspira derrotado, sabendo sim, que estava
olhando com cara de bobo para a mulher.
Porém, ele não pode evitar.
Existem momentos em que ele simplesmente não conseguia
deixar de admirar a esposa. Principalmente agora, quando ela está
desse jeito.
O pai une ambas as mãos em um gesto de desculpas e pede
silêncio novamente.
Aponta em direção à esposa, e o rosto carrancudo do filho
logo se desfaz, e o sorriso perverso toma o rosto.
Isso ele herdou de mim, sem dúvidas.
O pequeno se aproxima mais, avaliando a mãe, que agora
cantarola enquanto passa a farinha na assadeira. O pai o questiona
com o olhar, que desde muito novo, o filho já entende, e o menino
acena com a cabeça.
Com os dedos no ar, ele conta.
Um.
Dois.
Três.
– Buuuuuu! – Pai e filho saltam de trás da bancada aos
berros, dando um susto em Penélope.
Um grito alto deixa a garganta dela, ao mesmo tempo que
farinha voa para todo lado.
Os dois caem na gargalhada no instante em que veem a cara
de espanto da mãe e o rosto completamente tomado pelo pó
branco.
– Te pegamos de novo, mamãe! – A criança tem a mão na
barriga, conforme ri.
– Eu e o Cadu te assustamos de verdade. Não é, filhão? –
Arthur ergue a palma da mão para o filho bater nela de encontro.
Os dois ainda estão rindo, quando percebem que Penélope
não esboçou mais nenhuma reação. Suas risadas vão morrendo, e
seus sorrisos desaparecendo, ao passo que seus olhos encontram o
rosto da mulher.
Furiosa.
Penélope está furiosa.
O silêncio reina pelo recinto, quando os dois se entreolham e
depois fitam o rosto avermelhado dela.
Arthur começa a sentir o peito acelerar novamente, porém
não é mais de excitação, e sim, de medo. Sua boca se abre para, ao
menos tentar apaziguar a fera, mas nada chega a sair.
Não quando a esposa se vira rapidamente para o balcão,
mergulha as mãos dentro da farinha e se vira para eles de novo.
– Vocês me pagam! – E a primeira lufada de farinha vai na
direção de Arthur.
O homem desvia por pouquíssimos centímetros, e quando
percebe, sua esposa está correndo atrás do filho na cozinha.
– Corre, Cadu. Corre! – o pai grita.
Gargalhando alto e sem parar, o menino corre com toda a
velocidade que suas pernas pequenas o permitem.
– Vem aqui, seu malandrinho! – a mãe grita, determinada a
fazê-lo pagar.
Cadu escorrega e cai no chão, quando se aproxima da pia, e
antes que consiga se reerguer, uma montanha de farinha cai sobre
seu rosto.
A mulher não perdoa.
Rindo diabolicamente, espalha a farinha pelo rosto e pelo
cabelo do menino.
– Não! Não! Para! – ele suplica, entretanto não há piedade
por parte da mãe.
– Eu te salvo, filho. – O pai corre em direção aos dois, pronto
para acabar com a tortura do mais novo.
Tomando todo o cuidado do mundo, Arthur envolve a cintura
da mulher e a tira de cima dele. Rindo, quase não percebe quando
Penélope solta um pequeno gemido de dor e leva as mãos para a
barriga inchada.
Toda a diversão evapora do corpo do homem, que se
apavora.
– Amor? Tá tudo bem, o que houve? – Ele olha para o rosto
da esposa, ofegante e preocupado.
Ela se curva, apoia uma mão no balcão, e a outra na barriga.
Respira fundo algumas vezes de olhos fechados, e uma sensação
de pânico invade cada centímetro de Arthur.
– Penélope, vamos para o hospital agora, você precisa…
E então, ele sente seu rosto ser atingido por bons quilos de
farinha de trigo.
– Peguei você, papai! – ela zomba, e ambos escutam a
risada estridente e gostosa do filho.
O pequeno Cadu não se mostra satisfeito com a bagunça,
pois se põe de pé em um salto, acumula um pouco de farinha do
chão nas mãos e resolve mudar o alvo.
Dessa vez, as pernas do pai são atingidas.
– Ei! Você não pode me trair desse jeito, mocinho – ele
reclama, contudo, o sorriso voltou para o rosto.
Os dois começam uma brincadeira de lutinha. Uma coisa que
ambos gostam muito de fazer.
Para falar a verdade, o pequeno Cadu se mostrara um exímio
lutador, mesmo com tão pouca idade.
