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Direito penal – Parte geral I

DIREITO PENAL

Parte geral I

Professor doutor Marcelo Pertille

Prof. Marcelo Pertille


Direito penal – Parte geral I

QUESTÕES PARA COMPOR AVALIAÇÃO M1

1) A partir dos temas debatidos durante as aulas, como pode ser


conceituado o ramo Direito Penal?
2) O que é norma penal em branco?
3) Explique a relação entre o princípio da legalidade e a
impossibilidade da analogia em malam partem.
4) O que se deve entender pelas expressões subsidiariedade e
fragmentariedade no âmbito do princípio da intervenção penal
mínima?
5) O que se deve entender, no Direito Penal, por princípio da
insignificância? Comente sobre seus requisitos e consequências no
âmbito da dogmática penal.

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CONTEXTUALIZANDO AS CIÊNCIAS CRIMINAIS

O QUE PUNIR?

COMO PUNIR?

QUEM PUNIR?

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CONCEITO DE DIREITO PENAL


DIREITO PENAL“Conjunto de normas jurídicas voltado à fixação dos
limites do poder punitivo do Estado, instituindo infrações penais e as
sanções correspondentes, bem como regras atinentes à sua aplicação”.

DIREITO PENAL: conjunto das normas jurídicas que ligam a certos


comportamentos humanos, os crimes, determinadas consequências
jurídicas privativas desse ramo do direito (pena, q só pode ser imputada
mediante culpa)
IMPORTANTE: são conceitos formais – questão está:
a) Quais comportamentos devem receber maiores castigos?;
b) De onde vem a legitimidade para se decidir quais condutas devem
ser criminalizadas?;
c) Quais critérios para se decidir como punir essas condutas?;
d) Há benefícios com o controle social por meio do direito penal?
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O que o difere o ramo: PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS RELEVANTES –


isso traz racionalidade ao sistema penal

DIREITO PENAL DEVE ACABAR?


DEVE SER MAXIMIZADO?

Entre posturas abolicionistas e de “lei e ordem” é que o direito penal


perde cientificidade – SUA IDEOLOGIZAÇÃO NUM E NOUTRO SENTIDO
LHE TOMA A RACIONALIDADE

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- Infrações penais são, então, CONDUTAS PROIBIDAS – As


DESCRIÇÕES DESSSAS CONDUTAS, que podem ser comissivas ou
omissivas, são denominadas TIPOS PENAIS.

- Diz-se que no PRECEITO PRIMÁRIO da norma está a conduta


proibida; no SECUNDÁRIO, a(s) pena(s).

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IMPORTANTE: o Direito Penal não está disciplinado apenas no Código


Penal. Há legislação especial (também chamada de extravagante) que
dispõe sobre crimes e outros institutos de caráter penal e processual
penal.

IMPORTANTE - O Código Penal é divido em duas partes:

PARTE GERAL e PARTE ESPECIAL

- PARTE GERAL: art. 1º ~ art. 120 - Normas de aplicação geral. As


regras gerais do Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei
especial, se esta não dispuser de modo diverso (art. 12 do CP).

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- PARTE ESPECIAL: Crimes em espécie


TÍTULO I – CONTRA A PESSOA
- TÍTULO II – CONTRA O PATRIMÔNIO
- TÍTULO III – CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL
- TÍTULO IV - CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
- TÍTULO V - CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E CONTRA O
RESPEITO AOS MORTOS
- TÍTULO VI – CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL
- TÍTULO VII – CONTRA A FAMÍLIA
- TÍTULO VIII – CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA
- TÍTULO IX – CONTRA A PAZ PÚBLICA
- TÍTULO X – CONTRA A FÉ PÚBLICA
- TÍTULO XI – CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
- TÍTULO XII – DOS CRIMES CONTRA O ESTADO
DEMOCRÁTICO DE DIREITO
- DISPOSIÇÕES GERAIS
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- OBJETIVO: conjunto de leis em vigor (CP, leis especiais).

- SUBJETIVO: direito/poder (soberano) que o Estado tem de punir


(Nucci não concorda).

O Direito Penal subjetivo – o direito de punir do Estado – tem limites


no próprio Direito Penal objetivo.

DIREITO PENAL SUBJETIVO - limites: ESPACIAL, MODAL e


TEMPORAL.

ESPACIAL: princípio da territorialidade.


MODAL: dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF) – BASE DO
ESTADO.
TEMPORAL: decadência e a prescrição.
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DIREITO PENAL SUBJETIVO – MONOPÓLIO DO ESTADO:

CUIDADO - Estatuto do Índio (Lei 6.001/73, art. 57): O Estado dá


para tribos indígenas o direito de aplicação de sanções de caráter
penal.

Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo


com as instituições próprias, de sanções penais ou disciplinares
contra os seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou
infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte.

OBS: O Tribunal Penal Internacional não é exceção - princípio da


complementaridade.

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FONTES DO DIREITO PENAL:

De onde vem e como se revela o ramo

EM RESUMO - No plano jurídico, fontes do Direito expressam a


origem das normas jurídicas, podendo-se classificar as fontes em dois
grandes blocos, designados de fontes materiais, enfocando o
momento pré-jurídico, constituindo-se nos fatores que conduzem à
emergência e construção da regra de Direito e fontes formais,
enfocando o momento tipicamente jurídico, considerando a regra já
plenamente construída, os mecanismos exteriores e estilizados pelos
quais essas regras se revelam para o mundo exterior, ou seja, os
meios pelos quais se estabelece a norma jurídica.

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- Doutrina TRADICIONAL
- MATERIAL (produção): UNIÃO, art. 22, I, da CF. Estados só podem
em questões específicas (art. 22, parágrafo único, da CF).
- FORMAL (fontes de conhecimento): IMEDIATAS e MEDIATAS.
IMEDIATAS: LEI
MEDIATAS: COSTUMES e PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO
COSTUMES são comportamentos uniformes e constantes pela
convicção de sua obrigatoriedade e necessidade jurídica.
Existe COSTUME INCRIMINADOR? NÃO – art. 1º, do CP (princípio
da legalidade = reserva legal + anterioridade.

Existe COSTUME ABOLICIONISTA? De acordo com o art. 2º da


L.I.N.D.B. - Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor
até que outra a modifique ou revogue.
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Na prática, admite-se que se o fato não é mais tão repelido pelo meio
social a norma que o incrimine possa perder aplicabilidade (ex: jogo do
bicho – adequação social).
CUIDADO: A prática de vender CDs e DVDs piratas é crime e não se
admite a aplicação do princípio da adequação social – Súmula 502 do
STJ
PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO: direito que vige na consciência comum
de um povo.
- Não existem PGD incriminadores pelos mesmo motivos dos costumes.
Doutrina mais atual
- MATERIAL: UNIÃO
- FORMAL:
- IMEDIATA – CF, TRATADOS SOBRE DIREITO HUMANOS (aprovados
com quórum de emenda constitucional), JURISPRUDÊNCIA (discussão),
PGD, LEI.
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- MEDIATA – DOUTRINA

- INFORMAL: COSTUMES.

Câmara Federal/Consultor Legislativo/Cespe - Em matéria penal, os


tratados e as convenções internacionais, após serem referendados
pelo Congresso Nacional, constituem fontes imediatas do direito
penal e têm eficácia erga omnes. PAPEL DE LEI ORDINÁRIA

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INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL

+ Quanto ao SUJEITO (que interpreta):


- Autêntica: pela própria lei = é o método legislativo. Ex: conceito de
funcionário público, conceito de crime.
- Doutrinária: pelos estudiosos (exposição de motivos do CP)
- Jurisprudencial: decisões reiteradas dos tribunais.
+ Quanto ao MODO:
- Gramatical: sentido literal das palavras
- Teleológica: vontade objetivada pela lei.
- Histórico: origem da Lei (fato social)
- Sistemática: conjunto de leis (sistema de leis)
- Progressiva: de acordo com o progresso da ciência.

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+ quanto ao RESULTADO:
- Declarativa: letra da lei corresponde exatamente com aquilo que o
legislador quis dizer.
- Extensiva: amplia-se o alcance da palavra para que adapte-se á
vontade do texto. É POSSÍVEL CONTRA O RÉU.

IMPORTANTE - A interpretação extensiva é admitida em direito


penal para estender o sentido e o alcance da norma até que se atinja
sua real acepção.

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- Restritiva: reduz-se o alcance da palavra.


- Interpretação analógica: leva-se em conta expressões genéricas e
abertas utilizadas pelo legislador. Ex: meio cruel, álcool ou substância
análoga.
- Analogia (NÃO É FORMA DE INTERPRETAÇÃO, MAS SIM DE
INTEGRAÇÃO DA NORMA): usa-se uma norma destinada para casos
semelhantes em virtude da ausência para o caso concreto.

MP/SC - De acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito


Brasileiro, no caso de haver lacuna da lei, a aplicação da analogia
consiste na utilização de precedentes jurisprudenciais utilizados para
casos semelhantes ou parecidos, como fundamento para julgar o caso
sem norma jurídica específica. ERRADO
MP/SC - De acordo com o Decreto-lei n. 4657/42 (Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro) são formas de
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integração jurídica a analogia, os costumes e os princípios gerais


de direito. Quanto aos costumes, a legislação refere-se a
espécie praeter legem, ou seja, aquele que intervém na falta ou
omissão da lei, apresentando caráter supletivo.
MP/SC - A integração da norma penal, visando suprir lacunas da
lei, apenas é possível em relação às normas penais não
incriminadoras. C
LEI PENAL
- COMPLETA = dispensa complemento normativo (outra espécie de
legislativa). Ex: art. 121.
- INCOMPLETA = necessita de complemento normativo (outra
norma) valorativo (juiz)
- NORMA - NORMA PENAL EM BRANCO: heterogênea
(complemento não vem do legislador); homogênea (mesma
instância legislativa) 18
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Normas penais em branco são disposições cuja sanção é


determinada, porém, com indeterminação de seu conteúdo.

- NPB homogênea - HOMÓLOGA (no mesmo doc. ex: 327 CP) ou


HETERÓLOGA (outro doc. Art. 236 – CC – ocultação de
impedimentos - casamento)

- TIPOS ABERTOS: dependem de complemento valorativo.


Dependem da valoração do juiz. Ex: art. 299 – o que é documento?
Tipos culposos são, em regra, tipos abertos.

- LEI VIGENTE X VÁLIDA –


- VIGENTE – aspectos formais
- VÁLIDA – aspectos materiais – ex: regime integralmente fechado
ou inicial fechado nos hediondos – vigente, mas inválida.
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PRINCÍPIOS
LEGALIDADE - Limitação do Poder Estatal de interferir na esfera de
liberdade individuais
Reserva legal + anterioridade – art. 1º do CP, art. 5º, XXXIX, da CF, art.
9º, Convenção Americana de Direitos Humanos, art. 22 do Estatuto de
Roma – Tribunal Penal Internacional
Fundamentos: Político (Judiciário e Executivo ligados ao Legislativo),
Democrático (divisão de poderes) e Jurídico (efeito intimidatório de um
lei clara).
EM SÍNTESE: - O poder do Estado é limitado pelo princípio da
legalidade e, aos cidadãos, está assegurada a plena garantia e
juridicidade dos direitos fundamentais.
IMPORTANTE: O princípio da reserva legal aplica-se, de forma
absoluta, às normas penais incriminadoras, excluindo-se de sua
incidência as normas penais não incriminadoras.
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(2019 - CESPE - PRF - Policial Rodoviário Federal - Superior)
Considerando esse dispositivo legal, bem como os princípios e as
repercussões jurídicas dele decorrentes, julgue o item que se segue.
A norma penal deve ser instituída por lei em sentido estrito, razão por
que é proibida, em caráter absoluto, a analogia no direito penal, seja
para criar tipo penal incriminador, seja para fundamentar ou alterar a
pena.

• Certo
• Errado

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(2018 - CESPE - EMAP - Analista (Superior) A respeito da aplicação da lei
penal, julgue o item a seguir.
A analogia constitui meio para suprir lacuna do direito positivado, mas,
em direito penal, só é possível a aplicação analógica da lei penal in
bonam partem, em atenção ao princípio da reserva legal, expresso no
artigo primeiro do Código Penal.

• Certo
• Errado

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- Medida provisória incriminadora? Não – art. 62 da CF. Há corrente


que admite MP de caráter não incriminador (ex: MP extintiva de
punibilidade – STF/RE 254.818/PR).

(2019 - CESPE - PRF - Policial Rodoviário Federal - Superior) O art. 1.º


do Código Penal brasileiro dispõe que “não há crime sem lei anterior que o
defina. Não há pena sem prévia cominação legal”.
Considerando esse dispositivo legal, bem como os princípios e as repercussões
jurídicas dele decorrentes, julgue o item que se segue.
O presidente da República, em caso de extrema relevância e urgência, pode
editar medida provisória para agravar a pena de determinado crime, desde que
a aplicação da pena agravada ocorra somente após a aprovação da medida
pelo Congresso Nacional. Errado

RESUMO - Legalidade: não há crime sem lei – RESTRITA (ordinária,


complementar), ANTERIOR (irretroatividade maléfica), ESCRITA (não
pode costume incriminador), ESTRITA (proíbe analogia incriminadora),
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CERTA (proíbe tipos sem clareza – gera o princípio da taxatividade – o
que é abuso de autoridade?), NECESSÁRIA (intervenção mínima)

EM RESUMO - Uma das funções do princípio da legalidade refere-se à


proibição de se realizar incriminações vagas e indeterminadas, visto
que, no preceito primário do tipo penal incriminador, é obrigatória a
existência de definição precisa da conduta proibida ou imposta, sendo
vedada, com base em tal princípio, a criação de tipos que contenham
conceitos vagos e imprecisos.

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(2019 - CESPE - CGE - CE - Auditor de Controle Interno) O desvio punível não é o
que, por características intrínsecas ou ontológicas, é reconhecido em cada ocasião como
imoral, como naturalmente anormal, como socialmente lesivo ou coisa semelhante. É
aquele formal e previamente indicado pela lei como pressuposto necessário para a
aplicação de uma pena.
Luigi Ferrajoli. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 3.ª ed. São Paulo: RT,
2002, p. 30 (com adaptações).
O texto precedente faz referência, principalmente, aos princípios penais da
a) legalidade e da anterioridade.
b) anterioridade e da individualização da pena.
c) culpabilidade e da extra-atividade da lei penal.
d) individualização da pena e da culpabilidade.
e) extra-atividade da lei penal e da legalidade.

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EM RESUMO: O princípio da legalidade desdobra-se nos postulados da


reserva legal, da taxatividade e da irretroatividade. O primeiro
impossibilita o uso de analogia como fonte do direito penal; o segundo
exige que as leis sejam claras, certas e precisas, a fim de restringir a
discricionariedade do aplicador da lei; o último exige a atualidade da
lei, impondo que seja aplicada apenas a fatos ocorridos depois de sua
vigência.

- INTERVENÇÃO MÍNIMA: DP SUBSIDIÁRIO e FRANGMENTÁRIO.

Subsidiariedade e fragmentariedade NÃO SÃO PRINCÍPIOS - sim


características do princípio da intervenção mínima.

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- SUBSIDIÁRIO: ultima ratio (ultima razão).


- FRAGMENTÁRIO: DP só intervém no caso concreto quando há
relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão a bens jurídicos.
INSIGNIFICÂNCIA: STF - método moderno de aplicação do direito penal.
Não se aplica ao criminoso habitual; a ação não pode denotar
periculosidade social; pequeno grau de reprovação da conduta (caso
concreto). O princípio da insignificância tem o sentido de excluir ou de
afastar a própria tipicidade penal, ou seja, não considera o ato
praticado como um crime, por isso sua aplicação resulta na absolvição
do réu e não apenas na diminuição e substituição da pena ou não sua
não aplicação.

NÃO ESQUEÇA - O princípio da insignificância ou da bagatela exclui a


tipicidade material.

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REQUISITOS: (a) a Mínima ofensividade da conduta do agente, (b)


Ausência de periculosidade social da ação, (c) Reduzidíssimo grau
de reprovabilidade do comportamento e (d) Inexpressividade da
lesão jurídica provocada (ex: o furto de algo de baixo valor). Sua
aplicação decorre no sentido de que o direito penal não se deve
ocupar de condutas que produzam resultado cujo desvalor - por não
importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes - não
represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do
bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social.
Fonte: STF - M.A.R.I.
JÁ CAIU EM PROVA - A insignificância, enquanto princípio, se revela,
conforme a visão de Roxin, importante instrumento que objetiva,
ao fim e ao cabo, restringir a aplicação literal do tipo formal,
exigindo-se, além da contrariedade normativa, a ocorrência efetiva
de ofensa relevante ao bem jurídico tutelado. 28
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- IMPORTANTE: CRIMES QUE NÃO ADMITEM BAGATELA - Tráfico de


drogas e porte de drogas para consumo próprio, contrabando, porte
ilegal de arma, estelionato previdenciário, crimes envolvendo
violência ou grave ameaça no contexto das relações domésticas ou
familiares, furto qualificado por escalada, destreza, rompimento de
obstáculo e concurso de agentes indica maior reprovabilidade da
conduta do agente

STJ Sumula 599 - O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes


contra a administração pública.

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- CUIDADO - insignificância afasta a tipicidade (material) - Bagatela


imprópria exclui a culpabilidade no comportamento praticado.
Aplica-se nas seguintes situações:
- A) ínfimo desvalor da culpabilidade, B) ausência de antecedentes
criminais, C) reparação dos danos, D) reconhecimento da culpa ou
a colaboração com a justiça. Vistos globalmente podem tornar a
imposição da pena desnecessária.

- STJ - O reconhecimento do princípio da bagatela imprópria permite


que o julgador, mesmo diante de um fato típico, deixe de aplicar a
pena em razão desta ter se tornado desnecessária, diante da
verificação de determinados requisitos. HC 222093

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- OFENSIVIDADE/LESIVIDADE: o bem jurídico deve ter sido


efetivamente atacado ou posto em perigo de lesão. Há QUEM
DEFENDA QUE É DECORRÊNCIA DA INTERVENÇÃO MÍNIMA

- Crime de Dano. O injusto penal configura-se com o dano efetivo, ou


seja, concreta lesão ao bem jurídico tutelado. Ex.:
art. 121 do CP (homicídio).
- Crime de Perigo. É aquela espécie de injusto penal que se satisfaz/se
consuma com a mera ameaça de lesão (ou perigo de lesão) ao bem
jurídico tutelado.
- Em todos os crimes de perigo o agente criminoso expõe um bem
jurídico a uma situação de perigo – que se considera importante evitar.

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- Perigo Abstrato X Perigo Concreto – PERIGO = alta probabilidade


de dano.
Perigo ABSTRATO - Trata-se de presunção legal absoluta (“juris et de
jure”) de perigo. Independe de prova. Ex: porte ilegal de arma de
fogo, tráfico de drogas, embriaguez ao volante (HC 109.269/MG)
Perigo CONCRETO - A configuração do crime depende da prova
concreta do risco de lesão ao bem jurídico protegido. Ex.: crime de
perigo para a vida ou a saúde de outrem (art. 132 doCP): prova do
perigo direto e iminente (perigo real) / crime de explosão
(art. 251 doCP): prova do risco de ofensa ao bem jurídico vida ou
integridade física ou patrimônio de outrem.
- Perigo Individual X Perigo Comum:

INDIVIDUAL - Exposição a perigo de lesão alcança pessoa certa ou


grupo limitado. Ex: Perigo de contágio venéreo – art. 130 do CP.
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Estão no Capítulo III do Título I do CP: Da Periclitação da Vida e da


Saúde (arts. 130 a 136);

COMUM - alcança todo ou grupo ilimitado - exposição a perigo de


lesão se dirige ao bem ou ao interesse de toda a coletividade ou a
número indeterminado de pessoas.

Estão no Capítulo I do Título VIII do CP: Dos Crimes de Perigo Comum


(arts. 250 a 259);

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(2019 - CESPE - TJ-DFT - Titular de Serviços de Notas e de Registros)
Aplicado no direito penal brasileiro, o princípio da alteridade
a) determina que o juiz analise as especificidades do fato e do autor do
fato durante o processo dosimétrico.
b) assevera que a pena não passará da pessoa do condenado.
c) afasta a tipicidade material de fatos criminosos, ao definir que não
haverá crime sem ofensa significativa ao bem tutelado.
d) reconhece que o direito penal deve abarcar o máximo de bens
possíveis para promover a paz.
e) assinala que, para haver crime, a conduta humana deve colocar em
risco ou lesar bens de terceiros, e é proibida a incriminação de atitudes
que não excedam o âmbito do próprio autor.

