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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Faculdade de Direito – Campus Contagem

Beatriz Gonçalves Ramos

Júlia Torres Ceraso Guimarães

Mariana Carneiro Filpi

Trabalho extraclasse – Direito Civil

Contagem
2022
2

Parecer Jurídico.

Contagem, 01 de novembro de 2022.

Interessado: Maurício

Ementa:
DIREITO CIVIL – INSTRUMENTO PARTICULAR DE COMPRA E VENDA DE
IMÓVEL – FINANCIAMENTO CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – IMPOSSIBILIDADE
DE AQUISIÇÃO POR USUCAPIÃO.

Relatório:

Trata-se de aquisição de imóvel urbano, constituído pelo apartamento de 68m²


(sessenta e oito metros quadrados), situado em Belo Horizonte, mediante
financiamento residencial pela Caixa Econômica Federal, através do Sistema
Financeiro de Habitação – SFH, adquirido por Fabrício.
Em setembro de 2016, Maurício comprou o imóvel de Fabrício, através de instrumento
particular de compra e venda.
No mês de abril de 2019, a Caixa Econômica Federal ajuizou execução pela dívida e
adjudicou o imóvel, em virtude do inadimplemento do contrato de empréstimo de
financiamento do referido imóvel.
O interessado, em 10/10/2022 foi surpreendido com uma notificação extrajudicial,
emitida pela CEF para desocupar o imóvel no prazo máximo de 60 (sessenta) dias,
sob pena de medidas judiciais cabíveis.

É o relatório, passamos a opinar.

Fundamentação:
Os direitos relacionados ao objeto do presente parecer, vem primordialmente
estruturado na Constituição Federal de 1988, em especial em seu artigo 191 paragráfo
único, que dispõe, “os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião”.
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No referido caso, estão presentes os requisitos da usucapião urbano, sendo eles:


apartamento de 68m², posse por mais de cinco anos, não ser possuidor ou proprietário
de qualquer outro imóvel. Porém não há o que se falar em ação de usucapião, haja
vista que Maurício tinha conhecimento que o imóvel estava vinculado ao Sistema
Financeiro de Habitação, constando inclusive na certidão de registro emitida pelo
Cartório do 8º Ofício de Registro de Imóveis de Belo Horizonte. E a nossa Carta
Magna, em seus artigos 183 § 3º, e 191 parágrafo único, vedam expressamente
qualquer possibilidade de aquisição de bens públicos.
Os imóveis financiados pela Caixa Econômica Federal são vinculados ao SFH –
Sistema Financeiro de Habitação, que utilizam recursos do FGTS, portanto, possui
natureza pública.
Existe decisão da 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, sobre
usucapião de imóvel financiado pelo Sistema Financeiro de Habitação.

ADMINISTRATIVO. PROCESSO CIVIL. USUCAPIÃO DE IMÓVEL URBANO. SFH.


BEM PÚBLICO. IMPOSSIBILIDADE DE AQUISIÇÃO PELA USUCAPIÃO. 1. A
usucapião é forma originária de aquisição da propriedade que, de maneira geral,
transfere-se ao adquirente desde que decorrido prazo temporal compatível com o tipo
de usucapião, qualificado pelo animus domini e sem qualquer oposição, preenchidos
os requisitos legais. 2. Tratando-se de bem vinculado a contrato de financiamento pelo
Sistema Financeiro da Habitação (SFH), não há possibilidade de usucapião, porquanto
o imóvel financiado com recursos do SFH possui caráter público em razão da função
social do financiamento - o qual tem por objetivo possibilitar a aquisição de moradias a
baixo custo para a população. A manutenção do equilíbrio do sistema assume relevante
interesse social, que se sobrepõe a qualquer interesse particular. Precedentes desta
Corte.

(TRF-4 - AC: XXXXX20124047005 PR XXXXX-84.2012.4.04.7005, Relator: VIVIAN


JOSETE PANTALEÃO CAMINHA, Data de Julgamento: 08/11/2017, QUARTA
TURMA).

