You are on page 1of 23

0

ESTADO DO ACRE
POLÍCIA MILITAR
DIRETORIA DE ENSINO
CURSO DE HABILITAÇÃO DE OFICIAIS ADMINISTRATIVOS –
CHOA 2022

AL CHOA PM FRANCISCO ROSENILTON CORREIA MARTINS

A NECESSIDADE DE FORMAÇÃO ESPECÍFICA PARA ATENDIMENTO E


ABORDAGEM DE PESSOAS AUTISTAS PELA PMAC NO ANO DE 2022

Rio Branco
2023
1

AL CHOA PM FRANCISCO ROSENILTON CORREIAMARTINS

A NECESSIDADE DE FORMAÇÃO ESPECÍFICA PARA ATENDIMENTO E


ABORDAGEM DE PESSOAS AUTISTAS PELA PMAC NO ANO DE 2022

Artigo Científico apresentado à Diretoria de


Ensino da Polícia Militar do Acre em
cumprimento dos requisitos necessários para a
conclusão do Curso de Habilitação de Oficiais
Administrativos – CHOA 2022/2.

Orientador: Prof. Esp.Francisca Honorina


Farias Simione-Neuropsicologia Clinica

Rio Branco
2023
2

AL CHOA FRANCISCO ROSENILTON CORREIA MARTINS

A NECESSIDADE DE FORMAÇÃO ESPECÍFICA PARA ATENDIMENTO E


ABORDAGEM DE PESSOAS AUTISTAS PELA PMAC NO ANO DE 2022

Artigo Científico apresentado à Diretoria de


Ensino da Polícia Militar do Acre em
cumprimento dos requisitos necessários para a
conclusão do Curso de Habilitação de Oficiais
Administrativos – CHOA 2022/2.

Aprovado em: _______/_______/2023.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________
Nilton Brito de Amorim – 1º TEN PM
Especialista em Docência do Ensino Superior

__________________________________________________
Francisca Honorina Farias Simione-NeuropsicologiaClinica
Orientador

________________________________________________
3

A NECESSIDADE DE FORMAÇÃO ESPECÍFICA PARA ATENDIMENTO E ABORDAGEM


DE PESSOAS AUTISTAS PELA PMAC NO ANO DE 2022

Francisco Rosenilton Correia Martins1


Francisca Honorina Farias Simione2

RESUMO

As informações sobre as manifestações e diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista


(TEA) vêm aumentando consideravelmente na atualidade. Usualmente, são três as áreas
que sofrem prejuízo no autismo, sendo que a de maior relevância é a da habilidade social.
Manifestando significativas dificuldades em interpretar as normas e regras, bem como
compreender efetivamente as intenções dos outros, impedem que o autista identifique
corretamente determinadas situações no ambiente em que vivem, o que traz implicações
significativas ao trabalho do Policial Militar. Este estudo tem como objetivo analisar a
necessidade de formação específica para atendimento e abordagem de pessoas autistas
pela PMAC no ano de 2022. Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório, realizado
mediante pesquisa bibliográfica e de campo, pautado pelas discussões de autores como
Rutter (2011) e Schmidt (2013), os resultados do estudo apontam para a necessidade de
uma Instrução Normativa no âmbito da Polícia Militar do Acre – PMAC, definindo critérios
para a abordagem e atendimento de pessoas com autismo, assim como do desenvolvimento
de atividades formativas e educativas aos militares, para que possam oferecer um
atendimento diferenciado quanto a circunstância envolver um indivíduo com TEA.

Palavras-chave:Formação;Instrução Normativa; Transtorno do Espectro do Autismo.

ABSTRACT

Information on the manifestations and diagnosis of Autism Spectrum Disorder (ASD) has
been increasing considerably today. Usually, there are three areas that suffer impairment in
autism, and the most relevant is that of social ability. Manifesting significant difficulties in
interpreting the norms and rules, as well as effectively understanding the intentions of others,
prevent the autistic person from correctly identifying certain situations in the environment in
which they live, which has significant implications for the work of the Military Police. This
study aims to analyze the need for specific training for the care and approach of autistic
people by PMAC in 2022. This is a qualitative, exploratory study, conducted through
bibliographic and field research, guided by the discussions of authors such as Rutter (2011)
and Schmidt (2013), the results of the study point to the need for a Normative Instruction
within the scope of the Military Police of Acre - PMAC, defining criteria for the approach and
care of people with autism, as well as the development of formative and educational activities
to the military, so that they can offer a differentiated care regarding the circumstance
involving an individual with ASD.

Keywords: Training; Normative Instruction; Autism Spectrum Disorder.

