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NÚMERO DO CÓDIGO DE BARRA ISBN nº 978-65-88808-50-4

CURSO DE EXTENSÃO VIRTUAL


EMPREENDEDORISMO & PROPRIEDADE INTELECTUAL

Equipe Técnica

Organização
Anderson Moraes de Castro e Silva

Autores
Anderson Moraes de Castro e Silva
Cristina Nunes de Sant’Anna
Pedro Neiva de Faria

Arte e Diagramação
Renata Costa / Dalverson Vieira

Revisão de Texto
Cristina Nunes de Sant’Anna

51f.

www.harpia-uerj.com.br
nº 978-65-88808-50-4
Agradecimentos

O Curso de Extensão Virtual Empreendedorismo & Propriedade


Intelectual encontrou condições de realização graças à
colaboração de profissionais e instituições que toparam levar
esta proposta adiante.
O financiamento da FAPERJ, por meio do edital nº 19/2019 -
Programa de Apoio à difusão e popularização da ciência e
tecnologia da Fundação Centro Universitário Estadual da Zona
Oeste (UEZO)-, garantiu os recursos financeiros necessários à
execução do projeto. No âmbito institucional, os suportes
ofertados pelo Departamento de Extensão da UERJ e pela
direção da Faculdade de Ciências Exatas e Engenharias
(FCEE/UERJ-ZO), foram essenciais para o desenvolvimento do
projeto, assim como o aval do Departamento de Computação
para que a proposta pudesse ser apresentada a agência de
fomento.

Na elaboração da obra tivemos a satisfação de contar com uma


equipe conceituada e interdisciplinar de colaboradores: Cristina
Nunes de Sant’Anna e Pedro Neiva de Faria, ambos integrantes
do grupo de pesquisa Harpia – propriedade Intelectual,
empreendedorismo e patrimônio cultural, nos ajudaram na
escrita dos textos. Gente como a gente! Sinceros
agradecimentos!
O resultado do trabalho em equipe que o leitor encontrará ao
longo das próximas páginas reúne mais do que vivências e
competências, trás em si o espírito da dádiva: pesquisadores
dedicados e comprometidos ofertam suas expertises aos
empreendedores da zona oeste do Rio de Janeiro com
generosidade e dedicação, aproveitem a oportunidade!!!

Boa
Leitura!!!
SUMÁRIO

Apresentação
Anderson Moraes de Castro e Silva

1 PROPRIEDADE INTELECTUAL: O QUE É? PARA QUE SERVE? 5


Anderson Moraes de Castro e Silva e Cristina Nunes de Sant’Anna
1.1 A Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) e a PI

2 TIPOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL 12


Anderson Moraes de Castro e Silva
2.1 Propriedade Industrial
a) Marcas
b) Patentes
c) Desenho Industrial
d) Indicações Geográficas
e) Topografia de Circuitos Integrados

3 DIREITO DE AUTOR VERSUS DIREITO DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL 37


Pedro Neiva de Faria

4 COMO E ONDE PROTEGER TAIS DIREITOS? 43


Pedro Neiva de Faria

Referências bibliográficas 46
Links úteis 49
Sobre os Autores 50
4

APRESENTAÇÃO

Bem-vindos ao curso de extensão virtual Propriedade Intelectual


e Empreendedorismo. Nesta apostila, correspondente ao Módulo
II, vamos abordar a temática da Propriedade Intelectual.
Na história da humanidade qual tem sido a relação das
sociedades com o conhecimento produzido? A Propriedade
Intelectual sempre existiu ou se trata de um fruto da
modernidade alinhado ao desencantamento do mundo? Como o
avanço tecnológico, a inovação e a criatividade contribuíram
para o surgimento do direito de autor?
Neste módulo do curso vamos abordar algumas destas questões
e seus impactos na sociedade ocidental. Em linhas gerais, o
direito de autor e o direito de propriedade industrial serão
apresentados ao leitor, assim como suas diferentes categorias
constitutivas: marcas, patentes, indicações geográficas,
desenho industrial, topografia de circuitos integrados, cultivares
etc.
Não se trata de um estudo profundo, tendo em vista natureza
dessa atividade extensionista, mas de uma tentativa de mapear
as diferentes categorias de PI existentes e apresentá-las a cada
um de vocês. O que se espera é que ao encerramento do módulo
o aluno consiga se situar nas fronteiras que delimitam o direito
de autor e o direito de propriedade industrial, ambos
modalidades da Propriedade Intelectual.

