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ALUNOS1
ALUNOS1
3. Gahar – curvar-se
- esta palavra aparece somente raramente. Em 1Rs 18.42 denota a adoração a Javé e 2Rs 4.34,35 para um gesto
do profeta Eliseu numa cura (Fretheim 1997, 1:832)
5. Kapap – se curvar
- esta palavra aparece 6 vezes (Sl 57.6; 69.10; 145.14; 146.8; Is 58.5 Mq 6.6). Refere-se a uma postura de
adoração comparável ao termo hawah visto acima (Fretheim 1997, 2:689)
Resumindo:
Segundo Leonard, o conceito de adoração significa literalmente se curvar. A adoração é expressão de lealdade
ao Deus da aliança. A expressão “dar graças em comunidade” significa confessar Javé como Senhor e Rei. O
adorador conhece o Senhor, sabe que ele é Deus (Sl 46.10; 100.3; Os 6.3) e confia (Sl 13.5; 31.6; 56.3,4; 115.9-
11) nele e em seu amor da aliança. Esse Deus incrível deve ser temido (Sl 34.9; 67.7; 96.4) e aqueles que o
temem são chamados de tementes do Senhor (Sl 135.20). Israel é ordenado a temer a Deus (Sl 22.23), a terra é
convocada a tremer diante dele (Sl 99.1). A adoração em Israel frequentemente antecipa todos os povos vindos
debaixo da aliança, à medida que as nações são convocadas a servir ao Senhor (Sl 100.2; 102.22) em adoração.
O adorador busca o Senhor e sua presença (Sl 34.4) ou o busca cedo ou com ímpeto (Sl 63.1). Ele busca a Deus
(Sl 18.3; 50.15; 105.1) e aparece diante do Senhor (Êx 23.17; S; 42.2; Is 1.12) para confrontá-lo ou chegar a sua
presença (Sl 95.2; Mq 6.6). Que o Senhor faça o seu rosto resplandecer (mostrar sua luz) em seu santuário (Sl
67.1; 80.3). Os adoradores contemplam a presença do Senhor (Sl 17.15; 63.2), erguem seus olhos para ele (Sl
123.1), assim colocam o Senhor diante deles (Sl 16.8)
No local santo o adorador espera pelo Senhor (Sl 27.14; 37.34; Is 40.31). O adorador habita na tenda do Senhor
(Sl 23.6; 84.4; 91.1), no abrigo do Altíssimo. O Senhor traz o adorador para habitar em seus átrios (Sl 65.4). Na
presença da arca da aliança com seu querubim guardião, o adorador se refugia na sombra de suas asas (Sl 36.7;
37.1; 91.4). Em oração, implora pelo favor do Senhor (1Rs 8.33; Sl 55.1). O adorador intercede com o Senhor
(1Sm 2.1; 1Rs 8.42) oferecendo intercessão (1Rs 8.38; 2Cr 6.19; Sl 80.4; Is 1.15) (Leonard 1993, 3-4)
- alguns pontos podem resumir bem o conceito de adoração no AT
1. A adoração bíblica é corporativa. O adorador vem a Deus como parte de uma comunidade maior. Ele
está conectado a Deus por meio da aliança e celebra anualmente vindo a Jerusalém para a festa;
2. Adoração bíblica é ativa, envolvendo movimento do corpo, bem como dos lábios, para expressar tanto a
submissão ao Deus da aliança e exultar em sua presença;
3. Expressões vocais de louvor abundam das Escrituras, muitos desses termos se aplicam a expressões
musicais ou faladas na celebração. O adorador expressa seu louvor a Deus em alta voz;
4. O adorador é chamado a louvar a Deus especificamente por seus atos salvíficos. O adorador bíblico
oferece louvor a Deus tanto pelo seu caráter, bem como pelos seus atos salvíficos na historia;
5. A música, tanto vocal como instrumental tinha um papel importante na adoração em Israel. Há muitas
palavras que se referem a atividades musicais usadas para louvar ao Senhor;
6. Sacrifícios e holocaustos faziam parte da adoração em Israel. Há muitos textos descrevendo estes
elementos da adoração;
7. Os locais onde o povo de Deus se reúne para celebrar a presença do seu Deus utilizam palavras
especiais já que o local é santo, bem como as ações realizadas neste local (Leonard 1993, 4-8)
Para entender o conceito do AT sobre adoração precisamos nos conscientizar que o Deus do céu e da terra
tomou a iniciativa de se fazer conhecido, primeiro aos patriarcas de Israel e depois através dos eventos do
Êxodo e do encontro no Sinai para Israel como um todo. O livro do Êxodo nos mostra que Deus libertou seu
povo da escravidão para que o servisse ou adorasse de forma exclusiva. Eles foram redimidos para se envolver
com Deus no Sinai, na peregrinação no deserto e depois na terra prometida que Deus daria a eles. A arca da
aliança e o tabernáculo deveriam funcionar como expressão da presença contínua de Deus com eles e do seu
reinado sobre eles. A transferência da arca para Jerusalém e a subsequente construção do templo marcaram a
escolha de Deus por Sião como o monte onde seria conhecido e onde sua glória poderia ser manifesta entre o
seu povo. O sistema de adoração associado à arca, tabernáculo e templo foram designados como um meio para
reconhecer e viver em relação com a presença real e santa de Deus. A obediência a Deus na forma dos cultos
deveria andar de mãos dadas com a obediência em termos da vida diária. Assim, a adoração desse reino de
sacerdotes e da nação santa poderia ser definida como obediência fiel a todas as ordens de Deus como
reconhecimento agradecido de suas misericórdias para com ele. Dentro da estrutura da aliança, o sistema
sacrificial era o meio pelo qual Deus tornou possível que um povo pecador poderia se aproximar dele para
receber graça e bênção, sem manchar sua santidade e incorrer na ira divina sobre eles. O fracasso de Israel de se
envolver com Deus como ele exigia – na adoração e na vida diária – culminou no julgamento terrível do exílio.
Mas a esperança profética da restauração de Israel e a bênção para todas as nações estavam conectadas
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intimamente com uma nova adoração em um templo restaurado. Assim, Deus poderia trazer as nações para
reconhecer seu reinado real e se unir para servi-lo (Peterson 1992, 48-49)
2. sebomai – dar reverência, enfatizando o sentimento de respeito, majestade, reverência, ficar maravilhado
Mt 15.7-9 “7 Hipócritas! Bem profetizou Isaías acerca de vocês, dizendo: 8 “ ‘Este povo me honra com os
lábios, mas o seu coração está longe de mim. 9 Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de
regras ensinadas por homens’ ”;
Jo 9.31 “Sabemos que Deus não ouve pecadores, mas ouve o homem que o teme e pratica a sua vontade”
- da mesma raiz temos sebazomai – dar honra no sentido religioso (Rm 1.25 “Trocaram a verdade de Deus
pela mentira, e adoraram [sebazomai] e serviram [latreuo] a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que
é bendito para sempre”). Aqui adorar e servir aparecem de forma paralela para indicar a religiosidade dos
pagãos que adoram e servem a criatura e não ao Criador (Shedd 1987, 19)
- essa palavra traduz o termo ‘abad do hebraico
- ambas as palavras vem da raiz sebein = reverenciar – trata-se de temer a Deus, que se mostra numa
preocupação constante com o que o agrada (Shedd 1987, 19). Esse temor se manifesta em guardar os seus
mandamentos (Dt 5.29; 6.2, 24; Êx 12.13); obedecer sua voz (1Sm 12.14; Ag 1.12); andar nos seus caminhos
(Dt 8.6; 10.12; 2Cr 6.31); se afastar do mal (Jó 1.1, 8; 2.3; 28.25; Pv 3.7); e servi-lo (Dt 6.13; 10.20; Js 24.14;
Jn 1.9). Os sacrifícios eram uma maneira de expressar a reverência a Deus, mas fidelidade e obediência às
exigências da aliança com Deus em todas as esferas da vida também eram marcas da verdadeira religião (Êx
18.21; Sl 25.14; Ml 3.16; 4.2) (Peterson 2000, 856-857)
- isso implica que a adoração nunca pode ser egocêntrica – ela se preocupa em agradar, reverenciar a Deus. Se
pessoas estão no centro, certamente não é adoração
- precisamos estar constantemente nos perguntando se estamos agradando a Deus com as nossas atitudes e
decisões – cuidado com as racionalizações e chavões (“tudo para a glória de Deus”)
- essa reverência a Deus precisa estar continuamente presente na vida das pessoas e não somente quando
estamos cantando ou orando – não é um ato religioso que vai mostrar esse temor, mas o nosso estilo de vida –
temor a Deus se mostra nas coisas mais elementares da vida e não somente na vida religiosa
- o termo asebeia (negação de sebein) = impiedade/irreligiosidade é colocado lado a lado com injustiça (cf. Rm
1.18). “Impiedade refere-se à falta de reconhecimento de Deus em toda a Sua majestade e santidade. Injustiça
trata da violação dos padrões impostos por Deus... Devemos reconhecer que a vida de temor a Deus não pode
ser isolada duma piedade prática de seguir a Cristo” (Shedd 1987, 19)
- veja em que contextos essa palavra é utilizada no NT (Towns 1997, 162):
a. Devoção a Deus: Mt 15.9; Mc 7.7; At 16.14; 18.7,13;
b. Devoção a uma deusa: At 19.27;
c. Devoção a uma criatura (sembazomai): Rm 1.25.
* É importante notar que temos termos diferentes para a palavra adoração. Não podemos afirmar que em todos
os textos, todos os significados estão presentes. Cada texto usa uma das palavras com o seu significado. Nem
sempre as distinções de significado são tão absolutas, mas seria um erro ler todos os significados para dentro de
um mesmo texto. O contexto nos ajuda a determinar qual o significado da palavra
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Reflexão
1. Juntando esses termos, como você definiria adoração?
2. Avalie a sua igreja frente a esses conceitos. Quais deles são praticados? Quais estão ausentes? Por que isso
acontece?
3. Gostaria de sugerir alguma coisa que pudesse melhorar a adoração de sua igreja?
E. Definições de adoração
Adoração é um sentimento em nosso coração que não tínhamos antes de nossa conversão. É algo que vamos
expressar de alguma forma, e vai ser de uma maneira humilde, mas ao mesmo tempo um sentimento muito
gostoso de admiração reverente, de ficar maravilhado, e de imenso amor que ultrapassa qualquer coisa, diante
desse mistério tão antigo (Tozer)
Adoração é o reconhecimento de Deus, de sua natureza, de seus atributos, de seus caminhos e afirmações,
através de um derramar de nosso coração em louvor e ações de graça, ou de alguma obra feita com esse
reconhecimento (Vine)
A verdadeira adoração é aquele exercício do espírito humano que nos confronta com os mistérios e as
maravilhas de Deus, em cuja presença a mais apropriada e salutar reação é o amor expresso na adoração (Ralph
Martin in Basden 2000, 22)
Adoração é um encontro pessoal com Deus no qual glorificamos, magnificamos e cantamos ao Senhor por sua
pessoa e seus atos... Adoramos a Deus simplesmente porque ele é Deus (Robert Webber in Basden 2000, 22)
A adoração cristã é a alegre resposta dos cristãos ao amor santo e redentor de Deus, revelado a nós por meio de
Jesus Cristo (Horton Davies in Basden 2000, 22)
A adoração em todas as suas formas é a resposta da criatura ao Eterno (E. Underhill in Basden 2006, 12)
A adoração acontece na dimensão do coração e requer um profundo “estar-de-bem” com Deus, o que vale dizer
que a criatura aceita e concorda, sem reservas, com o que Deus é e faz. A adoração acontece na proporção
inversa dessas reservas. Quanto maiores as reservas, maiores os impedimentos, as barreiras internas à adoração.
Elas acontecem, geralmente quando o que Deus está fazendo ou permitindo nos causa dor, como, por exemplo,
sua amorosa e necessária disciplina (Amorese 2004, 26)
Adoração é a submissão de toda a nossa natureza a Deus. É avivar a consciência através da santidade de Deus,
alimentar a mente com a verdade de Deus, purificar a imaginação com a beleza de Deus, abrir o coração ao
amor de Deus, render a vontade aos propósitos de Deus – e tudo isso unido em reverência a Deus, a emoção
mais abnegada/altruísta de que a nossa natureza é capaz, e por isso o melhor remédio contra o egocentrismo que
é o nosso pecado original e a fonte de todo o nosso pecado (William Temple in Wiersbe 2000, 21; Basden 2000,
22)
Unindo o significado desses termos bíblicos acima, temos que adoração envolve atitudes (reverência, respeito,
se maravilhar com, sentimento de majestade) e ações (prostrar, falar bem de, servir). É uma experiência
subjetiva bem como ações objetivas. Adoração não é um sentimento que não foi expresso, nem uma
formalidade vazia. Adoração verdadeira é equilibrada e envolve a mente, as emoções e a vontade. Deve ser algo
inteligente; deve ir até as maiores profundezas do nosso ser e ser motivada pelo amor; e precisa nos levar a
ações obedientes que glorifiquem a Deus (Wiersbe 2000, 20-21)
Em seu sentido mais profundo, a adoração não tem outro papel senão promover uma alegre e profunda entrega
no momento que encontramos e somos encontrados por Deus. Qualquer tentativa de usar a adoração para
educar, manipular ou amortecer os sentidos pode ser uma séria perversão desse ato... Deus não deve ser usado
para nossos propósitos, nem mesmo para nossas boas intenções (William Willimon in Basden 2000, 79)
Adoração é a resposta de que tudo o que somos para o que Deus faz e é. Não adoramos a Deus para lucrar com
isso, mas porque ele é digno de adoração. “Quem busca a Deus como um meio para o fim, não vai encontrar a
Deus” (Tozer in Wiersbe 2000, 21-22)
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Reflexão
1. Qual das definições acima mais te agrada? Comente.
2. Que elementos foram acrescentados à sua definição que tinha elaborado acima baseado nos conceitos das
palavras gregas estudadas acima?
3. Quais são os requisitos para uma verdadeira adoração que aparecem nas definições acima?
4. Como esse conceito de adoração deveria influenciar o nosso enfoque sobre adoração na igreja? O que
precisaria ser feito? Como?
F. Adoração é:
1. Reconhecer e declarar o valor de Deus
Mt 6.9 “Vocês, orem assim: “Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome”;
Ap 4.9-11 “9 Toda vez que os seres viventes dão glória, honra e graças àquele que está assentado no trono e
que vive para todo o sempre, 10 os vinte e quatro anciãos se prostram diante daquele que está assentado
no trono e adoram aquele que vive para todo o sempre. Eles lançam as suas coroas diante do trono, e
dizem: 11 “Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste
todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas”
5. Celebração da comunhão com Deus que se tornou possível através da obra de Cristo
Mt 28.20 “E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”
7. Responder com gratidão na segurança de que somos filhos de Deus para todo o sempre
Jo 10.28 “Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão”
2. Davi
2Sm 6.1-15 “1 De novo Davi reuniu os melhores guerreiros de Israel, trinta mil ao todo. 2 Ele e todos os que o
acompanhavam partiram para Baalá, em Judá, para buscar a arca de Deus... 3 Puseram a arca de Deus
num carroção novo e a levaram da casa de Abinadabe, na colina. Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe,
conduziam o carroção 4 com a arca de Deus; Aiô andava na frente dela. 5 Davi e todos os israelitas iam
cantando e dançando perante o SENHOR, ao som de todo tipo de instrumentos de pinho: harpas, liras,
tamborins, chocalhos e címbalos. 6 Quando chegaram à eira de Nacom, Uzá esticou o braço e segurou a
arca de Deus, porque os bois haviam tropeçado. 7 A ira do SENHOR acendeu-se contra Uzá por seu ato
de irreverência. Por isso Deus o feriu, e ele morreu ali mesmo, ao lado da arca de Deus... 11 A arca do
SENHOR ficou na casa dele [Obede-Edom] por três meses, e o SENHOR o abençoou e a toda a sua
família. ... Então Davi, com grande festa, foi à casa de Obede-Edom e ordenou que levassem a arca de
Deus para a Cidade de Davi. 13 Quando os que carregavam a arca do SENHOR davam seis passos, ele
sacrificava um boi e um novilho gordo. 14 Davi, vestindo o colete sacerdotal de linho, foi dançando com
todas as suas forças perante o SENHOR, 15 enquanto ele e todos os israelitas levavam a arca do
SENHOR ao som de gritos de alegria e de trombetas.
3. Uzias
2Cr 26.16-21 “16 Entretanto, depois que Uzias se tornou poderoso, o seu orgulho provocou a sua queda. Ele
foi infiel ao SENHOR, o seu Deus, e entrou no templo do SENHOR para queimar incenso no altar de
incenso. 17 O sumo sacerdote Azarias, e outros oitenta corajosos sacerdotes do SENHOR, foram atrás
dele. 18 Eles o enfrentaram e disseram: “Não é certo que você, Uzias, queime incenso ao SENHOR. Isso
é tarefa dos sacerdotes, os descendentes de Arão consagrados para queimar incenso. Saia do santuário,
pois você foi infiel e não será honrado por Deus, o SENHOR”. 19 Uzias, que estava com um incensário
na mão, pronto para queimar o incenso, irritou-se e indignou-se contra os sacerdotes; e na mesma hora,
na presença deles, diante do altar de incenso no templo do SENHOR, surgiu lepra em sua testa. 20
Quando o sumo sacerdote Azarias e todos os outros sacerdotes viram a lepra, expulsaram-no
imediatamente do templo. Na verdade, ele mesmo ficou ansioso para sair, pois o SENHOR o havia
ferido. 21 O rei Uzias sofreu de lepra até o dia em que morreu”
B. Adorar em Espírito
Jo 4.24 “Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”
Fp 3.3 “Pois nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos pelo Espírito de Deus, que nos gloriamos em
Cristo Jesus e não temos confiança alguma na carne”
1. Ele dá liberdade
2Co 3.17 “Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade”
E. Formas de adoração
1. Fé, não o ritual, é o elemento mais importante na adoração
Sl 51.16,17 “15 Ó Senhor, dá palavras aos meus lábios, e a minha boca anunciará o teu louvor. 16 Não te
deleitas em sacrifícios nem te agradas em holocaustos, se não eu os traria. 17 Os sacrifícios que
agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não
desprezarás”;
Hb 11.6 “Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que
recompensa aqueles que o buscam”.
b. características individuais
1Co 12.7-11 “7 A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum. 8 Pelo Espírito,
a um é dada a palavra de sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra de conhecimento; 9 a
outro, fé, pelo mesmo Espírito; a outro, dons de curar, pelo único Espírito; 10 a outro, poder para operar
milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro, variedade de línguas; e ainda a
outro, interpretação de línguas. 11 Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único
Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, como quer”;
Obs.: A maioria das pessoas tendem a ter um “encontro com Deus” dentro de um estilo de adoração a Deus que
lhes é familiar
3. Postura
a. Levantando as mãos
Ne 8.6 “Esdras louvou o Senhor, o grande Deus, e todo o povo ergueu as mãos e respondeu: “Amém! Amém!”
Então eles adoraram o Senhor, prostrados, rosto em terra”;
Sl 28.2 “Ouve as minhas súplicas quando clamo a ti por socorro, quando ergo as mãos para o teu Lugar
Santíssimo”;
Sl 88.9 “A ti, Senhor, clamo cada dia; a ti ergo as minhas mãos”;
Sl 134.1,2 “1 Venham! Bendigam o Senhor todos vocês, servos do Senhor, vocês, que servem de noite na casa
do Senhor. 2 Levantem as mãos na direção do santuário e bendigam o Senhor!”;
1Tm 2.8 “Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem discussões”;
Lc 24.50,51 “50 Tendo-os levado até as proximidades de Betânia, Jesus ergueu as mãos e os abençoou. 51
Estando ainda a abençoá-los, ele os deixou e foi elevado ao céu.”.
b. Ajoelhando
Ef 3.14 “Por essa razão, ajoelho-me diante do Pai”;
Fp 2.10,11 “10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, 11 e
toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”;
Rm 14.11 “Por mim mesmo jurei’, diz o Senhor, ‘diante de mim todo joelho se dobrará e toda língua
confessará que sou Deus’ ”
1. Planejamento proposital
2. Estar aberto para flexibilidade
3. Preparar para que possa ser espontâneo
4. Planejar variedade (evitar que tudo se torne previsível)
Reflexão:
1. No ponto IC falamos que adoração é ... Qual daqueles pontos mais te chama a atenção? Comente.
2. Mesmo tendo experimentado e ouvido muito do Senhor, Israel tendia a adorar outros deuses. Quais são os
deuses com os quais sofremos dentro de nossas igrejas? Quais deles são muito sutis?
3. Alguns exemplos nos mostraram que é possível adorar ao Deus verdadeiro de maneira errada. O que isso
quer nos ensinar? Isso tem alguma aplicação para a nossa vida pessoal e a vida de nossas igrejas?
4. É possível adorar ao Deus certo, da forma certa mas com a atitude errada. Quais seriam alguns exemplos
práticos que vê em sua igreja ou mesmo em sua própria vida?
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5. Por que devemos enfatizar que a nossa adoração deve ser feita a Deus? Será que isso não deveria ser
óbvio? Comente.
6. O que é essencial quando falamos que devemos adorar em Espírito?
7. Qual a importância de adorar em verdade?
8. O que significa adorar a Deus na beleza de sua santidade?
9. Muitas brigas existem nas igrejas por causa das formas de adoração. O que é importante na forma aos olhos
de Deus? E aos olhos das pessoas da igreja? Há como conciliar os dois? Comente.
10. Será que a postura tem algo a ver com a nossa adoração? Comente
11. Que elementos são os mais importantes quando pensamos na ordem de culto? Comente.
12. Qual a lição mais importante que aprendeu até agora nessa reflexão? Comente.
Informal Formal
Livre Litúrgica
Sem estrutura Estruturado
Sem controle Com ordem
D. Estilos de culto
- durante toda a história a adoração coletiva (culto) foi alvo de discussão e controvérsias. Não se tratou
simplesmente de debates educados, mas de disputas rancorosas, divisões na igreja e até perseguição a ponto de
assassinar pessoas que discordavam:
- clérigos do Oriente e do Ocidente se desentenderam sobre o papel dos ícones no culto – isso resultou
na divisão entre igreja do Ocidente e igreja do Oriente;
- calvinistas assassinaram anabatistas por causa da questão do batismo;
- Lutero rompeu com Zwínglio por causa do significado da Ceia do Senhor;
- puritanos se separaram dos anglicanos por não concordarem sobre a prioridade da exposição da
Palavra no culto (Basden 2006, 11)
- os debates atuais sobre o culto estão centrados sobre diversas questões:
1. A adoração ao Deus único e verdadeiro deve ser expressa de uma determinada forma, considerada única
e verdadeira?
2. Já que Deus é um e anseia que seu povo seja um, a adoração coletiva deve ser mais unificada que
diversa?
3. A liberdade dos adoradores compromete a integridade do Deus único que adoramos?
4. As preferências com relação à adoração refletem nossa liberdade legítima em Cristo ou nossa natureza
egoísta e pecadora?
5. Deus quer que a adoração coletiva lhe seja oferecida conforme um modelo único? Ou ele confirma e
abençoa qualquer método que se proponha a conferir-lhe glória e honra? E, se ele abençoa alguns
métodos, e não outros, que critérios utiliza para rejeitar aqueles que estão aquém de seu padrão? (E, por
falar nisso, porque ele não foi mais claro em comunicar-nos sua escala de valores?) (Basden 2006, 11-
12).
