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Unidade 3 - POLÍTICAS EDUCACIONAIS E FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL - Liberada
Unidade 3 - POLÍTICAS EDUCACIONAIS E FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL - Liberada
Oportunidades de aprendizagem:
Estamos dividindo um importante momento da sua formação docente, que acredito, impactará de
forma significativa na sua identidade profissional, no “ser professor”, no reconhecimento e
valoração da diversidade, das diferenças e, sobretudo, das potencialidades dos estudantes.
Nesta unidade vamos dialogar sobre a inclusão da pessoa com deficiência a partir do Parecer
CNE/CEB n.17/2001, Resolução. CNE/CEB n. 2/2001, Decreto n. 6.571/2008, da Política
Nacional de Educação Especial e do Decreto. 10.502/2020, para traçarmos possibilidades para
romper com o estigma do capacitismo que por vezes ainda impera no contexto escolar. Afinal, a
inclusão só ocorre quando ampliam-se as relações e interrelações pessoais contribuindo para que
os saberes possam ser configurados e reconfigurados contribuindo para a formação humana de
todos os envolvidos.
.
#Problematização
#Significação
Vou iniciar nossa conversa sobre a inclusão e a importância do papel do professor em uma
sala de aula inclusiva relembrando o caso do “menino Arthur”, uma história comovente divulgada
pela Unicef, no ano de 2015, e que se apresentou como um marco significativo para o pensar
reflexivo no campo da educação inclusiva. Veja alguns excertos da matéria publicada "Arthur na
escola: uma história de sucesso na inclusão escolar” (UNICEF, 2016 [Online 1]:
Já fazia algum tempo que Ana Claudia dos Santos Vinagre tentava, sem sucesso,
matricular o filho Arthur em alguma escola pública de Mosqueiro, distrito de Belém
(PA) onde moram. O menino, na época com 5 anos, nunca tinha ido à escola.
Arthur teve complicações ao nascer e a previsão dos médicos era de que ele não
conseguiria andar. Contrariando o diagnóstico, mesmo com algumas dificuldades
motoras, ele já caminha e até corre sozinho. A procura por vagas, no entanto,
terminava sempre com respostas negativas: não há lugar, não temos como
atendê-lo. Em novembro de 2015, a família recebeu uma visita inesperada: um
ônibus do projeto Rios de Inclusão – iniciativa do UNICEF, em parceria com o
Governo do Estado do Pará, a Prefeitura de Belém, e a Fundação de
Desenvolvimento da Amazônia (Fidesa) – parou na porta da casa dela.
Conseguiram a vaga! Superado o desafio da vaga, era necessário garantir as
condições necessárias para que Arthur permanecesse na escola e pudesse
aprender. "Foi difícil para a gente se acostumar com ele longe de casa", conta Ana
Claudia. A EMEI funciona em tempo integral e o menino passaria a ficar o dia todo
na escola. A chegada de Arthur foi mais fácil do que todos esperavam. "Ele não
teve problemas de adaptação. Foi logo contagiando todos, querendo ser amigo de
todo mundo. Ele é uma criança muito carinhosa e adora conversar. Chega à classe
e vai logo perguntando ‘Tia, por que isso? Tia, como é aquilo?’", relata a
professora. Em pouco tempo, Arthur já estava enturmado e cheio de amigos.
Incluir não é um ato legal, é uma obrigação social e moral de toda sociedade, como você
percebeu durante a leitura sobre a história do menino Arthur. A inclusão, só existe quando temos
a parceria entre família, escola e comunidade, para tanto, você, eu e toda sociedade precisamos
buscar caminhos para juntos tornarmos a escola um exemplo de inclusão, de igualdade e de
resiliência. Afinal, estamos lutando por uma escola que entenda as diferenças, que acolha a
diversidade, mas que acima de tudo colabore com a formação humana dos nossos estudantes
para que tenhamos no futuro uma sociedade realmente justa e com igualdade de direitos a todos
os cidadãos.
#Experimentação
Você já brincou de “cabra cega” quando era criança? Lembra-se como era a brincadeira?
Você se lembra da sensação de não poder enxergar?