O pai tem bons palpites de que será o caminho que o
pequeno irá seguir.
Ele só precisa aprender a controlar seu talento na creche,
com os outros meninos.
Arthur e Penélope se esforçam para que a criança não se
envolva em problemas, porém a cada dia que cresce, o
temperamento do pequeno fica mais difícil.
– Tá bom, tá bom, lutadores. Chega. – Mesmo que não
queiram, os dois obedecem ao comando da mulher. – Agora que
estou cheia de farinha, vou ter que tomar banho de novo. Ou seja –
dessa vez, é para o esposo que ela olha –, terão que receber a tia
Letícia, o tio Alfred e as crianças.
– Ok, mamãe – o filho concorda.
– Ok, minha deusa – o pai concorda.
Concordando com um aceno da cabeça, ela se abaixa um
pouco, para ficar na altura de Cadu, deixa um beijo em sua testa e
bagunça os cabelos iguais aos do pai, só que cheios de farinha.
– Você, mocinho. Vá agora para o banho.
– Ah, não. Eu não quero tomar banho, mamãe – Cadu
resmunga, fazendo uma careta.
– Não importa, já pro banho, Carlos Eduardo. – Ela apoia as
mãos na cintura.
Com o rosto ainda coberto de farinha, seus olhinhos azuis e
pidões voam para o pai, tal qual um bico se forma em sua boca.
Arthur suspira, sabendo que essa tática muitas vezes
funciona com ele, mas não tem jeito. Seus familiares estão prestes a
chegar, e ele precisa se limpar.
– Não me olha assim, filhão. Precisa tomar banho –
acrescenta. – Ou vai dar uma de Caducão?
– Ah, então vou ter que te chamar de Caducão? – Penélope
estreita os olhos para o menino.
Fechando a cara, nervoso e sem desfazer o bico emburrado,
ele dá meia volta, se voltando para o andar de cima da casa.
O filho do casal mostrara um certo desprezo por banho há
alguns meses. Preguiçoso, ele sempre acaba enrolando para tomar
ou reclamando no processo.
Foi então que mamacita, depois de lutar bravamente para
que o bisneto de coração tomasse banho em uma das vezes em
que esteve em sua casa, começou a dizer que ele parecia o
Cascão, personagem da Turma da Mônica.
Seus primos mais velhos, Rian e Miguel – filho de Diana –,
fizeram a junção dos dois nomes, e ficou Caducão.
A criança, obviamente odiou, entretanto, é a única coisa que
o faz ceder, quando insiste em se livrar do banho.
– Nós somos péssimos pais por chamá-lo desse jeito, não
somos? – Penny diz, olhando o pequeno se arrastar escada acima.
Seu marido se aproxima, segura sua cintura entre as mãos e
estala a língua na boca.
– Nós somos excelentes pais. Ele vai ficar bem. Agora, minha
senhora – o olhar dela encontra o seu –, nunca mais faça isso.
Quase desmaiei antes da hora com essa sua brincadeirinha.
Ela sorri perversamente, levando as duas mãos para o monte
crescendo em sua barriga. Grávida de quase seis meses do
segundo filho do casal, Penélope acaricia o lugar com ternura.
– Suas meninas estão perfeitamente bem, meu amor. O pai
dela que ainda não aprendeu que a mãe nunca perde. – Pisca um
olho, e tem as mãos envolvidas pelas de Arthur.
– E que desenvolveu uma sede de vingança cruel, também. –
Ela ri, e ele se abaixa para depositar um beijo em sua barriga.
No entanto, começa a cuspir a farinha que acabara entrando
em sua boca. Sua esposa ri da cena e nega com a cabeça.
– Isso é culpa sua – afirma.
– Minha?
– Sim, sua. Ou pensa que eu não ouvi vocês dois
cochichando ali atrás. – O rosto do homem fica chocado, e ela sorri
debochadamente. – Achou mesmo que me enganaria? – Sua boca
se aproxima da do esposo, antes de dizer: – Acha que não sei que
estava com cara de bobo para a minha bunda?
Arthur abre um sorriso malicioso e puxa o corpo da esposa
para o seu.
– É que você fica gostosa pra caralho quando está grávida.
Eu não consigo resistir.
– Eu sei, e seu filho também. – Ela estreita os olhos para ele,
que não resiste e solta uma gargalhada alta.
– Tá bom. Vou ser mais cuidadoso.