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- EXTERIORIZAÇÃO/MATERIALIZAÇÃO DO FATO - Estado só incrimina


CONDUTAS exteriorizadas e voluntárias.
Direito penal não deve se preocupar com o ESTILO DE VIDA DA PESSOA,
mas sim com os fatos por ela praticados (art. 2º do CP). Ex: NAZISTAS,
MENDICÂNCIA (já revogado), vadiagem.
Direito Penal do inimigo
CAI EM PROVA - Das construções doutrinárias de Günther Jakobs acerca do
“Direito Penal do inimigo”, extrai-se que aquele que por princípio se conduz
de modo desviado, não oferece garantia de um comportamento pessoal, por
isso não pode ser tratado como cidadão, mas deve ser combatido como
inimigo;
IMPORTANTE GUARDAR- O Direito Penal do Inimigo, idealizado por Günther
Jakobs, pode ser entendido como um Direito Penal de terceira geração. Na
sua concepção inimigo é aquele que afasta de modo permanente da norma.
Segundo esta teoria, não deve ser ao criminoso conferido o status de
cidadão.
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Direito penal – Parte geral I

Gerações de Direito Penal – também chamadas de velocidades – a


ver com a história

1ª Geração - penas privativas de liberdade como última razão,


combinadas com garantias. O Direito Penal é representado pela
“prisão”, mantendo rigidamente os princípios político-criminais
clássicos, as regras de imputação e os princípios processuais.

2ª Geração – política criminal a mercê de regras punitivas. Ex:


substituição da pena de prisão por penas alternativas, Lei 9.099/95

3ª Geração – utiliza-se da pena privativa de liberdade (1ª


geração/velocidade), e permite a flexibilização de garantias materiais
e processuais (2ª geração). Direito Penal do Inimigo é um exemplo.

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4ª Geração – Direito Penal Internacional – TPI - violaram tratados e


convenções internacionais de tutela de direitos humanos, ostentando
a condição de Chefes de Estado

Características do Direito Penal do Inimigo –

I) Antecipação da punibilidade com atos preparatórios; II) Criação de


tipos de mera conduta; III) Criação de crimes de perigo
abstrato; IV) Flexibilização do princípio da
legalidade; V) Inobservância do princípio da ofensividade e da
exteriorização do fato; VI) Preponderância do Direito Penal do
autor; VII) Desproporcionalidade de penas; VIII) Restrições de
garantias penais e processuais (3ª Velocidade); IX); Endurecimento da
execução penal.

Grande crítico – Cancio Meliá


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- RESONSABILIDADE PENAL PESSOAL - Direito Penal não deve


passar da figura do réu – CUIDADO: multa penal não se transfere
aos herdeiros

Direito penal = aplicação de pena proporcional a responsabilidade


do réu – INDIVIDUALIZAÇÃO - NÃO HAVERÁ PENA PADRONIZADA –
medir responsabilidade!

JÁ APARECEU EM PROVA ASSIM: DP/PB - "A terrível humilhação por


que passam familiares de presos ao visitarem seus parentes
encarcerados consiste na obrigação de ficarem nus, de agacharem
diante de espelhos e mostrarem seus órgãos genitais para agentes
públicos. A maioria que sofre esses procedimentos é de mães,
esposas e filhos de presos. Até mesmo idosos, crianças e bebês são
submetidos ao vexame. É princípio de direito penal que a pena não
ultrapasse a pessoa do condenado".
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Direito penal – Parte geral I

(DIAS, José Carlos. "O fim das revistas vexatórias". In: Folha de São
Paulo. São Paulo: 25 de julho de 2014, 1o caderno, seção Tendências e
Debates, p. A-3)

Além da ideia de dignidade humana, por esse trecho o inconformismo


do autor, recentemente publicado na imprensa brasileira, sustenta-se
mais diretamente também no postulado constitucional da
PESSOALIDADE

CAI EM PROVA: Nenhuma pena passará da pessoa do condenado,


podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de
bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.

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(2018 - CESPE - PC-SE - Delegado de Polícia) Julgue o item seguinte,
relativo aos direitos e deveres individuais e coletivos e às garantias
constitucionais.
O princípio da individualização da pena determina que nenhuma pena
passará da pessoa do condenado, razão pela qual as sanções relativas à
restrição de liberdade não alcançarão parentes do autor do delito.

• Certo
• Errado

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- CULPABILIDADE

Só deve haver punição com a demonstração do DOLO ou CULPA – veda


responsabilidade OBJETIVA em matéria penal. NULLUM CRIMEN SINE
CULPA - Regra também está no art. 18 do CP.

É apontado como princípio constitucional implícito .

O Princípio da Culpabilidade possui, no direito penal, três importantes


vertentes:
a) não há responsabilidade objetiva pelo simples resultado;
b) a responsabilidade penal é medida pelo fato e não pelo autor;
c) a culpabilidade é a medida da pena.

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- PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA - Também chamado de NÃO


CULPABILIDADE – art. 5º, LVII.

- ADEQUAÇÃO SOCIAL - Restringe a abrangência do tipo penal,


limitando sua interpretação e dele excluindo as condutas
consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade.

IMPORTANTE: Segundo Hans Welzel, o Direito Penal tipifica somente


condutas que tenham certa relevância social; caso contrário não
poderiam ser delitos. Welzel desenvolve, a partir dessa ideia, o princípio
da adequação social.

IMPORTANTE: Pelo princípio da adequação social tem-se que apesar de


uma conduta se subsumir formalmente ao modelo legal, não será
considerada típica se for socialmente adequada ou reconhecida.

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- VEDAÇÃO DO BIS IN IDEM


Processual – ninguém pode ser processado mais de uma vez pela
mesma conduta.
Material – ninguém pode ser condenado mais de uma vez pela
mesma conduta.
Execucional – ninguém pode ser executado mais de uma vez pela
mesma conduta.
Para cada fato só será aplicável uma norma penal, a qual excluirá
todas as outras incriminadoras – só haverá uma condenação.
IMPORTANTE: Sumula 241 STJ - A reincidência penal não pode ser
considerada como circunstância agravante e, simultaneamente,
como circunstância judicial.
IMPORTANTE: Inexiste bis in idem em razão da condenação
concomitante pelos delitos de roubo majorado pelo emprego de
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arma de fogo e concurso de pessoas e de associação criminosa


armada, antigo quadrilha ou bando armado, porquanto os delitos são
independentes entre si e tutelam bens jurídicos distintos. STJ - HC
288.929/SP

EM SÍNTESE: O princípio do ne bis in idem veda a incidência de mais


de uma punição individual pelo mesmo fato (tríplice identidade
entre sujeito, fato e fundamento).

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CONFLITO APARENTE DE NORMAS

(não se trata de sucessão de leis penais no tempo – uma é vigente e a


outra revogada)

Quando, diante de uma caso concreto, vê-se possível a aplicação de


mais de uma dispositivo de lei penal – esse conflito é apenas aparente,
eis que apenas poderá incidir uma norma. Deseja-se manter a harmonia
e coerência do sistema penal e evitar o bis in idem

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Para resolver: 1) consunção; 2) alternatividade; 3) subsidiariedade; 4)


especialidade
C A S E!!!
Consunção: pode ser usado em duas hipóteses: quando um crime é
meio necessário ou normal fase de preparação ou de execução de outro
crime, ou então nos casos de antefato ou pós-fato impuníveis. Ex: lesões
corporais que são absorvidas pela tipificação do delito de homicídio
Alternatividade esse principio terá aplicação diante de crimes de ação
múltipla ou de conteúdo variado (plurinucleares), ou seja, aqueles em
que o tipo penal prevê mais de uma conduta em seus vários núcleos.
Subsidiariedade na ausência, ou não sendo possível a aplicação da
norma principal mais grave, deve-se aplicar a norma subsidiária menos
grave.
Especialidade a norma especial afasta a aplicação da norma geral. lex
spcialis derrogat generali.
Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

FGV PC-MA Delegado de Polícia - Ocorrido um fato criminoso, às vezes


duas ou mais normas se apresentam para regulá-lo, surgindo o chamado
conflito aparente de normas. A respeito de tal questão, assinale a
afirmativa incorreta.
a) A pluralidade de fatos e a pluralidade de normas são pressupostos do
conflito, que aparentemente com eles se identificam.
b) O princípio da subsidiariedade atua como “soldado de reserva”,
aplicando a norma subsidiária menos grave quando impossível a
aplicação da norma principal mais grave.
c)A questão da progressão criminosa e do crime progressivo é resolvida
pelo princípio da absorção ou consunção.
d) Na progressão criminosa, o agente inicialmente pretender praticar um
crime menos grave, e, depois, resolve progredir para o mais grave.
e) No crime progressivo, o sujeito, para alcançar o crime querido, passa
necessariamente por outro menos grave que aquele desejado.
Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

MPE/SP - Os princípios que resolvem o conflito aparente de normas


são: especialidade, subsidiariedade, consunção e alternatividade. V

FCC TJ/PB Juiz - Constituem princípios que se destinam a solucionar o


conflito aparente de normas subsidiariedade e especialidade. V

DIREITO PENAL NO TEMPO

- Teorias da CONDUTA, RESULTADO, UBIQUIDADE...


Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou
omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. - TEMPUS
REGIT ACTUM
MPE/SC- No que se refere ao 'tempo do crime', três são as teorias
determinantes. São elas: a teoria da atividade; a teoria do resultado e,
por fim, a teoria mista. Diante disso, pode-se dizer que o direito penal
brasileiro adotou a teoria do resultado. E
Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

- ABOLITIO CRIMINIS – CAUSA EXTINTIVA DE PUNIBILIDADE – A


QUALQUER TEMPO - Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que
lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a
execução e os efeitos PENAIS da sentença condenatória - LEI
ABOLICIONISTA NÃO RESPEITA COISA JULGADA – RETROATIVIDADE

MPE/SC - Ainda que decididos por coisa julgada, a lei penal


posterior aplica-se aos fatos anteriores quando, de qualquer modo,
favorecer o agente. C
Cessam os EFEITOS PENAIS – CUIDADO! – AINDA PODE SER
EXECUTADA NO CÍVEL –

TJ/AM - No caso de abolitio criminis, cessam os efeitos penais


do fato praticado, persistindo os civis.
- LEX MITIOR – Lei posterior que favorece o agente:
- Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer
Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por


sentença condenatória transitada em julgado.
- QUEM APLICA A LEI POSTERIOR MAIS BENÉFICA DEPOIS DO
TRÂNSITO? Súmula 611/STF - Transitada em julgado a sentença
condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei
mais benigna.
- LEI POSTERIOR BENÉFICA PODE RETROAGIR QUANDO AINDA NA
VACATIO LEGIS? Não tem eficácia jurídica – proibida a
retroatividade – juízes costumam suspender o processo pelo
tempo da vacatio.
CUIDADO!!! - ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA - TAMBÉM
CONHECIDA COMO: VACATIO LEGIS INDIRETA; ATIPICIDADE
MOMENTÂNEA. Ex: arts. 30 e 32 da Lei nº 10.826/03.

PC/MT - Na abolitio criminis temporária ou na vacatio


Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

legis indireta os efeitos da norma incriminadora são


temporariamente suspensos, com efeitos erga omnes, de modo que
a conduta não é típica se praticada nesse período.
- LEI PENAL NO TEMPO x CONTINUIDADE DELITIVA – SÚMULA 711
STF - A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da
continuidade ou da permanência.

DPE/MS - De acordo com o entendimento do Supremo Tribunal


Federal, a lei penal mais grave é aplicada ao crime continuado ou ao
crime permanente se sua vigência é anterior à cessação da
continuidade ou da permanência.
Juiz/TJ/SP - A lei penal mais grave só se aplica ao crime continuado
ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior ao início da
continuidade ou da permanência.
Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

MPE/SC - A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou


ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da
continuidade ou da permanência. C
MPE/SC - Nos crimes permanentes e nos delitos praticados na
forma continuada, sobrevindo lei nova mais severa durante o
tempo de ocorrência do crime, não pode ela ser aplicada diante do
princípio previsto no art. 5º, XL, da CF que é expresso ao prever que
a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. E
MPE/SC - No tocante ao princípio da extra-atividade da lei penal,
em se tratando de crimes continuados ou permanentes, aplica-se a
legislação mais grave se a sua vigência é anterior à cessação da
continuidade ou da permanência. C
LEMBRAR DIFERENÇA – CONTINUADO X PERMANENTE X HABITUAL
(ex: curanderismo – CP - Art. 284 - Exercer o curandeirismo: I -
prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer
substância) Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

- POSSIBILIDADE DE COMBINAR LEIS – RETROAGIR SÓ O QUE FOR


MAIS BENÉFICO
- STJ - impossível mesclar dispositivos mais favoráveis de lei nova com
os da lei antiga - juiz estaria criando uma terceira norma - TERTIUM
GENUS
- Súmula 501 do STJ: “É cabível a aplicação retroativa da Lei
11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas
disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo
da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de
leis”.
- STF - Informativo nº 451 - HC 81.459 – também não admite
MP/PE - Consoante entendimento sumulado do Superior Tribunal de
Justiça, é cabível a aplicação retroativa, desde que integral, das
disposições da vigente lei de drogas, se mais favoráveis ao réu,
vedada a combinação de leis.
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Direito penal – Parte geral I

- LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA – Art. 3º - A lei excepcional ou


temporária, embora decorrido o período de sua duração ou
cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato
praticado durante sua vigência. - ULTRATIVIDADE
- Temporária – tem no seu texto o tempo de vigência (crimes da Lei
Geral da Copa) - Excepcional – transitórias necessidades (guerras,
calamidades, epidemias, etc..)
MP/MG - Sobre a Lei Penal Temporária ou Excepcional - Aplicar-se-á
aos crimes praticados no período em que esteve em vigor, embora
decorrido o prazo de sua duração ou cessadas as circunstâncias que
a determinaram, mesmo que ainda não tenha sido instaurada a ação
penal.
PF/CESPE - No que diz respeito ao tema lei penal no tempo, a regra é
a aplicação da lei apenas durante o seu período de
Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

vigência; a exceção é a EXTRA-ATIVIDADE da lei penal mais benéfica,


que comporta duas espécies: a retroatividade e a ultra-atividade.
MP/MS - A lei penal mais benéfica é a única que tem extra-atividade.
C
MP/MS - A lei excepcional e a lei temporária possuem em comum o
regime específico da ultratividade gravosa. C

- Zaffaroni, Rogério Greco – CF não fala em exceção à irretroatividade


da lei maléfica – INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 3º DO CP – NÃO É
MAJORITÁRIA ESSA POSIÇÃO
- IMPORTANTE: COMPLEMENTO DE NORMA PENAL EM BRANCO
RETROAGE? Ex: tráfico de drogas, Portaria que retira determinada
substancia da lista de DROGA – RETROAGE!

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Direito penal – Parte geral I

- Complementos editados com caráter excepcional são


IRRETROATIVOS – Ex: venda de produtos abaixo de valor
estabelecido pelo Ministério da Economia – se mudar o teto, não
retroage – tem caráter excepcional – continua haver crime contra
a economia popular.
MP/MS - A lei penal em branco, quando tem por objetivo garantir a
obediência da norma complementar, não está subordinada à
irretroatividade da lei mais severa e da retroatividade da lei mais
benigna. E

- CONTINUIDADE NORMATIVO-TÍPICA – conduta apenas migra


para outro tipo – NÃO HÁ ABOLITIO CRIMINIS!!
Ex: tráfico de drogas, atentado violento ao pudor.

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Direito penal – Parte geral I

CESPE/TJ/DF - O instituto da abolitio criminis refere-se à supressão


da conduta criminosa nos aspectos formal e material, enquanto o
princípio da continuidade normativo-típica refere-se apenas à
supressão formal. C
- MUDANÇA DE INTERPRETAÇÃO JURISPRUDENCIAL RETROAGE?
- A aplicação de entendimento jurisprudencial (Súmula) a casos
anteriores à sua publicação não importa em malferição do princípio
da irretroatividade da lei penal mais gravosa, pois representa
resultados de métodos de interpretação da norma penal, não
constituindo, pois, diploma repressor novo e mais gravoso. (STJ -
AgRg no AREsp n. 45.641/SP, Ministro Jorge Mussi)
- Súmula vinculante 24 do STF e a prescrição dos crimes tributários.
- STJ – não cabe revisão criminal com amparo em questão
jurisprudencial controvertida nos Tribunais (Resp.759256) – VER
SÚMULA 343 do STF Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

DIREITO PENAL NO ESPAÇO


saber qual país poderá aplicar sua lei
- Princípios aplicáveis (Cezar Bittencourt tem outra classificação):
- Territorialidade – aplica-se lei do local do crime
- Nacionalidade ativa – lei do país da nacionalidade do agente
- Nacionalidade passiva – só se autor e vítima forem do
mesmo país (concidadão)
- Defesa/real/Proteção – lei do país da nacionalidade do bem
jurídico lesado
- Justiça universal – lei do país onde for encontrado o agente
(tratados internac.)
- Representação/bandeira – lei nacional aos crimes praticados
em aeronaves e embarcações privadas, quando no
estrangeiro, e aí não sejam julgados.
- REGRA no Brasil – TERRITORIALIDADE - art. 5º, caput, do CP
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Direito penal – Parte geral I

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,


tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no
território nacional – NACIONALIDADE TEMPERADA
MPE/SC - Com relação à aplicação da lei penal no espaço, a lei penal
brasileira adota o princípio da territorialidade, de forma absoluta. E
IBEG/Procurador Municipal/ES - No Brasil adota-se o Princípio da
territorialidade temperada, segundo o qual a lei penal brasileira
aplica-se, em regra, ao crime cometido no território nacional.
Excepcionalmente, porém, a lei estrangeira é aplicável a delitos
cometidos total ou parcialmente em território nacional, quando
assim determinarem tratados e convenções internacionais. C
FCC/TCM/RJ - No que concerne à aplicação da lei penal no espaço, o
princípio pelo qual se aplica a lei do país ao fato que atinge bem
jurídico nacional, sem nenhuma consideração a respeito do
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Direito penal – Parte geral I

local onde o crime foi praticado ou da nacionalidade do agente,


denomina-se princípio proteção. C
CESPE/Perito/PE - De acordo com o princípio da representação, a lei
penal brasileira poderá ser aplicada a delitos cometidos em
aeronaves ou embarcações brasileiras privadas, quando estes
delitos ocorrerem no estrangeiro e aí não forem julgados. C

CESPE/Perito/PE - aplicação da lei penal brasileira a cidadão


brasileiro que cometa crime no exterior é possível, de acordo com o
princípio da defesa. E
MP/RS - Considere a norma disposta no art. 7º, inciso II, alínea c, do
Código Penal: “Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no
estrangeiro [...], os crimes [...] praticados em aeronaves ou
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados”. Esse
inciso II, em sua alínea c, define o princípio da representação. C
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Direito penal – Parte geral I

- O QUE É TERRITÓRIO NACIONAL?


- Espaço físico + espaço jurídico por equiparação – art. 5º, §§ 1º e
2º, do CP
- § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do
território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de
natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer
que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações
brasileiras, mercantes ou depropriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-
mar.
- § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a
bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade
privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou
em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou
mar territorial do Brasil
Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

- RESUMO:
- NAVIOS E AERONAVES BRASILEIROS, PÚBLICOS OU A SERVIÇO DO
PAÍS, EM QUALQUER LUGAR DO MUNDO, SÃO PARTES DO NOSSO
TERRITÓRIO
- PRIVADOS QUANDO EM ALTO-MAR OU ESPAÇO AÉREO
CORRESPONDENTE, LEI DA BANDEIRA.
- -NAVIOS E AERONAVES PÚBLICOS ESTRANGEIROS – CRIME NO
BRASIL – NÃO É NOSSO TERRITÓRIO
FAURGS/JUIZ/RS - A lei penal brasileira é aplicável aos crimes
cometidos a bordo de embarcações e aeronaves estrangeiras de
propriedade privada que estejam localizadas no mar territorial ou
sobrevoando o espaço aéreo brasileiro, sendo também
consideradas como extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, localizadas em mar territorial ou no espaço
aéreo de outro país, desde que estejam a serviço do governo
brasileiro. C
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Direito penal – Parte geral I

- CUIDADO: PASSAGEM INOCENTE – embarcações apenas de


passagem pelo Brasil não interessam – Lei 8.617/93 – estende-se
às aeronaves
IBEG/Procurador Municipal/ES - O Princípio da Territorialidade
adotado no Brasil não se coaduna com o “Princípio da passagem
inocente”, segundo o qual se um fato fosse cometido a bordo de
navio ou avião estrangeiro de propriedade privada, que esteja
apenas de passagem pelo território brasileiro, não seria aplicada a
nossa lei, se o crime não afetasse em nada nossos interesses. E
- Quando que o crime se considera praticado no território nacional?
Teoria da UBIQUIDADE - Art. 6º - Considera-se praticado o crime no
lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem
como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
LUGAR – UBIQUIDADE – TEMPO – ATIVIDADE
L.U.T.A.
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Direito penal – Parte geral I

CESPE/TJ/DF/JUIZ - Considera-se lugar do crime, para efeito de


fixação da competência territorial da jurisdição penal brasileira, o
lugar em que ocorreu a ação ou a omissão, no todo ou em parte,
bem como o lugar em que se produziu o resultado. C

- CUIDADO: NO BRASIL APENAS A PREPARAÇÃO? NÃO INTERESSA


AO DIREITO NACIONAL
- CUIDADO: Há crimes nos quais a lei pune a preparação – ex:
associação criminosa, art. 288 do CP – art. 5º da Lei 13.260/16.

