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Direito Penal – Parte Especial – Aula 01

O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários
e na jurisprudência dos Tribunais.

Sumário
Considerações Iniciais ..................................................................................................... 2
1. CRIMES CONTRA A HONRA – ASPECTOS GERAIS ................................................... 3
1.1 A honra .................................................................................................................. 3
1.2. Os inimputáveis ................................................................................................ 4
1.3. A pessoa jurídica ............................................................................................... 5
1.4. Elementos subjetivos nos crimes contra a honra ............................................. 6
2. DOS CRIMES ............................................................................................................ 8
2.1. Crime de calúnia ............................................................................................... 8
2.1.1. Exceção da verdade ou prova da verdade ............................................... 10
2.1.2. Diferença entre calúnia e denunciação caluniosa .................................... 13
2.2. Crime de Difamação........................................................................................ 13
2.2.1. A Retratação (só para calúnia e difamação)............................................. 15
2.3. Crime de Injúria............................................................................................... 16
2.4. Redução à Condição Análoga a de Escravo .................................................... 27
2.5. Violação de Dispositivo Informático ............................................................... 34

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e na jurisprudência dos Tribunais.

Considerações Iniciais
O Curso de Direito Penal – Parte Especial será ministrado pela professora Valéria Caldi,
Juíza Federal, atuante na cidade do Rio de Janeiro. Será realizado em 8 encontros, abordando
os principais crimes da Parte Especial do Código Penal, através de levantamento sobre os
temas mais cobrados nos últimos concursos e também nas provas mais recentes dos
concursos de Procuradoria da República e Juiz Federal.
Assim, será abordada essa seleção de crimes, que apesar de não esgotar a totalidade
dos crimes do Código Penal, está voltada a uma visão dos temas mais controversos e da
jurisprudência mais recente dos nossos Tribunais, sendo esse o projeto ideal para estes
encontros.
A professora iniciará “dando um salto” sobre os crimes contra a vida, devido ao fato
da cobrança destes crimes (homicídio, lesão corporal, aborto, instigação de suicídio) ser muito
rara, praticamente nenhuma, nas questões objetivas. Sendo assim, adotando como ponto de
partida, os crimes contra a honra, que embora sejam originalmente da competência da Justiça
Estadual, são cobrados devido sua relação com os funcionários públicos, atraindo a
competência da Justiça Federal em algumas circunstâncias (especialmente quando praticados
por funcionário público federal ou contra funcionário público federal, no exercício das
funções). Dessa forma, tais crimes tornam-se temas recorrentes nas provas.

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1. CRIMES CONTRA A HONRA – ASPECTOS GERAIS


 Bem jurídico tutelado: a honra;
 Ofensa à honra no Direito Brasileiro: consequências cíveis e penais;
 Consequências penais: três crimes de natureza formal que atingem a honra no seu duplo
aspecto;
 Honra objetiva: reputação, bom conceito;
 Honra subjetiva: sentimento acerca da própria dignidade, dos seus próprios atributos.

A honra no Direito Penal Brasileiro encontra proteção constitucional, conforme o art.


5º, X, CF1, onde são invioláveis a intimidade, vida privada, honra, assegurando, inclusive,
direito à indenização por dano material ou moral.
No Direito Brasileiro, além dessa sede constitucional, têm-se consequências para
violação ao direito à honra que podem ser de natureza cível (direito à reparação pelos danos
causados) ou de natureza penal.
Consequências penais: três crimes (calúnia, difamação e injúria), que de uma maneira
geral, protegem a honra no seu duplo aspecto (objetivo e subjetivo).

1.1 A honra
A ideia é de proteção à honra, como um conjunto de elementos e atributos morais e
intelectuais que uma pessoa possui e fazem dela merecedora de apreço e inserção social,
como parte de um grupo maior. Segundo Fragoso2, o objeto destes crimes é a própria
pretensão à tutela, ao respeito à personalidade humana, nessa dimensão da honra.
Podemos definir a honra, como bem jurídico, da seguinte forma: o conjunto de
atributos morais, físicos e intelectuais que fazem uma pessoa se inserir no meio social,
merecendo o apreço social (esta definição se assemelha à definição dada por Damásio3).
Este apreço social pode ser visto por meio de dois ângulos:
 Ângulo externo: o apreço social que as pessoas têm por mim;

Nota do monitor:
1
Art. 5º, X, CF
Art. 5º, X, CF. São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;

2
Heleno Cláudio Fragoso (destacado advogado criminal, jurista e escritor).
3
Damásio de Jesus é advogado, professor, criminalista consagrado e parecerista, tendo publicado várias
obras destinadas ao público jurídico.

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 Ângulo interno: o apreço pessoal que o indivíduo tem em relação a estes mesmos
atributos, na comparação ou inserção no meio social.

Entre os nossos patrimônios morais está a honra, que é a soma do que construímos a
vida inteira, a partir dos nossos comportamentos, atitudes sociais, discursos e mais uma série
de atitudes.
Nesse sentido, a honra, vista por estes dois ângulos, pode ser dividida em honra
objetiva e subjetiva. Essa distinção é de suma importância para a compreensão de vários
crimes e conceitos ligados a eles que serão analisados posteriormente.
A ideia de honra objetiva está voltada para esse ângulo externo. Ela engloba a
reputação e o conceito social, ou seja, o modo como as pessoas veem no meio social. A honra
subjetiva, ao contrário, como o próprio nome diz, não depende de uma observação externa,
mas sim, de uma apreciação do próprio sujeito. Ela pode ser definida como o sentimento que
a própria pessoa tem de si neste meio social, ou seja, o sentimento acerca da própria
dignidade dos seus atributos no meio social.
Deve-se ter atenção para isso, pois, nesse sentido, veremos que os crimes que
ofendem a honra objetiva devem ser objetivos na sua descrição, para que possam ser
apreciados pelas pessoas externas, de uma forma clara e objetiva. Já os crimes que ofendem
a honra subjetiva, não exigem essa caracterização, devido ao fato de dizer respeito à
dignidade, ao sentimento que temos a respeito de nós mesmos. Em geral, esses crimes (a
injúria, com as suas modalidades) demandam apenas uma atitude de menosprezo,
diminuição, humilhação, envolvendo as ofensas, xingamentos, etc. O momento consumativo
também será determinado por esse conceito.
Em linhas gerais, falando a respeito de todos os crimes contra a honra, temos o sujeito
ativo e sujeito passivo.
 Sujeito ativo: qualquer pessoa pode ser um sujeito ativo dos três crimes contra a honra,
do Código Penal: calúnia, difamação e injúria, nas suas específicas modalidades, não
havendo controvérsias a esse respeito.
 Sujeito passivo: em princípio, também pode ser qualquer pessoa, não havendo nenhuma
exigência de característica própria do sujeito passivo.

1.2. Os inimputáveis
Temos algumas situações especiais como, por exemplo:

 Pergunta-se: Os inimputáveis que possuem dificuldade de compreensão ou discernimento


a respeito de algumas questões, podem ser sujeitos passivos a respeito de alguma injúria?
Uma criança de um ano, por exemplo, pode ser um sujeito passivo de injúria?

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Depende da situação, na imensa maioria das vezes não, pois ela não tem capacidade
de compreender a ofensa a sua honra subjetiva.

 Pergunta-se: O inimputável pode ser sujeito passivo da calúnia, em que a imputação é de


um fato definido como crime?
Sim, pois muito embora os inimputáveis não possam praticar crimes (eles praticam
atos infracionais), o que a lei determina no crime de calúnia, que é imputar a alguém um fato
definido, e o ato infracional é um ato definido como crime (só que visto, analogicamente, na
legislação que protege as crianças e adolescentes), faz com que os inimputáveis, em princípio,
possam ser sujeitos ativos à calúnia e difamação e, no caso da injúria, apenas se tiverem
capacidade de compreender a ofensa a sua honra subjetiva.

1.3. A pessoa jurídica


A pessoa jurídica também possui um patrimônio moral, embora ela não seja uma
pessoa física, por isso não podemos falar de honra nos mesmos moldes usados para se falar
de pessoa física. Hoje temos como incontroverso o fato da pessoa jurídica ter direito à
reparação dos danos morais, eventualmente infringidos contra a sua pessoa e não havendo
razão, portanto, para negarmos a possibilidade dela ser um sujeito passivo nos crimes contra
a honra, dependendo, apenas, de quais são estes crimes.
Há na doutrina três correntes que tratam desse tema:
 1ª corrente: pode ser vítima de calúnia (v.g.4 crimes ambientais) e difamação. Não pode
ser vítima de injúria (não tem honra subjetiva);
 2ª corrente: não pode ser vítima de calúnia (não comete propriamente crime), nem de
injúria. Só de difamação – STJ e STF;
 3ª corrente: não pode ser vítima de nenhum crime contra a honra – são crimes contra a
pessoa humana.

A primeira corrente está muito ligada a essa dogmática da possibilidade de a pessoa


jurídica sofrer ofensa a sua honra e a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Esta corrente
afirma que a pessoa jurídica pode ser vítima do crime de calúnia (crime definido pela
imputação de um fato falso, definido como crime a alguém, isto é, quando imputa a alguém
um fato criminoso.