Satisfeita, Penélope concorda e passa os olhos ao redor da
cozinha.
– E temos que limpar essa bagunça, antes que o pessoal
chegue – avisa.
– Deixa que eu cuido disso. – Os lábios dele encontram os da
esposa em um beijo lento. – Vai tomar seu banho.
– Não, eu preciso terminar o bolo.
– Então termina, que eu vou arrumando tudo.
– Ok.
O casal então inicia os seus afazeres.
Hoje em dia, em uma casa que não é nem de perto grande
como a que moraram juntos a anos atrás, eles não vivem com uma
governanta todos os dias. Mesmo que ainda seja uma mansão, e
precisem de equipes de limpeza e manutenção, momentos como
esse, costumam acontecer.
Arthur e Penélope jamais deixaram de trabalhar e gerenciar
seus negócios, que apenas prosperaram no decorrer dos anos.
Contudo, a família se tornara sua maior prioridade.
Quando eram apenas os dois ou quando esperavam o
primeiro filho. Entendiam que seu bem mais precioso era aquele e
sempre fizeram questão de valorizar o que tinham.
Penélope ainda conversa com as estrelas sempre que pode,
mesmo que também as tivesse tatuado em suas costas, um tempo
depois que seu marido o fez. Conta ao seu pequeno anjo, as
dádivas que a vida lhe dera e compartilha suas maiores alegrias.
Arthur se tornara mais próximo da família que antes, sempre
fazendo questão de estar presente nos encontros e eventos. Jamais
deixara de apoiar quem ama e é o maior incentivador daqueles que
querem perseguir seus sonhos.
As duas gravidezes de Penny não foram de risco, para o
alívio dos dois.
A família de coração de Penélope, junto à de sangue, está
empolgadíssima com a chegada da pequena Luna, e como de
costume, há um bolão rolando entre eles.
Desta vez, para descobrirem a cor dos olhos da menina.
A vida do casal, que no início fora regada de culpa e mágoa,
tomara proporções inimagináveis para eles. Hoje, não há nada que
Arthur não fizesse para eles, e não há vida melhor que Penélope
pudesse um dia ter desejado.
Penny coloca a assadeira dentro do forno pré-aquecido e
solta um suspiro pesado.
– Tudo bem, minha deusa? – Um instante depois, Arthur está
ao lado dela.
Ela sorri, o abraçando e apoiando a cabeça em seu peito. O
homem a abraça, sentindo a costumeira sensação de
pertencimento.
Eles permanecem em silêncio por um instante, até que sua
esposa diz:
– E se ela for uma bailarina profissional e reconhecida na
Broadway?
– E a estrela principal do espetáculo O Quebra-Nozes? –
Arthur imagina.
– E receba uma proposta milionária para atuar em um filme
de Hollywood…
– Mas negue, porque prefere os palcos.
A testa de Penélope enruga, quando ela afasta a cabeça para
olhá-lo.
– Luna não deveria recusar uma proposta milionária assim…
Arthur estala a língua e tira a mecha de cabelo caída sobre o
rosto lindo da esposa.
– Meu amor, ela já é bilionária – lembra, e Penélope abre um
grande “A” com a boca.
– Verdade, né?
Eles riem da brincadeira que ainda fazem juntos, depois de
tantos anos.
Arthur observa a íris azul dos olhos brilhantes da esposa e o
sorriso aberto.
– Eu ainda amo a sua risada.
Ela sorri.
– E eu ainda amo que me faça rir.
Ele desce os lábios até os da esposa, em um beijo molhado,
cheio de amor e farinha.
Agora, o coração bate forte de um jeito diferente de novo.
Daquele jeito que Arthur sente quando tem certeza de que é o
homem mais feliz do mundo.
É assim todos os dias.
Seus lábios se desgrudam, e ele diz com a boca próxima da
de sua esposa:
– Aposto que ele não começou a tomar banho e está
brincando com o novo carrinho de corrida.
O sorriso de satisfação por encontrar um novo desafio de sua
esposa é ferino.
– Aposto que ele não começou a tomar banho e está
brincando no tablet. – E acrescenta: – Valendo uma massagem nos
pés.
Um tapa forte é dado por Arthur na bunda redonda da
esposa, que solta um gritinho, pulando no lugar.
– Safada. Sabe que farei a massagem mesmo assim.
Ela apenas morde o lábio.
Com um sorriso imenso no rosto, o homem se afasta para
subir as escadas até o quarto do filho.