Leiam com atenção, façam os exercícios e tenham um bom


aprendizado!
5

1 PROPRIEDADE INTELECTUAL: O QUE É? PARA QUE SERVE?


Anderson Moraes de Castro e Silva e Cristina Nunes de Sant’Anna

A apropriação do conhecimento por meio dos direitos de propriedade


intelectual é algo relativamente novo na história da humanidade. Na
pré-história, e nas eras antiga e medieval, isto era algo inconcebível
para os nossos antepassados. Afinal, como nos lembra Hesse (2002):

O conceito de propriedade intelectual, a proposta de que uma


ideia pode ser de propriedade é um filho do Iluminismo europeu.
Foi só quando as pessoas começaram a acreditar que o
conhecimento veio da mente humana, trabalhado sobre os
sentidos, em vez da revelação divina, assistida pelo estudo de
textos antigos, que se tornou possível imaginar seres humanos
como criadores e, portanto, proprietários de novas ideias ao
invés de meros transmissores de eterna verdades. (HESSE,
2002, p.27)
6

DOM

Para Hesse (2002), dois eixos conceituais dominariam este


debate, a partir do século XVII, quando as ideias começaram se
aproximar juridicamente da noção de propriedade: conhecimento
x dom / transmissão x criação. Os conhecimentos eram um dom
divino ou os homens também criavam algo, a partir dos
conhecimentos que recebiam do passado/sagrado? Seríamos
meros reprodutores de verdades eternas ou criaríamos algo, a
partir daquilo que havíamos recebido de nossos antepassados?
7

Este debate foi impulsionado graças ao desenvolvimento da


prensa por Gutenberg (1455) e à posterior difusão de material
literário pela Europa, a partir do século XV. Em princípio, as
primeiras obras publicadas não traziam em si questionamentos
sobre a autoria dos escritos, tendo em vista tratarem-se de
obras religiosas, como a Bíblia cuja autoria derivaria da inspiração
dos homens pelo sagrado.

Embora nas primeiras décadas, apenas obras religiosas tenham


sido impressas (a Bíblia Sagrada em especial), com o passar dos
anos surgiriam obras profanas seculares e, assim, a demanda por
novas obras cresceria, alimentando o debate sobre o direito dos
autores sobre estes escritos. Estava plantada aí a semente da
propriedade intelectual!

Prensa de Gutenberg

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/395894623473814176/
8

Fonte: A bíblia de Gutenberg - Museu de Munique (imprimiu-se 200 exemplares da Bíblia


Sagrada na primeira impressão. Dessas, 48 exemplares ainda existem).

1.1 A Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) e a PI

Fonte: https://www.wipo.int/about-wipo/es/#
9

A Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) foi criada


em 1967. Ela se define como sendo um “fórum mundial para
serviços, políticas, cooperação e informações sobre a Propriedade
Intelectual”. Na atualidade conta com 193 estados membros,
dentre os quais o Brasil, sendo um organismo das Nações Unidas.
Na tentativa de responder à questão “O que é a propriedade
intelectual?”, a OMPI preferiu não responder diretamente à
questão. Isto é, ao invés de dizer “O que é a PI?”, elaborou uma
resposta na qual menciona o que está contido na definição de
propriedade intelectual:

A propriedade Intelectual refere-se às criações da mente: tudo,


desde obras de arte até invenções, passando por programas de
computador, marcas e outros sinais comerciais.