- CUIDADO:
- CRIMES A DISTÂNCIA (espaço máximo) – territórios de países
soberanos
- CRIMES PLURILOCAIS – diferentes territórios do mesmo país –
conflito interno de competência – art. 70 do CPP – teoria do resultado.

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Direito penal – Parte geral I

EXTRATERRITORIALIDADE – art. 7º do CP
- Incondicionada – inciso I, por causa do §1º – 4 hipóteses
- a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República –
defesa/real

MP/RR - Dos crimes abaixo mencionados, qual não fica sujeito à lei
brasileira pela aplicação do princípio da extraterritorialidade
incondicionada: latrocínio cometido no estrangeiro contra o
Presidente da República;

- b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito


Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa
pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação
instituída pelo Poder Público - defesa/real

MPE/SC - Acerca da aplicação da lei penal, a hipótese de


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Direito penal – Parte geral I

sujeição à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os


crimes contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito
Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa
pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação
instituída pelo Poder Público, diz respeito ao princípio da
nacionalidade passiva. E
- c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço -
defesa/real
- d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no
Brasil – justiça universal ou defesa/real
- § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei
brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro –
LEMBRAR: ART. 8º ATENUA BIS IN IDEM
- Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena
imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou
nela é computada, quando idênticas.
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Direito penal – Parte geral I

TRF4/JUIZ - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena diversa


imposta no Brasil pelo mesmo crime.
- CUIDADO: Lei 9.455/97 também tem caso de extra incondicionada –
art. 2º (vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob
jurisdição brasileira)
- Condicionada – inciso II, por causa do §2º – 3 hipóteses
- a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir –
justiça universal
- b) praticados por brasileiro – nacionalidade ativa
- c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes
ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí
não sejam julgados – representação/bandeira
MP/PR - Marcos cometeu crime de furto quando se encontrava em
navio mercante brasileiro que navegava em águas argentinas. Nessa
situação, o crime poderá ser julgado no primeiro porto brasileiro em
que o navio aportar, aplicando-se o princípio da representação.
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Direito penal – Parte geral I

- § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do


concurso das seguintes condições (CUMULATIVOS):
a) entrar o agente no território nacional (físico + jurídico);
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira
autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí
cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro
motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais
favorável.
- Supercondicionada - §2º + 2 condições do §3º – 1 hipótese
- A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por
estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as
condições previstas no parágrafo anterior – defesa/real
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Direito penal – Parte geral I

- a) não foi pedida ou foi negada a extradição;


- b) houve requisição do Ministro da Justiça.

CUIDADO: LEI 9.455/97 – TORTURA

Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha
sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira
(incondicionada) ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição
brasileira (condicionada).

MPE-GO - A Lei 9.455/97 determina a chamada extraterritorialidade


condicionada e incondicionada, além de adotar o princípio da jurisdição
cosmopolita, quando disciplina ser aplicável a lei penal brasileira ainda
quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo
a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição
brasileira.c
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Direito penal – Parte geral I

- CONTAGEM DE PRAZO – art. 10 do CP

MPU/FCC - A respeito da aplicação da lei penal, no que concerne à


contagem dos prazos, de acordo com o Código Penal, é correto
afirmar que o dia do começo ou fração deste inclui-se no cômputo do
prazo.
MP/SC - Após cinco anos da data do cumprimento ou da extinção da
pena pela condenação anterior, esta não mais prevalece, não
gerando reincidência. A contagem do prazo de temporariedade em
tais casos se faz na forma do art. 10 do CP.

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Direito penal – Parte geral I

FCC/CNMP - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo.


Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. C

TEORIA DO CRIME

- BRASIL – SISTEMA DUALISTA:


- CRIME/DELITO
- CONTRAVENÇÃO PENAL/CRIME VAGABUNDO/CRIME LILIPUTIANO
TJ/AM - Em geral, a contravenção penal é espécie de infração penal
menos grave do que o crime, sendo, por isso, chamada pela doutrina
de crime-anão.
- Diferença é de grau – axiológica (valorativa), não ontológica -
POLÍTICA

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Direito penal – Parte geral I

- CRIME X CONTRAVENÇÃO – diferenças de tratamento:


- Espécie de pena de prisão: CRIME - reclusão, detenção.
CONTRAVENÇÃO - prisão simples (art. 6º da LCP – “sem rigor
penitenciário” – em estabelecimento próprio – em regime semi-
aberto/aberto)

- Espécie de ação penal: CRIME – pública


condicionada/incondicionada e privada. CONTRAVENÇÃO –
sempre pública incondicionada. Problema: vias de fato (art. 21
da LCP – STF diz que continua incondicionada.
- Punibilidade de tentativa: CRIME – punível. CONTRAVENÇÃO –
não se pune a tentativa (art. 4º da LCP)
CESPE/PC-BA - A tentativa de contravenção, mesmo que factível,
não é punida.
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Direito penal – Parte geral I

- Regras de extraterritorialidade: CRIME – há extraterritorialidade.


CONTRAVENÇÃO – não se admite a extraterritorialidade (art. 7º do
CP – só crime)
FGV/TJ-AM - Assim como o Código Penal, a Lei de Contravenções
Penais (DL n. 3.688) prevê hipóteses de extraterritorialidade em que a
lei brasileira será aplicável à contravenção praticada fora do território
nacional. E
- Regras de competência: CRIME – Estadual/Federal.
CONTRAVENÇÃO – só Estadual – art. 109, IV, da CF. CUIDADO –
contravenção praticada por agente com foro especial – ex: Juiz Federal
– TRF. Conexão? Separam-se os processos.
- Limite das penas: CRIME – limite quarenta anos – art. 75.
CONTRAVENÇÃO – cinco anos – art. 10 da LCP.
- Período de prova no sursis: CRIME – mínimo 2/4 anos.
CONTRAVENÇÃO – mínimo 1/3 anos.
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Direito penal – Parte geral I

CRIME – CONCEITO:
MATERIAL – FORMAL – ANALÍTICO
- FORMAL: aquilo que está em uma norma incriminadora, sob a
ameaça de pena.

- MATERIAL: é o comportamento humano causador de lesão ou


perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, passível de sanção.

- ANALÍTICO/ESTRATIFICADO: trabalha os elementos que compõem


a infração penal. Este conceito representa a soma de componentes,
não o delito em si.
- Sob critério analítico - crime é conduta humana individualizada
mediante um dispositivo legal (tipo) que revela sua proibição
(típica), que por não estar permitida por nenhum preceito (causa de
justificação) é contrária à ordem jurídica (antijurídica) e que,
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Direito penal – Parte geral I

por ser exigível do autor que agisse de maneira diversa diante das
circunstancias, é reprovável (culpável).

TCE-PR - O conceito de delito formal é o fato humano proibido pela


lei penal, e material há lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico-
penal. C
CESPE/TJ-DF - Sob o prisma formal, crime corresponde à concepção
do direito acerca do delito, em uma visão legislativa do fenômeno;
sob o prisma material, o conceito de crime é pré-jurídico, ou seja, é a
concepção da sociedade a respeito do que pode e deve ser proibido.
C

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Direito penal – Parte geral I

TEORIA DO CRIME

• FATO TÍPICO –
Conduta: arts. 18, 19
Resultado: arts. 14, 15, 16, 17, 20
Nexo de causalidade: art. 13
Tipicidade

• ILICITUDE – Causas de exclusão: art. 23, 24, 25 (tbm art. 128) e


consentimento do ofendido

• CULPABILIDADE
Imputabilidade: arts. 26, 27, 28
Potencial consciência da ilicitude: art. 21
Exigibilidade de conduta diversa: art. 22
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Direito penal – Parte geral I

SISTEMAS PENAIS
CAUSALISMO (CLÁSSICO, MECANICISTA):
- Franz von Liszt e Ernst von Beling – Liszt-Beling – Final do séc. XIX;
- Aqui começou-se a falar em tipicidade, ilicitude e culpabilidade como
categorias autônomas – TIPICIDADE e ILICITUDE como aspectos
externos do crime e CULPABILIDADE como aspecto psicológico (aqui
estavam dolo e culpa);
- Incorporação de métodos – modelos cientificizados (positivismo) -
Distinção entre ser e dever-ser
- Sistema penal em busca de lógica – perspectiva naturalística -
fundamentos sobre relações de causalidade
- Característica marcante: conceito de conduta - “(...) movimento
corporal voluntário, apto à produção de um resultado”;
- Problemas com crimes omissivos - não existe resultado natural do
NÃO AGIR - também há crimes comissivos sem resultado – ex:
invasão de domicílio. Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

NEOKANTISMO (neoclássico)

- Releitura da teoria do conhecimento de Kant – não entendia ciência


em campos metafísicos – Neokantistas disseram ser importante
trazer para a ciência os saberes do espírito
- Introduz-se o valor na metodologia
- Direito = fenômeno cultural - Os neokantistas trouxeram aquilo até
então denominado como aspectos objetivos do crime para o mundo
do dever-ser, tentando afastar o crime de aspectos puramente
naturalistas (distinção entre ciências da natureza e culturais)
- Ação continuava cega – permaneceu causal
- Tenta trabalhar com elementos inconciliáveis por conta da
manutenção de origens positivistas
- Diante de valores culturais é possível uma teoria geral?
- Demasiada abertura dos conceitos
Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

- Direito não podia ser visto como uma ciência natural que pudesse ser
regida apenas por aspectos causalistas, tal qual a natureza - Direito
pressupõe normatização - começou-se a incluir nas análises da
tipicidade e ilicitude conteúdos valorativos a indicar que a
danosidade social era o foco principal do sistema penal;
- Culpabilidade: inovada com a exigibilidade de conduta diversa, agora
ao lado dos já presentes dolo, culpa e imputabilidade.

EM RESUMO: Com introdução de considerações axiológicas e materiais,


o neokantismo substituiu o método puramente jurídico-formal do
positivismo. O modelo neokantista possui o mérito de ter demonstrado
que toda realidade traz em seu bojo um valor preestabelecido,
permitindo a constatação de que as normas jurídicas, como um produto
cultural, possuem como pressupostos valores prévios, e o próprio
intérprete que, por mais que procure adorar certa neutralidade, não
estará imune a maior ou menor influência desses valores. (MPE/MT)
Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

FINALISMO
(Hans Welzel, meados séc. XX) – ontologia do ser é que deve revelar a ordem

- “As normas do Direito não podem ordenar ou proibir meros processos


causais, mas apenas atos dirigidos finalisticamente ou a omissão de tais
atos” (Welzel)
- Conhecimento deve considerar o objeto de análise como realmente ele
é
- Ação ligada ao saber causal – final
- Vontade é característica da própria manifestação humana – HÁ
IMPORTÂNCIA NO DESVALOR DO ATO E DO RESULTADO
- Problemas com crimes culposos - Culpa enquanto violação do dever de
cuidado – do ponto de vista causal é cega
- Dolo e culpa migram para a tipicidade – dolo natural
- Culpabilidade normatizada – sem elementos psicológicos
- Pq não punir a tentativa tal qual a consumação?
Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

FUNCIONALISMOS (segunda metade sec. XX)

- Propostas funcionalistas para novos problemas sociais - insuficiência


dos antigos sistemas – INTENSIFICAÇÃO DA COMPLEXIDADE DAS
RELAÇÕES SOCIAIS!

- Importância de não afastar as ciências criminais de sua função de


proteção dos direitos e garantias individuais – EQUILÍBRIO:
necessidade de atuação penal X racionalidade

- Ideia funcionalista é sistematizar a teoria do crime a partir da


necessária RELAÇÃO ENTRE A DOGMÁTICA E A POLÍTICA CRIMINAL

- Valores político-criminais penetram na dogmática: Direito Penal e


Política Criminal juntos - NOVA ORDEM VALORATIVA

Prof. Marcelo Pertille


Direito penal – Parte geral I

- Para o funcionalismo: DIREITO PENAL É FORMA POR MEIO DA


QUAL AS FUNÇÕES POLÍTICO-CRIMINAIS SE MANIFESTAM
JURIDICAMENTE

- “Quanto menores os atritos entre o conceito e o objeto a que ele


se refere, quanto mais fácil e naturalmente venham surgindo as
soluções, maiores as probabilidades de que o resultado do
trabalho dogmático signifique um acerto” (GRECO. Introdução à
dogmática funcionalista do delito. Revista Ciências Criminais. 2000)

IMPORTANTE: Não há abandono do pensamento sistemático, mas


alteração nas bases que lhe estruturam: “dogmática funcionalista não
é uma concepção absolutamente nova que ameace todas as
construções dogmáticas modernas” (Silva Sánhez) - Também em
“Reflexões sobre construção sistemática do direito penal” (ROXIN.
Novos estudos de direito penal)
Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

- Criminologia ganha importância no caminho sistêmico –


transformações dos conceitos criminológicos em pretensões político-
criminais e, estas, em REGRAS JURÍDICAS PARA A OBTENÇÃO DO
SOCIALMENTE ADEQUADO. (ROXIN. Política criminal e sistema jurídico
penal)

- Normatização perde lógica racional diante da absorção de


princípios político-criminais

- Funcionalismo admite que as construções sistemáticas perdem um


pouco da importância e beleza para terem ganhos em
funcionalidade e eficácia

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Direito penal – Parte geral I

- Há politização do direito penal e, com isso, perda de sua autonomia;


- Direito Penal deixa de ser pensado como a BARREIRA
INTRANSPONÍVEL da política criminal, tal como defendia Liszt
(Escola de Marburgo);

IMPORTANTE - há diferentes sistemas funcionalistas:


- A) SISTEMICO RADICAL DE JAKOBS – fundamentos em LHUMNAN e
HEGEL – DIREITO PENAL como SUBSISTEMA DO SISTEMA SOCIAL –
INTERESSES DO GRUPO
- B) FUNCIONALISMO REDUCIONISTA DE ZAFFARONI – REALIDADE
LATINO-AMERICANA – contenção do poder punitivo
- C) TELEOLÓGICO-RACIONAL DE ROXIN – VIRADA PREVENTIVA
- Também outros importantes autores: VIVES ANTON, MUNOZ
CONDE
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Direito penal – Parte geral I

- Roxin: 1970 - Obra POLÍTICA CRIMINAL E SISTEMA DE DIREITO PENAL


- VIRADA PREVENTIVA

- Direito Penal como instrumento prevencionista: elementos


dogmáticos devem, por isso, ser interpretados a partir desse objetivo

- Proposta é livrar a dogmática penal de valores metafísicos, abstratos


– Tentativa de RACIONALIZAR A TEORIA DO CRIME (!?!) – Liszt e
Binding também tiveram essa proposta

- TRÊS CARACTERÍSTICAS DECISIVAS:

- 1) sobreposição da política criminal sobre o direito penal – ou direito


penal é NEUTRO (LISZT) ou tem valores que devem vir da POLÍTICA
CRIMINAL – nega que os valores possam vir da própria dogmática.

- 2) sobreposição da teoria da pena sobre a teoria do crime (prevenção


geral ganha força dogmática) – valores: EFICIÊNCIA e PACIFICAÇÃO
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Direito penal – Parte geral I

- 3) culpabilidade afasta-se da retribuição – toda dogmática com viés


preventivo – se não há necessidade de castigo por motivos preventivo-
especial e geral a pena não tem legitimação social e não pode ser
aplicada - função da pena vem do próprio modelo de Estado Social
- ANÁLISE DOS SISTEMAS FUNCIONALISTAS pode ser feita em dois
planos distintos:
a) plano metodológico; b) político-social (problemas para países em
desenvolvimento)
- Plano metodológico:
a) Conceito de ação: não advém de elementos ontológicos – teoria
pessoal da ação - dois elementos: “manifestação” e “personalidade”:
“Ação é simplesmente a “manifestação da personalidade”, entendendo
como tal “tudo o que for atribuível a um ser humano como centro de
ação anímico-espiritual” – MAS RECONHECE, diante de problemas
metodológicos, NÃO HÁ AÇÃO ANTES DO TIPO – O TIPO É QUE
PRESSUPÕE A AÇÃO
Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

b) Tipicidade: formada a partir da prevenção geral!

- Tipicidade orientada à proteção de bens jurídicos – só se pode tipificar


ações que possam expor a risco não tolerado determinado bem

- Tipificação: liberdade dos cidadãos (garantia) x tutela de bens


jurídicos (motivação) – grau de risco ao bem x alternativas menos
gravosas para proteção

- Roxin apresenta duas modalidades típicas: a) descrição exata de uma


ação (nullum crimen); b) abre-se mão da descrição exata por não se
considerar essa tão importante, focando-se atenção na violação de um
papel social por parte do sujeito (delitos de dever) - referências
extrapenais

- Delitos de dever: "crimes consistentes na violação de um direito


"(Pflichtdelikt) - sua essência é que, ao determinar o fato típico, na
norma criminal, o legislador refere-se a deveres criados entre os
participantes no campo extrapenal.
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Direito penal – Parte geral I

- INFRAÇÕES DE DEVER – ideia bastante perigosa – legislador pode agir


dentro das expectativas e buscar atender deveres sociais, mas
também compromete o princípio da legalidade
- Questões político-criminais não suprem o conceito de dever social
- Munoz Conde – TIPO deve ter duas funções: legalidade (nullum
crimen) e motivação (para que se possa excluir ações que não estejam
no contexto motivacional do tipo) – com isso se tem um bom critério
para a ilicitude, pois as causas de justificação não podem, por si só,
cumprir a função de motivação
- Em suma: Se política criminal centra-se em combater a criminalidade,
a legalidade passa a ser vista como empecilho
- Também problemas com princípio do nullum crimen sine iniuria
(ofensa) - ex: homicídio não é mais ou menos grave a depender do
quanto a pena se mostra necessária.
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Direito penal – Parte geral I

- c) Ilicitude: ligada aos interesses sociais – não pode ter regulação


precisa – causas de justificação devem estar em fórmulas gerais a
serem adequadas às especificidades do caso concreto – não há um
princípio estrutural da antijuridicidade

- Admite-se que os princípios que regulam as causas de justificação vêm


de todo o campo do Direito, assim como dos costumes.

- A antijuridicidade de Roxin deixa bastante claro o seu raciocínio


político-criminal – exemplo do campesino paralítico, que desfere
disparo de arma de fogo para evitar o furto de suas frutas: nos casos
de crimes de bagatela a necessidade preventivo-geral é mínima,
devendo-se fazer análise de proporcionalidade. Não se deve, portanto,
falar em legítima defesa!

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Direito penal – Parte geral I

- d) Culpabilidade: passa a ser denominada de RESPONSABILIDADE,


composta por CULPABILIDADE e NECESSIDADE DE PREVENÇÃO

- Culpabilidade é apenas um dos elementos que determinam a


responsabilidade penal

- Exemplo do torturador que pretende descobrir o cativeiro da vítima –


há culpabilidade, mas há também necessidade preventiva da pena a
ser imposta? Não! Portanto, não há responsabilidade penal.

- Por culpabilidade, Roxin entende a realização do injusto apesar da


idoneidade da pessoa de ser destinatário das normas – idônea para a
norma é qualquer pessoa que esteja em condições de compreender
as proibições e mandados penais, sendo capaz de se orientar nesse
sentido.

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Direito penal – Parte geral I

- Quais elementos da culpabilidade persistem no modelo de Roxin?


Talvez fique apenas a imputabilidade – potencial consciência e
exigibilidade de conduta diversa carregadas de elementos
preventivos????

- Coação moral irresistível e estado de necessidade exculpante estariam


ligados à necessidade da pena - tratam-se, em verdade, de
ponderação de interesses!!!! Não aceitam valoração preventiva!!!