Feliz por ter tudo o que sempre precisou, mas que não sabia
disso até ter em seus braços.
E, é claro, quando alcança o segundo andar e entra no quarto
do filho, solta um grande e sonoro:
– Ganhei!
Minha mente funciona de uma forma diferente. Percebi isso
quando ainda era criança, e minha mãe me levava para conhecer
alguns lugares na cidade onde eu moro.
Lembro-me que começou com um pássaro. Mais
especificamente, um beija-flor, que voava e batia as pequenas asas
muito rapidamente, enquanto pairava em cima de uma flor amarela.
Eu olhei aquilo, e minha mente travou naquele momento.
Nas cores vívidas e diferentes nas penas do pássaro. Na
minha quase incapacidade de perceber o bater das asas. Na flor
amarela linda e pronta para dar ao pequeno pássaro aquilo que ele
queria.
Eu queria registrar aquele momento.
E então, ao passo que minha mãe e minha irmã conversavam
ao meu lado, enfiei minha mão em minha mochila rosa e puxei de lá
um caderninho e um lápis.
Meus dedos trabalharam apressadamente, para que o beija-
flor não fosse embora, e eu perdesse aquilo. Desenhei e desenhei
cada detalhe que havia reparado. Cada detalhe que eu havia
achado encantador.
Ao terminar, o pequeno pássaro saiu voando, e eu olhei o
meu desenho.
E eu me decepcionei pela primeira vez na minha vida.
Eu era péssima desenhista. Horrível.
E foi quando aceitei meu destino e entendi que não era para
aquilo que eu servia.
Entretanto, os registros que meus olhos faziam, não pararam.
Eu via algo, o admirava e queria registrá-lo.
No entanto, como eu faria isso, se ao desenhar, estragava
toda a beleza que meus olhos tinham captado?
Levei alguns anos para entender que eu não precisava usar
lápis e papel para conseguir guardar a imagem que eu via.
Eu precisava de uma câmera fotográfica.
E no momento em que eu consegui a minha primeira, minha
vida mudou por completo.
Eu poderia gravar a beleza que meus olhos viam por aí.
Tempos depois, deixei de usar isso como apenas um hobby,
e a fotografia passou a ser minha profissão.
Porém, ainda há situações em que eu apenas gostaria de ter
a minha câmera em mãos, para poder registrar um momento belo.
Exatamente como agora.
Ao som de “At Last”, de Etta James, uma das canções mais
românticas que existem, assisto minha irmã e seu suposto
namorado de mentira dançarem abraçados na pista de dança do
casamento de minhas amigas.
Eu digo, suposto namorado de mentira, porque até mesmo a
pessoa mais desatenta neste lugar, perceberia que os dois se
amam.
Seja pela maneira como ficam confortáveis na presença do
outro ou pela forma como as mãos dele estão sempre procurando
por ela ou pelos sorrisos fáceis que minha irmã dá ao lado dele.
No entanto, principalmente, pela forma como se olham nesse
instante.
Como em um dos romances que eu costumo ler, os olhos de
Arthur e de Penélope dizem o que os lábios muitas vezes não
fazem.
E seria exatamente isso, o que eu fotografaria.
Esse brilho. Essa admiração.
Minha irmã ainda não sabe, mas aquele homem vai amá-la
pelo resto de seus dias.
Contudo, isso não deveria me causar o sentimento de
angústia que estou sentindo no peito.
Penny está linda vestida de rosa, sorrindo e, depois de tanto
tempo na negação, finalmente se permitindo.
Só que minha tristeza não é pela felicidade dela. A felicidade
da minha irmã é tão, senão mais, importante que a minha.
Não.
Eu estou triste, porque parei no tempo.
Não busquei nada além de coisas banais, como trabalhar e
pagar contas.
Eu nunca saí para um encontro com um rapaz. Eu nunca me
deitei com um homem. Eu nunca fiz nada do que uma mulher da
minha idade deveria fazer.
Tão diferente da minha melhor amiga, que não perde tempo e
aproveita o máximo que pode.
Eu parei e adoraria dizer que foi porque algum cara quebrou
meu coração. Pelo menos assim, eu teria vivido alguma coisa.
Vamos lá, Milene. Você sabe porque isso aconteceu.
Solto um suspiro, apoio os cotovelos na mesa redonda à
minha frente e a cabeça em minhas mãos.
Foi porque a romântica e iludida aqui, esperou um príncipe de
olhos acinzentados a vida toda.
Exato.