- existem muitos estilos de cultuar a Deus. São maneiras pelas quais as pessoas tentam dar honra a quem
consideram ter o valor supremo em público (Shedd 1987, 9). As formas que o culto toma dependem de muitos
fatores, entre eles a nossa teologia, a nossa cultura, gosto pessoal, etc. Assim sendo não podemos exigir que
todas as pessoas devam adorar a Deus da mesma forma que nós o fazemos. Isso implica que não existe um
estilo de culto que seja igual para todos. “Enquanto os pastores e ministros acharem que devem satisfazer os
desejos de qualquer coisa viva, a adoração será um problema” (Marty in Basden 2000, 37-38). No decorrer da
história o culto público tem passado por muitas transformações na maioria das denominações cristãs
- a Bíblia não define um estilo apropriado de culto, mesmo que enfatize alguns elementos importantes que
devem estar presentes em todos os cultos. No NT a igreja adorava a Deus por meio da oração (At 2.42), do
canto (Cl 3.16), da leitura, da pregação e do ensino das Escrituras (1 Tm 4.13), das ofertas (1 Co 16.2) e da
celebração da ceia do Senhor (1 Co 11.17-34)” (Basden 2000, 27). Havia alguns elementos importantes no
culto:
1. O propósito era glorificar a Deus;
2. A centralidade de Cristo nos cultos;
3. O Espírito Santo inspirava essas práticas;
4. O resultado era a edificação da igreja;
20
5. A participação da congregação (Basden 2000, 27-28)
- nem todas as pessoas irão expressar-se da mesma forma, mesmo tendo esses elementos presentes. Assim
podemos classificar diferentes estilos de culto, mesmo que as descrições não sejam rígidas. Cada igreja tem a
sua variação desses modelos. Podemos e devemos avaliar qual dos estilos melhor expressa como entendemos a
Deus e como devemos cultuá-lo. Mas devemos ter compreensão para os outros estilos e estar abertos a aprender
deles
1 – Culto Litúrgico
- é o estilo mais tradicional. As suas raízes vão desde a igreja primitiva, passando pela Idade Média, com a
construção das catedrais. Procura achar equilíbrio entre contemplação e majestade, valorizando muito a
reverência (Basden 2000, 45)
- é um culto bem planejado e completamente estruturado. Como nas palavras de Mackay: “Se durante o culto eu
tiver de optar entre ordem e ardor, com certeza vou escolher a ordem” (Basden 2000, 46)
- o objetivo “é levar a igreja a se curvar diante da glória transcendente de Deus, ou seja, louvar o poder e a
grandeza divina” (Basden 2000, 46). A ênfase na transcendência vai diminuir o enfoque sobre a imanência de
Deus. Deus vai estar mais distante de nós. Is 6.1-9 seria o modelo desse culto. O culto inicia com a adoração,
passa pela confissão, perdão e chega à dedicação (Basden 2000, 46)
- diversos Salmos nos orientam a ficar quietos diante de Deus e adorar a beleza de sua santidade. Esse culto diz
que tudo deve ser feito com decência e ordem (Basden 2000, 46)
- algumas características que se introduziram com o tempo foram:
a. A separação entre clero e leigos que levou a um distanciamento do povo. O povo não conseguia
participar ativamente do culto. Deus se revelava para os profissionais e estava distante do povo;
b. A missa se tornou num ritual mecânico ao invés de prática espiritual. A Ceia era o modo de obter e reter
a graça. Havia o sacramentalismo que reduziu um mistério sagrado a uma liturgia sem vida;
c. A adoração era mais importante que o adorador. Isso levou ao formalismo onde a encenação era mais
importante do que a participação da pessoa. Isso acabou por enrijecer as formas e banir a liberdade ou
até a atuação do Espírito de Deus (Basden 2000, 47-48)
- essa situação abriu as portas para a Reforma, já que:
a. Deus se tornara inacessível já que as pessoas não entendiam o latim e não participavam do culto
(Basden 2000, 48);
b. A morte de Cristo era ininteligível já que a transubstanciação era difícil de explicar e o mérito das boas
obras para a salvação predominava (Basden 2000, 48);
c. O Espírito Santo tornou-se inacessível já que os sacerdotes faziam tudo (Basden 2000, 49)
- os reformadores tentaram corrigir os abusos, mas a igreja continuou sendo litúrgica
- hoje esse estilo continua forte atraindo muitas pessoas
- a música é comandada pelo órgão e os hinos cantados são do hinário
- ocorre a leitura de textos bíblicos com destaque no culto
- o ofertório é acompanhado por música normalmente reverente e grandiosa
- o sermão tende a seguir o calendário litúrgico
- as ordenanças são celebradas freqüentemente
- a igreja participa recitando o Credo Apostólico e o Pai Nosso com regularidade
- a ordem do culto está fixada e dificilmente é mudada porque é construída com cuidado para refletir todos os
aspectos necessários do culto (Ex. Basden 2000, 54-55)
Pontos fortes
- a forma e estrutura levam as pessoas a um Deus grandioso que tantas vezes é trivializado em outros ambientes
(Basden 2000, 56-57)
- a transcendência de Deus evoca certo temor nos participantes (Basden 2000, 57)
- a Palavra e a historia são valorizados (Basden 2000, 57)
2 – Culto Tradicional
- seria um culto semilitúrgico, descrito como dignidade informal (Basden 2000, 59)
- esse culto focaliza sobre a gratidão e a pregação – levar a congregação a agradecer a Deus por sua bondade e
ouvir a sua Palavra. Baseia-se sobre Cl 3.16; Ef 5.19-20 (Basden 2000, 59-60)
- com base na Reforma tirou um pouco a ênfase sobre aspectos litúrgicos muito formais. Um dos expoentes
desse modelo seria Calvino que via a Ceia como ferramenta para aplicação da disciplina na igreja e não como
um ritual elaborado, enfatizando o auto-exame antes da participação. Cristo estava presente na Ceia na forma
espiritual e assim tirava o elemento da superstição. A música deveria ser composta de Salmos e não de hinos,
somente cantando-se a melodia para que todos pudessem participar. Ele exigia que houvesse pregação exegética
para que o povo pudesse aprender a Bíblia (Basden 2000, 60-61)
- a igreja livre, com tradição anabatista desenvolveu esse culto de maneira um pouco mais livre que Calvino. Os
puritanos achavam que a Bíblia precisaria determinar a forma de culto e que cada congregação tomava as suas
próprias decisões a respeito, o que trouxe orações livres e espontâneas e uma pregação mais prática a aplicável.
Assim as vestes formais dos sacerdotes foram banidas, de diversos rituais católicos, como lavar as mãos antes
da Ceia e baniram a ordem fixa do culto. Basicamente foram mais longe que os reformadores na questão do
culto enfatizando um pouco mais de liberdade (Basden 2000, 61-63)
- hoje existe um ministro de música que lidera a congregação. Procura-se um equilibrio entre hinos e corinhos.
Normalmente um coral ou solistas ajuda a embelezar o culto com algumas músicas, muitas vezes arranjos mais
modernos de músicas tradicionais. Peças clássicas são utilizadas em dias especiais. O órgão e o piano são
ambos utilizados, e dependendo da igreja inclusive uma orquestra
- procura-se achar o equilíbrio entre transcendência e imanência de Deus, a grandeza e a bondade de Deus
- ocorre uma leitura da Bíblia, ou de forma responsiva, ou somente pelo dirigente
- o ofertório é feito antes ou depois do sermão, como resposta ao que ouviram
- o sermão se baseia sobre uma passagem de acordo com o ano litúrgico, um calendário de pregação, podendo
ser expositiva ou temática, tentando achar o equilibrio entre emoção e razão
- depois do sermão normalmente há ainda uma música e em alguns lugares um apelo para conversão
- as ordenanças são celebradas periodicamente
- a ordem de culto normalmente é construída sobre um tema
Pontos fortes
- junta transcendência com imanência, intelecto e emoções, tenta achar o equilibrio entre reverencia e
informalidade
- ele tenta levar as pessoas para Deus mantendo o temor e a proximidade de Deus
Pontos fortes
- clima vibrante que convida e incentiva a participação das pessoas. A música estimula as emoções, a pregação
desafia a vontade enfatizando o novo nascimento e um novo relacionamento com Jesus (Basden 2000, 78)
Pontos fortes
- atinge as pessoas mostrando a relevância do evangelho para os dias de hoje, mostrando que o evangelho tem
algo a dizer para as pessoas em nosso século
- a intimidade com Deus, a festa e a participação ativa das pessoas são elementos muito fortes
- Deus é visto como um Pai, Jesus como vitoriosos e o Espírito é poderoso
- as pessoas sentem a presença de Deus – o culto é emocional
- existe liberdade para a expressão espontânea das emoções
Pontos fortes
- tenta alcançar os não-crentes de uma forma acessível a eles, estando sensível à sua cultura, tentando construir
pontes com eles
- a Bíblia é apresentada como relevante para as pessoas dos nossos dias
2. Objetivo/propósito do culto
- o que estamos tentando alcançar. Qual é o resultado que desejamos? O que as pessoas que quero alcançar
estão precisando? Como encontrar o equilibro entre os diferentes propósitos estabelecidos na Bíblia para a
igreja? Que atividades ajudam a manter o equilibrio? Para que função Deus colocou a sua igreja no seu local?
3. O público-alvo
- quem tentamos atingir com o culto? Além do culto existem outras atividades na igreja tentando atingir outros
grupos de pessoas? Que faixa etária está recebendo a nossa atenção através do estilo adotado? Como ser igreja
com diversas faixas etárias, diversas culturas, níveis socioeconômicos diferentes, diferentes graus de
escolaridade?
- podemos eventualmente combinar elementos dos diversos estilos. O importante é fazer uma escolha e tentar
fazer o melhor dentro do estilo adotado. Nem sempre combinar os elementos diferentes vai dar muito certo.
25
Precisa-se de uma avaliação constante para ver se estamos atingindo o nosso objetivo e se Deus realmente
quer de nós tal abordagem.
- quando tomamos uma decisão sobre o estilo é importante não perder as pessoas que já congregam conosco.
Transições bruscas normalmente não são o ideal
Um dos maiores problemas com diversas igrejas livres é que querem distância dos extremos e com isso acabam
tomando um caminho que tende a não levar a nada. Elas não querem se tornar litúrgicas, pois não querem ser
católicas. Querem evitar aquela mesmice. Também não querem dar muito importância para a experiência das
pessoas com medo de serem taxadas de carismáticas ou pentecostais. Na prática, acabam fazendo de tudo um
pouco, mas sempre pensando onde não querem chegar e não onde querem chegar. O importante é usar a
liberdade para planejar. Vamos aproveitar as vantagens que existem nos diferentes modos de culto. Os outros
modos certamente têm algo que podemos aprender que estamos deixando de lado.
“Não é possível celebrar algum conteúdo sem uma forma. A forma sem conteúdo em um certo sentido, pode
existir, mas não o contrário” (Amorese 1997, 78). A liturgia “deve ser elaborada no sentido de facilitar os
propósitos da celebração comunitária” (Amorese 2004, 27) Ele precisa ser analisada para ver se cumpre com
suas funções principais:
1. Confirmação das crenças do grupo
2. Reforço dos seus alvos (adoração, comunhão e ministério)
3. Reforço da identidade comunitária e da cultura particular do grupo (Amorese 2004, 27)
Reflexão
1. O que a palavra liturgia evoca em você quando a ouve?
2. Em sua opinião, o que é melhor: um culto litúrgico ou mais espontâneo? Justifique a sua resposta.
3. Existe espaço para igrejas litúrgicas e mais espontâneas no Brasil? E dentro da mesma denominação? Como
resolver os conflitos que isso gera?
4. Você consegue cultuar a Deus de uma forma diferente do que está acostumado? Que barreiras enfrenta
nesse sentido?
5. O que podemos aprender de outro estilo de culto? Conseguimos comparar pontos fortes e fortes ao invés de
usar os nossos pontos fortes contra os fracos do outro modelo?
6. O que o desafiou quando falamos sobre os estilos de culto? Comente.
A. Regras gerais
- não existem regras para o que falar e o que não falar entre as músicas
- existem muitas formas de conduzir o período das músicas – nenhuma é ordenada na Bíblia. Deus permite que
as pessoas adaptem o culto que prestam a Deus à sua cultura
- todas as formas podem ser melhoradas
- ultimamente temos padronizado que o líder precisa falar entre as músicas
2. Improviso
- a pessoa vai depender do “Espírito” para saber se deve ou o que deve falar. Nesse caso o líder tenta ser bem
suscetível ao que o Espírito quer dizer às pessoas da congregação
- nem sempre é fácil saber quando, e o que Espírito quer que fale – o que falo pode ser mais influenciado pelo
meu estado de espírito, por um estado emocional, ou uma experiência boa ou ruim que tive, por uma impressão
que estou tendo. Se estou desanimado, Deus pode estar querendo alegrar toda a igreja. Na verdade, toda vez que
falamos, expressamos algo de nós mesmos. Isso é bom porque mostra autenticidade, por outro lado, jogamos
sobre a igreja as nossas frustrações, nossos anseios, que podem ser muito particulares e nada ter a ver com o que
a igreja precisa, ou até o que Deus quer para a igreja. Nesse sentido é preocupante que a maior parte dos líderes
da música na igreja têm uma média de idade muito baixa, o que impede uma maturidade maior
- interessante é que geralmente a seqüência das músicas já foi escolhida pelo líder de música (sob atuação do
Espírito?), mas não o que vai ser dito entre as músicas. Será que poderia haver um contra-senso aqui?
- o improviso se encaixa muito bem em uma estrutura mais informal, grupo pequeno. Mas normalmente é vista
como falta de organização quando a igreja é um pouco maior
- também não podemos esquecer que há diversos graus de improviso: não se trata de espontaneidade total
versus rigidez total. Há diversos graus de espontaneidade
27
3. Basear no tema da pregação
- o tema pode ser o tema sobre o qual todo culto é montado, incluindo a pregação, os testemunhos, etc.
- isso nem sempre é possível porque os pastores podem ter o conceito de que falarão o que o “Espírito” vai
conceder a eles na hora que subirem ao púlpito
- nem sempre existem músicas perfeitamente adequadas ao tema da mensagem. Existem muitas músicas que são
escritas sobre o tema de louvor e adoração e poucas sobre o arrependimento, a contrição, o chamado para
arregaçar as mangas e servir a Deus, ou até a busca pela santidade na prática, sem ser algo instantâneo que Deus
faz sem a minha colaboração. Em grande parte as músicas compostas refletem a cultura evangélica do nosso
tempo. Já verificou quantas músicas estão centradas sobre o ser humano ao invés de Deus?
- a idéia é que Deus também pode conduzir as pessoas quando estão preparando as músicas e também os
versículos ou comentários que vão fazer entre as músicas
- se o líder da música, através da escolha das músicas e dos comentários que fizer, conseguir introduzir o
assunto sobre o qual teremos a mensagem, possivelmente teremos uma sinergia no culto – o efeito do culto se
multiplica e não somente soma as partes. Mas nem sempre temos pessoas capacitadas para escolherem as
músicas de acordo com um tema e organizar os comentários de modo que preparem para a mensagem. Muitas
vezes o líder de louvor acha que deve pregar, e assim ao invés de introduzir o assunto, pode destruir a
mensagem
- esse modelo transmite a impressão de algo bem organizado – as pessoas sentem que o negócio é sério
- não precisa ser totalmente formal onde o líder da música puxa a folhinha e lê exatamente as palavras que
escreveu
a. Esse modelo pode ser mais formal onde tudo anda segundo o relógio e nada vai ser mudado, pois foi
combinado daquela forma;
b. Pode haver um pouco mais de flexibilidade. As linhas mestras estão traçadas, mas existe lugar para o
improviso, ou para mudanças de última hora.
4. Louvor e pregação são coisas totalmente à parte, sem qualquer conexão lógica entre elas
- nessa filosofia, o líder da música e o pregador somente precisam ter idéia do tempo que será gasto com cada
parte
- trabalha-se na dependência de que o Espírito ou “o acaso” vai unir as mensagens cantadas e faladas. Isso
acontece diversas vezes nos cultos
- podemos ter basicamente dois cultos em um – cada parte levou ao seu auge e não se preocupou em preparar
para o outro. O culto passa a ser uma colcha de retalhos
- aqui não existe o conceito de que existe a parte mais importante do culto – cada um luta pelo seu
- podem até caminhar em direções opostas que dificilmente podem ser conciliadas (alegria, arrependimento
nessa seqüência)
D. Dicas vitais
1. Cuidado com frases-chavões – eles não dizem nada – “é tão bom que a gente pode”; “esqueça todos os
problemas e se concentre apenas em Deus”; “Deus está preparando uma nova geração de adoradores
que o adorem em espírito e verdade”; “a gente está aqui para declarar ...”, sempre usar as mesmas
palavras na oração, etc.;
2. Cuidado ao usar palavras religiosas – adoração, louvor, entrega, engrandecemos – essas normalmente
precisam ser explicadas, pois facilmente se tornam chavões e as pessoas não sabem o que significam;
3. Cuidado com tiques nervosos – então tá, né, que bom que, unção, bênção, etc.;
4. Se o pastor fala mais vezes seguidas precisa se preparar muito mais – líder de música também. Caso
contrário vai dizer sempre a mesma coisa, independente das músicas que escolher. Quando isso
acontece, as pessoas desligam (“cai a chave”), pois já se tornou tudo previsível. Pode falar ou não falar,
ninguém ouve mesmo o que fala;
5. Cuidado para não sempre cantar as músicas que você gosta – você vai matar uma música – só você
agüenta cantar – o comentário também ninguém mais agüenta, pois é sempre o mesmo;
6. Não fale sempre as mesmas coisas entre as diferentes músicas – estimula as pessoas a não prestarem
atenção no que fala. Muitas vezes podemos escolher as músicas que queremos, mas os comentários são
iguais. Se quiser conferir grave somente os comentários feitos entre as músicas para ver o quanto
mudam e se conseguiria descobrir qual a música a ser cantada depois;
7. Olhe para as pessoas quando fala para elas – se estiver pegando a próxima música e olhando para a
estante, transparência, etc., ninguém te ouve;
8. Não fale demais, pois o período de cânticos precisa começar em um ponto e terminar em outro. Ele não
serve somente para encher o tempo do culto. Ele tem uma função especial e você deve tentar realizar o
propósito desse período (ex. preparar para a mensagem). Se conversar demais pode perder o pique e
este às vezes é difícil de ser criado novamente. Além disso, você não foi chamado para pregar. Se
quiserem que você pregue vão ser específicos no convite;
9. Nem sempre há necessidade de falar entre todas as músicas;
10. Faça a seu planejamento de forma intencional. Não olhe somente o texto das músicas. Precisa verificar
se a música é mais ritmada, ou mais lenta; mais voltada para a celebração ou para a meditação, etc. Se
você alternar demais o estado emocional dentro do período de cânticos, isso complica a vida da igreja.
Verifique texto e caráter da música para montar uma seqüência sabendo de onde está partindo e para
onde está indo;
11. Padronize o tipo de letra e o tamanho dela na transparência. Corrija os erros eventuais. Ninguém
agüenta cantar da mesma transparência/slide 80 vezes e sempre ver que na 2ª. linha tem um erro;
12. Grave o período que liderou e depois ouça e faça uma autocrítica;
13. Busque a Deus antes, durante e depois de liderar a música. Isso não quer dizer que deve orar em voz
alta seguidas vezes durante o tempo da música, mas estar ciente da necessidade de depender de Deus
em tudo que faz. Se depender de você, nada vai ter resultado eterno;
14. Esteja em sintonia com o pastor ou líder do culto;
15. Esteja preparado para imprevistos. Às vezes, o tempo andou mais do que o previsto e é necessário
cortar uma música ou duas, etc.
29
III. Música e culto na Bíblia
A. Introdução
- para nós a Bíblia é a Palavra de Deus – portanto tentamos descobrir dentro dela instruções sobre como
devemos viver e como devemos nos relacionar com Deus
- a Bíblia não tem instruções sobre todos os assuntos, mas em geral podemos descobrir dentro dela princípios
que devem nos orientar em tudo o que fazemos
- não temos muitas instruções sobre a música. Temos mais instrução no AT do que no NT. O padrão seguido no
NT era o da sinagoga do AT. Como o evangelho foi sendo levado para povos de culturas diferentes, cada uma
acabou adorando a Deus dentro de sua forma cultural. Isso significa que não existem padrões fixos supra-
culturais que definam como as pessoas devam usar a música para engrandecer a Deus. Isso ainda não quer dizer
que tudo o que fazemos dentro da área da música possa ser utilizado para Deus. Certamente precisamos de
bom-senso e discernimento para usar a música de uma forma que ajude as pessoas a louvarem e adorarem a
Deus em tudo o que fazem
- queremos ver se encontramos algumas instruções sobre como devemos adorar a Deus e usar a música em
nossos cultos. Para isso temos que olhar um pouco e ver como a música era usada na Bíblia
- a proibição contra as imagens (Dt 20.4) evitou que Israel desenvolvesse uma tradição de arte visual como os
gregos, mas a música tinha um papel fundamental em todas as partes da vida judaica. Todas as facetas da vida e
cada época de sua história foram marcadas pela música. Ela estava presente quando as pessoas se
cumprimentavam e despediam (Gn 31.27; Lc 15.25), quando casavam e eram enterrados (Jr 7.34; 48.36),
quando iam para a guerra e quando voltavam dela (Jz 11.34; Is 30.32). Desde o menor até o maior, as pessoas
na Bíblia cantavam e tocavam instrumentos (1Sm 16.18; Jó 30.31) (Ryken et al. 1998, 576)
B. A música no AT
1. O uso secular
- a música dos humanos passou por desenvolvimentos. Mesmo que não tenhamos relatos na Bíblia sobre isso,
certamente a música iniciou com sons antes que as palavras fossem acrescentadas.1 Os humanos
experimentavam com sons e foram acrescentando outros tipos de sons imitando os sons da natureza ao seu
redor. Depois disso começaram a inventar artefatos que faziam sons. Iniciando com a percussão, quando batiam
um objeto no outro, etc. Depois o som do vento, do ar em movimento começaram a sugerir outros tipos de sons.
Os sons eram feitos com a boca e com os lábios e depois com chifres de animais. A gama de sons aumentou
muito com a descoberta dos instrumentos de corda, etc. (Matthews 1992, 4:930)
- a história da música no antigo Oriente Próximo acontece quase que de maneira simultânea na Mesopotâmia e
no Egito. As escavações demonstram instrumentos de corda como a lira já no quarto milênio antes de Cristo.2
- logo em Gênesis temos a 1ª. referência à música na Bíblia. Ali o autor coloca 3 profissões lado a lado,
mostrando as 3 profissões que o autor achava as mais importantes na história primitiva de Israel: Jabal é o 1º.
criador de rebanhos; Tubalcaim, o 1º. ferreiro e Jubal, o 1º. músico: “Jubal, que foi o pai de todos os que tocam
harpa e flauta” (Gn 4.21).3 O fato que o músico é colocado lado a lado de outras profissões mais práticas,
mostra a antigüidade da música e a importância que tinha na cultura israelita (Matthews 1992, 4:930)
- certamente Israel copiou expressões musicais das nações ao redor, nos tipos de instrumentos utilizados e no
estilo de composição, já que Abraão veio da Mesopotâmia. Depois Israel permanece 400 anos no Egito e
certamente ali também se expressou musicalmente sendo influenciado pela maneira egípcia da música
(Matthews 1992, 4:930)
- sem contar a utilização da trombeta como instrumento para chamar o povo (cf. Nm 10.1-10), a música parece
que teve um papel secundário na vida religiosa do povo de Israel durante o período nômade e na conquista da
Terra Prometida (Foxvog e Kilmer 1989, 3:438). A música em Israel mudou e se tornou mais complexa a
institucionalizada quando os israelitas vivem menos como nômades e se tornam uma sociedade camponesa e
depois urbana (Matthews 1992, 4:930)
1
A partir do momento que Deus separou o firmamento das águas e criou os animais, a música foi criada. Basta andar por
alguns minutos num bosque ou na praia, que nos deparamos com uma sinfonia dos sons (Lockyer 2004, 3).
2
Para maiores detalhes sobre a música antiga no Egito e na Mesopotâmia, veja Foxvog e Kilmer 1989, 3:436-438.
3
O nome Jubal está ligado no hebraico ao termo “yobel” = carneiro, de cujos chifres a shophar primitivo era feito,
facilmente percebido como o instrumento mais antigo. Enquanto Enki/Ea, o deus da sabedoria, magia e artes era o patrono
da música entre os sumérios/acádios, o equivalente de Jubal na tradição da Mesopotâmia, Nungal-piruggal, pode ter sido o
primeiro mago, que está associado com a introdução dos instrumentos musicais (Foxvog e Kilmer 1989, 3:438).