A PI abrange um vasto leque de atividades e desempenha um


papel importante tanto na vida cultural como na econômica.
Fonte: OMPI, 2021, p. 1.
10

No Brasil, o Instituto Nacional da Propriedade Mundial (INPI),


seguindo proposta da OMPI, usa a seguinte noção para tentar
definir o que vem a ser a PI:

A soma dos direitos relativos às obras literárias, artísticas e científicas,


às interpretações dos artistas intérpretes e às execuções dos artistas
executantes, aos fonogramas e às emissões de radiodifusão, às
invenções em todos os domínios da atividade humana, às
descobertas científicas, aos desenhos e modelos industriais, às
marcas industriais, comerciais e de serviço, bem como às firmas
comerciais e denominações comercias, à proteção contra a
concorrência desleal e todos os outros direitos inerentes à atividade
intelectual nos domínios industrial, cientifico, literário e artístico.
Fonte: UPITEC/2022

A partir das definições acima, aprendemos que a expressão


Propriedade Intelectual (PI) é abrangente, englobando direito do
autor, direito de propriedade industrial e direitos conexos. Em cada
um destes galhos, outras ramificações brotam e produzem seus
próprios frutos.

A Lei 9.279/96 regula os direitos e obrigações relativos à


propriedade industrial no Brasil. Não há uma definição conceitual do
que seja a “Propriedade Industrial” na norma jurídica e sim uma
listagem com cinco atos administrativos que devem ser observados
no país a título de proteção dos direitos relativos à propriedade
industrial, a saber: concessão de patentes de invenção e modelo de
utilidade, concessão de registro de desenho industrial, concessão
de registro de marca, repressão às falsas indicações geográficas e
11

repressão à concorrência desleal (art. 2 da LPI). Já a Lei 9.610/98


regula os direitos autorais e os direitos conexos no país. Em seu art.
7º, fixou que as obras que deveriam ser alvo da proteção garantida
pela lei de direito autor seriam as “criações do espírito, expressas por
qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível,
conhecido ou que se invente no futuro”. Listando em seguida alguns
exemplos de criações que deveriam ser protegidas pela lei do direito
autoral, tais como:
12

Os programas de computador foram considerados uma


categoria singular de direito de autor, razão pela qual sua
regulamentação quanto à proteção se deu em lei própria: a Lei
9.609/98. No próximo capítulo vamos abordar mais
detalhadamente cada uma dessas categorias.

2 TIPOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL


Anderson Moraes de Castro e Silva

2.1 Propriedade Industrial

A propriedade industrial é o ramo da propriedade intelectual


que, no contexto em que a expressão foi criada, reunia as
criações humanas que apresentavam potencial de uso, aplicação
ou exploração econômica na indústria, comércio, atividades
agrícolas e extrativistas etc. Grosso modo, a expressão inclui as
criações passíveis de serem exploradas economicamente, em
escala. Quanto à proteção, exige registro prévio e suas
garantias se limitam ao território nacional onde foi registrada,
salvo acordos em contrário. São elas:
13

a) Marcas

No Brasil, a lei define que são suscetíveis de serem registradas


como marcas “os sinais distintivos, visualmente perceptíveis, não
compreendidos nas proibições legais”. Portanto, marcas sonoras e
olfativas, por exemplo, não são passiveis de serem registradas no
país.

Fonte: https://mundodasmarcas.blogspot.com/2006/05/ferrari-o-mito.html
14

As marcas podem variar quanto à forma de apresentação


(nominativas, mistas, figurativas, tridimensionais e marca de
posição) e à natureza (produtos, serviços, coletivas ou de
certificação). No módulo III do curso abordaremos
detalhadamente cada uma destas variações marcárias. Uma
característica comum às marcas, independentemente da forma
de apresentação e natureza, é que elas têm como função
principal identificar a origem e distinguir produtos ou serviços
que assinalam de outros idênticos, semelhantes ou afins de
origem diversa. Portanto, o conceito de distintividade é um eixo
analítico central para pensamos sobre as marcas.