Caso haja benfeitorias feitas no imóvel, Maurício receberá indenização somente pelas
benfeitorias necessárias, pois tinha conhecimento do financiamento, tornando- o
possuidor de má-fé. Conforme estabelecido no artigo 1.220 do Código Civil: “ao
possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe
assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as
voluptuárias”.
O doutrinador Orlando Gomes (2005), interpreta que “as benfeitorias necessárias
devem ser ressarcidas quer a posse seja de boa-fé, ou não seja” e, no mesmo sentido
ainda complementa:
É que prevalece o princípio segundo o qual ninguém pode enriquecer sem
causa. Uma vez que as benfeitorias necessárias são melhoramentos
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introduzidos na coisa para conservá-la ou evitar que se deteriore, o


proprietário seria forçado a fazê-los, se estivesse na posse da coisa.
Encontrando-os feitos é justo que pague o que com eles foi despendido. Por
isso a obrigação de indenizar não se condiciona a qualidade da posse.

Maurício poderá ingressar com ação de indenização em face de Fabrício, observando


as cláusulas constantes do contrato de compra e venda, firmado entre as partes.
Considerando que ocorreu, o instituto da evicção, no qual é cabível indenização e a
restituição integral do valor, conforme estabelecido no artigo 450 do Código Civil:
Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição
integral do preço ou das quantias que pagou:
I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente
resultarem da evicção;
III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.
Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na
época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção
parcial.

Conclusão:
Ante o exposto, conclui-se que o imóvel não poderá ser usucapido por se tratar de
bem público e o requerente tinha conhecimento do financiamento pelo Sistema
Financeiro Habitação. Em relação a indenização por benfeitorias realizadas, terá
direito somente as benfeitorias necessárias. Desse modo, Maurício poderá ingressar
com ação indenizatória em face de Fabrício, caso perca o imóvel, pois a Caixa
Econômica Federal na qualidade de mutuante, não há o que se falar em
responsabilidade, por ser empresa pública e não ter conhecimento deste contrato
entre Maurício e Fabrício.

Salvo melhor entendimento, é o parecer.

Beatriz Gonçalves Ramos


Júlia Torres Ceraso Guimarães
Mariana Carneiro Filpi
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Referências Bibliográficas:

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil 1988. Brasília, DF:


Presidência da República. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm . Acesso em 28
out. 2022.

PORTO ALEGRE. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Apelação Cível -


84.2012.4.04.7005/PR. Administrativo. Processo Civil. Usucapião de imóvel urbano.
SFH. Bem público. Impossibilidade de aquisição pela usucapião. Relator:
Desembargadora Federal Vivian Josete Pantaleão Caminha, 10 de novembro de
2017. Disponível em:
Tribunal Regional Federal da 4ª Região TRF-4 - Apelação Civel: AC Xxxxx-
84.2012.4.04.7005 PR Xxxxx-84.2012.4.04.7005 | Jurisprudência (jusbrasil.com.br) .
Acesso em 28 out. 2022.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília,


DF: Presidência da República . Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm . Acesso em 28
out. 2022.

GOMES, Orlando. Direitos Reais. 21ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 84
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Parecer Jurídico.

Contagem, 01 de novembro de 2022.

Interessado: Geraldo

Ementa:
DIREITO CIVIL – REGULARIZAÇÃO DE IMÓVEL – POSSE – AQUISIÇÃO –
PROPRIEDADE – IMPOSSIBILIDADE DE USUCAPIÃO

Relatório:
Trata-se de medida para regularização de propriedade imóvel urbano, constituído pelo
lote 13, da quadra 10, com 360m², no bairro Castelo, em Belo Horizonte/MG, adquirido
mediante instrumento particular de cessão onerosa de promessa de compra e venda
e direitos possessórios por Geraldo, sendo ele não possuidor ou proprietário de
qualquer outro imóvel.
Contudo, ao saber que a proprietária do imóvel, Maria Eugênia faleceu em agosto
deste ano, está preocupado que os herdeiros possam reivindicar ou incluir o imóvel
ao inventário.
Além disso, o referido imóvel permaneceu sob posse de Vanderlei por
aproximadamente dez anos. Assim, Geraldo pretende regularizar a propriedade do
imóvel, a fim de evitar futuros transtornos.