4
Nota: v.g. significa abreviatura de verbi gratia = por exemplo.

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No nosso ordenamento, a pessoa jurídica pode praticar crime com reservas, pois sua
responsabilidade penal é restrita aos crimes de natureza ambiental e ser difamada a honra
subjetiva corresponde ao seu bom conceito social, reconhecidamente como atributo das
pessoas jurídicas. Ela só não poderia ser vítima de injúria, pois não possui honra subjetiva, ou
seja, não tem sentimento.
A segunda corrente é pautada em entendimentos mais antigos, no sentido de que ela
não poderia ser vítima de calúnia por não cometer, propriamente, crime, mas sim, quem
comete crime é o seu preposto (representante legal). Na jurisprudência do STF e STJ,
encontraremos esta corrente, mas isso será visto, levando-se em consideração fatos
criminosos que não dizem respeito à imputação de um crime ambiental à pessoa jurídica. Este
tema ainda não foi objeto de análise pelos nossos Tribunais Superiores, o que impede dizer,
acertadamente, se no caso em questão, nossos Tribunais não adotarão o entendimento da
primeira corrente, que segundo a professora, parece ser a mais correta efetivamente.
A terceira corrente é minoritária, pois afirma que a pessoa jurídica não pode ser vítima
de nenhum crime porque estes crimes são contra a pessoa humana e estão elencados no
Código Penal, na parte que foi concebida para proteger as pessoas físicas. Esse entendimento
fica rechaçado.
Resumindo, não há controvérsia nenhuma de que a pessoa jurídica pode ser um sujeito
passivo de difamação. Em relação à injúria, ela não pode ser vítima e a eventual controvérsia
que pode surgir diz respeito à calúnia, mas do ponto de vista dogmático, como a pessoa
jurídica pode ser processada e acusada porque tem responsabilidade penal na área dos crimes
ambientais, não haveria nenhum impedimento para que ela fosse vítima do crime de calúnia.

1.4. Elementos subjetivos nos crimes contra a honra


 O elemento subjetivo nos crimes contra a honra: todos exigem DOLO + PROPÓSITO DE
OFENDER (“animus caluniandi, animus difamandi ou animus injuriandi”);
 Exclui o crime a prova de que o animus era outro: p. ex. animus jocandi, animus
defendendi, etc;
 Em geral, são crimes de forma LIVRE;
 Podem admitir tentativa.

Todos os crimes contra a honra são dolosos e, para além do dolo, eles exigem um
elemento subjetivo específico, que é o propósito de ofender. Este propósito de ofender
tomará nomes diferentes, a depender do tipo penal em questão, que é o que chamamos de
animus caluniandi, animus difamandi ou animus injuriandi.
Essa intenção determinada de ofender o sujeito passivo precisa estar presente em
todos os crimes contra a honra, e isso nos leva a uma conclusão, a contrário sensu, no sentido

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de que se o animus da pessoa for diverso do propósito direcionado para a ofensa, não haverá
crime.
Cada um desses animus, a depender da circunstância, terá um nome diferente. O
animus jocandi (que tem a ver com giocare) que é o ânimo de brincar, fazer um gracejo, uma
briga e, dependendo do contexto, um xingamento entre amigos, onde se exclui o animus de
injuriar, por tratar-se de uma brincadeira.
O animus narrandi, que é muito comum nos casos de apuração de fatos
administrativos, redação jornalística, narrativa (em qualquer contexto) de fatos em que a
pessoa não tem o propósito de ofender, e sim, o animus de narrar, como nos casos de
depoimentos num processo administrativo disciplinar, em que a pessoa afirma, por exemplo,
o estado de embriaguez do indivíduo em expediente de trabalho diário, além de casos em que
“plantava bananeira” na sala, ou seja, a pessoa está narrando, dando o seu depoimento. Se
este ato é difamante para o outro, não teve, em si, intenção ou propósito de ofensa.
Por fim, temos o animus defendendi, em que para se defender a pessoa precisa narrar
um fato potencial à honra alheia.
Os crimes contra a honra são de forma livres, podendo praticá-los de variadas formas.
Normalmente, eles são praticados por palavras, sejam elas escritas ou orais, mas também por
gestos (exemplo: gesto ofensivo dirigido a uma senhora, criança ou homem adulto, pode
representar uma injúria), além de que, eles podem também ser praticados por mais de um
veículo. Eles podem ser praticados em uma sala, num lugar privado, em público, através da
internet, em um jornal, por telefone, em veículos de comunicação, por correspondência. Não
existindo uma restrição com relação ao modo de praticar o crime contra a honra.
A depender da forma adotada, veremos que ele admitirá tentativa ou não. Nos crimes
contra a honra, é necessário atingir a honra objetiva ou subjetiva de uma pessoa, e o crime se
consuma com o conhecimento do fato, da imputação, da narrativa ou da ofensa, por um
terceiro ou pela própria vítima. Este conhecimento pode ser no exato momento em que se
propala as palavras, tendo em vista que nas formas orais, normalmente, a consumação é
instantânea e se dá dessa forma. Em geral, o fracionamento da conduta, não pode ser
visualizado, ela não é plurissubsistente, mas quando há uma distância entre a ação e o
resultado, como nos casos de formas escritas, toda a ação foi praticada no momento em que
se escreveu a carta difamatória ou o documento de prova escrito. No entanto, o crime ainda
não se consumou sendo consumado somente no momento em que o documento, em si, for
lido, estando, a partir de então, consumado. Nesta modalidade, por exemplo, admite-se a
tentativa.
A consumação pode se dar mesmo quando não há um público generalizado tomando
conhecimento das ações, dado ao fato de alguns crimes admitirem sua consumação quando
há conhecimento por um terceiro, mesmo que a pessoa peça segredo.

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A honra é um bem disponível, portanto, o consentimento válido do ofendido exclui a


ofensa, numa primeira análise. Esse consentimento varia de acordo com as circunstâncias. Por
vezes, a pessoa percebe o animus jocandi de alguém, não havendo crime, ou até mesmo com
o ânimo de ofender presente, a pessoa não se sente incomodada ou não interpreta como tal
e, neste caso, também não há crime.

2. DOS CRIMES
2.1. Crime de calúnia
Calúnia
Art. 138, CP. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
(particularidade da sujeição passiva – ver art.31 do CPP5)

A calúnia consiste na imputação falsa de um fato definido como crime; a conduta é


caluniar alguém, imputando-lhe, falsamente, um fato definido como crime.
Crime de juizado: detenção de seis meses a dois anos e multa.
Com relação à calúnia, temos:
 Conceito: Imputação de um fato FALSO e ESPECÍFICO definido como CRIME;
 Propalar ou divulgar: levar ao conhecimento de outrem por qualquer meio, tornar
público;
 Atenção: é indispensável a individualização da conduta.

A calúnia pressupõe a imputação de um fato falso e específico, que encontra


enquadramento típico em algum crime do nosso ordenamento jurídico.
Não é calúnia, por exemplo, dizer que alguém é ladrão, porque não se imputou um
fato falso definido como crime, que seria um fato pelo qual o MPF poderia denunciar alguém,
como quando alguém diz que João matou uma pessoa em um determinado dia e horário; ou
ainda, quando se diz que um servidor desviou dinheiro da verba destinada para as Olimpíadas,
ou se apropriou do veículo da Prefeitura. Isso é fato definido como crime. A imputação tem
que ser específica e o fato tem que encontrar enquadramento em algum tipo penal.

Nota do monitor:
5
Art. 31, CPP:
Art. 31, CPP. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão
judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão.

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Esse tipo de crime atinge a honra objetiva da pessoa. Este fato, quando propalado no
meio social, tem a potencialidade de diminuir o conceito do indivíduo naquele ambiente.
Tanto será crime a falsa imputação quanto o propalar/divulgar (levar a conhecimento de
outrem, por qualquer meio, ou tornar pública) essa imputação. Se essa falsa imputação for
feita num ambiente reservado, com duas ou três pessoas, por exemplo, onde uma delas,
saindo de lá, propala aquela informação, dando mais visibilidade ainda para o meio social,
tanto será crime aquele que imputa originalmente o fato, quanto aquele que tomando
conhecimento dessa imputação falsa, propala e divulga.
Em relação à imputação, é importante que ela seja séria, capaz de atingir a honra de
uma pessoa. Alguns autores usam o seguinte exemplo: afirmar que uma criança furtou a
mamadeira da outra não é crime, pois não é uma imputação séria; ou afirmar uma imputação
impossível, como o caso de uma pessoa furtar uma estátua como a do Cristo Redentor. Tem-
se, a rigor, a narração de um fato definido como crime, mas que é impossível de ocorrer.
Assim, temos que a natureza da imputação também é relevante para a conceituação do crime
de calúnia.

 Pergunta-se: E se o fato não for criminoso? Estou imputando um fato que não é criminoso,
mas ofende a honra objetiva da pessoa. Então qual é a solução para essa situação?
Em princípio, os fatos ofensivos à boa reputação de alguém ou ao seu bom conceito,
constituirão um outro crime, que é o crime de difamação.

 Pergunta-se: Se, eventualmente, imputar uma contravenção a alguém?


Se a contravenção for infamante e tiver a capacidade de ofender a honra objetiva de
alguém, também estaremos diante de uma hipótese de difamação. Exemplo: quando alguém
afirma que uma pessoa explora o jogo de azar, num determinado local público, com máquinas
de vídeo e cobrando a entrada, isso, claro, se essa imputação – que é de contravenção, por
explorar jogos de azar – for capaz de ofender a honra objetiva da pessoa.