30
- mesmo em suas formas primitivas a música deve ter sido usada para acalmar um nenê para embalar o seu
sono, ou até para manter o ritmo dos trabalhadores, em especial quando realizavam um trabalho pesado. Outro
aspecto era a utilização da música nas celebrações. As celebrações marcavam eventos importantes da vida da
comunidade [como o cântico de Miriã depois da passagem pelo mar Vermelho].4 A música era usada para
expressar a alegria e o contentamento com a vida. Mas nem todo tipo de canto era aceitável. Sl 69.12 fala da
canção dos bêbados que falam mal do salmista e Jó 21.11,12 mostra que Jó não entendia como os filhos dos
perversos dançavam enquanto os perversos cantavam ao som dos instrumentos (Matthews 1992, 4:931).5
- o entretenimento era essencial na vida das pessoas, já que a vida trazia muitos elementos complicados. Israel
congregava algumas vezes por ano para lembrar e agradecer a Deus, mas também para se manterem unidos
como nação. Nessas reuniões as danças e a música eram comuns (Jz 21.19-21; 2Sm 14.28). Os casamentos
também eram ocasiões para festa e música, assim como nascimentos, etc. A coroação de um rei era uma grande
festa que envolvia músicos e a participação do povo com cantos e danças. Existem diversos Salmos de coroação
(Sl 2; 20; 72; 89; 101; 110; 144) que reiteram o direito da dinastia de Davi para reinar sobre Israel. A música
também estava presente para convocar os soldados para a batalha e direcionar no campo de batalha. Quando
ocorria a vitória, isso era motivo de festa, dança e música (Matthews 1992, 4:931-932)
2. O uso religioso
- o uso religioso pode ser visto tanto na forma popular como na institucionalizada. A música era usada no
lamento, no processo do luto (2Sm 3.32-34; Jz 11.40). Os funerais do antigo oriente incluíam lamentadores
profissionais que batiam em sua testa, lamentavam e arrastavam os pés ao som das flautas (lamentadoras). A
doença e morte prematura eram situações comuns para as pessoas da época. Assim se criavam músicas e danças
com o objetivo de afastar o mal. A esperança era que a música pudesse acalmar os doentes ou amedrontar os
espíritos que causavam a doença, de modo que a cura se efetuasse (1Sm 16.16). Esse caráter apotropaico
(espantar o mal) seguramente está em vista quando os israelitas pedem a Arão para criar um bezerro de ouro
para eles, pois parecia que Moisés não voltaria mais e eles precisavam de um objeto visível para adorar para
espantar o temor que os abatia. Essa adoração incluiu o canto em voz alta, frenético e dança (Ex 32.19). Essa
figura pode ter sido usada pelo autor para comparar a adoração aos ídolos dos cananeus com a adoração de
Israel em Jerusalém. Uma passagem paralela seria a adoração dos sacerdotes de Baal no monte Carmelo onde
estão num frenesi e se cortam buscando que Baal os atenda, comparado com Elias que zomba deles porque tudo
o que fazem não leva a nada, ordenando inclusive a sua morte, como também ocorreu no episódio do bezerro de
ouro (Matthews 1992, 4:932)
- no início da vida judaica, as expressões musicais parecem ter sido espontâneas e com uma natureza de êxtase
(Hustad 1991, 86). A 1ª. referência bíblica que temos é uma narrativa de ação de graças dirigida por Moisés e
Miriã depois que haviam sido libertados do Egito: “1 Então Moisés e os israelitas entoaram este cântico ao
SENHOR: ‘Cantarei ao SENHOR, pois triunfou gloriosamente. Lançou ao mar o cavalo e o seu cavaleiro!’ ...
20 Então Miriã, a profetisa, irmã de Arão, pegou um tamborim e todas as mulheres a seguiram, tocando
tamborins e dançando. 21 E Miriã lhes respondia, cantando: ‘Cantem ao SENHOR, pois triunfou
gloriosamente. Lançou ao mar o cavalo e o seu cavaleiro’ ” (Êx 15.1,20,21). Este é um exemplo de música
mais espontânea que envolve instrumentos e vozes. Outros exemplos de êxtase ligado com a música estão em
1Sm 10.5,6 – grupo de profetas com instrumentos e estão profetizando. A música poderia levar a pessoa a uma
experiência sobrenatural com Deus (2Rs 3.15,16 – como resultado, Eliseu profetiza).
- mais tarde essa composição vai se tornando mais formal – os levitas se tornam profissionais. Os Salmos são
hinos cantados em muitas épocas – nem todos provêm de Davi (1000 AC). Os Salmos servem com a base para
grande parte da celebração de Israel. Os Salmos passam a conter títulos que orientam quando devem ser
cantados e marcações para pausas, etc. Esses Salmos eram cantados nas celebrações de Israel no templo em
Jerusalém. Cada vez mais a música se tornou formal havendo cantores e músicos profissionais. Davi contratou
4
As guerras ou celebrações de vitória na guerra parecem dar origem aos cânticos: Miriã conta quando o faraó é derrotado
(Êx 15.20s); Débora celebra a vitória do rei cananeu Jabim (Jz 5); Sansão exulta por sua vitória sobre os filisteus: “Com
uma queixada de jumento fiz deles montões. Com uma queixada de jumento matei mil homens” (Jz 15.16); as mulheres
cantam quando Saul e Davi voltam da batalha: “6 Quando os soldados voltavam para casa, depois que Davi matou o
filisteu, as mulheres saíram de todas as cidades de Israel ao encontro do rei Saul com cânticos e danças, com tamborins,
com músicas alegres e instrumentos de três cordas. 7 As mulheres dançavam e cantavam: ‘Saul matou milhares, e Davi,
dezenas de milhares’ ” (1Sm 18.6). Mas nem sempre ocorrem vitórias na guerra. O lamento também é musicado, por
exemplo, quando Davi lamenta pela morte de Saul e Jônatas (2Sm 1.19-27) (Foxvog e Kilmer 1989, 3:438).
5
Para mais passagens que falam sobre a utilização da música dentro da Bíblia, veja Foxvog e Kilmer 1989, 3.438.
31
levitas para cantar no templo de Jerusalém (1Cr 6; 15; 16; 25; 29; 2Cr 35.15). Estes deveriam entoar um
louvor constante a Javé e devem profetizar com seus instrumentos (1Cr 25.1).6 Os temas que cantavam estavam
ligados com um pedido para que Javé tivesse misericórdia e cuidasse do seu povo (Sl 23; 46) e amaldiçoasse os
perversos (Sl 58). Eles também recitavam a história das vitórias de Javé no passado nas grandes celebrações e a
coroação dos reis (Sl 78; 81; 105) (Matthews 1992, 4:933).
- no processo de profissionalização da música, Davi instituiu cantores profissionais para o templo: “Davi
também ordenou aos líderes dos levitas que encarregassem os músicos que havia entre eles de cantar músicas
alegres, acompanhados por instrumentos musicais: liras, harpas e címbalos sonoros” (1Cr 15.16) Estes tinham
dedicação exclusiva para servir a Deus com a música. Tinham um aprendizado de 5 anos antes de serem
admitidos no coro [Talmude] (Hustad 1991, 88, Blomgren 1991, 30). Eram escolhidos pelo seu talento.
Também usavam diversos tipos de instrumentos. A música também estava associada à dança: “louvem-no com
tamborins e danças” (Sl 150.4).7
- na adoração hebraica, as palavras da escritura nunca eram faladas sem melodia. Eram acompanhadas por
instrumentos que proporcionavam adornos da melodia vocal. Os tipos básicos de instrumentos eram de corda,
sopro e percussão (Hustad 1991, 88)
- boa parte do canto era antifonal (pergunta e resposta): “1 Dêem graças ao Senhor, porque ele é bom. O seu
amor dura para sempre! 2 Dêem graças ao Deus dos deuses. O seu amor dura para sempre! 3 Dêem graças ao
Senhor dos senhores. O seu amor dura para sempre!” (Sl 136.1)
- os Salmos eram o hinário de Israel. Eles eram cantados em seqüências regulares, seguindo os sacrifícios
matutinos e vespertinos e eram acompanhados por instrumentos que ocasionalmente tocavam um interlúdio
(Selá) (Hustad 1991, 89-90)
- depois de Salomão a adoração no templo ficou um tanto turbulenta. O povo vivia muito em pecado e
freqüentemente havia guerras e ameaças de outras nações (Blomgren 1991, 37ss)
- os cantores da tribo de Levi, liderados originalmente por Asafe, Jedutun e Hemã (1Cr 25.1) possivelmente
eram ainda mais proeminentes na adoração no templo depois do exílio. A eles se juntavam outros grupos na
música liturgia associados com Quenanias, chefe dos músicos (1Cr 15.27) e Matitias e 5 outros homens que
lideravam com as harpas. Ainda outro grupo, os coreítas (2Cr 20.19) também eram membros da comunidade
musical já que seus nomes aparecem no sobrescrito de diversos Salmos (42; 44—49; 84—85; 87—88). Parece
que cada associação criou ou se tornou associada com certo repertório de músicas, o que ajudou na transmissão
e preservação dessa música sacra. Vemos que a música sobreviveu ao exílio, já que na lista dos exilados que
voltaram com Zorobabel para Jerusalém havia 200 cantores masculinos e femininos (Ed 2.65) bem como 128
filhos de Asafe (2.41). Esses filhos de Asafe tocam e cantam responsivamente um hino de louvor a Javé quando
se inicia a reconstrução do templo (Ed 3.10,11) (Matthews 1992, 4:933).8
- nos Salmos há diversas indicações que a música era organizada e a apresentação dela era regulada. Havia
sinais para os líderes da música, notações que lidam com estilo e tom (e.g., lamento), instrumentações (e.g.,
instrumentos de corda). Também existem dicas para quem deve cantar, etc. A maior parte dessas instruções
estão no superscrito dos Salmos, mas alguns aparecem diretamente no texto, como “Selá” que pode servir como
uma marcação para respirar, uma indicação para um músico começar a tocar ou simplesmente uma afirmação
6
Tipicamente os profetas usavam de vários procedimentos para se preparar para receber os oráculos proféticos. A música
ajudava na indução de um estado de êxtase que era visto como preparação para receber a mensagem divina (Walton et al.
2000, 417). É interessante ver aqui que os grupos de levitas têm a função inclusive de profetizar. Nos tempos pré-exílicos
havia os profetas do templo que juntamente com os sacerdotes tinham a função de transmitir as respostas a orações de
lamento feitas em tempos de crise pessoal ou nacional. Seu ministério está por trás do “Não temas” de Lamentações 3.57.
Em Sl 85.8-13 um profeta destes entrega a palavra divina: “paz” e continua expondo seu significado para um povo
angustiado. Em 2 Salmos ouvimos o profeta tendo parte na adoração, desafiando os adoradores a crer em seus corações o
que falaram com seus lábios e fazer em suas vidas e o que ouviram com seus ouvidos (Sl 81.5-16; 95.7-11). Este ministério
estava entrelaçado de forma dinâmica com seu ministério musical. Nos tempos pós-exílicos esta função profética parece
que desaparece gradualmente dos levitas (Allen 1987, 163). Além disso, ao que tudo indica, parece que nesta época havia
solistas que cantavam os Salmos e em diversos deles havia porções proféticas (e.g., Sl 81; 95). De uma forma geral, mesmo
os corais que cantavam tinham a função de serem os porta-vozes de Deus (Allen 1987, 164).
7
Cabe lembrar que a dança da época do AT tem muito pouco a ver com as danças modernas que temos em nosso país. As
coreografias na igreja estão tentando resgatar um pouco esse aspecto bíblico, mas de um modo geral com pouca reflexão
cultural sobre a questão. Não sabemos o que a dança representava na época e como isso fazia parte do culto. Simplesmente
lemos que eles dançavam e queremos imitar – isso pode causar problemas.
8
A corte e os nobres tinham seus cantores profissionais, tanto homens como mulheres e cantavam com harpas e tamborins.
Quando as festas regadas à música levavam os israelitas à embriagues e licenciosidade, os profetas usavam a música deles
como exemplos de luxúria e os condenavam com suas profecias (Lockyer 2004, 7)
32
do que foi dito. Há ainda outras indicações como “hino de louvor”, “oração”, etc. (Matthews 1992, 4:933-
934).9 Há diversos tipos de Salmos, desde expressão de louvor, petição, ação de graças, penitência, até pedidos
de maldição contra os inimigos de Israel. Toda a vida de Israel estava incluída em seus cânticos
- a sinagoga parece ter aparecido durante a época do cativeiro babilônico. A música na sinagoga era
provavelmente dirigida pelos cantores que deveriam ser treinados para esse ministério no templo e podia
envolver alguma participação da congregação
- mais tarde nas sinagogas provavelmente havia um ou dois cantores que cantavam, mas certos salmos eram
cantados por toda a congregação. Ao que tudo indica não havia instrumentos que acompanhavam esse canto. O
canto dos salmos era parte integrante da liturgia nas sinagogas (Hustad 1991, 92)
- depois do exílio houve a dominação dos gregos com forte influência na música. Com medo de que a influência
dos instrumentos gregos fosse levar os judeus à apostasia, os instrumentos foram banidos da sinagoga
(Blomgren 1991, 45)
- a música era muito importante na adoração em Israel. Para cada referência à oração no AT, temos duas para a
música. A forma principal da música dos judeus era o hino. A função principal dos instrumentos musicais era
ressaltar o texto da música, ou seja, tornar o hino mais facilmente compreendido. É interessante notar que a
menção dos instrumentos acompanha os textos mais antigos do AT. Os textos mais recentes falam pouco sobre
instrumentos, o que ocorrendo com o NT, até que aparecem outra vez no Apocalipse. Parece que à medida que
os instrumentos musicais foram se desenvolvendo adquiriam uma linguagem própria, independente da palavra
falada (Lockyer 2004, 6-7).10
- os judeus cantavam em uníssono, sem necessidade de harmonia ou contraponto. A eficiência da música
dependia do número de cantores e do tamanho da orquestra. A orquestra diversas vezes fazia o interlúdio.
Segundo Lockyer, o termo “selá” aparece mais de 70 vezes nos Salmos indicando que a orquestra deve tocar
mais forte (Lockyer 2004, 7)
- resumindo: Os israelitas foram exímios músicos, talvez melhores do que as nações ao seu redor. A parte mais
desenvolvida da música em Israel estava relacionada com seu culto corporativo. Desde o início, a música e os
hinos estavam no coração da adoração no templo (2Sm 6.5,14; 1Rs 10.12; 1Cr 15.15,16), uma tradição que
continuou quando o 2º. templo foi construído (2Cr 29.25; 35.15; Ne 7.1; 12.27-43). A magnitude dessa
adoração coletiva era impressionante (1Cr 15.19-21; 16.4-6, 39-42; 23.5-8; 2Cr 5.12,13; Ed 3.10,11). Havia
instrumentos de corda, sopro e percussão. O número de pessoas envolvidas nesta extravagancia e atmosfera
impressionante de alegria e celebração são captadas de forma maravilhosa em diversas passagens (Sl 68.24-27;
149; 150). Tudo isso é visto como uma resposta natural e apropriada para o que Deus fez pelo povo, seja de
forma corporativa (Sl 147.1), ou individual (Sl 13.6; 27.5,6; 71.20-23). Essa função da música vai continuar na
igreja primitiva (Ryken et al. 1998, 576-577)
C. O culto no AT
- quando lemos o que a Bíblia fala do culto a Deus descobrimos informações importantes (Basden 2006, 13-15):
- Abraão ofereceu sacrifícios a Deus para agradecer pela promessa de se tornar uma bênção para todas as nações
- Moisés continua a construir altares e oferecer sacrifícios de animais, introduzindo cânticos, dias festivos,
leitura do Livro da Aliança, aspersão dos adoradores com o sangue da aliança, recepção de oferendas e
construção do tabernáculo
- Davi localizou a arca da aliança que estava perdida por diversos anos e a levou para Jerusalém liderando o
cortejo com danças tão alegres que afetou seu casamento. Essa espontaneidade com Deus o levou a compor
músicas de adoração individual e coletiva que estão nos Salmos. Além disso, organizou o culto designando
sacerdotes, levitas, porteiros, músicos e tesoureiros
- no entanto, não houve somente uma “evolução” positiva. “Conforme a adoração em Israel amadurecia e se
expandia, a idolatria e a imoralidade espreitavam na escuridão. As pessoas preferiam adorar falsos deuses –
feitos por elas mesmas e que podiam ser vistos e manipulados – a prestar culto ao Deus único e verdadeiro e
quem não podiam controlar” (Basden 2006, 14). Deus enviou profetas para alertar o povo para a perda da
essência da adoração – uma vida íntegra. A persistência nos seus próprios caminhos levou à dominação de reis
estrangeiros e finalmente ao exílio
- a partir do exílio até a vinda de Jesus (cinco séculos e meio) a adoração sofreu uma mudança radical. Os
sacrifícios e a música desapareceram dando lugar à leitura da Torá, orações declamadas e salmos recitados. A
9
Para uma explicação das notações musicais colocadas nos Salmos, veja Foxvog e Kilmer 1989, 3:447-449.
10
Para maiores detalhes sobre os instrumentos utilizados em Israel e no NT, veja Foxvog e Kilmer 1989, 3:438-446.
33
observância dos ensinos da Torá se tornou o objetivo da adoração. Retornando do exílio foram construídas
sinagogas, casas de instrução e adoração. O culto nas sinagogas abrangia um chamado à adoração, orações
prolongadas, recitação do Shema (Dt 6.4), leitura das Escrituras e um sermão. Esse foi o modelo que serviu de
base para os cultos no NT
D. A música e o culto no NT
- com o nascimento de Cristo temos diversos hinos11 no estilo dos Salmos do AT
- Magnificat – Lc 1.46-5512
- Benedictus – Lc 1.67-79
- Gloria in Excelsis Deo – Lc 2.13,14
- Nunc Dimitis (agora você está me despedindo) – Lc 2.28-32
- quando falamos em hino no NT, não devemos falar de um hino moderno com uma determinada métrica, nem
uma métrica dos poemas gregos ou semíticos. A categoria de “hino” é usada de forma abrangente parecida com
o credo, incluindo material dogmático, confessional, litúrgico, polêmico ou doxológico. Recentemente os
estudiosos chamaram a atenção para 2 elementos que nos ajudam a discernir um hino no NT:
1. Estilo. Há certo ritmo ou cadência animada quando a passagem é lida em voz alta, a presença de
paralelismo de versos, a indicação de alguma métrica, e a presença de artifícios retóricos como
aliteração (repetição das mesmas sílabas no mesmo verso ou em versos seguidos), quiasmo e antítese;
2. Lingüístico. Um vocabulário incomum, em particular com a presença de termos teológicos, que é
diferente do contexto imediato (O’Brien 1991, 188-189).13
- apesar de que os judeus normalmente sabiam ler e escrever, não havia muitos livros disponíveis para as
pessoas. É verdade que numa época com menos informação a tendência era de armazenar mais informação na
mente do que hoje. As porções que eram cantadas eram memorizadas e interiorizadas de maneira mais eficaz do
que hoje. O modelo de adoração que acontecia nas sinagogas foi adotado pela igreja primitiva quando se
reuniam nas casas
- já no AT o canto estivera presente nas sinagogas e no templo e depois isso somente continua. “Cantavam
alternadamente, louvando e rendendo graças ao Senhor” (Ed 3.11; Ne 12.24,31) (Martin 1982, 48)
- não há muitos relatos da música no tempo de Jesus. No entanto, não deve “haver qualquer dúvida de que os
primeiros crentes em Jesus herdassem o desejo de expressar sua gratidão a Deus por meio de oferecer louvores
vocais, conforma fizera o próprio Senhor (Mt 26.30)” (Martin 1982, 49)
- os salmos14 se tornam o hinário da igreja cristã. A igreja via em muitos lugares alusões a Jesus, já que usavam
o AT para provar que Jesus era de fato o Messias (Martin 1982, 50)
- também no Apocalipse temos diversas alusões a salmos e hinos cantados no céu:
“8 Cada um deles tinha seis asas e era cheio de olhos, tanto ao redor como por baixo das asas. Dia e
noite repetem sem cessar: ‘Santo, santo, santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há
de vir’.... 11 ‘Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste
todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas’ ” (Ap 4.8,11);
“9 e eles cantavam um cântico novo: ‘Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste
morto, e com teu sangue compraste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação. 10 Tu os
constituíste reino e sacerdotes para o nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra’ ... 12 e cantavam em alta
voz: ‘Digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e
louvor!’ 13 Depois ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo o
11
O termo “hino” vem do grego hymnos, que no grego clássico, desde Homero em diante significa um hino de louvor em
honra aos deuses, heróis e conquistadores. No NT é utilizado para se referir a canções de louvor honrando o Deus de Israel
(Mt 26.30; Mc 14.26; At 16.25) (Bichsel 1992, 3:350).
12
Este hino é escrito no tempo perfeito no grego indicando uma ação completada no passado, mas cujos efeitos são
contínuos.
13
Para maiores detalhes sobre as características do hino de Fp 2.6-11, veja O’Brien 1991, 188-193.
14
O termo salmos já tinha sido usado pelos tradutores da LXX para se referir ao livro de Salmos do AT. No hebraico, o
significado de Salmos é “hinos de louvor/adoração”. No grego clássico o termo “salmos” significa “tanger as cordas
musicais com os dedos” e, mais tarde, um hino cantado com o acompanhamento de um instrumento musical. Sem dúvida
esta foi a palavra mais adequada encontrada pelos tradutores do AT para se referir às notações feitas na introdução de
muitos Salmos com relação aos instrumentos a serem utilizados em sua execução (Bichsel 1992, 3:350).
34
que neles há, que diziam: ‘Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra,
a glória e o poder, para todo o sempre!’ ” (Ap 5.9,10,12,13)
- quando temos a festa do Pentecostes com o derramamento do Espírito, a alegria estava presente nas pessoas.
Grandes avivamentos se expressam geralmente por meio dos cânticos. Seria muito normal esperar que isso
também acontecesse em Pentecostes (Martin 1982, 48)
- temos diversas referências claras que falam sobre a música na igreja primitiva
1Co 14.26 “Que fazer, pois irmãos! Quando vos reunis, um tem salmo, outro doutrina, este traz revelação,
aquele outra língua, e ainda outro interpretação. Seja tudo feito para edificação”;
Ef 5.19 “... falando entre vós com salmos, hinos e cânticos espirituais e entoando e louvando de coração ao
Senhor ...”;
Cl 3.16 “... instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente com toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos e
hinos e cânticos espirituais, com gratidão, em vossos corações”.
- a adoração deixou de ser o trabalho de sacerdotes profissionais, onde a congregação era basicamente passiva
(espectadores). Agora a adoração é social e congregacional, estando as pessoas conscientes dos seus irmãos e de
Deus e com a participação de todos (Hustad 1991, 94)
- em Corinto parece haver uma adoração mais espontânea:15 salmos (hinos), leitura das Escrituras e discussão.
Havia também ênfases novas de êxtase, razão pela qual Paulo procura colocar alguns princípios que os orientem
(tudo para a edificação). Parece que a oração era algo muito normal nos cultos (Hustad 1991, 94). A adoração
espontânea precisou ser regulada porque havia exageros que estavam comprometendo a imagem e o foco da
igreja. Creio que o mesmo ocorre hoje, onde algumas igrejas “descobrem o brinquedo novo” e deixam todos os
outros de lado. Isso pode levar a distorções perigosas para a igreja, sendo que o culto a Deus passa a ser
meramente emocional e se concentrando em aspectos particulares sem ser inteligível para as outras pessoas
- ao que tudo indica todo o profissionalismo da música havia sido abandonado, para a participação maciça da
congregação (Hustad 1991, 94)
- não temos no NT uma descrição completa nem prescritiva de como deve ser o nosso culto público a Deus. Há
instruções para a união dos crentes e que se dediquem à oração, canto, leitura, pregação e ensino das Escrituras,
ofertas, batismo e ceia. Mas não temos descrição dos métodos. Vemos a diversidade predominar. A igreja
primitiva dava prioridade ao ensino dos apóstolos, à ceia do Senhor, às orações e à vida comunal. Em Corinto,
Paulo corrige (não rejeita) os impulsos carismáticos da igreja. Nas cartas da prisão, vemos que o culto em Éfeso
e Colossos consistia de hinos, ensino e ação de graças (Basden 2006, 15)
- porque Paulo faz uma divisão entre salmos, hinos e cânticos espirituais? Alguns autores acham que não há
grande distinção entre eles, já que envolveriam desde salmos e hinos já conhecidos e litúrgicos até composições
mais recentes (Lincoln 1990, 345-346; O’Brien 1982, 208-210; Stott 2001, 154). Martin tentou fazer uma
distinção entre os termos:
a. Salmos poderiam ser os salmos do AT ou outras que seguem o padrão dos salmos;16
b. Hinos poderiam ser composições um pouco mais longas;
c. Cânticos espirituais seriam partes do louvor espontâneo que o Espírito colocava nos lábios das pessoas.
Mas estes eram seguramente esquecidos rapidamente (Martin 1982, 55).
Mas esta distinção entre os termos é um tanto artificial, pois nos títulos dos Salmos aparecem os 3 sem
distinção. A mesma coisa acontece na LXX onde esses 3 termos são usados como sinônimos (Lincoln 1990,
345-346)
- é importante notar, no entanto, que ocorre aconselhamento e instrução através dos cânticos no NT. A música
não serve somente para êxtase e para Deus, mas também para com o nosso próximo. O texto de Ef 5.19
menciona: falando entre vós com salmos, hinos e cânticos espirituais: “falando entre si com salmos, hinos e
cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao Senhor”. Aqui a música teria uma função fortemente
ligada ao ensino, o mesmo ocorre em Cl 3.16 – instruir e aconselhar mutuamente: “Habite ricamente em vocês a
palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e
cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração”. Como se trata de música ministrada uns aos outros é
15
Segundo Szoverffy ao que tudo indica, com raras exceções, os hinos do NT não eram escritos, mas muitas vezes o
produto de inspiração momentânea. Estas canções possivelmente eram similares aos Salmos do AT, utilizando paralelismo
em suas estruturas, longas enumerações dos atributos da divindade, etc. (Bichsel 1992, 3:350).