É o relatório, passamos a opinar.

Fundamentação:
A priori, a medida adequada para Geraldo regularizar a aquisição da propriedade
sobre o imóvel, deverá ser através do registro público, tendo em vista que é a principal
forma derivada de garantir os atributos do título da propriedade. Nesse sentido, leciona
Maria Helena Diniz (2007):
O registro imobiliário seria o poder legal de agente do ofício público, para
efetuar todas as operações relativas à bens imóveis e a direitos a eles
condizentes, promovendo atos de escrituração, assegurando aos
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requerentes a aquisição e exercício do direito de propriedade e a instituição


de ônus reais de fruição, garantia ou de aquisição. Com isso, o assentamento
dá proteção especial à propriedade imobiliária, por fornecer meios
comprobatórios fidedignos da situação do imóvel, sob o ponto de vista da
respectiva titularidade e dos ônus reais que o gravam, e por revestir-se de
publicidade, que lhe é inerente, tornando os dados registrados conhecidos de
terceiros (2007, p. 13).

Ao que se trata da validade da procuração e substabelecimento, a redação do artigo


685 do Código Civil, consta expressamente:
Art. 685. Conferido o mandato com a cláusula "em causa própria", a sua
revogação não terá eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das
partes, ficando o mandatário dispensado de prestar contas, e podendo
transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato, obedecidas
as formalidades legais.

Outrossim, existem recursos especiais a respeito do tema mencionado anteriormente:


RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. OMISSÃO E CONTRADIÇÃO.
INEXISTÊNCIA. PROCURAÇÃO EM CAUSA PRÓPRIA. NEGÓCIO JURÍDICO
UNILATERAL. PODER DE REPRESENTAÇÃO DO OUTORGADO, EM SEU
PRÓPRIO INTERESSE. TRANSMISSÃO DE DIREITOS REAIS OU PESSOAIS, EM
SUBSTITUIÇÃO AOS NECESSÁRIOS SUPERVENIENTES NEGÓCIOS
OBRIGACIONAIS OU DISPOSITIVOS. INEXISTÊNCIA. ALIENAÇÃO DE IMÓVEIS
COM USO DA PROCURAÇÃO. AFIRMAÇÃO DE ERRO, DOLO, SIMULAÇÃO OU
FRAUDE. INVIABILIDADE LÓGICA. CAUSA DE PEDIR APONTANDO QUE OS
NEGÓCIOS TRANSLATIVOS DE PROPRIEDADE FORAM EM CONLUIO ENTRE
OS RÉUS, PARA LESIONAR A PARTE AUTORA. PEDIDO DE NATUREZA
CONDENATÓRIA. PRAZO PRESCRICIONAL. RECONHECIMENTO DE INÉPCIA
DA INICIAL, SEM OPORTUNIDADE DE EMENDA DESSA PEÇA.
IMPOSSIBILIDADE. 1. A procuração é negócio jurídico unilateral; o mandato, contrato
que é, apresenta-se como negócio jurídico geneticamente bilateral. De um lado, há
uma única declaração jurídico-negocial; de outro, duas declarações jurídico- negociais
que se conjugam por serem congruentes quanto aos meios e convergentes quanto aos
fins. Por conseguinte, muito embora o nome do outorgado conste do instrumento de
procuração, ele não é figurante, pois o negócio jurídico é unilateral.
2. A procuração em causa própria (in rem suam) é negócio jurídico unilateral que
confere um poder de representação ao outorgado, que o exerce em seu próprio
interesse, por sua própria conta, mas em nome do outorgante. Tal poder atuará como
fator de eficácia de eventual negócio jurídico de disposição que vier a ser celebrado.
Contudo, até que isso ocorra, o outorgante permanece sendo titular do direito (real ou
pessoal) objeto da procuração, já o outorgado apenas titular do poder de dispor desse
direito, sem constituir o instrumento, por si só, título translativo de propriedade.
3. Nesse caso, há uma situação excepcional: ao procurador é outorgado o poder
irrevogável de dispor do direito objeto do negócio jurídico, exercendo-o em nome do
outorgante (titular do direito), mas em seu próprio interesse e sem nem mesmo
necessidade de prestação de contas. É contraditório que se reconheça ter sido
outorgada procuração com essa natureza ao ex-marido da autora e se aluda, no
tocante às alienações com uso do instrumento, a erro, dolo, simulação ou fraude. E não
pode ser atribuída a esse negócio jurídico unilateral a função de substituir, a um só
tempo, os negócios jurídicos obrigacionais (por exemplo, contrato de compra e venda,
doação) e dispositivos (v.g., acordo de transmissão) indispensáveis, em regra, à
transmissão dos direitos subjetivos patrimoniais, notadamente do direito de
propriedade, sob pena de abreviação de institutos consolidados e burla à regras
jurídicas. 4. Conforme a causa de pedir e os pedidos formulados na exordial, há
pretensão de reparação civil de danos, decorrentes de alegados atos dolosos "em
conluio" entre os réus, por ocasião da alienação de bens da autora, mediante uso do
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instrumento outorgado ao ex-cônjuge. Não é adequado qualificar o pedido exordial