1
Aluno CHOA PM Francisco Rosenilton Correia|Martins , Tecnólogo em Gestão Ambiental
2
Orientador Francisca Honorina Farias Simione, Neuropsicologia Clinica
4

INTRODUÇÃO

O presente estudo situa-se na linha de pesquisa denominada “Funções,


técnicas e procedimentos em segurança pública”, inserido no bojo do Plano
Estratégico da Polícia Militar do Acre – PMAC (2021), através do objetivo 10.5:
fortalecer a política de prevenção à violência e criminalidade e à violação aos
direitos humanos. O tema da investigação é a necessidade de os policiais militares
possuírem uma formação/capacitação específica voltada ao atendimento e/oi
abordagem de pessoas com algum grau do Transtorno do Espectro do Autismo –
TEA.
O referido Transtorno tem início precoce e suas dificuldades comprometem o
desenvolvimento do sujeito, ao longo da vida, sendo grande a variação de
intensidade e expressão dos sintomas, nos domínios que estabelecem seu
diagnóstico. Hoje, o TEA é interpretado como uma síndrome comportamental de
grande complexidade, com etiologias diversificadas, integrando elementos genéticos
e ambientais (RUTTER, 2011).
Compreendendo que a pessoa com TEA possui algumas particularidades de
comportamento e percepção do mundo, as quais se refletem no seu comportamento
e levando em conta as legislações nacionais e internacionais que dispõem da
necessidade de atenção e atendimentos especializados a esses indivíduos, foi
escolhido o presente tema, como sendo relevante para o policial militar. Desse
modo, o problema de pesquisa deste estudo é: Existe a necessidade de um
procedimento operacional diferenciado para atendimento e abordagem de pessoas
autistas pela PMAC atualmente?
Infere-se que a pessoa com algum grau do TEA pode manifestar
comportamentos e reações distintos das pessoas não portadoras, como, por
exemplo, maior sensibilidade e intolerância á sons, cheiros, texturas, vozes, luzes,
cores. Destaca-se, também, que pessoas com TEA podem manifestar algum tipo de
dificuldade e de entender e atender a comandos simples, o que pode ser
erroneamente interpretado como insubordinação.
Diante de tais justificativas, é possível conjecturar que uma abordagem
policial na qual esteja inserida uma pessoa com TEA, pode ter desfechos
imprevisíveis, pois o indivíduo pode não dispor de condições suficientes para
5

compreender o que está ocorrendo consigo, não sendo colaborativo com a polícia e,
até mesmo, reagindo de forma inesperada e abrupta, o que pode parecer aos olhos
do policial como uma reação culposa.
A temática ainda é pouco discutida no âmbito da Segurança Pública do Acre,
mas há estados brasileiros que já possuem normativas próprias, assim como
capacitações, que consideram a abordagem policial na perspectiva de uma pessoa
com algum grau de autismo.Os policiais militares da PMAC devem ter conhecimento
de como atender e abordar de forma apropriada pessoas com Transtorno do
Espectro Autista, entretanto, a corporação não dispõe de regulamentos ou
normativas que disciplinem a abordagem e o atendimento envolvendo pessoas
autistas.
Os objetivos deste estudo são, do ponto de vista geral, analisar a
necessidade de formação específica para atendimento e abordagem de pessoas
autistas pela PMAC no ano de 2022 e do ponto de vista específico, debater os
direitos das pessoas com TEA no que se refere à abordagem e atendimento pela
PMAC consoante critérios específicos, examinar os motivos que justificam um
atendimento e abordagem diferenciados para pessoas com TEA pela PMAC e
analisar a possibilidade de desenvolver um procedimento operacional e formação
apropriados para a abordagem e o atendimento destes sujeitos pela mencionada
corporação.
Justifique-se a relevância do estudo tendo em vista o constante
aperfeiçoamento e evolução do Estado Democrático de Direito, que requer de suas
instituições, a máxima observância aos direitos e prerrogativas dos mais diversos
contingentes populacionais, em consonância com os pactos e legislações que
asseguram o integral respeito aos Direitos Humanos. Destarte, é importante para o
policial militar compreender a dinâmica descrita e suas implicações, dentre as quais
a necessidade da adoção de um procedimento operacional que contemple as
particularidades de pessoas com TEA.
Como trajetória metodológica do estudo, foi escolhida a perspectiva caráter
qualitativo, exploratório, utilizando-se do método dedutivo, tratando-se de uma
pesquisa aplicada, pois trará novos conhecimentos a serem aplicados na realidade
da PMAC, através de pesquisa bibliográfica, fundamentando o estudo, assim como
pesquisa de campo, analisando a necessidade de instauração de procedimento
especializado para pessoas com TEA.
6

O trabalho está dividido em 03 seções, contemplando respectivamente, a


metodologia, o referencial teórico, tratando sobre o TEA, suas legislações,
manifestações e a relação com o trabalho da PMAC e, por fim, a análise e discussão
da pesquisa de campo.

1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a elaboração do presente estudo, verifica-se a necessidade de sua


fundamentação teórica, que ocorrerá mediante pesquisa bibliográfica, analisando os
apontamentos que a literatura traz sobre a temática. Por se tratar de um assunto que
requer intensa compreensão teórica de sua fenomenologia, sobretudo no que se
refere às características dos sujeitos com Transtorno do Espectro Autista que podem
repercutir em uma abordagem policial, a opção do estudo é que ele seja
predominantemente qualitativo, realizado exclusivamente por investigação
bibliográfica, não se aplicando pesquisa de campo.
O que deseja, de fato, é analisar o que se apresenta na literatura, assim como
levantar publicações que tratem das experiências de outros estados com a
abordagem especifica que leva em consideração a possibilidade de haver pessoas
com TEA que podem apresentar reações diversificadas em uma abordagem
policial.Assim, o estudo é bibliográfico, de caráter qualitativo, exploratório, utilizando-
se do método dedutivo, tratando-se de uma pesquisa aplicada, pois trará novos
conhecimentos a serem aplicados na realidade da PMAC.
O estudo funda-se no princípio da Dignidade da Pessoa Humana, trazido pela
Constituição Federal de 1988 e pelos tratados e legislações nacionais e
internacionais dos quais o Brasil é signatário e que dispõem sobre os Direitos
Humanos das pessoas com Transtorno do Espectro Autista, legislações nacionais,
internacionais e de âmbito local (estadual/municipal). Para a pesquisa de campo, foi
aplicado um questionário semiestruturado via Google Forms para 40 policiais
militares.