b) Patentes

Os artigos 8º e 9º da LPI vão definir as invenções e os modelos


de utilidade que serão aceitos no território nacional. Serão
patenteáveis “as invenções que atendam aos seguintes
requisitos: novidade, atividade inventiva e aplicação industrial”.
Além disso, pode também ser requerido o modelo de utilidade
para “objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de
aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição,
envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no
seu uso ou em sua fabricação.
15

No módulo IV do curso abordaremos detalhadamente cada uma


dessas questões. A seguir, duas ilustrações correspondentes às
patentes de invenção e de modelo de utilidade:

Patente de Ferrari Elétrica

Fonte: https://www.uol.com.br/carros/noticias/redacao/2022/02/08/patente-de-ferrari-100
-eletrica-e-divulgada-por-escritorio-dos-eua.htm
16

Modelo de Utilidade do Copo Cartão (copo dobrável de bolso)


Fonte: INPI
17

c) Desenho Industrial

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/353110427040228453/
18

A legislação brasileira considera desenho industrial registrável “a


forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental
de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto,
proporcionando resultado visual novo e original na sua
configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação
industrial” (art. 95 da LPI). O desenho industrial será considerado
“novo” quando romper com o estado da técnica existente. Será
classificado como “original” quando apresentar configuração
visual distintiva em relação aos objetos anteriores. Atenção: obras
de caráter puramente artístico não são consideradas desenho
industrial.

d) Indicações Geográficas

As indicações geográficas são conferidas aos locais de


origem que são conhecidos pelos produtos ou serviços que os
particularizam em relação aos demais produtos e serviços
existentes. Isto é, seja por sua reputação, qualidade ou
demais características, tais produtos se distinguem no
mercado. Os artigos 177 e 178 da Lei da Propriedade
Industrial vão fixar as duas modalidades de indicações
geográficas previstas em nossa legislação:
19

Art. 177. Considera-se indicação de procedência o nome


geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu
território, que se tenha tornado conhecido como centro de
extração, produção ou fabricação de determinado produto
ou de prestação de determinado serviço.

Art. 178. Considera-se denominação de origem o nome


geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu
território, que designe produto ou serviço cujas qualidades
ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao
meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.

No tocante à INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA, o fato de uma


dada área (país, cidade, região ou localidade) de um território
ter se tornado reconhecido pela produção, fabricação,
produção ou extração de um produto específico ou mesmo
pela prestação de um serviço característico são atributos
que conferem a esta região distinção territorial em relação
aos demais produtores. Abaixo, exemplos de indicações de
procedência concedidos pelo INPI:
20

Fonte: https://mmadureira.jusbrasil.com.br/artigos/710070244/o-que-e-uma-indicacao-de-procedencia

A DENOMINAÇÃO DE ORIGEM por sua vez, relaciona-se


diretamente com as propriedades - qualidades e características,
por exemplo - dos produtos ou serviços encontrados em uma
dada região. Isto é, as denominações de origem designam
regiões cujas propriedades de seus produtos ou serviços
derivam diretamente de seu território (características exclusivas
ou essencialmente advindas do meio geográfico, incluídos
fatores naturais e humanos).

A seguir, um exemplo de indicação geográfica de Denominação


de Origem e o texto que a justifica:
21

"Localizada nas divisas dos estados do Amazonas e


do Pará, essa indicação geográfica compreende a
demarcação da Terra Indígena Andirá-Marau,
acrescida da área adjacente Vintequilos. Na região
delimitada, ficou comprovado que o bioma local e o
saber fazer do povo indígena Sateré-Mawé atuam de
modo preponderante na obtenção de um produto
diferenciado. O waraná, como é chamado pelos
Sateré-Mawé, pode ser traduzido como guaraná
nativo (wará é conhecimento, enquanto que -na
significa princípio; logo, é o princípio de todo
conhecimento da etnia Sateré-Mawé).
22