 Consuma-se quando um terceiro toma conhecimento da imputação;


 Caput: admite dolo direto e eventual;
 § 1º: exige dolo direto;
 § 2º: a calúnia contra os mortos – particularidades da sujeição passiva – vide art. 31, do
CPP

O crime contra a honra exige o dolo específico (animus de ofender), mas em relação à
imputação, ele admite o dolo direto e eventual. Quando se imputa a alguém um fato, do qual
se tem plena consciência que é falso ou quando se imputa a alguém um fato criminoso,

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estando em dúvida sobre sua veracidade. Isso difere de quando a pessoa acredita no fato
daquela pessoa realmente haver praticado o crime que ela está narrando. Exemplo: alguém
que está numa janela e vê a entrada e saída de jovens na casa do vizinho e esta pessoa constrói
em sua cabeça que ali está ocorrendo a venda de drogas. Ela sente cheiro de maconha, que
faz com que ela tenha certeza deste fato. Se ela o imputa a alguém, o que se está excluído
nessa situação é o animus caluniandi, pois a pessoa não tem a intenção de ofender, ela
acredita na veracidade daquele fato.
Então, no caput do art. 138, CP, temos dois elementos importantes:
a) a falsidade da imputação, que precisa ser conhecimento da pessoa, ou ela pelo menos
tem que assumir o risco de estar imputando um fato falso;
b) a intenção de ofender com aquela narrativa.
No § 1º, temos que a pessoa age, obrigatoriamente, com dolo direto (“sabendo falsa a
imputação”), propalando ou divulgando tal informação.
O crime se consumará com o conhecimento da imputação, por um terceiro, seja ele
uma única pessoa ou uma coletividade, não havendo necessidade dessa imputação ser feita
publicamente, no sentido de ser feita para o meio social, em geral, para o coletivo.
No § 2º, temos a calúnia contra os mortos, onde vemos uma particularidade da
sujeição passiva, pois aos mortos, embora o fato de não possuírem reconhecimento à
qualidade de pessoas, admite-se essa imputação, reconhecendo o direito dos herdeiros à
preservação da imagem do morto. Tem-se, no caso em questão, que o autor do fato criminoso
é uma pessoa que já faleceu e o art. 31, CPP, permite que os legitimados para mover essa
ação, sejam pessoas eleitas (ascendentes, descendentes, irmãos ou cônjuge).

2.1.1. Exceção da verdade ou prova da verdade


Supondo que uma pessoa acusada, indevidamente, de praticar um fato criminoso,
revoltada por isso, entrou com uma ação contra esse agente que a caluniou, mas este afirma
que o fato não é falso e que ele quer provar isso, portanto, estamos diante de um incidente
processual, de uma figura que é a exceção da verdade ou prova da verdade.
A prova da verdade/exceção da verdade é admitida no crime de calúnia, como regra,
mas existem algumas exceções: a possibilidade que a pessoa que fez a imputação, tem de
provar o fato criminoso. É um incidente de defesa indireta do réu, em que ele pode se livrar
desta acusação tendo o ônus de demonstrar que sua afirmação é verdadeira.
A exceção da verdade é uma regra na calúnia porque nos interessa apurar a ocorrência
de fatos criminosos. Não estamos falando de um fato colateral, que não interessa ao meio
social, pois há um interesse da sociedade na apuração de fatos que lesam bens jurídicos
relevantes.

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Essa possibilidade encontrará apenas três exceções, pois existem três hipóteses em
que não cabem exceção da verdade.

Exceção da verdade
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado
por sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do
art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença
irrecorrível.

 Exceção da verdade: faculdade de comprovar que o fato atribuído ao sujeito é verdadeiro


– exclui a calúnia;
 Deve ser requerida na resposta à acusação;
 Quando NÃO admite a exceção da verdade:
I – crime imputado é de ação privada. Por exemplo: A acusa B de haver cometido o
crime de dano contra C = C não o processou criminalmente ou o processo está
pendente.
II – Se o fato é imputado ao Presidente da República ou Chefe de Governo Estrangeiro
– visa a proteção do cargo e da função;
III – já houve decisão judicial que não pode ser rediscutida – autoridade da coisa
julgada.

 Observação: Exceção da verdade e prerrogativa de função.

art. 85, CPP. “No processo por crime contra a honra, em que forem à jurisdição do
Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação, àquele ou a estes caberá o
julgamento, quando oposta e admitida a exceção da verdade.

 STF – o juízo de admissibilidade e procedimento serão realizados pelo juízo a quo =


somente o julgamento será no Tribunal;
 Diferença entre calúnia e denunciação caluniosa.

No inciso I, não se admite a exceção da verdade quando o crime imputado pela pessoa
é um crime de ação privada e, admitir a exceção da verdade, faria com que a pessoa que está
oferecendo a exceção, estaria se substituindo ao legitimado da ação privada. Imagine, por

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exemplo, alguém que é acusado de um crime de dano: Abel causou um dano no patrimônio
de Caim e quer processá-lo, mas tem que mover a ação – MP não pode processar Abel.
Para Abel ser condenado ou para que fique comprovado que ele praticou um crime de
dano, Caim tem que tomar uma atitude. Se Caim não fizer nada, passados 6 (seis) meses,
decaiu do direito dele, não moveu a ação e prescreveu. Em outras palavras, esse fato morreu
para o mundo jurídico.
 Pergunta-se: Se alguém imputa a Abel ter causado um dano em Caim e Abel revoltado vai
na justiça e afirma: “Você está me caluniando”, mas a pessoa diz que não está e quer
provar que isso é verdade e que ele causou danos para o patrimônio de Caim. Pode isso?
Não pode, pois se ele fizer isso estará se substituindo àquela legitimação da ação penal
privada de Caim, que só Caim pode mover. Porém, se ele não quiser mover, é um direito
absoluto que ele tem.
Essa é a primeira exceção.
A segunda exceção é se o fato é imputado ao Presidente da República ou Chefe de
Governo Estrangeiro (são as pessoas elencadas no art. 141, CP), é uma exceção que visa
proteger o cargo e a função. A professora afirma desconhecer jurisprudência a esse respeito,
mas menciona que alguns autores fazem uma observação crítica a esse artigo afirmando que
ele ofende o direito à ampla defesa e que seria inconstitucional, devido ao fato de haver um
interesse no processamento e na apuração de fatos cometidos por Chefe de Governo
Estrangeiro ou pelo Presidente da República.
A terceira exceção é uma situação óbvia, pois já houve decisão judicial que não pode
ser discutida, havendo autoridade judicial da coisa julgada.
Exemplo: Uma pessoa está sendo processada por calúnia, na Justiça Estadual, um
deputado federal se sentiu atingido por uma afirmação e está processando a pessoa por
calúnia, esta vai dizer: “Eu quero a exceção da verdade e vou provar que o deputado praticou
crime”. Entretanto, neste caso, o deputado tem foro por prerrogativa de função. Pode o juiz
de primeira instância, num incidente processual, apreciar se realmente o deputado praticou
o crime? Não pode, existe uma regra no art. 85, CPP.

Nos processos por crime contra a honra, em que foram querelantes as pessoas que a
Constituição sujeita à jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação,
àquele ou a estes caberá o julgamento, quando oposta e admitida a exceção da verdade.

Para um melhor entendimento, significa dizer que a pessoa propõe a exceção da


verdade. O juiz de primeira instância admite ou não, podendo, inclusive, indeferir
liminarmente; processa a exceção da verdade (colhe os depoimentos, faz a testemunha, etc.),
estando tudo pronto ele remete esse incidente para que o tribunal correspondente julgue
aquele “pedacinho da causa”. Então, o processo fica suspenso e quando volta analisa-se o que
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foi decidido na exceção (procedente ou improcedente) e isto determinará o destino da ação


do crime contra a honra.

2.1.2. Diferença entre calúnia e denunciação caluniosa


A denunciação caluniosa é um crime contra a Administração, praticado por particular
e possui dentro dela uma calúnia, como se ela fosse um plus em relação à calúnia. Se na calúnia
a pessoa pratica o crime quando a falsa imputação chega ao conhecimento de terceiros, na
denunciação caluniosa essa imputação é feita numa circunstância específica em que ela dá
causa à instauração de um procedimento (administrativo, disciplinar, penal, etc.). Sendo,
então, o momento consumativo diverso e, dentro dessas condições, a denunciação caluniosa
absorve a eventual calúnia que estiver no seu contexto.

2.2. Crime de Difamação


Difamação
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua
reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário
público e ofensa é relativa ao exercício de suas funções.

 Tutela a honra objetiva;


 Conduta: imputação de fato ofensivo à reputação;
 Quem propala comete a difamação;
 Protege a reputação: conceito que a sociedade tem de determinada pessoa;
 O fato NÃO precisa ser definido como crime, NEM PRECISA SER FALSO.