2 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA E POLÍCIA MILITAR

Para a Associação Americana de Psiquiatria – APA (apudZANONet al.,


2014), o Transtorno do Espectro Autista - TEA é um transtorno do
7

neurodesenvolvimento e suas manifestações comportamentais implicam em


comprometimentos qualitativos no desenvolvimento sociocomunicativo e a
apresentação de comportamentos estereotipados e de limitação no repertório de
interesses e ações, de forma que a sintomatologia nessas áreas, quando tomada
conjuntamente, deve restringir ou tornar difícil o funcionamento diário do indivíduo.
Atualmente, a terminologiaTranstorno do Espectro do Autismo (TEA) tem
sido adotado pela literatura especializada na designação de um grupo de
manifestações neurodesenvolvimentais que abrange o transtorno autístico, o
transtorno de Asperger, o transtorno desintegrativo da infância e o transtorno global
do desenvolvimento não especificado, ou autismo atípico (BARBARO, 2009).
Segundo Cunha (2015) a denominação atual de Transtorno do Espectro
Autista permite a abrangência de variadosgraus do transtorno, classificando-os de
leve, moderado e severo. Logo, não é viável a homogeneização do paciente com
autismo, tendo em vista serem indivíduos diversos, com distintos níveis de intelecto.
Conforme Lopez-Pison et al. (2014), a etiologia do TEA ainda é
desconhecida, contudo, a perspectiva atual é considerá-la como uma síndrome
multicausal envolvendo fatores genéticos, neurológicos e sociais. A prevalência
mundial do TEA está em torno 70 casos para cada 10.000 habitantes, sendo quatro
vezes mais recorrente no sexo masculino. Estima-se que a razão do aumento da
prevalência da síndrome esteja associada a aspectos como alterações nos critérios
de diagnósticos.
Nesse sentido, se faz importante que o TEA possa a ter uma concepção
mais integral, possibilitando uma mudança de postura da sociedade, de forma a
incluir e acolher o paciente sem preconceitos ou imposições.O Transtorno do
Espectro Autista,

[...] é definido como um distúrbio do desenvolvimento neurológico que deve


estar presente desde a infância, apresentando déficit nas dimensões
sociocomunicativa e comportamental”, compreendendo a indissociabilidade
de tais dimensões (2013, p. 13).

O diagnóstico de autismo é determinadosob fundamento em um elenco de


parâmetros comportamentais. Na Europa e da América do Norte, profissionais na
área orientam que o diagnóstico seja feito com base nos critérios estabelecidos pelo
ICD-10 e/ou pelo DSM-5. Conforme os critérios do DSM-5, o autismo começa a ser
denominado de Transtorno do Espectro do Autismo, classificado como um dos
8

Transtorno do Neurodesenvolvimento, assinalado pelas limitações de comunicação


e interação social e os comportamentos repetitivos e restritos.

2.1 Diagnóstico do TEA

Segundo Zanon et al. (2017), no Brasil, se carece de estudos investigando


as variações relativas à idade da realização do diagnóstico do TEA. Para os autores,
várias dimensões próprias da cultura nacional podem interferir nesse processo,
considerando a realidade do contexto de saúde nacional, com a carência de
profissionais qualificados identificar precocemente do TEA, dificuldade de acesso
aos serviços e o precariedade sociocultural e educacional da população.
O Transtorno do Espectro Autista – TEA, também conhecido popularmente
como autismo é uma condição pautada por inúmeras incertezas e preconceitos, de
forma que seu diagnóstico traz para os pais e familiares grandes receios acerca das
condições de vida dos seus filhos, sobretudo no que se refere ao seu
desenvolvimento psicomotor e à sua integração e aceitação pela sociedade.
Isso justifica-se, segundo Lemos et al. (2014), pelo fato de o espectro autista
se caracterizar por danos, desde a primeira infância, às áreas de interação social,
comunicação e no âmbito comportamental a etiologia do transtorno e suas
possibilidades terapêuticas não possuírem consensos conclusivos, requerendo
ainda a realização de exaustivos estudos sobre o assunto.Quanto aos critérios de
diagnóstico de autismo DSM-5 estão:
1. Deficiênciasconstantes na comunicação social e interação social em múltiplos
contextos, segundodespontado pelo seguinte, atualmente ou pela história (rol
ilustrativos, não exaustivo).
2. Deficiências de reciprocidade socioemocional, variando de abordagem social
anormal e deficiência na conversação normal de vaivém; ao diminuído
compartilhamento de interesses, emoções ou afeto; ao insucesso em
começar ou responder às interações sociais.
3. Deficiências em comportamentos comunicativos não-verbais utilizados na
interação social, alterando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal
9

