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Expediente

Professor: [Vânia de Fátima Matias de Souza / Jhonatan Phelipe Peixoto]

Coordenador: [Waleria Henrique dos Santos Leonel]

Designer Educacional: [Vanessa Graciele Tiburcio]

Curadora: [Fabiana Bruna Gozer Dias]

Revisão: [Inserir ilustrador responsável]

Ilustração: [Inserir ilustrador responsável]

Diagramação: [Inserir diagramador responsável]

Unidade 3: Da legislação à formação inicial: em busca de uma educação especial que


rompa com o paradigma do capacitismo

Oportunidades de aprendizagem:
Estamos dividindo um importante momento da sua formação docente, que acredito, impactará de
forma significativa na sua identidade profissional, no “ser professor”, no reconhecimento e
valoração da diversidade, das diferenças e, sobretudo, das potencialidades dos estudantes.
Nesta unidade vamos dialogar sobre a inclusão da pessoa com deficiência a partir do Parecer
CNE/CEB n.17/2001, Resolução. CNE/CEB n. 2/2001, Decreto n. 6.571/2008, da Política
Nacional de Educação Especial e do Decreto. 10.502/2020, para traçarmos possibilidades para
romper com o estigma do capacitismo que por vezes ainda impera no contexto escolar. Afinal, a
inclusão só ocorre quando ampliam-se as relações e interrelações pessoais contribuindo para que
os saberes possam ser configurados e reconfigurados contribuindo para a formação humana de
todos os envolvidos.

.
#Problematização

O primeiro passo para a legitimação da educação inclusiva se dá por meio do processo


formativo do professor, ou seja, da formação inicial até a sua formação continuada. Para
tanto, a formação de professores para atuação na educação inclusiva deve acontecer a
partir de uma perspectiva colaborativa e de corresponsabilização entre todos os
protagonistas da educação. No entanto, sabemos que a identidade do professor é flexível e
a partir das experiências e vivências tanto na sua formação inicial quanto em seu momento
de atuação irão lhe proporcionar novos olhares e formas de ser e agir como professor.
E quando estamos nos referindo a educação inclusiva, ao trabalho pedagógico centrado na
diversidade, no respeito às limitações do outro, tendo como ponto de partida as
potencialidades da pessoa e não suas dificuldades começamos a nos questionar: será que
na atualidade os professores de sala de aula, que estão recebendo os estudantes com
deficiência, estão preparados para recebê-los?
Será que como professores estamos conseguindo realizar ações didático-pedagógicas que
possibilitem o nosso estudante com deficiência ser percebido a partir de suas
potencialidades ou ainda estamos marcados por ações e atitudes influenciadas pelos
estigmas do capacitismo? Será que olhamos apenas para o que a pessoa com deficiência
pode fazer ou conseguimos possibilitar caminhos e experiências pedagógicas em nossas
aulas que proporcionem ao nosso estudante com deficiência e aqueles sem deficiência uma
educação igualitária cujos direitos de acesso e permanência no ambiente regular de ensino
sejam pautados nos princípios da inclusão?

#Significação

Vou iniciar nossa conversa sobre a inclusão e a importância do papel do professor em uma
sala de aula inclusiva relembrando o caso do “menino Arthur”, uma história comovente divulgada
pela Unicef, no ano de 2015, e que se apresentou como um marco significativo para o pensar
reflexivo no campo da educação inclusiva. Veja alguns excertos da matéria publicada "Arthur na
escola: uma história de sucesso na inclusão escolar” (UNICEF, 2016 [Online 1]:

Já fazia algum tempo que Ana Claudia dos Santos Vinagre tentava, sem sucesso,
matricular o filho Arthur em alguma escola pública de Mosqueiro, distrito de Belém
(PA) onde moram. O menino, na época com 5 anos, nunca tinha ido à escola.
Arthur teve complicações ao nascer e a previsão dos médicos era de que ele não
conseguiria andar. Contrariando o diagnóstico, mesmo com algumas dificuldades
motoras, ele já caminha e até corre sozinho. A procura por vagas, no entanto,
terminava sempre com respostas negativas: não há lugar, não temos como
atendê-lo. Em novembro de 2015, a família recebeu uma visita inesperada: um
ônibus do projeto Rios de Inclusão – iniciativa do UNICEF, em parceria com o
Governo do Estado do Pará, a Prefeitura de Belém, e a Fundação de
Desenvolvimento da Amazônia (Fidesa) – parou na porta da casa dela.
Conseguiram a vaga! Superado o desafio da vaga, era necessário garantir as
condições necessárias para que Arthur permanecesse na escola e pudesse
aprender. "Foi difícil para a gente se acostumar com ele longe de casa", conta Ana
Claudia. A EMEI funciona em tempo integral e o menino passaria a ficar o dia todo
na escola. A chegada de Arthur foi mais fácil do que todos esperavam. "Ele não
teve problemas de adaptação. Foi logo contagiando todos, querendo ser amigo de
todo mundo. Ele é uma criança muito carinhosa e adora conversar. Chega à classe
e vai logo perguntando ‘Tia, por que isso? Tia, como é aquilo?’", relata a
professora. Em pouco tempo, Arthur já estava enturmado e cheio de amigos.

Incluir não é um ato legal, é uma obrigação social e moral de toda sociedade, como você
percebeu durante a leitura sobre a história do menino Arthur. A inclusão, só existe quando temos
a parceria entre família, escola e comunidade, para tanto, você, eu e toda sociedade precisamos
buscar caminhos para juntos tornarmos a escola um exemplo de inclusão, de igualdade e de
resiliência. Afinal, estamos lutando por uma escola que entenda as diferenças, que acolha a
diversidade, mas que acima de tudo colabore com a formação humana dos nossos estudantes
para que tenhamos no futuro uma sociedade realmente justa e com igualdade de direitos a todos
os cidadãos.

#Experimentação

Você já brincou de “cabra cega” quando era criança? Lembra-se como era a brincadeira?
Você se lembra da sensação de não poder enxergar?

Vamos fazer um rápido resgate sobre essa brincadeira: você fica com os olhos vendados
enquanto os demais participantes da brincadeira ficam no círculo. Um dos participantes procura
pegar e adivinhar quem são os outros participantes, de olhos vendados. Aquele que for “pego”,
passará a ficar com os olhos vendados. Agora que você já reconheceu a brincadeira, te convido a
realizar essa brincadeira com seus alunos, ou com seus amigos ou familiares.
Nesta brincadeira você pode encontrar outras variações, como por exemplo, o pegador
deve também adivinhar pela audição quem foi pego, fazendo-lhe perguntas. As variações desta
brincadeira são inúmeras, deixe a imaginação fluir!

Você deve estar se perguntando, mas como esse jogo se relaciona com o nosso tema?
Vamos lá: ao final da brincadeira, faça um círculo com seu grupo e pergunte a eles como se
sentiram em uma brincadeira em que não poderiam usar a visão. Como foi a interação com os
demais colegas da sala? Como os colegas da turma o aceitam? Pergunte a eles como foi a
sensação de vivenciar o lugar do outro, as potencialidades e as batalhas que uma pessoa com
deficiência visual enfrenta em seu dia a dia?

Faça essa experiência, convide um grupo de amigos e vivencie essa prática!

#Experimentação#

#Reflexão#

Em seguida, reflita, como esse grupo percebeu a necessidade de pensar ou colocar-se em uma
situação de deficiência? Quais as dificuldades que você percebeu durante a brincadeira? Como
as pessoas interagiram? Como você enquanto professor/a se percebeu na condução desta
atividade?