Aqui temos um crime que tutela a honra objetiva e exige a imputação de um fato certo
e específico. Ademais, temos algumas observações que o distinguem do crime de calúnia. Não
há menção ao verbo propalar/divulgar como uma modalidade equiparada e aquele que
propala/divulga a difamação comete outra difamação (isso não significa que a conduta dele
seja atípica).
A calúnia é especial em relação à difamação porque um fato criminoso é um fato
ofensivo à reputação. Quando se imputa um fato criminoso sabendo que ele é falso, com o
propósito de ofender, estamos falando em crime de calúnia. Já na difamação, não há
necessidade de que esse fato seja definido como crime, podendo ser uma contravenção ou

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até mesmo não ser um fato que encontre enquadramento criminal, podendo ser enquadrado
num ilícito administrativo ou, até mesmo, uma simples reprovação social.
Exemplo doutrinário muito comum: afirmar que um servidor público foi trabalhar
embriagado. Deste exemplo podemos tirar uma característica muito comum dos crimes de
difamação: não há obrigatoriedade de que o fato imputado seja falso. Um fato verdadeiro
pode ser infamante e se a pessoa o imputa a alguém, ou o propala a alguém, com o propósito
de infamar, ela praticará um crime contra a honra.

 Também se consuma com o conhecimento do fato por terceiro e pode admitir tentativa;
 Como regra, não admite exceção da verdade. Por quê?
- A exceção do funcionário público;
- Se o ofendido deixa o cargo:
- I) Fragoso e Régis Prado: não cabe
- II) Hungria: cabe porque deve ser aferida a condição de funcionário ao tempo da ação.

Esse crime também se consuma com o conhecimento do fato por terceiro e pode
admitir tentativa. Se uma pessoa escreve uma carta falando “fatos horrorosos” a respeito de
alguém, ou faz um folder/panfleto para distribuir na rua, antes deste panfleto chegar ao
conhecimento da primeira pessoa, estará na esfera da tentativa.
Como regra, temos que o crime de difamação não admite a exceção da verdade. Se na
calúnia a regra é a admissão da exceção da verdade, com algumas exceções nas quais ela não
ocorre, aqui é o contrário, pois a regra é o não cabimento da exceção da verdade, salvo em
determinadas hipóteses.
 Pergunta-se: Por que não cabe exceção da verdade?
O fato não precisa ser falso. Se não estamos tratando de um fato criminoso, não há
este interesse social na apuração de fatos que não repercutem de forma tão negativa no meio
social, como é o caso dos fatos criminosos.
A exceção estará justamente nas hipóteses em que se visualiza um interesse social na
apuração daquele fato que é infamante. Isso ocorre nas hipóteses em que a pessoa ofendida
é funcionária pública e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções, pois, nesse caso, pode
haver uma repercussão na postura disciplinar deste servidor ou uma repercussão na existência
de maus serviços administrativos prestados por esse servidor. Neste contexto a imputação do
fato difamante pode ter sido feita, inclusive, para viabilizar a apuração ou para criticar um
mau funcionamento da Administração. Nestas circunstâncias caberá a exceção da verdade.
A exceção da verdade caberá sempre que houver contemporaneidade entre o fato
praticado e a condição de funcionário público, havendo a relação do exercício das funções de
funcionário público com a prática de tal fato.

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 Pergunta-se: Se o ofendido já deixou o cargo?


Existe uma discussão doutrinária sobre o cabimento da exceção da verdade neste caso:
- Fragoso e Régis Prado: não cabe;
- Hungria: cabe, porque deve ser aferida a condição do funcionário ao tempo da ação.
Prevalece o entendimento de Hungria de que cabe porque o que tem que ser aferida
é a condição de funcionário público ao tempo da ação. Se ao tempo da ação ele estava como
funcionário público e depois foi exonerado, pode subsistir o interesse na apuração da verdade
daquelas imputações devido ao fato da possibilidade de haver consequências administrativas
diversas.

2.2.1. A Retratação (só para calúnia e difamação)


Art. 143, caput, CP - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia
ou da difamação, fica isento de pena.

 É a causa de extinção de punibilidade – art. 107, VI, CP6;


 Não depende de aceitação do ofendido;
 É Direito Público subjetivo;
 Deve ocorrer antes da decisão de primeira instância;
 Só é permitida ao querelado. Não é admissível na ação pública. Ver HC 153.588/RJ – STJ.

A retratação só se aplica a estes dois crimes que analisamos, jamais será aplicada ao
crime de injúria. Ela consiste, na verdade, num “grande pedido de desculpas”, o famoso
“desmentido”. A pessoa fala “barbaridades” a respeito da outra e, quando vai ser processada,
retrata-se dizendo que não era bem isto que queria dizer, que se desculpa do ocorrido, etc.
Podemos verificar que a retratação é um ato unilateral do querelado (querelante é
aquele que move a ação penal privada) contra o querelado que é a pessoa que, supostamente,
está sendo acusada de haver ofendido/praticado um dos crimes contra a honra. Ela tem esse
direito público subjetivo de se retratar cabalmente de tudo o que disse. Esse direito não
depende de aceitação do ofendido e tem algumas condicionantes:

Nota do monitor:
6
Art. 107, VI, CP
Art. 107, caput e VI, CP. Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite.

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 Antes da sentença (condicionante temporal: tem que ocorrer antes da decisão de primeira
instância; a sentença mencionada não diz respeito à sentença condenatória com trânsito
em julgado);
 Cabalmente (tem que ser cabal, integral, abarcando todos os fatos que foram imputados,
e também deve ser feita no mesmo meio e com a mesma visibilidade que teve a ofensa).

Feita a retratação nesses moldes, a pessoa fica isenta de pena, pois ela não poderá
jamais ser condenada pelo crime contra a honra. Essa retratação só cabe ao querelado, ou
seja, ela não é admissível (segundo jurisprudência dos nossos Tribunais) nas ações penais
públicas condicionadas à representação.

2.3. Crime de Injúria


Art. 140, caput, CP. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Se no crime de calúnia e no de difamação vimos uma proteção à honra objetiva do


sujeito passivo, aqui iremos tratar de um crime que protege a honra subjetiva. No caso da
calúnia, por exemplo, o crime se consuma no momento em que a ofensa é conhecida por um
terceiro. Este bem é ofendido, efetivamente, no momento em que as pessoas do meio social
de determinado indivíduo tomam conhecimento de falsa imputação à pessoa dele.
No caso da injúria, tem-se a proteção da honra subjetiva, portanto, a pessoa será
ofendida quando ela tomar conhecimento da eventual ofensa. O momento consumativo
ocorre com o conhecimento pelo ofendido, porque estamos tratando de injuriar alguém,
ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro.

 Protege a honra subjetiva: dignidade e decoro;


 Injúria é “palavra ou gesto ultrajante com que o agente ofende o sentimento de
dignidade da vítima (Aníbal Brasil);
 Sempre traduz menosprezo pelo ofendido;
 Consuma-se com o conhecimento da ofensa pelo ofendido.

A ideia de injuriar está ligada diretamente à atribuição de atributos negativos,


características negativas a alguém, ofendendo esse sentimento pessoal. Ela sempre tem uma
característica de menosprezar, diminuir a pessoa que está sendo atacada com aquelas
ofensas. Normalmente, ocorre através de xingamentos, gestos ofensivos, palavras como
“safado”, “ladrão”, “vagabundo”, “manco”, “baleia” (a pessoa pega características negativas

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utilizando-as para menosprezar a pessoa). Então, ela se dá com essa ofensa direta e se
consuma por isso mesmo, com o conhecimento da ofensa pelo ofendido.

 A questão da presença do ofendido e seus reflexos na configuração do crime;


 Não cabe exceção da verdade: subjetividade da ofensa.

A injúria pode ser direta ou indireta, podendo ser dirigida à vítima pela própria pessoa
ou através de um meio (exemplo: ensinar o papagaio a xingar o vizinho). Dependendo do
contexto, ela poderá ser indireta pela forma de falar, por exemplo, num ambiente em que
uma pessoa é obesa, o sujeito ativo diz “todo gordo é um idiota”, às vezes, essa injúria não
está sendo dita diretamente, mas a pessoa tomou conhecimento da injúria indireta.
Esse crime não admite exceção da verdade e essa é uma consequência óbvia que
decorre da subjetividade da ofensa e da característica do crime, pois ele não imputa um fato.
A presença do ofendido não é indispensável para a injúria, ela não precisa ser praticada face
to face7, visto que é possível praticar uma injúria pela internet, pelo telefone, etc.
No caso do ofendido ser um funcionário público, surge um debate a respeito da
natureza do crime, como regra, a injúria praticada contra funcionário público só se
caracterizará se não for praticada na presença dele. Na presença do funcionário público, em
tese, o crime praticado é o crime de desacato.

Art. 140, § 1º, CP. O juiz pode deixar de aplicar a pena:


I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a
injúria;

- Não se trata de legítima defesa;


- Só há uma injúria.

II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.


- Há duas injúrias;
- Importância do elemento temporal (ver AP 926/AC – STF – retorsão
via internet).

No § 1º existem duas hipóteses em que o juiz pode deixar de aplicar a pena:


a) A injusta provocação;

Nota do monitor:
7
Face to face = cara a cara (traduzido do inglês para o português).

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O ofendido provoca diretamente a injúria. Exemplo: um homem faz um gracejo


indecoroso à esposa da pessoa que o injuria – essa pessoa, em razão disso, chama-o
de “vagabundo” e, como houve uma provocação (gracejo) e a pessoa respondeu
imediatamente, a depender das circunstâncias, o juiz poderá deixar de aplicar a pena.

b) A retorsão imediata
Neste caso, temos duas injúrias. A retorsão imediata é a devolução imediata de uma
injúria na mesma proporção (A diz: “seu vagabundo”, B rebate: “ seu ladrão, safado”).
Não há interesse do Direito Penal em tratar brigas que se resolveram e tiveram, na
“balança”, um certo equilíbrio no seu respectivo caso concreto.