mal integrada; a irregularidades no contato visual e linguagem corporal ou


deficiências no entendimento e utilização de gestos; a uma ausência global
de expressões faciais e comunicação não verbal.
4. Deficiências no desenvolvimento, manutenção e compreensão de
relacionamentos, alterando, por exemplo, as limitações para ajustar o
comportamento para se adaptar a múltiplos contextos sociais; às dificuldades
em partilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos; à falta de
interesse nos pares.
Segundo Schmidt (2013), ao realizar uma análise sobre os primeiros
estudiosos do TEA, o interesse preliminar sobre o transtorno deu-se através do
psiquiatra Eugene Bleuler, discorrendo pela primeira vez sobre autismo em
referência à sintomatologia da esquizofrenia em 1916. Quase 30 anos depois
despontaram as publicações independentes do psiquiatra Léo Kanner, em 1943,
utilizando-se de igual terminologia expressão para relatar sobre 11 crianças que
possuíam comportamentos peculiares.
Seguidamente, Hans Asperger, médico pediatra, no ano de 1944, também
empreendeu estudos sobre o transtorno. Destaca-se que os médicos até agora
mencionados eram austríacos. Tais estudos preliminares foram de significativa
relevância para a determinação dos pressupostos e características atuais do TEA
(SCHMIDT, 2013).Conforme Griesi-Oliveira e Sertie, tem-se sobre o TEA:

O transtorno do espectro autista (TEA) é um grupo de distúrbios do


desenvolvimento neurológico de início precoce, caracterizado por
comprometimento das habilidades sociais e de comunicação, além de
comportamento comportamentos estereotipados.(1) Embora definido por
estes principais sintomas, o fenótipo dos pacientes com TEA pode variar
muito, abrangendo desde indivíduos com deficiência intelectual (DI) grave e
baixo desempenho em habilidades comportamentais adaptativas, até
indivíduos com quociente de inteligência (QI) normal, que levam uma vida
independente. Estes indivíduos também podem apresentar uma série de
outras comorbidades, como hiperatividade, distúrbios de sono e
gastrintestinais, e epilepsia (2017, p. 12).

Diante do que foi acima apresentado, constata-se que o TEA pode incorrer
em significativas deficiências ou limitações de habilidades sociais, motoras ou
cognitivas, assim como estar associado à outras doenças. O TEA também pode
estar associado a distúrbios metabólicos em um número reduzido de ocorrências.
A literatura aponta variadas definições para o autismo. Estabelece Cunha
(2010) que o TEA pode derivar de causas genéticas ou uma síndrome ocorrida
10

durante o desenvolvimento fetal, constituindo-se como uma incógnita a ser


desvendada, dificultando um diagnóstico precoce. Este estudo adotou a
classificação atual para definição e caracterização do autismo na literatura
internacional com base no DSM-V, Diagnostic and statistical manual of mental
disorders (APA, 2013).
O DSM-V (APA, 2013) classifica o autismo enquanto transtorno de
neurodesenvolvimento, sendo denominado como Transtorno do Espectro do
Autismo (TEA), caracterizado como um distúrbio do desenvolvimento neurológico
evidente desde a primeira infância, com deficiência em duas dimensões, a
sociocomunicativa e a comportamental (comportamentos fixos ou repetitivos). O
DSM-V (APA, 2013) ainda ponta que o autismo atualmente é definido como um
transtorno denominado TEA (Transtorno do Espectro Autista), em vez de cinco
transtornos do espectro autista.Conforme Mello:
Autismo é uma síndrome definida por alterações presentes desde idades
muito precoces, tipicamente antes dos três anos de idade, e que se
caracteriza sempre por desvios qualitativos na comunicação, na interação
social e no uso da imaginação (2001, p. 11).

Outro mecanismo de classificação de diagnóstico é o CID 10 (Classificação


Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde)
determinado pela Organização Mundial da Saúde, em que o autismo está
categorizado em F.84, como “Transtorno Global do Desenvolvimento”, tido por
alterações nas interações sociais recíprocas e de comunicação, e por um repertório
de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo (OMS, 2008).

2.2 Parãmetros diagnósticos do DSM-5 para autismo

No manual diagnóstico DM-5, o TEA é caracterizado como:


299.00 (F84.0) Transtorno do Espectro Autista (50)
Especificar se: Associado a alguma condição médica ou genética conhecida,
ou a fator ambiental; associado a outro transtorno do neurodesenvolvimento, mental
ou comportamental;
Especificar a gravidade atual para Critério A e Critério B: Exigindo apoio muito
substancial, exigindo apoio substancial, exigindo apoio;
Especificar se: Com ou sem comprometimento intelectual concomitante, com
ou sem comprometimento da linguagem;
11