Vamos fazer um rápido resgate sobre essa brincadeira: você fica com os olhos vendados
enquanto os demais participantes da brincadeira ficam no círculo. Um dos participantes procura
pegar e adivinhar quem são os outros participantes, de olhos vendados. Aquele que for “pego”,
passará a ficar com os olhos vendados. Agora que você já reconheceu a brincadeira, te convido a
realizar essa brincadeira com seus alunos, ou com seus amigos ou familiares.
Nesta brincadeira você pode encontrar outras variações, como por exemplo, o pegador
deve também adivinhar pela audição quem foi pego, fazendo-lhe perguntas. As variações desta
brincadeira são inúmeras, deixe a imaginação fluir!
Você deve estar se perguntando, mas como esse jogo se relaciona com o nosso tema?
Vamos lá: ao final da brincadeira, faça um círculo com seu grupo e pergunte a eles como se
sentiram em uma brincadeira em que não poderiam usar a visão. Como foi a interação com os
demais colegas da sala? Como os colegas da turma o aceitam? Pergunte a eles como foi a
sensação de vivenciar o lugar do outro, as potencialidades e as batalhas que uma pessoa com
deficiência visual enfrenta em seu dia a dia?
#Experimentação#
#Reflexão#
Em seguida, reflita, como esse grupo percebeu a necessidade de pensar ou colocar-se em uma
situação de deficiência? Quais as dificuldades que você percebeu durante a brincadeira? Como
as pessoas interagiram? Como você enquanto professor/a se percebeu na condução desta
atividade?
Incluir significa muitas vezes colocar-se no lugar do outro. Entender quais as dificuldades que a
pessoa com deficiência passa no seu dia-a-dia para realizar simples tarefas, como lavar as mãos,
ir ao banheiro, fazer uma tarefa escolar ou participar de uma brincadeira. Incluir significa olhar
para o outro a partir de suas conquistas e não limitá-lo às suas capacidades de execução de
determinadas tarefas.
O movimento de luta e busca pela igualdade de direitos sociais, infelizmente, nem sempre é uma
realidade que se estabelece com frequência na sociedade. Como você observou na sua leitura
sobre a reportagem do menino Arthur, uma das dificuldades em efetivar a inclusão relaciona-se à
questão dos pré-conceitos estabelecidos. Na brincadeira de “cabra cega” que você realizou, você
fez uma experiência em que houve a possibilidade dos seus alunos ou familiares, se colocarem
no lugar de uma pessoa com deficiência visual.
Nesse sentido, a partir de suas observações, te convido a refletir sobre as questões da inclusão
da pessoa com deficiência na escola e seus direitos ao acesso à educação. Quais as dificuldades
enfrentadas pelos professores, pelos estudantes e família em lidar com a adversidade, com a
diferença? Como as pessoas se comportam em uma situação de inclusão, como foi o caso da
brincadeira de “cabra cega”? Não se esqueça de usar o seu diário de bordo para registrar suas
impressões sobre o que as pessoas conhecem sobre a inclusão e as necessidades da pessoa
com deficiência no ambiente escolar. Registre suas principais impressões e discussões surgidas
na brincadeira em seu Diário de Bordo
#Conceitualização
A discussão acerca da inclusão da pessoa com deficiência no ensino regular, como direito
garantido, devendo ter o acesso pleno a todas as condições de educação, perpassam a mais de
uma década, isto porque no ano de 1999, aconteceu a Convenção Interamericana para a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência,
que aconteceu na Guatemala. Essa Convenção resultou na promulgação do Decreto n.
3.956/2001 (BRASIL, 2001) no Brasil.
- Deficiência: deve ser entendida como um termo referente a uma restrição física, mental ou
sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais
atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social
(BRASIL, 2001).
#Novas Descobertas1#
Conhecer a história das leis e resoluções é um importante passo para entendermos as lutas e
movimentos que a sociedade tem realizado em prol de uma educação igualitária e de qualidade a
todas as pessoas com e sem deficiência. Sendo assim, te convido a fazer a leitura na íntegra da
Carta do Terceiro Milênio (1999) para que você possa conhecer com riqueza de detalhes os
direitos conquistados pelas pessoas com deficiência mundialmente. Acesse por meio do seu leitor
de QRCode:
QRCODEa
QRCODEb
#Novas Descobertas#
No entanto, essa não é uma realidade que acontece em todas as escolas. Sabemos que
um dos grandes desafios que temos na realidade da escola, na atualidade, está diretamente
ligado ao direito de acesso e permanência da pessoa com deficiência no ambiente regular de
ensino, ou seja, ainda temos muita dificuldade de colocar em prática a inclusão da pessoa com
deficiência com as garantias de uma educação de qualidade na escola regular.