Incluir significa muitas vezes colocar-se no lugar do outro. Entender quais as dificuldades que a
pessoa com deficiência passa no seu dia-a-dia para realizar simples tarefas, como lavar as mãos,
ir ao banheiro, fazer uma tarefa escolar ou participar de uma brincadeira. Incluir significa olhar
para o outro a partir de suas conquistas e não limitá-lo às suas capacidades de execução de
determinadas tarefas.

O movimento de luta e busca pela igualdade de direitos sociais, infelizmente, nem sempre é uma
realidade que se estabelece com frequência na sociedade. Como você observou na sua leitura
sobre a reportagem do menino Arthur, uma das dificuldades em efetivar a inclusão relaciona-se à
questão dos pré-conceitos estabelecidos. Na brincadeira de “cabra cega” que você realizou, você
fez uma experiência em que houve a possibilidade dos seus alunos ou familiares, se colocarem
no lugar de uma pessoa com deficiência visual.

Nesse sentido, a partir de suas observações, te convido a refletir sobre as questões da inclusão
da pessoa com deficiência na escola e seus direitos ao acesso à educação. Quais as dificuldades
enfrentadas pelos professores, pelos estudantes e família em lidar com a adversidade, com a
diferença? Como as pessoas se comportam em uma situação de inclusão, como foi o caso da
brincadeira de “cabra cega”? Não se esqueça de usar o seu diário de bordo para registrar suas
impressões sobre o que as pessoas conhecem sobre a inclusão e as necessidades da pessoa
com deficiência no ambiente escolar. Registre suas principais impressões e discussões surgidas
na brincadeira em seu Diário de Bordo

#Conceitualização

A escola é um espaço de interlocução entre a realidade social vivida e a perspectiva de


inovações, reconfigurações e avanços para a pessoa e para a sociedade como um todo. Tratar da
inclusão no ambiente escolar, na sala de aula, significa afirmar que o professor está preparado
para a diversidade de realidades em um mesmo espaço e tempo de atuação, em que o
multiculturalismo, a pluralidade de saberes e conhecimentos devem ser o alicerce da ação
profissional de todo professor.
A ação do professor no cotidiano escolar efetiva-se como a consolidação da mudança,
configurando-se como a engrenagem que alicerça todo movimento de transformação. Isto
porque, só temos que falar de inclusão porque historicamente as pessoas com deficiência,
ou aquelas que fogem do padrão de normalidade encontram-se excluídas, à margem dos
seus direitos sociais e legais. E, neste cenário, no qual se evidenciava o apartamento
dessas pessoas do convívio da sociedade, é que a proposta de inclusão escolar surge,
buscando romper com os paradigmas e pré-conceitos em relação à pessoa com deficiência,
a inclusão torna-se a efetivação de um movimento de lutas e reivindicações sociais que
buscam a garantia dos direitos de educandos com necessidades educacionais especiais ao
acesso e permanência na escola (GLAT; NOGUEIRA, 2003).
Este fato deve acontecer, pois de acordo com a Convenção de Guatemala que
aconteceu no ano de 1999, todas “as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos
humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas, definindo como discriminação
com base na deficiência toda diferenciação ou exclusão que possa impedir ou anular o
exercício dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais” (BRASIL, 2001).

A discussão acerca da inclusão da pessoa com deficiência no ensino regular, como direito
garantido, devendo ter o acesso pleno a todas as condições de educação, perpassam a mais de
uma década, isto porque no ano de 1999, aconteceu a Convenção Interamericana para a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência,
que aconteceu na Guatemala. Essa Convenção resultou na promulgação do Decreto n.
3.956/2001 (BRASIL, 2001) no Brasil.

De acordo com o Documento da Convenção de Guatemala, todas as pessoas com


deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas.
Colocando como sendo um ato de discriminação toda e qualquer forma de diferenciação,
exclusão ou restrição que possam impedir ou anular os direitos humanos e as liberdades
fundamentais da pessoa com deficiência. Essa definição trazida pela Convenção e assumida pelo
Decreto n. 3956/2001 (BRASIL, 2001), reiteram que todas as pessoas devem ser tratadas com
igualdade de direitos de forma indistinta no campo da educação.

O Decreto n. 3956/2001 (BRASIL, 2001), passa a apresentar ainda algumas definições


importantes, a saber que:

- Deficiência: deve ser entendida como um termo referente a uma restrição física, mental ou
sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais
atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social
(BRASIL, 2001).

- Discriminação: refere-se a toda forma de diferenciação, exclusão ou restrição baseada em


deficiência, antecedente de deficiência, consequência de deficiência anterior ou percepção de
deficiência presente ou passada, que tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o
reconhecimento, gozo ou exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência de seus
direitos humanos e suas liberdades fundamentais (BRASIL, 2001).

#Novas Descobertas1#

Conhecer a história das leis e resoluções é um importante passo para entendermos as lutas e
movimentos que a sociedade tem realizado em prol de uma educação igualitária e de qualidade a
todas as pessoas com e sem deficiência. Sendo assim, te convido a fazer a leitura na íntegra da
Carta do Terceiro Milênio (1999) para que você possa conhecer com riqueza de detalhes os
direitos conquistados pelas pessoas com deficiência mundialmente. Acesse por meio do seu leitor
de QRCode:

QRCODEa

Na sequência da sua leitura, visite o Decreto Nº 3.956, DE 8 DE OUTUBRO DE 2001, originado


na Convenção de Guatemala

QRCODEb

#Novas Descobertas#

Outro documento importante que impactou no processo de formação de professores e na


busca pela eliminação e erradicação do preconceito, dos estigmas e paradigmas referentes à
pessoa com deficiência foi a chamada Carta do Terceiro Milênio, promulgada em 1999, pela
Assembléia Governativa da Rehabilitation International. Na Carta do Terceiro Milênio, deixava-se
reiterado a determinação de que todos os direitos humanos de cada pessoa, em qualquer
sociedade, devem ser reconhecidos e protegidos.

Você deve estar se perguntando, mas o que a Convenção de Guatemala e a Carta do


Terceiro Milênio, mudaram no campo da educação escolar? A resposta a este
questionamento refere-se ao fato de que essas deliberações reconfiguraram a ação
educativa e todo o trabalho docente, seja na educação básica ou em qualquer nível ou
modalidade de ensino. Isto porque, a partir da promulgação dos documentos supracitados,
passou a ter o entendimento que devemos considerar os estudantes de forma
individualizada, sendo que cada um apresenta características e necessidades diferentes, e
que cada estudante deve ser visto na sua diversidade, cultura e condições
sócio-emocionais.
Essas considerações, sobre perceber os estudantes em sua diversidade, respeitar os
seus limites e incentivar o desenvolvimento e suas potencialidades, são ações basilares que
devem constar na prática cotidiana do professor, para que este possa diferenciar e
estabelecer os caminhos e encaminhamentos do processo de ensino e aprendizagem tanto
para estudantes com altas habilidades/superdotação, como com dificuldades acentuadas de
aprendizagem, com deficiências ou aqueles que não apresentam nenhuma necessidade
aparente.

No entanto, essa não é uma realidade que acontece em todas as escolas. Sabemos que
um dos grandes desafios que temos na realidade da escola, na atualidade, está diretamente
ligado ao direito de acesso e permanência da pessoa com deficiência no ambiente regular de
ensino, ou seja, ainda temos muita dificuldade de colocar em prática a inclusão da pessoa com
deficiência com as garantias de uma educação de qualidade na escola regular.