Os critérios são divididos em A, B, C, D e E com alguns pontos específicos


dentro deles, conforme abaixo:
A:Déficits constantes na comunicação e interação social em múltiplos
contextos como:
 Restrição na reciprocidade emocional e social, com dificuldade para
compartilhar interesses e estabelecer uma conversa;
 Restrição nos comportamentos de comunicação não verbal usados
para interação social, variando entre comunicação verbal e não verbal pouco
integrada e com dificuldade no uso de gestos e expressões faciais;
 Restrição em iniciar, manter e entender relacionamentos, com
variações na dificuldade de adaptação do comportamento para se ajustar nas
situações sociais, compartilhar brincadeiras imaginárias e ausência de interesse
por pares.
B: Padrões repetitivos e restritos de comportamento, atividades ou interesses,
conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes itens, ou por histórico
prévio:
 Movimentos motores, uso de objetos ou fala repetitiva e estereotipada
(estereotipias, alinhar brinquedos, girar objetos, ecolalias);
 Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a padrões e rotinas
ritualizadas de comportamentos verbais ou não verbais (sofrimento extremo a
pequenas mudanças, dificuldade com transições, necessidade de fazer as mesmas
coisas todos os dias);
 Interesses altamente restritos ou fixos em intensidade, ou foco muito
maiores do que os esperados (forte apego ou preocupação a objetos, interesse
preservativo ou excessivo em assuntos específicos);
 Hiper ou Hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesses
incomuns por aspectos sensoriais do ambiente (indiferença aparente a
dor/temperaturas, reação contrária a texturas e sons específicos, fascinação visual
por movimentos ou luzes).
C: Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do
desenvolvimento, porém eles podem não estar totalmente aparentes até que exista
uma demanda social para que essas habilidades sejam exercidas, ou podem ficar
mascarados por possíveis estratégias de aprendizado ao longo da vida.
12

D:Esses sintomas causam prejuízos clínicos significativos no funcionamento


social, profissional e pessoal ou em outras áreas importantes da pessoa.
E: Esses distúrbios não são bem explicados por deficiência cognitiva e
intelectual ou pelo atraso global do desenvolvimento.
Ainda dentro dos critérios diagnósticos do DSM-5 para autismo, estão
presentes os níveis de gravidade ou necessidade de suporte para as atividades da
vida diária. A partir da quinta edição, o TEA é classificado em 3 níveis distintos: leve,
moderado e severo.Silva et al. (2012) apontam que

O autismo é um transtorno global do desenvolvimento infantil que se


manifesta antes dos 3 anos de idade e se prolonga por toda a vida.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 70
milhões de pessoas no mundo são acometidos pelo transtorno, sendo que,
em crianças, é mais comum que o câncer, a AIDS e o diabetes (SILVA et
al.,2012, p. 11).

Sobre o comportamento motor de indivíduos com TEA, pode haver prejuízos


relativos ao planejamento e sequenciamento motor, com dificuldades no
processamento viso espacial, tendo prejuízos nas habilidades de entender e dar
significado ao que é visualizado (SCHMIDT, 2013).
Ainda não se conhece com clareza a dimensão da prevalência do TEA em
caráter mundial, contudo, percebe-se um significativo aumento nas últimas 5
décadas (HULTMAN et al., 2002). A estimativa atual é de 0,1 e 2% em diversas
populações, sendo a maior prevalência em pessoas do sexo masculino (LIU Y et al.,
2016).
As causas do mencionado aumento ainda são motivo de ampla discussão,
constituindo-se como uma preocupação pertinente ao entre pais e os profissionais
da saúde e educação, assim como critérios de diagnóstico mais complexos.
Simultaneamente, um incremento na incidência de prováveis elementos de risco
etiológico, justificado parcialmente pela melhoria nas condições de cuidados
obstétricos e neonatais, podem também ter relação.
A abordagem terapêutica do TEA é multidisciplinar, tendo em vista a ampla
gama de acometimentos que o espectro pode ocasionar. A intervenção precoce é
indispensável para a melhora clínico do autismo, pois pode gerar ganhos
significativos e perenes no desenvolvimento do indivíduo. Mediante a plasticidade
cerebral, a intervenção precoce desempenha papel essencial, acentuando os
13

impactos positivos. Ademais, os resultados da intervenção precoce podem minimizar


os gastos das famílias no tratamento do TEA (ZANONet al., 2014).
Os objetivos das intervenções serão conforme o grau de comprometimento. O
sucesso do tratamento depende de profissionais qualificados na área, que saibam
trabalhar em grupo e com a família (BRUNONI et al., 2014). Os objetivos devem
contemplar o estímulo ao desenvolvimento social e comunicativo, o aprimoramento
do aprendizado e a capacidade de solucionar problemas, a diminuição de
comportamentos que incidem negativamente no aprendizado e a oportunização de
experiências do cotidiano, bem como auxiliar às famílias a lidar com a dimensão do
transtorno e com o autista (BOSA, 2006).
Para diagnosticar o autismo conforme os Critérios Diagnósticos para o
Transtorno Autista, proposto por Keinert e Antoniuk (2012), é necessário levar em
consideração os déficits na socialização, comunicação e comportamento, totalizando
seis ou mais itens, de (1), (2), e (3), com pelo menos dois de (1), e um de (2) e um
de (3). Na primeira situação, se destaca o prejuízo qualitativo na interação social,
caracterizado por, pelo menos dois destes tópicos:
(a) prejuízo acentuado no uso de múltiplos comportamentos não verbais, tais
como contato visual direto, expressão facial, posturas corporais e gestos para
regular a interação social;
(b) fracasso em desenvolver relacionamentos com seus pares apropriados ao
nível de desenvolvimento.
(c) falta de tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesses ou
realizações de outras pessoas (p. ex. não mostrar, trazer ou apontar objetos de
interesse);
(d) falta de reciprocidade social ou emocional.
Um dos principais fatores que contribuem para a defasagem de identificação
dos sinais precoces é a falta de preparo e conhecimento de médicos e profissionais
de saúde, tanto na identificação clínica do Transtorno do Espectro Autista - TEA
quanto na utilização de instrumentos de rastreio (WILKINSON, 2011). Dessa forma,
alguns programas se voltam para a capacitação de profissionais de saúde no que
concerne à identificação dos sinais de alerta do TEA (STEYER, 2016).
A pessoa com TEA pode manifestar, conforme o grau do transtorno,
asseguintes características:
1. Dificuldade de interação social;
14