Eu, vergonhosamente acreditei, que amaria e viveria com um
único homem a minha vida inteira. Um homem que, quando conheci,
era apenas um menino um pouco mais velho do que eu.
E o mais vergonhoso, é que, mesmo que ele volte a morar
em minha cidade, ele ainda poderia não se interessar por mim.
Céus, ele poderia ser gay.
Por isso, tomei a decisão de esquecê-lo. De esquecer que
um dia, ele me fez uma promessa. Esquecer que ele, um dia existiu,
e eu fui loucamente apaixonada por ele.
Hoje, decido esquecer que Lucas foi o meu primeiro amor e
que, daqui por diante, viverei o que não me permiti viver até então.
Eu só espero que os olhos azuis acinzentados não voltem a
aparecer em meus sonhos.
As gotas da chuva escorrem pelo vidro do edifício onde
trabalhei pela última vez na vida.
Gostaria de dizer que estou a essa hora no meu escritório,
porque havia muito trabalho para colocar em ordem antes de viajar.
Ou pelo simples fato de que gostaria de prolongar meu lugar aqui.
Mas daí seria mentira, e eu não gosto de mentiras.
A verdade?
Passo mais tempo atrás da minha mesa ou em alguma
construção da minha empresa, do que na minha própria casa.
O silêncio me incomoda.
Faz minha cabeça silenciar, e eu não suporto duelar com
meus próprios pensamentos.
Eles se enchem de lembranças, e com elas, vem a mágoa, e
com ela, a culpa.
Portanto, quanto mais distração, melhor.
Manter a maior empresa de construção do país, exige muito
de mim. A Castro Ribeiro construiu um império, e eu não aceitaria
menos do que a perfeição, em se tratando da empresa da minha
família.
Disciplina, foco, inteligência administrativa e confiança em
seus funcionários, são apenas alguns dos requisitos para conquistar
e sustentar o que conseguimos até hoje.
Mais uma vez, poderia mentir e dizer que minha mudança
para Campinas é única e exclusivamente por conta dos interesses
da empresa.
Entretanto, como disse, mentir não faz parte da minha índole.
Os motivos vão muito além disso, na verdade.
A porta do meu escritório se abre, e eu nem preciso me virar
para saber de quem se trata.
Apenas uma pessoa entra sem bater, coisa que nem meus
próprios pais fazem.
Viro apenas meu rosto para trás, focando nos olhos verdes e
bonitos do meu melhor amigo.
Ele me encara com o semblante entediado, enquanto ajeita
os óculos de grau, e eu logo solto um suspiro.
– Não precisava ter vindo se despedir de mim aqui… – Volto-
me para a chuva caindo lá fora. – Ainda vai me ver amanhã, quando
me levar ao aeroporto.
– Vai mesmo me fazer andar pelo aeroporto do Rio de
Janeiro às seis horas da manhã? – o cara resmunga, nem
parecendo que tem trinta anos nas costas.
– Malik, foi o horário em que liberaram o voo do jatinho.
– Sei… E isso não tem nada a ver com sua aversão a dormir
até tarde – diz, desconfiado, e eu solto um pequeno riso.
– Não. Eu apenas dei sorte.
– E eu, azar.
Arqueio a sobrancelha para ele de novo, estranhando seu
incomum momento de reclamação.
Diferente de mim, Malik é alto astral e de bem com a vida.
Quem o conhece, mal sabe que é péssimo com as mulheres.
Bom, pelo menos até que elas cheguem à sua cama. Ali, o
homem se transforma.
– De novo, não precisava vir até aqui – reafirmo, vendo-o se
aproximar.
– Precisava sim, já que você está aqui e não em qualquer
outro lugar.
Nossos olhares se encontram novamente.
Sua pele negra se repuxa, quando ele faz aquela coisa com a
boca, me dizendo que está pensativo. Levo as mãos até os bolsos
da calça social e apenas aguardo.
– Você tem certeza de que vai fazer isso? Ainda dá pra
desistir, sabe – ele fala, levando o dedo até o meio dos óculos e os
empurrando para trás.
– Eu sei o que estou fazendo, Malik.
– Lucas, é Campinas. Não só é outro estado, também é…
Você sabe. – Seus olhos se tornam preocupados. – É o lugar.
Desvio o olhar do seu, sentindo as sombras querendo
envolver meu coração de novo. Respiro fundo, não permitindo que
elas surjam.