Legalmente a inclusão está posta como uma obrigatoriedade, no entanto, na prática nem
sempre é o que acontece, por esse motivo precisamos nos movimentar para que a inclusão não
seja apenas uma proposta legal, precisamos que os direitos conquistados se efetivem com a
implementação de uma prática a ser vivenciada na ação, no cotidiano da escola. Isto porque,
segundo Sanfelice (2006, p. 395), para que as políticas para a educação especial com foco em
uma educação realmente inclusiva aconteça, precisamos compreender a educação como um
todo, ou seja, “dentro de uma lógica libertadora e humanizadora” pois do contrário, “tudo se
reproduzirá e as políticas inclusivas não perderão seu caráter sempre paliativo”.

A escola que temos na atualidade requer que o professor esteja em constante movimento,
buscando qualificação e formação para enfrentar os desafios que são inúmeros no seu cotidiano.
Por esse motivo, o “ser professor” em uma escola inclusiva, na atualidade, segundo Jannuzzi
(2006) é uma ação que está intimamente ligada ao modo de se pensar e de se agir com o
diferente. A atuação do professor, os processos de ensinar e aprender dependem da organização
social como um todo, em íntima relação com as descobertas das diversas ciências, das crenças e
das ideologias apreendidas pela complexidade da individualidade humana.

Ser professor, em uma escola inclusiva, pressupõe ressignificar a prática docente buscando
caminhos que possam legitimar na prática cotidiana as normativas estabelecidas no contexto das
políticas da educação e da educação especial. Sabemos que a inclusão escolar acontece a partir
de uma dinâmica social e do posicionamento adotado pela sociedade diante das problemáticas
referentes, em especial, à diversidade e à diferença que a escola tem enfrentado.

Como primeiro passo para buscarmos alternativas para as problemáticas postas,


precisamos nos alicerçar nas leis e resoluções para que possamos entender quais os direitos e
deveres que nós, professores, temos ao entrarmos na sala de aula. Frente ao exposto,
precisamos entender qual a compreensão por deficiência e necessidades educacionais que a
legislação brasileira apresenta.
De acordo com a Resolução n.º 2/2001, artigo 5° (Brasil, 2001, p. 2), são considerados
educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional,
apresentarem:

I – dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de


desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares,
compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica
específica; b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou
deficiências; II – dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos
demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III –
altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a
dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes.

Outrossim, buscando a conceituação e/ou definição do que a lei considera


característica da pessoa com deficiência, recorremos a Lei Federal n° 13.146/2015 (BRASIL,
2015), em acordo com Convenção da ONU, em seu artigo 2º, define que "Considera-se
pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial”, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas.

Conhecer as definições legais asseguram uma prática inclusiva inicial do professor,


visto que a sala de aula, apresenta-se como um lugar de ocupação da diversidade, da
diferença, do respeito e acolhimento ao outro, para tanto as atitudes e percepções de
familiares e profissionais que atuam junto às pessoas com deficiência devem pautar-se no
“reconhecimento da cidadania do sujeito com necessidades especiais” (NUNES et al., 1998,
p. 58).

O trabalho docente no ambiente escolar, é cercado de diversidade em relação aos


aspectos sociais, econômicos e culturais dos estudantes, mesmo estes pertencendo por vezes a
uma mesma comunidade. A diferença, o multiculturalismo efetiva-se como uma realidade na sala
de aula. Por esse motivo, o professor deve reconhecer que a essência da sua aula, decorre da
existência de uma coerência entre a maneira de ser dos seus estudantes, respeitando os seus
interesses, necessidades e potencialidades, tornando-os também agentes protagonistas do
processo do ensinar e não apenas do aprender. Isto porque, segundo Mantoan (2012), para
pensarmos uma educação realmente inclusiva, precisamos partir do pressuposto de que a
inclusão, decorre da ação do professor, da escola e de todos os envolvidos em buscar o
aperfeiçoamento da educação, bem como também depende de uma disponibilidade interna, que
não é comum a todos os professores.

Cunha et al. (2008), afirma que ainda se faz necessário romper as questões
paradigmáticas, uma vez que na realidade atual da educação brasileira temos os alunos com
deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação
matriculados em classes comuns de escolas públicas, o que tem representado uma conquista
indicando uma mudança de perspectiva em relação a essa população.

Sobre essa discussão, apresento a você, a síntese do Parecer CNE/CEB n.17/2001, que
originou do documento Recomendações aos Sistemas de Ensino, em que se apresentava a
configuração da necessidade e a urgência da elaboração de normas, pelos sistemas de ensino e
educação, para o atendimento da significativa população que apresenta necessidades
educacionais especiais, deixando evidente as relações necessárias ao professor que irá atuar na
escola inclusiva.

Figura 1: Parecer CNE/CEB n.º 17 na prática / Fonte: adaptado do Parecer CNE/CEB n.17/2001.
Descrição: A figura apresentada, refere-se a um infográfico no qual temos o Parecer CNE/CEB n. 17
(2001) e suas diretrizes. No centro, há o dizer: “Parecer CNE/CEB n. 17 (BRASIL, 2001)”; No entorno,
conectados ao centro por uma linha, há quatro círculos em sentido horário, iniciando pelo superior, com os
dizeres, respectivamente: “identificar quais as necessidades educacionais especiais, definir e implementar
respostas educativas a essas necessidades”; “atuar nos processos de desenvolvimento e aprendizagem
dos alunos”; “apoiar o professor da classe comum”; “desenvolver estratégias de flexibilização, adaptação
curricular e práticas pedagógicas alternativas”.

O trabalho docente no contexto da educação especial, ampara-se na Resolução CNE/CEB


n. 2/2001 (BRASIL, 2001), em que se prevê a atuação colaborativa com o professor da sala de
aula regular e nos serviços de apoio especializado nas salas de recursos, nas quais o professor
poderia realizar “a complementação ou suplementação curricular, utilizando procedimentos,
equipamentos e materiais específicos” (BRASIL, 2001, p. 2).

A educação inclusiva requer na prática de um trabalho pedagógico que apresenta sentido


e significado a todos os envolvidos, afinal a inclusão da pessoa com deficiência em uma escola
regular, depende da formação inicial, continuada e os cursos de capacitação de professores, pois
o papel do professor no contexto da escola inclusiva é essencial para que possamos oportunizam
o desenvolvimento de conhecimentos e oportunizar a experimentação de práticas inovadoras em
suas aulas.

#Novas descobertas2

Artigo: A Educação Especial no contexto do Plano Nacional de Educação

Ano: 2017

Autor: Louise Moraes

Editora: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio


Teixeira
Síntese: O artigo oferece informações dos microdados do Censo Demográfico de 2010, de
maneira a complementar o monitoramento do plano pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Indica que em diferentes faixas etárias,
discrepâncias no acesso e na taxa de escolarização, de alfabetização e de analfabetismo
entre a população com e sem deficiência.

Comentário: a leitura desse artigo irá te auxiliar nas reflexões acerca das ações de efetivação da
inclusão no contexto escolar, uma vez que apresentada dados sintetizados acerca de como a
realidade da inclusão no contexto escolar, das escolas regulares tem efetivamente acontecido na
educação básica.

QRCODE

#Novas descobertas

O processo de inclusão, tem se consolidado como um processo dinâmico que, considera


tanto o conhecimento prévio e o nível atual de desenvolvimento do aluno, quanto às
possibilidades de aprendizagem futura, configurando uma ação pedagógica processual e
formativa que analisa o desempenho do aluno em relação ao seu progresso individual,
prevalecendo na avaliação os aspectos qualitativos que indiquem as intervenções pedagógicas
do professor (ZABALA, 1998).