Tem-se como importante o elemento temporal porque essa devolução deve ser
imediata.
Art. 140, § 2º, CP. Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza
ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à
violência.

No § 2º, temos a figura da injúria real. É uma modalidade qualificada, sendo um outro
crime, com detenção de 3 meses a 1 ano e multa, além da pena correspondente à violência.
A pessoa que pratica injúria real (puxa o cabelo, cospe no rosto, dá um tapa, rasga um pedaço
da roupa, puxa o colar, puxa o chapéu, etc) não pode ter a intenção de agredir, de atingir a
integridade física da pessoa. Neste caso, o dolo não é de lesionar, mas sim de humilhar,
menosprezar, só que ela emprega um meio mais intenso, que envolve a violência física,
deixando a vítima em uma situação de inferioridade com essa conduta aviltante. Ela estará
em concurso, evidentemente, com a violência. Temos como integrante dos crimes contra
honra: violência ou vias de fato.
A lesão leve, numa primeira análise, faria parte do tipo penal, mas a pessoa responde
pela pena correspondente à violência. Na avaliação da professora, a lesão corporal leve fica
abrangida pela injúria real, a pessoa responderá pelos crimes praticados em violência quando,
da injúria real, decorrer lesão grave ou gravíssima.

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião,


origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela
Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)

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Existe uma outra modalidade de injúria que chamamos de injúria preconceituosa ou


injúria racial, apesar de não envolver apenas o preconceito de raça. É uma injúria qualificada.
 Injúria preconceituosa ou qualificada;
 Pena distinta e mais grave;
 O consentimento do ofendido exclui a tipicidade;
 Abrange também o idoso e o deficiente;
 Distinção para o crime previsto no art. 20 da Lei nº 7.716/89 – o elemento subjetivo;
 I) injúria da ofensa à honra subjetiva de pessoa determinada.
 II) racismo: ordem inversa – injúria é crime meio para o crime discriminatório
(enaltecer uma diferença ou superioridade decorrente de fator diferente racial, de
credo, nacionalidade, etc.);
 Normalmente, é dirigido a uma coletividade;
 Atenção para a distinção de tratamento processual: crime de racismo é inafiançável,
imprescritível e de ação penal pública incondicionada.

Art. 20, Lei 7.716/89. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça,
cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos,
distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação
do nazismo. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Vimos que a injúria ocorre quando alguém ofende um terceiro, normalmente, lhe
atribuindo características negativas como, por exemplo, “gordo”, “analfabeto”, “baleia”,
“safado”, entre outros. Entretanto, também é possível analisar essa ofensa da seguinte forma:
“macumbeira”, “velha decrépita”, “manco”, etc. Desse modo, podemos notar como a
intensidade desta última varia em relação a intensidade anterior.
O Código Penal elegeu algumas categorias de ofensas pautadas em critérios
discriminatórios. No crime de racismo ocorre a ordem inversa, na verdade, o dolo é de
discriminar um grupo, uma coletividade, usando como crime meio a injúria.
Será injúria racial, por exemplo, se numa fila um idoso ouve: “Esse velho decrépito”,
neste caso, temos uma injúria discriminatória.
Diferente de uma pessoa manter uma página na internet dizendo: “Vamos limpar
nossa sociedade desses pesos que existem em nossas vidas, que são os idosos, deficientes”
ou “odeio negros, são seres inferiores que devem ser extintos.” No crime do art. 20 da Lei nº
7.716/89, as ofensas são dirigidas a uma coletividade e tem essa propensão de discriminar
essa coletividade como um todo.
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Doutrinariamente, existe uma distinção de tratamento processual. O crime de racismo


(Lei nº 7.716/89) é inafiançável, imprescritível e de ação penal pública incondicionada, já a
injúria, é um crime contra a honra, que pode ter um elemento racial inserido ali, sendo ela
condicionada à representação, sujeita a prescrição, etc.
Recentemente, o STJ proferiu um julgado afirmando que o crime de injúria racial é,
também, inafiançável e imprescritível. Devemos estar atentos a esse posicionamento porque
se de fato a jurisprudência entender que ele também é um crime imprescritível e inafiançável,
não teremos mais essa distinção de tratamento processual.
Se, por outro lado, tivermos injúria racial e crime de discriminação (eventualmente isso
pode ocorrer => ofensa + discriminação, num mesmo contexto de fato), a mais grave
absorverá a menos grave.

Art. 141, CP. As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer
dos crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;

- Distinção para a LSN – animus do agente e bem jurídico (segurança


externa e interna do país).

II - contra funcionário público, em razão de suas funções;


- Conceito de funcionário público – art. 327 do CP8;
- Diferença para o crime de desacato.

III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da
difamação ou da injúria.

- p. ex: três ou mais pessoas/jornal da faculdade ou internet

Nota do monitor:
8
Art. 327, CP
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente
ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para
a execução de atividade típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo
poder público. (Incluído pela Lei nº 6.799, de 1980)

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Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa,


aplica-se a pena em dobro.

Os crimes contra a honra têm três causas de aumento:


a) Crimes praticados contra o Presidente da República ou contra Chefe de Governo
Estrangeiro;
Precisamos fazer uma distinção para a LSN (Lei de Segurança Nacional) porque existe
um tipo penal próprio; animus do agente e bem jurídico são tutelados e diferentes. Nos
crimes da LSN, o dolo do agente é voltado para a lesão a alguns daqueles bens fundantes
da nossa sociedade: princípio republicano e segurança nacional de uma maneira geral.

b) Crimes praticados contra funcionários públicos, em razão de suas funções;


Todos os crimes contra a honra podem ser praticados contra um funcionário público,
havendo essa causa de aumento quando a ofensa é dirigida ao funcionário público nesta
qualidade, em razão das funções ou de atos por ele praticados na sua função. Exemplo:
um juiz vai ao mercado e é insultado, ele está ali na sua qualidade de particular e não se
enquadra nesse caso; outra coisa é ele ser atacado pelos fatos praticados no exercício da
sua função.
A diferença para o desacato aqui seria exclusivamente relativa ao momento em que é
feita a injúria, então, calúnia e difamação contra funcionário público seriam punidas por
seus respectivos tipos, com essa causa de aumento.
A injúria, se praticada na presença do servidor, seria classificada como desacato. O
desacato não foi declarado inconstitucional e o controle de convencionalidade feito no STJ
ainda não está totalmente firmado, o que nos leva a necessidade de conhecer esse
entendimento, mas é prudente aguardar o entendimento do STF.

c) Na presença de três ou mais pessoas, na internet, num jornal, etc.


Quando a atribuição de fato ou característica negativa é feita num ambiente em que
há uma extensão maior da lesão ao bem jurídico. É evidente que a potencialidade de
conhecimento desses fatos pela sociedade fica muito ampliada e, consequentemente,
muito ampliada a lesão ao bem jurídico tutelado.

Nos casos do crime de natureza mercenária a pena se aplica em dobro, conforme o


que consta do parágrafo único.
Art. 142, CP. Não constituem injúria ou difamação punível:
- A exclusão dos crimes de injúria e difamação – natureza das causas – NÃO abrange a
calúnia;

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- Hungria: causa de exclusão/isenção de pena;


- Fragoso: exclui o animus infamandi;
- Regis Prado: exclusão do especial fim de agir ou da ilicitude;
- Bitencourt: exclusão da tipicidade ou antijur.

No art. 142, CP, teremos algumas excludentes de incidência dos tipos de injúria e
difamação. Em primeiro lugar, devemos ter em mente que o art. 142, CP, não se aplica ao
crime de calúnia.
Existe uma grande controvérsia na doutrina, a respeito da natureza dessas cláusulas
excludentes, se seriam cláusulas de isenção de pena ou de exclusão, ou se são cláusulas que
excluem o dolo ou a tipicidade, ou excludentes de ilicitude, pois há uma divergência entre os
autores no trato desse tema.

Art. 142, I, CP. a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu
procurador;

Importante saber que, em algumas situações, é possível propalar fatos (narrar alguns
elementos e fatos) que tenham essa possibilidade de ofender a honra alheia e, ainda assim, a
pessoa estar acobertada pelas chamadas imunidades. Vale dizer que, em tese, isso seria crime,
mas como se enquadra em uma dessas circunstâncias, a pessoa não responderá pelo crime.
Isto aplica-se à:
1) Imunidade judiciária: Além dessa imunidade, temos um artigo especial no Estatuto da
OAB, o art. 7º, § 2º, que também trata da imunidade profissional do advogado
especificamente, pois no art. 142, I, CP, vemos que a ofensa irrogada em juízo, na
discussão da causa, abrange a parte e o seu procurador (o advogado). Para o advogado,
isto é complementado no referido artigo do Estatuto da OAB.

- Art. 7º, § 2º do Estatuto da OAB – Lei nº 8.906/94.


§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou
desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em
juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos
que cometer. (Vide ADIN 1.127-8)

 É causa excludente de tipicidade;


 A imunidade do advogado é relativa;
 As expressões admitidas são APENAS as necessárias para o exercício da defesa do cliente,
devendo ter obrigatoriamente pertinência temática com a causa e nela ser proferidas;
 O cliente não pode responder pelo ato do advogado, em princípio.

