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1.

ESTRUTURA, ORGANIZAÇÃO E PREMISSAS


DO PROJETO MAPEM

Elírio E. Toldo Jr. – CECO/IG/UFRGS


Ricardo N. Ayup-Zouain – CECO/IG/UFRGS
SUMÁRIO

SUMÁRIO EXECUTIVO ................................................................................................................... i

1. ESTRUTURA, ORGANIZAÇÃO E PREMISSAS DO PROJETO MAPEM.................................... 1


1.1. O QUE É O MAPEM?................................................................................................................. 3
1.1.1. Objetivos do Projeto.................................................................................................................. 3
1.1.2. Como Foram Organizadas as Atividades? ................................................................................ 4
1.1.3. Membros Executores e Intervenientes do MAPEM.................................................................. 8
1.1.4. A Instituição Concedente do Projeto MAPEM - FINEP......................................................... 11
1.1.5. A Instituição Interveniente do Projeto MAPEM - IBP ........................................................... 12
1.1.6. A Instituição Executora do Projeto MAPEM– FAURGS....................................................... 13
1.2. O USO DE FLUIDOS NÃO-AQUOSOS NA ATIVIDADE DE PERFURAÇÂO
EXPLORATÓRIA ............................................................................................................................ 14
1.3. A ATIVIDADE DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL PELO IBAMA ............................... 20
Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória Marítima – MAPEM i

SUMÁRIO EXECUTIVO

O programa exploratório para a área marítima no país, nos próximos anos, prevê a
perfuração de um número expressivo de poços exploratórios. Para muitos destes poços,
poderá surgir a necessidade de se utilizar fluidos de perfuração não-aquosos (NAFs) para
realizar com sucesso e eficiência os programas de perfuração.

Na atualidade, são utilizados modelos matemáticos para predizer o comportamento de


fluidos e de cascalhos de perfuração lançados no mar. Esses modelos permitem prever tanto
as concentrações na coluna de água, em função da posição e do tempo, como a distribuição
dos cascalhos de perfuração no assoalho oceânico à medida que eles decantam. Os modelos e
estudos de monitoramento anteriores (Anexo IX) mostraram que as exposições da biota na
coluna de água são muito baixas, e que os efeitos mais prováveis do descarte de cascalhos de
perfuração cobertos com NAF ocorrerão no fundo.

O desenvolvimento do projeto MAPEM teve por objetivo fornecer dados essenciais


para validar os modelos de descarga, particularmente a distribuição dos cascalhos no fundo do
mar em águas profundas. Também é objetivo do projeto a coleta de dados essenciais para
estabelecer os tipos de biota que vive nesses ambientes, o tipo e o grau de impacto sobre essa
comunidade e a velocidade de recuperação da comunidade. Tais dados são muito úteis para as
agências reguladoras à medida que forem desenvolvidos os regulamentos que governam o
descarte de resíduos de perfuração.

Este documento apresenta dados e interpretações dos levantamentos ambientais


conduzidos através da realização de três cruzeiros oceanográficos de águas profundas MD1,
MD2 e MD3, realizados em abril e julho de 2001 e junho de 2002, respectivamente, na parte
norte da Bacia de Campos. A atividade de perfuração foi desenvolvida em junho de 2001,
portanto, entre os cruzeiros MD1 e MD2. Uma área circular com raio de 2.500 m do fundo
oceânico foi estudada em detalhe, primeiro com emprego do equipamento box-corer para
amostragens de sedimentos para análises biológicas, geológicas e químicas, seguidos por
imageamentos do fundo com sonar de varredura lateral, perfilagem da coluna d’água com
CTD, fotografias e vídeos.

O Poço Exploratório Eagle, ao redor do qual foi realizado o estudo de monitoramento


do impacto ambiental teve a UNOCAL como empresa operadora. O poço encontra-se a uma
profundidade média de 902 m, na parte Norte da Bacia de Campos, próximo à Bacia do

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Espírito Santo. Neste estudo foi investigado o impacto ambiental produzido pelo descarte de
cascalhos aderidos com fluido base não aquosa do tipo III.

O plano de amostragem foi desenvolvido com base em 54 estações, distribuídas na


forma de uma malha concêntrica radial, sendo 06 amostras de sedimentos coletadas em
círculos a 50 e 100 m a partir do poço de perfuração, e outras 12 amostras coletadas em
círculos a distâncias de 150, 300 e 500 m. Adicionalmente, 06 amostras foram coletadas a
uma distância de 2.500 m da área de perfuração.

Com os objetivos propostos e métodos de trabalhos empregados, o Projeto MAPEM


constituiu-se em um dos mais intensivos levantamentos de estudos ambientais do fundo do
mar já empreendidos na margem continental brasileira.

O atual ambiente sedimentar da plataforma e talude continental nesta bacia sedimentar


é dominado por baixas taxas de sedimentação, pelo retrabalhamento dos sedimentos de fundo
por ação das correntes e de fluxos gravitacionais. Os sedimentos são de composição terrígena,
com ampla distribuição de grãos finos tamanhos silte e argila, seguida por frações arenosas de
composição carbonática, depositados sob condições de nível de mar alto associadas ao
ambiente da última grande transgressão marinha ocorrida durante o Holoceno. A morfologia
de fundo é recortada por vales orientados numa direção preferencial Leste/Oeste.

Os dados de corrente de fundo medidos com o emprego de ADCP durante a atividade


de perfuração exploratória do Poço Eagle em junho de 2001, indicaram a presença de
correntes próximas ao fundo com velocidades inferiores a 20 cm.s-1, e direcionadas para
Norte. Na profundidade do poço a circulação é dominada por massas da Água Antártica
Intermediária – AAI. Na profundidade de 760 m a temperatura média é de 5°C e a salinidade
34,4‰.

A modelagem da descarga foi feita utilizando o Modelo de Descarga de Lama –


Modelo OOC. A descarga foi modelada em diversas simulações cada uma delas
representando um intervalo de tempo onde o descarte tem características próprias. As
estimativas da espessura máxima de acumulação no fundo do mar de cascalhos perfurados
com água do mar – Fase Sem Retorno, são de aproximadamente 66,5 cm. A área com
espessura acumulada de 0,1 cm abrange aproximadamente 8.300 m2, o que equivale a um
círculo com 50 m de raio. A acumulação no fundo de sólidos do fluido de base aquosa
prevista pelo modelo afeta totalmente o círculo amostral de 50 m, parcialmente o de 100 m e
apenas atinge algumas amostras localizadas na direção N. Segundo os resultados da

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modelagem, as partículas mais finas, que levam maior tempo para se depositar tendem a
espalhar-se na direção N-NW. A espessura máxima prevista foi de ordem de 1,11 cm. Os
resultados da modelagem do descarte de cascalhos perfurados com fluido sintético – Fase
Com Retorno mostram que o material foi transportado principalmente na direção N-NE pelas
fortes correntes de meia água. As correntes intensas de superfície para SW não foram
suficientes para determinar uma deposição nessa direção. A espessura máxima prevista
associada a esta descarga foi de 0,76 cm. A área com espessura maior que 0,1 cm ocupa
aproximadamente 82.000 m2 o que equivale à área de um círculo com aproximadamente 160
m de raio.