mediato como de anulação, pois as transferências de domínio dos bens da autora
envolveram uso de procuração em causa própria, havendo pedido de recomposição de
direito violado, mediante restituição dos bens ou, se não for possível, do seu
equivalente. 5. O pedido condenatório formulado na exordial sujeita-se a prazo
prescricional. E como nenhuma das datas relativas às alienações de bens das autoras
é mais antiga que 17/3/1989, e a ação foi ajuizada em 28 de maio de 2004, na vigência
do CC/1916, é vintenário o prazo prescricional, porquanto se trata de direito pessoal, e
observada a regra de transição do art. 2.2028 do CC/2002, também não transcorreu o
prazo trienal, previsto no art. 206, § 3º, do CC, para pretensão de reparação civil de
danos. 6. Malgrado o entendimento perfilhado pelas instâncias ordinárias de ser a
inicial inepta por conter narração confusa - não permitindo a adequada defesa dos réus
-, não foi previamente conferido prazo para promoção de emenda à inicial. Consoante
a firme jurisprudência do STJ, ao receber a exordial, o juiz deve, incontinenti, examinar
seus requisitos legais. Se necessário, deve discriminar o (s) vício (s) e determinar,
desde logo, a regularização no prazo de 10 dias. Só na hipótese de o autor não sanar
a (s) irregularidade (s) apontada (s), proceder-se-á à extinção do processo sem solução
do mérito, conforme disposto no art. 284 do CPC/1973. 7. Recurso especial
parcialmente provido.

(STJ - REsp: XXXXX RS XXXXX/XXXXX-6, Relator: Ministro LUIS FELIPE


SALOMÃO, Data de Julgamento: 04/05/2021, T4 - QUARTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 17/06/2021)

Conclusão:
Ante o exposto, conclui-se que a medida adequada para Geraldo regularizar a
propriedade do imóvel, será por meio do registro imobiliário. Ademais, a validade da
procuração e do substabelecimento não será extinta.

Salvo melhor entendimento, é o parecer.

Beatriz Gonçalves Ramos


Júlia Torres Ceraso Guimarães
Mariana Carneiro Filpi
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Referências Bibliográficas:

DINIZ, Maria Helena. Sistemas de Registros de Imóveis. 7a ed. São Paulo: Saraiva,
2007.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília,


DF: Presidência da República . Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm . Acesso em 28
out. 2022.

BRASÍLIA. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial – Nº 1.345.170 – RS.