A escola deve agir no conjunto de suas relações, se organizando com suporte necessário
ao professor e ao estudante, disponibilizando, por exemplo, de um monitor ou cuidador dos
estudantes com necessidade de apoio nas atividades de higiene, alimentação, locomoção entre
outras, que exijam auxílio constante no cotidiano escolar. O que significa que o processo
educativo evidencia-se como uma ação colaborativa e de co-participação, na qual todos os
envolvidos são protagonistas e comprometidos com a aplicabilidade das políticas educacionais na
prática cotidiana da escola, mas priorizando sempre os processos de ensino e aprendizagem do
estudante com deficiência.
Figura 2. Entendendo a escola inclusiva / Fonte: elaborada pela autora.

Descrição: A figura apresentada no formato de um organograma, apresenta ao lado esquerdo um


retângulo com o termo escola inclusiva, tendo duas setas longitudinais em direção ao retângulo
posicionado a frente contendo o texto conceitual com a definição de escola inclusiva, sendo essa
descrição: é um lugar do qual todos são aceitos, onde todos ajudam e são ajudados por seus colegas e
por outros membros da comunidade escolar, para que as suas necessidades educacionais sejam
satisfeitas (STAIMBACK, 1999). Abaixo, do lado esquerdo tem-se um retângulo, com uma caixa de texto
com os seguintes dizeres: princípio fundamental da escola inclusiva, em sua frente uma seta indicando o
retângulo à direita com os dizeres: reconhecer e responder às diversas necessidades de seus alunos,
acomodando tanto estilos como ritmos diferentes de aprendizagem e assegurando uma educação de
qualidade a todos por meio de currículo apropriado, modificações organizacionais, estratégias de ensino,
uso de recursos e parcerias com a comunidade.

Ao observarmos a figura 2, notamos que toda escola inclusiva centra-se num processo de
inclusão significativo no ambiente escolar. A inclusão implica uma mudança de perspectiva
educacional, pois não se limita aos alunos com deficiência e aos que apresentam dificuldades de
aprender, mas a todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. Os
alunos com deficiência constituem uma grande preocupação para os educadores inclusivos, mas
todos sabemos que a maioria dos que fracassam na escola são alunos que não vêm do ensino
especial, mas que possivelmente acabarão nele (MANTOAN, 1997).
Para Mantoan (1997) problemas conceituais, desrespeito a preceitos constitucionais,
interpretações tendenciosas de nossa legislação educacional e preconceitos distorcem o sentido
da inclusão escolar, reduzindo-a unicamente à inserção de alunos com deficiência no ensino
regular.

#Pensando Juntos#

A escola inclusiva, centra-se na legitimidade da sua implementação, os procedimentos


metodológicos da práxis pedagógica, possibilitam mudanças na atuação junto aos alunos com e
sem deficiência ou necessidades educacionais especiais. Na prática do cotidiano da escola, como
você poderia realizar essa ação, considerando uma sala com trinta alunos, sendo um deficiente
físico e um autista?
#Pensando Juntos#

As políticas brasileiras com foco na educação, apresentam uma busca por oportunizar de
forma igualitária uma educação de qualidade às pessoas com e sem deficiência, tecendo em
seus argumentos a necessidade de propiciar ações de equidade, qualidade e igualdade de
direitos. Esse cenário reitera a consideração sobre a diversidade, que busca viabilizar respostas
didático-pedagógicas às necessidades temporais ou permanentes dos estudantes que podem
ocorrer tanto nas dimensões escolares quanto nos demais contextos sociais. Na escola, ao
considerarmos a diversidade cultural e social, possibilita o desenvolvimento da formação humana
a todos os envolvidos.

A partir de minha experiência como docente em uma instituição de ensino superior (IES),
percebo o dia-a-dia do processo formativo, ainda encontro lacunas ao tratar do tema da
deficiência. Temos disciplinas nas matrizes curriculares e nos Projetos Pedagógicos dos cursos
de licenciatura, em especial. No entanto, ao falarmos das questões da deficiência observamos ser
este um tema frequentemente invisibilizado.

Trabalhar na perspectiva de uma escola inclusiva, de uma educação para todos, significa
que o professor em sala de aula, além de conhecer os direitos legais da pessoa com deficiência,
carece trazer para a sua prática pedagógica experimentações, vivências escolares cujo foco seja
a formação humana e a importância de olharmos para o outro a partir de suas necessidades. É
necessário, acima de tudo, evidenciar nas aulas situações que oportunizem a todos os
estudantes, com e sem deficiência, a aproximação com a realidade vivenciada no cotidiano da
escola pelas pessoas com deficiência, pois somente desta forma poderemos garantir a
transformação dos olhares e o romper com os paradigmas e estigmas em relação à pessoa com
deficiência, conforme já preconizava-se nos anos de 1990, na Convenção de Guatemala, na
Carta do Terceiro Milênio e na Declaração de Salamanca.

Conhecemos e discutimos, por vezes, as questões da deficiência a partir das barreiras


físicas, da acessibilidade estrutural, um assunto que também se apresenta de suma relevância.
Mas, o que mais podemos trazer para o palco do debate da formação dos futuros professores
sobre a inclusão escolar? Sobre essa discussão, precisamos começar a elucidar a necessidade
de repensarmos a organização e estruturação curricular dos cursos de licenciatura e de formação
continuada, de maneira que as experiências formativas colaborem com o romper das barreiras
atitudinais do ser humano, ou seja, as crenças e as representações sobre a deficiência que
trazemos incutidas socialmente acerca da imagem que temos da pessoa com deficiência.

Ao seguirmos as palavras de Mia Couto, podemos entender que essa é uma árdua tarefa,
uma vez que o “[...] o maior desafio é sermos capazes de não ficar aprisionados nesse recinto
que uns chamam de ‘razão’, outros de ‘bom-senso’. A realidade é uma construção social e é,
frequentemente, demasiado real para ser verdadeira. Nós não temos sempre que levar tão a
sério.” (COUTO, 2011, p. 99).

A docência é, portanto, um lugar de exercício constante em que a nossa identidade


profissional se constitui e se configura por meio das nossas relações cotidianas, nossas
experiências e nossas ações vivenciadas no contexto da escola, e da própria profissão. O que
significa que precisamos entender que todo processo de formação inicial a que estamos
submetidos, efetiva-se como uma ação de co-responsabilização para com a formação dos nossos
estudantes. Mia Couto (2011, p. 101), deixa claro que, “de pouco vale escrever ou ler se não nos
deixarmos dissolver por outras identidades e não recordarmos em outros corpos, outras vozes”.
Em outras palavras, significa que nada adianta apresentarmos um discurso favorável à inclusão
social e escolar da pessoa com deficiência quando continuamos a agir na prática cotidiana
invisibilizando o outro a partir da sua deficiência.

Durante o processo de formação inicial e na formação continuada, na atuação no cotidiano


da escola que nossa ação deve ser o diferencial. Efetivar os direitos do outro enquanto cidadão, é
acima de tudo uma ação educativa de grande valoração. Isto porque, segundo Bobbio (1995), a
noção de que o exercício pleno da cidadania acontece realmente são reconhecidos por todas os
processos de resistência, reivindicações, pressões, lutas e conquistas de espaços emancipatórios
da dignidade humana, sendo esta uma construção histórica e dinâmica, instituídas na própria
sociedade e que passam a receber a denominação de Direitos Civis. Direitos esses que as
pessoas com deficiência têm como qualquer outro cidadão.

#Explorando Ideias#

Você sabia que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, foi um acordo internacional
firmado em 1948? De acordo com Bobbio (1995) essa Declaração, pode ser entendida como um
marco na sociedade contemporânea, na qual passamos a ter a conceituação do que são os
direitos humanos. Esses direitos descritos apresentam como base conceitual o direito a
universalidade, o que significa dizer que a condição de ser pessoa no mundo é o único requisito
para o acesso a este direito; e a indivisibilidade, que segundo o autor obrigatoriamente precisam
existir em regime de unidade com os denominados direitos econômicos, sociais e culturais.