Nas amostras de sedimento de fundo coletadas com box-corer foram analisados os


elementos Al, As, Ba, Cd, Cu, Cr, Fe, Hg, Mn, Ni, Pb, Zn e V, os hidrocarbonetos alifáticos
(lineares e mistura complexa não resolvida), os hidrocarbonetos aromáticos e determinação do
potencial redox. Nas amostras de água foram analisados os elementos e compostos de
hidrocarbonetos citados para as amostras de sedimento, bem como a determinação dos
nutrientes NH41+, PO43-, NO31- e NO21-, oxigênio dissolvido, sólidos suspensos e sólidos
dissolvidos. Os resultados da análise química dos sedimentos para os metais e metalóides não
indicaram um aumento das concentrações da maioria dos elementos estudados. Verifica-se
que, após um ano de perfuração, as concentrações destes elementos encontram-se nos níveis
iniciais, antes das atividades de perfuração. A exceção é o elemento Ba, cujas concentrações
elevaram-se em diversas estações, em relação às concentrações iniciais, mesmo após um ano
da atividade. As baixas concentrações dos elementos pesquisados na água do mar indicam que
a mesma não é significativamente contaminada, devido às atividades de perfuração. Para os
hidrocarbonetos alifáticos em sedimentos, pode-se concluir que ocorreu um incremento destes
compostos em algumas estações no segundo Cruzeiro, permanecendo no terceiro Cruzeiro.
Para os hidrocarbonetos aromáticos em sedimentos, pode-se concluir que as atividades de
perfuração não resultaram em aumento dos mesmos.

Também, foram analisadas um total de 159 amostras, tomadas por um box-corer,


coletadas durante a realização dos três cruzeiros oceanográficos - MD1, MD2 e MD3. Os
componentes do bentos mostraram um significativo decréscimo da riqueza específica
(famílias e gêneros) e da densidade, imediatamente após a perfuração. Tanto a meiofauna
quanto a macrofauna mostraram ainda um aumento de formas detritívoras após a perfuração.
Ambos os componentes da fauna bêntica mostraram uma fraca relação com os parâmetros
químicos analisados, como a concentração de hidrocarbonetos e de metais. Esses resultados

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sugerem que os efeitos da atividade de perfuração sobre a fauna bêntica estão relacionados
primariamente às alterações físicas no oceano profundo causadas pelo lançamento de
cascalhos associados ao NAF. Os efeitos químicos parecem refletir apenas de forma
secundária sobre a fauna, possivelmente durante a biodegradação dos hidrocarbonetos. As
alterações na estrutura da meiofauna ocorreram predominantemente na porção norte da área
de estudo, limitando-se aos 500 m de distância do ponto de perfuração, coincidindo com a
região estimada como área de maior impacto, definida estatisticamente. Já as mudanças na
estrutura da macrofauna foram particularmente evidentes na estação de amostragem 02,
também localizada no interior da área de maior impacto (máscara). Doze meses após a
perfuração (MD3), a densidade e a riqueza da meiofauna já exibiam valores semelhantes ao
período pré-impacto (MD1). No entanto, a persistência dos cascalhos junto ao fundo
possivelmente foi responsável pela alteração observada na estrutura da meiofauna. Foi
detectado um aumento significativo nas densidades de copépodas e de nemátodas que se
alimentam no epistrato do sedimento, típicos de sedimentos mais grosseiros. Provavelmente,
o aumento de formas superficiais da meiofauna persistirá até a desagregação dos cascalhos na
área de impacto. Para a macrofauna bêntica, tanto o número de famílias quanto a densidade
mostram um aumento em seus valores quando comparados ao período pré-impacto (MD1).
Doze meses após a perfuração (MD3), as estações 5, 24 e 36 apresentavam-se ainda em
processo de recuperação, indicando que as respostas da fauna às mudanças ambientais não
foram imediatas. Nestas estações, foi observado um predomínio de organismos oportunistas,
construtores de tubos e que utilizam os recursos disponíveis na interface sedimento-água,
característicos dos primeiros estágios colonizadores no processo de sucessão em ambientes
perturbados.

Nos capítulos 6 e 8 são apresentados os resultados do modelo de integração com a


descrição do método de análise dos dados a partir do delineamento BACI (Before After
Control Impact). Técnicas geoestatísticas foram empregadas com o objetivo de descrever
espacialmente os efeitos testados a partir do delineamento BACI, e demais técnicas
exploratórias univariadas e multivariadas, como as técnicas de Análises de Discriminante,
Análise de Componentes Principais e também foi utilizada a técnica de Análise de Regressão
Múltipla, na análise dos dados. Após o segundo Cruzeiro (MD2), constatou-se que a
deposição de elementos físicos e químicos no sedimento marinho, provenientes da atividade
de perfuração, aconteceu em seções limitadas, localizadas dentro do raio de 500 m, e deste
modo foi definido uma área de impacto denominada como Máscara. A estratégia consistiu em

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definir as regiões alteradas pela presença de material antrópico a partir de indicadores dos
diferentes fluidos utilizados no processo, preservando o restante da área neste raio como uma
segunda fonte de controle espaço-temporal. Posteriormente, foram avaliadas as mudanças
ocorridas sobre as comunidades bênticas nestas regiões, comparando-se, simultaneamente,
com as variações espaço-temporal inerentes ao ambiente estudado, descritas pelas demais
regiões.

Finalmente podemos destacar que um ano após a perfuração, a densidade e a riqueza


da meiofauna já exibiam valores semelhantes ao período pré-impacto. No entanto, a
persistência dos cascalhos junto ao fundo possivelmente foi responsável pela alteração
observada na estrutura da meiofauna em MD3. Um ano após a perfuração foi detectado um
significativo aumento nas densidades de copépodas e de nemátodas que se alimentam no
epistrato do sedimento, típicos de sedimentos mais grosseiros. Provavelmente, o aumento de
formas superficiais da meiofauna persistirá até a desagregação dos cascalhos na área de
impacto. Para a macrofauna, a recuperação da área de estudo aos níveis observados antes da
perfuração esta condicionada a persistência do cascalho de perfuração no sedimento, pois
enquanto houver cascalho as propriedades físicas originais do sedimento continuarão
alteradas, favorecendo a persistência de organismos sedentários detritívoros construtores de
tubos e que utilizam os recursos da interface sedimento-água, dificultando o restabelecimento
das comunidades presentes antes da atividade de perfuração.

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1. ESTRUTURA, ORGANIZAÇÃO E PREMISSAS DO PROJETO MAPEM

Nos primórdios da Indústria do petróleo utilizavam-se fluidos de base aquosa na


perfuração de poços. Com o desenvolvimento de novas tecnologias, poços mais profundos e,
ou com geometrias mais complexas foram perfurados. Para perfurar poços com estas
complexidades foi necessário utilizar fluidos de perfuração que apresentassem características
de alta inibição química frente a argilo-minerais reativos e excelente lubricidade para superar
o elevado atrito entre a coluna de perfuração e as paredes do poço. Surgiram, então, os fluidos
de base não aquosa, tais como os de base petróleo, base óleo diesel e base óleo mineral. Mais
recentemente, movida por demandas ambientais, a indústria desenvolveu alternativas
tecnológicas a estes fluidos, aplicando nas operações de perfuração de poços fluidos com
baixíssimos teores (menor que 0,001%), ou até mesmo isentos de poliaromáticos e
biodegradáveis. As bases mais comuns são as parafinas, olefinas e ésteres derivados de óleos
vegetais.

Os efeitos ambientais da utilização de fluidos não-aquosos (non-aqueous fluids –


NAFs) e do descarte de cascalhos associados a este têm sido estudados a pelo menos uma
década, sendo que foram focados basicamente em locações de águas rasas.

O Projeto MAPEM foi iniciado para fornecer um estudo dos efeitos ambientais
decorrentes de descargas de cascalhos (cuttings), impregnados com um destes fluidos não-
aquosos de nova geração, utilizado em perfurações marítimas tanto para ambiente de água
rasa, como de água profunda. Na Bacia de Campos foram selecionados dois locais para o
monitoramento ambiental: um a 200 e outro a 900 m de profundidade. Neste documento são
apresentados os estudos do monitoramento ambiental realizado em águas profundas, junto ao
Poço Eagle, localizado no Bloco BC-9 desta bacia sedimentar. O fluido não-aquoso utilizado
na perfuração da maior parte do poço foi uma parafina linear composta principalmente por
alcanos C14 a C19.