16
Stott sugere que talvez tenham o acompanhamento de instrumentos (Stott 2001, 154). Além dos hinos que temos nos
Salmos, o AT tem outros hinos como o cântico de Moisés (Êx 15.1-18); o hino de Baraque e Débora (Jz 5); o cântico de
Ana (1Sm 2.1-10).
35
mais provável que seja música que as outras pessoas entendam do que música que poderia ser cantada em
línguas ou algo espontâneo (Lincoln 1990, 346)
- depois disso em Ef 5.19 temos que os salmos, hinos e cânticos são direcionados para Deus (louvando de
coração a Deus com ...). Cristãos que estão cheios do Espírito têm prazer em cantar louvores a Deus porque
isso não é simplesmente algo que vem dos lábios, mas do coração onde o Espírito reside (Lincoln 1990, 346).
Na verdade, tanto o falar (instruir e aconselhar) como o cantar envolve os salmos, hinos e cânticos espirituais
(O’Brien 1999, 394-396)
- o fato de que diz que são cânticos espirituais não quer dizer que sejam espontâneos, mas que são inspirados
pelo Espírito (O’Brien 1999, 395)
- a música entre os cristãos, então era basicamente vocal, pois os instrumentos eram usados no templo. Os
cristãos foram perseguidos em Jerusalém depois de alguns anos e em 70 AD o templo foi destruído (Hustad
1991, 95)
- os pais da igreja compunham hinos para serem cantados nas congregações (Inácio, Clemente de Alexandria,
Atenágoras, etc.). Plínio escreveu para o imperador Trajano (112 AD) “que os cristãos se reuniam nos
domingos, antes da alvorada, e cantavam responsivamente cânticos a Cristo como sendo Deus’” (Blomgren
1991, 46)
- a música está associada com a alegria: “está alguém sofrendo, ore; está alguém alegre? Cante louvores” (Tg
5.13) Deus quer fazer parte de toda a nossa vida, quer estejamos bem ou mal. Podemos chegar a ele de
diferentes formas
- o canto deve ser tanto emocional como racional: “Cantarei com o E/espírito, mas cantarei com a mente” (1Co
14.15). Aqui parece que temos a indicação de que havia cânticos que eram conhecidos de antemão e outros que
eram mais espontâneos. A música por si só já toca muito os nossos sentimentos (e isso é bom), mas não
podemos esquecer que deve também tocar o racional. Não significa que todas as músicas que cantamos devem
atingir todos os objetivos, mas que devemos procurar um equilíbrio entre as partes, já que devem servir também
para edificar a igreja (os irmãos)
- hoje, por causa da cultura em que vivemos, tendemos para usar a música muito mais para o lado emocional do
que para o lado racional. As pessoas “sentem” a presença de Deus, mas não sabem o que cantaram. Esse sentir
faz parte do culto, mas não pode se restringir a ele. Os comentários feitos entre as músicas de fato ajudam as
pessoas a focalizarem sobre algum aspecto da letra, o que é muito positivo
- mesmo que os hinos fossem mais espontâneos, parece que temos fragmentos deles em todo o NT. Ao que tudo
indica estes fragmentos de hinos estão divididos em 2 categorias (Bichsel 1992, 3:350):
Reflexão:
1. O que mais te chama a atenção sobre o desenvolvimento da música na Bíblia?
2. Se a Bíblia não define padrões rígidos para a música, como deveria ser a música na igreja? Qualquer coisa
vale? Deveria haver limites? Onde e como estabelecer limites?
3. Os salmos eram parte do hinário de Israel. Que tipos de hinos temos nos salmos? Isso tem algo a nos
ensinar sobre o conteúdo das músicas que cantamos?
38
4. Houve uma época que os instrumentos foram banidos da música na sinagoga, para evitar que os judeus se
desviassem de sua fé. Será que isso seria uma sugestão viável para os nossos dias? Hoje, os instrumentos
ajudam ou atrapalham a congregação em seu culto a Deus?
5. Em que sentido os músicos profissionais ajudam ou atrapalham o louvor coletivo da igreja?
6. Quais seriam alguns princípios bíblicos para a música na igreja?
7. O que te chama a atenção sobre os hinos que temos no NT?
17
A palavra Shema é a primeira palavra de Dt 6.4 no hebraico.
18
Essas bênçãos são divididas em 3 grupos: 3 bênçãos de louvor/adoração, 12 pedidos: perdão, redenção, saúde,
prosperidade, chuva no seu tempo, arrebanhamento dos exilados, etc. – no séc.II acrescentou mais um pedido contra os
hereges, incluindo o Cristianismo), e 3 bênçãos expressando gratidão e despedida. As bênçãos se encontram em Ferguson
1993, 543-544.
19
Para alguns comentários sobre a música durante este período, ver Bichsel 1992, 3:351.
39
- em 312—313 AD o imperador Constantino adota o Cristianismo como sua religião. Mesmo que sua
conversão é questionável, a partir deste ponto as perseguições acabam e o Cristianismo é beneficiado no
império romano. Até o final do século o Cristianismo é declarado religião oficial do Império Romano e isso vai
influenciar toda a igreja e também a música. Mas antes disso já havia indicadores que empurravam a igreja para
uma maior dependência dos bispos, etc., como meio de controlar as heresias, e estabelecer a autoridade na
igreja
- com a legitimação do Cristianismo como religião oficial, o culto “deixou as casas e salas de reunião singelas e
passou a realizar-se em catedrais e santuários luxuosos. Assim, cada vez mais a adoração refletia a cultura
secular” (Basden 2006, 16)
- no séc.IV temos uma menção do canto de Salmos provavelmente por um cantor, e outros de forma responsiva
com a congregação (Hustad 1991, 104)
- a espontaneidade vai se perdendo especialmente depois que acaba a perseguição e as posições dentro da igreja
começam a dar status. Tudo caminha para o profissionalismo com atividades bem específicas
- quando o Cristianismo se tornou religião oficial, o número de igrejas cresceu muito e não houve discipulado
para peneirar e instruir os “salvos”. Como resultado os trabalhos na igreja precisavam se restringir cada vez
mais ao clero já que muitos dentre a congregação eram cristãos por conveniência (Hustad 1991, 105)
- entre o ano 500 e 1500 os
clérigos viraram atores, leigos tonaram-se ouvintes e os sacerdotes realizavam a adoração por meio da
leitura das Escrituras, das orações e dos elementos da missa. A Eucaristia ganhou prioridade exclusiva,
ofuscando os demais atos de adoração recomendados na Bíblia. Em essência, “Deus havia se tornado
inalcançável; a morte de Cristo, incompreensível; e o poder do Espírito, indisponível”. Poucas
semelhanças restaram entre a adoração participativa, singela e sincera do NT e o culto formal e sem vida
da missa liderada pelo sacerdote na igreja medieval (Basden 2006, 16).
- a Ceia do Senhor (com o conceito de transubstanciação) se tornou a parte mais importante do culto e o povo
participava cada vez menos (o ritual substituiu o conteúdo). Com o tempo temos a Missa católica que envolve
partes cantadas. Normalmente a missa tem 5 partes:
1. Kyrie eleison (Senhor tem piedade de nós);
2. Gloria (canto dos anjos quando Jesus nasce – Lc 2.14);
3. Credo (credo oficial da igreja estabelecido em Nicéia [325] e completado em Constantinopla [381]);
4. Sanctus (Is 6) + Benedictus (Hosana/bendito ao que vem em nome de Jesus, cantado na entrada triunfal
de Jesus em Jerusalém);
5. Agnus Dei (eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo – Jo 1.29).
As missas são basicamente cantadas. Estas vão surgir diversos séculos mais tarde
- a partir do séc.IV a ênfase do canto congregacional recai cada vez mais sobre os coros e solistas (Hustad 1991,
109). São estabelecidas escolas para músicos. Os mosteiros criam coros de meninos para a adoração na igreja.
Como somente sacerdotes homens realizavam a adoração no AT, formaram-se coros somente de meninos. A
música instrumental era proibida. Somente no séc.XII o uso de um tipo de órgão se generalizou. No séc.XV as
igrejas tinham órgãos com diversos recursos, mas dificilmente acompanhavam o coro, já que era tudo cantado
“a capela”. Havia ocasiões onde se alternava o coro com o órgão (Hustad 1991, 109-110)
- o que iniciou de forma informal havia se tornado totalmente elaborado. A Palavra quase não tinha vez. Os
rituais falavam muito mais alto do que o conteúdo. A missa era em latim e o povo quase não entendia nada. A
participação era quase que restrita ao sacerdote (Hustad 1991, 111)
- por volta do ano de 1500 surgem os reformadores tentando reformar a adoração fundamentando-a mais
fortemente sobre a Bíblia. Lutero substitui o sacramentalismo para a adoração centrada na Palavra. Dos 7
sacramentos da igreja católica, restam apenas 2. o batismo e a ceia, ambos interpretados de acordo com a
cristologia. A pregação da palavra ocupa lugar central, enfatizando que a igreja precisa estar submissa à Palavra
(Basden 2006, 16). O altar é substituído pelo púlpito como elemento central no culto
- Lutero começa com a Missa Alemã, onde as pessoas começam a entender o que se passa na adoração (eles
entendem os textos cantados). Depois ele pega hinos folclóricos e coloca textos religiosos neles. Os corais
continuam cantando motetes, mas o povo também começa a participar cantando as suas músicas, no seu estilo e
linguagem. O coro ajudava a congregação no canto (Hustad 1991, 112-113)
- “uma das preocupações dos reformadores era viabilizar a música para a prática pública. Este seria o aspecto
referencial mais importante para o desenvolvimento da música protestante. A partir desse momento, a música
40
seria cantada e compreendida pelos cristãos” (Freddi 2002, 22). A música sacra se tornou muito elitista a
ponto de que somente falava a linguagem cultural de uma minoria e, além disso, ainda dificilmente entendiam o
texto cantado em latim
- Zwínglio foi ainda mais radical: “acreditando que, em nosso mundo pecador, nada seria capaz de transmitir a
beleza do mundo espiritual de Deus, rejeitou a música e seus instrumentos (sobretudo o órgão)”. Ele também
interpretou os elementos da ceia como simplesmente simbólicos, não sendo os meios da graça divinos (Basden
2006, 16)
- Calvino tirou o órgão e o coro das igrejas. Mais tarde viu como os luteranos cantavam nos cultos e metrificou
os salmos para serem cantados nos seus cultos sem instrumentos. Para Calvino somente as Escrituras poderiam
ser cantadas (Hustad 1991, 119)
- havia ainda os radicais anabatistas que foram ainda mais longe em sua rejeição às formas e ensinos da igreja
católica, insistindo a separação radical entre igreja e estado. Por outro lado, a igreja anglicana na Inglaterra
manteve muitos dos elementos litúrgicos da igreja católica, apesar de não mais se submeter a ela. Thomas
Cranmer compilou o “Livro de Oração Comum” que passou a ser o recurso principal da adoração na igreja
anglicana. Este livro é baseado na Bíblia e fez com que muitas pessoas se familiarizassem com os Salmos,
Evangelhos e cartas da Paulo em sua própria linguagem (Basden 2006, 17)
- nos últimos anos do séc.XVI, um grupo de ingleses se separou da igreja estatal anglicana (episcopal). Eram
puritanos muito radicais que tiraram todo e qualquer objeto e liturgia da igreja. No início somente havia espaço
para orações espontâneas e a pregação da Palavra. Mais tarde começaram a usar Salmos metrificados, mas sem
acompanhamento musical. Para eles, tudo o que era litúrgico precisava sair para que a Palavra pudesse ser
pregada livremente (Hustad 1991, 119-120)
- “embora existam algumas diferenças tanto Lutero quanto Calvino possibilitaram que a música se
desenvolvesse com características modernas, absorvendo elementos culturais da população de suas igrejas. A
adoção de melodias populares para a realização de composições musicais que aplicavam técnicas modernas deu
à música luterana e à calvinista uma integração com a música do povo e com o pensamento musical da época”
(Freddi 2002, 24)
- parece que sempre que temos um avivamento na história as pessoas compõem novas canções. Elas usam
formas um tanto seculares. Estas formas tendem a se firmar como parte integrante da música sacra depois de
alguns anos. Depois de um tempo necessita-se outra vez de um avivamento (Hustad 1991, 123)
- do lado Católico durante a Idade Média, séc.XIII, Francisco de Assis tentou reformar a igreja na Itália. A
música foi muito importante nesse processo. Ele utilizou a influência dos trovadores franceses seculares da
época (Hustad 1991, 125-126)
- esse princípio também foi usado na Reforma. Lutero usou melodias da época para colocar textos sacros e
assim dar muita força à Reforma (Hustad 1991, 126-127). Em geral, nessa época os textos das músicas não
falam de experiências pessoais com Deus, mas utilizam textos bíblicos ou afirmações que se baseiam
diretamente na Bíblia. Veja um exemplo de Lutero (HCC 406)
Castelo forte é o nosso Deus, escudo e boa espada.
Com seu poder defende os seus, a sua igreja amada.
Com força e com furor nos prova o tentador,
Com artimanhas tais e astúcias infernais que iguais não há na terra.
A nossa força nada faz, estamos nós perdidos,
Mas nosso Deus socorro traz e somos protegidos
Defende-nos Jesus, o que venceu na cruz, Senhor dos altos céus,
Que, sendo o próprio Deus, triunfa na batalha.
Se nos quisessem devorar demônios não contados
Não nos poderiam assustar, nem somos derrotados.
O grande acusador dos servos do Senhor, já condenado está
Vencido cairá por uma só palavra.
Sim, que a Palavra ficará, sabemos com certeza,
Pois ela nos ajudará com armas de defesa.
Se temos de perder família, bens poder, e, embora a vida vá
Por nós Jesus está e dar-nos-á seu reino.
41
- o que os Reformadores tentam fazer é recolocar a Palavra de Deus na adoração. A missa é substituída pelo
culto. O ritual é substituído pela participação na Palavra. Isso acontece na língua do povo (Webber 1997, 45-46)
- 150 anos depois da Reforma temos o movimento pietista. Nessa época havia a ortodoxia luterana que insistia
fortemente sobre o saber a verdade (ortodoxia correta), sem que houvesse ligação com a vida real e prática das
pessoas (ortodoxia sem ortopráxis). O importante era ter a doutrina correta – viver não era tão central. As
pessoas precisavam decorar as declarações de fé ortodoxas e isso era o suficiente. O pietismo reagiu contra essa
tendência enfatizando a experiência da pessoa com Deus. Mas eles também rejeitaram toda a música artística na
adoração. É nesse tempo que Bach entra em conflito com os pietistas. Mas os textos que ele usa, têm influência
de sua teologia (Hustad 1991, 127)
- o equivalente do movimento pietista na Inglaterra foi o movimento puritano. Os puritanos ingleses
experimentam um avivamento durante essa época (1700) e passam a combinar a adoração com a experiência
humana (verifique as rimas apesar da tradução das músicas) (HCC 127)
Ao contemplar a rude cruz em que por mim morreu Jesus,
Minha vaidade e presunção eu abandono em contrição.
Em nada quero me gloriar, salvo na cruz de dor sem par
Humilde, sacrificarei tudo que desagrada ao Rei.
De sua fronte, pés e mãos vem um amor que faz irmãos.
Unem-se nele dor e amor, a coroar o Redentor.
Se eu fosse o mundo lhe ofertar, ele o iria desprezar;
Seu grande amor vem requerer minha alma, a vida e todo o ser.
- no avivamento que aconteceu na Inglaterra e EUA no séc.XVIII, com Wesley o estilo de culto muda
significativamente. Os ingleses sedentos de espiritualidade não estão sendo nutridos pela igreja. Wesley
organiza grupos pequenos para estudar a Bíblia em comunidade, ouvir pregações dos leitos, cantar com alegria
e servir os pobres (Basden 2006, 17). Com Wesley vão aparecer os hinos de cunho mais evangelístico. Estes
hinos mostram que a pessoa precisa tomar uma decisão a favor ou contra Jesus
Vinde pecadores, para o banquete do Evangelho;
Que todas as almas sejam hóspedes de Jesus;
Nenhuma de vós precisa ser deixada para trás
Pois Deus convidou toda a humanidade.
Esta é a hora; não há mais demora!
Este é o dia aceitável do Senhor;
Vinde, já, atendendo ao Seu chamado.
E vive para Aquele que morreu por todos. (in Hustad 1991, 129)
- toda a música a ser cantada na igreja pela congregação precisava ser popular, no sentido de ser facilmente
aprendida e cantada pelo povo. O seu uso contínuo vai incluir esse novo estilo dentro do modelo de música
sacra na igreja. Como no caso de Wesley, sua ênfase doutrinária foi muito bem colocada dentro dos seus hinos
o que foi fundamental na continuidade do seu movimento (Hustad 1991, 129)
- essa linha de Wesley chega também aos EUA e continua para dentro do séc. XIX no avivamento de Finney.
No final do séc. XIX, Moody faz as suas campanhas evangelísticas e leva músicas simples sobre o amor de
Deus para as platéias. Ele é acompanhado por Ira Sankey.
Conclusão
- em muitas igrejas, a lei do mercado passou a ditar as normas. Como as pessoas estão mais abertas para a
música do que para o ensino, a igreja contextualizou e está dando às pessoas o que querem. É comum vermos
cultos onde as pessoas passam uma hora em pé cantando, e depois reclamam de 15 minutos de ensino. Em
algumas igrejas a “equipe de louvor” dita as normas do culto. São eles que determinam quantas músicas vão
cantar e assim sendo estipulam quanto tempo será a pregação da Palavra. É o líder do louvor que determina a
direção do culto e o que é dito entre as músicas, direcionando a ênfase do culto. Como os músicos normalmente
têm pouca formação teológica isso pode ser muito perigoso. Diversas vezes esses “ministros de louvor” são
muito carismáticos e com isso se tornam “animadores de auditório” contrastados com o pastor que é “muito
chato”. Isso pode transmitir a mensagem errada para as pessoas da igreja. É preciso avaliar a função da música
no culto e equilibrar a vontade das pessoas (necessidades sentidas) com a necessidade espiritual delas
(necessidade real). Precisamos fazer a ponte para a cultura, mas podemos perder a mensagem no processo. Ou
então, podemos estar tão preocupados com a mensagem que nos esquecemos de contextualizar a forma de modo
que não comunicamos nada para esta geração
- o que é necessário em todas elas é avaliar o que estamos tentando alcançar com a música no culto. Devemos
pensar em algo específico. Não adiante somente falar que queremos adorar a Deus. Devemos adorar a Deus em
tudo o que fazemos. Precisamos avaliar que resultados esperamos das pessoas de nossa igreja como resultado
do tempo que passamos cantando. Assim como na pregação da Palavra, teoricamente o pregador tem um
propósito específico com o ensino, querendo motivar as pessoas a alguma coisa mais específica, a música deve
ter o seu objetivo. Devemos avaliar periodicamente se estamos atingindo o que achamos que devemos atingir
com a música e corrigir o rumo caso não estejamos satisfeitos com os resultados
- o 1º. Congresso Batista Latino-Americano de Adoração, realizado de 15—18/03/2000, em Niterói reuniu
representantes de 18 países para discutir sobre a adoração. Esse congresso enfatizou que a grande diversidade
das formas de expressão de nossa fé não deve nos levar a comprometer a unidade de nossa fé (Justino in Basden
47
2000, 176). Aliado a isso, elaboraram a Declaração de Niterói, com alguns pontos importantes que gostaria de
mencionar:
1. Que haja por parte de nossos líderes, pastores e pessoas envolvidas no ministério da música a busca
constante da verdadeira adoração cristã;
2. Que haja o reconhecimento do culto a Deus como experiência vital de todo o povo de Deus que tem de
enfrentar o mundo e nele cumprir sua missão reconciliadora. Nenhum outro propósito deve ter o culto;
3. Que haja equilíbrio com todos os elementos constitutivos do culto cristão, conferindo à Palavra de Deus
o privilégio essencial;
4. Que o culto em nossas igrejas se realize centrado em Deus e em sua glória, não no ser humano. Temos
de buscar a excelência do culto e a integridade de nossas vidas;
5. Que se redescubram a beleza estética do culto cristão, que apele a uma consciência renovada da
presença de Deus, as implicações éticas de nossa fé a e a afirmação dos princípios espirituais que, como
batistas, temos sustentado através da história;
6. Quanto à educação teológica e ministerial quanto à adoração, que comece no seio da família, na igreja e
continue nos seminários, visando à formação e ao crescimento de uma liderança íntegra e apta a guiar o
povo de Deus;
7. Que, como homens e mulheres remidos, a prestar culto a Deus, sejamos dia a dia testemunhas do
Senhor, evitando cair no espírito consumista e comercial de nosso tempo (in Basden 2000, 177-178).
Em 09/04/2009 em São Sebastião das Águas Claras, houve uma carta do Som do Céu entitulada “a música e os
músicos na igreja”.
Nós, músicos, artistas e líderes eclesiásticos, cristãos, vindos de várias regiões brasileiras, estivemos reunidos
entre os dias 6 e 12 de abril de 2009, no Acampamento da Mocidade Para Cristo do Brasil, dias de
comemoração dos 25 anos do Som do Céu, para discutir dois temas principais: “A música e os músicos na
igreja” e “A igreja como promotora de cultura”. Agradecemos a Deus pelos dias de comunhão fraterna entre
nós e pelo privilégio de ouvi-lo entre as vozes pastorais e proféticas que ecoaram em nosso meio.
Reconhecemos que a música cristã tem ocupado um espaço significativo em nossos dias, tanto na igreja como
na sociedade em geral. No entanto, observamos que nem sempre essa participação tem sido coerente com a
Palavra de Deus -- nosso referencial maior -- nem rendido glórias ao Senhor da Igreja. Desejamos, portanto,
apresentar à Igreja brasileira a Carta do Som do Céu, sintetizada em 25 pontos, que resume nossas inquietações
e propõe ações práticas à Igreja de Cristo Jesus, neste início de século 21.
1. O artista cristão deve desenvolver o seu dom criativo e submetê-lo exclusivamente aos valores da Palavra
de Deus;
2. Cremos que a arte, na perspectiva da graça comum, é um presente dos céus a toda a humanidade e não
está restrita aos cristãos;
3. Desejamos que haja coerência entre a vida, o ministério e a profissão do artista cristão, cujo discurso
deve estar aliado à sua prática;
4. Esperamos que o artista cristão busque servir a Deus e à sociedade com excelência e integridade,
dedicando-se ao desenvolvimento dos talentos e dos dons recebidos do alto;
5. A igreja precisa estar atenta ao artista cristão como parte do rebanho de Deus e dar a ele a atenção devida,
despida de preconceitos, e oferecer-lhe pastoreio e discipulado, objetivando a sua formação espiritual e
ética;
6. Esperamos que o artista cristão esteja envolvido em uma igreja local, servindo-a e amando-a como Corpo
de Cristo. Deve ser rejeitada a tentativa de desenvolvimento de uma fé individualista e distante da
comunidade;
7. Reafirmamos que a elaboração de textos e letras deve ter embasamento nos valores da Palavra de Deus;
8. Comprometemo-nos a dedicar atenção e reflexão às canções que são introduzidas no culto de adoração e
nas demais atividades da igreja, buscando um repertório equilibrado e consciente e evitando, de todas as
formas, que heresias e desvios teológicos adentrem sutilmente em nossas comunidades;
9. As igrejas, as instituições de ensino teológico e os artistas cristãos devem combater o ensinamento
equivocado e amplamente difundido de que louvor e adoração restringem-se à música, ensinando, por
demonstração e exemplo, que se trata de um estilo de vida que envolve todas as áreas da nossa existência
e que a música, assim como outras formas de arte, é expressão legítima de louvor e adoração;
10. A igreja deve agir como facilitadora na adoração e abrir espaço para que todos expressem seu louvor a
48
Deus;
11. Esperamos que o músico cristão busque e desenvolva a santidade, vivendo uma vida piedosa, tanto no
serviço prestado a Deus na igreja, quanto fora dela, em sua atividade profissional;
12. Rejeitamos a dicotomia que faz separação entre o sagrado e o secular e cria espaços estanques na vida do
cristão. O Senhor Jesus é soberano e governa todas as instâncias da vida, e, por isso, devemos somente a
ele a nossa fidelidade, agradando-o em tudo e rejeitando tão-somente o que ofende a sua glória;
13. A Igreja não se pode esquivar de sua responsabilidade diante da cultura na qual está inserida; deve
mentorear a reflexão e a prática de uma teologia de arte e cultura;
14. Incentivamos as igrejas a abrir suas dependências para a realização de eventos culturais, como
exposições, mostras, cursos, saraus e outras atividades visando à educação, à divulgação e à aproximação
da sociedade;
15. Mesmo entendendo que todo trabalho na igreja é voluntário, podemos honrar com sustento ou
remuneração aqueles que se dedicam ao ministério musical, se a comunidade disponibiliza de recursos
para tal;
16. Entendemos que nossa arte deve encarnar uma voz profética e manifestar em seu conteúdo os valores do
reino;
17. Recomendamos que as igrejas promovam encontros de reflexão sobre a utilização das artes no reino de
Deus, capacitando os artistas para a realização de seu trabalho;
18. Incentivamos os músicos a expressar em sua arte a beleza de Deus por meio de uma contextualização e
diversidade musical;
19. Reconhecemos o caráter essencialmente transformador e questionador da nossa arte e não cremos que ela
deva estar a serviço do mercado;
20. Embora os artistas cristãos não se devam render aos senhores da mídia, tornando-se reféns desta, podem
utilizar de maneira ética os meios de comunicação como canal para a divulgação de sua arte,
proclamando, assim, o reino de Deus;
21. No que se refere ao relacionamento entre os músicos e a liderança eclesiástica, encorajamos o diálogo, o
respeito e o reconhecimento mútuo de seus ministérios como algo dado por Deus;
22. Incentivamos que os artistas cristãos busquem perante o Estado e a iniciativa privada recursos para a
promoção de sua arte por meio de leis de incentivo à cultura, editais para financiamento de projetos
culturais etc.