Direito Civil. Omissão e Contradição. Inexistência. Procuração em causa própria.
Negócio jurídico unilateral. Poder de representação do outorgado, em seu próprio
interesse. Transmissão de direitos reais ou pessoais, em substituição aos necessários
supervenientes negócios obrigacionais ou dispositivos. Alienação de imóveis com uso
da procuração. Relator: Ministro Luis Felipe Salomão, 04 de maio de 2021. Disponível
em:
Superior Tribunal de Justiça STJ - Recurso Especial: Resp Xxxxx RS Xxxx/xxxxx-6 |
Jurisprudência (jusbrasil.com.br) . Acesso em 28 out. 2022.
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Parecer Jurídico.

Contagem, 01 de novembro de 2022.

Interessado: Gisele

Ementa:
DIREITO CIVIL – REVOGAÇÃO – DOAÇÃO – CONTRATO – PROPRIEDADE –
BENFEITORIAS – AQUISIÇÃO.

Relatório:
Trata-se de hipótese de revogação do contrato de doação pura, realizado por
Reginaldo, em face de Fernando. O contrato foi devidamente registrado no cartório
imobiliário. Após três anos da doação, Fernando vendeu o imóvel para Gisele, que
também levou título para registro no cartório imobiliário. Gisele realizou várias
benfeitorias no imóvel adquirido.
Contudo, passados sete anos da doação, Fernando e Reginaldo tiveram uma séria
discussão, e Fernando agrediu fisicamente Reginaldo, causando-lhe graves lesões.
Diante do ocorrido, Reginaldo procurou um advogado para revogar a doação e
reivindicar o imóvel doado.

Fundamentação:

Precipuamente, Reginaldo poderá se basear no art. 557 do Código Civil, que trata da
revogação por ingratidão do donatário, pois Fernando não se absteve da prática de
ato que demostra ingratidão e desapreço pelo doador. Conforme o texto do art. 557
do CC, abaixo:
Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações:
I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de
homicídio doloso contra ele;
II - se cometeu contra ele ofensa física;
III - se o injuriou gravemente ou o caluniou;
IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este
necessitava.
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Todavia, mesmo diante do exposto, se houver ação revocatória por ingratidão do


donatário e a coisa doada não lhe pertencer, o terceiro que detém a coisa, não poderá
ser prejudicado.
Além disso, dispõe o art.1359 do CC:
Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento do
termo, entende-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua
pendência e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode
reivindicar a coisa do poder de quem a possua ou detenha.

Sendo assim, ocorrendo a condição resolutória, a propriedade retorna para o antigo


proprietário, porém, caso o contrato indique beneficiários, estes serão os novos
proprietários. Porém o adquirente do bem sobre o qual pende condição ou termo
resolutivo, não poderá alegar prejuízo ou ignorância à respeito da condição, portanto
na ocorrência da condição resolutiva, o adquirente perderá o bem, pois assumiu o
risco da resolução.
Não obstante o art. 1360 do CC assim dispõe:

Se a propriedade se resolver por outra causa superveniente, o possuidor, que


a tiver adquirido por título anterior à sua resolução, será considerado
proprietário perfeito, restando à pessoa, em cujo benefício houve a resolução,
ação contra aquele cuja propriedade se resolveu para haver a própria coisa
ou o seu valor.

O artigo citado anteriormente, opera efeitos “ex nunc”, pois advêm de causa
superveniente, não prevista no contrato, posterior à transmissão da propriedade,
sendo assim, não poderá prejudicar direitos adquiridos por terceiros.
Cabe trazer aos autos ainda, agravo de instrumento do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul, que negou o provimento do recurso.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROPRIEDADE E DIREITOS REAIS SOBRE