O ambiente sedimentar associado ao talude continental, na área do Poço Eagle é


dominado por baixas taxas de deposição e pelo retrabalhamento dos sedimentos por correntes
de fundo e fluxos gravitacionais de sedimentos. Os sedimentos de fundo são dominados por
argilo-minerais, relictos do último período glacial.

Este projeto foi realizado com suporte financeiro da Financiadora de Estudos e


Projetos (FINEP), Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP) e administração da Fundação

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de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FAURGS). Para execução do projeto
foi montada uma equipe multidisciplinar constituída por grupos de pesquisas de Biologia,
Estatística, Geologia, Informática e Química, das Universidades Federais do Rio Grande do
Sul e Santa Catarina.

Protocolos detalhados e um Manual de Campo foram elaborados e revistos para


assegurar credibilidade científica e comunicação eficiente entre a equipe, tanto para as
atividades de bordo, como para as atividades de laboratório. A participação do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) e da Agência Nacional do Petróleo (ANP), desde as
fases iniciais de planejamento, foi de grande valor, e espera-se que estas ações participativas
tenham continuidades durante e após o desenvolvimento do projeto.

Sedimentos de fundo na área em torno do Poço Eagle, foram coletados com emprego
de box-corer, fotografias e vídeo com câmara digital, imagens de fundo com sonar de
varredura lateral, coleta de água e perfilagem da coluna de água com CTD e correntometria
com ADCP. O estudo conta com uma grande densidade de amostras para ter robustez
estatística adequada. A malha de amostragem utilizada para o Poço Eagle foi estruturada em
54 estações. Destas 54 estações, 48 se localizaram ao longo de oito radiais saindo do poço até
uma distância de 500 m. As outras 6 estações foram de referência e se localizaram a 2.500 m
do poço.

Uma área circular com o raio de 500 m no fundo marinho foi definida para o estudo do
impacto ambiental com base nas informações do modelo de previsão do descarte, para um
poço de águas profundas em perfuração. Os resultados deste estudo indicam que o descarte de
cascalhos com fluido sintético ocorre de forma restrita a uma área que não excede a 500 m do
poço perfurado. Conforme o modelo de previsão a maior parte desta área apresenta deposição
de cascalhos com menos de 1 cm de espessura. Para além desta área circular, com raio de 500
m, o modelo de previsão indica espessuras mínimas de cascalhos, e deste modo para
maximizar a análise do impacto ambiental a densidade de amostragem foi concentrada dentro
desta área.

As coletas foram realizadas a bordo do Navio Satro 25, serviço contratado da empresa
Petroleum and Environmental Geo-Services (PEG). Junto ao Poço Eagle foram realizados três
cruzeiros oceanográficos:

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1° Cruzeiro (MD1), de 19 a 24 de abril de 2001 – pré-perfuração do Poço Eagle;

2° Cruzeiro (MD2), de 23 a 27 de julho de 2001 – 30 dias pós-perfuração;

3° Cruzeiro (MD3), de 22 a 26 de junho de 2002 – 12 meses pós-perfuração.

Posteriormente à atividade de coleta das amostras e dos dados oceanográficos, estes


foram enviados aos laboratórios de Biologia, Geologia e Química para análise e
arquivamento.

1.1. O QUE É O MAPEM?

O MAPEM – Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória


Marítima – é um projeto de monitoramento ambiental desenvolvido por iniciativa de Centros
de Pesquisas das Universidades Federais do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, em
parceria com a indústria brasileira de óleo e gás, representadas pelo IBP.

Em junho de 2001, as Instituições Federais de Ensino, representadas pela FAURGS,


conjuntamente com o IBP, encaminharam proposta para a obtenção de apoio financeiro do
Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), no âmbito do Plano
Nacional de Ciência e Tecnologia do Setor Petróleo e Gás Natural (CTPETRO), à FINEP,
através do Edital n° 03/2000.

1.1.1. Objetivos do Projeto

O Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória Marítima tem


por objetivo geral avaliar o impacto efetivo da atividade de perfuração exploratória sobre dois
ecossistemas bentônicos oceânicos, um em águas rasas e outro em águas profundas, quando
submetidos aos efeitos da descarga de cascalhos de perfuração impregnados com NAFs,
utilizados neste tipo de perfurações, em áreas de atuação das empresas de petróleo filiadas ao
IBP que atuam no Brasil em decorrência de contratos de concessão para exploração e
produção de petróleo e gás natural.

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Objetivo 1:

Determinar o grau de impacto ambiental e da recuperação na área do poço até um ano


após o descarte através da avaliação das mudanças físicas, químicas e biológicas, em águas
rasas e profundas, imediatamente após o descarte e comparando-as ao estado do ambiente um
ano após a perfuração e comparando também com comunidades bênticas marinhas de
ambientes similares em outras regiões do mundo.

Objetivo 2:

Determinar a precisão do modelo de previsão do descarte de cascalhos de perfuração:

• rodando o modelo com dados sobre o ambiente receptor e a descarga coletados


durante a perfuração do Poço Eagle;

• comparando as previsões do modelo com os dados obtidos durante este estudo.

Objetivo 3:

Prover informações técnicas que possam ser utilizadas no desenvolvimento de práticas


recomendadas para as agências que trabalham no desenvolvimento de regulamentações do
descarte de material em offshore:

1.1.2. Como Foram Organizadas as Atividades?

Em janeiro de 2001, foi realizado o Primeiro Workshop do Projeto MAPEM, na


cidade de Gramado, RS, quando foram realizadas apresentações pelos pesquisadores das
Universidades sobre o planejamento preliminar do projeto, as características regionais dos
ambientes que seriam estudados e os processos naturais que poderiam alterar essas
características. Consultores externos convidados também fizeram apresentações sobre as
diferentes experiências e lições adquiridas durante a execução de projetos similares em países
que tenham realizado monitoramento ambiental associado à atividade de perfuração
exploratória.

Naquela ocasião, foi estabelecido o Bloco BC-9, na Bacia de Campos, como local de
monitoramento em águas profundas, uma vez que a operadora deste bloco – UNOCAL,
utilizaria fluidos não-aquosos durante a atividade de perfuração. A localização da área de

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estudo encontra-se no Capítulo 3. O local de águas rasas, junto ao Campo de Bonito, na


mesma bacia, foi definido posteriormente ao workshop. A operadora com concessão para
exploração nesta área é a Petrobrás. Técnicos do IBAMA destacaram a importância do
projeto, por abranger locais de águas rasas e de águas profundas, e a necessidade de se obter
dados oceanográficos visando a calibração dos modelos a serem implementados pelos grupos
de pesquisa.

A estratégia adotada em todas as discussões realizadas durante o Workshop consistia


em respeitar os pressupostos de se realizar três levantamentos de dados ambientais: um
cruzeiro oceanográfico pré-perfuração (MD1) e dois cruzeiros pós-perfuração (MD2 e MD3),
um a 30 dias e outro a 12 meses após a perfuração. A mesma malha amostral foi repetida nos
3 cruzeiros. O mecanismo de amostragem utilizado neste estudo permitiu a coleta de amostras
dentro de uma distância de poucos metros do ponto, mas não no mesmo ponto.