Legalmente a inclusão está posta como uma obrigatoriedade, no entanto, na prática nem
sempre é o que acontece, por esse motivo precisamos nos movimentar para que a inclusão não
seja apenas uma proposta legal, precisamos que os direitos conquistados se efetivem com a
implementação de uma prática a ser vivenciada na ação, no cotidiano da escola. Isto porque,
segundo Sanfelice (2006, p. 395), para que as políticas para a educação especial com foco em
uma educação realmente inclusiva aconteça, precisamos compreender a educação como um
todo, ou seja, “dentro de uma lógica libertadora e humanizadora” pois do contrário, “tudo se
reproduzirá e as políticas inclusivas não perderão seu caráter sempre paliativo”.
A escola que temos na atualidade requer que o professor esteja em constante movimento,
buscando qualificação e formação para enfrentar os desafios que são inúmeros no seu cotidiano.
Por esse motivo, o “ser professor” em uma escola inclusiva, na atualidade, segundo Jannuzzi
(2006) é uma ação que está intimamente ligada ao modo de se pensar e de se agir com o
diferente. A atuação do professor, os processos de ensinar e aprender dependem da organização
social como um todo, em íntima relação com as descobertas das diversas ciências, das crenças e
das ideologias apreendidas pela complexidade da individualidade humana.
Ser professor, em uma escola inclusiva, pressupõe ressignificar a prática docente buscando
caminhos que possam legitimar na prática cotidiana as normativas estabelecidas no contexto das
políticas da educação e da educação especial. Sabemos que a inclusão escolar acontece a partir
de uma dinâmica social e do posicionamento adotado pela sociedade diante das problemáticas
referentes, em especial, à diversidade e à diferença que a escola tem enfrentado.
Cunha et al. (2008), afirma que ainda se faz necessário romper as questões
paradigmáticas, uma vez que na realidade atual da educação brasileira temos os alunos com
deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação
matriculados em classes comuns de escolas públicas, o que tem representado uma conquista
indicando uma mudança de perspectiva em relação a essa população.
Sobre essa discussão, apresento a você, a síntese do Parecer CNE/CEB n.17/2001, que
originou do documento Recomendações aos Sistemas de Ensino, em que se apresentava a
configuração da necessidade e a urgência da elaboração de normas, pelos sistemas de ensino e
educação, para o atendimento da significativa população que apresenta necessidades
educacionais especiais, deixando evidente as relações necessárias ao professor que irá atuar na
escola inclusiva.
Figura 1: Parecer CNE/CEB n.º 17 na prática / Fonte: adaptado do Parecer CNE/CEB n.17/2001.
Descrição: A figura apresentada, refere-se a um infográfico no qual temos o Parecer CNE/CEB n. 17
(2001) e suas diretrizes. No centro, há o dizer: “Parecer CNE/CEB n. 17 (BRASIL, 2001)”; No entorno,
conectados ao centro por uma linha, há quatro círculos em sentido horário, iniciando pelo superior, com os
dizeres, respectivamente: “identificar quais as necessidades educacionais especiais, definir e implementar
respostas educativas a essas necessidades”; “atuar nos processos de desenvolvimento e aprendizagem
dos alunos”; “apoiar o professor da classe comum”; “desenvolver estratégias de flexibilização, adaptação
curricular e práticas pedagógicas alternativas”.
#Novas descobertas2
Ano: 2017
Comentário: a leitura desse artigo irá te auxiliar nas reflexões acerca das ações de efetivação da
inclusão no contexto escolar, uma vez que apresentada dados sintetizados acerca de como a
realidade da inclusão no contexto escolar, das escolas regulares tem efetivamente acontecido na
educação básica.
QRCODE
#Novas descobertas
A escola deve agir no conjunto de suas relações, se organizando com suporte necessário
ao professor e ao estudante, disponibilizando, por exemplo, de um monitor ou cuidador dos
estudantes com necessidade de apoio nas atividades de higiene, alimentação, locomoção entre
outras, que exijam auxílio constante no cotidiano escolar. O que significa que o processo
educativo evidencia-se como uma ação colaborativa e de co-participação, na qual todos os
envolvidos são protagonistas e comprometidos com a aplicabilidade das políticas educacionais na
prática cotidiana da escola, mas priorizando sempre os processos de ensino e aprendizagem do
estudante com deficiência.