- Culpabilidade, então, desnaturada quanto aos elementos retributivos


– até porque sistema montado para ser prevencionista não admite
institutos retributivos

- Culpabilidade é retributiva na essência - Retribuição é fundamento


ético do direito penal - densidade ética ligada ao fato - representa
limite aos interesses preventivos da pena

- Caráter retributivo da culpabilidade olha para trás – prevenção olha


para o futuro
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Direito penal – Parte geral I

- Roxin tenta fixar importância retributiva na culpabilidade como


condição para a análise prevencionista da necessidade de pena – é
pensamento incongruente – muitos afirmam que, por isso, percebe-se
que o próprio autor não acredita nos propósitos da sua teoria

- Sínteses críticas:

- a) MAIOR INSEGURANÇA por conta da flexibilidade dos institutos


dogmáticos – aumento da b) CONFUSÃO ENTRE AS FINALIDADES das
categorias que definem analiticamente o crime – c) VIÉS UTILITARISTA
que possibilita a concretização de premissas contrárias às garantias do
Estado de Direito – permite-se uma expansão do direito penal e, com
isso, a flexibilização de garantias individuais (SILVA SANCHEZ.
Aproximación al derecho penal contemporâneo)

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Direito penal – Parte geral I

- Funcionalização ilimitada das categorias do conceito crime que são


essenciais ao estado de direito – dogmática perde seu caráter crítico
de limitação da atividade legislativa (Laura Zúñiga Rodriguez)

- D´Avila: direito penal deve apresentar fundamentos em racionalidade


estabelecida por valores que não deem prioridade à eficiência, mas
sim à legitimidade do próprio sistema – os fundamentos do direito
penal não podem se confundir com sua função! – ilícito não está na
necessidade da pena, mas sim na DIGNIDADE DA PROIBIÇÃO PENAL.
(D’AVILA. Liberdade e segurança em direito penal)

- D’Avila fala em equívoco metodológico: Roxin afirma aquilo que quer


corrigir: em sistemas puramente conceituais há vazio axiológico, o que
permite alta abstração – se a normatização depende da política
criminal para ganhar concretude, o que resta à normatividade?
Conceitos vagos!! (D’AVILA. Ofensividade em direito penal)

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Direito penal – Parte geral I

- Política criminal e seu conceito: política criminal deve satisfazer


muitas finalidades no sistema de Roxin – torna-se recurso meramente
retórico
- Crítica de PRITTWITZ – prevenção é tão difícil de ser demonstrada
quanto as questões que Roxin quis superar com seu funcionalismo –
existe, então, RACIONALISMO FUNCIONAL??
- IDEIA: busca por uma normatividade crítica:
- Dogmática penal deve ser revista sempre na busca de convergir
direitos garantias fundamentais – dogmática penal deve ser espaço
de princípios e regras como elementos de sua identidade - esses
princípios e regras não são política criminal
- “à pura racionalidade opõem-se a axiologia e à eficiência a validade”
(Castanheira Neves)

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Direito penal – Parte geral I

MPE/MT - O funcionalismo da Escola de Munique, liderada por Claus Roxin,


apregoa que a teoria do delito não pode ficar alheia aos postulados
político-criminais que norteiam o Direito Penal e descreve a necessidade da
penetração da política criminal na dogmática.

MPE/MT - O funcionalismo da Escola de Bonn, encabeçada por Günther


Jakobs, está orientado a garantir a identidade normativa. O crime será uma
falta de lealdade ao direito e a pena será o recurso necessário para
estabilizar o sistema.

MPE/MT - O objetivo de um sistema penal está em estruturar os elementos


fundamentais que integram o conceito de crime. O funcionalismo penal
avança um pouco mais e propõe a construção de uma estrutura conceitual
que atenda à função do Direito Penal.

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Direito penal – Parte geral I

(2019 - CESPE - TJ-DFT - Titular de Serviços de Notas e de Registros) A


respeito da teoria do delito e da ação, assinale a opção correta.
a) A teoria finalista de Hans Welzel define que a ação consiste no mero movimento
corporal capaz de alterar o mundo exterior, independentemente da intenção do agente.
b) A ação, no neokantismo, é o movimento corporal impregnado de finalidade para se
atingir o propósito consciente almejado pelo agente.
c) A teoria causalista do delito propõe que o dolo e a culpa, por estarem situados na
conduta, tornam o injusto penal a parte subjetiva do conceito de crime.
d) A teoria funcionalista radical, de Gunther Jackobs, assevera que a missão do direito
penal é a proteção da norma e a punição do indivíduo desviante.
e) A ação, na teoria do funcionalismo sistêmico, de Claus Roxin, designa o exercício de
uma atividade final, que direciona a conduta humana ao ato consciente e voluntário
para o cometimento do crime.

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Direito penal – Parte geral I

CONDUTA PUNÍVEL
(não há crime sem conduta)

- “Segundo a teoria finalista da ação, considera-se equivocada a ideia


de ser a conduta um mero movimento corporal despido de
finalidade, pois o que caracteriza o ser humano, ontologicamente, é,
justamente, a capacidade de poder prever, dentro de certos limites,
as consequências possíveis de sua atividade, e dirigi-la, conforme o
planejado, até atingir os seus objetivos.” (PGR)

- Não há em nosso Código Penal um conceito que defina o que deve


ser considerado como conduta punível

- Conduta: ação ou omissão, consciente e voluntária tendente a um


fim
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Direito penal – Parte geral I

AUSÊNCIA DE CONDUTA

- Ausência de comportamento humano: efeitos naturais,


comportamentos de animais não humanos e quaisquer outros
fenômenos que não tenham origem causal no ser humano não
podem gerar efeitos penais;
- Coação física irresistível (vis absoluta): agente é compelido
fisicamente – falta vontade;
- Ausência de consciência: quando o ser humano age sem a exata
ciência daquilo que está executando ou deixando de executar.
Exemplos clássicos são o sonambulismo, o sonho, o desmaio, entre
outros;
- Atos reflexos: não há vontade - também conhecidos por atos
puramente somáticos – estão fora do âmbito de controle daquele
que o executa.
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Direito penal – Parte geral I

CONDUTA OMISSIVA

- Omissivos próprios: conduta típica descreve simplesmente o não agir


do agente

- Omissivos impróprios (comissão por omissão): tipicidade se dá em


razão de uma cláusula geral de equiparação da omissão à ação positiva
prevista no Código Penal, especificamente no art. 13, §2º.

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Direito penal – Parte geral I

- FATO TÍPICO - ELEMENTOS – fato humano indesejado, limitado pela


intervenção mínima, consistente em a) CONDUTA, produtora de b)
RESULTADO, com c) NEXO CAUSAL, com ajuste formal e material d)
TIPICIDADE.

- ESPÉCIES DE CONDUTA: DOLO e CULPA – elementos subjetivos do


tipo
DOLO: Conceito: desejar ou aceitar a produção de determinado
resultado típico - dolo aqui é natural (também chamado de neutro), e
diz respeito apenas à vontade do agente de praticar os elementos
objetivos e normativos do tipo

- ELEMENTOS DO DOLO:
- INTELECTÍVEL/COGNITIVO – consciência
- VOLITIVO – vontade
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Direito penal – Parte geral I

- TEORIAS DO DOLO:

- TEORIA DA VONTADE: vontade consciente de produzir o resultado


típico.

- TEORIA DA REPRESENTAÇÃO: agente prevê o resultado – mesmo


assim, segue! Acaba por abranger a culpa consciente (acredita-se
que resultado não se dará)

- TEORIA DO CONSENTIMENTO/ASSENTIMENTO: agente prevê o


resultado – mesmo assim decide continuar, assumindo o risco de
produzi-lo.

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Direito penal – Parte geral I

Juiz/PR - No que se refere ao dolo no Código Penal, quatro teorias


podem ser destacadas, quais sejam, teoria da vontade; teoria do
assentimento; teoria da representação e teoria da probabilidade.
Por teoria da vontade, entende-se que o dolo seria a vontade livre e
consciente de querer praticar a ação penal, vale dizer, de querer
levar a efeito a conduta prevista no tipo penal incriminador.

- Art. 18 - Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o


resultado (teoria da vontade) ou assumiu o risco de produzi-lo
(teoria do consentimento)

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Direito penal – Parte geral I

ESPÉCIES DE DOLO:

- DIRETO/DETERMINADO: quando o agente quer determinado


resultado, dirigindo sua conduta para realizá-lo.

- INDIRETO/INDETERMINADO: agente não busca resultado certo e


determinado
a) ALTERNATIVO – conduta dirigida para um ou outro resultado
(mesma vontade);
DPE/MS - O dolo alternativo consiste na vontade e consentimento
do agente a produzir um ou outro resultado.

b) EVENTUAL – conduta dirigida para realizar uma conduta pré-


estabelecida, assumindo o risco de produzir outras.

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Direito penal – Parte geral I

MPE-SC - O dolo pode ser direto (ou determinado) ou indireto (ou


indeterminado). Nesta última hipótese (dolo indireto), pode ser
eventual (o agente, conscientemente, admite e aceita o risco de
produzir o resultado) ou alternativo (a vontade do agente visa a um
ou outro resultado).

TJ/RS - O elemento diferenciador entre o dolo eventual e a culpa


consciente é a previsão concreta e subjetiva do resultado.
DPE/MT - Existe algum ponto de semelhança entre as condutas
praticadas com culpa consciente e com dolo eventual? Sim, pois,
tanto na culpa consciente quanto no dolo eventual, o agente prevê
o resultado.
DOLO DIRETO DE 2º GRAU: agente prevê determinado resultado e
seleciona meios para vê-lo realizado. Assume efeitos colaterais do
meio escolhido.
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Direito penal – Parte geral I

Juiz/PR - Dentre as espécies de dolo, pode-se distinguir o dolo


direto e o dolo indireto. O dolo direto pode ser classificado como
dolo direto de primeiro grau e dolo direto de segundo grau, sendo
que o dolo direto em relação ao fim proposto e aos meios
escolhidos é classificado como de primeiro grau, e em relação aos
efeitos colaterais, representados como necessários, é classificado
como de segundo grau.

DOLO DE 2º GRAU X DOLO EVENTUAL – NO DOLO DE 2º GRAU O


RESULTADO PARALELO É CERTO E NECESSÁRIO – NO EVENTUAL O
RSULTADO PARALELO É POSSÍVEL, EVENTUAL

FGV/MPE-RJ - Jorge pretende matar seu desafeto Marcos. Para


tanto, coloca uma bomba no jato particular que o levará para a
cidade de Brasília. Com 45 minutos de voo, a aeronave executiva
explode no ar em decorrência da detonação do artefato, vindo a
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Direito penal – Parte geral I

falecer, além de Marcos, seu assessor Paulo e os dois pilotos que


conduziam a aeronave. Considerando que, ao eleger esse meio
para realizar o seu intento, Jorge sabia perfeitamente que as demais
pessoas envolvidas também viriam a perder a vida, o elemento
subjetivo de sua atuação em relação à morte de Paulo e dos dois
pilotos é o dolo direto de segundo grau.
CLASSIFICAÇÃO:
- DOLO CUMULATIVO: agente quer dois resultados em sequência (ex:
estupro e, em seguida, homicídio)
- DOLO DE DANO: agente quer causar lesão ao bem jurídico tutelado.
- DOLO DE PERIGO: agente quer só expor à risco o bem jurídico
tutelado.
- DOLO GENÉRICO: agente realiza a conduta descrita no tipo sem um
específico.
- DOLO ESPECÍFICO: agente quer a conduta com um fim específico. Ex:
art. 299
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Direito penal – Parte geral I

PRETERDOLO: Agravação pelo resultado

Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde


o agente que o houver causado ao menos culposamente.

- SÃO VÁRIOS OS CRIMES AGRAVADOS PELO RESULTADO:

a) crimes dolosos agravados dolosamente (ex: homicídio qualificado);


b) crimes culposo agravados culposamente (ex: incêndio qualificado
pela morte);
c) crimes culposos agravados dolosamente (ex: homicídio culposo
qualificado pela omissão de socorro);
d) crime doloso agravado culposamente (ex: lesão corporal seguida
de morte) – SÓ ESTA É CHAMADA DE PRETERDOLO

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Direito penal – Parte geral I

No PRETERDOLO - agente pratica algo distinto do que pretendia fazer,


advindo resultado mais grave, que é decorrente de culpa – há concurso
de dolo e culpa no mesmo fato – figura HÍBRIDA.

- ELEMENTOS: a) conduta dolosa pretendendo determinado


resultado; b) resultado mais grave do que aquele pretendido; c) nexo
causal – ex: lesão corporal seguida de morte.

CESPE/Câmara dos Deputados - Ocorre crime preterdoloso quando o


agente pratica dolosamente um fato do qual decorre um resultado
posterior culposo. Para que o agente responda pelo resultado
posterior, é necessário que este seja previsível. C

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Direito penal – Parte geral I

- CULPA: Conceito: conduta que produz resultado criminoso não


querido pelo agente (previsto ou previsível) e que podia ser
evitado. Art. 33, II, do CPM, traz conceito - II - culposo, quando o
agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência
ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das
circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou,
prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que
poderia evitá-lo.
- ELEMENTOS DA CULPA:
1- VONTADE: só na conduta – não no resultado.

VUNESP/MPE-MS - O resultado involuntário trata de elemento do


fato típico culposo.
CESPE/PC-DF - O crime culposo advém de uma conduta involuntária.
ERRADO.
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Direito penal – Parte geral I

2- VIOLAÇÃO DO DEVER DE CUIDADO OBJETIVO – IMPRUDÊNCIA


(afoiteza), NEGLIGÊNCIA (falta de precaução), IMPERÍCIA (falta de
capacitação técnica).
- IMPRUDÊNCIA: Ausência de um cuidado necessário, proporcional ao risco
que a conduta emana. É a ação, sempre comissiva, afoita, na qual o agente
não se cerca dos cuidados inerentes às consequências que pode causar.
Caracteriza-se pela intempestividade, precipitação ou imoderação do agente.
Exemplo: motorista embriagado.
- NEGLIGÊNCIA: É a omissão inerente à conduta que devia ser praticada
pelo agente e que, pelo lapso, permitiu a produção de resultado criminoso.
Ao contrário da imprudência, que se dá enquanto o agente pratica a conduta,
a negligência caracteriza-se antes. É um deixar de agir que ocorre antes da
conduta que ofenderá a norma penal.
IMPERÍCIA: É a falta de aptidão técnica no desempenho de arte, profissão
ou ofício. Importante dizer que se o resultado criminoso for praticado por
pessoa que não é profissional da área haverá imprudência e não imperícia.
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Direito penal – Parte geral I

FUNCAB – PC-PA - há culpa quando o sujeito ativo,


voluntariamente, descumpre um dever de cuidado, provocando
resultado criminoso por ele não desejado.
TRT/14/Juiz - A imperícia é a culpa técnica, em que o agente mostra-
se inabilitado para o exercício de determinada profissão, embora
possa estar credenciado por diploma, que é mera presunção de
competência.
3- RESULTADO NATURALÍSTICO – em regra só material. Há exceção:
art. 38 da Lei 11.343/06 – prescrever drogas em desacordo com
determinação
4- PREVISIBILIDADE: possibilidade de conhecer o perigo
DPE/MT - NÃO é elemento constitutivo do crime culposo: a
imprevisibilidade.
5- NEXO CAUSAL: conduta e resultado

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Direito penal – Parte geral I

6- TIPICIDADE: expressa previsão legal – art. 18, parágrafo único, do


CP
FAURGS/TJ-RS - O ordenamento jurídico brasileiro adota o princípio
da excepcionalidade do crime culposo
- ESPÉCIES DE CULPA:
- CULPA CONSCIENTE: agente prevê o resultado, mas acredita que
não irá ocorrer, supondo poder evitar com sua habilidade – CULPA
COM PREVISÃO
- CULPA INCONSCIENTE: agente não prevê o resultado, que,
entretanto, era previsível – CULPA SEM PREVISÃO
- CULPA PRÓPRIA: agente não quer e não assume o risco de
produzir o resultado.

- CULPA IMPRÓPRIA: aquela oriunda da descriminante putativa – Art.


20, § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado
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Direito penal – Parte geral I

pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria


a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de
culpa e o fato é punível como crime culposo.

- RESULTADO É INTENCIONAL, MAS, se evitável, RESPONDERÁ POR


CULPA.
CESPE/TCE-SC - A culpa imprópria ocorre nas hipóteses de
descriminantes putativas em que o agente, em virtude de erro
evitável pelas circunstâncias, dá causa dolosamente a um resultado,
mas responde como se tivesse praticado um delito culposo.
CUIDADO: não há compensação de culpas no DP, mas quando
concorrentes pode atenuar a pena.
CESPE/DEPU - No direito penal brasileiro, admite-se a compensação
de culpas no caso de duas ou mais pessoas concorrerem
culposamente para a produção de um resultado naturalístico,
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Direito penal – Parte geral I

NEXO CAUSAL

NEXO CAUSAL: vínculo entre conduta e resultado – busca descobrir se


o resultado se deu em razão da conduta e se pode ser atribuído ao
agente do comportamento.

CAUSA - TODA CONDUTA SEM A QUAL O RESULTADO NÃO SE DARIA


COMO OCORREU – CAUSALIDADE SIMPLES

- Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente


é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou
omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. adotou a
causalidade simples – teoria da equivalência dos antecedentes
causais ou “conditio sine qua non”.

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Direito penal – Parte geral I

FCC/NOSSA CAIXA/Advogado - Teoria da equivalência das condições:


quaisquer das condições que compõem a totalidade dos
antecedentes é causa do resultado, pois a sua inocorrência impediria
produção do evento. C
- PARA SABER SE AS CONDUTAS SÃO DETERMINANTES APLICA-SE A
TEORIA DA ELIMINAÇÃO HIPOTÉTICA DOS ANTECEDENTES CAUSAIS

- No campo mental da suposição ou cogitação, o aplicador deve


proceder a eliminação da conduta para concluir pela persistência
ou desaparecimento do resultado. Persistindo o resultado a
conduta hipoteticamente eliminada não é causa. Desaparecendo é
causa do resultado.

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Direito penal – Parte geral I

- CAUSALIDADE SIMPLES – PERMITE REGRESSO AO INFINITO – é


controlada pelo DOLO e pela CULPA.

CESPE/DPE-RR - De acordo com preceito expresso no CP, a relação


de causalidade limita-se aos crimes materiais. C

- CONCAUSAS – PLURALIDADE DE CAUSAS QUE CONCORREM PARA


O MESMO EVENTO.
FCC/TCE-SP - Concausa é a confluência de uma causa na produção
de um mesmo resultado, estando lado a lado com a ação do
agente. C
- ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE: causa efetiva não tem relação
com a causa concorrente – causa concorrente sempre a título de
tentativa.
- RELATIVAMENTE INDEPENDENTE: causa efetiva tem relação, ainda
que indiretamente, com a causa concorrente
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Direito penal – Parte geral I

CESPE/PC-BA - As causas ou concausas absolutamente


independentes e as causas relativamente independentes
constituem limitações ao alcance da teoria da equivalência das
condições. CORRETO

- ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE:

PREEXISTENTE - causa efetiva existe antes da causa concorrente: Ex:


Agente ingere veneno e depois leva tiros. Morre por conta do
envenenamento – Absolutamente independente - Causador da
causa concorrente responde por tentativa.
CONCOMITANTE - causa efetiva surge junto com a causa
concorrente. Ex: Vítima está sendo envenenada e no mesmo tempo
leva um tiro – causa morte é o disparo - Absolutamente
independente - causa concorrente (envenenamento) a título de
tentativa. Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

SUPERVENIENTE - causa efetiva surge depois da causa concorrente.