23. Encorajamos as igrejas a investir na educação e na formação de artistas;
24. Propomos que as igrejas e as instituições de ensino teológico incentivem as diversas manifestações
artísticas e não somente a área musical;
25. Compreendemos que o ofício de artista é legítimo como tantos outros, podendo ser exercido pelo artista
cristão no mercado de trabalho e devendo ser apoiado e incentivado pelas comunidades cristãs.
O documento foi assinado por Aristeu Pires, Carlinhos Veiga, Denise Bahiense, Erlon Lemos, Gladir
Cabral, João Alexandre, Jorge Camargo, Jorge Redher, Marcos André, Marlene Vasques, Nelson
Bomilcar, Paulo César, Romero Fonseca, Rubão, Sérgio Pereira e Wesley Vasques.20
Reflexão
1. O que mais chamou a sua atenção no desenvolvimento da música na igreja através da história? Comente.
2. No decorrer da história sempre se emprestou elementos da música secular para a música na igreja. Isso é
aconselhável? Deveria ser continuado? Com que critérios?
3. O que distingue a música do mundo da música “divina”? Há como santificar os modelos usados no mundo
(ex. rock evangélico)?
4. Assimilamos formas do mundo. Freqüentemente também assimilamos o conteúdo da cultura do mundo ao
nosso redor. Isso é aconselhável? Como evitar/incentivar que isso aconteça?
5. A igreja tende a assimilar e promover os valores da cultura do mundo. Que valores a música está passando
para a igreja? Que valores deveria promover? Como colocar isso em prática?
6. Se não falamos a linguagem do povo, não comunicamos. Se contextualizarmos, corremos o risco de perder
os padrões, caminhando para o sincretismo. Que alternativa temos?
20
http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=2394&secMestre=2411&sec=2443&num_edicao=318#. Acesso
17/08/2009.
49
7. Que estilos de música são adequados para o evangelismo? Comente.
8. Como evitar que a música se torne um fim em si mesma?
9. Deveríamos ter critérios que definissem que músicas novas ensinamos na igreja? Quem definiria esses
critérios e quais seriam?
10. Para que você usaria o louvorzão em sua igreja? Para que você não o usaria? Comente.
11. Comente o que achou mais importante sobre a declaração de Niterói. Onde acertou e o que faltou?
12. Em que sentido essa volta para a liturgia poderia ter conseqüências positivas para a igreja brasileira?
Haveria também pontos perigosos nisso?
13. Que função a música desempenha no culto de sua igreja? Qual deveria ser? Como poderia ajudar a sua
igreja a utilizar a música de maneira intencional visando atingir certos objetivos?
Veja agora as músicas abaixo. Elas foram escolhidas aleatoriamente e compare as diferenças entre elas. É
evidente que estamos generalizando e com isso cometemos muitos erros. Analise para ver se a descrição feita
acima faz jus ao que temos abaixo. Temos alguns corinhos e hinos mais tradicionais.
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Jesus Cristo mudou meu viver, Jesus Cristo mudou meu viver.
É a luz que ilumina meu ser. Sim, Jesus Cristo mudou meu viver,
Diferente hoje é meu coração, diferente hoje é meu coração.
Cristo deu-me paz e perdão. Sim, diferente hoje é meu coração.
O amor só conhecia em canções que falavam de ilusões.
Tudo agora é diferente, isto falo a toda gente pois Cristo me deu seu amor.
A alegria está no coração de quem já conhece a Jesus. A verdadeira paz só tem aquele que já conhece a Jesus.
O sentimento mais precioso que vem do nosso Senhor, é o amor que só tem quem já conhece a Jesus.
Aleluia, aleluia, aleluia, aleluia.
Posso pisar uma tropa e saltar as muralhas, aleluia, aleluia (2x)
Aleluia, aleluia, aleluia, aleluia.
1 – Vejo a luz do Senhor que brilha, bem no meio das trevas bilha. Jesus Cristo é a luz deste mundo, nos acorda
do sono profundo, brilha em mim, brilha em mim.
Brilha Jesus, mostra ao mundo a luz de Deus Pai, Espírito de Deus, vem refulge em nós. Faz transbordar sobre
os povos tua graça e perdão. Vem ordenar que haja luz, ó Senhor.
2 – Eis me achego ao teu trono incrível, o mais finito ao intangível. Por teu sangue precioso eu ouso entrar,
minhas sombras da alma vem dissipar. Brilha em mim, brilha em mim.
3 – Contemplando tua majestade, teu reflexo em nossas faces. Cada dia, de glória em glória mostrem sempre a
tua história. Brilha em mim, brilha em mim.
1. Essas vestes alvas que Jesus vai dar, essas belas palmas, quem irá ganhar?
Os fiéis, remidos a quem tanto amou, pobres pecadores que ele resgatou.
2. Os que despertarem ao chamar de Deus, renunciando todos os cuidados seus.
Os que sempre seguem o seu Salvador e por seu tesouro buscam seu amor.
3. Os que decididos ao Senhor Jesus, não retrocedendo, tomam sua cruz.
Sim quem tudo perde, tudo ganhará; quem com Cristo sofre, galardão terá.
4. Na renhida luta vem valer, Senhor. Ao que em ti confia forte Salvador.
Firme e corajoso sempre então serei. Pela tua graça tudo vencerei. (Salmos e Hinos 473)
Reflexão:
1. Você acha que o lavrador teve uma boa descrição do que vem a ser um corinho ou música cristã
contemporânea? Existem exageros?
2. Você acha que a descrição dos hinos feita acima descreve bem as suas características? Onde há exageros?
3. Em que sentido os problemas com o texto de alguns hinos está ligado com a forma (rima, etc.) dos textos
que precisam ser traduzidos? Existe também um evangeliquês que era moda no passado que nos incomoda
hoje?
4. Existe como diferenciar claramente entre hinos e corinhos? Comente.
5. Você acha que os hinos tradicionais estão ultrapassados? Com o que a geração mais jovem tem problemas
com relação aos hinos: com o texto antiquado, com a melodia, com a teologia, com o ritmo, com o texto
mais “carregado” versus uma idéia mais central, com a falta de repetições, com a maneira de comunicar, é
simplesmente costume, etc.? Comente.
6. Que vantagens os hinos tradicionais poderiam ter sobre os corinhos mais modernos?
7. Que faixas etárias preferem os corinhos? Por que você acha que isso acontece?
8. Que faixas etárias preferem os hinos tradicionais? Isso é somente questão de costume?
9. Liste 5-7 das músicas mais cantadas em sua igreja. Qual é a mensagem principal delas?
10. Quais as virtudes e os pontos fracos dos corinhos?
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A música influenciada pela cultura popular
Não há dúvida que a igreja reflete a cultura de um povo. As mudanças culturais do mundo chegam à igreja com
um pouco de atraso, mas invariavelmente estão lá. Devemos lembrar que a cultura secular normalmente anda
segundo o príncipe das trevas. E a igreja que não fica atenta acaba sendo levada por essa cultura. Vamos ver
alguns traços de nossa cultura que influenciam a vida da igreja no nosso tempo. De acordo com David Wells
temos alguns pontos importantes onde a cultura secular tem influência poderosa sobre a vida na igreja (in Frame
1997, 46-49)
1. Subjetivismo – a vida das pessoas se baseia muito mais em experiências particulares do que na Palavra de
Deus que é verdade objetiva. A crítica é que a música contemporânea está mais focalizada no adorador
(sentimentos) que no alvo de nossa adoração (Deus);
2. Humanismo – vida centrada no homem. Deus faz pouca diferença na vida das pessoas. Deus se tornou um
ser humano e a sua soberania foi deixada de lado. Deus existe para os seres humanos. Deus é o vovozinho
legal que faz tudo pelos seus netos e fecha os olhos quando não gosta de algo. Ao invés de a música
focalizar no Deus transcendente, ela indica que podemos manipular a Deus e usá-lo para os nossos
propósitos. Logo arrependimento e pecado, perdão, e julgamento não aparecem;
3. Anti-intelectualismo – é mais importante sentir do que entender intelectualmente. Isso acaba afetando
fortemente a ênfase em doutrina. Não sabemos mais o que cremos. Corremos atrás daquilo que traz mais
emoção, ou seguimos a onda do momento. Logo a música é muito superficial. Trata-se de leitinho e não de
comida mais substancial. A letra dos corinhos normalmente é mais simples do que nos hinos tradicionais;
4. Psicologismo – a terapia psicológica é a maneira de se lidar com os problemas mais urgentes do ser
humano. A música trata mais das necessidades imediatas das pessoas do que com o pecado, confissão e
perdão. Existe muita emoção nessa música, que se apresenta como terapia. Gondim chama isso de lair-
ribeirização da fé;
5. Profissionalismo – estamos na era onde técnicas de marketing e modelos de liderança são centrais para que
a igreja possa concorrer no mercado de hoje. A música coloca Jesus como um produto que pode ser
comprado como qualquer outro. Para fazer a igreja crescer precisa vender o evangelho através da música.
Pessoas são atraídas pela música e as igrejas crescem;
6. Consumismo – em todas as áreas precisamos dar às pessoas o que elas querem ou que podemos induzir as
pessoas a comprar. Você tenta dar às pessoas o que elas querem e pensam que precisam ao invés de
confrontá-las com a Palavra. A música se torna entretenimento e comandada pelo consumidor;
7. Pragmatismo – o único referencial que existe são os resultados. Se funciona, está certo. A música que
funciona é a certa. Quando as pessoas gostam, é porque Deus está abençoando;
8. Chauvinismo temporal – o presente é sempre melhor que o passado, e o futuro será ainda melhor. O hoje é
o que importa. Existe uma tendência anti-tradicional. A palavra tradição é sinônimo de “coisa do capeta”.
Tudo o que é do passado é brega
Reflexão
1. Você concorda que essas características estão fortemente presentes na cultura em geral e conseqüentemente,
em nossas igrejas, e tendem a aumentar ainda mais a sua influência?
2. Em que áreas da igreja vemos essas influências?
3. Até que ponto essas características apresentadas podem ser generalizadas para a música que cantamos em
nossos cultos? Ou poderia ser a opinião de pessoas de mais idade que não se adaptam com a cultura
moderna? Será que deveriam se adaptar?
4. É possível fazer alguma coisa para evitar que cheguemos a esse estágio, ou eventualmente para sair dele se
já estamos dentro?
5. As pessoas na sua igreja que estão envolvidas com a música param para pensar no rumo que a música está
tomando? Como poderiam fazê-lo?
6. O que há de positivo nesse novo movimento de música nas igrejas?
7. O que realmente é o mais importante nos cânticos em sua igreja?
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Algumas diferenças entre hinos e cânticos de louvor de acordo com Liesch 1996, 30.
1. Teocêntrica
- a música como um todo se mostra muito centrada em Deus
- o assunto preferido se refere à adoração e louvor. Parece que a proporção de corinhos direcionados para esse
tema parece ser maior que dos hinos tradicionais (Frame 1997, 32). Isso não significa que estamos criticando os
hinos tradicionais, pois existem muito outros temas dentro deles
- o interessante disso é que a geração mais jovem é muitas vezes criticada por ser justamente superficial,
somente interessada consigo mesmo e no ôba-ôba. Aqui vemos que essa música busca se centrar em Deus
(Frame 1997, 32), o que é altamente positivo.
- por outro lado temos uma série de músicas que enfatizam o lado mais mágico da fé, a gratificação imediata, a
auto-aceitação, etc. Focalizam muito que o ser humano é tão importante para Deus. Falam muito em Deus, mas
o centro pode bem ser o ser humano e suas necessidades. Deus existe em função do ser humano. Deus precisa
suprir as necessidades do ser humano
- as músicas falam muito em quem Deus é, porque deve ser adorado (o que é entendido basicamente como
cantar naquele momento de culto), mas deixam as pessoas um tanto passivas. Normalmente os textos não vão
muito além de que devemos contemplar, adorar e louvar e só. A tendência é que o culto seja o êxtase e depois a
vida continua independente do que aconteceu nesse período.
- mas não podemos negar que as músicas falam muito sobre Deus e têm ênfase muito maior em textos bíblicos e
na pessoa de Deus que em épocas passadas. Se sabemos o significado do que estamos cantando, isso já é outra
55
história. Usamos textos sem saber dos contextos o que deixa muita coisa confusa e parece que nem nos
apercebemos disso.
3. Novidade e comunicação
- os corinhos nos ajudam a comunicar a Palavra de Deus de uma forma nova, palavras novas, mais acessíveis à
cultura dos nossos dias (Frame 1997, 40)
- o vocabulário muda muito rapidamente em nossos dias. Somos influenciados demais pelos meios de
comunicação. Podemos até usar as mesmas palavras que usávamos há anos atrás, mas elas não soam bem aos
ouvidos mais jovens. Nesse sentido, ter algo novo e mais adaptado à cultura é muito útil
- quando repetimos demais as coisas, tendemos a não mais pensar no que fazemos. Alguns hinos já foram
cantados tantas vezes, que nem prestamos mais atenção no seu conteúdo (em compensação alguns dos hinos
tradicionais têm tanto texto que não conseguimos assimilar nem a metade naquela única vez que cantamos as
estrofes)
- por outro lado muitas das músicas compostas são muito parecidas tanto de texto, melodia e harmonia. Isso
acaba cansando. Alguns cantores evangélicos se assemelham a Roberto Carlos que lança um disco novo todos
os anos, com as mesmas músicas
- a forma musical é aquela que a nova geração gosta e acaba se envolvendo
- a mensagem da Palavra pode ser deturpada quando usamos linguagem muito arcaica para transmiti-la. As
pessoas podem ter a impressão de que o evangelho somente serve para as pessoas que estavam acostumadas
com um modelo antigo de música
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4. Adaptada à cultura de nossos dias
- não creio que existe uma forma de música que seja divina. Dentro da história da igreja não temos uma forma
que se sobressai e que seja considerada a forma espiritual que perdure durante muito tempo.
- a música erudita (clássica) tem se mostrado forte na cultura como um todo durante muitos séculos, mas
seguramente não é a forma preferida por todos os povos da terra (ela atinge somente um segmento pequeno da
população). Ela é um bocado elitista, apesar de que já se tornou imortal. A beleza da obra musical em si passa a
ser mais importante do que o conteúdo da mesma. Cristãos e não-cristãos a apreciam da mesma forma. Por
outro lado, cada cultura tem suas formas de expressão mais populares e outras mais eruditas
- na questão de adaptação ao mundo, Paulo mesmo fala que ele se tornava tudo para ganhar alguns para Cristo.
Ao mesmo tempo Paulo criticava fortemente as pessoas por sua adaptação ao mundo. Os Coríntios buscavam a
sabedoria deste mundo (1Co 1.20); eles queriam ser sábios pelos padrões deste mundo (3.18). Eles buscavam
riquezas e status e desprezavam a Paulo que aceitava o sofrimento pela causa de Cristo (1Co 4). Eles toleravam
a imoralidade sexual, de um modo que nem acontecia entre os pagãos (1Co 5.1). A questão não era o quanto
eles se adaptavam ao mundo, mas em que aspectos se adaptavam. Nesse sentido a crítica de que a música cristã
de nossos dias simplesmente imita a música pop, não diz muita coisa (Frame 1997, 56)
- uma questão complicada é decidir que formas culturais a música pode tomar e continuar a ser usada para o
Reino de Deus. Será que formas como o heavy metal, tem algo satânico dentro deles? Ou a música
erudita/clássica? O sertanejo? Ou são simplesmente formas neutras sobre o qual o conteúdo do evangelho pode
ser colocado? Essa questão também foi e continua fortemente discutida com relação aos meios de comunicação.
Podemos colocar programas evangélicos na TV, ou esse meio irá deformar a mensagem? Ele chega a transmitir
uma idéia de Cristianismo passivo, que se assemelha a um show/espetáculo, ou então é útil para levar a
mensagem adiante para as outras pessoas e edificar a fé delas?
a. Entretenimento
- temos hoje uma cultura que valoriza sobremodo o entretenimento. Segundo Ruis, somos impactados por uma
cultura global do consumismo, de uma tecnologia que muda continuamente e o pós-modernismo, pode ser
tornar difícil participar de qualquer coisa que não exista para nosso próprio beneficio (Ruis 2005, 13)
- estamos acostumados a sentar na frente da TV e ver passivamente o programa. Se o programa não me agrada
tenho o controle remoto na mão e imediatamente mudo de canal para ver se outro programa me agrada mais.
Com a TV a cabo temos dezenas de canais à nossa disposição simplesmente para nos entreter. Além disso
temos, videocassetes, CDs, DVDs, jogos eletrônicos e a coisa não pára por aí. Além disso, temos concertos e
apresentações onde simplesmente sentamos e nos deliciamos. Isso não está errado em si mesmo, mas onde está
o limite, o equilíbrio? Até onde aceitamos o pacote todo o que envolve passividade e decisão entre o que
queremos assistir sem ligar para aquilo que é proveitoso para nós?
- levamos essa mentalidade para dentro da igreja. Temos a tendência de ver se as pessoas comunicam bem a
mensagem, se têm talento, se apresentam boas ilustrações, etc., tudo menos a presença do Senhor em nossas
reuniões (Frame 1997, 59)
- de uma forma geral, adoração tem a ver com Deus e entretenimento com o EU. Se o entretenimento nos levar
ao envolvimento, a dinâmica do culto melhora. Se, no entanto, o entretenimento significa distração ou
simplesmente “curtir”, o foco da adoração está em jogo. À medida que a adoração caminha para o
entretenimento, os líderes acabam se aperfeiçoando na mesma arte. A tendência dos títulos cada vez mais
ligados ao status para aqueles que lideram a música na igreja indica que talento, culto à personalidade,
tecnologia, etc., nos leva a competir com o entretenimento dos meios de comunicação (York 2003, 44)
- se adoração tem a ver com um diálogo, onde Deus toma a iniciativa e as pessoas respondem, isso implica em
participação da congregação, onde o líder facilita esta resposta da congregação (York 2003, 44). Mas fica
estranho quando o líder começa a pensar que ele é o primeiro a entrar no santo dos santos, etc., porque isto o
coloca numa posição especial, além do que esta teologia do AT foi suplantada pela vinda de Jesus. Adoração
está ligada com reconhecer a soberania de Deus da qual nos aproximamos com humildade. Neste contexto não
somos chamados a gostar da música (= entretenimento), mas lembrar que a música deve ajudar a nos
transformar naquilo que Deus quer que sejamos
- muitos hoje reconhecem que a música popular cristã é uma forma alternativa de entretenimento. Seria melhor
este entretenimento ao entretenimento secular porque os textos seriam mais adequados ao invés de textos de
rebelião, etc. Mas neste caso, se a função se tornou entretenimento e não espiritual, ainda deveríamos manter os
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textos sagrados neles? Isso não transmite um conceito errado que vai matar a música da igreja, já que vão
confundir com entretenimento quando deve transformar a vida das pessoas?
- a igreja deve zelar para que a música sirva a dimensão vertical (relacionamento com Deus) e a dimensão
horizontal (relacionamento com os irmãos) (Ef 5.19). Para isso a ênfase precisa ser tirada de quem lidera a
música e dos instrumentos. O líder deve ajudar as pessoas a se concentrarem na edificação mútua e na adoração
coletiva. Os instrumentos devem servir de apoio e não tomarem o lugar e atenção da congregação.
- na busca por não fazer do culto um entretenimento, não devemos tirar do culto tudo o que é gostoso e
agradável aos ouvintes. Tendemos a ir para o outro extremo e dizer que tudo o que gostamos o Senhor detesta.
Precisamos de análise constante para ver se estamos de acordo com padrões e princípios que temos nas
Escrituras e se as nossas atividades estão nos ajudando a atingir o propósito que Deus estabeleceu para todas as
atividades realizadas dentro da igreja
b. Negócio
- junto com a ênfase no entretenimento, a música cristã contemporânea se tornou um negócio muito rentável.
Não é de admirar que temos um Grammy Gospel nos EUA onde competem pessoas de todas as origens
simplesmente pelo valor da música, independente se ela é um meio para o fim, ou um fim em si mesma
- no Brasil, produtoras seculares que nada têm de cristão estão se lançando nesse mercado porque reconhecem
que esse é um mercado em expansão e que seguramente dará lucro
- cantores fazem suas carreiras totalmente independentes de qualquer compromisso com uma igreja local. Eles
acabam se medindo pelos padrões que o mundo adota. Cobram cachês como os músicos do mundo, dependendo
do nível de mercado que já alcançaram
- nesse sentido vemos pouca comunhão na área da música, mas grande competição, comércio e individualismo
(Frame 1997, 64). Mas não podemos generalizar e dizer que isso acontece em todos os casos. Existem pessoas
muito sérias que fazem música como dom dado por Deus para construir o seu Reino
- dentro desse mercado as igrejas precisam decidir o que vão cantar em suas igrejas. Freqüentemente somente
cantamos aquilo que mexe com o povo. Precisamos selecionar o que vamos cantar. Já que os artistas compõem
músicas como eles querem, como consumidores precisamos forçá-los a compor músicas de qualidade. Se
deixamos de comprar o que é lixo, iremos forçá-los a compor o que achamos que a Bíblia nos ensina. Isso
parece um tanto idealista já que poucas pessoas estão analisando o que cantam. Mas um pingo faz diferença no
oceano. Um balde faz mais diferença e assim por diante. Como normalmente são os músicos que escolhem o
que a congregação vai cantar precisamos incentivá-los a se envolverem no seminário para que possam ter uma
base teológica melhor para fazer a escolha
c. Pragmatismo
- o pragmatismo diz que tudo o que funciona, está certo. Essa característica está muito forte em nossos dias
como um produto de nossa cultura. Desapareceu a verdade absoluta. Quando tudo é relativo, acabamos medindo
o que temos com base naquilo que funciona. Os EUA são mestres nessa arte. E nós copiamos muito bem essa
parte, já que somos a filial. Como brasileiros temos uma crise de identidade muito forte e logo pegamos o que
mais promete (veja que os políticos que mais prometem são eleitos).
- dentro dessa perspectiva não questionamos mais se algo é bíblico, mas se produz resultados. Espiritualizamos
um pouco esses resultados e temos a bênção de Deus sendo mostrada de maneira inconfundível. Se a igreja está
cheia, Deus está abençoando. Se o bar está cheio, é porque tem droga rolando no pedaço. Que diferença existe
entre ambas?
- por outro lado, podemos e devemos usar a nossa criatividade para trabalhar de maneira mais efetiva no Reino
de Deus. Isso não quer dizer que precisamos deixar técnicas modernas de lado, mas estar constantemente
avaliando para ver se estamos comprometendo o evangelho com essas técnicas.