Para alcançar uma estratégia global de execução do projeto, foram constituídos grupos
de trabalho. Os grupos que trataram do plano de amostragem, da integração dos dados e da
simulação da trajetória dos cascalhos desenvolveram discussões sobre:

• a escala ideal da distância entre os pontos a serem amostrados;

• a extensão da área a ser monitorada;

• a densidade da malha de amostragem, para ser representativa dos processos


naturais e do impacto que pudesse afetar o fundo do mar.

A escolha dos equipamentos e do barco foi limitada aos sistemas que podiam operar
em águas profundas. Também, como decisões daquele evento, para fins do planejamento das
atividades, do cronograma e das metas do projeto, foi constituído o Comitê de Coordenação
do Projeto – “Steering Committee” / MAPEM – com objetivos específicos de:

• executar planos para interação técnica entre os grupos de pesquisa;

• definir estratégias para conclusão das atividades planejadas;

• elaborar e administrar os relatórios técnicos de controle de qualidade;

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• planejar a administração do banco de dados.

Para o cumprimento de parte destes objetivos, foi constituído o grupo de Controle de


Qualidade para revisão detalhada dos Protocolos que tratam dos procedimentos de
amostragem e de tipos de equipamentos oceanográficos para cada atividade de campo e de
laboratório dos grupos de Biologia, Geologia e Química.

Para conduzir as interpretações dos dados adquiridos, foram estruturados dois novos
grupos de pesquisa no projeto, a saber, o Grupo de Simulação e o Grupo de Estatística para
atuar na integração dos dados. A revisão das atividades específicas de cada grupo de pesquisa
está detalhada no Relatório do Workshop I (disponível na biblioteca do CECO).

No presente documento são descritos os dados, informações, resultados e


interpretações das atividades relacionadas aos três cruzeiros oceanográficos de águas
profundas – MD1, MD2 e MD3. A descrição dos processos de perfuração e descarga, tanto da
fase sem retorno – descarte de cascalhos perfurados com água do mar e. descarte de fluido
base aquosa, como da fase com retorno – descarte de cascalhos recobertos com NAF,
encontram-se no Capítulo 4.

A apresentação deste documento segue a seguinte estrutura:

Capítulos:

1 – Estrutura, Organização e Premissas do Projeto MAPEM

2 – Método Amostral e Estratégias de Análise dos Dados

3 – Geologia

4 – Modelagem do Descarte de Cascalhos e Fluido de Perfuração

5 – Análise Química de Sedimento e Perfil da Coluna d’Água

6 – Definição da Área Alterada pela Atividade de Perfuração

7 – Bentos

8 – Análise Integrada Multivariada

9 – Evolução do Sistema Adjacente ao Poço Eagle - Conclusões

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Anexos:

Anexo I Grupos de Pesquisa

Anexo II Protocolos

Anexo III Nome das Variáveis

Anexo IV Análises de Correlação – Pearson

Anexo V Análises de Correlação – Spearman

Anexo VI Famílias e Gêneros de Nemátodas e Grupos Funcionais da

Macrofauna Bêntica

Anexo VII Análise de Regressão Múltipla

Anexo VIII Gráficos Box plots

Anexo IX Fundamentos Técnicos

As instituições participantes do Projeto MAPEM, os objetivos do projeto, as


características e importância do fluido de perfuração, e o sumário executivo são apresentados
neste capítulo. As informações sobre sedimentologia, oceanografia, geomorfologia,
fotografias, imagens do sonar e vídeos do fundo marinho, bem como a localização do Poço
Eagle encontra-se no Capítulo 3. A descrição detalhada das diferentes etapas da perfuração
exploratória e dos parâmetros físicos utilizados para a simulação do descarte de cascalhos é
apresentada no quarto capítulo, e também, a visualização tridimensional do descarte. No
quinto, sexto, sétimo e oitavo capítulos, além dos dados apresentados, são discutidos e
avaliados os efeitos do descarte de cascalhos pelos grupos de pesquisa de Biologia, Estatística
e Química. A concepção do modelo integrado para o estudo do impacto ambiental das
atividades de perfuração exploratória de águas profundas foi idealizada e executada através da
interpretação estatística dos dados. Todos os procedimentos de Controle de Qualidade, tanto
para as amostragens, como para as análises de laboratório, para os grupos de Biologia,
Geologia e Química e as normas de segurança aplicadas às atividades de bordo estão reunidas
nos protocolos do projeto (Anexo II).

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1.1.3. Membros Executores e Intervenientes do MAPEM

Desde 2001, os grupos de pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,


que desenvolvem as atividades de monitoramento ambiental no Projeto MAPEM,
compreendem o Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica, o Grupo de
Pesquisa em Computação Gráfica e Processamento de Imagens, o Núcleo de Assessoria
Estatística, o Laboratório de Química Ambiental e Análise de Traços.

O Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica é órgão auxiliar de pesquisa


do Instituto de Geociências – UFRGS, (www.ceco.ufrgs.br). O CECO é um laboratório que
desenvolve pesquisas, desde 1969, na plataforma continental e na zona costeira, no Estado do
Rio Grande do Sul, em outras regiões do país e Península Antártica. As atividades do CECO
são de natureza interdisciplinar, abrangendo campos da geologia e da geofísica marinha, da
morfologia costeira, da oceanografia, da glaciologia e da geologia ambiental. O CECO
desenvolve modelos geológicos de processos costeiros e de plataforma continental para
análise de problemas práticos, publicação de artigos relacionados a esses modelos e ensino de
Pós-Graduação e Extensão. Alguns exemplos dessas atividades são a prospecção de minerais
pesados – areia, argila e carbonatos – na plataforma interna, planície costeira e lagunas;
mapeamento do fundo oceânico; monitoramento da linha de praia e modelagem do sistema
praial; análise de mudanças ambientais.

O Grupo de Pesquisa em Computação Gráfica e Processamento de Imagens, do


Departamento de Informática Aplicada, Instituto de Informática – UFRGS
(www.inf.ufrgs.br/gpesquisa/cg/), é um grupo criado no âmbito do Programa de Pós-
Graduação em Computação do Instituto, em 1978, tendo-se tornado um dos mais ativos
grupos em Computação Gráfica no Brasil. Os projetos desenvolvidos contemplam diversos
aspectos da Computação Gráfica e suas aplicações. Tais projetos incluem modelagem e
visualização de objetos complexos, modelagem e rendering baseados em imagens, animação,
visualização de dados científicos e informações, algoritmos para hardware gráfico, estruturas
de dados espaciais e algoritmos geométricos. A pesquisa em Processamento de Imagens e
Visão Computacional é voltada para técnicas e aplicações de aquisição, melhoria,
classificação e análise de imagens de fontes diversas, envolvendo também armazenamento e
recuperação de imagens por conteúdo, fotografia 3D e metrologia em imagens. Em Realidade
Virtual, são abordados tanto o desenvolvimento e a análise de técnicas de interação em
ambientes imersivos, como a modelagem de humanos virtuais em seus diversos aspectos.

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Além de produzir publicações científicas qualificadas, o grupo tem participação intensa no


ensino de graduação e pós-graduação e em atividades de extensão do Instituto, assim como
mantém cooperação com pesquisadores e grupos de outras instituições do Brasil e do exterior.