#Explorando Ideias#

Ainda sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos, você não encontra menção
explícita sobre o direito à liberdade, igualdade e dignidade, expressamente dirigida às pessoas
com deficiência, mas afirma que deve ser dirigida a todas as pessoas. Os acontecimentos na
sequência a essa Declaração, conforme apontam a figura 3, acenam para grandes conquistas, no
entanto, precisamos evidenciar e reconhecer que mesmo após a Declaração, se fez e se faz
necessário o posicionamento favorável a inclusão, em defesa dos direitos da pessoa com
deficiência nos espaços escolares, de trabalho, enfim da sociedade. E, cada conquista é fruto dos
movimentos sociais e organizações das pessoas com deficiência, buscando colocar todas as
pessoas em igualdade de condições, reiterando os processos e ações de co-responsabilização
da sociedade, e não apenas um movimento restrito ao âmbito familiar e/ou a práticas
assistencialistas, caritativas, de abandono e até de asilamento e enclausuramento das pessoas
com deficiência.

As ações resultantes da abordagem das necessidades e direitos da pessoa com


deficiência na Constituição Brasileira de 1988, foram uma conquista advinda de uma intensa
mobilização social, que acabou culminando, posteriormente, em políticas públicas de educação,
trabalho, assistência social e saúde com foco específico ao atendimento das demandas das
pessoas com deficiência.

A partir de 2009, após a Convenção tendo efetivamente uma conquista legal, em que se
estabelece a constitucionalidade dos Estados com a obrigatoriedade da elaboração e
consolidação de políticas públicas com foco nas pessoas com deficiências, passamos a ter outro
marco importante, que foram relacionados aos princípios da Convenção, que segundo Santos
(2010) foram totalmente alicerçados no modelo social da deficiência.

A criação do Estatuto da Pessoa com Deficiência, no ano de 2015, por meio da lei 13.146
demonstrou um ganho nas discussões no âmbito político e da própria sociedade sobre as
questões relacionadas à pessoa com deficiência. No entanto, tornar-se lei não significa legitimar
uma mudança de pensamento, de valores, de olhares e de uma visão de assistencialismo ou
incapacidade, por vezes, proveniente do desconhecimento ou do senso comum. Com isso,
passamos a ter de forma mais evidente a questão do capacitismo vinculado às pessoas com
deficiência.

#Explorando Ideias#

Entenda que o capacitismo refere-se a uma expressão carregada de preconceito junto às


pessoas com deficiência, em que se pressupõe que a pessoa com deficiência, é uma pessoa
automaticamente “menos capaz”, por possuir algumas ou todas as suas capacidades limitadas ou
reduzidas.

#Explorando Ideias#

Ao buscar entendimentos conceituais acerca da educação especial, ao recorrermos ao Decreto n.


6.571/2008, encontramos o termo: Atendimento Educacional Especializado, o qual refere-se a um
conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente,
prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular
(Brasil, 2008b, p. 1).
Figura 3 - Trabalho docente e a educação especial / Fonte: elaborado pela autora.

Descrição: Na figura consta um esquema sobre o trabalho docente e a educação especial. Há um


retângulo inicial com o dizer: Atendimento Educacional Especializado, do qual sai uma seta indicativa
direcionada para outro retângulo com os dizeres: Igualdade de direitos. Deste sai outra seta que resulta no
retângulo: Decreto N. 6.571/2008; deste, se continua o percurso, com uma seta indicando para o
retângulo: Recursos Didáticos; que enfim, finaliza, com uma seta indicativa, no retângulo com o dizer:
Acessibilidade.

As discussões acerca da educação e a educação inclusiva das pessoas com deficiência


no Brasil, tem sido uma ação influenciada pelas tomadas de decisão e encaminhamentos
constituídos por uma ação mundial em defesa de uma sociedade considerada inclusiva, tanto no
que se refere a espaços escolares, quanto aos demais espaços da sociedade, tendo seus direitos
como cidadão sendo garantidos.

Nesse movimento, em outubro de 2020, o Governo Federal implementou a Política


Nacional de Educação Especial, instituída por meio do Decreto nº10.502 (BRASIL, 2020). O
Decreto, constitui-se em dezoito artigos. O dezoito artigos apresentados neste documento,
estabelecem a Política Nacional de Educação Especial (artigo 3 e 4), as instruções para
sua realização (artigo 6) e as definições (artigo 2); sobre os serviços e recursos da educação
especial (artigo 7) e os profissionais envolvidos (artigo 8); a especificação do público da
política (artigo 5); mecanismos de avaliação e monitoramento (artigo 10 e 11), ações
responsáveis pela implementação da política nacional de educação especial (artigo 9);
estrutura administrativa envolvida na consolidação da política pública em questão (artigo 12
ao 18). Cada artigo apresenta as indicações das ações que devem ser realizadas pelas
instituições para que se tenha a efetividade da inclusão da pessoa com deficiência dentro e fora
da escola.

Há ainda que se evidenciar que o Decreto 10.502/2020, em que se tem a instalação e


implementação da Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida, já evidencia em seu título a perspectiva educacional apresentada
sob o modo de pensar educação a partir de parâmetros liberais de aprendizagem. Preconiza a
compreensão de que “ a educação inclusiva, que consiste na efetiva e plena participação da
pessoa com deficiência nas escolas regulares, sem prejuízo do atendimento educacional
especializado” (BRASIL, 2020). Todavia, apresenta contradições ao prever a participação de
equipe multidisciplinar no processo de decisão da família ou do educando quanto à alternativa
educacional mais adequada, se em escolas regulares ou especializadas (art. 3º, VI).
Figura 4: Enfoques no Decreto n.10502/2020 / Fonte: elaborado pela autora.

Descrição: a figura apresenta o Decreto n.10502/2020 como o ponto central da figura, estando do lado
direito um círculo apontando com a indicação: Educação Especial: preferencialmente na rede regular de
ensino; no círculo abaixo do lado direito, apresenta-se a descrição de que a: Educação Especial: destinada
aos educandos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e
superdotação. Sendo que ao lado esquerdo, são apresentados dois círculos, no círculo rosa, destaca-se
ser esse decreto o responsável pela: Política Educacional equitativa e logo abaixo no círculo roxo, o
destaque fica a cargo de ser este decreto os direcionamentos da política inclusiva, sendo a descrição:
Política Educacional Inclusiva.

A Lei Brasileira de Inclusão, efetiva o direito da pessoa com deficiência no ensino regular, tendo
para tanto, condições de acesso e permanência no ambiente escolar por meio de uma educação
de qualidade sustentada no respeito às diferenças e diversidade para o aprendizado de cada
cidadão.

Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados


sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a
vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e
habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características,
interesses e necessidades de aprendizagem (BRASIL, 2020, p.56).

Compreendemos que a escola inclusiva, acontece quando consideramos a pessoa na sua


totalidade, suas necessidades e potencialidades, bem como considerando sua diversidade
cultural e social. Afinal, como muito bem enfatiza Saviani (1991), a educação carece considerar e
identificar os elementos culturais a que estamos inseridos, para tanto o trabalho pedagógico deve
centrar-se na organização dos meios de estruturação dos conteúdos considerando o espaço,
tempo e procedimentos adequados a cada necessidade.

A escola é uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado


(SAVIANI,1991), mas sempre considerando, a partir do saber elaborado, situações e condições
de formação de um cidadão que considere as diferenças, que respeite as limitações e
potencialidades do outro.