COISAS ALHEIAS. AÇÃO REVOGATÓRIA DE ESCRITURA PÚBLICA DE
DOAÇÃO. FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. A sentença faz coisa
julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros. Art. 506
do CPC. No caso, tendo sido o imóvel transferido para terceiro e
considerando que os efeitos da sentença não podem atingir ato jurídico
perfeito e acabado, inviável a anulação/cancelamento da compra e venda
registrada sob o nº R.5-2.986. Cabe à parte autora, diante da inviabilidade de
anulação da transferência de propriedade do imóvel realizada pela parte ré,
utilizar-se do título para, querendo, pleitear eventual ressarcimento a esta
última, mediante a conversão da obrigação em perdas e danos, ou até mesmo
ingressar com demanda própria, se for o caso. AGRAVO DE INSTRUMENTO
DESPROVIDO.
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(TJ-RS - AI: XXXXX RS, Relator: Glênio José Wasserstein Hekman, Data de
Julgamento: 30/11/2016, Vigésima Câmara Cível, Data de Publicação:
12/12/2016).

É cediço que, via de regra, a sentença somente deve irradiar conseqüências fáticas e
jurídicas para as partes em litígio, não podendo prejudicar (ou beneficiar) a terceiro
que, a despeito de constar ativamente da narrativa dos fatos, não participou da relação
dialética do processo. Nesse contexto, torna-se improcedente o pedido de
reivindicação do imóvel.

Conclusão
Ante o exposto, conclui-se que o imóvel não poderá ser reavido por Reginaldo, pois
Gisele como terceiro, não poderá ser prejudicada. Além disso, por se tratar de
propriedade resolúvel, Gisele não poderia ter previsibilidade da causa. Restando
apenas ao Reginaldo cobrar ao Fernando quanto ao valor da coisa.

Salvo melhor entendimento, é o parecer.

Beatriz Gonçalves Ramos


Júlia Torres Ceraso Guimarães
Mariana Carneiro Filpi
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Referência Bibliográfica:

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília,


DF: Presidência da República . Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm . Acesso em 28
out. 2022.

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Agravo
de instrumento – Nº 70071394266. Propriedade e Direitos Reais sobre coisas
alheias. Ação revogatória de escritura pública de doação. Fase de cumprimento de
sentença. Relator: Desembargador Glênio José Wasserstein Hekman, 30 de
novembro de 2016. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/tj-rs/928601811/inteiro-teor-928601814 .
Acesso em 28 out. 2022.
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Questão 4

Ementa:
REINTEGRAÇÃO DE POSSE. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE. Autora que se
diz proprietária de imóvel invadido pelo réu, pretende a reintegração. Sentença de
improcedência. Pleito recursal. Incontroverso que a mesma área fora vendida à
apelante (autora) e ao apelado (réu), tendo ambos adquirido o imóvel do legítimo
proprietário, possuindo justo título. A função social da propriedade é um poder-dever
do proprietário de dar ao objeto da propriedade determinado destino, de vinculá-lo a
certo objetivo de interesse coletivo. A função social e socioambiental da propriedade
encontra-se mais bem atendida estando o imóvel em posse do réu (apelado), eis que
o fato de o endereço onde fora citado ter sido outro, não tem o condão de afastar a
função social da propriedade, uma vez demonstrada, com sua utilização, o
cumprimento de sua finalidade. Honorários advocatícios.
Manutenção. O disposto no art. 85, § 11, do NCPC, constitui regra de julgamento que
não incide sobre recursos opostos sob a égide da lei processual revogada, quando
não se encontrava positivada tal hipótese de majoração do ônus sucumbencial.
Sentença mantida. Apelo desprovido. (TJ-SP - APL: 00041791220118260577 SP
0004179- 12.2011.8.26.0577, Relator: Ramon Mateo Júnior, Data de julgamento:
21/02/2017, 12a Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 21/02/2017).