O Núcleo de Assessoria Estatística – NAE, é um órgão do Departamento de


Estatística do Instituto de Matemática – UFRGS (www.mat.ufrgs.br/~nae), com a finalidade
de prestar serviços de assessoria estatística tanto para a comunidade universitária, quanto para
a comunidade externa à Universidade. O NAE está associado a um Projeto de Extensão de
caráter permanente, vinculado ao eixo temático Intercâmbio e Cooperação. Atua nas mais
diversas áreas do conhecimento humano e o número crescente de interessados em seus
serviços atesta a sua importância no meio universitário. Os serviços prestados pelo NAE são:

• orientar a metodologia da pesquisa de acordo com o objetivo especificado. As


pesquisas podem ser quantitativas ou qualitativas;

• avaliar se o instrumento de pesquisa (questionário, escala ou roteiros) está de


acordo com os objetivos a serem alcançados na análise de dados;

• determinar o tamanho de amostra de acordo com as especificações da pesquisa;

• orientar a elaboração do banco de dados, que pode ser em planilha Excel ou


equivalente;

• determinar a técnica estatística mais apropriada para o projeto em estudo e o


melhor pacote estatístico que oferece a técnica selecionada;

• orientar a melhor forma de apresentação gráfica dos resultados da pesquisa;

• orientar a forma correta da elaboração do texto sobre resultados estatísticos, tanto


para dissertações, teses, publicações internacionais, como para apresentações em congressos e
similares.

O Laboratório de Química Ambiental e Análise de Traços, do Instituto de Química


– UFRGS (www.iq.ufrgs.br/lqaa/index.htm), iniciou as suas atividades no ano de 1985.
Atualmente, estão sendo utilizados os seguintes equipamentos analíticos: Cromatógrafo
gasoso VARIAN, modelo 3400, equipado com injetor split/splitless e detector de ionização de
chama; Cromatógrafo gasoso Agilent - modelo 6890, com injetor split/splitless e detector de

Estrutura, Organização e Premissas do Projeto MAPEM


Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória Marítima – MAPEM 10

massas (AGILENT - modelo 5390). Para análise dos metais em amostras de sedimento e
água, o laboratório dispõe dos seguintes equipamentos: ICP-OES (Inductively Coupled
Plasma Optical Emission Spectrometry), modelo OPTMA 2000 DV da PerkinElmer;
Absorção Atômica com forno de grafite (GFAAS - Graphite Furnace Atomic Absorption
Spectrometry) AAS5 da Analytic Jena; Absorção Atômica com Chama equipado com sistema
de geração de vapor frio (Cold Vapour Atomic Absorption Spectrometry) e um sistema FIA
(Flow Injection Analysis - FIAS 400) da PerkinElmer.

Pela Universidade Federal de Santa Catarina, o grupo de pesquisa de Biologia foi


constituído pelo Núcleo de Estudos do Mar.

O Núcleo de Estudos do Mar – NEMAR, é uma unidade de Pesquisa, Capacitação de


Recursos Humanos e Extensão em Ciências do Mar, criado na UFSC em 1980
(www.iq.ufrgs.br/lqaa/index.htm). As atividades do NEMAR são desenvolvidas em três áreas
auto-suficientes, porém interdependentes, que incluem: a) execução de pesquisas
multidisciplinares integradas dentro de uma visão holística dos sistemas costeiros e marinhos
da região sul e sudeste do Brasil, objetivando a geração de embasamento científico adequado
para o manejo ambiental; b) a capacitação de recursos humanos através de ações de formação
pela pesquisa; c) a realização de eventos de extensão dirigidos aos diversos segmentos da
sociedade sobre a complexidade, importância e vulnerabilidade dos sistemas ecológicos
marinhos e costeiros, bem como da necessidade do seu uso inteligente. No ano de 1991, o
nível de compromissos assumidos pela UFSC como instituição, em relação às atividades do
grupo já consolidado, determinou a necessidade de criar um Programa Institucional,
determinando que o NEMAR o implementasse. Assim, foi criado o Programa Institucional de
Estudos de Sistemas Costeiros – PIESC-UFSC –, composto por cinco programas setoriais:
Ambientes Costeiros e Oceânicos, Recursos do Mar, Poluição Ambiental, Manejo Costeiro e
Educação Ambiental. A equipe do NEMAR é aberta, e, em 2003, é composta por onze (11)
Doutores, oito (8) Mestres, dois (2) graduados e 23 orientandos pertencentes a cursos de Pós-
Graduação. Em nível de Doutorado, são seis (6) alunos, de Mestrado, dezessete (17) alunos e,
de graduação, seis (6) alunos.

O consórcio de empresas de petróleo e gás que contribuiu financeiramente para um


fundo administrado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás - IBP, no desenvolvimento do
Projeto MAPEM, foi constituído pelas seguintes companhias; (1) Amerada Hess, (2) British
Petroleum, (3) ChevronTexaco, (4) Devon, (5) El Paso, (6) ENCANA, (7) Eni Oil do Brasil,
(8) ExxonMobil, (9) Ipiranga, (10) Kerr-McGee, (11) Maersk, (12) Newfield, (13)

Estrutura, Organização e Premissas do Projeto MAPEM


Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória Marítima – MAPEM 11

Petrobrás, (14) Philips Petroleum, (15) Repsol YPF, (16) Shell, (17) Statoil, (18)
Totalfinaelf, (19) Unocal, (20) Wintershall.

O comitê de coordenação do MAPEM decidiu, também, contratar um corpo de


consultores para assessorar os grupos de investigação na etapa inicial do projeto, para
conhecer os resultados no contexto de outras experiências nacionais e internacionais; (1) Alan
D. Hart, Ph.D. – Continental Shelf Associates, Inc., (2) Jerry Neff, Ph. D. – Battelle
Institute, (3) Marcio Rocha Mello, Ph. D. – Analytical Solutions, e de consultores para
assessoramento dos grupos de pesquisa em Biologia, Estatística e Química; (4) Julio Cesar
Wasserman, Ph. D. – PGCA / UFF, (5) Keith Parker, Ph. D. – Data Analysis Group (6)
Paulo Lana, Ph. D. – CEM / UFPR , (7) Renato Martins Assunção, Ph. D. – IM / UFMG.

No Anexo I são relacionados todos os pesquisadores, consultores, bolsistas e


estagiários que atuaram no desenvolvimento das atividades técnicas e científicas do Projeto
MAPEM.

1.1.4. A Instituição Concedente do Projeto MAPEM - FINEP

A FINEP (www.finep.gov.br), criada em 24 de julho de 1967 pelo Decreto nº 61.056,


é uma empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia do Ministério de
Ciência e Tecnologia, que tem por missão promover e financiar a inovação e a pesquisa
científica e tecnológica em empresas, universidades, centros de pesquisa, governo e entidades
do terceiro setor, mobilizando recursos financeiros e integrando instrumentos para o
desenvolvimento econômico e social do Brasil.

Os Fundos Setoriais de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, criados a


partir de 1999, são instrumentos de financiamento de projetos de pesquisa, desenvolvimento e
inovação no País. Eles atendem 14 áreas, cada uma com recursos próprios e exclusivos. Esses
recursos, oriundos de contribuições incidentes sobre o faturamento de empresas e ou sobre o
resultado da exploração de recursos naturais pertencentes à União, são alocados no FNDCT.
A FINEP é a agência responsável por sua gestão executiva, sob orientação dos Comitês
Gestores, que definem diretrizes e planos anuais de investimentos para os Fundos. Os
Comitês envolvem representantes do setor produtivo, acadêmico e de diversas instâncias do
Governo.

Estrutura, Organização e Premissas do Projeto MAPEM


Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória Marítima – MAPEM 12

A criação dos Fundos Setoriais pelo governo federal representa o estabelecimento de


um novo padrão de financiamento para o setor, sendo um mecanismo inovador de estímulo ao
fortalecimento do sistema de C&T nacional. O CTPETRO foi o primeiro Fundo, criado em
1999. Seu objetivo é estimular a inovação na cadeia produtiva do setor de petróleo e gás
natural, a formação e qualificação de recursos humanos e o desenvolvimento de projetos em
parceria entre empresas e universidades, instituições de ensino superior ou centros de pesquisa
do País, visando ao aumento da produção e da produtividade, à redução de custos e preços e à
melhoria da qualidade dos produtos do setor. O CTPETRO tem como regra para a fonte de
financiamento 25% da parcela do valor dos royalties que exceder a 5% da produção de
petróleo e gás natural.