Segundo informações contidas no processo


protocolado pelo Consórcio de Produtores Sateré-
Mawé, a proteção do meio ambiente é fundamental
para garantir a simbiose entre o indivíduo Sateré-
Mawé e a espécie vegetal domesticada na área da
indicação geográfica. Isso porque as práticas dos
Sateré-Mawé garantem a conservação e a
adaptação genética do guaraná em seu ambiente
natural, com a Terra Indígena Andirá-Marau se
constituindo no único banco genético in situ do
guaraná existente no mundo.
Para manter essa condição, não é permitida nenhuma
forma de reprodução dos guaranazais por meio de
clonagem na região delimitada. Como fatores
naturais presentes nessa denominação de origem,
destacam-se os solos antrópicos (modificados pelo
homem), a alta umidade ambiental e as abelhas
canudo como agentes polinizadores. Já os fatores
humanos compreendem o cultivo totalmente
artesanal do guaraná nativo pelos produtores
Sateré-Mawé, que ainda desidratam e defumam os
grãos de guaraná para obter o bastão de guaraná
com cor, aroma, sabor e consistência bem
característicos. A representação da indicação
geográfica possui a figura do morcego, que
corresponde ao Rio Andirá, e a figura da rã, que
representa o Rio Marau".
Fonte:https://www.gov.br/inpi/pt-br/central-de-conteudo/noticias/inpi-concede-
primeira-do-para-povo-indigena
23

e) Topografia de Circuitos Integrados

O INPI apresenta a seguinte definição para este item:

Topografia de circuito integrado significa uma série de imagens


relacionadas, construídas ou codificadas sob qualquer meio ou forma,
que represente a configuração tridimensional das camadas que
compõem um circuito integrado, e na qual cada imagem represente, no
todo ou em parte, a disposição geométrica ou arranjos da superfície do
circuito integrado em qualquer estágio de sua concepção ou
manufatura.

Fonte:https://www.gov.br/inpi/pt-br/servicos/topografias-de-circuitos-
integrados/topografia-de-circuitos-integrados-mais-informacoes

Visualmente, uma forma de representação seria a da


imagem abaixo:

Fonte: http://pimocambique.blogspot.com/2019/10/
24

Esta proteção deriva do apoio governamental ao


desenvolvimento tecnológico da indústria de
semicondutores. Em 2007, o Estado brasileiro sancionou a lei
11.484/2007 no intuito de incentivar o desenvolvimento das
indústrias de equipamentos para TV Digital e de
componentes eletrônicos semicondutores. Esta lei dispõe
sobre a proteção à propriedade intelectual das topografias
de circuitos integrados.

2.2 Direito Autoral

O direito autoral é constituído por um mosaico conceitual de


direitos plurais que se complementam e completam, tendo
como marco originário a Convenção de Berna. Importante
mencionar que o direito autoral envolve tanto os direitos
morais (a autoria de uma obra não pode ser vendida, a obra
sempre será de autoria do seu criador, que deve ser
informado quanto às finalidades do uso) como os direitos
patrimoniais (exploração comercial da obra) dos autores.
25

A Lei nº 9.610/98, ao definir as obras intelectuais que são


protegidas pelo direito autoral no Brasil, classificou as
mesmas como “criações do espírito, expressas por qualquer
meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível,
conhecido ou que se invente no futuro”, listando os seguintes:

I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;

Ganhador do Prêmio Jabuti/22


26

II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras


da mesma natureza;

Presidenta Dilma discursando na Assembleia Geral da ONU/

Fonte: https://operamundi.uol.com.br/opiniao/41797/leia-integra-do-discurso-da-
presidente-dilma-rousseff-na-70a-assembleia-geral-da-onu
27

III - as obras dramáticas e dramático-musicais;

Fonte: Alladdin / Broadway


28

IV - as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se


fixe por escrito ou por outra qualquer forma;

Fonte: Deborah Colker – Cura


29

V - as composições musicais tenham ou não letra;

VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as


cinematográficas;