- os críticos da música contemporânea avaliam negativamente essa música porque ela é o meio usado para
encher as igrejas. Precisamos nos perguntar se o oposto seria mais bíblico. Deveríamos usar aquilo que esvazia
as igrejas? Creio que existem alguns parâmetros que não são tão claros, mas dentro desses podemos usar a
nossa criatividade para fazer a música a mais efetiva possível (Frame 1997, 73). O outro lado da moeda é que
geralmente onde o povo em massa está, ali as pessoas estão recebendo o que querem e não necessariamente o
que precisam. Existem poucos movimentos de massa onde a seriedade do evangelho é mantida por um bom
tempo. Pode até começar bem, mas os outros interesses tendem a dominar e logo estamos bem longe daquilo
que era o nosso interesse inicial. A história da igreja está cheia de exemplos disso
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d. Superficial
- mesmo com a ênfase nos textos bíblicos a tendência da música é para ser mais superficial
- repetimos temas muitas vezes sem tocar em verdades mais profundas da fé cristã. Falamos em como é bom
louvar e adorar sem saber bem o que isso significa
- a cultura de nossos dias não estimula as pessoas a refletirem e a pensarem. A TV acaba pensando pelas
pessoas. Parece que toda a parafernália dos instrumentos utilizados também acaba incentivando as pessoas a
participar sem envolver muito a mente sobre o conteúdo do que cantamos. Creio que existe espaço para a
alegria e celebração no culto e que não precisamos ser tão radicais e fazer com que o povo reflita sobre cada
vírgula que é colocada (isso seria muito ritualístico para o meu gosto). Mas precisamos achar o equilíbrio para
que tudo seja feito com decência e ordem e estimule as pessoas a amarem a Deus de forma mais profunda
- temas que envolvem compromisso pessoal de mudança como arrependimento, confissão, obra social,
honestidade, etc., aparecem pouco. Será que isso seria um sinal de que o nosso evangelho não acha mais espaço
para estas verdades?
- somos estimulados a participar sem muito estímulo para uma vida cristã ativa
e. Emocional
- a repetição das músicas favorece mais a emoção do que a razão
- estamos mais interessados em sentir a presença de Deus do que em obedecê-lo
- não podemos esquecer que sem emoção não há ação. Por outro lado, dentro da cultura de nossos dias, estamos
acostumados a uma vida onde o real e o imaginário é confundido. Assistimos a cenas incríveis nos filmes e
aquilo aluga a nossa mente e nossas emoções. Quando acaba o filme voltamos ao normal. Aquilo foi
simplesmente uma mentira para nos entreter por algum tempo para desligarmos da vida cotidiana. Daqui a
pouco a vida continua. Aquilo foi um momento bom que não tem ligação nenhuma com a nossa vida.
- os relacionamentos que existem são para um prazer momentâneo sem compromisso. O famoso “ficar” mostra
que a emoção de uma experiência é o suficiente para mim. Não quero nem saber o nome da pessoa envolvida e
nem me comprometer com meus atos. Simplesmente busco uma experiência emocional, um êxtase
- será que essa mentalidade está presente na música na igreja. Participamos e sentimos, mas quando acabou, a
vida continua. Os nossos cultos estão montados sobre esse pressuposto?
- precisamos achar um equilíbrio saudável entre emoção e razão principalmente porque estamos lidando com
uma cultura latina que está muito mais propensa para a emoção do que para a razão. Precisamos fazer a ponte
com o povo, começando com o que eles gostam e depois ajudá-los a encontrar o equilíbrio para que a vida cristã
seja mais holística, que não exclui o trabalho do Espírito Santo em nós, mas também lembra que a decisão para
obedecer ao Espírito precisa vir de nós. Precisamos decidir se queremos pagar o preço por esta mudança em
nossas vidas
f. Um fim em si mesma
- quando a música começa a ganhar adeptos e suplantar o próprio propósito dela dentro do contexto da igreja,
facilmente ela se torna um fim e si mesma. Os músicos definem o que cantam, como cantam, etc. Se a sua
música não encaixa na igreja, formam uma banda que toca fora da igreja, luta para conseguir ou para manter um
fã clube, etc.
- assim a música acaba servindo aos próprios interesses e talvez muito pouco interesse no reino de Deus.
Certamente há grupos que se formam para atingir as pessoas sem igreja, e esta abordagem talvez tenha que ser
mais específica, mas muitas vezes se torna um pretexto para egos exaltados e este propósito logo se perde
- dentro dessa perspectiva, pode chegar ao ponto de que nem a opinião da congregação/platéia interesse mais.
Ou seja, eles fazem sua música porque estão convictos dela, porque gostam dela, independente do resultado que
produz. Esta posição é muito perigosa e traz resultados desastrosos para a vida da igreja
Reflexão
1. A música de hoje difere essencialmente da música na igreja durante toda a história da igreja? Em que
sentido?
2. Como um todo a música sempre acompanhou a cultura dos seus dias. Em alguns sentidos, nos parece que a
cultura se tornou mais pagã? Que tipo de música deveríamos usar na igreja nos dias atuais?
3. Como podemos avaliar se a música está escapando dos padrões bíblicos se fazemos parte da cultura de
nossos dias e estamos bastante inseridos nela? Que parâmetros você pensaria em usar em sua análise?
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4. Em que áreas podemos copiar as coisas do mundo e onde ter muito cuidado com relação à música na
igreja?
5. Em que sentido a música na igreja poderia ser um elemento de contra-cultura cristã (sal e luz para esse
mundo)?
Resumindo
- quando tentamos analisar a música contemporânea como um todo, sempre vamos fazer generalizações que não
condizem com toda a realidade. No entanto, essas generalizações nos ajudam a estabelecer uma direção na qual
a música caminha. Com base nessa direção podemos ver os pontos positivos e negativos e eventualmente
ajustar o caminho que tomamos dentro da música que é cantada em nossas igrejas
1. Emocional X Racional
- a cultura como um todo hoje caminha para o lado da emoção. Em parte isso ocorre porque o Iluminismo, que
prometia resolver todos os problemas da vida ficou desacreditado, em especial depois das 2 Grandes Guerras. A
tecnologia que deveria ser usada para o bem foi usada para destruição em massa e isso causou uma ruptura
muito forte na maneira de pensar das pessoas
- como resultado houve o movimento da “morte de Deus” na teologia, na filosofia Sartre diz que a vida é uma
náusea, e nos EUA temos o movimento hippie que fala em paz e amor (paz contrariando a guerra do Vietnã e
amor = sexo livre de preconceitos). A esse movimento juntou-se a utilização das drogas e estávamos em uma
nova época da história mundial. Além desses fatores temos muitos outros
- Anthony Giddens compara a vida que temos hoje com estar sobre uma “jamanta instável... muito mais do que
estar num bem controlado e bem dirigido automóvel”. O passeio é muito interessante e recompensador. É um
veículo de muita potência que traz muita emoção, mas às vezes perde a direção de forma imprevisível e
incontrolável. Ela acaba esmagando os tripulantes e os que estiverem no caminho (Ramachandra 2000, 11)
- praticamente tudo na propaganda apela para os nossos sentimentos. Não encontramos uma faculdade
anunciando os seus cursos para alguém que queira fazer um bem para a humanidade. Garanta o seu futuro,
ingresse no mercado de trabalho onde existem grandes possibilidades, realize-se, etc. Por trás de tudo isso está o
dinheiro, a realização, a segurança, etc., tudo voltado para os fatores que fazem você se sentir bem – afinal você
tem o direito de ser feliz. Os produtos anunciados andam na mesma direção. Não se apela para a razão das
pessoas, mas para a emoção que acompanha que possui certo produto
- os relacionamentos que existem são para um prazer momentâneo sem compromisso. O famoso “ficar” mostra
que a emoção de uma experiência é o suficiente para mim. Não quero nem saber o nome da pessoa envolvida e
nem me comprometer com meus atos. Simplesmente busco uma experiência emocional, um êxtase
- dentro da igreja de um modo geral caminhamos para um anti-intelectualismo – é mais importante sentir do que
entender intelectualmente. Aceitar a Jesus é traduzido como ter um sentimento da presença de Deus ao invés de
uma decisão baseada em fatos. O ensino na igreja é mais um recarregar das baterias emocionais para suportar
mais uma semana do que conhecer a Deus e formar valores em nossa vida para viver como embaixador do Rei
no mundo. A igreja corre atrás dos modismos sem saber para qual direção caminha. Estamos mais interessados
em sentir a presença de Deus do que em obedecê-lo
- aqui temos o grande problema que de uma forma geral adotamos o modelo do 8/80, ou tudo ou nada, ou razão
ou emoção. Esse pensamento não nos ajuda, pois vamos achar textos bíblicos que apontam para a razão e outros
para a emoção. O nosso culto a Deus precisa ter os 2 elementos. Em nossa conversão precisamos sentir tristeza
pela pecado, mas também uma determinação de viver uma nova vida, etc.
- não podemos esquecer que sem emoção não há ação. Sem que eu esteja motivado inclusive nos meus
sentimentos por algo é muito difícil tomar qualquer decisão a respeito. Não conheço pessoas que casem
baseados na razão. Quando vejo pessoa tal, meu coração vai a 180 batidas por minuto, minhas mãos começam a
transpirar, meus olhos adquirem outro brilho – essa é a vontade de Deus para mim.
- por outro lado, dentro da cultura de nossos dias, estamos acostumados a uma vida onde o real e o imaginário é
confundido. Assistimos a cenas incríveis nos filmes e aquilo aluga principalmente as nossas emoções. Quando o
filme acaba voltamos ao normal. Aquilo foi simplesmente uma mentira para nos entreter por algum tempo para
desligarmos da vida cotidiana. Daqui a pouco a vida continua. Aquilo foi um momento bom que não tem
ligação nenhuma com a nossa vida. Essa emoção não vai nos ajudar em nossa caminhada com Deus. Se
cantamos e nos sentimos bem, mas quando o louvor acabou, a vida continua sem qualquer ligação, temos um
problema muito sério, pois acabamos enfatizando dentro de nossos cultos que o período de louvor nada mais é
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do que um tempo para desligar da vida lá fora – uma anestesia momentânea – que não é real e nem muda as
nossas vidas
- o canto deve ser tanto emocional como racional (1Co 14.15) – “Cantarei com o E/espírito, mas cantarei com a
mente”. Aqui parece que temos a indicação de que havia cânticos que eram conhecidos de antemão e outros que
eram mais espontâneos. A música por si só já toca muito os nossos sentimentos (e isso é bom), mas não
podemos esquecer que deve também tocar o racional. Não significa que todas as músicas que cantamos devem
atingir todos os objetivos, mas que devemos procurar um equilíbrio entre as partes, já que devem servir também
para edificar a igreja (os irmãos)
- precisamos achar um equilíbrio saudável entre emoção e razão principalmente porque estamos lidando com
uma cultura latina que está muito mais propensa para a emoção do que para a razão. Precisamos fazer a ponte
com o povo, começando com o que eles gostam e depois ajudá-los a encontrar o equilíbrio para que a vida cristã
seja mais holística, que não exclui o trabalho do Espírito Santo em nós, mas também lembra que a decisão para
obedecer ao Espírito precisa vir de nós. Precisamos decidir se queremos pagar o preço por esta mudança em
nossas vidas
3. Teocentrismo X egocentrismo
- a teologia e conseqüentemente a música cristã contemporânea luta entre esses 2 pólos. Mas isso não é tão novo
assim. Isso já começou no Éden, onde os seres humanos precisam optar entre obedecer ao que Deus disse e ter
uma emoção um pouco mais profunda e buscar o seu próprio caminho de ser igual a Deus
- isso se acentua um pouco mais e nossa época por causa da influência da cultura sobre a emoção que eu sinto, o
que eu gosto, e como eu posso ser feliz
- o assunto preferido se refere à adoração e louvor. Parece que a proporção de corinhos direcionados para esse
tema parece ser maior que dos hinos tradicionais (Frame 1997, 32). O que temos na música contemporânea é
uma grande ênfase sobre quem Deus é e o que ele faz por mim.
- o interessante disso é que a geração mais jovem é muitas vezes criticada por ser justamente superficial,
somente interessada consigo mesmo e no ôba-ôba. Aqui vemos que essa música busca se centrar em Deus
(Frame 1997, 32), o que é altamente positivo.
- no decorrer da história vimos que o individualismo tende a substituir o coletivo. O humanismo trouxe consigo
a ênfase sobre as habilidades do ser humano e não a dependência de Deus. Os solos substituíram o coral. As
músicas dos solistas eram muito mais voltadas para as suas habilidades do que para a congregação. Os
instrumentistas faziam solos e improvisações ao invés de focalizar sobre a participação da congregação
(Lovelace and Rice 1981, 196)
- dentro do mundo secular e depois na igreja a terapia psicológica é a maneira de se lidar com os problemas
mais urgentes do ser humano. A música trata mais das necessidades imediatas das pessoas do que com o
pecado, confissão e perdão. Existe muita emoção nessa música, que se apresenta como terapia. Gondim chama
isso de lair-ribeirização da fé.
- por outro lado temos uma série de músicas que enfatizam o que Deus faz por mim. Aqui entra o perigo de
vermos que Deus existe por nossa causa. Aí entram o lado mais mágico da fé, a gratificação imediata, a auto-
aceitação, etc. Focalizam que o ser humano é tão importante para Deus. Isso é verdade, tanto que o ser humano
é a coroa da criação, o único ser de quem se fala que foi feito à imagem e semelhança de Deus. Essa ênfase
seguramente é bíblica. Mas, apesar de tantas músicas falarem muito sobre Deus, o centro pode bem ser o ser
humano e suas necessidades. Deus existe em função do ser humano. Deus precisa suprir as necessidades do ser
humano
- as músicas falam muito em quem Deus é, porque deve ser adorado (o que é entendido basicamente como
cantar naquele momento de culto), mas deixa as pessoas um tanto passivas. Normalmente os textos não vão
muito além de que devemos contemplar, adorar, louvar e só. A tendência é que o culto seja o êxtase e depois a
vida continua independente do que aconteceu nesse período.
- com o imediatismo que entra na igreja como uma característica do mundo atual, estamos muito mais
preocupados com aquilo que resolve os meus problemas, do que com a verdade. Assim a vida das pessoas se
baseia muito mais em experiências particulares do que na Palavra de Deus que é verdade objetiva. A crítica é
que a música contemporânea está mais focalizada no adorador (sentimentos) que no alvo de nossa adoração
(Deus). Quando nós somos o centro, as soluções que resolvem os nossos problemas são enfatizadas e não aquilo
que promove o reino de Deus
- um dos conceitos claros nas Escrituras é que encontrar a Deus muda as pessoas. Elas podem cair de joelhos
diante dele ou então se opor a ele. É impossível ficar passivo diante de um encontro com Deus. O que temos
feito em nossas igrejas é mudar a figura de Deus para evitar parcialmente esse encontro e confronto com ele.
Em muitas situações Deus se tornou um ser humano e a sua soberania foi deixada de lado. Deus existe para os
seres humanos. Deus é o vovozinho legal que faz tudo pelos seus netos e fecha os olhos quando não gosta de
algo. Ao invés de a música focalizar no Deus transcendente, ela indica que podemos manipular a Deus e usá-lo
para os nossos propósitos. Logo arrependimento e pecado, perdão, e julgamento não aparecem. É Deus que
existe em função do ser humano e precisa de nós. Mas esse deus faz pouca diferença na vida das pessoas.
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Talvez esteja aí uma das razoes pelas quais cantamos muito mais em nossas igrejas, aparentemente louvamos
e adoramos muito mais, mas temos uma crise ética ainda mais acentuada
- mas achar o equilíbrio entre adorar um Deus tão soberano que se torna distante de nós e de nossas
necessidades e o outro extremo onde Deus existe para nós, é uma tarefa árdua. Somos chamados a uma análise
constante para ver se Deus é o centro de nosso culto, de nossas músicas ou o ser humano é deificado
4. Bíblica X Pragmática
- uma cultura voltada para a emoção necessariamente leva à superficialidade. A emoção não pergunta por que,
nem como, ela somente quer sentir agora. A cultura das drogas, do ficar, etc., mostra isso. A tendência da
música e da cultura como um todo é na direção da superficialidade. As emoções e sensações são momentâneas e
não precisam se basear em conteúdos. Os efeitos especiais do filme facilmente se tornam o centro ao invés da
história. A cultura de nossos dias não estimula as pessoas a refletirem e a pensarem. A TV acaba pensando pelas
pessoas.
- dentro do Brasil creio que a situação se acentua ainda um pouco mais porque somos uma nação sem ideologias
fortes. O Brasil não se envolve em guerras, os partidos políticos se adaptam, somos o país do jeitinho,
- se os hinos mais tradicionais tendiam a ter 4 estrofes, muitas vezes abordando a vida no pecado, a salvação, a
luta pela santificação e a esperança da volta de Cristo, hoje tendemos muito mais a repetir algumas frases por
muito mais tempo. Músicas que levam menos de 30 segundos são repetidas no período de 30 minutos (casos
extremos). Repetimos a música até que sentimos a música
- a repetição das músicas favorece mais a emoção do que a razão. Quando repetimos demais as coisas, tendemos
a não mais pensar no que fazemos. Alguns hinos já foram cantados tantas vezes, que nem prestamos mais
atenção no seu conteúdo (em compensação alguns dos hinos tradicionais têm tanto texto que não conseguimos
assimilar nem a metade naquela única vez que cantamos as estrofes)
- todos somos frutos da época em que vivemos. Se anos atrás havia diversas estrofes nas músicas, hoje temos
que nos concentrar quando cantamos essas músicas para ver se conseguimos acompanhar ao raciocino de todas
as estrofes
- muitas das músicas contemporâneas refletem diretamente textos bíblicos e em outros os conceitos bíblicos
estão fortemente presentes. Em alguns casos usa-se uma linguagem mais acessível aos jovens para divulgar
conceitos bíblicos (Frame 1997, 32-33)
- apesar de que as músicas contemporâneas tenham Palavra, muitas vezes contêm somente pequenos trechos
sem o devido contexto (Frame 1997, 35-36). Essa crítica é válida, mas nem sempre ter um texto mais longo é
melhor do que um texto mais curto. Às vezes cantar somente pequenos trechos pode ajudar muito mais na
memorização dos mesmos do que músicas muito mais extensas
- apesar de ser bíblica, a maioria das músicas contemporâneas está centrada sobre algumas áreas da vida cristã e
não cobre a gama de assuntos que temos na Bíblia (Frame 1997, 38). Repetimos temas muitas vezes sem tocar
em verdades mais profundas da fé cristã. Falamos em como é bom louvar e adorar sem saber bem o que isso
significa. Temas que envolvem compromisso pessoal de mudança como arrependimento, confissão, obra social,
honestidade, etc., aparecem pouco. Somos estimulados a louvar e adorar a Deus sem muito estímulo para uma
vida cristã ativa
- uma das falhas nesse sentido é que muitas músicas enfocam muito mais o AT do que o NT. Com isso
cantamos textos que falam tanto sobre o templo e o monte santo de Deus, onde finalmente podemos adorar de
verdade, que acabamos divulgando uma teologia mais do AT do que do NT. Existe tanto uma continuidade e
uma descontinuidade entre os testamentos, mas Jesus veio instituir uma nova aliança, e com isso temos aspectos
novos que não podem ser esquecidos. Com relação à adoração temos um progresso muito importante no NT que
precisa ser levado em conta quando cantamos ou ensinamos a Bíblia. Isso fica muito evidente no encontro de
Jesus com a mulher samaritana. Nesse encontro fica gravado que o local não é mais central. Infelizmente esse
desenvolvimento é pouco enfatizado nas músicas atuais, talvez pela fraca formação teológica dos compositores
e a falta de critério dos líderes da música na escolha do repertório. Outras vezes cantamos músicas de batalha
que refletem uma ênfase de Israel frente aos inimigos. Espiritualizamos essa imagem para a nossa batalha
espiritual e aí começamos a ensinar o povo a fazer uma interpretação da Bíblia da qual nos arrependemos mais
tarde. Acabamos utilizando a alegoria e assim dando um significado novo para textos que não estão lá. As
batalhas do povo de Israel no AT não são na sua essência batalhas espirituais. Precisamos entender que existem
relatos que fazem parte da história da salvação, mas que pertencem a uma época quando Jesus ainda não tinha
chegado
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- não creio que todas as músicas precisam ser réplicas de textos bíblicos. Elas podem muito bem ser
aplicações e questionamentos de nossa vida baseados na Palavra. Mas colocar textos bíblicos para serem
cantados é algo louvável, desde que se escolham os textos adequados para os momentos certos (ex. a pessoa
casando que pediu para um amigo cantar no seu 2º casamento e este escolheu duas músicas: há momentos em
que as palavras não resolvem – é preciso pedir ajuda para poder continuar; quero voltar ao 1º amor)
- na igreja atual existe uma ênfase sobre a intuição pessoal da verdade. Com isso temos pouca preocupação com
o próximo e com a obra social (Lovelace and Rice 1981, 197). Dentro da música “Deus me falou” se transforma
em “Deus me deu esta música”.
- apesar de que temos muitas músicas contemporâneas com boa ênfase bíblica, geralmente não escolhemos as
músicas por um critério teológico. O único referencial que existe são os resultados. Se funciona está certo. A
música que funciona é a certa. Quando as pessoas gostam, é porque Deus está abençoando. Uma igreja não
pode viver de testemunhos. Ela precisa de testemunhos que sejam interpretados via Palavra. Para isso ela
precisa ensinar a Palavra para que as pessoas possam interpretar o seu dia-a-dia por ela. Caso contrário logo nos
abrimos para um sincretismo terrível (ex. da pessoa que pediu a Deus para ajudar na cola)
- o pragmatismo diz que tudo o que funciona, está certo. Essa característica está muito forte em nossos dias
como um produto de nossa cultura. Desapareceu a verdade absoluta. Quando tudo é relativo, acabamos medindo
o que temos com base naquilo que funciona. Os EUA são mestres nessa arte. E nós copiamos muita bem essa
parte, já que somos a filial. Como brasileiros temos uma crise de identidade muito forte e logo pegamos o que
mais promete (os políticos que mais prometem são eleitos).
- dentro dessa perspectiva não questionamos mais se algo é bíblico, mas se produz resultados. Espiritualizamos
um pouco esses resultados e temos a bênção de Deus sendo mostrada de maneira inconfundível. Se a igreja está
cheia, Deus está abençoando. Se o bar está cheio, é porque tem droga rolando no pedaço. Que diferença existe
entre ambas?
- por outro lado, podemos e devemos usar a nossa criatividade para trabalhar de maneira mais efetiva no Reino
de Deus. Isso não quer dizer que precisamos deixar técnicas modernas de lado, mas estar constantemente
avaliando para ver se estamos comprometendo o evangelho com essas técnicas.
- os críticos da música contemporânea avaliam negativamente essa música porque ela é o meio usado para
encher as igrejas. Precisamos nos perguntar se o oposto seria mais bíblico. Deveríamos usar aquilo que esvazia
as igrejas? Creio que existem alguns parâmetros que não são tão claros, mas dentro desses podemos usar a
nossa criatividade para fazer a música a mais efetiva possível (Frame 1997, 73). O outro lado da moeda é que
geralmente onde o povo em massa está, ali as pessoas estão recebendo o que querem e não necessariamente o
que precisam. Existem poucos movimentos de massa onde a seriedade do evangelho é mantida por um bom
tempo. Pode até começar bem, mas os outros interesses tendem a dominar e logo estamos bem longe daquilo
que era o nosso interesse inicial. A história da igreja está cheia de exemplos disso
- não podemos negar que as músicas falam muito sobre Deus e têm ênfase muito maior em textos bíblicos e na
pessoa de Deus que em épocas passadas. Se sabemos o significado do que estamos cantando, isso já é outra
história. Usamos textos sem saber dos contextos o que deixa muita coisa confusa e parece que nem nos
apercebemos disso. Isso acontece em grande parte porque estamos mais preocupados se as pessoas estão
manifestando visivelmente que gostam das músicas do que uma transformação em longo prazo que é difícil
medir
- de alguma forma precisamos achar meios de ajudar as pessoas a entenderem o que estão cantando. Os
comentários feitos entre as músicas podem ajudar, mas muitas vezes são apenas uma repetição ritualística – é
tão bom adorar a Deus; é tão bom saber que Deus nos ama; Deus está levantando uma nova geração de
adoradores que o adoram em espírito e verdade; etc.
7. Comércio X Edificação
- junto com a ênfase no entretenimento, a música cristã contemporânea se tornou um negócio muito rentável.