Uma ação necessária ao futuro professor ao analisar o Decreto n.10.502/2020, decorre da


necessidade evidente de compreendermos que mesmo a partir das lutas e conquistas resultantes
dos movimentos para a inclusão da pessoa com deficiência, o paradigma da visibilidade versus
invisibilidade ainda se apresenta como um aprisionamento conceitual que pode negligenciar os
direitos da pessoa. Sendo essa observada e avaliada a partir do prisma do capacitismo em que
se considera a pessoa com deficiência, considerando apenas sua condição corporal e
definindo-as como sendo, naturalmente, menos capazes.

A sociedade, a escola, a família ainda precisam buscar movimentos de conscientização e


mobilização para que este imaginário, socialmente construído, seja rompido. A essência da
pessoa com ou sem deficiência deve ser a sua identidade. Segundo Araújo ( 2013, p. 7) ao nos
referirmos a educação inclusiva, buscando romper com as questões explícitas do olhar para a
pessoa com deficiência a partir do prisma do capacitismo, se dá por meio da adoção do Modelo
Biopsicossocial, em que consideramos a pessoa com deficiência a partir da articulação entre os
fatores sociais, biológicos e psicológicos, reconhecendo a complexidade da deficiência,
permitindo que seja percebida como o resultado da interação de mecanismos interpessoais e
ambientais.

Nesse sentido, a busca pela garantia de viabilizar os direitos da pessoa com deficiência
sobressaem sobre rompem com os olhares acerca da deficiência vinculados exclusivamente pelo
olhar do “capacitismo”.
#Novas Descobertas3#

Título: Janela da Alma

Ano: [2001]

Sinopse: De acordo com os editores, o documentário Janela da Alma,


apresenta o relato de 19 pessoas, sobre como lidam nas situações diárias
com a deficiência visual. O foco do documentário é a superação do
preconceito e a limitação da pessoa com deficiência. Aponta como a
pessoa com deficiência visual consegue superar as barreiras do dia-a-dia,
desde a acessibilidade física até a social.

Comentário: Ao assistir o documentário, dirigido por João Jardim e Walter Carvalho, você terá
um olhar sensibilizado para a vida da pessoa com deficiência, tendo como foco a superação e a
necessidade de uma sociedade verdadeiramente inclusiva, cuja ação seja a valorização do outro
e o respeito para com a diversidade e a diferença das relações na sociedade contemporânea.

#Novas Descobertas#

Você deve compreender que como futuro professor da educação básica, a sala de aula é
um lugar de pertencimento no qual o tempo e o fazer pedagógico, se constituem pela ação
docente pautada no currículo básico, como nos conceitos, valores e conhecimentos do senso
comum que são transmitidos por meio do currículo oculto. Sabendo deste fato precisamos
entender que como professores em sala de aula, no pátio da escola, na reunião de pais, na sala
dos professores, ou na conversa com nossos colegas de profissão, nossa postura profissional
frente às necessidades inclusivas e da importância de rompermos com o olhar para a pessoa com
deficiência sob a ótica do capacitismo torna-se uma responsabilidade.

Quando revisitamos a história e observamos que, mesmo a partir das lutas, dos
movimentos em prol da garantia dos direitos legais da pessoa com deficiência, os discursos de
exclusão, de segregação, os discursos religiosos, médicos, científicos, assistencialistas,
integracionistas, inclusivos ainda são presentes nas falas daqueles que desconhecem a realidade
do cotidiano da pessoa com deficiência.

A falta de conhecimento, ou seja, o desconhecimento sobre o assunto, acaba por aligeirar


os movimentos em busca pela igualdade de direitos da pessoa com deficiência. É preciso falar
sobre a inclusão da pessoa com deficiência, mas acima de tudo é preciso entender que
precisamos considerar a pessoa independentemente de suas limitações ou potencialidades.
Evidente que não conseguimos romper com os paradigmas sobre a deficiência apenas
com a imposição ou implementação de uma ação política. A visão que a sociedade tem sobre a
pessoa com deficiência, ainda está muito enraizada ao conceito de deficiência advindas de visões
teológicas ou morais, sobressaídas como resquícios da Antiguidade ou Idade Média, via-se a
pessoa com deficiência como sendo um um castigo ou uma punição por um ato da família
(ARANHA, 1995). Por séculos esse olhar para com a pessoa com deficiência tem sido
disseminado e ainda se encontra alojado em muitas falas no senso comum daqueles que
desconhecem os fatores ou características das deficiências.

Tratar das questões da deficiência no ambiente inclusivo, significa entender os caminhos


trilhados sobre essa temática; implica no entendimento de que os conhecimentos sobre a
deficiência, a partir do reconhecimento médico-científico, trouxeram avanços para a pessoa com
deficiência, mas não podemos nos centrar apenas nessas concepções. Na atualidade precisamos
falar da inclusão social, do romper com o paradigma do capacitismo.

A sociedade precisa encampar movimentos que ultrapassem o observar, descrever,


relacionar-se com as pessoas ao seu redor a partir de estereótipos, biótipos ou modelos
padronizados. Ao tratarmos das questões sobre a pessoa com deficiência, independente do tipo
de deficiência, se faz necessário adquirir a postura humanitária, em que o olhar sobre o outro seja
de igualdade, e que a busca pelo conhecimento se constitua pela coletividade, mas pela
objetividade da potencialidade do outro.

#Novas descobertas4#

Filme: Extraordinário (2017)

Sinopse: Auggie Pullman (Jacob Tremblay) é um garoto que nasceu


com uma deformação facial, o que fez com que passasse por 27
cirurgias plásticas. Aos 10 anos, ele pela primeira vez frequentará uma
escola regular, como qualquer outra criança. Lá, precisa lidar com a
sensação constante de ser sempre observado e avaliado por todos à sua
volta.

Comentário: Este filme nos auxilia na reflexão da importância da inclusão, em diversos âmbitos
da sociedade, mas em especial, na educação, da necessidade de observar o outro pelas suas
potencialidades e não sua deficiência ou característica física. Além de mostrar a perspectiva da
pessoa com deficiência diante da sociedade e da inclusão.
#Novas descobertas#

As políticas de formação à docência preconizam, em especial, nas Diretrizes de Formação para


professores, a Lei n. 02/2019-CNE, em seu artigo 12, que dentre as competências e habilidades
para o trabalho docente, centrado no conhecimento, prática e engajamento profissionais, os
currículos e seus respectivos conteúdos formativos, devem constar os “marcos legais,
conhecimentos e conceitos básicos da Educação Especial, das propostas e projetos para o
atendimento dos estudantes com deficiência e necessidades especiais” (BRASIL, 2019).
Entretanto, será que essa realidade se efetivará na prática apenas por ter se tornado uma
obrigação legal? Será que basta o (re)conhecimento sobre o tema da deficiência para que este
tema possa ser valorizado no contexto da atuação profissional?

De acordo com Marchesan e Carpenedo (2021), para termos a efetivação da inclusão


social, se faz necessário que o indivíduo e a sociedade mobilizam-se para mudanças, isto
significa que a inclusão é uma ação conjunta, relacionada à prática social, ao cotidiano das
atividades diárias em que estamos imersos. Por esse motivo a mudança no pensamento, a forma
de se olhar e pensar sobre a deficiência deve transitar pela busca de conhecimentos,
sustentar-se em ações que subsidiem uma visão para além do que está posto como uma
fragilidade ou incapacidade da pessoa.

#Novas Descobertas5#

O vídeo Capacitismo: o sistema de ensino e a educação de pessoas com deficiência aborda a


questão do Capacitismo e a educação da pessoa com deficiência, a qual foi uma ação do
Governo Federal ao lançar a Política Nacional de Educação Especial. Neste vídeo você
encontrará o depoimento de famílias e profissionais explicando a questão do capacitismo e as
implicações dessa percepção junto à pessoa com deficiência, elucidando a necessidade de
superação desses olhares.