Anitta (Bang)
30

VII - as obras fotográficas e as produzidas por qualquer


processo análogo ao da fotografia;

Crianças de Hiroshima usam máscaras para evitar o cheiro de cadáveres dois


meses após o bombardeio. (Foto: Keystone/Getty Images)
31

VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte


cinética;

Xilogravuras de J. Borges (1935)


32

IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma


natureza;

Ilustrações de Philippa Rice sobre as “pequenas coisas” da vida


33

X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia,


engenharia, topografia, arquitetura, ao paisagismo, á cenografia e à ciência;

Museu do Amanhã/ RJ – Projetada por Santiago Calatrava


34

XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras originais,


apresentadas como criação intelectual nova;

Cartaz do Filme Harry Potter, adaptação para o cinema


de livro homônimo
35

XII - os programas de computador;


36

XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários, bases


de dados e outras obras, que, por sua seleção, organização ou disposição de
seu conteúdo, constituam uma criação intelectual.

Enciclopédia Barsa

Para entender melhor os atributos de cada um dos tipos de


propriedade intelectual existente no país, recomendamos a leitura
da legislação existente sobre o tema, a saber:

Lei da Propriedade Industrial (Lei 9.279/96);


Lei dos Cultivares (Lei 9.456/97);
Lei do Software (Lei 9.609/98);
Lei do Direito Autoral (Lei 9.610/98);
Lei da Inovação (Lei 10.973/2004);
Lei Incentivo Proteção da Topografia de Circuitos Integrados
(Lei 11.484/07).
37

Há, ainda, outros direitos conexos como os cultivares e os


conhecimentos tradicionais. Mas tais temas serão explorados
em curso específico de extensão, razão pela qual não nos
aprofundaremos no momento.

3 DIREITO DE AUTOR VERSUS DIREITO DE PROPRIEDADE


INDUSTRIAL
Pedro Neiva de Faria

Já parou para imaginar como seria o mundo em que as coisas


não tivessem nomes, ou então que tudo fosse compartilhável,
sem um responsável pela propriedade ou autoria de
determinado bem…?
38

Esta reflexão pode causar certa confusão, mas e se eu falar


pra você que isso já foi uma realidade, você acreditaria? Pois
é. A ideia e o conceito que temos hoje sobre propriedade, ou
seja, ser dono de alguma coisa, é reflexo de uma grande
evolução sociocultural.

A proteção da propriedade passou a ser mais bem definida e


protegida, somente a partir do século XVII, na Inglaterra, após
um crescente movimento social, político e filosófico que
fomentou as discussões e a formalização de instrumentos
eficazes para a proteção de direitos sobre as coisas, para
que elas fossem algo particular e privado. Desta forma, o
proprietário seria de fato e de direito o dono de um bem,
podendo fazer com ele aquilo que bem entendesse.

Inicialmente, esta cultura de propriedade privada tinha como


objetivo a proteção de terras e negócios reconhecendo e
privilegiando tais objetos, associados diretamente ao
trabalho desempenhado naquela sociedade. Contudo, não
havia uma proteção para as criações e invenções humanas.
Inclusive, alguns artistas ao longo da história tiveram de
esconder suas obras, fazer alterações e codificações que
somente o próprio seria capaz de entender, ou empregar
para acessar suas obras. Isto por medo de tê-las usurpadas
por terceiros, já que não havia nenhuma proteção para tais
criações.
39

É especialmente neste contexto, diante da necessidade de


proteção destes bens imateriais ou intangíveis, que não
representam algo palpável ou que exista necessariamente no
campo físico, que começam a surgir os primeiros códigos e
leis mais elaboradas sobre o tema.
Desta forma, as obras artísticas e as invenções industriais
passam a ter sua proteção e seus autores e inventores
passam a ter os direitos sobre suas criações.