Não é de admirar que temos um Grammy Gospel nos EUA onde competem pessoas de todas as origens
simplesmente pelo valor da música, independente se ela é um meio para o fim, ou um fim em si mesma
- no Brasil, produtoras seculares que nada têm de cristão estão se lançando nesse mercado porque reconhecem
que esse é um mercado em expansão e que seguramente dará lucro
- cantores fazem suas carreiras totalmente independentes de qualquer compromisso com uma igreja local. Eles
acabam se medindo pelos padrões que o mundo adota. Cobram cachês como os músicos do mundo, dependendo
do nível de mercado que já alcançaram
- nesse sentido vemos pouca comunhão na área da música, mas grande competição, comércio e individualismo
(in Frame 1997, 64). Mas não podemos generalizar e dizer que isso acontece em todos os casos. Existem
pessoas muito sérias que fazem música como dom dado por Deus para construir o seu Reino
- dentro desse mercado as igrejas precisam decidir o que vão cantar em suas igrejas. Freqüentemente somente
cantamos aquilo que mexe com o povo. Precisamos selecionar o que vamos cantar. Já que os artistas compõem
músicas como eles querem, como consumidores precisamos forçá-los a compor músicas de qualidade. Se
deixamos de comprar o que é lixo, iremos forçá-los a compor o que achamos que a Bíblia nos ensina. Isso
parece um tanto idealista já que poucas pessoas estão analisando o que cantam. Mas um pingo faz diferença no
oceano. Um balde faz mais diferença e assim por diante. Como normalmente são os músicos que escolhem o
que a congregação vai cantar precisamos incentivá-los a se envolverem no seminário para que possam ter uma
base teológica melhor para fazer a escolha
- as técnicas de marketing podem ser úteis para a igreja em alguns aspectos, mas podem vender a alma da igreja
também. Segundo as regras do marketing em todas as áreas precisamos dar às pessoas o que elas querem ou que
podemos induzir as pessoas a comprar. Você tenta dar às pessoas o que elas querem e pensam que precisam ao
invés de confrontá-las com a Palavra. A música se torna entretenimento e comandada pelo consumidor
- como a música mexe muito com a emoção das pessoas isso é ainda mais fácil, porque o marketing trabalha
justamente sobre o aspecto emocional
8. Massificação X Liberdade
- existe hoje um conceito de louvor e adoração que se instalou que mostra “a” maneira correta de se adorar a
Deus. Via mídia, shows, pessoas de destaque determinou-se as práticas essenciais de um “louvor espiritual”.
- a verdadeira adoração somente acontece com vigor e entusiasmo. O entusiasmo é sinal da presença do
Espírito. Logo é mais importante do que a compreensão. Os hinários foram vistos como limitando a atuação de
Deus e por isso foram substituídos pela “verdadeira música”. Cada culto precisa ser uma “experiência”. A
palavra chave era celebração, com coreografias, etc., sem ter o cuidado de ver que celebração poderia acontecer
de diversas formas e talvez algumas formas não conduzissem à celebração (Lovelace and Rice 1981, 195)
- como temos uma tradição católica muito forte no Brasil somos avessos à rituais. A espontaneidade abre espaço
para a atuação do Espírito. No entanto não percebemos que os meios de comunicação acabaram para instituir a
maneira certa de adorar a Deus. Todas as igrejas usam a mesma linguagem musical, o mesmo jeito de adorar a
Deus. Substitui-se a fé verdadeira com símbolos externos e se julga as pessoas que não aderiram a essas
padronizações. Na música se mostrava em diversas posturas (levantar as mãos, bater palmas, etc.) que deveriam
ser adotados por todos
- mesmo que sabemos interiormente que essas formas externas não são a essência da coisa, acabamos
transmitindo a idéia de que quem canta do hinário ainda não teve a nova unção do Espírito; que o verdadeiro
adorador canta em pé com os olhos fechados franzindo a testa e movendo os braços, etc.
- dar liberdade também não significa necessariamente que dizemos que todos podem fazer como querem no
culto. Existem momentos para ficar em pé e outros para sentar. Existem momentos para bater palmas e
momentos para outras formas de cultuar a Deus. Algumas pessoas se sentem mais à vontade com algumas
manifestações do que outras
- como fazer com que as pessoas se não se sintam manipuladas e algo?
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Ministério de música na igreja
- há muitas maneiras de se fazer música na igreja
- há muitas maneiras de se pensar sobre a música na igreja. Alguns acham que precisa haver um ministro de
música de tempo integral para fazer um bom trabalho. De fato ter um ministro remunerado somente para esse
trabalho é algo que pode ajudar em muitos aspectos. No entanto, me pergunto quantas igrejas no Brasil podem
se dar ao luxo de ter uma situação como essas?
- creio que cada igreja precisa fazer o melhor que pode com os recursos disponíveis
- cada igreja precisa definir para si mesma o quão importante é a música na igreja comparado com os outros
ministérios
- infelizmente uma das palavras que mais falta em nossas igrejas é equilíbrio. Quem fala sobre grupos familiares
acha que precisa haver uma pessoa que somente cuida dessa parte, depois uma pessoa que cuide somente do
departamento infantil, depois alguém se preocupe somente com os jovens, depois alguém que se preocupe
somente com a 3ª. idade, etc.
- isso tudo vai depender do tamanho da igreja, da disponibilidade financeira, do pessoal que dispõe para tal, e do
valor que a igreja coloca nos referidos departamentos
- existem lados positivos em ter alguém remunerado para as diferentes áreas. É alguém que faz a coisa
acontecer em sua área. Para isso precisa haver alguém na liderança que consiga unir todos esses visionários com
os seus projetos e faça algo que seja “fazível” dentro da igreja. O lado negativo é que isso caminha cada vez
mais para o profissionalismo e tende a excluir pessoas que não são profissionais de participar
Envolvimento da congregação
- esse aspecto é absolutamente fundamental. Para isso o líder dos cânticos precisa cada vez mais ser um bom
comunicador. Em algumas igrejas se ele for um bom comunicador não precisa nem ser convertido. O
importante é mexer com a galera. Não queremos chegar a esse extremo, mas precisamos de pessoas que
comuniquem bem e consigam envolver a congregação
- para envolver as pessoas o líder precisa de diálogo com a congregação. Ele precisa estar aberto para críticas,
incentivos, sugestões, etc. Pessoas tendem a participar mais se existe esse canal de comunicação aberto. Para
isso pode ser algo muito produtivo ter uma comissão de música na igreja. Nessa comissão deveria haver pelo
menos uma pessoa que não está ligada diretamente com essa área. Assim ele pode defender os interesses da
congregação (daqueles que não são músicos).
- para maior informação e envolvimento da congregação poderia/deveria haver alguns cultos onde todo o lado
de adoração e louvor fosse abordado. Poderia também haver uma classe de escola dominical ou grupo familiar
que estudasse por algumas semanas/meses sobre esse assunto
- aqui também é essencial achar o ponto onde todas as faixas etárias podem participar. Pessoalmente acho que
deveria haver algumas músicas para crianças nos cultos. Elas podem participar cantando uma série de coisas
que não entendem (música de adulto) o que as ensina que o texto não é importante mesmo. Acho que uma
ênfase para crianças é muito útil bem como qualquer comentário feito durante essas músicas. Podem ser feitos
para as crianças, mas com uma aplicação para os mais adultos da mesma forma. A maneira de integrar os mais
idosos para cantar corinhos depende muito de quem lidera e da atitude que tem para com essas pessoas. Se você
tem raiva toda vez que vai cantar um hino, pode ter certeza que a congregação já percebeu isso. A sua meta-
comunicação já te dedurou. Se você odeia os idosos que só querem hinos e os chama de quadrados, eles sentem
isso e vão te boicotar, mesmo que não consigam mudar o sistema. Logo a única alternativa é fazer amizade com
eles e ter paciência quando está aprendendo uma música nova. Cante mais devagar, menos barulho, e faça
comentários que também tenham a ver com o mundo deles. Sobretudo seja amigo deles. Procure conversar com
eles na saída dos cultos, etc., para ganhar o seu apoio. Isso é essencial.
Músicos
- os músicos precisam ter certa habilidade musical. Esse é um dos pontos mais críticos desse ministério. Alguns
têm mais talento que outros e alguns são menos comprometidos com o Reino de Deus que outros. Muitas vezes
acontece que quem lidera não tem o maior talento e alguém começa a criticar. Essa pessoa nem sempre tem uma
vida certa com Deus, mas toca ou comunica muito melhor. Precisamos lutar para ter os dois. Os músicos
precisam estudar. Eventualmente a igreja pode ajudar no estudo assim como ajuda os seminaristas. Mas a
música é um lugar onde o orgulho tende a crescer muito rápido
- cada pessoa deve servir onde estão os seus dons (não faço grande diferença entre dons e talentos). Se alguém
gosta muito de cantar, mas é desafinado demais, não deveria liderar essa parte. Dependendo do caso é possível
colocar essa pessoa até no coral em alguns lugares, mas o melhor seria que se concentrasse em outras áreas
onde estão os seus dons
- o músico precisa ter alguém que esteja cuidando de sua vida espiritual (como todas as pessoas dentro da
igreja). Isso pode ajudá-lo a manter a humildade
- o músico precisa saber qual é o seu ministério. Seu ministério não é um fim em si mesmo. Ele está lá para
ajudar as pessoas a louvarem a Deus. Se ele estiver ajudando deve continuar, se atrapalhar deve sair
- dependendo do caso pode-se colocar o músico por um período de experiência onde ele basicamente ensaia
sem apresentar, para ver se tem disciplina e se a vida dele condiz com um serviço mais visível na igreja. Mas
isso precisa ser feito com cuidado para não fazer diferenças de status entre os músicos
Músicas novas
- existem muitas maneiras de ensinar uma música nova. Cada um faz o que melhor funciona para a sua igreja.
Algumas dicas podem ajudar
- se você faz um prelúdio, aproveite para tocar essa música algumas vezes, até alguns cultos antes de ensinar
- se você tem um instrumento melódico, toque junto a melodia quando canta pelo menos até aprender a música.
- se tem muitos instrumentos tocando junto, deixe apenas o absolutamente essencial (violão ou piano) e a pessoa
que ensina (com o instrumento melódico – flauta, violino, trompete, etc.). Se a equipe canta em vozes
diferentes, precisa cantar uníssono para ensinar a música. Somente depois que as pessoas já sabem a música
razoavelmente inclua o restante do “barulho”
- seja criativo ao ensinar (boa comunicação). Uma vez junto; depois somente as mulheres; somente os homens;
somente aniversários em tais meses; somente os que se consideram jovens; etc. Com isso não fica algo
monótono e as pessoas vão aprendendo. Mas somente cante tantas vezes quantas necessárias para aprender a
música.
- cante a música nova nos cultos subseqüentes para que as pessoas a aprendam
- preferencialmente não ensine mais que uma música nova em um culto. Isso tende a se tornar chato e não tem
continuidade
- se a música ainda não foi bem aprendida, não cante outra música nova nos próximos cultos, até que esteja
sabida
- algumas músicas modernas são longas e difíceis de aprender. Nesse sentido pode ser útil aprender parte da
música num culto e o restante no outro. Cante a música até o final e diga que o resto vai ser ensinado em outro
dia
- avalie se vale a pena o esforço de aprender uma música tão difícil, pois muitas vezes são compostas
basicamente para ser cantadas como solos e não pela congregação
Coral
- tradicionalmente as igrejas brasileiras não têm coral. As que tem são de origem americana ou européia. Igrejas
tradicionais zelam pela presença do coral
- para essas igrejas, o coral é muito importante para as pessoas. Apesar de que somente um grupo seleto de
pessoas participa, a igreja é abençoada ouvindo a boa música e os textos
- para as igrejas que não têm essa tradição o custo envolvido para começar um coral é bastante alto. Pessoas que
não estão acostumadas e ler notas e são desafinadas, mas gostam muito de cantar são os 1os. voluntários. Aí
você tem um abacaxi na mão sem tamanho. Precisa-se questionar se o esforço vale a pena
- creio que o canto congregacional é sempre mais importante que o coral, pois envolve maior participação das
pessoas
- grande parte das responsabilidades do coral está sobre o regente. Ele precisa procurar por um repertório
adequando e ter capacidade para ensaiar o grupo
- assim como os músicos, os coralistas deveriam ter uma vida exemplar. Existe grande discussão se somente
membros deveriam cantar no coral ou se isso poderia ser usado evangelisticamente. Cada igreja precisa definir
como quer fazer
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- o trabalho coral fica cada vez mais difícil nesse mundo caótico. Achar um tempo de ensaio onde todos
possam participar é um desafio sem tamanho. Por esse motivo os corais tendem a diminuir de tamanho e a
música coral ser substituída por solos e grupos
- é muito difícil trabalhar com compromisso nesse mundo com tantas alternativas. Quem trabalha com o coral
precisa ter muita paciência, pois vai ter muitos ensaios onde somente a metade dos cantores vai aparecer
Sonorização
- quando lidamos com instrumentos que exigem amplificação estamos mexendo em uma tecla sensível
- sonorizar um ambiente depende muito da qualidade da aparelhagem e isso tem a ver com finanças
- dependendo da qualidade dos aparelhos pode-se fazer uma boa sonorização ou as chances são mínimas para
um trabalho razoável, mas cada igreja precisa trabalhar com o que tem
- de uma forma geral, o volume é colocado alto demais. Pode ser o espírito de rebeldia que afirma que hoje as
coisas são assim mesmo. Parece até algo de poder que ignora qualquer bom senso. “Vou fazer e se você não
gostar é problema seu – os incomodados que se retirem”. Mas também tem o elemento cultural. O bom senso
ajuda a estabelecer o que é adequado para qualquer congregação
- tenta-se valorizar os instrumentos e aí freqüentemente as vozes não são ouvidas. Quando a pessoa não
consegue se ouvir quando canta, não faz mais diferença se ela participa ou não. Isso serve para tirar o incentivo
de participar
- as vozes devem estar mais altas que os instrumentos. Os instrumentos são auxiliares e não os donos
- a pessoa que vai fazer a sonorização precisa ter ouvido. Se a pessoa não ouve, não consegue equilibrar o som
- provavelmente o lugar onde as igrejas mais pecam nesse sentido é nas caixas acústicas. Tudo é importante
para uma boa qualidade, mas onde temos a pior qualidade é nas caixas e isso compromete o resultado final
- os músicos e o pessoal do som precisam chegar antes do culto para afinar e checar todos os cabos. Perde-se
demais tempo nos cultos criando muitos estouros por causa de cabos defeituosos e conexões que não estavam
previstas além do ajuste de volume, etc.
- existem cursos que ensinam a mexer nessa aparelhagem. Isso é bastante útil. O que também ajuda muito é
conviver com alguém que sabe o que faz. Esse pode ensinar muitas coisas bem práticas de como lidar com
problemas que sempre aparecem nesse departamento.
Números especiais
- o número especial deve ser usado com cuidado. Facilmente serve para provar que alguém toca melhor
- ele outra vez é um meio para o fim e não um fim em si mesmo
- precisa-se determinar que função deve cumprir e se tem condição de cumprir com esse papel
- prelúdios podem servir para preparar as pessoas para o culto. Se lembramos do povo de Israel que se
preparava para adorar a Deus já no por do sol do dia anterior, isso ajuda a entender que o culto não é
simplesmente estar presente na igreja em determinado horário. Mas o número especial não é o único meio para
nos prepararmos para o culto
- o poslúdio pode servir para a reflexão sobre o culto e as mudanças que Deus exige me nossas vidas. Cada
igreja precisa ver como utiliza as partes do culto, sejam instrumentais ou não para cumprir as funções que acha
fundamentais no culto
- a atitude da pessoa precisa ser de servir e não de aparecer. Nem sempre é fácil analisar se a pessoa está com a
motivação correta quando apresenta o seu número. Se a pessoa insiste muito em que precisa fazer o seu número,
isso já pode indicar uma dúvida com relação à sua motivação. A vida prática da pessoa provavelmente vai
mostrar se a atitude está correta
- quando o número é cantado, atenção especial deve ser dada à letra. Nesse sentido, alguns números modernos
onde se valoriza sobremaneira os instrumentos e inclusive o volume sonoro, devem ser avaliados
cuidadosamente antes de serem utilizados
- quando é um número instrumental, deveria preferencialmente ser um hino conhecido em que as pessoas
conhecem a letra e podem pensar nela enquanto ouvem a música. Existem exceções. Alguns números
instrumentais calmos podem ajudar a congregação a se acalmar para ouvirem a voz de Deus
- esses números funcionam melhor nas igrejas onde substituem o coral ou grupos. As pessoas já estão
acostumadas a ouvir o coral e a variação para escutar outro número pode ser bem positiva
- estes números podem ajudar ou atrapalhar a adoração das pessoas no culto
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Festival de música
- servem para integrar as pessoas que lidam com música nas igrejas.
- pode ser uma grande bênção quando grupos se reúnem para louvar. Especialmente igrejas menores tendem a
carecer de um momento de celebração maior. Existe um efeito especial quando um grupo maior de pessoas se
reúnem para cultuar a Deus
- precisa-se criar um clima de adoração e não de competição. Isso não é muito simples. Cada grupo deve dar o
melhor que pode, mas sempre com a atitude correta. Não há como evitar que algumas pessoas estejam com a
atitude errada, mas se isso for a maioria, esses encontros não têm razão de ser
- isso não impede que se avalie inclusive musicalmente a qualidade e o que foi feito. Fazemos isso também com
as pregações e estudos da Palavra. O que precisamos evitar é a comparação para melhorar a nossa imagem e
denegrir a imagem dos outros. Existem pessoas mais talentosas e outras menos talentosas. Isso ainda não quer
dizer que Deus aceita os mais talentosos e rejeita os menos talentosos. Cada um deve se esforçar ao máximo
para fazer o melhor que pode para Deus
- precisa ser bem organizado e com um propósito bem definido. Isso ajuda os participantes a pensarem se
querem participar e ajuda a colocar a ênfase no lugar certo antes de começar
- a seqüência das apresentações também pode criar comparação. Se sempre o “melhor” grupo ou coral é
colocado no final do festival, fatalmente criamos a impressão de que sempre precisamos fechar com “chave de
ouro” e isso não ajuda a adoração. Não penso que devamos colocar o pior no final, simplesmente para inverter a
pirâmide. Mas se tomarmos um cuidado dentro do planejamento e dos comentário que eventualmente são feitos
entre os corais, podemos minimizar o efeito negativo. Talvez o que possa ser feito é enfatizar que o mais
importante é a participação da congregação. Se o Grand Finale puder ser o canto da congregação isso também
ajuda a colocar as prioridades no lugar certo
- pode se estabelecer com antecedência o tema do festival e pedir que os grupos mandem adiantado os textos
das músicas. Um moderador poderia elaborar uma mensagem baseada nesses textos
Fundo musical
- algumas igrejas têm o costume de colocar música de fundo para o período da Santa Ceia, orações, apelos e
outras ocasiões. Como nas outras atividades, deve-se pensar no objetivo dessa atividade.
a) nos apelos
- queremos amolecer o coração das pessoas? Facilitar o encontra da pessoa com Deus? Simplesmente fazemos
por tradição, etc.
- depois que avaliamos o nosso propósito precisamos avaliar se o nosso propósito é válido. Já que a música
mexe com as emoções, achamos que é válido para que pessoas tomem um compromisso com Deus? O tiro
poderia sair pela culatra? A música pode produzir sentimentos religiosos que não vêm de Deus, substituindo a
obra do Espírito Santo [ou poderia ser instrumento usado por ele]? (Johansson 1992, 56) Podemos ficar
condicionados a responder somente quanto somos tocados emocionalmente pela música (como os cães de
Pavlov)? (Johansson 1992, 56) Até onde isso seria manipulação? Atraímos pessoas que não foram
necessariamente tocadas pelo Espírito? Ou então a música passa a ser instrumento do Espírito? Etc.
- o 3°. estágio é avaliar se estamos atingindo o nosso propósito. Estamos conseguindo atingir o que queremos.
Se simplesmente fazemos as coisas por tradição, o que estamos atingindo?
Playback
- normalmente esses acompanhamentos têm uma qualidade que dificilmente pode ser alcançada com os músicos
que a igreja tem
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- em alguns locais quase se torna uma necessidade quando não há músicos ou os músicos saíram da igreja por
algum motivo
- precisamos analisar depois se o efeito disso é positivo para a congregação ou se tende para o show
- nessa análise podemos constatar que simplesmente a igreja não está acostumada a esse tipo de música e que
um efeito que aparenta ser negativo não precisaria ser se nos acostumássemos com essa idéia
- a tendência é de não investir nos músicos da igreja ou desmerecê-los
- apresentações ao vivo são sempre melhores do que com playback, mas não creio que podemos estabelecer
uma regra para a utilização dos mesmos. Cada igreja precisa verificar para si mesma se acha produtivo utilizar
esses acompanhamentos e se acha que devem ser incentivados
- a intenção da pessoa que canta é difícil de medir, mas pode ser para tentar abafar alguém outro que
eventualmente canta melhor. Aí com esse algo a mais, as pessoas vão olhar para o produto final e eu posso sair
na frente
Coreografia
- algumas igrejas têm descoberto nos últimos anos uma participação maior da congregação nos cânticos do que
simplesmente cantar
- com o surgimento das igrejas pentecostais entre os negros americanos, novas formas de expressão passaram a
ser introduzidas na música.
- a maior parte dessas formas de expressão está conectada com a cultura do povo. A maioria das igrejas que
utilizam dessas formas não o faz porque vêem na Bíblia que Davi dançou , etc. Normalmente o processo é
inverso. Eles vêem alguém tendo essa prática e depois encontram o versículo bíblico para dar crédito ao que
estão fazendo. Não existem mandamentos para que tal prática seja executada, são exemplos do que pode ser
feito
- a expressão que temos ao cultuar a Deus tem a ver diretamente com a atitude. As formas culturais não são tão
importantes. Mas aqui cada igreja precisa achar o seu estilo dentro da liberdade que o Espírito Santo nos traz
- em algumas igrejas o bater palmas é algo somente para crianças. Em outras, bater palmas é parte integrante de
todo momento de cânticos. Cada igreja tem suas regras (mesmo que não estejam escritas) que orientam as suas
manifestações. Deve-se tomar cuidado para não achar que manifestações externas necessariamente implicam
em espiritualidade. Às vezes é possível esticar um pouco essas regras. Mas deve-se sempre tomar cuidado para
vergar o galho devagar para não quebrá-lo
- em algumas igrejas os adultos se recusam a cantar com gestos. Para eles isso é coisa de criança. Se você
estiver liderando, não force a barra. Cada um pode participar dos gestos se quiser. Tente mostrar como os gestos
te ajudam a concentrar no texto e como acabam simbolizando algo (quando isso for verdade). Depois deixe
participar quem quiser sem descarregar em cima de quem não participa
- nos últimos anos a questão de dançar para o Senhor tem sido bastante discutido – polêmica a respeito. O
contexto da igreja vai determinar se a dança é permitida ou não. Ela pode ajudar como deturpar o período de
cânticos. Em si, creio que a dança é neutra, pode ser usada para o bem como para o mal. Provavelmente alguns
limites precisam ser estabelecidos que ajudem a igreja a saber o que é aconselhável e o que deveria ser evitado
- devemos dar liberdade para expressões espontâneas da igreja, mas dentro do princípio que tudo seja feito em
ordem para a edificação do corpo
1. “Nesses últimos trinta anos, houve uma revolução na igreja brasileira – se não em toda, pelo menos numa boa
parte dela. Deus, em sua misericórdia, usou vários homens e grupos nesta nação para trazer aos nossos
cultos e ao estilo de vida da igreja uma nova maneira de se expressar em louvor e adoração. Não que a
igreja anterior a esse período não soubesse adorar. Percebe-se, pelos hinos antigos, que a igreja anterior a
esse período tinha noção clara do que era adoração, mas não expressava seus sentimentos como agora”.
Você acha que a diferença entre a música cristã contemporânea e a antiga reside basicamente na emoção que
proporciona? Isso seria positivo/negativo?
2. “A música tem o poder de elevar a pessoa a um nível espiritual em que pode ser facilmente enganada,
achando que está num território divino, quando está pisando num mundo espiritual falso. Os místicos da
igreja descobriram que o mundo espiritual é todo mui semelhante, e que as manifestações, sejam elas
divinas ou satânicas, deixam-nos com tremor e temor. Não se pode definir se o que se experimentou foi de
Deus ou do diabo apenas pelas luzes, cores, vozes ou anjos”.
Você concorda com a afirmação desse autor? Como poderemos saber se tivemos um encontro com Deus
através da música se nossa percepção pode estar errada? Que implicações isso traz para a música na igreja?
3. “É muito fácil entrar numa área falsificada e confundir mantra com cântico espiritual. A divisa ou fronteira
entre os dois é tênue, imperceptível, se não houver discernimento! Mantra - que significa libertar a mente -
é um tipo de oração cantada, muito utilizada pelos hindus em sua invocação. Fica-se no mesmo tom,
repetindo-se a mesma palavra, seja com ou sem música. A repetição dos mesmos acordes, da batida do
violão, o mesmo tom no teclado, a mesma batida da percussão, repetindo-se sílabas ou frases, em muitos
cultos ou momentos de adoração, mais parecem mantras do que cânticos espirituais. . . No mantra, a mente
é anestesiada e a pessoa entra num mundo aberto a espíritos enganadores. Repetem-se as mesmas palavras
ou sons talvez por horas a fio. A composição de sílabas é um mistério e não há nenhum esforço para trazer
entendimento à mente. . . O perigo dos “mantras” coletivos de nossos cultos é que as pessoas não sabem o
que está acontecendo, pois a indução é imperceptível. Nas religiões orientais, onde o mantra é usado, as
pessoas se entregam voluntariamente, pois acreditam naquela porta ao mundo espiritual que é oferecida. O
verdadeiro cântico espiritual é conduzido pelo Espírito, e não induzido por alguém, por música ou por
batidas de instrumentos! Leva o adorador a ter contato com Deus, e não o deixa aberto a outros espíritos.