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O advogado é essencial à administração da justiça e é indispensável que ele tenha


imunidade para agir, sem constrangimento, na defesa dos interesses dos seus clientes.
Contudo, essa imunidade não é absoluta, mas sim relativa. A doutrina e a jurisprudência
afirmam que as expressões admitidas como eventualmente ofensivas ou injuriosas são apenas
aquelas necessárias para o exercício da defesa do cliente, ou seja, tem que haver pertinência
temática com a causa e o debate que está sendo travado no bojo daquela ação.
A imunidade da parte não se confunde com a imunidade do advogado. Eventualmente,
uma pode se estender à outra (se o advogado está dizendo algo que seu cliente falou para ele,
e se a parte tem imunidade, essa imunidade se estenderá para seu advogado). O advogado
pode se exceder na sua narrativa/ação sem a autorização ou sem conhecimento da parte, e
se ocorrer esse excesso não poderá ser imputado à parte.

 Não se aplica, em princípio, a quem não é parte;


Controvérsia sobre os crimes praticados contra a honra de estranhos ao litígio:
- I) Bitencourt: abrange ofensa à testemunha, perito e juiz da causa;
- II) Não abrange o crime praticado contra a honra do Magistrado, pois ele não é parte na
relação processual (STF HC 104385, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, Publ.
25.08.2011).

Existe uma série de debates a respeito da incidência das imunidades. A grande maioria
das jurisprudências afirmam que a imunidade não pode ser invocada na acusação de um crime
de calúnia, mas tem que ter animus caluniandi. A jurisprudência acaba resolvendo esse
problema a partir de um outro requisito penal, que é o elemento dolo específico (significa
dizer: ele não pode invocar imunidade para isto, mas quando ele agiu dizendo que “o juiz
praticou abuso de autoridade” ou fez isto ou aquilo, ele não tinha a intenção de caluniar,
estava apenas no exercício do animus defendendi). Alguns autores defendem que a
excludente de tipicidade decorra da ausência de intenção de ofender, pois isso acontece
também nas difamações e nas injúrias.
A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa pela parte e por seu procurador (art.
142, I, CP) em princípio, quer dizer que não se pune a ofensa de um contra o outro (parte A
em litígio com a parte B – desta briga decorrem alguns conflitos e, eventualmente, pode haver
excesso das partes e elas dizerem coisas que podem ser interpretadas por crimes contra a
honra), mas essa imunidade não deveria se estender para ofensa irrogada em juízo contra o
juiz, contra o perito, a testemunha e outras pessoas que não estão litigando. Entretanto, não
é esse o entendimento da jurisprudência e, até mesmo na doutrina, há autores como
Bittencourt que defendem que abrange a ofensa à testemunha, ao perito e ao juiz da causa.

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Temos, na jurisprudência, um outro precedente que nega essa possibilidade como, por
exemplo, HC 104385, de que não abrange o crime praticado contra a honra do magistrado
porque ele não é parte na relação processual. Porém, a tendência é de que essa imunidade
abranja todas as ofensas irrogadas em juízo, independentemente de contra quem, desde que
verificada a pertinência temática e a ausência de excesso no exercício da atividade.

II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando


inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;

2) Existe o risco profissional: aquele que se exibe para a crítica não poderá se melindrar
porque disseram que “ele atua mal”, “ele é risível”, etc., salvo se na crítica for inequívoca
a intenção de injuriar ou difamar, mas há uma presunção de ausência de dolo no exercício
da crítica profissional. O ônus de demonstrar que havia animus infamandi ou injuriandi,
no caso em questão, é de quem está se defendendo;

III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação


que preste no cumprimento de dever do ofício.

Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem
lhe dá publicidade.

3) Todas essas imunidades são relativas, não são absolutas, e às vezes o dever de ofício obriga
a pessoa a narrar/delatar fatos, ou seja, havendo uma presunção de que isso é feito
também com o animus narrandi ou com ânimo de avaliar. Exemplo: superior hierárquico
que tem que fazer uma avaliação e escreve no relatório de avaliação do seu subordinado
que “ele age muito mal” e “dorme em cima da mesa”. Todavia, se aquilo é verdade e ele
está no cumprimento de ofício para avaliação de alguém, não é infamante, pois a única
exigência que se faz, neste caso, é que haja uma pertinência temática que é a adequação
daquele conceito desfavorável aos deveres de ofício do servidor.

No parágrafo único vemos que se a imunidade abrange o próprio agente (servidor


público, advogado ou a parte), quem se aproveitar dessa situação para dar publicidade com
animus injuriandi ou infamante, pode responder pela injúria ou pela difamação.

 Imunidades parlamentares – arts. 53, 27, 1º e 29, VIII, da Constituição Federal – Deputados
e Senadores, Deputados e Vereadores, no limite da vereança;
 Abrangem o crime contra a honra, desde que tenham relação com as atividades
parlamentares.

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e na jurisprudência dos Tribunais.

Ao lado das imunidades do Código Penal, existem as imunidades parlamentares e, na


jurisprudência, encontram-se muitos debates a respeito da extensão dessas imunidades. Elas
abrangem o crime contra a honra e as ofensas eventualmente praticadas, inclusive, fora da
casa, desde que haja relação com as atividades parlamentares.

Art. 144, CP. Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria,
quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou,
a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.

 Tem por objetivo aparelhar a ação principal;


 Natureza cautelar instrumental – semelhante às notificações;
 A expressão “a critério do juiz” refere-se ao juiz da causa principal (futura);
 Não interfere na decadência em curso.

Os crimes contra a honra trazem uma possibilidade processual de esclarecimento de


algumas questões, que chamamos de pedido de explicações. Quando a pessoa faz uma
afirmação clara e direta, fica fácil mover a ação de crime contra a honra contra a pessoa que
falou, mas às vezes as afirmações são dúbias, gerando dúvidas no próprio ofendido e ele pode
pedir explicações em juízo.
Existe uma ação cautelar (pedido de explicações em juízo) que a pessoa pode
questionar a outra se realmente ela quis dizer a negativa contra ela e, deste modo, a outra
pessoa irá esclarecer se realmente quis dizer aquilo. Então, se ficar provado que ela falou a
negativa, de forma clara, aquela pessoa usa esse instrumento cautelar para instruir a sua ação
penal.
Assim, a pessoa que se recusa a dar as explicações ou, a critério do juiz, não as dá
satisfatórias, responde pela ofensa. O juiz em questão não é o primeiro que faz uma análise
puramente procedimental (quase uma atividade de homologação, uma audiência de
justificação), mas sim a negativa de esclarecimento no pedido de explicações pode gerar a
responsabilidade futura e o pedido de explicação não interfere na decadência, não apenas o
pedido de explicações como o ajuizamento da ação ou a representação. Portanto, devem ser
apresentados no prazo legal de 6 (seis) meses.

Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo
quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso
I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do
inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste
Código. (Redação dada pela Lei nº 12.033. de 2009)

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Os crimes contra a honra são crimes de ação penal privada por excelência, pois eles se
procedem mediante queixa, com algumas ressalvas: do art. 140, § 2º (da violência resulta
lesão corporal); a do inciso I, caput, art. 141, CP, em que se procede mediante requisição do
Ministro da Justiça (crime contra Presidente da República e Chefe de Governo Estrangeiro) e
no caso do inciso II, do mesmo artigo (funcionário público), bem como no caso do § 3º, art.
140, CP (injúria discriminatória), que ocorrem mediante representação do ofendido.

 Como regra, as ações por crime contra a honra são PRIVADAS, mas há algumas EXCEÇÕES:

- REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA: vítima é o Presidente da República ou Chefe de


Governo Estrangeiro;
- REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO:
a) injúria preconceituosa;
b) resultado lesão corporal leve na injúria;
c) contra funcionário público no exercício de suas funções.

 O abrandamento dessa regra para os funcionários públicos:


- Súmula 714 do STF: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do
Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por
crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.

 O servidor tem prazo decadencial para tomar as providências;

 A opção pela representação torna PRECLUSA a queixa-crime = STF e STJ.

O servidor tem o mesmo prazo decadencial para tomar suas providências, ou ele ajuíza
queixa crime por conta própria, ou representa para o MP correndo o risco. A única coisa que
ele não pode fazer é as duas coisas ao mesmo tempo, pois a opção por uma representação vai
tornar preclusa a outra.
O STJ tem acórdãos afirmando que é possível a prática de injúria, difamação e calúnia
num mesmo contexto de fato, quando se utiliza um único meio (p. ex: uma carta – rhc 41527
RJ), nesse contexto, a pessoa responde por concurso formal de crimes.

Os crimes contra a honra são da nossa competência:


a) Nos dos termos da súmula 147 do STJ (praticados por funcionário público no exercício das
funções), ou contra funcionário público no exercício das funções;

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b) Quando, eventualmente, praticados contra índios no contexto de disputas indígenas


(temos precedentes do STJ nesse sentido; por exemplo: conflito de competência: 123016
do Tocantins).