– Eu sei, meu amigo. Sei de tudo isso e ainda assim, vou pra
lá. Eu só… – Penso um pouco, antes de concluir. – Sinto que tenho
que fazer isso. Alguma coisa me diz, que eu preciso estar lá. Então
estarei lá.
Outra característica minha: sou um homem que confia em
meus instintos.
Não farei diferente agora.
Olho para meu amigo de novo, que me fita seriamente, sua
cabeça sobe e desce, quando concorda.
– Tá bom. Então eu vou com você.
– O quê?
Ele simplesmente dá de ombros.
– Estou precisando dar uma mudada na minha rotina mesmo.
– Mas Malik, e o escritório? E sua família?
– Eu vou com você, Lucas. Primeiro, que não sobreviveria
muito tempo longe de mim. – Ele pisca. – E segundo… faz tempo
que quero deixar o Rio de Janeiro, e você sabe.
Explica, o sotaque carioca escorrendo por cada palavra.
Observo o seu semblante e compreendo que, assim como
eu, já está com a decisão tomada. Meu melhor amigo é um
excelente advogado, e creio que não levará muito tempo para
conseguir se estabelecer por lá.
– E você pretende ir quando? – pergunto, sabendo que não
será amanhã.
– Ainda não tenho certeza, mas em poucas semanas.
Balanço a cabeça, e ele apoia a mão em meu ombro, antes
de afirmar:
– Então é isso? Eu estou indo para um novo lugar, e você
voltando para as suas origens.
– É isso.
Miro outra vez o céu escuro à minha frente. Um raio rasga os
céus, iluminando os prédios como o flash de uma câmera.
E ainda não sei o motivo de estar voltando para a cidade
onde eu nasci.
Não há muitas lembranças boas por lá.
Tudo o que eu me lembro, é de uma época em que as coisas
eram muito diferentes e muito mais fáceis.
Me lembro disso e de dois pares de olhos verdes como
grama cortada.
Esses, nunca realmente deixaram a minha mente.
E uma batida diferente no meu coração, me faz pensar se eu
os verei novamente.
Eu espero que sim.
Eu aprendi com algumas amigas autoras a sempre se
orgulhar de suas histórias. Pois bem…
Que livro foda!
Eu finalizei essa história com tanto orgulho e tão feliz, que eu
queria liberar eles pra vocês no momento em que finalizei.
Como eu já disse algumas vezes, eu provavelmente nunca
mais escreverei um livro desse tamanho de uma forma tão fácil.
Os capítulos se desenvolveram de um jeito tão natural, que
quando fui ver, já estava na metade.
A grande questão aqui é: Arthur e Penélope são muito bons
juntos.
Meu Deus, como eles são bons. E foi muito engraçado
escrever isso e gritar a cada cinco páginas: “VOCÊS SÃO MUITO
BONS! PAREM DE SER CEGOS”.
Os diálogos nunca foram tão fáceis, a tensão sexual nunca
foi tão natural e a química nunca foi tão grande. Eles se
completavam. Como Arthur disse, algo os unia. O puxava para ela,
e ela para ele. Esse magnetismo foi muito surpreendente para mim,
e eu adorei escrever cada palavra.
Confesso que quando chegou no final do livro, eu tive um
leve surto e estava acreditando piamente que o livro não estava
bom. Que as declarações não foram tão profundas, e que eu não
sabia encerrar a história.
Mas era apenas eu, inconscientemente, lutando para que a
história não acabasse.
Eu não queria que eles acabassem.
Eu queria continuar rindo, suando e chorando com sua
história. Queria continuar descobrindo e navegando por entre essas
linhas, de encontro ao final feliz que eles tanto mereciam.
Foram poucos detalhes que realmente mudaram de quando
iniciei e de quando finalizei, porém esse pouco, fez toda a diferença.
Mais especificamente quando Arthur virou para mim e disse: “Sinto
muito, mas estou rendido demais. Não terá o desfecho que você
planejou”.
No início, eu fiquei puta. Brava mesmo, porque achei que não
conseguiria dar uma boa conclusão para o livro, mas esse maldito
me mandou confiar nele. E eu confiei.
Nunca um título de um livro, fez tanto sentido.
Penélope sempre foi minha favorita, e o seu plot era o motivo.
O fato de saber que perdeu alguém, antes mesmo de conhecê-lo,
me quebrou. Quando ela me contou, eu chorei. Quando idealizei o
capítulo, eu chorei. E quando finalmente escrevi, eu chorei demais.
E espero, do fundo do meu coração, que se alguma mulher
aqui se identificou com a Penny, que você encontre nas estrelas o
conforto que precisa.