Figura 2. Entendendo a escola inclusiva / Fonte: elaborada pela autora.
Ao observarmos a figura 2, notamos que toda escola inclusiva centra-se num processo de
inclusão significativo no ambiente escolar. A inclusão implica uma mudança de perspectiva
educacional, pois não se limita aos alunos com deficiência e aos que apresentam dificuldades de
aprender, mas a todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. Os
alunos com deficiência constituem uma grande preocupação para os educadores inclusivos, mas
todos sabemos que a maioria dos que fracassam na escola são alunos que não vêm do ensino
especial, mas que possivelmente acabarão nele (MANTOAN, 1997).
Para Mantoan (1997) problemas conceituais, desrespeito a preceitos constitucionais,
interpretações tendenciosas de nossa legislação educacional e preconceitos distorcem o sentido
da inclusão escolar, reduzindo-a unicamente à inserção de alunos com deficiência no ensino
regular.
#Pensando Juntos#
As políticas brasileiras com foco na educação, apresentam uma busca por oportunizar de
forma igualitária uma educação de qualidade às pessoas com e sem deficiência, tecendo em
seus argumentos a necessidade de propiciar ações de equidade, qualidade e igualdade de
direitos. Esse cenário reitera a consideração sobre a diversidade, que busca viabilizar respostas
didático-pedagógicas às necessidades temporais ou permanentes dos estudantes que podem
ocorrer tanto nas dimensões escolares quanto nos demais contextos sociais. Na escola, ao
considerarmos a diversidade cultural e social, possibilita o desenvolvimento da formação humana
a todos os envolvidos.
A partir de minha experiência como docente em uma instituição de ensino superior (IES),
percebo o dia-a-dia do processo formativo, ainda encontro lacunas ao tratar do tema da
deficiência. Temos disciplinas nas matrizes curriculares e nos Projetos Pedagógicos dos cursos
de licenciatura, em especial. No entanto, ao falarmos das questões da deficiência observamos ser
este um tema frequentemente invisibilizado.
Trabalhar na perspectiva de uma escola inclusiva, de uma educação para todos, significa
que o professor em sala de aula, além de conhecer os direitos legais da pessoa com deficiência,
carece trazer para a sua prática pedagógica experimentações, vivências escolares cujo foco seja
a formação humana e a importância de olharmos para o outro a partir de suas necessidades. É
necessário, acima de tudo, evidenciar nas aulas situações que oportunizem a todos os
estudantes, com e sem deficiência, a aproximação com a realidade vivenciada no cotidiano da
escola pelas pessoas com deficiência, pois somente desta forma poderemos garantir a
transformação dos olhares e o romper com os paradigmas e estigmas em relação à pessoa com
deficiência, conforme já preconizava-se nos anos de 1990, na Convenção de Guatemala, na
Carta do Terceiro Milênio e na Declaração de Salamanca.
Ao seguirmos as palavras de Mia Couto, podemos entender que essa é uma árdua tarefa,
uma vez que o “[...] o maior desafio é sermos capazes de não ficar aprisionados nesse recinto
que uns chamam de ‘razão’, outros de ‘bom-senso’. A realidade é uma construção social e é,
frequentemente, demasiado real para ser verdadeira. Nós não temos sempre que levar tão a
sério.” (COUTO, 2011, p. 99).
#Explorando Ideias#
Você sabia que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, foi um acordo internacional
firmado em 1948? De acordo com Bobbio (1995) essa Declaração, pode ser entendida como um
marco na sociedade contemporânea, na qual passamos a ter a conceituação do que são os
direitos humanos. Esses direitos descritos apresentam como base conceitual o direito a
universalidade, o que significa dizer que a condição de ser pessoa no mundo é o único requisito
para o acesso a este direito; e a indivisibilidade, que segundo o autor obrigatoriamente precisam
existir em regime de unidade com os denominados direitos econômicos, sociais e culturais.