2.4. Redução à Condição Análoga a de Escravo

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos
forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho,
quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o
empregador ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à
violência. (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)

 Crime que sofreu várias transformações ao longo do tempo;


 Bem jurídico: liberdade individual e reflexos na competência;
 Hoje, há posição pacífica do STF: competência da Justiça Federal (RE 398041/PA e
informativo 752).
É um crime, em princípio, contra a liberdade individual e, nesse contexto, sempre foi
de competência da Justiça Estadual. A professora recomenda a leitura do recurso
extraordinário: RE 398041 e do Informativo 752, para aqueles que quiserem apreciar e
aprofundar nos argumentos relativos a competência da Justiça Federal.
Este crime sofreu uma grande transformação ao longo do tempo, pois além de sofrer
alterações legislativas, havia uma concepção de redução à condição análoga de escravo, que
era informada pelo nosso regime escravocrata, onde visualizava na figura de redução à
condição análoga de escravo a reprodução da escravidão do nosso passado recente. Todavia,
houve uma transformação social das formas de subjugação do ser humano pelo outro.
Hoje, reduzir alguém à condição análoga de escravo, não representa tão somente
àquela escravidão do negro no passado, mas muitas outras situações que vinculam a pessoa
de uma forma dominada por um terceiro, por razões diversas como, por exemplo, servidão
por dívida.

 Sujeito ativo: qualquer pessoa – crime comum – não exige, necessariamente, a condição
de empregador;
 Sujeito passivo: idem;
 Forma básica: reduzir = subjugar, colocar a vítima em situação análoga, de fato, à de
escravo; não exige uma relação emprego/laboral – há precedentes envolvendo relações
familiares.

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Muito embora se entenda que a redução à condição análoga de escravo é um crime


que tutela outros bens jurídicos como a organização do trabalho, a dignidade humana da
pessoa, portanto, é possível visualizarmos a sua ocorrência em relações muito particulares.
Este crime pode ser praticado de maneiras diferentes e essas condutas são vinculadas,
previstas no tipo penal.
Reduzir alguém a condição análoga à de escravo: reduzir no sentido de subjugar,
exercer o seu poder sobre aquela pessoa.
Esse crime tem algumas condutas vinculadas, através de algumas maneiras é que se
reduz alguém à uma situação análoga a de escravo.
 Esta redução pode ser de quatro maneiras (crime de forma vinculada – e nesse aspecto o
tipo é misto alternativo – STJ – HC 239750, Rel. Min Gilson Dipp).

1) Submissão a trabalhos forçados


Trabalho sem o pagamento, com o pagamento irrisório ou apenas de alimentação ou
mediante coação física ou moral.

Este tipo é um tipo misto alternativo. Se, no mesmo contexto, a pessoa é submetida a
mais de uma dessas modalidades de subjugação, o crime será um só.

2) Jornada exaustiva
Não se conforma apenas com a superação do horário das horas extras – pressupõe que
não deixe ao trabalhador tempo razoável para o descanso.

3) Condições degradantes de trabalho


Elemento normalmente depende do caso concreto – fiscalizações do MT.

É muito comum a atuação da fiscalização do Ministério do Trabalho e das Delegacias


Regionais do Trabalho fazerem operações em parceria, tanto com o Ministério Público do
Trabalho, quanto com o Ministério Público Federal, para aferição desses casos de redução à
condição análoga à de escravo. Isso ocorre em ambientes urbanos e rurais,
indiscriminadamente.

4) Restrição da liberdade de locomoção em razão de dívida


A ideia de escravidão moderna X servidão por dívida.

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Observação: apesar de ser um crime contra a liberdade individual, não exige a privação da
liberdade física (ver STF INQ. 3.412/AL, Rel. Min. Rosa Weber e STJ CC 127.937/DF. Rel. Min.
Nefi Cordeiro).
Essa é uma das modalidades mais recorrentes e, justamente, a que reflete essa
migração da ideia de escravidão.
A escravidão moderna é aquela que gera uma dependência do senhor pela existência
de uma dívida. É comum, nesses casos, o recrutamento dessas pessoas de um lugar onde não
há possibilidade de trabalho, onde ela é deslocada de sua comunidade, de forma que irá se
sujeitar a qualquer tipo de situação.
Deve-se ater ao fato de que isso muda a concepção que temos do escravo que tem a
sua liberdade física privada. No caso em questão, ele tem a sua liberdade de locomoção
socialmente privada e, às vezes, privada pelas condições nas quais ele está porque não tem
condições de se mover (não tem dinheiro, nem documentos). Ele não está preso com algemas
ou amarras, mas se encontra preso às condições em que está submetido.

“1. Para configurar o delito do art. 149 do Código Penal não é imprescindível a restrição à
liberdade de locomoção dos trabalhadores, a tanto também se admitindo a sujeição a
condições degradantes subumanas. 2. Tendo a denúncia imputado a submissão dos
empregados a condições degradantes de trabalho (falta de garantias mínimas de saúde,
segurança, higiene e alimentação), tem-se acusação por crime de redução a condição
análoga à de escravo, de competência da jurisdição federal”.
(CG 127.937/GO Rel. Min. NEFI CORDEIRO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/05/2014, DJe
06/06/2014).

 Elemento subjetivo: dolo genérico;


 Formas equiparadas (exigem relação laboral);
 Cercear uso de meio de transporte pelo trabalhador, com o fim de retê-lo no local de
trabalho (dolo específico);
 Manter vigilância ostensiva ou se apoderar de documentos do trabalhador com o fim de
retê-lo (dolo específico também);
 É crime FORMAL e PERMANENTE.

Em qualquer uma dessas modalidade, mesmo que a pessoa esteja se submetendo


“voluntariamente e conscientemente” a uma jornada exaustiva ou a uma condição
degradante de trabalho, o entendimento é de que a situação de vulnerabilidade social dela
não lhe dá condições para consentir validamente com aquilo, por ultrapassar a esfera de
disponibilidade que temos sobre nós. Na dignidade da pessoa humana existe um núcleo que
não pode ser atingido ou violado, em momento algum.

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O crime é formal porque não se exige a ocorrência de um resultado. Caso ocorra,


haverá exaurimento, pois enquanto a pessoa estiver subjugada e submetida a estas condições,
ela estará sendo vítima do crime e o agente estará praticando o crime em caráter de
permanência.

 Relação com outros crimes


1) ABSORVE os crimes-meios: ameaça e fraude;
2) NÃO ABSORVE os crimes-meios VIOLENTOS: penas da violência são aplicadas
cumulativamente;
3) PODE ou NÃO ABSORVER alguns crimes conexos: depende da situação de fato –
como regra, NÃO ABSORVE os crimes do art. 203, CP9 (frustração de direito
trabalhista).

Em relação com outros crimes, é comum que eles estejam em concurso com outras
ações delituosas. Os crimes-meios que são empregados para o crime fim vão ficar absorvidos
por eles. Exemplo: a ameaça que é praticada no cerceio da liberdade fica absorvida pelo crime
fim; as fraudes eventualmente praticadas para enganar o trabalhador na hora de anotar o
valor de sua dívida, etc. Não havendo absorção dos crimes-meios violentos, sendo as penas
destes aplicadas cumulativamente (exemplo: se a pessoa tentou fugir do local e o capataz
puniu-o na presença dos demais de forma violenta).

Nota do monitor:
9
Art. 203, CP
Art. 203 - Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela
legislação do trabalho:
Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena correspondente à
violência. (Redação dada pela Lei nº 9.777, de 29.12.1998)
§ 1º Na mesma pena incorre quem: (Incluído pela Lei nº 9.777, de 1998)
I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado estabelecimento, para
impossibilitar o desligamento do serviço em virtude de dívida; (Incluído pela Lei nº 9.777, de
1998)
II - impede alguém de se desligar de serviços de qualquer natureza, mediante coação ou
por meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais. (Incluído pela Lei nº
9.777, de 1998)
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de dezoito anos,
idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou mental. (Incluído pela Lei nº
9.777, de 1998)

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Pode-se absorver ou não alguns crimes conexos, normalmente, eles coexistem com os
crimes de frustração de direitos trabalhistas, do art. 203, por violarem bens jurídicos
diferentes.

Art. 149, § 2o, CP. A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: (Incluído
pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
I – contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. (Incluído pela
Lei nº 10.803, de 11.12.2003)

Existem duas causas de aumento de pena, com relação a esse crime:


a) Se cometido contra criança ou adolescente
b) Por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem

Os artigos 231 e 231-A do Código Penal foram recentemente REVOGADOS pela Lei
13.344/07.10.2016, que dispões sobre o tráfico de pessoas.
- Vacatio legis de 45 (quarenta e cinco) dias.

Art. 149-A, CP. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou
acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a
finalidade de: (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; (Incluído pela Lei nº 13.344, de
2016) (Vigência)
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; (Incluído pela Lei nº 13.344, de
2016) (Vigência)
IV - adoção ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
V - exploração sexual. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.344,
de 2016) (Vigência)

 Ampliação da figura do tráfico de pessoas;


 Novatio legis in pejus;
 Reunião do tráfico interno e transnacional no mesmo tipo penal;
 Inserção de várias finalidades que não precisam necessariamente ser atingidas para que o
crime se consume;
 A multa foi inserida no tipo básico.