Elas estão lá, mesmo em meio às noites mais escuras.
Encerro essa história sabendo que fiz um excelente trabalho,
mesmo que meus dias sejam extremamente corridos. A cada
palavra que escrevo, eu me sinto em casa. Pertencente.
Portanto, começo os meus agradecimentos a você leitor, que
chegou até aqui e que leu essa história. Vocês são a razão de tudo
isso. É o verdadeiro retorno que recebemos quando damos a cara a
tapa e arriscamos, dando voz às vozes em nossa cabeça. Obrigada
por tudo.
À Camila Cocenza, que em uma noite disponibilizou do seu
tempo precioso para contar um pouquinho da sua trajetória de luta
contra a Artrite Reumatóide. Obrigada por não hesitar, nem por um
segundo, em expor sua história e suas vulnerabilidades. Obrigada
por confiar em mim, mesmo que não me conheça profundamente.
Não é a primeira vez que você me ajuda, mas essa vez ficará
guardada no meu coração para sempre. Você sabe que sou sua fã,
que leio todos os seus livros e o que você fez por mim, significa o
mundo. Você é foda, gentil e uma mulher extremamente talentosa.
Minhas orações são para que tenha forças para continuar e que, um
dia, alguém encontre a cura para essa doença. Se precisar de algo,
por favor, conte comigo!
Às minhas betas:
Geise, obrigada mais uma vez por fazer a diferença na minha
história. Por torcer por mim, por ser honesta e por estar ao meu lado
pro que der e vier. Você é um gênio (não canso de dizer isso) e é
sempre um prazer planejar e montar um roteiro incrível, para no
final, você adivinhar o plot antes de todo mundo. Amo você por isso
e muito mais, esposa.
Mayanne, obrigada por continuar aqui e por acreditar em
mim. Eu espero do fundo do meu coração que você tenha gostado
da história do seu fav e que você tenha perdoado a Penélope no fim
das contas. Amo você e sou grata por me ajudar a realizar meu
sonho, seja com apontamentos sobre o livro ou seja me ouvindo,
mesmo que odeie áudios. Você é foda.
Gabriela, a puta que resolveu sumir nos últimos dias. Sei que
sua vida está tão corrida quanto a minha, mas quero que saiba que
você é importante para mim e para a minha carreira. Você é uma
pessoa que, não importa o assunto, se eu puxar, você vai engatar,
vai ouvir e vai me apoiar. E mesmo que seu humor seja inconstante,
ainda é um amor de pessoa (risos). Te amo.
Laís, adoro o fato de que o livro não estava nem na metade,
e eles já se tornaram os seus favs. Eu provavelmente não terei uma
leitora tão surtada e tão empolgada quanto você. Obrigada por me
apoiar como me apoia e por querer que eu escreva imediatamente
toda e qualquer história que tenho guardada. Você é fundamental.
Amo você.
À Ariel, a assessora mais gostosa do mundo, obrigada por
mais um lançamento ao meu lado. Você é uma pessoa tão dedicada
e tão apaixonada por esse universo, que quando as pessoas
começarem a perceber seu profissionalismo, você vai ser rica.
Escuta o que eu tô falando. Obrigada por me aguentar, obrigada por
me amar, obrigada por me ajudar. Te amo, na moral.
À Jully, você é uma pessoa que o mundo não merece. Não só
pelo trabalho impecável que sempre faz, mas pelo coração enorme
que tem. Você é alguém que não se contenta com o simples e está
sempre buscando melhorar. E eu te admiro por isso. Obrigada por
fazer parte da minha equipe e por me responder as mensagens de
madrugada. Amo você, vadia.
Ao meu marido, que no momento em que escrevo isso, ainda
não leu a história e ainda odeia o Arthur. Espero poder jogar na sua
cara que eu estava certa e você errado, sobre ele. Eu te amo e sem
você comigo, não poderia estar vivendo esse sonho. Obrigada pela
paciência (mesmo que você não tenha muita) e obrigada por ser
meu maior fã.
Aos meus pais, amo vocês e o apoio de vocês. Mesmo que
não saibam da metade das besteiras que passam pela cabeça de
sua filha, por não terem lido meus livros ainda. Aos meus amigos e
familiares, obrigada pelo amor e carinho. Em especial à minha prima
Thays e sua noiva Larissa. Sou grata por me deixarem usar vocês
de inspiração. Amo vocês.