#Explorando Ideias#
Ainda sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos, você não encontra menção
explícita sobre o direito à liberdade, igualdade e dignidade, expressamente dirigida às pessoas
com deficiência, mas afirma que deve ser dirigida a todas as pessoas. Os acontecimentos na
sequência a essa Declaração, conforme apontam a figura 3, acenam para grandes conquistas, no
entanto, precisamos evidenciar e reconhecer que mesmo após a Declaração, se fez e se faz
necessário o posicionamento favorável a inclusão, em defesa dos direitos da pessoa com
deficiência nos espaços escolares, de trabalho, enfim da sociedade. E, cada conquista é fruto dos
movimentos sociais e organizações das pessoas com deficiência, buscando colocar todas as
pessoas em igualdade de condições, reiterando os processos e ações de co-responsabilização
da sociedade, e não apenas um movimento restrito ao âmbito familiar e/ou a práticas
assistencialistas, caritativas, de abandono e até de asilamento e enclausuramento das pessoas
com deficiência.
A partir de 2009, após a Convenção tendo efetivamente uma conquista legal, em que se
estabelece a constitucionalidade dos Estados com a obrigatoriedade da elaboração e
consolidação de políticas públicas com foco nas pessoas com deficiências, passamos a ter outro
marco importante, que foram relacionados aos princípios da Convenção, que segundo Santos
(2010) foram totalmente alicerçados no modelo social da deficiência.
A criação do Estatuto da Pessoa com Deficiência, no ano de 2015, por meio da lei 13.146
demonstrou um ganho nas discussões no âmbito político e da própria sociedade sobre as
questões relacionadas à pessoa com deficiência. No entanto, tornar-se lei não significa legitimar
uma mudança de pensamento, de valores, de olhares e de uma visão de assistencialismo ou
incapacidade, por vezes, proveniente do desconhecimento ou do senso comum. Com isso,
passamos a ter de forma mais evidente a questão do capacitismo vinculado às pessoas com
deficiência.
#Explorando Ideias#
#Explorando Ideias#
Descrição: a figura apresenta o Decreto n.10502/2020 como o ponto central da figura, estando do lado
direito um círculo apontando com a indicação: Educação Especial: preferencialmente na rede regular de
ensino; no círculo abaixo do lado direito, apresenta-se a descrição de que a: Educação Especial: destinada
aos educandos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e
superdotação. Sendo que ao lado esquerdo, são apresentados dois círculos, no círculo rosa, destaca-se
ser esse decreto o responsável pela: Política Educacional equitativa e logo abaixo no círculo roxo, o
destaque fica a cargo de ser este decreto os direcionamentos da política inclusiva, sendo a descrição:
Política Educacional Inclusiva.
A Lei Brasileira de Inclusão, efetiva o direito da pessoa com deficiência no ensino regular, tendo
para tanto, condições de acesso e permanência no ambiente escolar por meio de uma educação
de qualidade sustentada no respeito às diferenças e diversidade para o aprendizado de cada
cidadão.
Nesse sentido, a busca pela garantia de viabilizar os direitos da pessoa com deficiência
sobressaem sobre rompem com os olhares acerca da deficiência vinculados exclusivamente pelo
olhar do “capacitismo”.
#Novas Descobertas3#
Ano: [2001]
Comentário: Ao assistir o documentário, dirigido por João Jardim e Walter Carvalho, você terá
um olhar sensibilizado para a vida da pessoa com deficiência, tendo como foco a superação e a
necessidade de uma sociedade verdadeiramente inclusiva, cuja ação seja a valorização do outro
e o respeito para com a diversidade e a diferença das relações na sociedade contemporânea.
#Novas Descobertas#
Você deve compreender que como futuro professor da educação básica, a sala de aula é
um lugar de pertencimento no qual o tempo e o fazer pedagógico, se constituem pela ação
docente pautada no currículo básico, como nos conceitos, valores e conhecimentos do senso
comum que são transmitidos por meio do currículo oculto. Sabendo deste fato precisamos
entender que como professores em sala de aula, no pátio da escola, na reunião de pais, na sala
dos professores, ou na conversa com nossos colegas de profissão, nossa postura profissional
frente às necessidades inclusivas e da importância de rompermos com o olhar para a pessoa com
deficiência sob a ótica do capacitismo torna-se uma responsabilidade.