1.1.5. A Instituição Interveniente do Projeto MAPEM - IBP

O IBP é uma sociedade civil sem fins lucrativos (www.ibp.org.br), cujo objetivo é
promover o desenvolvimento da indústria nacional de petróleo, gás e petroquímica. Conta
hoje com 202 empresas associadas, compreendendo companhias que atuam nos ramos da
cadeia de petróleo, gás, bens e serviços e petroquímica. Com o apoio de suas Comissões
Técnicas e Setoriais, que congregam cerca de 900 profissionais, desenvolve atividades de
natureza técnica e institucional, através de projetos e estudos, cursos e eventos, sendo um
importante fórum de interlocução da indústria petrolífera com os órgãos governamentais, nas
questões relacionadas à nova regulamentação do setor.

Representando a indústria de petróleo, o IBP participa, desde 1998, do Comitê de


Coordenação do CTPETRO - Plano Nacional de Ciência e Tecnologia do Setor de Petróleo e
Gás Natural, fundo setorial do MCT, administrado pela FINEP. A função do Comitê é
identificar as necessidades tecnológicas do setor e estabelecer os mecanismos para a captação
e seleção dos projetos passíveis de financiamento pelo fundo. Como representante da
indústria, além de buscar identificar as necessidades tecnológicas do setor, a posição do IBP é
para a priorização de financiamento de projetos cooperativos empresa / universidade, bem
como para o estabelecimento de termos contratuais que assegurem o direito da empresa nas
questões envolvendo a confidencialidade de informações e a propriedade intelectual, de know-
how ou da patente, que venha a ser gerada nos referidos projetos de parceria.

Estrutura, Organização e Premissas do Projeto MAPEM


Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória Marítima – MAPEM 13

Desde 1997, início da fase de transição para a abertura do mercado, que se estendeu
até o final de 2001, o IBP, atendendo a uma nova demanda de serviços para seus associados,
começou a criar as chamadas comissões setoriais. Reunindo representantes de empresas
atuantes nos diferentes setores da cadeia de petróleo, o objetivo dessas comissões é apresentar
aos órgãos governamentais, estudos e propostas relativos às questões legais, fiscais e
regulatórias de interesse ao desenvolvimento de seus respectivos negócios nesse novo cenário
de mercado.

Ao final de 2003 encontravam-se em atividade seis comissões setoriais;


Regulamentação de E&P, Comercializadores de Gás Natural, Refino, GNV, Produtores
Independentes e Companhias de Serviços Offshore. Uma sétima comissão, reunindo os
Transportadores Dutoviários, deverá entrar em operação.

Apoiando-se no suporte dos profissionais de suas subcomissões, a Comissão de


Regulamentação de Exploração e Produção de Petróleo e Gás desenvolveu intenso trabalho
em 2003 para acompanhar e oferecer comentários a normas, regulamentos técnicos,
resoluções e portarias advindas da ANP, IBAMA, CONAMA e de outros órgãos
governamentais.

A subcomissão de Segurança, Saúde Ocupacional e Meio Ambiente representou o IBP


em grupos de trabalho (GT) interministeriais coordenados pelo MMA e de “Câmaras
Técnicas” coordenadas pelo IBAMA / ELPN.

Desta atuação resultaram: Decreto que regulamentará a elaboração de “Planos de


Emergência de Área” para combate à poluição por óleo e outras substâncias nocivas ao meio
ambiente; Minuta de documento para regulamentar a “Descarga de Fluido de Perfuração e
Completação”; Informação Técnica ELPN / IBAMA nº 22/02, que dirimiu dúvidas
relacionadas à elaboração do Plano de Emergência Individual (PEI) e à Resolução CONAMA
293/02.

1.1.6. A Instituição Executora do Projeto MAPEM– FAURGS

A Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - FAURGS é


uma entidade de direito privado sem fins lucrativos. A FAURGS foi criada em função da Lei
no 8.958 de 20 de dezembro de 1994 que dispõe sobre as relações entre as Instituições

Estrutura, Organização e Premissas do Projeto MAPEM


Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória Marítima – MAPEM 14

Federais de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica e as Fundações de Apoio.


São objetivos da FAURGS:

• colaborar na elaboração e execução de projetos de pesquisa, ensino e extensão


aprovados pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS);

• prestar serviços técnico-científicos remunerados à UFRGS e à comunidade;

• realizar e promover atividades científicas e culturais;

• ceder bolsas de estudo e de pesquisa, de graduação, pós-graduação e extensão;

• promover, difundir e coordenar a cooperação técnica entre organizações e


instituições nacionais e estrangeiras.

As atividades da FAURGS, na consecução de seus objetivos, observarão as políticas


de ensino, pesquisa e extensão da UFRGS, definidas por seus colegiados superiores, que
exercerão controle finalístico, sem prejuízo da fiscalização exercida pelo Ministério Público,
na forma da legislação pertinente.

1.2. O USO DE FLUIDOS NÃO-AQUOSOS NA ATIVIDADE DE


PERFURAÇÃO EXPLORATÓRIA

A atividade de perfuração de poços de óleo e gás implica na utilização de fluidos


genericamente denominados fluidos de perfuração com a função de:

• Controlar as pressões do poço;

• Sustentar as paredes do poço;

• Manter os sólidos em suspensão;

• Carrear os cascalhos perfurados para a superfície;

• Lubrificar e resfriar a broca.

Estrutura, Organização e Premissas do Projeto MAPEM


Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória Marítima – MAPEM 15

A indústria utiliza dois tipos principais de fluidos de perfuração: os fluidos base água
(water base fluids – WBFs) e os fluidos não-aquosos (non-aqueous fluids – NAFs). O termo
"fluido base não aquosa - FBNA", utilizado pelas industrias de petróleo e gás que operam no
país, equivale ao termo "fluido não-aquoso – NAF", empregado neste documento. Também, o
termo "fluido base aquosa - FBA", corresponde a sigla WBF empregada neste documento. Os
NAFs constituem-se normalmente de uma emulsão de uma solução aquosa em uma fase
orgânica. Esta fase orgânica pode ser dos seguintes tipos:

• NAFs do Grupo I – de Conteúdo Aromático Elevado: constituem um


subconjunto de NAFs possuindo um conteúdo maior que 0,35% em hidrocarbonetos
aromáticos policíclicos (HPA). Esse grupo inclui os fluidos base óleo diesel (FBOD) e óleo
mineral (FBOM);

• NAFs do Grupo II – de Conteúdo Aromático Médio: constituem um


subconjunto de NAFs com conteúdo de PAH inferior a 0,35%, porém maior que 0,001%.
Esse grupo inclui os materiais refinados do petróleo bruto, tais como os fluidos base óleo
mineral de baixa toxicidade (LTMBF);

• NAFs do Grupo III – de Conteúdo Aromático Baixo ou Negligível: constituem


um subconjunto de NAFs com conteúdo de PAH inferior a 0,001%. Esse grupo inclui os
fluidos produzidos por reações químicas de compostos relativamente puros e pode incluir,
também, hidrocarbonetos sintéticos (olefinas e parafinas sintéticas), ésteres, éteres e acetais.
Os fluidos base óleo mineral, produzidos por processos especiais de refino e, ou separação
(parafinas, fluido base óleo mineral superior – EMBF), também estão incluídos no grupo.