Ex: Vítima sofre envenenamento e depois tem lesão por conta de um
desabamento que lhe provoca a morte – Absolutamente
independente – causa concorrente (envenenamento) a título de
tentativa.
- RELATIVAMENTE INDEPENDENTE:
PREEXISTENTE – Ex: vítima sofre lesão corporal e morre,
efetivamente, por conta da hemofilia que possuía. Lesão é a causa
concorrente que tem relativa independência com o resultado –
causa concorrente a título de consumação, mas tem que ter ciência
da hemofilia para se evitar responsabilidade penal objetiva.
CONCOMITANTE – Ex: vítima sofre um tiro e, por conta do susto, teve
um ataque do coração e morreu. Causa efetiva foi ataque cardíaco –
tiro foi causa concorrente de relativa independência - causa
concorrente a título de consumação.
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Direito penal – Parte geral I

SUPERVENIENTE – vítima sofre um tiro e é mal atendida no hospital


e, por erro médico, morre. São causas relativamente independentes
– erro médico é uma decorrência previsível na linha de
acontecimentos (infecção hospitalar também é) – causa concorrente
sofre com o resultado consumado.
- Mesmo exemplo – mas a vítima está sendo atendida e a ala pega
fogo e a vítima, por isso, morre – É causa relativamente
independente (pois só morreu queimada porque estava no hospital)
– fogo não é previsível na linha de acontecimentos. Causa
concorrente responde pela tentativa.
Art. 13, § 1º, do CP - A superveniência de causa relativamente
independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o
resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os
praticou. CAUSALIDADE ADEQUADA
MPE-SC/Promotor de Justiça - Na hipótese do sujeito, na
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Direito penal – Parte geral I

condução de um ônibus pela via pública, colidir com um poste que


sustenta fios elétricos, um dos quais, caindo ao chão, atinge um
passageiro ileso e já fora do veículo, provocando a sua morte em
decorrência da forte descarga elétrica recebida, corresponde a
causa superveniente relativamente independente. C
- TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA:
Causalidade simples: causa objetiva vai até o infinito (nexo físico) e é
controlada pelo DOLO e pela CULPA – TEORIA DA IMPUTAÇÃO
OBJETIVA surgiu para colocar um freio aqui – Acrescenta um nexo
normativo composto: a) criação ou incremento de risco não
tolerado pela sociedade; b) realização do risco no resultado
(resultado na mesma linha de desdobramento causal do risco); c)
risco abrangido pelo tipo.
MPE-MG/Promotor de Justiça - Sobre a moderna teoria da
imputação objetiva, elaborada sob a ótica do funcionalismo penal,
Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

é correto afirmar que a tipicidade é reformulada, com forte carga


axiológica, a partir da ideia central de risco. C

- Ex: acidente de carro - montador do carro e motorista são causa.


Para a imputação objetiva só o motorista – montador não criou
risco não tolerado.
- Questão prática:
- DIMINUIÇÃO DO RISCO: não há possibilidade de imputação se
autor modifica curso causal de modo que o perigo já existente para
a vítima seja diminuído, melhorando a situação do objeto da ação.
Ex: “A” empurra “B” ao chão para que não seja atingido por um
objeto arremessado. Solução tradicional trabalharia estado de
necessidade. Teoria da imputação objetiva diz que sequer causa é.
- CAUSALIDADE NA OMISSÃO:
- PRÓPRIA – pouco importa o resultado – são crimes de mera
conduta - importa apenasProf.
a conduta
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negativa
Direito penal – Parte geral I

- IMPRÓPRIA – omissão como causadora do resultado – não nexo


naturalístico, mas sim NEXO NORMATIVO – vínculo é jurídico.

TIPICIDADE

- Para doutrina clássica – TIPICIDADE como mera


subsunção/enquadramento FATO/NORMA = FORMAL
- Para doutrina moderna – TIPICIDADE FORMAL + TIPICIDADE
MATERIAL (relevância da lesão/perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado)
FCC/TCE-AP - Denomina-se tipicidade a adequação do fato concreto
com a descrição do fato delituoso contida na lei penal. C
CUIDADO - tipos penais são caracterizados pela compreensão de três
estruturas: título, preceito primário (tipos incriminadores e tipos
permissivos) e preceito secundário
Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

CESPE/MPE-RR - O dispositivo legal que prevê o estado de


necessidade é uma norma penal não incriminadora permissiva
justificante porque tem por finalidade afastar a ilicitude da conduta
do agente. C
FCC/PGE-RR - Em matéria de tipicidade o uso de expressões
"indevidamente", "sem justa causa" representa a presença, no tipo,
de um elemento normativo. C
- TIPICIDADE FORMAL:
- DIRETA/IMEDIATA: um só dispositivo na adequação típica. Ex:
homicídio simples consumado.
- INDIRETA/MEDIATA: necessidade de mais de um dispositivo
para a adequação típica. Ex: homicídio tentado – art. 121, c/c
art. 14, II - NORMAS DE EXTENSÃO – dispositivos que servem
para concretizar a TIPICIDADE INDIRETA.
MPE-GO - No crime tentado, aplica-se norma de extensão do
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Direito penal – Parte geral I

tipo penal, ampliando-se temporalmente a figura típica (adequação


típica de subordinação mediata). C

TIPOS SIMPLES E MISTO

SIMPLES: formados por uma única conduta - há, como regra, apenas
um verbo descritivo do conteúdo do crime. Ex: art. 121 do CP

MISTOS: mais de uma conduta punível - mais de um verbo apto a


gerar repercussão penal. Podem ser classificados como mistos
alternativos ou cumulativos - exemplo, cita-se o art. art. 242 do CP:
“Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem;
ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito
inerente ao estado civil”.

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Direito penal – Parte geral I

- SUJEITOS ATIVO E PASSIVO DO TIPO PENAL

Sujeito ativo do crime é o agente que desempenha determinada


conduta capaz de se amoldar à redação legal. É o autor do delito,
aquele que implementa ação ou omissão possível de ser subsumida
aos elementos abstratos que formam a figura típica.
Há crimes que delimitam o sujeito ativo – CRIMES PRÓPRIOS – não
confundir com crimes de mão própria

Sujeito passivo do crime refere-se ao titular do bem jurídico agredido

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Direito penal – Parte geral I

- CUIDADO: TIPICIDADE CONGLOBANTE – tipicidade formal +


CONGLOBANTE (material + atos antinormativos – não
determinados ou não incentivados por lei) - ZAFFARONI
- Ex: Oficial de Justiça, com força policial, que penhora bens do
devedor – conduta produtora de resultado enquadra-se
formalmente no roubo – lícita por estrito cumprimento do dever
legal. Para a CONGLOBANTE o ato não é antinormativo – é
determinado por lei - NÃO CHEGA A SER SEQUER TÍPICO.

- ORDENAMENTO JURÍDICO pressupõe ORDEM (SISTEMA DE


REGRAS). Processo Civil pode determinar algo que seja típico do
ponto de vista penal? Fere a ORDEM LEGAL
UFPR/DPE-PR - Segundo a teoria da tipicidade conglobante, o

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Direito penal – Parte geral I

fato não é típico por falta de lesividade quando se cumpre um dever


jurídico e quando se pratica uma ação fomentada pelo direito. C

- IMPORTANTE: o ESTRITO CUMPRIMENTO DE UM DEVER LEGAL e o


EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO INCENTIVADO não mais excluem
a ilicitude e sim a TIPICIDADE.

- Estado de necessidade e legítima defesa continuam na ILICITUDE –


pois meramente tolerados pela lei – não incentivados ou
determinados.

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Direito penal – Parte geral I

RESULTADO

- Resultado –
- A) NATURALÍSTICO: da conduta vem alteração física do mundo
exterior. Nem todos os crimes possuem.
- B) NORMATIVO: da conduta resulta lesão ou perigo de lesão ao
bem jurídico tutelado. Todos os crimes tem resultado
normativo.

- CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES QUANTO AO RESULTADO:


- A) MATERIAL – resultado naturalístico é descrito e
indispensável para consumação

FCC/PGE-SE - Crimes materiais são aqueles em que a lei


descreve a conduta do agente e o seu resultado. C
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Direito penal – Parte geral I

FCC/TRT4 - Consumam-se com o resultado os crimes omissivos


impróprios e materiais. C

- B) FORMAL – resultado naturalístico é dispensável – é mero


exaurimento

FUNDEP/TJ-MG - Quando o resultado do crime surge ao mesmo


tempo em que se desenrola a conduta como no crime de injúria
verbal, é correto defini-lo como crime formal. C

- C) MERA CONDUTA – tipo penal descreve uma mera conduta


sem resultado natural

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Direito penal – Parte geral I

- CRIME TENTADO e CRIME CONSUMADO


TENTATIVA/DELITO IMPERFEITO – realização incompleta da
conduta típica – não há a descrição – aplica-se norma de extensão –
art. 14, II, do CP. – é um acessório da figura típica principal.

- TEORIA OBJETIVA: o objetivo da punição da tentativa está no


efetivo perigo que corre o bem jurídico com o início dos atos de
EXECUÇÃO – ADOTADA PELO CP. Art. 14, II - tentado, quando,
iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à
vontade do agente.
- Também TEORIA SUBJETIVA: reflexo penal deve incidir sobre a
tentativa nos mesmos moldes do crime consumado, sendo
prescindível a análise valorativa quanto ao resultado. Albergada
pela expressão “Salvo disposição em contrário”, no início da
redação do parágrafo único do art. 14. Ex: Art. 352 do CP - Evadir-
se ou tentar evadir-se...
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Direito penal – Parte geral I

CESPE/DPU - Em relação à tentativa, adota-se, no Código Penal, a


teoria subjetiva, salvo na hipótese de crime de evasão mediante
violência contra a pessoa. E

MPE-MS - Relativamente à tentativa, o Código Penal Brasileiro


adotou, como regra, a teoria objetiva. C

CESPE/MPE-RO - A pena imposta ao conatus, de acordo com a teoria


subjetiva é motivada pelo perigo a que é exposto o bem jurídico. E

- CAMINHO DO CRIME (ITER CRIMINIS):

- COGITAÇÃO (fase interna): ideia


- PREPARAÇÃO: ponte entre a fase interna e a execução. Atos
que começam a materializar a intenção, sem, contudo, configurar a

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Direito penal – Parte geral I

execução do tipo.

EXECUÇÃO: é a realização da conduta ditada pelo tipo – TEORIAS


SUBJETIVA E OBJETIVA

SUBJETIVA: não se considera qualquer diferença entre as fases da


preparação e execução para a punibilidade, devendo o agente que for
encontrado em uma ou outra responder pelo crime consumado, pois o
fator decisivo aqui é a vontade do sujeito de obter com sua conduta
determinado resultado criminoso.
OBJETIVAS: considera como execução os atos que se evidenciam como
de realização do núcleo da conduta típica, aqueles frente aos quais se
pode afirmar constituírem-se de ações tendentes a realizar o(s)
verbo(s) da redação que descreve o delito - critérios que dependem
de um observador a fornecer elementos acerca do quanto foi
exteriorizado pelo sujeito ativo a ponto de se poder afirmar iniciada a
execução.
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Direito penal – Parte geral I

TEORIA OBJETIVO-FORMAL: atos executórios são aqueles que


exteriorizam o núcleo verbal do tipo.
TEORIA OBJETIVO-MATERIAL: execução seriam também os atos
imediatamente anteriores ao início da ação tipificada, sendo tidos
como aqueles indissociáveis para a sua prática
TEORIA OBJETIVO-INDIVIDUAL: atos de execução não são apenas os
que dão início à ação típica, mas também os praticados imediatamente
antes, desde que se tenha prova do plano do autor. Não há aqui, ao
contrário do que ocorre com a teoria objetivo-material, o método do
terceiro observador, sendo substituído pela necessidade de prova que
ligue o ato à efetiva execução dos elementos do tipo legal de crime.
TEORIA DA HOSTILIDADE AO BEM JURÍDICO: execução inicia-se quando
as condutas retiram o “estado de paz” do bem jurídico - Atos de
execução seriam apenas os que efetivamente tenham condições de
lesionar o bem jurídico.
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Direito penal – Parte geral I

A teoria objetivo-formal, mitigada pela teoria da hostilidade ao bem


jurídico são as majoritariamente adotadas pelo Direito Penal
brasileiro. Ganha, entretanto, cada vez mais espaço a teoria objetivo-
individual, do jurista argentino Eugênio Raúl Zaffaroni

TRF4/Juiz - No Código Penal Brasileiro, a tentativa do crime é marcada


pelo início da realização do tipo, tomando-se em consideração,
sobretudo, a expressão que emprega a lei para designar a conduta
proibida. CORRETO

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Direito penal – Parte geral I

- CONSUMAÇÃO: momento de conclusão no qual estão reunidos


os elementos da definição típica.

- MERO EXAURIMENTO: obtenção do resultado naturalístico sem


que esse seja necessário para a consumação – crimes formais.
CRITÉRIO PARA A DIMINUIÇÃO: iter criminis percorrido – 1/3~2/3.
Quanto mais perto da consumação, menor a diminuição.

VUNESP/TJ-SP/Juiz - Conforme o disposto no artigo 14, parágrafo


único, do Código Penal, “Salvo disposição em contrário, pune-se a
tentativa com a pena correspondente ao crime consumado,
diminuída de um a dois terços”. O critério de diminuição da pena
levará em consideração o iter criminis percorrido pelo agente.
CORRETO

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Direito penal – Parte geral I

ESPÉCIES DE TENTATIVA

a) BRANCA OU INCRUENTA: o objeto material do crime sequer é


atingido;
b) PERFEITA OU CRIME FALHO: agente exaure todas as condutas
que planejou, mas não obtém o resultado esperado;
c) IMPERFEITA OU INACABADA: agente deixa de executar todos os
meios que desejava pôr em prática e por isso não perpetra seu
intento;
d) TENTATIVA FALHA: quando agente não prossegue, imaginando
impedimento que não existe.

CESPE/TRE-GO - Configura-se tentativa incruenta no caso de o


agente não conseguir atingir a pessoa ou a coisa contra a qual
deveria recair sua conduta. CORRETO
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Direito penal – Parte geral I

IBFC/MP-SP - Tentativa imperfeita é aquela em que o agente inicia


a execução sem, contudo, utilizar dos meios que tinha à sua
disposição, não se consumando o crime, por circunstâncias alheias
à sua vontade. CORRETO
MPE-PR/Promotor de Justiça - No dito “crime falho” ou “tentativa
perfeita”, apesar do agente realizar toda a fase de execução do
crime, o resultado não ocorre por circunstâncias independentes de
sua vontade. CORRETO

- CRIMES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA: a) CULPOSOS (há quem


aceite na culpa imprópria - descriminante putativa); b)
PRETERDOLOSOS; c) UNISSUBSISTENTES; d) OMISSIVOS PRÓPRIOS;
e) HABITUAIS (condutas isoladas não interessam); f)
CONTRAVENÇÕES (tentativa não é punida); g) CRIME DE ATENTADO
(a própria tentativa é crime – art. 352 – “evadir-se ou tentar se
evadir”
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Direito penal – Parte geral I

CESPE/TJ-BA - É admissível a tentativa tanto nos crimes


plurissubsistentes quanto nos crimes unissubsistentes. E
FUNDEP/TJ-MG - Nos chamados crimes de atentado, a tentativa é
equiparada ao crime consumado, havendo a aplicação da teoria
subjetiva. C
FUNDEP/TJ-MG - Não se admite a tentativa, em regra, nos delitos
culposos, preterdolosos, unissubsistentes, omissivos próprios,
habituais próprios e nas contravenções penais. C
CUIDADO: “No que concerne à alegada incompatibilidade entre o
dolo eventual e o crime tentado, tem-se que o Superior Tribunal de
Justiça possui jurisprudência no sentido de que "a tentativa é
compatível com o delito de homicídio praticado com dolo
eventual, na direção de veículo automotor". (AgRg no REsp
1322788/SC, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma,
julgado em 18/06/2015, DJe 03/08/2015).
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Direito penal – Parte geral I

- TENTATIVA ABANDONADA - QUANDO RESULTADO NÃO SE DÁ POR


CIRCUNSTÂNCIAS PRÓPRIAS DO AGENTE: A) DESISTÊNCIA
VOLUNTÁRIA; B) ARREPENDIMENTO EFICAZ.
- DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA – abandono voluntário dos atos de
execução.
CUIDADO: desistência momentânea – agente desiste para seguir mais
tarde – se desistiu porque achava-se em situação menos favorável
para a obtenção do resultado que almejada, deve responder pela
tentativa. Outros dizem que não existe desistência nessa hipótese.

- ARREPENDIMENTO EFICAZ – desistência que acontece entre o fim


dos atos de execução e a consumação. Agente fez tudo que podia,
mas resolve agir para impedir a consumação. Ex: envenenamento
em que o agente leva a vítima ao hospital e lhe salva – AFASTA-SE A
PUNIBILIDADE DO AGENTE.
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Direito penal – Parte geral I

- PARA AMBOS OS INTITUTOS a consequência jurídica é: RESPONDO


APENAS PELO QUE FIZ, desconsiderando-se a tentativa daquilo que
pretendia.
- ARREPENDIMENTO POSTERIOR – reparação de dano causado ou
restituição da coisa subtraída. SÓ EM CRIMES SEM VIOLÊNCIA OU
GRAVE AMEAÇA – ATÉ O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA – causa de
redução de pena (um a dois terços)

- CRITÉRIOS PARA REDUÇÃO DA PENA: a) espontaneidade; b)


rapidez na devolução
MPDFT - É possível identificar, quanto ao aspecto objetivo,
desistência voluntária e tentativa imperfeita, de um lado, e
arrependimento eficaz e tentativa perfeita, de outro: no primeiro
caso, o iter criminis é interrompido na fase de execução; no
segundo, os atos de execução se esgotam sem a produção do
resultado. CORRETO
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Direito penal – Parte geral I

- CRIME IMPOSSÍVEL/INÚTIL/QUASE CRIME/TENTATIVA INIDÔNEA:


tentativa impunível porque agente usa meios ABSOLUTAMENTE
incapazes ou volta-se contra objetos absolutamente impróprios,
fazendo ser impossível a consumação.
- Fundamentos do crime impossível:
TEORIA SUBJETIVA: ainda que a ação ou omissão esteja abarcada por
alguma das hipóteses do crime impossível deve invocar punição, pois
para esta teoria não há distinção entre condutas idôneas ou inidôneas
no que se relaciona com o resultado. Justifica-se a intervenção penal
exclusivamente em função do intento do agente no momento da
perpetração do comportamento destinado ao fim criminoso.
CESPE/TRE-GO - De acordo com a teoria subjetiva, aquele que se
utilizar de uma arma de brinquedo para ceifar a vida de outrem
mediante disparos, não logrando êxito em seu desiderato,
responderá pelo delito de tentativa de homicídio. CORRETO
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Direito penal – Parte geral I

TEORIA SINTOMÁTICA: leva em consideração a periculosidade do


agente que estabelece seu comportamento em determinado intento
delitivo. Reconhece-se a impossibilidade da obtenção do resultado,
mas não se descarta que a conduta, mesmo impossível de gerar
ofensa ao bem jurídico, necessita de proteção penal, haja vista a
insegurança social que reproduz. Invoca, assim, a necessidade da
aplicação de medida de segurança.
CESPE/MPE-RO/Promotor de Justiça - Segundo a teoria sintomática,
examina-se, no que se refere à punibilidade da tentativa inidônea,
se a realização da conduta do agente é a revelação de sua
periculosidade. C
TEORIA OBJETIVA: evidencia que diante da impossibilidade do bem
jurídico sofrer abalo decorrente da conduta que se analisa não pode
haver reação jurídico-penal. Esta teoria pode ser dividida em (a)
PURA, para quem tanto faz se a ineficácia do meio empregado ou a
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Direito penal – Parte geral I

impropriedade do objeto sobre o qual incide a conduta é relativa ou


absoluta. Não tendo havido lesão, não se discute potencialidade
lesiva da ação ou omissão; (b) TEMPERADA: apenas reconhece como
crime impossível a conduta que absolutamente mostra-se ineficaz no
ataque ao bem juridicamente protegido. É essa a teoria adotada pelo
Código Penal brasileiro.