Quando revisitamos a história e observamos que, mesmo a partir das lutas, dos
movimentos em prol da garantia dos direitos legais da pessoa com deficiência, os discursos de
exclusão, de segregação, os discursos religiosos, médicos, científicos, assistencialistas,
integracionistas, inclusivos ainda são presentes nas falas daqueles que desconhecem a realidade
do cotidiano da pessoa com deficiência.
#Novas descobertas4#
Comentário: Este filme nos auxilia na reflexão da importância da inclusão, em diversos âmbitos
da sociedade, mas em especial, na educação, da necessidade de observar o outro pelas suas
potencialidades e não sua deficiência ou característica física. Além de mostrar a perspectiva da
pessoa com deficiência diante da sociedade e da inclusão.
#Novas descobertas#
#Novas Descobertas5#
QRCODE
#Novas Descobertas#
Você precisa ter claro, como futuro professor da educação básica, que a temática da inclusão,
não é um tema simples, principalmente porque efetiva-se como um processo que requer uma
reconfiguração da sociedade para com a pessoa com deficiência e o inverso, ou seja, da pessoa
com deficiência para com a sociedade. Evidencia-se uma relação em que ambos devem
manifestar e respeitar as necessidades apresentadas para que tenhamos garantido o acesso e
convivência no espaço de forma inclusiva e não segregativa. Incluir significa romper barreiras,
requer pensar coletivamente, necessita ações planejadas, organizadas e sistematizadas em que
o diálogo e a busca pela igualdade de direitos sejam a bandeira levantada durante todo o
processo. Requer, portanto, que haja uma ação colaborativa e de co-responsabilização entre
governo, sociedade, família e pessoa com deficiência caminhando em prol da efetivação das
políticas que se configuram como garantias de inclusão, rechaçando ações e movimentos de
exclusão ou segregação, quer seja na escola ou fora dela.
O capacitismo está associado a uma visão deturpada sobre a pessoa com deficiência. Vincula-se
a uma forma negligenciada da sociedade tratar os assuntos referentes aos direitos de igualdade e
qualidade de condições de vida, isto porque conforme a figura 5, o capacitismo envolve apenas o
olhar sobre a deficiência a partir da sua limitação ou do subjugamento de evidenciar a pessoa
como incapaz apenas por não corresponder ao padrão de normalidade da sociedade.
Tenho defendido que nossa sociedade só conseguirá romper com os paradigmas e provocar
mudanças significativas em relação à pessoa com deficiência, a partir de uma educação
humanizadora, uma educação pelo afeto e pela empatia. Por esse motivo, te convido a dar play e
refletir sobre como podemos repensar a ação docente e a educação como um lugar de
reconhecimento da pessoa com deficiência em sua complexidade. Vamos juntos buscar construir
conhecimentos coerentes sobre a nossa realidade! Estou te esperando!
Como você observou nos seus estudos, o capacitismo, mesmo sendo um termo
empregado de forma relativamente recente na sociedade, resulta de um processo histórico em
que se tem a supervalorização da pessoa a partir do seu “rendimento”, do que é capaz de
produzir, ou seja, refere-se a uma busca pela normalização de um padrão de corpo, de trabalho
que possa gerar de forma eficiente e eficaz resultados chamados de satisfatórios, sendo o
contrário tratado com indiferença, indignação. No capacitismo, desconsidera-se as condições de
vida da pessoa com deficiência, suas oportunidades, sua condição econômica ou ambiental,
determina apenas se a pessoa é ou não capaz de executar com performance ou dentro do
esperado uma determinada tarefa. Isto significa, que a visão do capacitismo limita o pensar a
pessoa para além do que ela pode realizar.
#Pensando Juntos#
O que podemos fazer como professor que atua na educação básica, no dia-a-dia da sala de aula,
para podermos reverter esse pensamento que negligencia os direitos da pessoa com deficiência?
Como romper com olhar sob a perspectiva do capacitismo em nossa escola?
#Pensando Juntos#
O processo de educação escolarizada acontece a partir das normativas legais. A formação inicial
e continuada dos professores que atuam na educação básica centram suas ações pedagógicas a
partir das estruturas curriculares e normativas dos níveis aos quais estão atuando, como
consequência a ação docente compreende trazer para a sua prática cotidiana uma ação
pedagógica sustentada em estratégias e recursos didáticos que possibilitem ao aluno com
deficiência participar ativamente das atividades propostas em sala de aula.