Fonte: Agência Senado

QRCODE

#Novas Descobertas#

Você precisa ter claro, como futuro professor da educação básica, que a temática da inclusão,
não é um tema simples, principalmente porque efetiva-se como um processo que requer uma
reconfiguração da sociedade para com a pessoa com deficiência e o inverso, ou seja, da pessoa
com deficiência para com a sociedade. Evidencia-se uma relação em que ambos devem
manifestar e respeitar as necessidades apresentadas para que tenhamos garantido o acesso e
convivência no espaço de forma inclusiva e não segregativa. Incluir significa romper barreiras,
requer pensar coletivamente, necessita ações planejadas, organizadas e sistematizadas em que
o diálogo e a busca pela igualdade de direitos sejam a bandeira levantada durante todo o
processo. Requer, portanto, que haja uma ação colaborativa e de co-responsabilização entre
governo, sociedade, família e pessoa com deficiência caminhando em prol da efetivação das
políticas que se configuram como garantias de inclusão, rechaçando ações e movimentos de
exclusão ou segregação, quer seja na escola ou fora dela.

O capacitismo está associado a uma visão deturpada sobre a pessoa com deficiência. Vincula-se
a uma forma negligenciada da sociedade tratar os assuntos referentes aos direitos de igualdade e
qualidade de condições de vida, isto porque conforme a figura 5, o capacitismo envolve apenas o
olhar sobre a deficiência a partir da sua limitação ou do subjugamento de evidenciar a pessoa
como incapaz apenas por não corresponder ao padrão de normalidade da sociedade.

#Roda de Conversa - Podcast#

Conversando sobre “Capacitismo” e suas implicações na ação didático-pedagógica no cotidiano


da escola.

Tenho defendido que nossa sociedade só conseguirá romper com os paradigmas e provocar
mudanças significativas em relação à pessoa com deficiência, a partir de uma educação
humanizadora, uma educação pelo afeto e pela empatia. Por esse motivo, te convido a dar play e
refletir sobre como podemos repensar a ação docente e a educação como um lugar de
reconhecimento da pessoa com deficiência em sua complexidade. Vamos juntos buscar construir
conhecimentos coerentes sobre a nossa realidade! Estou te esperando!

#Roda de Conversa - Podcast#

Como você observou nos seus estudos, o capacitismo, mesmo sendo um termo
empregado de forma relativamente recente na sociedade, resulta de um processo histórico em
que se tem a supervalorização da pessoa a partir do seu “rendimento”, do que é capaz de
produzir, ou seja, refere-se a uma busca pela normalização de um padrão de corpo, de trabalho
que possa gerar de forma eficiente e eficaz resultados chamados de satisfatórios, sendo o
contrário tratado com indiferença, indignação. No capacitismo, desconsidera-se as condições de
vida da pessoa com deficiência, suas oportunidades, sua condição econômica ou ambiental,
determina apenas se a pessoa é ou não capaz de executar com performance ou dentro do
esperado uma determinada tarefa. Isto significa, que a visão do capacitismo limita o pensar a
pessoa para além do que ela pode realizar.

#Pensando Juntos#

O que podemos fazer como professor que atua na educação básica, no dia-a-dia da sala de aula,
para podermos reverter esse pensamento que negligencia os direitos da pessoa com deficiência?
Como romper com olhar sob a perspectiva do capacitismo em nossa escola?

#Pensando Juntos#

O processo de educação escolarizada acontece a partir das normativas legais. A formação inicial
e continuada dos professores que atuam na educação básica centram suas ações pedagógicas a
partir das estruturas curriculares e normativas dos níveis aos quais estão atuando, como
consequência a ação docente compreende trazer para a sua prática cotidiana uma ação
pedagógica sustentada em estratégias e recursos didáticos que possibilitem ao aluno com
deficiência participar ativamente das atividades propostas em sala de aula.

#Novas Descobertas#

Título: Saberes e Afetos do ser professor

Autor: Emília Cipriano Sanches

Sinopse: O livro é escrito a partir de uma percepção da autora na sua


experiência como professora trazendo exemplos do dia-a-dia da profissão,
evidenciando a construção do saber a partir das relações e do afeto. Evidencia
ainda que tanto na ligação entre professores e alunos, quanto na interação dos educadores com
seus pares, bem como nas relações que extrapolam os muros da escola.

#Novas Descobertas#

Como professores, sabemos que a realidade da sala de aula da educação básica, vai além
do que está prescrito no currículo e no planejamento, contribuímos para com a formação humana
dos nossos estudantes. Por esse motivo, precisamos ser cuidadosos com as nossas falas,
atitudes e comportamentos, uma vez que o capacitismo evidencia-se como uma ação que ocorre
de forma subconsciente ou subliminares, que por vezes acontece em razão de conceitos
advindos do senso comum sobre como olhamos e pensamos a pessoa com deficiência.
Isto significa que nem sempre o capacitismo acontece de forma explícita, ao contrário, na
maioria das vezes ele reverbera apenas a naturalização de uma atitude, de um comportamento
perante a pessoa com deficiência que está incutido nas atitudes adotadas como “normalizadas”
no senso comum. Por esse motivo temos que proporcionar aos nossos estudantes, situações,
experiências, vivências em que sejam oportunizados aos estudantes com e sem deficiência
refletirem, pensarem e resolverem tarefas a partir de diferentes realidades e contextos.

Precisamos considerar que o capacitismo se caracteriza por atitudes que podem ser
intencionais ou não, e que muitas vezes estão internalizadas na sociedade, requerendo de nós
professores um movimento de busca por romper com o preconceito estabelecido sobre a pessoa
com deficiência ou qualquer outra diferença apresentada, tendo como pauta recorrente das aulas
a visibilidade sobre os problemas enfrentados, sejam em relação às políticas de acessibilidade ou
em relação ao trato social e aos direitos como cidadão a que todos devemos ter.

Conhecer a legislação, os direitos expressos nas leis e resoluções sobre a pessoa com
deficiência se efetiva como uma obrigatoriedade para a nossa atuação profissional, no entanto,
temos um compromisso moral e ético com nossos estudantes com e sem deficiência, que é
contribuir para com a sua formação humana. E, o que isso significa? Significa que nas nossas
aulas, nas metodologias adotadas, nas atividades propostas, possamos evidenciar a
potencialidade de nossos estudantes, aguçá-los a olhar para o outro com respeito,
reconhecimento e afeto para com a pessoa.

As ações docentes são, portanto, momentos para tirarmos da invisibilidade o que muitas
vezes a sociedade negligencia, trazermos à cena as discussões e reflexões sobre as
necessidades sociais, econômicas e políticas dos nossos estudantes e da comunidade em que
estão inseridos. Tornar visível a pessoa e não sua diferença, segundo Kuppers (2004) significa
romper com os olhares de aprisionamento da identidade da pessoa com deficiência que inúmeras
vezes a sociedade lhe coloca.

A sensibilidade de olhar para a pessoa com deficiência, a partir das suas necessidades,
respeitando suas limitações e valorizando suas potencialidades, resulta no rompimento do
pensamento que por vezes se opera em relação a esse público, reduzindo-os aos estigmas
historicamente e socialmente construídos.

O Estatuto da pessoa com deficiência (BRASIL, 2015), reafirma os direitos de igualdade


nos diversos lugares e convívios da sociedade. Como afirma em seu artigo 3, parágrafo IV, que
devemos garantir que não haja nenhum tipo de barreira à pessoa com deficiência, entendendo
que essas barreiras podem ser:

[...] qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a


participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus
direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à
comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com
segurança, entre outros, classificadas em: a) barreiras urbanísticas; b) barreiras
arquitetônicas; c) barreiras nos transportes; d) barreiras nas comunicações e na
informação; e) barreiras atitudinais; f) barreiras tecnológicas.