Quando falamos neste tipo de proteção, das invenções e


criações da mente humana, que se materializam em obras
literárias, arte, música, indústria e outros meios, estamos
falando em Propriedade Intelectual.
40

A Organização Mundial da Propriedade Intelectual define a


Propriedade Intelectual como “a soma dos direitos relativos às
obras literárias, artísticas e científicas, às interpretações dos
artistas intérpretes e às execuções dos artistas executantes,
aos fonogramas e às emissões de radiodifusão, às invenções em
todos os domínios da atividade humana, às descobertas
científicas, aos desenhos e modelos industriais, às marcas
industriais, comerciais e de serviço, bem como às firmas
comerciais e denominações comerciais, à proteção contra a
concorrência desleal e todos os outros direitos inerentes à
atividade intelectual nos domínios industrial, científico, literário e
artístico”.

Vamos simplificar e resumir para ficar mais claro para você!


A P.I (Propriedade Intelectual) é tudo aquilo que está ligado à
criação e invenção de coisas, portanto a capacidade humana
de inventividade e seus conhecimentos.

Você já deve ter ouvido aquela frase famosa: “Na natureza


nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” Esta frase
é de Lavoisier, cientista francês. Mas uma frase ainda mais
famosa, que parafraseou Lavoisier, diz o seguinte: “Na
natureza nada se cria, tudo se copia”. Esta, por enquanto, não
sabemos quem foi o autor.
41

Mas por que falar sobre isto?

Ora, se o “criar” é algo da natureza humana, logo o “copiar”


também o é. E é justamente por isto que o inventor, o dono de
fato dos direitos sobre a invenção ou criação, precisa ter
uma proteção inclusive para o estímulo à produção e novas
criações. Concorda?
Então, podemos encarar a propriedade intelectual como este
incentivo e estímulo, pois é uma garantia de que as criações
estarão juridicamente protegidas, reconhecendo-se
formalmente a autoria e titularidade do seu inventor e os
direitos sobre a invenção.
A vantagem do sistema de propriedade intelectual é que ele
não apenas protege a atividade criativa em si, mas também
os investimentos que são feitos para levar estas invenções ao
mercado. No mundo inteiro os detentores de direitos de
propriedade intelectual são protegidos por leis específicas
contra o uso não autorizado de seus trabalhos, produtos,
processos, marcas e serviços.
42

A Propriedade Intelectual é uma área ampla que abrange


muitas outras subáreas, mas principalmente os Direitos
Autorais e a Propriedade Industrial, como podemos observar
na imagem abaixo:
43

4 COMO E ONDE PROTEGER TAIS DIREITOS?


Pedro Neiva de Faria

Para entender tal questão, vamos explicar melhor as diferenças,


as principais proteções e atributos de cada uma destas subáreas
principais e, especialmente, como e onde devemos proteger tais
direitos.
A propriedade industrial no Brasil encontra proteção em nossa
Constituição Federal, que prevê no artigo 5°, inciso XXIX: “a lei
assegurará aos autores de inventos industriais, privilégio
temporário para sua utilização, bem como proteção às criações
industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a
outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do País.”
Além disto, existe também uma legislação específica que
regulamenta e protege a Propriedade Industrial, a Lei 9.279/96 e
um órgão do governo, o Instituto Nacional da Propriedade
Industrial – INPI, que é uma autarquia federal responsável pelo
registro e concessão dos direitos relativos à propriedade
industrial, como por exemplo: marcas, patentes, desenhos
industriais, transferência de tecnologia, entre outros direitos.
44

Por outro lado, quando o assunto é o direito de autor, e direitos


autorais, esta proteção das obras intelectuais não estão
abarcadas pelas regras da “LPI” (Lei de Propriedade Industrial) e
pelo INPI.
De igual modo, visando a proteger a relação dos criadores e suas
criações para com terceiros, existem os Direitos Autorais que
estão previstos e regulamentados por uma outra lei própria, a Lei
nº 9.610/98, tendo em vista sua natureza diferenciada e as suas
particularidades. E assim como a propriedade industrial, também
estão protegidos pela Constituição Federal, no art. 5º, inciso XXVII:
“aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou
reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo
que a lei fixar.”