2. Dificuldade na comunicação;
3. Reduzida manutenção do contato visual;
4. Sensibilidade tátil, auditiva e visual.
Apesar de não ser fácil a identificação do TEA, o policial Militar deve estar
cônscio da possibilidade de se deparar com uma pessoa que tenha dificuldade ou
não faça contatovisual, que manifeste ansiedade através de falas ou gestos
repetitivos, que tentetocá-lo, ou que apresente reações tidas incomuns ante ao
barulhoexcessivo. Essa pessoa pode ter TEA (SANTA CATARINA, 2021).
Um dos principais campos para a detecção precoce do TEA é a atenção
primária em saúde, pois constituem-se como o âmbito preliminar de atenção à
assistência, constituindo-se como uma estratégia de organização direcionada à
regionalização, em caráter de continuidade e sistematização da maioria das
necessidades de saúde da população, articulando um perfil curativo e preventivo. No
Brasil, a atenção primária se desenvolve através do programa Saúde da Família e
suas ações acontecem mediante a atuação de equipes multidisciplinares (BRASIL,
2012).

2.3 Legislações pertinentes

2.3.1.Lei Federal nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012 – Lei


BerenicePiana – Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa
comTranstorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de
11de dezembro de 1990);
2.3.2. Lei Federal nº 13.146/2015 – Institui a Lei Brasileira de Inclusãodo
Atendimento Prioritário;
2.3.3 Lei Estadualnº. 2.976, de 22 de julho de 2015.
2.3.4 Lei Federal nº Lei 13.977, de 8 de janeiro de 2020, conhecida como
Lei Romeo Mion, cria a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do
Espectro Autista (CIPTEA). A legislação deriva da impossibilidade de reconhecer o
autismo de forma visual, o que repetidamentetrazempecilhos ao acesso a
atendimentos prioritários e a serviços aos quais os autistas têm direito. O documento
é emitido de gratuitamente por órgãos estaduais e municipais.
15

2.3.5 Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas


com Deficiência (6.949/2000). Promulgada no Brasil através do Decreto Nº 6.949,
de 25 de agosto de 2009.
2.3.6 Lei 13.370/2016: Reduz a jornada de trabalho de servidores públicos
com filhos autistas. A autorização suprime a necessidade de compensar ou
reduzirsalário para os servidores públicos federais que são pais de autistas
2.3.7 Lei 8.899/94:Avaliza a gratuidade no transporte interestadual à pessoa
autista que confirme renda de até dois salários-mínimos. Orequerimento é feito
através do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS).
2.3.8 Lei 8.742/93: A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), que dá o
Benefício da Prestação Continuada (BPC). Para ter direito a um salário-mínimo por
mês, o TEA deve ser de caráter permanente e a renda mensal per capita da família
deve ser menor que ¼ (um quarto) do salário-mínimo. Para solicitar o BPC, é
requisitada a inscrição no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo
Federal (CadÚnico) e o agendamento da perícia no site do INSS.
2.3.9 Lei 7.611/2011: Dispõe sobre a educação especial e o atendimento
educacional especializado.
2.3.10 Lei 7.853/ 1989: Estipula o apoio às pessoas portadoras de
deficiência, sua integração social, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos
ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público e define
crimes.
2.3.11 Lei 10.098/2000: Estabelece normas gerais e critérios básicos para a
promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com
mobilidade reduzida.
2.3.12 Lei 10.048/2000: Dá prioridade de atendimento às pessoas com
deficiência e outros casos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para o desenvolvimento deste estudo, um movimento importante para a


compreensão da fenomenologia aqui discutida foi a aplicação do questionário
semiestruturado, pois foi a partir dele que foi possível construir os subsídios que
justificam a pretensão trabalhada, qual seja, a formação específica para abordagem
atendimento de pessoas com TEA.
16

Esta seção traz os apontamentos do resultado da pesquisa, apresentados


de forma gráfica, quando possível, ou mediante a interpretação e transcrição das
respostas oferecidas, em articulação com o referencial teórico. Foram aplicados 40
questionários e obtidas 32 respostas. Os sujeitos da pesquisa são compostos, em
sua maioria, por soldados e sargentos, contemplando um percentual de 84% do
sexo masculino e 16% do sexo feminino, com a faixa etária entre 23 e 50 anos de
idade e entre 01 e 23 anos de serviço na corporação. 75% dos entrevistados
afirmam possuir ensino superior completo.

3.1A necessidade de formação específica para atendimento e abordagem de


pessoas autistas pela PMAC

Para justificar a necessidade de formação específica acerca do TEA para


policiais militares, as questões se direcionaram a analisar o conhecimento destes
sujeitos sobre o assunto, de forma que a tabela abaixo evidencia os percentuais
referentes a cada grau de questionamento apresentado, como se vê:

Tabela 1 – Conhecimento sobre TEA


Questão: Você sabe o que é Transtorno do Espectro Autista?
SIM NÃO
65,6% 34,4%
Questão: Você saberia reconhecer uma pessoa com autismo?
SIM NÃO
53,1% 46,9%
Fonte:Própria (2023).