FESMIP-BA/Promotor de Justiça - O artigo 17 do CP versa sobre


crime impossível, que, no direito penal brasileiro, é tratado sob o
amparo da teoria objetiva temperada, exigindo a ineficácia absoluta
dos meios ou impropriedade absoluta do objeto. CORRETO
CESPE/BACEN - O Brasil adota, em relação ao crime impossível, a
teoria objetiva temperada, segundo a qual os meios empregados e o
objeto do crime devem ser absolutamente inidôneos a produzir o
resultado idealizado pelo agente. CORRETO
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Direito penal – Parte geral I

CUIDADO: CRIME IMPOSSÍVEL X CRIME PUTATIVO


CRIME PUTATIVO - agente supõe determinado status que apenas existe
no seu imaginário. Idealiza estar cometendo crime, quando, de fato,
pratica conduta atípica.
CRIME IMPOSSÍVEL - o que torna a conduta atípica é a sua relação
absolutamente inidônea quanto ao meio escolhido para a efetivação do
delito ou absolutamente imprópria frente ao objeto material sobre o
qual incide.
CESPE/TJ-CE - Crime impossível e delito putativo são considerados pela
doutrina como expressões sinônimas. E
CESPE/DPE-ES - O crime impossível caracteriza-se pela ineficácia
absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, não
ocorrendo a consumação do crime; nesse delito, considerado putativo
pela doutrina, o agente acredita estar agindo ilicitamente, quando, na
verdade, não está. C
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Direito penal – Parte geral I

MPE-PR - o crime impossível não se confunde com o denominado


delito putativo, pois este último consiste na prática de uma conduta
que o autor acredita ser, erroneamente, típica. Assim, há delito
putativo quando o autor crê ser punível uma conduta que, na verdade,
é atípica. C
Crime putativo é comumente dividido em três espécies:
1) Crime putativo por erro de tipo: quando o agente erra em relação a um
dos elementos definidores do tipo penal, afastando o reflexo penal.
Evidencia-se no clássico exemplo do agente que vende substância que
imagina ser alguma daquelas taxadas como droga ilícita.
2) Crime putativo por erro de proibição: o agente supõe a existência de norma
penal repressora quanto à sua conduta. É também tido como delito por
alucinação. Exemplo pode ser o do casal de irmãos, maiores e capazes, que
mantém relacionamento amoroso e esconde essa realidade do meio social no
qual vivem por receio de estar efetivando comportamento criminoso, quando,
em verdade, tal conduta não encontra descrição típico-penal.
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Direito penal – Parte geral I

3) Crime putativo por meio de agente provocador (crime de ensaio,


flagrante provocado): quando a pessoa, provocada por outrem, pratica
conduta pretendendo atacar determinado bem jurídico, mas que não
será atingido porque o provocador tem absoluto domínio para evitar a
consumação do delito.

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Direito penal – Parte geral I

ERRO DE TIPO

Falsa percepção da realidade – recai sobre as elementares,


circunstâncias ou qualquer outro dado agregado ao tipo penal

Constitui erro de tipo, nessa lógica, a conduta do agente que se


equivoca quanto a elemento que compõe a narrativa típico-penal,
produzindo, como consequência, a prática de determinado crime
quando imaginava estar executando conduta diversa, não criminosa.
Trata-se de um engano sobre os elementos descritivos ou normativos
que integram o tipo legal, pois o sujeito age conforme determinada
descrição típica desconhecendo aquilo que realmente está perpetrando,
já que a conduta que pensa estar desempenhando não está
acontecendo no mundo real, caracterizando-se, por erro seu, figura
delitiva.
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Direito penal – Parte geral I

FMP-RS/TJ-AC - O erro de tipo, uma vez constatado, sempre exclui o


dolo.
TRF4/Juiz - No erro de tipo está viciada a previsibilidade, impedindo
que o dolo atinja corretamente todos os elementos essenciais do
tipo, o que não impede a configuração do crime culposo.

- CUIDADO: ERRO DE TIPO (não tem percepção da realidade) x


ERRO DE PROIBIÇÃO (tem percepção da realidade, mas ignora a
ilicitude do seu comportamento)

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Direito penal – Parte geral I

- ESPÉCIES DE ERRO DE TIPO:

ESSENCIAL (dados essenciais do tipo. Ex: matar alguém achando


ser animal): inevitável ou evitável

ACIDENTAL (dados periféricos do tipo. Ex: subtrair um quilo de sal


achando ser açúcar): sobre o objeto, sobre a pessoa, na execução,
resultado diverso do pretendido, sobre o nexo causal

- ESSENCIAL: Art. 20, caput, do CP - O erro sobre elemento


constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a
punição por crime culposo, se previsto em lei.

- Inevitável/invencível/desculpável: exclui DOLO e CULPA – por


ser erro tira a consciência; por ser inevitável não permite
previsibilidade – não podia ser evitado.
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Direito penal – Parte geral I

- Evitável/vencível/indesculpável: exclui DOLO, permite punição


por culpa. Evitável tem previsibilidade – podia ter sido evitado
com mediana prudência.

CESPE/TJ-AM/Juiz - O erro de tipo inevitável exclui o dolo e a culpa.c

- ACIDENTAL:
- Sobre o objeto: sem previsão legal. Agente representa mal a
realidade, atingido objeto diferente do que queria. Não exclui
DOLO, não exclui CULPA e não isenta de pena. Responde por ter
acertado a coisa atingida. Zaffaroni – in dubio pro reo.

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Direito penal – Parte geral I

OAB - Exame de Ordem Unificado - XII - Primeira Fase - Bráulio, rapaz de 18 anos,
conhece Paula em um show de rock, em uma casa noturna. Os dois, após
conversarem um pouco, resolvem dirigir-se a um motel e ali, de forma consentida, o
jovem mantém relações sexuais com Paula. Após, Bráulio descobre que a moça, na
verdade, tinha apenas 13 anos e que somente conseguira entrar no show mediante
apresentação de carteira de identidade falsa.

A partir da situação narrada, assinale a afirmativa correta.

Alternativas
A Bráulio deve responder por estupro de vulnerável doloso.
B Bráulio deve responder por estupro de vulnerável culposo.
C Bráulio não praticou crime, pois agiu em hipótese de erro de tipo essencial.
D Bráulio não praticou crime, pois agiu em hipótese de erro de proibição direto.

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Direito penal – Parte geral I

Sobre a pessoa: art. 20, §3º, do CP – agente escolha mal a pessoa


visada, atingida outra. Não exclui DOLO, não exclui CULPA e não
isenta de pena.

Aplica-se teoria da equivalência – transferência do dolo. § 3º - O


erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta
de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou
qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente
queria praticar o crime.

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Direito penal – Parte geral I

- Erro na execução (aberratio ictus): Não exclui DOLO, não exclui


CULPA e não isenta de pena. art. 73 do CP – Simples/sentido
estrito: aplica a regra do erro sobre a pessoa. Complexo/sentido
amplo: concurso formal perfeito.
- Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis): Não exclui
DOLO, não exclui CULPA e não isenta de pena. Art. 74 do CP.
Somente na relação coisa X pessoa. Desconsidera-se o dolo e
pune-se apenas pelo resultado alcançado na forma culposa.
- Erro causal (aberratio causae): Não exclui DOLO, não exclui CULPA
e não isenta de pena. Não tem previsão legal.

- ERRO PROVOCADO POR TERCEIRO: art. 20, §3º, do CP – erro não


espontâneo. Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.
- Quem determina dolosamente o erro reponde por crime
doloso. Se por culpa, culposo. FIGURA DO AUTOR MEDIATO.
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Direito penal – Parte geral I

Para o terceiro enganado – percebeu o erro e quis ou aceitou o


resultado – dolo. Se era previsível – culpa. Se imprevisível – atípico.
- ERRO SOBRE A PESSOA: Trata-se da teoria da equivalência, pois a
vítima atingida passa a equivaler-se à desejada pelo autor para
efeito da definição das penas.
TRT22ª/Juiz - O erro sobre a pessoa, não isenta o acusado de pena.

VUNESP/TJ-SP/Juiz – No erro sobre a pessoa há representação


equivocada da realidade, pois o agente acredita tratar-se a vítima
de outra pessoa. Trata-se de vício de elemento psicológico da ação.
Não isenta de pena e se consideram as condições ou qualidades da
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. CORRETO
CUIDADO: erro de subsunção – gera no máximo atenuante de pena.
Ex: falsificação de cheque de banco privado – é tido como
documento público, embora o agente achasse que fosse particular.
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Direito penal – Parte geral I

DESCRIMINANTES PUTATIVAS: Descriminantes são as situações


justificantes nas quais, por conta da existência de tipos permissivos,
fica excluída a ilicitude do fato típico. São chamadas de putativas
quando imaginárias, ou seja, quando só existem nos limites
estabelecidos pelo próprio agente que erra ao idealizar estar
autorizado a agir por norma excludente de ilicitude.

Descriminantes putativas podem ser divididas em Duas espécies:


a) Erro quanto aos pressupostos fáticos de uma causa de exclusão de
ilicitude: É o caso do clássico exemplo do agente que se depara com seu
desafeto e, imaginando que será atacado, o agride antes. Configurado nessa
hipótese o erro de tipo, já que o agente não conhecia situação fática. Por
isso, se inevitável o erro, restam afastados dolo e culpa, mas se tido como
evitável, afasta-se tão somente o dolo, mantida hígida a possibilidade de
punição por culpa;

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Direito penal – Parte geral I

b) Erro quanto à existência de uma causa de excludente de ilicitude:


Não erra aqui imaginando condição que lhe permitiria agir, como na
espécie anterior, eis que interpreta bem os acontecimentos, mas
imagina que a situação é mais uma daquelas previstas como causa
excludente de ilicitude. Deve ser trabalhada como erro de proibição,
pois o agente age desconsiderando os limites legais da conduta porque
não os conhece. Quando o erro for tido como inevitável, haverá
isenção de pena, caso seja visto como evitável, implicará no máximo
em redução de pena.

CESPE/STM/Analista Judiciário – A descriminante putativa por erro de


proibição, na hipótese de suposição errônea acerca de causa excludente de
ilicitude, é considerada erro de proibição indireto e gera as mesmas
consequências do erro de proibição direto.

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Direito penal – Parte geral I

2º SUBSTRATO DO CRIME – ILICITUDE

- Antijuridicidade ou ilicitude ocupa o segundo posto no mapa teórico


destinado a estabelecer o conceito de crime - pode ser compreendida
como o desvalor de determinada conduta humana frente ao Direito

- TPICIDADE x ILICITUDE:

- TEORIA DA AUTONOMIA OU ABSOLUTA INDEPENDÊNCIA - sem


qualquer relação (Beling)

- TEORIA DA INDICIARIEDADE (RATIO CONGNOSCENDI) – fato típico


autoriza presumir que tem-se um fato ilícito. Inverte-se o ônus da
prova – defesa. (Mayer).

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Direito penal – Parte geral I

- TEORIA DA ABSOLUTA DEPENDÊNCIA (RATIO ESSENDI) – ilicitude


como essência da tipicidade. Sem ilicitude, não há fato típico. TIPO
TOTAL (Mezger) – ônus da ilicitude é da acusação.

- TEORIA DOS ELEMENTOS NEGATIVOS DO TIPO – mesmo resultado


da anterior, porém por motivo diverso. Tipo enquanto elementos
positivos e negativos – fato típico matar alguém (positivo) desde
que não acobertado pelos elementos negativos (excludentes de
ilicitude)

- CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE – DESCRIMINANTES –


JUSTIFICANTES – GERAIS, ESPECIAIS E SUPRALEGAIS
- As gerais estão no art. 23 do CP - Não há crime quando o agente
pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
direito Prof. Marcelo Pertille
Direito penal – Parte geral I

FGV/TCM-RJ - São consideradas causas legais de exclusão da ilicitude:


estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular do direito e
estrito cumprimento do dever legal. C

- Especiais - Art. 128; art. 142; art. 146, §3º, I; art. 150, §3º, I e II; art.
156, §2º; Lei 6.538/78 (art. 10); art. 1.210, §1º, do Código Civil; e Lei
9.605 (art. 37, I).

Supralegal – consentimento do ofendido

MPE-BA - O consentimento do ofendido só é admitido em caso de bem


jurídico disponível e capacidade do ofendido para consentir. C

MPE-GO - Sobre o consentimento do ofendido, é correto dizer que na


doutrina nacional prospera o entendimento de que o consentimento
do ofendido pode excluir a tipicidade do fato ou a ilicitude. C
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- ESTADO DE NECESSIDADE:
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato
para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem
podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício,
nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. § 1º - Não pode alegar
estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o
perigo. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito
ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.

- CONCEITO: quem pratica fato típico, sacrificando bem jurídico para


salvar de perigo atual direito próprio ou de terceiro – o sacrifício do
bem que quer proteger, nas circunstancias, não era razoável exigir-
se. DOIS BENS EM PERIGO DE LESÃO, ESTADO PERMITE QUE SEJA
SACRIFICADO UM DELES

- REQUISITOS: OBJETIVOS e SUBJETIVOS


- OBJETIVOS: Prof. Marcelo Pertille
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A) PERIGO ATUAL – presente. Não tem destinatário certo. Pode ser


por comportamento humano, animal ou fato da natureza. Perigo
deve ser real – não imaginário.
B) PERIGO NÃO CAUSADO VOLUNTARIAMENTE PELO AGENTE – quem
causou dolosamente o perigo não pode alegar E.N. – o causador
culposo pode.
C) DIREITO PRÓPRIO ou ALHEIO (de terceiro) – não precisa de
autorização do terceiro.
D) INEXISTÊNCIA DO DEVER LEGAL DE ENFRENTAMENTO – não pode
alegar quem tem o dever LEGAL de enfrentar o perigo. Ex:
bombeiros – não se exige atos de heroísmo - Dever legal de
enfrentamento – todos do art. 13, § 2º, a, b, c.
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de
outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c)
com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do
resultado.
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Direito penal – Parte geral I

MPE-PR – O dever de enfrentar o perigo é norma que impede a


exclusão da ilicitude por estado de necessidade. C

E) INEVITABILIDADE DO COMPORTAMENTO LESIVO – comportamento


deve ser absolutamente inevitável para salvar o direito – não basta ser
o meio mais cômodo.
F) INEXIGIBILIDADE DE SACRIFÍCIO DO INTERESSE AMEAÇADO –
proporcionalidade entre bem protegido X bem sacrificado

FCC/TCE-SP/Procurador – No estado de necessidade deve haver


proporcionalidade entre a gravidade do perigo que ameaça o bem
jurídico e a gravidade da lesão causada. C
- TEORIA DIFERENCIADORA – estado de necessidade justificante (bem
protegido vale mais que o sacrificado) – exclui a ilicitude X exculpante
(bem protegido vale igual ou menos que o bem sacrificado) - exclui a
culpabilidade - CPM adotou essa.
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FUMARC/TJM-MG – O Código Penal Militar adotou a teoria


diferenciadora, aproximando-se do Código Penal Comum de 1969,
que sequer entrou em vigor. C

- TEORIA UNITÁRIA – só reconhece o justificante (bem protegido vale


mais ou igual ao sacrificado) – exclui ilicitude - Se o bem jurídico
protegido vale menos que o sacrificado – redução de pena. CP adotou
essa – art. 24, §2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do
direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.
- SUBJETIVO: conhecimento da situação justificante. Deve saber que
está inserido em situação de salvamento de bem jurídico.

MPE-PR – O direito penal brasileiro adota a teoria unitária do estado


de necessidade, reconhecendo-o unicamente como causa de
justificação. C
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Direito penal – Parte geral I

PUC-PR/Juiz – No que se refere ao instituto do estado de


necessidade, para que se possa diferenciar o estado de necessidade
justificante e exculpante, pode-se destacar as denominadas teorias
unitária e diferenciadora, sendo que para a unitária, todo estado de
necessidade é justificante, ou seja, tem a finalidade de eliminar a
ilicitude do fato típico praticado pelo agente. C

- CLASSIFICAÇÃO: a) REAL (existe efetivamente o perigo); b)


PUTATIVO (perigo imaginário) – não exclui a ilicitude; c) Quanto ao
terceiro: 1) defensivo (sacrifício de bem do causador do perigo) ; 2)
agressivo (sacrifício de bem de terceiro)

MPE-MG – Ocorre o estado de necessidade defensivo quando a


conduta do agente atinge um interesse de quem causou a situação
de perigo. CORRETO
CESPE/MPE-RO – Age em estado de necessidade agressivo o
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Direito penal – Parte geral I

indivíduo que, ao caminhar em via pública, mata um cachorro que o


ataca ao se soltar da coleira de seu dono. E

- CUIDADO: ESTADO DE NECESSIDADE NOS CRIMES HABITUAL e


PERMANENTE – NÃO!

- LEGÍTIMA DEFESA:
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão,
atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

IMPORTANTE: diferenças
- Estado de necessidade: A) situação de perigo que põe em conflito
bens jurídicos. B) Perigo decorre de comportamento
humano/animal/fato da natureza. C) perigo não tem destinatário
certo. D) interesses em conflito são legítimos. E) é possível estado
de necessidade X estado de necessidade
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- LEGÍTIMA DEFESA: A) há ameaça ou ataque à bem jurídico; B)


trata-se de uma agressão humana - uma pessoa é atacada por
outra. C) tem destinatário certo. D) interesses do agressor são
ilegítimos. E) não é possível legítima defesa X legítima defesa.

- REQUISITOS DA LEGÍTIMA DEFESA:


- OBJETIVOS:
A) AGRESSÃO INJUSTA – conduta humana que ataca ou coloca em
perigo bens jurídicos de alguém. É possível legítima defesa de
omissão injusta (ex: agente penitenciário que se recusa a cumprir
alvará de soltura)
FUNDEP/DPE-MG - Para repelir a arremetida de um cão feroz, o
agente usa uma arma de fogo matando o animal. O animal tinha
sido instado ao ataque pelo seu dono, o que era do conhecimento
do agente. O agente praticou o fato em legítima defesa. C
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Direito penal – Parte geral I

B) AGRESSÃO ATUAL/IMINENTE – agressão passada é vingança.


Futura é mera suposição.
C) USO MODERADO DOS MEIOS NECESSÁRIOS – dano menos lesivo
dentre oscapazes de repelir a injusta agressão.
D) PROTEÇÃO DO DIREITO PRÓPRIO OU DE OUTREM (terceiro)

- SUBJETIVO: conhecimento da situação justificante. Ciência de que


está em L.D.
- CLASSIFICAÇÃO:
- REAL: injusta agressão existe efetivamente
- PUTATIVA: injusta agressão é imaginária – Admite-se L.D. X L.D.
Putativa – Putativa X Putativa

MPE-PR - Há possibilidade de legítima defesa real de legítima


defesa putativa. C
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- SUBJETIVA: excesso exculpável na legítima defesa, pois qualquer


pessoa nas mesmas circunstâncias se excederia – hipótese de
inexigibilidade de conduta diversa (exclui a culpabilidade – CAUSA
SUPRALEGAL DE inexigibilidade de conduta diversa)

- SUCESSIVA: ocorre na repulsa contra o excesso abusivo do agente.

DPE/DF - Nos termos do Código Penal e na descrição da excludente


de ilicitude, haverá legítima defesa sucessiva na hipótese de
excesso, que permite a defesa legítima do agressor inicial. C

IMPORTANTE: PACOTE ANTICRIME INSERIU PARÁGRAFO ÚNICO


Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-
se também em legítima defesa o agente de segurança pública que
repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante
a prática de crimes.
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ATENÇÃO!!

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 779

RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI REQTE.(S) :PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA ADV.(A/S)


:PAULO ROBERTO IOTTI VECCHIATTI E OUTRO(A/S) INTDO.(A/S) :PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) :ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO AM. CURIAE. :ASSOCIACAO BRASILEIRA DAS
MULHERES DE CARREIRA JURIDICA.

1 “Legítima defesa da honra” não é, tecnicamente, legítima defesa. A traição se encontra


inserida no contexto das relações amorosas. Seu desvalor reside no âmbito ético e moral, não
havendo direito subjetivo de contra ela agir com violência. Quem pratica feminicídio ou usa de
violência com a justificativa de reprimir um adultério não está a se defender, mas a atacar
uma mulher de forma desproporcional, covarde e criminosa. O adultério não configura uma
agressão injusta apta a excluir a antijuridicidade de um fato típico, pelo que qualquer ato
violento perpetrado nesse contexto deve estar sujeito à repressão do direito penal.
2. A “legítima defesa da honra” é recurso argumentativo/retórico odioso, desumano e cruel
utilizado pelas defesas de acusados de feminicídio ou agressões contra a mulher para imputar
às vítimas a causa de suas próprias mortes ou lesões. Constitui-se em ranço, na retórica de
alguns operadores do direito, de institucionalização da desigualdade entre homens e
mulheres e de tolerância e naturalização da violência doméstica, as quais não têm guarida na
Constituição de 1988.
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Direito penal – Parte geral I

3. Tese violadora da dignidade da pessoa humana, dos direitos à vida e à igualdade entre
homens e mulheres (art. 1º, inciso III , e art. 5º, caput e inciso I, da CF/88), pilares da ordem
constitucional brasileira. A ofensa a esses direitos concretiza-se, sobretudo, no estímulo à
perpetuação da violência contra a mulher e do feminicídio. O acolhimento da tese tem a
potencialidade de estimular práticas violentas contra as mulheres ao exonerar seus
perpetradores da devida sanção.
4. A “legítima defesa da honra” não pode ser invocada como argumento inerente à plenitude
de defesa própria do tribunal do júri, a qual não pode constituir instrumento de salvaguarda
de práticas ilícitas. Assim, devem prevalecer a dignidade da pessoa humana, a vedação a
todas as formas de discriminação, o direito à igualdade e o direito à vida, tendo em vista os
riscos elevados e sistêmicos decorrentes da naturalização, da tolerância e do incentivo à
cultura da violência doméstica e do feminicídio.
5. Na hipótese de a defesa lançar mão, direta ou indiretamente, da tese da “legítima defesa
da honra” (ou de qualquer argumento que a ela induza), seja na fase pré-processual, na fase
processual ou no julgamento perante o tribunal do júri, caracterizada estará a nulidade da
prova, do ato processual ou, caso não obstada pelo presidente do júri, dos debates por
ocasião da sessão do júri, facultando-se ao titular da acusação recorrer de apelação na forma
do art. 593, III, a, do Código de Processo Penal.