#Novas Descobertas#
#Novas Descobertas#
Como professores, sabemos que a realidade da sala de aula da educação básica, vai além
do que está prescrito no currículo e no planejamento, contribuímos para com a formação humana
dos nossos estudantes. Por esse motivo, precisamos ser cuidadosos com as nossas falas,
atitudes e comportamentos, uma vez que o capacitismo evidencia-se como uma ação que ocorre
de forma subconsciente ou subliminares, que por vezes acontece em razão de conceitos
advindos do senso comum sobre como olhamos e pensamos a pessoa com deficiência.
Isto significa que nem sempre o capacitismo acontece de forma explícita, ao contrário, na
maioria das vezes ele reverbera apenas a naturalização de uma atitude, de um comportamento
perante a pessoa com deficiência que está incutido nas atitudes adotadas como “normalizadas”
no senso comum. Por esse motivo temos que proporcionar aos nossos estudantes, situações,
experiências, vivências em que sejam oportunizados aos estudantes com e sem deficiência
refletirem, pensarem e resolverem tarefas a partir de diferentes realidades e contextos.
Precisamos considerar que o capacitismo se caracteriza por atitudes que podem ser
intencionais ou não, e que muitas vezes estão internalizadas na sociedade, requerendo de nós
professores um movimento de busca por romper com o preconceito estabelecido sobre a pessoa
com deficiência ou qualquer outra diferença apresentada, tendo como pauta recorrente das aulas
a visibilidade sobre os problemas enfrentados, sejam em relação às políticas de acessibilidade ou
em relação ao trato social e aos direitos como cidadão a que todos devemos ter.
Conhecer a legislação, os direitos expressos nas leis e resoluções sobre a pessoa com
deficiência se efetiva como uma obrigatoriedade para a nossa atuação profissional, no entanto,
temos um compromisso moral e ético com nossos estudantes com e sem deficiência, que é
contribuir para com a sua formação humana. E, o que isso significa? Significa que nas nossas
aulas, nas metodologias adotadas, nas atividades propostas, possamos evidenciar a
potencialidade de nossos estudantes, aguçá-los a olhar para o outro com respeito,
reconhecimento e afeto para com a pessoa.
As ações docentes são, portanto, momentos para tirarmos da invisibilidade o que muitas
vezes a sociedade negligencia, trazermos à cena as discussões e reflexões sobre as
necessidades sociais, econômicas e políticas dos nossos estudantes e da comunidade em que
estão inseridos. Tornar visível a pessoa e não sua diferença, segundo Kuppers (2004) significa
romper com os olhares de aprisionamento da identidade da pessoa com deficiência que inúmeras
vezes a sociedade lhe coloca.
A sensibilidade de olhar para a pessoa com deficiência, a partir das suas necessidades,
respeitando suas limitações e valorizando suas potencialidades, resulta no rompimento do
pensamento que por vezes se opera em relação a esse público, reduzindo-os aos estigmas
historicamente e socialmente construídos.
Ter esse conhecimento sobre o Estatuto da pessoa com deficiência, implica em garantir ao nosso
estudante, que seus direitos não sejam negligenciados, reafirma nosso compromisso em
desmistificar os preconceitos historicamente estabelecidos e disseminados pelo olhar do
capacitismo.
Você como professor da educação básica precisa saber que de acordo com o Estatuto, em
seu artigo 28 inciso III, todo projeto pedagógico deve “institucionalizar o atendimento educacional
especializado, assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às
características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em
condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia” (BRASIL,
2015, s/p); como consequência, nossa atitude política e social deve ser de uma busca pela
efetivação dessas prerrogativas legais.
Somente por meio das vivências e experiências que a escola pode tornar possível a
visibilidade da diferença sem que esta seja enaltecida como pejorativa ou degradante. Ao
contrário, ao evidenciar a diversidade e a diferença no Projeto Pedagógico da escola, temos
alicerce legal para oportunizar a inclusão da diferença e da diversidade por meio dos recursos
didáticos enaltecendo o que a própria palavra deficiência representa ao retirarmos a letra d de
sua escrita. Faça isso agora, retire a primeira letra da palavra: deficiente, e a primeira sílaba das
palavras: incapacidade, incompetência e veja que novas palavras você formou! Faça uma busca
rápida e procure o significado dessas palavras, reflita como elas podem inferiorizar ou valorizar
uma pessoa.