Wilma Fonseca ajuizou uma ação de reintegração de posse em face de Sebastião


Doracy de Lima. Em sua síntese alegou que é legitima proprietária de uma parte ideal
correspondente a 4.740,00 m², sobre o imóvel que é constituído por uma gleba de
terras com a área total de 20.000,00 m², situada no bairro do Bairrinho, em São José
dos Campos/SP. A apelante alega que teria adquirido o imóvel mediante escritura de
compra e venda (lavrada em data de 15.07.1996), tendo sido a sua posse esbulhada
pelo apelado Sebastião Doracy de Lima. Pretendendo a reintegração da posse, juntou
os documentos necessários. Contudo, Sebastião alega em sua defesa, que a autora
adquiriu o imóvel de Daniel Bernardo de Souza e que, não tendo honrado com os
pagamentos avençados, houve a rescisão contratual e a posterior venda de parte do
imóvel ao réu, comprovando essa informação através de uma declaração da esposa
de Daniel e apresentando diversas notas promissórias. Sebastião reside no imóvel
com a sua família, exercendo posse há vários anos, realizou a pintura do imóvel e
plantou diversas plantas ornamentais, além de ter realizado outras benfeitorias no
local. Fato é, que a mesma área foi vendida aos dois, e ambos adquiriram o imóvel do
legítimo proprietário. Tem-se que ambos possuem justo título. O Juízo monocrático
julgou improcedente o pedido da autora e deu reconhecimento da propriedade ao réu.
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A) Explique, com os fundamentos jurídicos adequados, se a decisão proferida pelo


juízo monocrático, condiz com a função social da propriedade urbana ou rural.

Conforme prevê o art.186 da CF /1988, a função social é cumprida:


Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural
atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de
exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de
trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.

Sendo assim, embora a Wilma tenha adquirido o imóvel, ela nunca esteve na posse
dele, pois quem detinha a posse era o antigo proprietário, Daniel, até ele ser vendido
ao Sebastião que por sua vez, fez dele um local de moradia para a sua familia,
realizando diversas benfeitorias. Assim, evidente que a função social e socioambiental
da propriedade encontra-se mais bem atendida estando o imóvel na posse do réu.
Cabe salientar que a Constituição Federal dispõe que a propriedade atendera a sua
função social:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

Nesse sentido, a função social da propriedade, caracteriza-se como um poder-dever


do proprietário de dar o objeto da propriedade determinado destino, como prevê Fábio
Comparato (1986):
(...) a noção de função, no sentido em que é empregado o termo
nessa matéria, significa um poder, mais especificamente, opoder
de dar ao objeto da propriedade destino determinado, de vinculá-
lo a certo objetivo. O adjetivo social mostra que esse objetivo
corresponde ao interesse coletivo e não ao interesse dopróprio
dominus; o que não significa que não possa haver harmonização
entre um e outro.
16

Portanto, a decisão do juízo monocrático em dar o reconhecimento da propriedade ao


Sebastião, está correta, pois a função social encontra-se atendida estando em sua
posse.
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B) Apresente os fundamentos jurídicos necessários, em relação ao direito de


indenização ao réu pelas benfeitorias realizadas, caso o Juízo competente, tivesse
julgado procedente a ação da autora.

Inicialmente, cabe destacar o conceito de benfeitoras, segundo Sílvio de SalvoVenosa


(2020): “ as benfeitorias correspondem as obras ou despesas feitas na coisa, para o
fim de conservá-la, melhorá-la ou embelezá-la”.
Como narrado na questão, Sebastião realizou diversas benfeitorias no imóvel. Além
disso ele é possuidor de boa fé, pois adquiriu o imóvel diretamente do proprietário,
apresentando diversas notas promissórias quitadas. Convém tratar do disposto no art.
1.219 do CC :
O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias
e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se lhe não forem pagas, a levantá -
las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de
retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.

Garantindo assim, o direito de receber de Daniel Bernardo de Souza, as benfeitorias


realizadas no imóvel.
18

Referências Bibliográficas:

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: reais. 20ª ed. São Paulo: Atlas, 2020

COMPARATO, Fábio Konder. Função social da propriedade dos bens de produção.


Revista de Direito Mercantil. USP. 63, p. 71-79. Julho- Setembro 1986.

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