Todo o monitoramento de impacto ambiental no Poço Eagle foi desenvolvido tendo


como referência o impacto produzido pelo descarte de cascalho com fluido NAF – Grupo III,
durante a fase de perfuração com retorno dos cascalhos, ou seja, com instalação do riser. O
fluido base utilizado foi uma parafina com predomínio de hidrocarbonetos lineares C13 a C19.
Quando formulados adequadamente os NAFs oferecem, em relação aos WBFs, uma
série de vantagens técnicas em situações de perfuração difícil, algumas encontradas em águas
profundas. Essas vantagens incluem o seguinte:

Estrutura, Organização e Premissas do Projeto MAPEM


Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória Marítima – MAPEM 16

• Estabilidade das paredes do poço: os NAFs apresentam uma baixa reatividade


com formações sensíveis a água (principalmente folhelhos);

• Lubricidade: alguns dos aditivos utilizados nas fórmulas dos NAFs reduzem o
atrito na perfuração de poços, seja no caso de poços altamente desviada, seja no caso de poços
horizontais;

• Estabilidade a temperaturas elevadas: os NAFs são mais estáveis em aplicações


de elevada temperatura, como as encontradas em poços de maior profundidade;

• Prevenção de prisão diferencial: quando se perfura através de areias depletadas,


a coluna de perfuração tem, no caso de NAFs, menor probabilidade de ficar sujeita à prisão
diferencial;

• Prevenção da formação de hidratos: os NAFs são menos susceptíveis à


formação de hidratos gasosos, tais como os que poderiam se formar durante operações de
controle de poço em águas profundas.

Como resultado dessas características, os NAFs possuem, em certas condições,


algumas vantagens sobre os WBFs. Permitem velocidades de perfuração mais elevadas,
menores problemas na perfuração e uma redução na necessidade de medidas remediadoras no
poço. Para cada poço perfurado, uma perfuração mais rápida resultará em menores riscos de
segurança e saúde para o pessoal e para o meio ambiente. Também, em formações sensíveis à
água, resultará, quase sempre, em menor quantidade de cascalho gerado.

A maior parte das agências de regulamentação ambiental (IBAMA, EPA, etc.) não
permite o descarte de NAFs não associado a cascalhos. Por outro lado, o elevado custo dos
NAFs propicia a sua reciclagem e reutilização. O Fluido, juntamente com o cascalho, retorna
para a plataforma de perfuração onde existe instalado um sistema de separação de sólidos
composto basicamente por peneiras, hidrociclones e centrífugas. Após o processamento neste
sistemas, restam cascalhos de perfuração com uma certa quantidade de fluido, normalmente
na proporção entre 10 e 25% do peso total. Mais recentemente, foi introduzido um
equipamento (cuttings dryer) que reduz o teor de líquidos no cascalho a menos de 5%.

Em contrapartida, o descarte dos WBFs é permitido, na maior parte do mundo (Anexo


IX), a não ser em áreas altamente sensíveis. Dependendo das exigências de testes locais,
alguns WBFs podem ser descartados em um país, mas não em outro.

Estrutura, Organização e Premissas do Projeto MAPEM


Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória Marítima – MAPEM 17

A principal questão ambiental associada ao descarte de cascalhos impregnados com


NAF é o impacto final sobre a comunidade bentônica marinha. Assim, o destino, a
persistência e a biodegrabilidade dos hidrocarbonetos nos cascalhos constituem motivos de
preocupação. O grau de distúrbio que afeta o bentos marinho dependerá de vários fatores, tais
como das características físicas e químicas das deposições de cascalhos revestidos com NAF,
das condições oceanográficas locais, da quantidade de cascalhos descartados, do tipo de NAF
usado, e da concentração de NAFs nos cascalhos.

A pluma de dispersão de cascalhos impregnados com NAFs tende a ser mais estreita
(cobrir uma área menor) do que a pluma de cascalho impregnado com WBF. Desta forma,
depósitos de cascalho impregnado com NAF tenderão, nas mesmas condições, a formar
depósitos com menor área e maior espessura do que depósitos de cascalho impregnado com
WBF. Uma vez depositados os cascalhos com NAF, a sua persistência dependerá da
ressuspensão e do transporte dos sedimentos, assim como da velocidade de biodegradação do
NAF. Em águas mais rasas, a espessura inicial da deposição e as concentrações de
hidrocarbonetos sedimentares podem ser mais elevadas do que em águas mais profundas. Os
processos naturais de redução das acumulações de cascalhos são mais eficientes, também,
quando tais acumulações se encontram espalhadas sobre áreas maiores. No entanto, as taxas
absolutas de recuperação dependerão das condições ambientais locais, incluindo fatores como
a temperatura, a velocidade da corrente e a disponibilidade de oxigênio.

Acredita-se que os impactos bênticos resultantes do descarte de cascalhos resultam da


sufocação física, da alteração de propriedades dos sedimentos e, no caso específico dos
cascalhos com NAFs, de um decréscimo no nível de oxigênio resultante da biodegradação
deste fluido. Torna-se difícil separar os efeitos da toxicidade química dos sedimentos daqueles
oriundos da privação de oxigênio. O grau de recuperação da comunidade bêntica dependerá,
também, do tipo de comunidade afetada.

Os estudos de campo sobre o descarte de fluidos de perfuração e cascalhos


proporcionam uma avaliação direta dos impactos sobre o ambiente marinho. Pesquisas de
campo são normalmente utilizadas para determinar a distribuição e a persistência dos fluidos e
dos cascalhos da perfuração no fundo do mar, assim como os impactos sobre a comunidade
bentônica. Muitos estudos de campo têm sido conduzidos sobre os impactos dos descartes de
cascalhos com WBFs, assim como de cascalhos associados a NAFs do Grupo I. Ao redor de
vinte estudos tem sido levados a efeito sobre o impacto das descargas dos cascalhos com
NAFs dos grupos II e III, a maior parte em águas rasas.

Estrutura, Organização e Premissas do Projeto MAPEM


Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória Marítima – MAPEM 18

Os numerosos estudos sobre o descarte de WBFs (Anexo IX) que têm sido conduzidos
apóiam o ponto de vista de que o potencial dos efeitos biológicos no fundo do mar, em razão
das descargas, seja de cascalhos associados a WBFs ou de WBFs, depende, principalmente,
da energia do ambiente no fundo do mar. Quando são observados impactos, eles parecem ser
de natureza física, sendo localizados e transitórios. Em contrapartida, os impactos das
descargas de cascalhos associados a NAFs do Grupo I tendem a ser mais severos e de maior
duração.

As conclusões resultantes dos estudos de campo para se determinar os impactos das


descargas de cascalhos com óleo diesel no Mar do Norte foram resumidos em uma lista de
“fatos consensuais” pelo Grupo de Trabalho da Comissão de Paris sobre Poluição de Óleo. Os
principais pontos consensuais são que as descargas de cascalhos associados ao diesel (OBFs)
podem ter um efeito adverso sobre a comunidade biológica do fundo do mar, localizada sobre
a plataforma e adjacências. Efeitos em grande escala, como a completa despovoação de
espécies bênticas, são limitados a zonas que vão de 250 a 500 m do poço, para perfuração de
um poço único ou de poços múltiplos, respectivamente. Nessas zonas, a recuperação tende a
ser lenta. Em volta desta área, que sofre efeitos significativos, ocorre uma zona de transição,
em que são detectados efeitos biológicos menores, embora as concentrações de
hidrocarbonetos ainda sejam elevadas. Estudos sobre os impactos de longo prazo das
descargas de cascalhos associados a OBFs diesel (NAFs do Grupo I) indicam que as
concentrações de hidrocarbonetos permanecem bem acima dos níveis de referência, sendo as
comunidades bênticas afetadas durante, pelo menos, oito anos em algumas estações próximas
ao poço.