Ter esse conhecimento sobre o Estatuto da pessoa com deficiência, implica em garantir ao nosso
estudante, que seus direitos não sejam negligenciados, reafirma nosso compromisso em
desmistificar os preconceitos historicamente estabelecidos e disseminados pelo olhar do
capacitismo.

Você como professor da educação básica precisa saber que de acordo com o Estatuto, em
seu artigo 28 inciso III, todo projeto pedagógico deve “institucionalizar o atendimento educacional
especializado, assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às
características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em
condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia” (BRASIL,
2015, s/p); como consequência, nossa atitude política e social deve ser de uma busca pela
efetivação dessas prerrogativas legais.

Somente por meio das vivências e experiências que a escola pode tornar possível a
visibilidade da diferença sem que esta seja enaltecida como pejorativa ou degradante. Ao
contrário, ao evidenciar a diversidade e a diferença no Projeto Pedagógico da escola, temos
alicerce legal para oportunizar a inclusão da diferença e da diversidade por meio dos recursos
didáticos enaltecendo o que a própria palavra deficiência representa ao retirarmos a letra d de
sua escrita. Faça isso agora, retire a primeira letra da palavra: deficiente, e a primeira sílaba das
palavras: incapacidade, incompetência e veja que novas palavras você formou! Faça uma busca
rápida e procure o significado dessas palavras, reflita como elas podem inferiorizar ou valorizar
uma pessoa.

Espero que você na sua reflexão tenha entendido que ao falarmos da pessoa com
deficiência precisamos trazer em nossas conversas e diálogos o conceito e o significado de
eficiência, e não da deficiência, da possibilidade ao invés da impossibilidade, da capacidade em
detrimento da incapacidade, ou seja, precisamos olhar para a pessoa com deficiência para além
do capacitismo. Entender que a pessoa com deficiência deve estar incluída na sociedade, na sala
de aula ou em qualquer espaço social ou de trabalho, respeitada em seus limites e fragilidades,
tendo como foco suas potencialidades e conquistas. Afinal, é na diferença e no respeito que nos
constituímos enquanto sociedade. Precisamos provocar em nossas aulas tensionamentos que
levem nossos estudantes da educação básica, a pensar sobre o significado de cada palavra.
Fazer com que reflitam acerca do que escrevem, falam ou se expressam perante a diferença do
outro. As referências ou conceitos ligados à pessoa com deficiência sob a ótica do capacitismo
em geral evidenciam: a) a responsabilização das pessoas com deficiência pela sua condição; b) a
construção de estratégias voltadas predominantemente à adequação do corpo às normatividades;
c) a acentuação da hierarquização das pessoas com deficiência; e d) a emergência de uma
condição precária, uma vez que o Estado-Nação fica eximido de garantir a adequação dos
espaços com base nas variações corpóreas (GESSER et al. , 2019).

O capacitismo corrobora para tornar certas vidas mais ou menos inteligíveis e dignas de
políticas voltadas à garantia dos direitos humanos. Precisamos lutar contra esse modelo de
sociedade em que se sustenta o conceito da pessoa com deficiência a partir dos moldes trazidos
pelo pensamento centrado no discurso do capacitismo, pois nesse modelo de sociedade apenas
marginalizamos os que são diferentes.

#Ação

Discutir, refletir e pensar o outro para além do que estamos habitualmente acostumados a
negligenciar aos nossos olhos, nem sempre é uma tarefa fácil. Você percebeu que durante as
nossas imersões conceituais e explicativas, busquei levar até você momentos em que o pensar a
ação e o trabalho docente lhe instigasse a romper com a visão centrada apenas no ensinar e no
aprender. Estamos buscando juntos promover um lugar de pertencimento chamado “escola” que
possibilite a formação humana do outro, dos nossos estudantes, a partir de uma nova
reconfiguração da história da própria sociedade, em que nós “professores” ocupamos lugares
essenciais! Lugares de pertencimento que nos possibilitam colaborar com o romper as barreiras e
os estigmas que inibem a pessoa com deficiência de uma vida digna na sociedade da qual faz
parte.

Incluir a pessoa com deficiência, significa, para o nosso processo de formação profissional,
sustentar-nos em uma identidade pessoal concebida a partir de conceitos, pensamentos e ideias
que resultam da luta e do movimento por uma sociedade justa e que promova a igualdade de
direito a todos os nossos estudantes.
Observamos que os sentidos de capacitismo se reescrevem na forma como falamos,
pensamos e agimos perante a diversidade e a diferença do outro. Entendemos que a deficiência,
não deve se sobressair à pessoa. Isto porque o imaginário socialmente construído de que as
pessoas com deficiência são naturalmente incapazes, é na verdade um discurso causado pelo
desconhecimento, pela falta de sensibilidade em observar o outro a partir das suas necessidades
e evidenciar suas potencialidades.

Ao pensarmos na educação básica, precisamos refletir sobre qual a formação que o futuro
professor está recebendo e como sua capacitação ou formação continuada se constituem ao
longo de sua trajetória profissional. Entendo, como professora que atua há quase duas décadas
com a formação de professores, que na maioria das vezes não estamos preparados para receber
a criança deficiente em sala de aula, ou para tratar da diferença e da diversidade que compõem
nossa escola, nossa turma, nossa classe. No entanto, esse não deve ser o impeditivo para
ficarmos estagnados e nos sucumbirmos ao ostracismo.

Precisamos ser resilientes em nossa profissão. Na nossa sociedade, temos ações


preconceituosas que acontecem a todo momento, prova deste fato se dá pelo olhar do
capacitismo sobre a pessoa com deficiência. O capacitismo na sociedade é um problema
estrutural, sustentado pelo discurso ontológico da normalidade, que pode ser traduzido pela
busca de uma sociedade hegemônica, sem diferenças e diversidades, ou seja: inexistente.
Somos diferentes! Pense comigo: qual a sua comida, sua cor, sua música favorita? Será que
todos à sua volta gostam, apreciam ou tem a mesma opinião que você? Evidente que sua
resposta será negativa, pois o que nos constitui como humanos são as nossas interações sociais,
pautadas nas nossas diferenças. A atuação do professor na sala de aula é constituída por
narrativas históricas e pessoais, mas que devem prioritariamente estar centradas não apenas em
“quem somos” mas no que “desejamos ser”.

#Avaliação#

Depois de seus estudos e leituras, chegou o momento da avaliação. Na avaliação proposta, você
deve construir o seu mapa conceitual, a partir de um diagrama em que tem como base a questão
da influência do capacitismo para a efetivação da inclusão no cotidiano do professor na escola.
#Referências#

Araújo, E. S. . CIF: Uma Discussão sobre Linearidade no Modelo Biopsicossocial. Rev Fisioter S
Fun., 2(1): 6-13, 2013.

ARANHA, M.S.F, INTEGRAÇÃO SOCIAL DO DEFICIENTE: ANÁLISE CONCEITUAL E


METODOLÓGICA . Temas em Psicologia, n.2, 1995

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BRASIL. Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção


dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº
8.112, de 11 de dezembro de 1990. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2012.

BRASIL. Ministério da Educação. Política nacional de educação especial: equitativa, inclusiva e


ao longo da vida. Brasília, DF: MEC, 2008.

BRASIL. RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE 11 DE SETEMBRO DE 2001 - Institui Diretrizes


Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília, 2001. Disponível em:
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BOBBIO, N. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. Tradução de Marco Aurélio
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