À minha revisora, obrigada pelo trabalho impecável, mais
uma vez, mesmo que não esteja passando por um momento fácil.
Você é incrível e está sempre salvando meus trabalhos. Aguardo
ansiosamente os áudios de dez minutos.
À Nathalia Santos, agradeço por me ajudar com a
diagramação de novo. Você é foda, gnomo.
À Marília, minha digníssima psicóloga, obrigada por ler e me
dar sua sensibilidade em meio a essa história. E principalmente, por
comprar meus livros (risos).
Às minhas parceiras. Obrigada pela empolgação, pelos
surtos e por todo apoio nesse lançamento. Vocês são fundamentais
para nós, autoras, e fazem toda a diferença. Amo vocês e amo o
amor de vocês pelos livros.
E por último, mas não menos importante, ao Arthur e à
Penélope, obrigada por me deixarem contar sua história. Vocês são
especiais e me ensinaram muito. Obrigada por se encontrarem um
no outro e por me darem suas vidas de presente.
Lembrando que estou sempre à disposição para conversar no
direct do meu Instagram ou no Whatsapp, caso tenha meu contato.
Vou amar ouvir seus surtos e saber suas opiniões.
Vejo vocês, agora na próxima aventura.
Com amor,
Natália Tilcailo.
Não esqueça de avaliar
Sua opinião é muito importante para mim e para aquela
pessoa que está pensando em ler o livro.
Contatos:
Para falar comigo, fique à vontade para me chamar pelo
Instagram ou pelo e-mail. Me sentirei honrada e vou amar conversar
com você.
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Leia a primeira obra da autora: Regenerado.
Compre ou leia gratuitamente
Sinopse:
“Tenho medo de não conseguir evitá-lo como gostaria, permitir que se aproxime
demais e o queime com todo o fogo destruidor que carrego dentro de mim.”
Aos 27 anos, Diana é uma mulher inteligente e reservada, sua postura tranquila
esconde uma mente e um coração devastados por um trauma de infância. A última coisa
de que precisa é entregar seu coração para alguém, apenas para que essa pessoa vá
embora quando conhecer seus maiores pesadelos.
Até que um incidente a faz conhecer o homem mais atraente que já viu e colocar em
cheque tudo o que acredita.
Benjamin tem 31 anos, é um médico bem sucedido, educado, pai de pet e bonito. O
pacote completo. Por muito tempo tirou proveito de suas qualidades, até o momento em
que relações casuais se tornaram desinteressantes. Com sorrisos safados e provocações
incessantes, ele tentará conquistar uma certa baixinha de olhos castanhos claros, que
surgiu em sua vida de modo inesperado.
Ela não quer se apaixonar.
Ele nunca teve problema com isso.
Ela acredita que tem muita bagagem.
Ele é o homem mais paciente de todos.
Ela o deseja.
Ele a deseja.
Ela tentará resistir aos seus encantos.
Ele irá quebrar todos os muros que ela construiu.
Pode um coração, despedaçado pela dor, ser regenerado?
[1]
Ódio gratuito
[2]
Tire suas mãos imundas de cima desses doces, garoto!
[3]
Deixa de ser guloso. Todo mundo já encheu a barriga, certo?
[4]
Como dizemos a tia Penélope?
[5]
Obrigado, tia Penélope.
[6]
Putas
[7]
Esse maldito mentiroso, filho da puta!
[8]
Filha.
[9]
Avó
[10]
Neta
[11]
Parabéns
[12]
Mas que porra é essa?
[13]
É uma "pausa" nas passagens ou no final das músicas, onde normalmente a parte
instrumental prevalece.
[14]
Estou viva, filho da puta!
[15]
Para cima
[16]
Para baixo
[17]
Para o centro
[18]
Para dentro
[19]
Estilo musical caribenho, surgido em Porto Rico na década de 1990, que combina
reggae com ritmos latino-americanos e elementos do hip-hop e do rap, cantado em
espanhol.
[20]
E não vá se envolver. Sei que vamos nos pegar e você vai voltar. Rebolando gostoso
contra a parede. Eu sou um caso que precisa ser resolvido.
[21]
Mas não vá se envolver. Sei que vamos nos pegar e você vai voltar. Rebolando gostoso
para seduzir. Pertinho da parede.
[22]
Meu querido
[23]
Minha flor
[24]
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
[25]
Sistema Único de Saúde
[26]
Aí seus putos.
[27]
Boa noite, crianças
[28]
Homens
[29]
Ai, meu Deus.