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O Sapato Apertado - Clarice Lispector

A moça comprou sapatos novos, de salto alto e fino. Eram lindos. Quando chegou a casa, na hora de experimentá-
los, descobriu que não lhe serviam. Estavam apertados. Ficou triste e sem saber o que fazer. Era tarde demais para
trocar os sapatos. E agora, o que fazer? A moça resolveu deixá-los no armário e esperar que os sapatos se
acostumassem aos seus pés. Dias e dias se passaram, mas os sapatos continuavam apertados. A moça não desistiu.
Resolveu, então, usar os sapatos todos os dias, na esperança de que alargassem. A cada passo, a dor. Mas a moça
insistia, esperando o dia em que os sapatos se tornassem confortáveis. Até que um dia, cansada de tanto sofrer, a
moça olhou para os seus pés e viu que os sapatos apertados não valiam a pena. E decidiu jogá-los fora. Livre dos
sapatos apertados, a moça sorriu e seguiu em frente, pronta para encontrar sapatos que lhe servissem.

A Volta para Casa - Martha Medeiros

Ao caminhar pelas ruas da cidade, tudo parece familiar e ao mesmo tempo estranho. Os prédios altos, as pessoas
apressadas, o som dos carros passando. É como se eu estivesse voltando para casa, mas ao mesmo tempo estivesse
perdido em meio ao caos urbano. Lembro-me das ruas tranquilas da minha infância, dos parques onde brincava,
dos amigos que fiz. Mas tudo mudou. A cidade cresceu, evoluiu, se transformou. E eu também mudei. Não sou
mais a mesma pessoa que um dia fui. Mas há algo de reconfortante em voltar para casa, mesmo que essa casa não
seja mais a mesma. É como se eu estivesse me reconectando com minhas raízes, com minha história, comigo
mesmo. E é nesse momento de reflexão que encontro paz, mesmo em meio ao turbilhão da vida urbana.

O Cão de Rua - Clarice Lispector

O cão de rua vagueia pelas ruas da cidade, um solitário em busca de afeto e comida. Seu pelo está sujo e
emaranhado, suas patas estão cansadas de tanto caminhar. Ele não tem um lar para chamar de seu, apenas as ruas
como abrigo e as estrelas como companhia. Mesmo assim, ele mantém a cabeça erguida e o coração aberto,
esperando por um gesto de bondade que possa mudar sua vida para sempre. O cão de rua pode não ter um lar, mas
tem uma alma nobre e digna, que merece todo o amor e respeito do mundo.

O Cãozinho Perdido - Fernando Sabino

Certa vez, ao sair para uma caminhada pela vizinhança, me deparei com um cãozinho perdido. Seus olhos tristes
e sua postura desamparada partiram meu coração. Sem pensar duas vezes, decidi ajudá-lo. Levei-o para casa, dei-
lhe água e comida, e o acolhi como parte da família. Nos dias que se seguiram, o cãozinho mostrou-se grato e
carinhoso, enchendo a casa de alegria e afeto. No final das contas, percebi que não havia sido eu quem o havia
salvado, mas sim ele quem havia me resgatado de uma solidão silenciosa. Aquele cãozinho perdido se tornou meu
amigo mais leal e fiel, ensinando-me lições preciosas sobre amor, compaixão e generosidade.

O Relógio - Rubem Braga

Na loja de penhores, perguntei ao velho no balcão:


- Quanto vale este relógio?
Ele examinou:

- Este relógio? É um objeto, e os objetos têm um valor relativo. Mas esse relógio que o senhor trouxe aqui
hoje vale, para mim, exatamente seis cruzeiros e setenta centavos.
- Mas é um relógio de ouro! - protestei.
- De ouro, de ouro... Não é de ouro não, meu caro senhor, nem a máquina presta mais. E a caixa já foi ouro,
é certo, mas já vai para uns quatro anos que está toda amassada e o senhor não manda limpar. Assim,
como está, não vale mais do que seis cruzeiros e setenta.

Fiquei triste. Um relógio que meu pai me dera, quando me formei engenheiro, e agora só valia seis cruzeiros e
setenta centavos!

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