Espero que você na sua reflexão tenha entendido que ao falarmos da pessoa com
deficiência precisamos trazer em nossas conversas e diálogos o conceito e o significado de
eficiência, e não da deficiência, da possibilidade ao invés da impossibilidade, da capacidade em
detrimento da incapacidade, ou seja, precisamos olhar para a pessoa com deficiência para além
do capacitismo. Entender que a pessoa com deficiência deve estar incluída na sociedade, na sala
de aula ou em qualquer espaço social ou de trabalho, respeitada em seus limites e fragilidades,
tendo como foco suas potencialidades e conquistas. Afinal, é na diferença e no respeito que nos
constituímos enquanto sociedade. Precisamos provocar em nossas aulas tensionamentos que
levem nossos estudantes da educação básica, a pensar sobre o significado de cada palavra.
Fazer com que reflitam acerca do que escrevem, falam ou se expressam perante a diferença do
outro. As referências ou conceitos ligados à pessoa com deficiência sob a ótica do capacitismo
em geral evidenciam: a) a responsabilização das pessoas com deficiência pela sua condição; b) a
construção de estratégias voltadas predominantemente à adequação do corpo às normatividades;
c) a acentuação da hierarquização das pessoas com deficiência; e d) a emergência de uma
condição precária, uma vez que o Estado-Nação fica eximido de garantir a adequação dos
espaços com base nas variações corpóreas (GESSER et al. , 2019).
O capacitismo corrobora para tornar certas vidas mais ou menos inteligíveis e dignas de
políticas voltadas à garantia dos direitos humanos. Precisamos lutar contra esse modelo de
sociedade em que se sustenta o conceito da pessoa com deficiência a partir dos moldes trazidos
pelo pensamento centrado no discurso do capacitismo, pois nesse modelo de sociedade apenas
marginalizamos os que são diferentes.
#Ação
Discutir, refletir e pensar o outro para além do que estamos habitualmente acostumados a
negligenciar aos nossos olhos, nem sempre é uma tarefa fácil. Você percebeu que durante as
nossas imersões conceituais e explicativas, busquei levar até você momentos em que o pensar a
ação e o trabalho docente lhe instigasse a romper com a visão centrada apenas no ensinar e no
aprender. Estamos buscando juntos promover um lugar de pertencimento chamado “escola” que
possibilite a formação humana do outro, dos nossos estudantes, a partir de uma nova
reconfiguração da história da própria sociedade, em que nós “professores” ocupamos lugares
essenciais! Lugares de pertencimento que nos possibilitam colaborar com o romper as barreiras e
os estigmas que inibem a pessoa com deficiência de uma vida digna na sociedade da qual faz
parte.
Incluir a pessoa com deficiência, significa, para o nosso processo de formação profissional,
sustentar-nos em uma identidade pessoal concebida a partir de conceitos, pensamentos e ideias
que resultam da luta e do movimento por uma sociedade justa e que promova a igualdade de
direito a todos os nossos estudantes.
Observamos que os sentidos de capacitismo se reescrevem na forma como falamos,
pensamos e agimos perante a diversidade e a diferença do outro. Entendemos que a deficiência,
não deve se sobressair à pessoa. Isto porque o imaginário socialmente construído de que as
pessoas com deficiência são naturalmente incapazes, é na verdade um discurso causado pelo
desconhecimento, pela falta de sensibilidade em observar o outro a partir das suas necessidades
e evidenciar suas potencialidades.
Ao pensarmos na educação básica, precisamos refletir sobre qual a formação que o futuro
professor está recebendo e como sua capacitação ou formação continuada se constituem ao
longo de sua trajetória profissional. Entendo, como professora que atua há quase duas décadas
com a formação de professores, que na maioria das vezes não estamos preparados para receber
a criança deficiente em sala de aula, ou para tratar da diferença e da diversidade que compõem
nossa escola, nossa turma, nossa classe. No entanto, esse não deve ser o impeditivo para
ficarmos estagnados e nos sucumbirmos ao ostracismo.
#Avaliação#
Depois de seus estudos e leituras, chegou o momento da avaliação. Na avaliação proposta, você
deve construir o seu mapa conceitual, a partir de um diagrama em que tem como base a questão
da influência do capacitismo para a efetivação da inclusão no cotidiano do professor na escola.
#Referências#
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