De acordo com oart. 4º da Lei nº 12.764/2012, não se submeterá a pessoa


com autismo a tratamento desumano/degradante,bem como não sofrerá privação de
sua liberdade ou do convívio familiar, nem será discriminadopor motivo da
deficiência. A próxima sequência de questionamentos tem a ver com o
conhecimento sobre a abordagem de uma pessoa com TEA, levando em
consideração que o Transtorno possui determinadas peculiaridades que podem
levar a uma falsa situação suspeita, como o fato de que o autista pode manifestar
dificuldade em receber comandos e pode assustar-se com tom de voz elevado,
sirene e luzes intensas.

Tabela 2 – Abordagem/Atendimento à pessoa com TEA


17

Questão: Vocêjá atendeu alguma ocorrência ou abordou pessoa com Transtorno


do Espectro Autista?
SIM NÃO
53,1% 46,9%
%
Questão: Você saberia como proceder ao atender uma ocorrência ou abordar uma
pessoa com autismo?
SIM NÃO
31,3% 68,7%
%
Fonte:Própria (2023).

Diante
iante de uma situação que fuja ao contexto de segurança do autista,
comportamentos estereotipados podem se manifestar.
manifestar.Nesses
s casos a guarnição
deverá redobrar a atenção ao lidar com estaspessoas, pois geralmente elas não
atenderão aos comandos emanados pelos policiaise poderão tomar atitudes
contrárias às ordenadas.
ordenadas.Os
Os militares foram, ainda, questionados se acham
importante que a PMAC adote um pr
procedimento
ocedimento especializado para abordar/atender
pessoas com TEA, de forma que se obteve a seguinte impressão

Figura 1 – Importância de procedimento especializado para TEA.

Fonte: Própria (2023).

Nesse sentido, Cunha (2010) ressalta que pessoas com TEA podem
manifestar dificuldades referentes ao comportamento motor, sendo que em diversas
situações ocorrem dificuldades no aspecto social
social,, por isso justifica-se
justifica a necessidade
de os policiais militares conhecerem sobre o assunto.

Figura 2 – Conhecimento sobre legislação.


18

Fonte: Própria (2022).

É indispensável que o policialesteja atento às característicasda pessoa com


TEA na abordagem e atendimento
atendimento, evitando controle de contato e controlefísico,
procurando obter a confiança do abordado
abordado/atendido, verificando
cando as informações
queconstam na Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro
Autista(CIPTEA) e tente os contatos com familiar ou conhecido da pessoa.
pessoa

3.2Desenvolvimentode
de instrução normativa e formação apropriadas
apropriad

Um dos objetivos deste estudo foi verificar a possibilidade de desenvolver


um normativa própria à PMAC voltada à abordagem e atendimento a pessoas com
TEA, bem como a inserção de atividades educativas para os policiais militares que
contemplem a formação sobre o TEA. Os sujeitos foram, então, questionados se já
receberam orientações especializadas sobre como abordar ou atender indivíduos
que possuem algum grau do TEA.

Figura 3 – Oferta de orientação pela PMAC sobre abordagem/atendimento de


pessoa com TEA.
19

Fonte: Própria (2023).

A PMAC preza por atendimentos de excelência e eficiência à sociedade,


tendo como uma de suas premissas a preservação da vida e resguardo aos
a direitos
humanos. Nesse
se sentido
sentido, deve atentar a todas as circunstâncias que seus policiais
possam se depararno
o atendimento de ocorrências policiais. Contemporaneamente,
não há nenhum documento ou normativa prescrita em s
seus manuais
eprocedimentos operacionais padrão para abordagem e atendimento de ocorrências
com pessoas que tenham TEA. Como manifestamcomportamentos
comportamentos peculiares,
peculiares elas
ensejam um tratamento distinto por parte dospoliciais militares.
Em seguida, os militares foram indagados sobre a inserção da temática do
autismo na grade curricular dos cursos oferecidos pela PMAC.

Figura 4 – Inserção do Autismo na Grade Curricular de cursos da PMAC


PMAC.

Fonte: Própria (2022).


20

O estado de Santa Catarina possui uma normativa denominada NOTA DE


INSTRUÇÃO N. 003/CMDO-G/2021 (SANTA CATARINA, 2021), dispondo sobre
procedimentos em caso de acionamento ou abordagem a pessoa identificada com
Transtorno do Espectro Autista – TEA, visando a preservação da integridade física
do Policial Militar e da pessoa com TEA. Essa normativa é exemplo para outros
estados, no sentido de que pode servir como base para a estruturação de
documentos que auxiliem na melhor prestação operacional às pessoas com TEA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa trouxe um olhar diferenciado à rotina profissional do Policial