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6. Medida cautelar parcialmente concedida para (i) firmar o entendimento de que a tese da
legítima defesa da honra é inconstitucional, por contrariar os princípios constitucionais da
dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF), da proteção à vida e da igualdade de
gênero (art. 5º, caput, da CF); (ii) conferir interpretação conforme à Constituição aos arts.
23, inciso II, e 25, caput e parágrafo único, do Código Penal e ao art. 65 do Código de
Processo Penal, de modo a excluir a legítima defesa da honra do âmbito do instituto da
legítima defesa; e (iii) obstar à defesa, à acusação, à autoridade policial e ao juízo que
utilizem, direta ou indiretamente, a tese de legítima defesa da honra (ou qualquer
argumento que induza à tese) nas fases pré-processual ou processual penais, bem como
durante o julgamento perante o tribunal do júri, sob pena de nulidade do ato e do
julgamento.
7. Medida cautelar referendada.

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- ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL: Art. 23, III, primeira


parte, do CP - CONCEITO – em regra para agentes públicos, pois
nas suas atividades, não rara vezes, devem agir interferindo na
esfera privada dos cidadãos,
exatamente para assegurar o cumprimento da lei (sentido amplo).
Com limites aceitáveis essa intervenção é aceitável pelo estrito
cumprimento do dever que decorre de lei. Ex: dever das autoridades
de exercer o flagrante (eventuais lesões)
- REQUISITOS:
A) PROPORCIONALIDADE
B) RAZOABILIDADE
C) CONHECIMENTO DA SITUAÇÃO JUSTIFICANTE
CESPE/SEFAZ-ES - O estrito cumprimento do dever legal é causa
excludente de ilicitude, aplicada principalmente a agentes públicos
ou que exercem função pública. C
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- CUIDADO: se adotada a TIPICIDADE CONGLOBANTE exclui-se o fato


típico
MPE-AM - A assertiva: “a conduta expressa e previamente
consagrada como um direito ou um dever será sempre atípica,
pouco importando a subsunção formal ao tipo”, está relacionada
com a tipicidade conglobante. C

- EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO: Art. 23, III, segunda parte, do CP.

CONCEITO: compreende ações do cidadão comum (Bittencourt


discorda) autorizadas pela existência de direito definido em lei e
condicionadas à regularidade do exercício desse direito.

- O termo “direito” deve ser lido aqui como o gozo de tudo aquilo que
é direta ou indiretamente reconhecido e admitido pelo conjunto
legal. Reconhece-se, entretanto, que parte importante da doutrina
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entende que a descriminalizante serve apenas para direitos previstos


em lei, não abrangendo, por exemplo, aqueles oriundos dos
costumes.

- ESPÉCIES:
A) PRO MAGISTRATU – Estado não pode estar presente para
evitar lesão ao bem jurídico ou recompor a ordem – Ex: art. 301
do CPP – flagrante facultativo
B) DIREITO DE CASTIGO – exercício do poder familiar

- REQUISITOS:
A) INDISPENSABILIDADE
B) PROPORCIONALIDADE
C) CONHECIMENTO DA SITUAÇÃO JUSTIFICANTE
- CUIDADO: se adotada a TIPICIDADE CONGLOBANTE exclui-se o fato
típico
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CESPE/MPE-RO/Promotor de Justiça - Segundo a teoria do


funcionalismo moderado, caso um lutador de boxe mate o
adversário no ringue, o fato deverá ser considerado atípico, uma vez
que o agente somente comete fato materialmente típico se criar
riscos proibidos pelo direito; tal posicionamento contraria a
doutrina tradicional, que caracteriza o fato como exercício regular
de direito. C

EXCESSO NAS JUSTIFICANTES: Art. 23, parágrafo único - O agente,


em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso
doloso ou culposo.
- EXCESSO CRASSO: quando o agente, desde o princípio, atua fora
dos limites legais. Ex: matar por furto de uma laranja.
- EXCESSO EXTENSIVO (EXCESSO NA CAUSA): quando o agente
reage antes da efetiva agressão (futura e esperada). Não
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exclui a ilicitude, podendo, conforme for, excluir a culpabilidade – é


causa de INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA. Ex: pessoa que sabe
que um desafeto comprou arma para matá-la.

- EXCESSO INTENSIVO: quando o agente que inicialmente agia


dentro do direito, diante de uma situação fática agressiva,
intensifica a ação justificada e ultrapassa os limites permitidos.
Reação moderada passa a imoderada. Excesso dolo – dolo.
Culposo, culpa. Sem dolo e culpa – erro inevitável.
- EXCESSO ACIDENTAL: quando o agente ao reagir moderadamente,
por acidente, causa lesão além da reação moderada.

CUIDADO: OFENDÍCULO – aparato preordenado para a defesa do


patrimônio. Ex: cacos de vidros , cerca elétrica, animal (cuidado com o
cão bravo!)
- NATUREZA JURÍDICA: Enquanto não acionado o ofendículo será
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EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO. Quando acionado passa a ser


LEGÍTIMA DEFESA.

OFFICIUM/TJ-RS/Juiz - Os ofendículos são causa de exclusão da


ilicitude, tratados pela doutrina como forma de exercício regular de
direito ou de legítima defesa preordenada. C

- EXCESSO NAS JUSTIFICANTES: Art. 23, parágrafo único - O agente,


em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso
doloso ou culposo.
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- EXCESSO CRASSO: quando o agente, desde o princípio, atua fora


dos limites legais. Ex: matar por furto de uma laranja.
- EXCESSO EXTENSIVO (EXCESSO NA CAUSA): quando o agente reage
antes da efetiva agressão (futura e esperada). Não exclui a ilicitude,
podendo, conforme for, excluir a culpabilidade – é causa de
INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA. Ex: pessoa que sabe que um
desafeto comprou arma para matá-la.
- EXCESSO INTENSIVO: quando o agente que inicialmente agia dentro
do direito, diante de uma situação fática agressiva, intensifica a ação
justificada e ultrapassa os limites permitidos. Reação moderada
passa a imoderada. Excesso dolo – dolo. Culposo, culpa. Sem dolo e
culpa – erro inevitável.
- EXCESSO ACIDENTAL: quando o agente ao reagir moderadamente,
por acidente, causa lesão além da reação moderada.
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Direito penal – Parte geral I

MPE-MG – Sobre o estado de necessidade, o agente responderá


pelo excesso doloso ou culposo, aplicando-se a mesma regra
prevista para o excesso na legítima defesa. C

MPE-SC - Segundo a doutrina majoritária, em apenas uma das


causas de exclusão de ilicitude previstas no artigo 23 do Código
Penal Brasileiro, a legítima defesa, pode ocorrer excesso doloso. E

CONSENTIMENTO DO OFENDIDO: causa supralegal de exclusão da


ilicitude - fruto da teoria da ponderação dos valores, que determina
que o reflexo penal deve ser proporcional ao ataque e ao prejuízo
mensurado pelo detentor do bem agredido.
- REQUISITOS:
A) o não consentimento não pode estar no tipo. Se tiver
consentimento exclui-se a tipicidade – Ex: violação de domicílio (art.
150 do CP)
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Direito penal – Parte geral I

Para a caracterização do delito o agente deve entrar ou permanecer


em casa alheia, ou em suas dependências, contra a vontade expressa
ou tácita de quem de direito. Havendo consentimento tem-se a
atipicidade da conduta.
B) ofendido tem que ser capaz de consentir.
C) consentimento válido e expresso (tem quem admita o tácito).
D) bem disponível
E) bem próprio
F) consentimento antes ou durante a execução – se o consentimento
vem depois da execução não exclui a ilicitude, mas pode extinguir a
punibilidade – renúncia/perdão aceito na ação privada.

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3º SUBSTRATO DO CRIME - CULPABILIDADE

Culpabilidade pode ser definida como o nível de reprovação que merece o


agente pela prática de determinado fato típico e ilícito. É o juízo de valor
sobre a conduta criminosa. Representa o juízo de valor sobre os elementos
normativos que definem (a) a capacidade de o sujeito suportar uma sanção
penal, (b) a possibilidade que teve de conhecer a ilicitude do que perpetrou
e (c) a condição de ter sido ou não exigível dele uma conduta diferente
daquela exercida.

- TEORIAS DA CULPABILIDADE:

A) TEORIA PSICOLÓGICA – base CAUSALISTA. IMPUTABILIDADE como


elemento - Dolo e Culpa como espécies.
MPE-PR - Para teoria psicológica - conceito influenciado pelo pensamento
positivista -, a culpabilidade não possuía qualquer elemento normativo, sendo
uma relação psicológica entre o agente e o fato, sendo a imputabilidade
considerada como pressuposto. C
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B) TEORIA PSICOLÓGICA NORMATIVA – base NEOKANTISTA.


Elementos: IMPUTABILDADE, EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA,
DOLO e CULPA

C) TEORIA NORMATIVA PURA OU EXTREMADA – base FINALISTA.


Elementos: IMPUTABILIDADE, EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA
e POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE – DOLO e CULPA migram
para a conduta. Dolo passa a ser natural, sem o elemento normativo
consciência da ilicitude.

D) TEORIA LIMITADA – a principal divergência com a EXTREMADA


está na natureza jurídica da descriminante putativa sobre
pressupostos fáticos. Para esta, equipara-se a erro de tipo. Para a
EXTREMADA é mais uma hipótese de erro de proibição.
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Direito penal – Parte geral I

CESPE/PGE-BA - Em direito penal, conforme a teoria limitada da


culpabilidade, as discriminantes putativas consistem em erro de
tipo, ao passo que, de acordo com a teoria extremada da
culpabilidade, elas consistem em erro de proibição. E

CUIDADO: CULPABILIDADE COMO SUBSTRATO DO CRIME REFERE-SE


AO AGENTE, analisando o grau de censura a ser aplicada ao agente.
IMPORTANTE: coculpabilidade - reconhecimento da responsabilidade
que deve ser atribuída ao Estado por não dar a todos os indivíduos as
mesmas oportunidades de autodeterminação.
CEPERJ/PC-RJ - coculpabilidade reconhece que o Estado também é
responsável pelo cometimento de determinados delitos, praticados
por cidadãos que possuem menor âmbito de autodeterminação
diante das circunstâncias do caso concreto, principalmente no que
se refere às condições sociais e econômicas do agente. C

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Direito penal – Parte geral I

- COCULPABILIDADE ÀS AVESSAS:
MPE-GO - A outra face da teoria da coculpabilidade pode ser
identificada como a coculpabilidade às avessas, por meio da qual
defende-se a possibilidade de reprovação penal mais severa no
tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas de elevado
poder econômico, e que abusam desta vantagem para a execução
de delitos. C
- ELEMENTOS DA CULPABILIDADE:
- IMPUTABILIDADE – capacidade que deve reunir o agente para
compreender a ilicitude do fato e também comportar-se conforme
essa compreensão. Indivíduo deve demonstrar saúde mental e
equilíbrio psicológico frente ao caso concreto. Conceito é alcançado a
partir do momento em que são definidas pelo Código Penal as causas
de inimputabilidade. A lei penal não conceituou imputabilidade,
prevendo, contudo, situações destinadas ao seu afastamento.
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Direito penal – Parte geral I

- SISTEMA BIOPSICOLÓGICO: capacidade do agente de entender o


caráter ilícito da sua conduta (sistema biológico) e de se comportar
de acordo com esse entendimento (psicológico).
- Art. 26, caput - É isento de pena o agente que, por doença mental
ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.

CEFET/MPE-BA - O Código Penal Brasileiro adotou o critério


biológico em relação à inimputabilidade em razão da idade e o
critério biopsicológico em relação à inimputabilidade em razão de
doença mental. C
CESPE/TJ-ES - No direito penal, o critério adotado para aferir a
inimputabilidade do agente, como regra, é o biopsicológico. C
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Direito penal – Parte geral I

- HIPÓTESES DE INIMPUTABILIDADE: a) doença mental e


desenvolvimento mental incompleto ou retardado; b) menoridade;
c) embriaguez completa e involuntária.
a) DOENÇA MENTAL ou DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO
OU RETARDADO – INTEIRAMENTE INCAPAZ – absolvição
imprópria – medida de segurança.
CUIDADO – se o agente não for “inteiramente incapaz” será
condenado com pena diminuída – SEMI-IMPUTÁVEL
CESPE/PF - Considere que joão, maior de dezoito anos de idade,
tenha praticado crime de natureza grave, sendo, por consequência,
processado e, ao final, condenado. considere, ainda, que, no curso da
ação penal, tenha sido constatado pericialmente que joão, ao tempo
do crime, tinha reduzida a capacidade de compreensão ou vontade,
comprovando-se a sua semi-imputabilidade. nessa situação, caberá a
imposição cumulativa de pena, reduzida de um terço a dois terços e
de medida de segurança. E
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Direito penal – Parte geral I

b) MENORIDADE (sistema biológico): art. 27 do CP – basta ser menor


de 18 anos – presunção juris et de iure – presunção absoluta.
INTERESSANTE: Convenção Americana de Direitos Humanos fala só
MENOR – cada país define a sua idade.
IMPORTANTE: maioridade penal do agente fica determinada no
primeiro instante do dia do seu aniversário.
CESPE/TJ-CE - De acordo com o entendimento do STJ, aquele que
pratica um crime no mesmo dia em que tenha completado dezoito
anos é considerado inimputável. ERRADO
UPENET/PM-PB - Digamos que o menor de 18 (dezoito) anos “A” atire
dolosamente contra a vítima que vem a falecer após a maioridade de
“A”. Sobre o fato narrado, o tempo do crime e a regra geral adotada no
Código Penal brasileiro, analise os itens a seguir: O Código Penal não
pode ser aplicado, uma vez que deve ser considerado o momento da
ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. C
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Direito penal – Parte geral I

c) EMBRIAGUEZ INVOLUNTÁRIA E COMPLETA: art. 28, §1º, do CP.

§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa,


proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação
ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento
- EMBRIAGUEZ: Intoxicação aguda do organismo em razão do álcool
ou substancia de efeitos análogos – FASES: EUFORIA, AGITAÇÃO,
COMA - Embriaguez é completa a partir da constatação dos efeitos
da segunda fase

CUIDADO: Reconhecida a embriaguez completa, há de se investigar,


para a constatação da inimputabilidade, se foi proveniente de caso
fortuito ou força maior
- CASO FORTUITO quando o indivíduo não toma conhecimento de
que está exposto ao álcool ou substancia de efeito análogo.
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Direito penal – Parte geral I

Na FORÇA MAIOR o agente não tem controle sobre a situação


inebriante – exemplo quando é forçado a ingerir álcool ou qualquer
outra substância que lhe comprometa a consciência
CUIDADO: EMBRIAGUEZ INVOLUNTÁRIA E COMPLETA – isenta de
pena; EMBRIAGUEZ INVOLUNTÁRIA E INCOMPLETA – redução de
pena; EMBRIAGUEZ VOLUNTÁRIA/PREORDENADA (actio libera in
causa) – agravante de pena

- ACTIO LIBERA IN CAUSA: “a causa da causa também é a causa do


que foi causado” - agente, ao tempo da conduta, de fato pode não
ter capacidade exigida como condição para a imputabilidade, assim
considera-se o dolo ou a culpa no momento anterior ao da
embriaguez, quando o agente iniciou o consumo da substância capaz
de lhe alterar a autodeterminação
CESPE/DPE-ES - É isento de pena o agente que, por embriaguez
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Direito penal – Parte geral I

completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, tenha sido, ao


tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento. C
CESPE/TJ-PB - A embriaguez, ainda que voluntária, que cause ao
agente de crime plena incapacidade de entender o caráter ilícito do
fato é motivo de isenção de pena. E

IMPORTANTE: Não há motivos para a aplicação dessa teoria quando a


embriaguez é involuntária, haja vista que sendo proveniente de caso
fortuito ou força maior a situação não dá ao agente a possibilidade de
escolha.
MPE-SP/Promotor de Justiça - A actio libera in causa se caracteriza
quando o agente comete o crime em estado de embriaguez não
proveniente de caso fortuito ou força maior. C
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Direito penal – Parte geral I

CUIDADO: EMOÇÃO (estado súbito e passageiro) e PAIXÃO


(sentimento crônico e duradouro) NÃO EXCLUEM A IMPUTABILIDADE
CESPE/DPE-ES - Excluem a imputabilidade penal a emoção, a paixão e
a embriaguez culposa pelo álcool ou substância de efeitos análogos. E
- POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE: possibilidade de o
agente conhecer a proibição do seu comportamento – elemento
da culpabilidade que apenas torna possível a punição do agente
que, diante das condições fáticas na quais estava inserido, tinha a
possibilidade de atingir o entendimento sobre o caráter criminoso
da conduta que perpetrava.
- CUIDADO: a partir do finalismo, quando o dolo e a culpa migraram
para a conduta, o dolo passou a ser natural, já que ficou
desprovido do caráter normativo que representava a consciência
da ilicitude

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Direito penal – Parte geral I

IMPORTANTE: Como causa capaz de afastar a potencial consciência


da ilicitude aparece o erro de proibição inevitável, previsto pelo art.
21 do Código Penal e lá denominado erro sobre a ilicitude do fato. O
erro de proibição evitável também encontra previsão no mesmo
artigo, mas não como causa dirimente de culpabilidade e sim como
circunstância de diminuição de pena.
Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a
ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá
diminuí-la de um sexto a um terço.
FUJB/MPE-RJ/Promotor de Justiça - O erro de proibição, ainda que
invencível, não exclui o dolo, mas sim a potencial consciência da
ilicitude. C
- IMPORTANTE: Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se
omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era
possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.
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Direito penal – Parte geral I

- IMPORTANTE: POTENCIAL CONSCIENCIA DA ILICITUDE X


DESCONHECIMENTO DA LEI - desconhecimento da lei configura-se
com a ignorância do agente frente à existência de normatização de
determinada questão. Entretanto, mesmo desconhecendo a
existência do dispositivo, é possível que esteja cercado de
elementos que lhe deem condições de atingir a consciência sobre a
incompatibilidade da conduta com o Direito
- CUIDADO: doutrina costuma referir-se à expressão “juízo profano”
para referir-se ao agente que age de determinada maneira, sem
noção quanto à ilicitude, quando podia ter sido mais diligente,
atento.
PGR/Procurador da República - Para a doutrina, o erro invencível é
aquele inescusável, na medida em que pode ser superado por pessoa
dotada de diligência ordinária, ou seja, pelo “juízo profano”. E
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IMPORTANTE: A doutrina costuma classificar o erro de proibição em


DIRETO, INDIRETO E MANDAMENTAL, devendo em todas as espécies
ser considerada a evitabilidade ou não do erro.

- DIRETO - Diz respeito à situação do agente que não conhece


determinado conteúdo legal, ou que não consegue delimitar a
extensão de sua incidência. É o próprio agente, diretamente, que
valora a situação na qual se encontra.

MPE-PR/Promotor de Justiça - O erro de proibição direto, incidente


sobre a existência, a validade ou o significado da lei penal, possui
tratamento jurídico diverso do erro de proibição indireto, incidente
sobre os limites jurídicos de uma causa de justificação legal ou sobre
a existência de uma causa de justificação inexistente. E
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- INDIRETO - O agente vive situação que lhe induz a imaginar estar


autorizado a agir. Interpreta equivocadamente o evento, que, ao
contrário do que pensa, não suporta juridicamente a resposta que
será perpetrada. É o ocorre com algumas descriminantes putativas.
Lembre-se de que para a teoria extremada da culpabilidade as
descriminantes putativas são sempre erro de proibição, enquanto
para a teoria limitada, adotada pela legislação penal nacional,
podem configurar erro de tipo ou de proibição.
CESPE/DETRAN-ES - Tratando-se de culpabilidade, a teoria estrita ou
extremada e a teoria limitada são derivações da teoria normativa pura
e divergem apenas a respeito do tratamento das descriminantes
putativas. C
CESPE/TRF1ªR/Juiz - No erro de proibição indireto, o agente tem
perfeita noção da realidade, mas avalia de forma equivocada os limites
da norma autorizadora. Tal erro, se escusável, isenta-o de pena; se
inescusável, concede-lhe o direito a redução da pena de um sexto a
um terço. Prof. Marcelo Pertille
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- EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA: possibilidade de se exigir


do agente um comportamento diferente.