O escopo de proteção dos direitos autorais abrange os


seguintes tipos de obras: Livros, brochuras, folhetos, textos
literários, artísticos ou científicos; Obras dramáticas;
Ilustrações, Roteiros cinematográficos; Composições musicais;
Quadrinhos; Obras fotográficas, entre outros.
Também sob sua proteção estão os chamados direitos conexos
ao do Autor, ou seja, os direitos dos intérpretes e executores de
obras artísticas (cantores, atores), fonogramas (gravações de
músicas) e transmissões de radiodifusão (televisão, rádio, etc),
além de softwares e linhas de códigos de programas.
45

Um dos objetivos principais, além da atribuição da autoria e


titularidade, é a segurança contra a utilização indevida e plágios
de terceiros. O registro facilita a garantia e reivindicação dos
direitos autorais nos casos em que surgirem eventuais problemas.

Para proteção de tais criações, o registro pode ser feito em


diferentes órgãos e a depender do tipo de obra. Por exemplo: as
obras literárias em geral, científicas, artísticas, e de cinema são
registradas na Biblioteca Nacional. Já as composições musicais
podem ser também registradas na Escola de Música da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.

As artes visuais (desenhos, pinturas, gravuras, esculturas, etc.) na


Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Já os mapas, cartas geográficas, projetos, etc no Conselho
Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA).

Desta forma, os criadores de obras intelectuais poderão receber


benefícios morais e patrimoniais pela exploração de suas criações
e que é direito exclusivo do autor utilizar sua criação da maneira
que desejar, bem como permitir que terceiros a utilizem, total ou
parcialmente.

Após esta breve contextualização e explicações sobre os temas,


podemos perceber o quão importante são os direitos e
propriedades intangíveis / intelectuais, especialmente para, nós,
empreendedores.

Saber como proteger corretamente suas invenções, bem como a


importância destas proteções, é condição indispensável para
quem quer ter um diferencial no seu negócio e ter retorno
financeiro com elas, além de evitar problemas no futuro.
46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, D. B. Uma introdução à Propriedade Intelectual. Rio de


Janeiro: Lumen Juris, 2003 (2ª edição)

BURKE, Peter. Uma História Social do Conhecimento – de


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An Idea in the Balance , Daedalus 26 (Spring 2002).

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propriedade intelectual – estudos antropológicos. Porto Alegre:
Tomo Editorial, 2010.

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<https://ambitojuridico. com.br/edicoes/revista-67/direito-autoral-
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direitos e obrigações relativos à propriedade industrial. Brasília,
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Regula direitos autoriais. Brasília, DF;

CONGRESSO NACIONAL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014 que


Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da
Internet no Brasil.t . Brasília, DF;

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para Empreendedores. Edição do Kindle. 8-9 p.;
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FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Como solicitar o registro de


sua obra Disponível em: https://www.gov.br/bn/pt-
br/servicos/direitos-autorais-1/como-solicitar-o-registro-de-sua-
obra . Acesso em: 04 set. 2022;

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criação de uma marca: uma introdução às marcas e produtos e
serviços para pequenas e médias empresas. Rio de Janeiro: INPI,
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SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS


EMPRESAS (SABRAE). Como formalizar seu nome empresarial.
Disponível em: <https://m.sebrae.com.
br/sites/PortalSebrae/artigos/como-formalizar-seu-nome-
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WORLD INTELLECTUAL PROPERTY ORGANIZATION (WIPO). Inside


WIPO. Disponível em: <https://www.wipo.int/about-wipo/en/>.
Acesso em: 01 set. 2022;
49

LINKS ÚTEIS

Matérias usadas na elaboração da apostila:

OMPI
https://www.wipo.int/about-wipo/

REGISTRO.BR
https://registro.br/

UFRJ
https://musica.ufrj.br/index.php
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SOBRE OS AUTORES
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Contato: harpia-uerj@gmail.com

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