Militar ao contemplar a necessidade de atenção especializada às pessoas que
possuem Transtorno do Espectro do Autismo – TEA, pois podem ser alvo de
abordagem ou necessitar atendimento por parte da PMAC. Assim, o estudo
evidenciou que existem inúmeras legislações que, fundadas no pressuposto
constitucional da Dignidade da Pessoa Humana, destinam ao autista o direito ao
atendimento especializado e aum tratamento digno e respeitoso.
Em geral, o diagnóstico de TEA em indivíduos vem aumentando a cada ano,
sendo pessoas que necessitam de auxílio especial para conseguir se adaptar à
realidade que os cercam e desenvolver plenamente sua capacidade e potencial
humano. Assim como cada pessoa é única, cada indivíduo autista funciona de forma
diferente das pessoas típicas e nem toda pessoa com TEA tem as mesmas
necessidades, sendo este um aspecto o qual os policiais militares devem ter ampla
compreensão.
Desse modo, restou comprovada pelo estudo a necessidade de
conhecimento especializado por parte dos policiais militares quanto às
particularidades que permeiam o TEA, assim como da adoção de uma Instrução
Normativa pautada pelo arcabouço legal aqui apresentado e pelas justificativas que
consolidam a relevância da proteção da dignidade humana aos indivíduos autistas.
Para isso, é indispensável que a PMAC possa inserir na grade curricular de seus
cursos a pauta aqui discutida, assim como proporcionar atividades e eventos
educativos com a presença de profissionais que abordam o autismo, trazendo maior
consciência de cidadania, respeito e cumprimento integral do dever profissional.
21

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e Estatístico dos


Transtornos Mentais. DSM-5. Porto Alegre, RS: Artmed. 2014.

______. DSM-V: Diagnostic and statistical manual of mental disorders.


Washington, 2013.

BARBARO, J. Autism Spectrum Disorders in infancy and toddlerhood: A review of


the evidence on early signs, early identification tool, and early diagnosis. Journal of
Developmental & Behavioral Pediatrics, 2009. 30(5), 447-459.

BOSA, C. A. Autismo: intervenções psicoeducacionais. Revista Brasileira de


Psiquiatria, São Paulo, v. 28, p. 47-53, 2006.

BRASIL. Constituição Federal (1988). Brasília: Senado, 1988.

BRASIL. Lei nº 12.764, de 27 de Dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de


Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º
do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Diário Oficial [da República
Federativa do Brasil], Brasília, DF. Diário Oficial da União - Seção 1 - 28/12/2012.

BRUNONI, D.; MERCADANTE, M. T.; SCHWARTZMAN, J. S. Transtornos do


Espectro do Autismo. In: Antonio Carlos Lopes. (Org.) Clínica Médica: diagnóstico e
tratamento. 1.ed. São Paulo: Atheneu, 2014, p. 5731-5746.

CUNHA, E. Autismo e inclusão: psicopedagogia práticas educativas na escola e na


família. 6 ed. Rio de Janeiro: Wak Ed. 2015.

GRIESI-OLIVEIRA, K.; SERTIE, A. L. Transtornos do espectro autista: um guia


atualizado para aconselhamento genético. São Paulo: Hospital Israelita Albert
Einstein, 2017.

HULTMAN, C. M.; SPARÉN, P.; CNATTINGIUS, S. Perinatal risk fator for infantile
autism. Epidemiology. 2002;13:417‑23.

KEINERT, M. H. J. M.; ANTONIUK S. A. Espectro autista: O que é? O que fazer?


Curitiba: Editora Íthala, 2012.

LEMOS, E.L.M.D.; SALOMÃO, N.M.R.; AGRIPINO-RAMOS, C.S. Inclusão de


crianças autistas: um estudo sobre interações sociais no contexto escolar. Rev.
bras. educ. espec., Marília, v.20, n.1, p.117- 130, 2014.

LIU Y, LI J, ZHENG Q, ZAROFF CM, HALL BJ, LI X, et al. Knowledge, attitudes, and
perceptions of autism spectrum disorder in a stratified sampling of preschool
teachers in Chine. BMC Psychiatry. 2016;16:142‑54.

LOPEZ-PISON, J. et al. Our experience with the a etiological diagnosis of global


developmental delay and intellectual disability: 2006-2010. Neurologia.
2014;29(7):402-7.
22

MELLO, A. M. S. R. Autismo: guia prático. Coordenadoria Nacional Para Integração


Da Pessoa Portadora De Deficiência – CORDE. Esplanada dos Ministérios – Bloco T
anexo II 2º andar – sala 206; Brasília – DF, 2001.

OMS. CID-10 - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas


Relacionados à Saúde. São Paulo: EDUSP, 2008.

RUTTER, M. L. Progress in understanding autism: 2007–2010. Journal of Autism


and Developmental Disorders, 2011. 41, 395–404.

SANTA CATARINA. Nota de Instrução N. 003/CMDO-G/2021. Florianópolis:


Comando Geral PMSC, 2021.

SCHMIDT, C. Autismo, educação e transdisciplinaridade. In: SCHMIDT, C (org)


Autismo, educação e transdisciplinaridade. Campinas, SP: Papirus, 2013.

SILVA. A. B. B.; GAIATO. Ma. B.; REVELES. L. T. Mundo Singular: entenda o


autismo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

STEYER, S. Efetividade de um programa de capacitação em identificação


precoce do transtorno do espectro autista na atenção primária em saúde. Porto
Alegre: UFRGS, 2016.

WILKINSON, L. A. (2011). How many doctors does it take to diagnose an autism


spectrum disorder? Autism-Open Access, 1(1), e101.

ZANON, R. B.; BACKES, B.; BOSA, C. A. Identificação dos Primeiros Sintomas do


Autismo pelos Pais. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Jan – Mar, 2014, Vol. 30 n. 1,
pp. 25-33.

______. Diagnóstico do autismo: relação entre fatores contextuais, familiares e da


criança. Revista Psicologia: Teoria e Prática, 19(1), 152-163. São Paulo, SP, jan.-
abr. 2017.

You might also like