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Há necessidade do “dissenso” da vítima ou do seu “consentimento viciado” para


caracterizar o crime.
Nessa migração houve uma preocupação de se aproximar do conceito do tráfico de
pessoas previsto no Protocolo Adicional à Convenção Palermo:

“a) A expressão “tráfico de pessoas” significa o recrutamento, o transporte, a


transferência , o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça e uso da
força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, a engano, ao abuso de autoridade
ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios
para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de
exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou
outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou
práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos;
b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas, tendo em vista qualquer tipo
de exploração descrito na alínea “a” do presente Artigo será considerado irrelevante se
tiver sido utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea “a”;
c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de uma
criança para fins de exploração serão considerados “tráfico de pessoas” mesmo que não
envolvam nenhum dos meios referidos na alínea “a” do presente Artigo;
d) O termo “criança” significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos”.
(Decreto: 5017/14)

 Sujeito ativo: qualquer pessoa;


 Sujeito passivo: homem ou mulher (grupos mais atingidos: travestis e mulheres);
 Tipo de ação múltiplas e condutas variadas;
 Consumação depende do núcleo verbal;
 Exige dolo específico;
 Há concurso material com os crimes violentos ou com aqueles decorrentes do
exaurimento.

O crime de tráfico para fins de exploração sexual, por exemplo, era um crime que tinha
uma interpretação jurisprudencial extremamente conservadora, na qual a prostituição não
era vista como um direito da mulher ou do homem. Embora a legislação não punisse a
prostituição em si, punia o caso de alguém que promovia a saída de uma pessoa para o
exterior, mesmo sem fraude, coação ou violência (nos casos em que a pessoa já era prostituta
ou prostituto de luxo e queria, por exemplo, se prostituir na Europa para ganhar em euros).
Isso ocorria mesmo quando a pessoa não tinha sua liberdade sexual e de escolha violada,
devido a uma postura altamente conservadora, entendia-se que o consentimento da vítima

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era irrelevante e que ela estava em uma situação de vulnerabilidade social, em que “se
pudesse” não seria prostituta.
Hoje, temos como indispensável a grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso.
Se não houver nenhum desses meios de execução, não haverá crime. Este foi um ponto de
alteração substancial. Este tipo de crime é doloso, pois além da consciência e vontade de
praticar algum dos elementos do núcleo verbal (agenciar, aliciar, recrutar, transportar,
transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação,
fraude ou abuso) a pessoa ainda tem que estar movida pela finalidade específica dos incisos I
a V (art. 149-A).
A remoção de órgãos de que trata o inciso I não precisa, necessariamente, ser ilícita,
pode ser feita por meio de fraude e abuso, no agenciamento de alguém para realizar
determinada operação que, em tese, seria lícita.
Há uma previsão no ECA, art. 249, do tráfico de criança para fora das hipóteses, sem a
observância das formalidades legais, englobando os crimes de adoção ilegal. Hoje, esse tipo
penal abarca essa conduta.
A exploração sexual não é somente prostituição, mas qualquer forma de exploração
que diz respeito ao livre uso do corpo e da sexualidade humana.
O tráfico de pessoas, como foi reunido em um só tipo penal, consuma-se com qualquer
dessas modalidades ocorridas em território nacional.

Art. 149-A, § 1o , CP. A pena é aumentada de um terço até a metade se: (Incluído
pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto
de exercê-las; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)

II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com


deficiência; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)

III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de


hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica
inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou (Incluído pela Lei nº 13.344,
de 2016) (Vigência)

IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional. (Incluído pela


Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)

- Atenção: só incide na saída da pessoa do território nacional e não na entrada.

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§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar


organização criminosa. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)

Com relação ao inciso IV, o nosso tráfico de pessoas que antigamente era previsto no
art. 231, CP (revogado) migrou para esta figura. Hoje, a transnacionalidade (que é o que atrai
a competência da Justiça Federal, pela nossa obrigação em coibir este crime, mediante
Tratado e Convenção Internacional) migrou para este inciso.
Insta salientar que o inciso IV trata apenas sobre “a retirada do território nacional”,
não mencionando a entrada do estrangeiro para o Brasil. O tráfico transnacional,
tradicionalmente, sempre se deu em dois sentidos: a promoção da saída, ou a promoção da
entrada em território nacional. Aqui temos uma situação “chocante”, pois “só há tráfico
transnacional com a retirada do território nacional”.

 Pergunta-se: Isso significa dizer que se o tráfico se der de fora para dentro não há crime?
Não é isso, pois há crime e possui a marca da transnacionalidade, mas a causa de
aumento não pode ser aplicada, ou seja, ele responde na modalidade básica.

 Importante salientar que, apesar de novo, este tipo penal está sendo cobrado em
concursos.

2.5. Violação de Dispositivo Informático


É um crime de informática que foi inserido em nosso ordenamento a partir de um fato
muito conhecido, envolvendo a atriz Carolina Dieckmann, que teve seu celular invadido,
acarretando a exposição de fotos íntimas. A partir disso foi editada uma lei que mudou vários
artigos do tipo penal, incluindo a inserção do dispositivo de invadir dispositivo informático
alheio.
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de
computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de
obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do
titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: (Incluído
pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Incluído pela Lei nº 12.737,
de 2012)
§ 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo
ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida
no caput. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
o
§ 2 Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo
econômico. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência

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§ 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas,


segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o
controle remoto não autorizado do dispositivo invadido: (Incluído pela Lei nº 12.737,
de 2012) Vigência
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime
mais grave. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
§ 4 Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação,
o

comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações


obtidos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
o
§ 5 Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado
contra: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
I - Presidente da República, governadores e prefeitos; (Incluído pela Lei nº 12.737, de
2012) Vigência
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Incluído pela Lei nº 12.737, de
2012) Vigência
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa
de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal;
ou (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou
do Distrito Federal. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência

 Crime comum;
 O conceito de dispositivo informático alheio;
 O ato invadir se dá mediante conduta vinculada;
 A necessária existência de mecanismo de segurança apto a proteger o dispositivo;
 Crime doloso que exige também elemento subjetivo específico;
 Crime formal que admite tentativa;
 Se a invasão é meio para a prática de outro crime mais grave (furto mediante fraude ou
interceptação clandestina de comunicações telemáticas, p. ex., resta absorvido pelo crime
fim.
A conduta, que pode ser praticada por qualquer pessoa, é a de devassar, invadir,
ingressar, numa esfera supostamente privada, e de segredo, dentro de um dispositivo
informático alheio.
Basicamente, dispositivos informáticos são aqueles que utilizamos para uma série de
finalidades, dentre elas: processamento, entrada e saída de informações, armazenamento,
etc. Tanto será um dispositivo informático um smartphone, como uma impressora, um
microfone, webcam, HD externo, monitor, desktop, entre outros.
A invasão deve ser mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com uma
finalidade específica, isto é, obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
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Direito Penal – Parte Especial – Aula 01

O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários
e na jurisprudência dos Tribunais.

autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter


vantagem ilícita.
Esse crime é praticado por uma conduta vinculada, que sofre inúmeras críticas. Nos
crimes de violação, o que se quer proteger é a esfera da intimidade alheia. Se a pessoa possui
um telefone, supõe-se que é para uso privado dela e, se esta não é tão entendida, por
exemplo, não sabe colocar uma senha em seu aparelho, isso não significa que ele seja
franqueado para todos.
Então, a grande crítica que esse dispositivo sofre está ligada à exigência de que o
dispositivo tenha um mecanismo de segurança. Se ele não tiver nenhum mecanismo de
segurança para ser violado ou quebrado (uma senha ou um protetor de tela) não haverá
crime. Isso significa dizer que se alguém tem um smartphone com senha e um terceiro vai e
quebra essa senha, acessando seus dados, ou seja, praticou crime. Entretanto, se esta mesma
situação ocorre num smartphone que não tem senha, não houve prática de crime. Assim, é
importante estar atento para a necessária de existência de mecanismo de segurança apto a
proteger o dispositivo.
Temos que o crime é doloso e exige o dolo específico, que é a finalidade ou de adulterar
ou destruir os dados ou informações (exemplo: hacker que tem a intenção de prejudicar ou a
instalação de um dispositivo que gera vulnerabilidade no sistema – trojan, malware, etc.). Esse
crime é formal, porque se consuma com a mera invasão, independentemente de a pessoa
atingir sua finalidade ou praticar qualquer ato, ou seja, o mero curioso é punido por esse
crime.
Normalmente, é um crime meio para a prática de crimes mais graves. Exemplo: o
ingresso no laptop de alguém para se obter uma senha bancária e a partir deste dado ele tem
acesso à conta bancária da pessoa, fazendo uma transferência. Os furtos mediante fraude,
que são precedidos desse tipo de violação de dispositivo informático são crimes-meio.
No § 1º, há uma punição na modalidade equiparada para aquele que disponibiliza
esses recursos para outras pessoas invadirem outros dispositivos.
Essas condutas não necessitam de uma finalidade econômica e nem que haja causação
de dano econômico. Se ele sobrevier (o prejuízo econômico), haverá incidência da causa de
aumento do § 2º.
Nos §§ 3º e 4º, temos modalidades qualificadas pelo resultado. É muito comum a
pessoa fazer de um dispositivo alheio, um servidor escravo ou um computador escravo,
através do qual, por exemplo, ela pratica algumas outras condutas, ou utiliza para navegar
anonimamente em determinados ambientes. Nessa hipótese, o crime será apenado mais
severamente e, claro, quando ela obtém dados sigilosos mais sensíveis, como comunicações
privadas, segredos comerciais, entre outros.
No § 5º, há possibilidades de aumento da pena.

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