- CAUSAS DE EXCLUSÃO:
- COAÇÃO IRRESISTÍVEL – art. 22, primeira parte, do CP. Requisitos:
a) coação MORAL; b) IRRESISTÍVEL (resistível – atenuante).
Consequência jurídica: só é punível o autor da coação.
Ex: “A” coage “B”, de maneira irresistível, a matar “C”. “A” responde pelo
homicídio e mais pela tortura (sacrifício mental).
- OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA – art. 22, segunda parte, do CP.
Requisitos: a) ordem de superior hierárquico (manifestação de vontade
do titular de FUNÇÃO PÚBLICA a um funcionário que lhe é
subordinado no sentido de que realize uma conduta); b) ordem não
manifestamente ilegal (não claramente ilegal). Consequência jurídica:
só é punível o autor da ordem.
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CESPE/TJ-ES - Caracterizada a ocorrência de erro de proibição indireto


inescusável, o agente responderá pelo crime doloso, com pena
diminuída de um sexto a um terço. C

- MANDAMENTAL – quando o agente erra ao desconsiderar que está


obrigado a agir, pois inserido nas hipóteses do art. 13, §2º, do
Código Penal, permanecendo inerte. Com o seu erro fere norma
mandamental.
PC/MG - O erro de proibição mandamental é aquele que recai sobre
uma norma impositiva e, se inevitável, isenta o agente de pena. C
- EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA - possibilidade que se abre
no sentido de se cobrar do agente uma postura diferente em
relação ao fato típico e ilícito que perpetrou

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- EM RESUMO: A exigibilidade de conduta diversa considera os fatos


paralelos à conduta e, apenas se constatado que o agente teve livre
atuação no processo de escolha, autoriza a responsabilização.
Portanto, diagnosticado que o agente agiu de modo típico e ilícito
porque não tinha liberdade de escolha, tem-se desproporcional puni-
lo pelo comportamento que não invoca culpabilidade diante da
certeza de que qualquer outra conduta, ainda que possível, mostra-se
inexigível diante da concreta situação.
IMPORTANTE - são causas legais de inexibilidade de conduta diversa a
COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL e a OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA.

FCC/TJ-PB - A coação moral irresistível e a obediência hierárquica


excluem a culpabilidade. C
FCC/DPE-AM - No que se refere aos elementos do crime, é correto
afirmar que a exigibilidade de conduta diversa é pressuposto da
culpabilidade.
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C
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- Coação moral irresistível – tem previsão na parte inicial do art. 22


do Código Penal, quando este determina que aquele que for
coagido sem que ao ato possa se opor não invoca necessidade de
punição, devendo os reflexos penais incidir apenas sobre o autor
da coação.
FCC/TJ-CE/Juiz - Na coação moral irresistível, há exclusão da
culpabilidade, por não exigibilidade de conduta diversa. C

IMPORTANTE: Importante reparar que o instituto, tal qual seu nomen


iuris grafado na lei penal, não prevê que a coação seja moral. Ocorre
que a certeza de que essa coação não pode ser física (restando
apenas o aspecto moral) vem do estudo do fato típico, eis que a
conduta (seu primeiro elemento) é tida como ação ou omissão
consciente e voluntária. Logo, aquele que é coagido fisicamente a
fazer ou deixar de fazer algo sequer terá sua culpabilidade averiguada
diante da ausência de conduta interessante ao Direito Penal.
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CESPE/TRE-GO - Aquele que for fisicamente coagido, de forma


irresistível, a praticar uma infração penal cometerá fato típico e ilícito,
porém não culpável. E
PGR/Procurador da República - A coação física irresistível exclui a
culpabilidade. E
CUIDADO - O coator, autor mediato do crime, responde de forma
agravada pelo ilícito (art. 62, II, do CP), e, importante dizer, em
concurso material com o crime de tortura (art. 1º, I, “b”, da Lei
9.455/97).
CESPE/TC-DF - A coação moral irresistível é uma hipótese de autoria
mediata, em que o autor da coação detém o domínio do fato e
comete o fato punível por meio de outra pessoa. C
CUIDADO - De outro modo, caso a coação seja reconhecida como
resistível não haverá isenção de pena, devendo o agente responder
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pelo injusto penal em conjunto com o coator, mas com a incidência da


atenuante genérica do art. 65, III, “c”, do CP, enquanto o coator segue
com sua reprimenda agravada.

- Obediência hierárquica – é instituto que depende da relação de


direito público entre o prolator da ordem e aquela que a recebe,
provocando a isenção de responsabilidade penal quanto à conduta
proveniente de determinação não manifestamente ilegal de
superior hierárquico. Satisfeitos os requisitos elencados no art. 22
do Código Penal, passa a ser inexigível que o agente tenha
comportamento diferente, mostrando-se, tal qual na coação moral
irresistível, desproporcional a aplicação de pena.
CESPE/TJ-PB - Para o reconhecimento da excludente de culpabilidade
caracterizada pela obediência hierárquica, é necessária a existência
de relação de hierarquia, no âmbito do serviço público, entre o
executor e o autor da ordem da prática do ato delituoso. C
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FCC/TJ-PB - Tendo agido na estrita obediência a ordem não


manifestamente ilegal, pode, dentre outros, invocar em sua defesa a
causa excludente da culpabilidade da obediência hierárquica o
funcionário público em relação ao chefe ao qual é subordinado. C
CESPE/TCE-ES - São expressamente previstas no CP duas situações
que excluem a culpabilidade, dada a inexigibilidade de
comportamento diverso: a coação irresistível e a obediência
hierárquica. Um empregado de banco privado, por exemplo, que tiver
praticado condutas delituosas em estrita e integral obediência às
ordens não manifestamente ilegais emanadas de superior hierárquico
poderá beneficiar-se da excludente de culpabilidade por obediência
hierárquica. E
IMPORTANTE: Ordem não manifestamente ilegal deve ser
conceituada como aquela que se reveste de aparente legalidade, não
fornecendo ao agente a possibilidade de diagnóstico acerca do
caráter ilícito que proporciona. Por isso fala-se que a obediência
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hierárquica representa a junção do erro de proibição à inexigibilidade


de conduta diversa

CUIDADO: não se exige que o agente conheça o caráter ilegal daquilo


que está executando por ordem de superior hierárquico, bastando
que seja possível, diante da situação concreta e do seu perfil
subjetivo, atingir essa consciência.

IMPORTANTE: obediência hierárquica provoca, enfatiza-se, isenção de


pena do cumpridor da ordem, devendo ser responsabilizado apenas o
superior prolator, com a agravante genérica do art. 62, III, “c”, do
Código Penal. Mas se a ordem for manifestamente ilegal devem o
mandante e o executor ser responsabilizados, pois caracterizado o
concurso de agentes, com a ressalva de que o subalterno terá direito
à atenuante genérica do art. 65, III, “c”, do Código Penal, enquanto ao
superior incide a agravante já mencionada.
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CESPE/TRE-MT - Se o fato é cometido em estrita obediência à ordem,


não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, são puníveis o
autor da ordem e o agente que agiu em obediência hierárquica,
havendo, em relação a este, causa de redução da pena. E
CESPE/STM - As causas legais de exclusão da culpabilidade por
inexigibilidade de conduta diversa incluem a estrita obediência a
ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico. Caso o
agente cumpra ordem ilegal ou extrapole os limites que lhe foram
determinados, a conduta é culpável. C

- A exigibilidade de conduta diversa suporta causa supralegal de


exclusão, já que para além da coação moral irresistível e da
obediência hierárquica, também é possível que o agente esteja em
situação de inexigibilidade de comportamento diferente – CAUSAS
SUPRALEGAIS DE INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA
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CONCURSO DE PESSOAS
pluralidade de pessoas concorrendo para o mesmo evento – conjunto
de normas que permitem imputar a uma pluralidade de pessoas o
mesmo tipo penal, ainda que tenham desenvolvido condutas
diversas.

- CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES QUANTO À PLURALIDADE DE


SUJEITOS ATIVOS:

a) MONOSSUBJETIVOS (de concurso eventual): necessitam de apenas


uma pessoa para sua execução;

b) PLURISSUBJETIVOS (de concurso necessário): têm a pluralidade de


agentes como elemento objetivo do tipo.

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- PLURISSUBJETIVOS PODEM SER CLASSIFICADOS:

a) DE CONDUTAS PARALELAS: em que todos os agentes unem esforços


para a consecução do mesmo fim (Ex: associação criminosa - art. 288)
b) DE CONDUTAS CONVERGENTES

c)

IMPORTANTE: nos delitos unissubjetivos é que o tema concurso de agentes


ganha real significado para a teoria do crime, pois é a partir das teorias
desenvolvidas com base nessa realidade que se torna possível definir o tipo
penal a ser imputado a cada agente, assim como, configurado o concurso, os
exatos termos da punição de cada um dos envolvidos.
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- REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS


a) Pluralidade de pessoas: dois ou mais agentes
b) Vínculo subjetivo: revela a vontade dos agentes de unirem esforços
para a produção de determinado resultado tido como objetivo comum.
Este requisito representa o liame psicológico entre os participantes da
empreitada delituosa
CUIDADO: autoria colateral e autoria incerta
- Caracteriza-se a autoria colateral na hipótese de dois agentes,
imputáveis, cada um deles desconhecendo a conduta do outro,
praticarem atos convergentes para a produção de um delito a que
ambos visem, mas o resultado ocorrer em virtude do comportamento
de apenas um deles.
CESPE/TJ-SE/Técnico Judiciário – Em se tratando de autoria colateral,
não existe concurso de pessoas.c
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Direito penal – Parte geral I

- Caracteriza-se a autora incerta quando não for possível individualizar


o resultado que cada conduta proporcionou, sendo necessário, como
decorrência da aplicação do princípio do in dubio pro reo, que ambos
respondam pela forma mais branda do resultado ocorrido.
c) Relevância causal: fundamental que as ações ou omissões tenham
efetivamente colaborado para o evento criminoso – participação a ser
investigada não pode ser inofensiva a ponto de se mostrar irrelevante
para o resultado.

d) Unidade de fato/infração – TEORIA MONISTA!!! Art. 29 do CP


MPE-SP/Promotor de Justiça – Ao tratar do concurso de pessoas, o
Código Penal adotou como principal a teoria monista ou unitária.c
ACAFE/PC-SC/Delegado de Polícia – Quem, de qualquer modo,
concorre para o crime, incide nas penas a este cominadas, na medida de
sua culpabilidade.c
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Direito penal – Parte geral I

IADES/TRE-PA/Analista Judiciário – A teoria adotada pelo CPB referente


ao concurso de pessoas é a monística, admitindo-se a exceção pluralista
à teoria monista.c

- Há exceções à teoria monista: DUALISTA, PLURALISTA

CUIDADO: Em que pese a teoria pluralística ser bastante criticada sob o


argumento de quem entende que não se pode considerar autônomas as
condutas que convergem para um mesmo resultado, o Código Penal tem
exemplos pontuais de sua adoção: arts. 317 e 333, art. 235, arts. 124 e
126, arts. 342 e 343.

MPE-SP/Promotor de Justiça – Os requisitos do concurso de pessoas,


em regra, são: pluralidade de condutas, relevância causal de cada uma
das ações, liame subjetivo entre os agentes e identidade de fato.c
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- MODALIDADES DE CONCURSO DE AGENTES: AUTORIA (COAUTORIA)


E PARTICIPAÇÃO

a) Teoria RESTRITIVA: autor da infração quem realiza a descrição típica.

VUNESP/PC-SP/Delegado de Polícia – Segundo o conceito restritivo, é


autor aquele que realiza a conduta típica descrita na lei.c

b) OBJETIVA/dualista (MATERIAL e FORMAL): item 25 da Exposição de


Motivos do Código Penal.
- Objetiva-formal: autor aquele que desempenha a conduta típica,
quem opera o núcleo verbal que constitui elemento objetivo do tipo,
elencando como partícipe quem efetua condutas não descritas na figura
típica, mas que ainda assim acabam por contribuir para o resultado
(apoio na preparação ou suporte durante a execução).
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- Objetivo-material: autor deve ser definido a partir do quão decisiva é


a sua conduta para a obtenção do resultado. Portanto, a autoria não
seria conceito adstrito ao desempenho do núcleo verbal, mas sim um
critério ligado à intensidade das condutas que colaboraram para o
resultado típico.

PGR/Procurador da República – Consoante à teoria objetivo-material


autor é aquele que realiza a contribuição objetivamente mais
importante para o resultado.c
C) EXTENSIVA (pluralista): estreita ligação com os fundamentos da
teoria unitária, não fazendo diferenciação entre autor e partícipe,
defendendo, contudo, que possa haver distinção na punição dos
sujeitos, pois incentiva que sejam desenvolvidos conceitos sobre os
diferentes graus de culpabilidade dos agentes. Essa teoria reconhece,
portanto, que autores menos decisivos para o resultado devem ter
penas proporcionais à contribuição empregada.
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Direito penal – Parte geral I

D) Teoria do domínio do fato (objetivo-subjetiva): surgiu como


decorrência da teoria objetiva, mas também invocando elementos de
ordem subjetiva.
- Autor: quem tem o controle sobre o resultado que se pretende com
a conduta - controle finalístico dos fatos – poder para influenciar de
modo decisivo as ações dos demais – alarga conceito de autoria
para situações de autoria mediata e autoria intelectual.
- Partícipe: não desempenha o núcleo do tipo e não tem domínio
final.
MPE-RS/Promotor de Justiça – Para a teoria do domínio do fato, autor é
quem executa a ação típica, por conduta própria ou pela utilização de outro
como instrumento de realização; também quem, mesmo não executando o
fato típico em sentido estrito, participa da resolução criminosa, realizando
parte necessária da execução do plano global. A teoria, partindo do conceito
restritivo de autor, segue um critério objetivo-subjetivo.c
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TRF3ªR/Juiz Federal – O domínio do fato é uma teoria dualista que se


distingue da teoria objetivo-formal de autoria porque indica também
como autor aquele que não realiza diretamente o núcleo do tipo penal.c

MPE-PR/Promotor de Justiça – A moderna teoria do domínio do fato,


também denominada teoria objetivo-subjetiva, integra critérios
objetivos e subjetivos para definir as categorias de autor e partícipe do
tipo de injusto.c

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Direito penal – Parte geral I

ESPÉCIES DE COAUTORIA

a) Coautoria parcial (funcional) – quando os agentes envolvidos


praticam atos diversos, mas todos tidos como de execução;
b) Coautoria direta – os agentes praticam os mesmos atos de execução;
c) Executor de reserva – quando um dos agentes apenas presencia o
desenrolar dos fatos pondo-se à disposição para agir, caso necessário;
d) Coautoria sucessiva – quando, sem prévio ajuste, um agente adere à
conduta do outro, somando esforços para o resultado;

MPE-GO/Promotor de Justiça – Coautoria sucessiva é aquela que se


daria quando, consumada a infração, ingressaria o coautor, por adesão à
conduta criminosa, antes do exaurimento.c

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e) Autoria de escritório/ autoria intelectual – é uma espécie de autoria


mediata, mas que tem nos agentes imediatos pessoas culpáveis. Essa
espécie pressupõe uma hierarquia de determinado grupo criminoso,
fazendo com que alguns sejam responsáveis por difundir comandos aos
demais.

TEORIAS PARTICIPAÇÃO

- Partícipe, em linhas gerais, é o sujeito que induz, instiga ou auxilia na


prática do crime, embora não pratique conduta típica.

Teorias sobre a punibilidade do partícipe:

a) Acessoriedade máxima – aqui se exige que todos os substratos do


conceito analítico de crime estejam satisfeitos quanto ao fato principal.
Portanto, participação depende de que o autor tenha cometido fato
típico, lícito e culpável;
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b) Acessoriedade mínima – de outro lado, aqui basta a caracterização


de um fato típico para que possa ser configurada uma participação
penalmente relevante. O que, vale dizer, permite a punição de quem
participe de conduta albergada por excludente de ilicitude;

c) Acessoriedade limitada – limitada porque exige a ocorrência, quanto


ao evento principal, de fato típico e ilícito, indicando ser possível a
punição do partícipe mesmo que o autor seja um inculpável. É essa a
teoria majoritariamente defendida pela doutrina e pela jurisprudência
brasileiras.

MPE-MT/Promotor de Justiça – Em matéria de participação no


concurso de pessoas, segundo o entendimento amplamente reiterado
da doutrina penal brasileira, adota – se a teoria da acessoriedade
limitada.c

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AUTORIA E PARTICIPAÇÃO NOS CRIMES CULPOSOS E OMISSIVOS

IMPORTANTE: possibilidade de coautoria em crimes culposos - toda a


contribuição para a falta de cuidado que acaba por evidenciar um
resultado típico deve ser equiparada em importância, não há razão para
distinção em coautoria e participação – Ex: incitação feita pelo “carona”
em veículo automotor para que o motorista imprima mais velocidade,
indo além dos limites permitidos - Haverá coautoria em crime culposo
na hipótese de acontecer um atropelamento ocasionado pela falta de
cuidado.
CUIDADO: não se pode falar em participação dolosa em crime culposo
ou participação culposa em delito doloso justamente porque nessas
situações falta a homogeneidade do elemento subjetivo dos agentes
envolvidos, elemento indispensável para que se constate o concurso de
agentes.
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Coautoria e participação - (por conduta comissiva) nos crimes


omissivos, sendo que a corrente majoritária entende ser possível essa
hipótese tanto na forma omissiva própria quanto imprópria (comissivos
por omissão).

CUIDADO: É possível, do ponto de vista jurídico-penal, participação por


omissão em crime comissivo.

COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA


- Chamado desvio subjetivo - iniciada a execução para a obtenção de
determinado resultado típico, com concurso de agentes, um dos
autores, sem conhecimento e anuência do outro, acaba por perpetrar
fato diverso – art. 29, §2º, do CP

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CIRCUNSTÂNCIAS INCOMUNICÁVEIS

- Circunstâncias do crime são elementos que acompanham o fato


criminoso e são levadas em consideração para a definição do grau de
punição dos agentes - Essas circunstâncias são:
a) OBJETIVAS: aspectos relacionados com o tempo (noite no incêndio e
no furto), lugar (local ermo, habitado etc.), meios de execução
(crueldade conforme o homicídio qualificado), e até mesmo
qualidades que devem ostentar as vítimas (enfermo, criança, idoso,
funcionário público) – SÃO, EM REGRA, COMUNICÁVEIS.
b) SUBJETIVAS: qualificam o autor do crime, relacionando-se com suas
características de cunho pessoal (reincidência, grau de parentesco
com a vítima, profissão etc.) e que também podem provocar reflexos
na pena a ser aplicada - nos termos do art. 30 são, em regra,
incomunicáveis, salvo se forem ELEMENTARES DO CRIME!!!!
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PARTICIPAÇÃO NÃO PUNÍVEL


- Art. 31 do Código Penal: O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio,
salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não
chega, pelo menos, a ser tentado – reafirma-se a dependência que a
participação tem quanto ao fato principal, demonstrando a real
acessoriedade das condutas dos partícipes - se a conduta típica não se iniciar
sequer se falará em responsabilidade dos participantes - Somente há
relevância na participação em crimes tentados e consumados.
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Direito penal – Parte geral I

CUIDADO: a instigação, a determinação e/ou auxilio podem ser


adequar a delitos autônomos – art. 286 do Código Penal (incitação ao
crime): ainda que a prática criminosa projetada não tenha se iniciado,
haverá responsabilização penal pelo ato de incitação diante do fato de
que representa ação delitiva autônoma.
IMPORTANTE: e se o agente desiste do crime antes ou até mesmo
depois de a execução ter se iniciado?
a) Não haverá qualquer reflexo penal quando o arrependido for o
agente designado como executor e sequer iniciar a atividade
criminosa arquitetada ou quando, na qualidade de partícipe, impedir
que a execução se inicie;
b) quando o arrependido for executor e desista, durante a empreitada
criminosa, de obter o resultado, ou quando evitar, na condição de
partícipe, que esse se opere, deve ser invocado o art. 15 do CP,
respondendo todos os sujeitos pelos atos até então praticados,
afastando-se, assim, a ideia de tentativa
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c) Na hipótese de o arrependido ser o partícipe e suas contribuições


para impedir o resultado restarem infrutíferas, haverá aqui situação na
qual seu arrependimento não foi eficaz, o que, por consequência, não
impedirá sua responsabilidade penal no limite daquilo que foi praticado
pelo autor principal.

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