Existem poucos estudos de campo sobre locais em que foram utilizados cascalhos com
NAFs do Grupo II (Anexo IX). Com base nos resultados de um estudo, após cinco anos do
término da perfuração, em que foram examinados três poços perfurados – um poço com NAF
do Grupo II, outro com NAF do Grupo I e o último com WBF –, observou-se que o NAF do
Grupo II é menos persistente do que o NAF do Grupo I.

Foi conduzido um número limitado de estudos sobre os impactos do descarte de


cascalhos com fluidos sintéticos (Anexo IX). Os estudos mais abrangentes, que correspondem
ao descarte de cascalhos com fluidos base éster (EBFs), mostram evidências que os ésteres
podem não persistir no fundo do mar a longo prazo. Isso se deve, provavelmente, a uma
combinação de biodegradação e de dispersão no fundo do mar. Existem evidências de
impactos localizados de curto prazo sobre o bentos, a partir do descarte de cascalhos

Estrutura, Organização e Premissas do Projeto MAPEM


Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória Marítima – MAPEM 19

associados a EBFs. A recuperação bêntica é rápida, levando de 1 a 2 anos. Os resultados dos


estudos sobre o descarte de outros tipos de cascalhos são similares. Nesses estudos, os níveis
de concentração de hidrocarbonetos declinaram significativamente, em alguns casos para
níveis não detectáveis, um ano após a perfuração. O estudo disponível e realizado para águas
com profundidade de 565 m, indicou que, após a perfuração de 10 poços, os cascalhos
dispersaram-se no fundo do mar de modo não uniforme. No entanto, em alguns locais, os
cascalhos tinham uma espessura de até 20 a 25 cm. Essas acumulações foram atribuídas à
perfuração realizada antes da instalação do riser ou da fase com retorno.

Um estudo, em que os cascalhos associados a parafinas lineares foram descarregados


em ambientes de elevada energia, demonstrou uma recuperação rápida em termos de declínio
das concentrações de hidrocarbonetos nos sedimentos, bem como quanto à recolonização
bêntica.

Quanto aos modelos matemáticos de dispersão, em nível mundial, a indústria do


petróleo e as agências de regulamentação têm desenvolvido e aplicado modelos para avaliar o
descarte da perfuração. Tais modelos podem ser utilizados para prever a extensão da área e a
espessura das acumulações no fundo do mar. Essas informações, em conjunto com a análise
de outros dados que não são considerados nos modelos, isto é, a energia disponível para a
ressuspensão, o transporte de cascalhos depositados e a eficiência da biodegradação no
ambiente específico, podem ajudar a determinar a aceitabilidade de descargas associadas a
uma exploração planejada e a uma perfuração de desenvolvimento. Além disso, os modelos
podem ser utilizados para avaliar os efeitos de várias técnicas de tratamento de cascalhos
sobre os padrões de deposição dos cascalhos, assim como para o projeto de práticas para a
eliminação desses. Os modelos de descarga requerem estimativas precisas de correntes ao
longo da coluna d’água. Para a maior parte dos locais de perfuração, este tipo de dado,
específico para o local, é limitado. Quando isto ocorre, dados regionais podem ser utilizados
de maneira a proporcionar previsões mais gerais. Espera-se que dados regionais apropriados
de correntes proporcionem previsões da magnitude e extensão geral dos distúrbios no fundo
do mar causados pelas descargas com precisão suficiente como para determinar a
aceitabilidade ou não da descarga.

As considerações apresentadas resumidamente neste capítulo, acerca dos efeitos


ambientais dos descartes de cascalhos associados com NAF estão descritas detalhadamente no
documento intitulado “Efeitos ambientais dos Cascalhos Associados a Fluidos Não-Aquosos:
Fundamentos Técnicos”, que se encontra no Anexo IX.

Estrutura, Organização e Premissas do Projeto MAPEM


Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória Marítima – MAPEM 20

1.3. A ATIVIDADE DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL PELO IBAMA

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –


IBAMA, criado pela Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, tem entre suas missões aquela
de executar o controle e a fiscalização ambiental nos âmbitos regional e nacional, e intervir
nos processos de desenvolvimento geradores de significativo impacto ambiental.

O IBAMA edita portarias que estabelecem regras de conduta, monitoram e fiscalizam


a indústria do petróleo e gás natural no sentido de controlar, evitar e prevenir acidentes e
promover o uso adequado dos recursos naturais com o propósito de fazer cumprir as boas
práticas de conservação, uso racional e de preservação do meio ambiente.

Para o IBAMA a implementação de estratégias de gerenciamento ambiental pressupõe


a geração, sistematização e disponibilização de informações sobre os diferentes recursos
ambientais e sobre as atividades humanas a eles relacionadas. No que se refere às atividades
de exploração e produção de petróleo na costa brasileira, a carência de informações sobre os
recursos ambientais e atividades humanas gera implicações diretas nos processos de
licenciamento ambiental, mais especificamente, no que concerne à qualidade dos Estudos
Ambientais e à conseqüente dilação decorrente deste processo, incompatível a dinâmica deste
setor.

Neste contexto, o Escritório de Licenciamento das Atividades de Petróleo e Nuclear,


da Diretoria de Licenciamento e Qualidade Ambiental – ELPN / DILIQ, buscou reunir em
uma base cartográfica, através do “Guia para o Licenciamento Ambiental das Atividades de
Perfuração de Petróleo e Gás”, as principais informações sobre os recursos ambientais das
regiões costeira e marinha do Brasil, as quais apresentam maior suscetibilidade aos impactos
da perfuração das atividades de exploração e produção de petróleo. O documento base
utilizado para orientar esta atividade foi elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente em
2002, e foi denominado de “Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da
Biodiversidade das Zonas Costeira e Marinha”. Este documento foi elaborado com base no
apoio técnico de diferentes setores do IBAMA como o Centro Nacional de Desenvolvimento
e Populações Tradicionais – CNPT, o Projeto Tartarugas Marinhas – TAMAR, o Centro de
Mamíferos Aquáticos – CMA, a Diretoria de Ecossistemas – DIREC, a Diretoria de Fauna e
Recursos Pesqueiros - DIFARP, o Centro de Pesquisa e Extensão Pesqueira do Norte –
CEPNOR, o Centro de Pesquisa e Extensão Pesqueira do Nordeste – CEPENE, o Instituto
Baleia Jubarte e o Projeto Recifes Costeiros.

Estrutura, Organização e Premissas do Projeto MAPEM


Monitoramento Ambiental em Atividades de Perfuração Exploratória Marítima – MAPEM 21

Para o IBAMA os principais impactos efetivos da atividade de perfuração exploratória


marítima podem ser resumidos através das seguintes características: os impactos são de
abrangência local, sendo que os descartes de fluidos e cascalhos afetam a coluna d’água e os
sedimentos de fundo, com possíveis efeitos de contaminação e perda do habitat nestes
ambientes, principalmente dependendo do tipo de fluido utilizando durante a perfuração.

Os impactos inerentes à atividade de perfuração, quanto ao descarte de cascalhos,


podem afetar especificamente os seguintes organismos e zonas marinhas: recifes, bentos,
plantas marinhas, peixes, sirênios, quelônios, mamíferos e o habitat representado pelo fundo
do mar. Também, para o IBAMA estas áreas foram classificadas em 05 categorias, as quais
expressam diferentes níveis de exigências para os estudos ambientais, variáveis entre o nível
moderado (1) e o nível extremo (5) de exigência nos estudos ambientais.

Estrutura, Organização e Premissas do Projeto MAPEM

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