Por isso Jesus nos orienta a adorar em espírito, mas também em verdade!”
A grande ênfase na repetição das músicas em nossas igrejas poderia se tornar um mantra? Como avaliar se
estamos sendo guiados pelo Espírito e não estamos abertos a outros espíritos?
4. ”Adoração e serviço devem estar tão entrelaçados como se fossem um só ato! . . . Nossa comunhão e nossa
adoração, se não resultarem em obras, perdem seu sentido. . . São poucos os textos do Novo Testamento
que nos incitam à adoração, mas são muitos os que nos exortam ao serviço. É que temos a tendência de nos
agarrar ao místico, ao sobrenatural, ao misterioso, a tudo o que enleva a alma”.
Se esta é na nossa tendência, como levar as pessoas da igreja a se conscientizarem que a adoração sem serviço
é vazia?
Introdução
Até mesmo uma análise simples e rápida sobre o tema em foco é suficiente para convencer-nos de que a
"verdadeira adoração é a mais alta e nobre atividade da qual o homem, pela graça de Deus, é capaz."1 O tema
"adoração" possui profundas implicações escatológicas, pois "desde que a adoração será central na vida do céu
(Ap 4.8-11; 5.9-14; 7.9-17; 11.15-18; 15.2-4 e 19.1-10), ela deve ser central na vida da igreja na terra."2 Além
do mais, o puritano John Owen nos lembra que a verdadeira adoração, ainda que oferecida na terra, é conectada
nos céus.3 Outro elemento de importância da adoração é resultante da aplicação da máxima cristã lex orandi, lex
credendi, cuja tradução pode ser "o que se ora, é o que se crê." Segundo este princípio, adoração e teologia
caminham juntas e grande parte de nossa teologia (certa ou errada), é influenciada por nossa liturgia (forma de
adoração).4
Charles R. Swindoll e Mark Earey corretamente chamam nossa atenção para importantes efeitos
interiores da verdadeira adoração. Swindoll relembra-nos que a adoração alarga nossos horizontes e nos
descentraliza de nosso ego, enfraquece nossos temores, altera nossas perspectivas e nos mostra o lado digno do
nosso trabalho diário.5 Neste sentido, Earey afirma que a adoração é potencialmente uma experiência de cura.6
Potencialmente, porque uma adoração corrompida traz mais enfermidades do que geralmente percebemos (1 Co
11.30). Finalmente, a verdadeira adoração é o objetivo e o combustível da atividade missionária.7 Ela é o
objetivo no sentido de que missões almejam trazer pessoas ao regozijo e à adoração do verdadeiro Deus.
Também, real comprometimento na obra missionária é fruto de um coração devotado ao Senhor. Portanto,
missões começam e terminam com adoração.
Qualquer pesquisa sobre a adoração evidencia um renovado interesse neste assunto nos últimos dias.8 A
grande força motora para a transferência de membros entre igrejas já não é mais o aspecto doutrinário,
geográfico ou o ensino bíblico, mas o estilo de adoração e culto. Mark Earey lembra-nos que vivemos em uma
cultura consumista e todos nós "assumimos que escolhemos nosso local de adoração da mesma maneira que
escolhemos nosso local de compras ou de assistir a um filme…é tudo baseado nos nossos direitos ao invés de
em nossas responsabilidades."9 Como resultado imediato, nada mais parece estável ou sólido em relação ao
tópico da adoração cristã, mas a controvérsia domina nossa conversação sobre o assunto.10 Tudo isto nos leva a
concluir que havia um elemento profético na afirmação do pastor canadense A. W. Tozer de que a verdadeira
adoração "é a jóia perdida da igreja cristã."11
O presente artigo propõe uma reflexão tridimensional sobre a adoração e o culto cristão. Tal reflexão envolve:
1) uma visão geral sobre o ensinamento bíblico a respeito do assunto, 2) uma análise de alguns dos principais
fatores que têm desviado o foco cristão da verdadeira adoração, e 3) uma proposta de volta aos princípios
teocêntricos existentes na adoração cristã. A pressuposição básica do autor, de que "a forma aceitável de se
adorar o verdadeiro Deus é instituída por ele mesmo,"12 vem do Puritanismo inglês do século XVII. Assim,
como em qualquer outro assunto relevante para a igreja cristã, o supremo juíz neste caso é o Espírito Santo
falando nas Escrituras.13 Além disso, como o tema adoração é muito abrangente,14 nossa reflexão será
focalizada sobre a adoração pública, ou seja, o culto cristão.
Conclusão
Nesta nossa reflexão sobre adoração e culto cristão temos procurado mostrar que o assunto é essencialmente
espiritual e digno de nossa atenção especial. Por sua natureza espiritual, a verdadeira adoração só é possível
quando impulsionada pela obra do Espírito Santo dentro de nós (Jo 4.23-24). Além do mais, os passos a serem
tomados para uma redescoberta da verdadeira adoração são exercícios altamente espirituais e contradizem
profundamente nossa natureza e impulsos carnais. Mas a verdadeira adoração sempre exaltará Cristo (Ap 5.12),
transformará o adorador (2 Co 3.18-19), convencerá o incrédulo da presença do adorado entre os adoradores (1
Co 14.24-25) e invocará o "amém" de cada um dos servos de Deus. Ainda, a verdadeira adoração nos capacita
para o testemunho e o serviço diário na seara do Mestre. Como diz Armstrong: "Não estamos no negócio de
construir mosteiros evangélicos, mas congregações que servirão o verdadeiro Deus como resultado direto da
adoração."66
Finalmente, temos que admitir que, de acordo com as Escrituras e a história cristã, adorar a Deus
corretamente exige tempo e humildade. Preparação é essencial. Examinar nossas intenções e avaliar nossas
ações devem ser exercícios constantes em nossa vida de adoradores (Sl 66.18 e 131). Além do mais, nosso
coração deve ser continuamente guardado contra o egocentrismo a fim de que possamos dizer: "Não a nós,
Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória" (Sl 115.1). É somente adorando o Senhor de modo verdadeiro
que seremos encontrados por ele e, como disse Richard Baxter: "Se é a Deus que você está buscando em sua
adoração, você não ficará satisfeito sem Deus."67
notas
1 John R. W. Stott, Christ the Controversialist: A Study in Some Essentials of Evangelical Religion (Londres: Tyndale,
1970), 160.
2 J. I. Packer, Concise Theology (Wheaton: Tyndale, 1993), 99.
3 John Owen, The Works of John Owen (Carlisle: The Banner of Truth, 1990), IX: 77.
4 Maiores detalhes em Don E. Saliers, Worship as Theology (Nashville: Abingdon, 1994).
5 Charles R. Swindoll, Growing Deep in the Christian Life (Portland: Multnomah, 1977), 397.
6 Mark Earey, "Worship – What Do We Think We Are Doing," em Evangel 16 (Primavera 1998), 10.
7 John Piper, Let the Nations be Glad! (Grand Rapids: Baker, 1993), 11.
8 A abundante literatura sobre esse tópico é suficiente para desestimular qualquer pretenção de se dar uma resposta precisa
a todas as perguntas levantadas sobre o mesmo. Ver maiores detalhes em Ronald Allen, Worship: Rediscovering the
Missing Jewel (Portland: Multnomah, 1982).
9 Earey, "Worship," 8.
10 Edmund P. Clowney, The Church (Downers Grove: Intervarsity Press, 1995), 117.
11 Ver A. W. Tozer, The Best of A. W. Tozer (Grand Rapids: Baker, 1995), 217-222.
12 Confissão de Fé de Westminster, XXI.i.
83
13 Ibid., I.x.
14 O termo "adoração" pode ser usado em um triplo sentido: 1) público, 2) familiar e 3) individual. D. S. Whitney,
Spiritual Disciplines for the Christian Life (Colorado Springs: Navpress, 1991), 79-91.
15 A. P. N. D. Gibbs, Worship (Kansas City: Walterick, s. d.), 69.
16 Earey, "Worship," 11.
17 Nesse caso, uma das evidências usadas para confirmar a Ananias a conversão de Paulo foi o fato de que ele estava
orando.
18 Everett F. Harrison, "Worship," em Baker’s Dictionary of Theology (Grand Rapids: Baker, 1960), 561.
19 Clowney, The Church, 118.
20 Citado por John Blanchard, Gathered Gold (Welwyn: Evangelical, 1984), 344.
21 João Calvino, The Necessity of Reforming the Church (Dallas: Protestant Heritage, 1995), 16.
22 John H. Armstrong, "How Should We Then Worship?," Reformation and Revival 2 (Inverno 1993), 9.
23 Earey, "Worship," 8.
24 Armstrong, "How Should We Then Worship?," 11.
25 Calvino, Necessity of Reforming the Church, 151.
26 E. D. Cook, "Existencialism," em New Dictionary of Theology (Downers Grove: Intervarsity Press, 1988), 243.
27 David L. Smith, A Handbook of Contemporary Theology (Wheaton: BridgePoint, 1992), 117-132.
28 John Leach, "Scripture and Spirit in Worship," Evangel 16 (Primavera 1998), 13.
29 J. M. Boice, "Whatever Happened to God?" em Modern Reformation (Jul-Ago 1996), 13.
30 Armstrong, "How Should We Then Worship?," 9-10.
31 Boice, "Whatever Happened to God?," 14.
32 J. I. Packer, A Quest for Godliness (Wheaton: Crossway, 1990), 254.
33 Earey, Worship, 11.
34 S. N. Williams, "Deism," em New Dictionary of Theology, 190.
35 Ronald H. Nash, Christianity and the Hellenistic World (Grand Rapids: Zondervan, 1984), 203-61.
36 Smith, Handbook of Contemporary Theology, 150-164.
37 M. E. Alsford e S. E. Al, "Pragmatism," em New Dictionary of Christian Ethics and Pastoral Theology (Downers
Grove: Intervarsity, 1995), 682.
38 John MacArthur Jr., The Ultimate Priority (Chicago: Moody, 1983), 21.
39 Robert E. Webber, "Preconditions for Worship Renewal," Evangelical Journal 9 (1991): 5.
40 Swindoll, Growing Deep, 390.
41 Allen, Worship, 18-19.
42 Boice, "Whatever Happened to God?," 15.
43 Owen, Works, IX: 58.
44 O v. 28 deste capítulo revela que esta afirmação foi feita em um contexto sobre adoração. O termo grego latreomen é
um dos termos traduzidos por "adoração" no Novo Testamento e na Septuaginta.
45 Paul Basden, "The Theology and Practice of Worship," The Theological Educator 57 (Primavera 1998): 85.
46 P. D. Manson, "Worship," New Dictionary of Theology, 730.
47 Clowney, The Church, 118.
48 Ibid., 119.
49 Confissão de Fé de Westminster, XX.2.
50 Clowney, The Church, 122.
51 J. M. Boice, Foundations of the Christian Faith (Downers Grove: Intervarsity Press, 1986), 592.
52 Webber, "Preconditions for Worship Renewal," 4.
53 I. Breward, "Puritan Theology," em New Dictionary of Theology, 550.
54 Leland Ryken, Wordly Saints (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 111.
55 Breward, "Puritan Theology," 245.
56 Alan Clifford, "The Westminster Directory of Public Worship (1645)," em The Reformation of Worship (Londres: The
Westminster Conference, 1989), 54-56.
57 Packer, A Quest for Godliness, 246.
58 Ryken, Wordly Saints, 120.
59 William Perkins, The Art of Prophesying (Carlisle: Banner, 1996), 3.
60 Clifford, "Westminster Directory," 65-70.
61 Packer, A Quest for Godliness, 252.
62 Owen, Works, IX: 58. Ver Isaías 8.18.
63 João Calvino, Institutes of Christian Religion (Filadélfia: Westminster, 1960), IV.x.30.
64 Ibid., IV.x.30.
65 Owen, Works, XIII: 95.
66 Armstrong, "How Should We Then Worship?," 16.
Há dois tipos de música, a boa e a ruim — seja ela erudita, MPB, sertaneja, reggae, rap, rock ou gospel. O que
me surpreende é a capacidade de o mercado absorver a música ruim. Com a proliferação de compositores,
intérpretes, bandas e gravadoras, o cenário evangélico não poderia ser diferente. Tem música boa, mas também
tem muita música ruim.
Passamos séculos louvando a Deus com hinos históricos da Reforma. Bastava um hinário, e tínhamos músicas
com letras densas, boa teologia e linha melódica harmoniosa.
Nos últimos anos surgiu o que chamamos de louvorzão. Jogamos fora os hinários, a liturgia, aposentamos o
piano e o coral e introduzimos a guitarra, a bateria, o data-show, as coreografias e a aeróbica. Surgiu também a
figura do dirigente de louvor, responsável por animar a congregação. Daí para a frente há muito barulho, muitas
palmas, muitas mãos levantadas, muitos abraços, muitas caretas e cenho franzido. Mas a pergunta que fica é:
temos adoração?
O lado positivo do louvorzão é o interesse e a integração na igreja de milhares de jovens. Trata-se de uma
oportunidade única para ensinar estes jovens, através do exemplo e da Palavra, o caminho do discipulado de
Cristo. Mas fica a pergunta: estarão estes jovens crescendo na santidade e no serviço?
Alguns cultos se tornaram verdadeiras produções dignas da Broadway. Músicos profissionais, cenários,
bailarinos e iluminação. Mas fica uma pergunta: toda esta parafernália cênica tem levado o povo de Deus a uma
genuína adoração?
A história da Igreja é rica em manifestações artísticas. Ao longo do tempo o louvor foi expresso através de
várias expressões musicais. O canto gregoriano, o barroco, os hinos da Reforma, o negro espiritual e os cânticos
contemporâneos deixaram sua contribuição à boa música ao longo destes últimos séculos.
Trata-se, portanto, de um equívoco jogar fora toda a herança histórica e achar que esta geração descobriu a
forma certa de louvar. Se olharmos do ponto de vista musical veremos que a história nos legou uma herança
preciosa. Na cultura gospel do louvorzão tem muita música ruim, muita letra questionável e muito dirigente de
louvor que mais parece um animador de auditório.
A igreja pode ser a ponte entre as gerações, entre o antigo e o novo e integrar na adoração tudo o que há de bom
na sua herança histórica. Tem muita gente cansada do louvorzão barulhento de letras rasas, de bandas que
tocam no último volume, de coreografias esvoaçantes e de ordens do dirigente para abraçar o irmão da frente,
de trás e do lado dizendo que o amamos. É constrangedor abraçar alguém e dizer que o amamos quando nem
sequer o conhecemos.
A igreja perde quando a ênfase do louvor se desloca da congregação para o palco. Com raras exceções a música
é ruim, a letra não tem nada a ver com a realidade do cotidiano ou a teologia reformada e a performance no
palco é apelativa.
A igreja perde quando se torna parecida com um programa de auditório e já não cultiva a boa música com
cordas, sopros, bons arranjos, corais, quartetos. E perde muito mais quando a adoração se torna um evento
estimulado sensorialmente e não uma melodia que emerge de um coração quebrantado e temente a Deus.
Adoração é sempre uma resposta humilde, alegre, reverente àquilo que Deus é e faz. Adoramos porque algo
aconteceu, algo nos foi revelado, e não o contrário, como pensam alguns, que recebemos a revelação e as coisas
acontecem porque adoramos.
A igreja perde quando não há reverência ou temor. O que resta é euforia, excitação e sensações prazerosas. O
que é bom em si mesmo, mas não é necessariamente adoração.
É um equívoco pensar que Deus se impressiona com nossos cultos de domingo. Antes, ele acolhe muito mais
nossos gestos simples do cotidiano, fruto de um coração humilde e quebrantado, que busca se desprender de
ambições e serve ao próximo com alegria. Adoração não é um evento domingueiro bem produzido, mas um
estilo de vida que glorifica ao Senhor.
Durante séculos a arquitetura das igrejas e das catedrais destinou o balcão posterior ao coro, ao órgão e à
orquestra. Na igreja da Reforma os músicos e o coro se posicionavam na parte da frente da nave, mas sempre ao
lado. Mesmo o púlpito não estava no centro, mas ao lado. No centro havia, quando muito, alguns símbolos da
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fé, que ajudam a despertar a consciência para a experiência do sagrado, com destaque para a mesa do Senhor.
A congregação ficava em face ao altar de Deus, sem que nada se interpusesse entre a Santa Presença e a
congregação. Este lugar só pode ser ocupado por Jesus Cristo. Ele é o único mediador, ele é o único que pode
dirigir o louvor.
Hoje o que se vê é o apóstolo, o bispo, o pastor, o dirigente de louvor e a banda ocupando este lugar, nos
levando de volta à Antiga Aliança, quando sacerdotes e levitas eram mediadores entre Deus e os homens. A
conseqüência é uma geração de crentes que dependem de homens, coreografias e data-shows para adorar e para
ouvir a voz de Deus.
O verdadeiro pastoreio consiste em ajudar homens e mulheres a dependerem do Espírito Santo para seguirem a
Cristo, que os leva ao seio do Pai. Ajudar homens e mulheres a crescerem e amadurecerem na fé, na esperança e
no amor, integrando adoração, oração e leitura das Escrituras no seu cotidiano.
A contextualização se tornou uma armadilha na qual a igreja caiu. Na tentativa de se identificar com o mundo
ela ficou cada vez mais parecida com ele. A cultura gospel é autocentrada, materialista, acha-se dona da
verdade, tornou-se uma religião que nos faz prosperar, que não nos pede para renunciar a nada e que resolve
todos os nossos problemas. Há um abismo colossal entre a cultura gospel e o evangelho de Jesus Cristo, que nos
chama a amar sacrificalmente o nosso próximo, a cultivar um estilo de vida simples, a integrar o sofrimento na
experiência existencial e a ter a humildade de ser um eterno aprendiz.
Estas reflexões já estavam fervilhando no meu coração há algum tempo. Pensei que estas coisas só aconteciam
em certas igrejas, mas o que me motivou mesmo a colocá-las no papel foi ter participado de um culto numa
Igreja Batista da Convenção.
http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=2012&secMestre=2081&sec=2108&num_edicao=310&palavra=lu
dovico. Acesso em 02/04/2008.
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Adoração e comunhão – Nelson Bomilcar
Sabemos que o ministério da música na adoração, tanto em comunidades locais e fora dela, tem sido terreno de
difícil comunhão e unidade. Até porque que os que são dotados de sensibilidade artística, costumam ter o ego
superabundando mais do que a graça e o espírito humilde. Como é difícil fazer com que músicos caminhem
juntos, sirvam juntos, somem suas vidas e talentos para adorarmos e proclamarmos o amor de Deus.
Devemos ressaltar também a importância da celebração contínua da ceia. Quando celebramos a eucaristia, a
ceia do Senhor, manifestamos de forma prática a celebração desta comunhão, como um ato de adoração, neste
marco em memória do Senhor!
Sabemos que o ministério da música na adoração, tanto em comunidades locais e fora dela, tem sido terreno de
difícil comunhão e unidade. Até porque que os que são dotados de sensibilidade artística, costumam ter o ego
superabundando mais do que a graça e o espírito humilde. Como é difícil fazer com que músicos caminhem
juntos, sirvam juntos, somem suas vidas e talentos para adorarmos e proclamarmos o amor de Deus.
“__Ah, minha escola é diferente, minha formação é diferente, não temos afinidades, meus gostos estéticos e
musicais são diferentes, eu sou erudito e você é popular, não dá para caminhar, servir e tocar junto. Creio até
que devemos estar em igrejas diferentes. É melhor cada um na sua, cada um por si e Deus por todos”.
Este chavão ou slogan, que daria mais para para-choque de caminhão, slogan bem humano e porque não carnal,
esconde muitas vezes a natureza do nosso coração. Cheguei a ter numa experiência de igreja local, vários
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regentes de coro que não conseguiam, e mais, não desejavam caminhar juntos. Nem buscando respeitar e
encorajar o projeto um do outro, buscando uma complementaridade saudável para a adoração, para a igreja,
para o Reino.
Egos que não se bicam ou se cansam da caminhada comunitária e de grupo proliferam assustadoramente no
meio musical evangélico, alimentados pela mídia, gravadoras e empresários, isto é “antes de ti nenhum deus se
formou e depois de mim nenhum outro haverá”, nova versão revista e atualizada.... Só você é lindo, só sua
música é bela, etc. Egos são, de fato, pequenos deuses criados e que precisam de alimento. Enquanto Jesus
encoraja a comunhão e unidade, tentamos vive-la “tu no teu cantinho e eu no meu”.
Alguns, até por experiências traumáticas e negativas do passado, tentam justificar o “novo posicionamento” do
isolamento, do caminhar só. Mas o evangelho tem muitos recursos para a cura e sanidade das memórias e
mágoas. O caminho às vezes é um pouco longo, mas com os recursos da graça e do Espírito Santo, é possível
recomeçar e continuarmos numa caminhada de soma, de corpo, de equipe. O resto é desafio constante de ser
família, família de Deus.
Vivemos um tempo propício para arrependimento, relevante para o exercício do ”lavar os pés uns dos outros”.
Não se esquecendo que é preciso, antes, nos lavarmos primeiro, confessando e abandonando pecados. É tempo
de enxergarmos a beleza da diversidade, porém, ajustados numa mútua cooperação, seguindo a batuta de um
único Maestro, cabeça do Corpo, cabeça da Igreja, o Chefe de todos e de tudo. É preciso decisão pessoal,
esforço e Graça do Pai para buscarmos a comunhão na adoração!
http://www.provoice.com.br/artigos-nb/nb10-comun.htm. Acesso em 14/02/2005.
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Quando o artista, a arte e o adorador ocupam o lugar de quem deve ser adorado – Nelson Bomilcar
Estamos sempre tentando cultuar o “narciso” que existe dentro de nós, o nosso ego, até porque, ele teima em
comandar nossos sonhos, aspirações, e intenções do coração. Esta é uma herança indiscutível de nossa natureza
adâmica. Natureza que busca o reconhecimento de sermos considerados pequenos deuses, objetos de culto e
admiração, sem noção de nossa finitude, do Deus Infinito a quem servimos, e da realidade do sucesso transitório
e efêmero.
Caetano em uma de suas canções mais inspiradas sobre São Paulo, lembrou-nos a presença e força de Narciso
no coração das pessoas, clamando por aceitação e reconhecimento ou determinando nossos conceitos estéticos
do belo.
No princípio do século XX o conceito de personalidade começou a circular no meio cinematográfico.
Imaginava-se que a personalidade era constituída das qualidades que caracterizavam as pessoas famosas nesse
novo ramo de entretenimento. Esses eram os “astros” que se destacavam na multidão: narcisistas obcecados por
chamar atenção para si mesmos.
A propaganda foi usada para incitar e manipular o consumo e seus bens, produção que aumentou após a
Segunda Guerra Mundial. Ela procurava ditar o que deveríamos “precisar”, “desejar”, e o que nos “tornaria
felizes”. O culto da auto-realização tornou-se um alvo terapêutico e o culto da pessoa era o caminho da
felicidade.
Estas noções impregnaram o contexto religioso e social de maneira geral. Noções de auto-importância
acentuavam conceitos fantasiosos de liderança e da arte, fantasias de sucessos, poder, brilhantismo e beleza
ilimitados, que frustram os que perseguem a realização da alma. Exibicionismo gerando falsas expectativas,
sentimento de que o mundo “lhe deve algo” e quando a pessoa não é reconhecida, sente-se inferior, humilhada,
com vergonha por não ter conseguido “vingar”.
Cria-se um ambiente favorável para a exploração interpessoal, busca-se a competição e o desejo de ver
possíveis rivais frustrados e inferiorizados, desaparecendo a empatia e a sensibilidade com os outros. Junte o
narcisismo, a propaganda e o contexto de comércio que se cria, e temos uma “equipe” nociva, destruidora e
conspiradora contra as boas motivações, valores éticos e morais, e valores do Reino de Deus.
Todos os que atuam na área da música e da adoração, principalmente artistas, autores, compositores e grupos
que deixaram registrados suas produções em CDs, DVDs, fitas, livros, etc, passam pela experiência da
exposição de sua criação, arte e pensamento em busca também de reconhecimento e aceitação. Junto com a
fome de sucesso, caminham em agenda paralela e não oficial (porém é a realidade do coração humano), pois a
resposta “oficial” e politicamente correta, se argüidos, é buscar a glória de Deus e ser uma benção para os
outros. Resposta automática e instantânea.
Mas, as tentações se apresentam sempre. Como diz o querido pastor Enéas Tognini, “elas continuam as
mesmas: a barra de ouro, a barra da saia e a coroa de glória”. Pastores e conferencistas tem vivenciado esta
experiência também, quando suas mensagens e palestras são transformadas em “produtos” para serem
comercializados. As pressões aparecem de todos os lados, dentro e fora, para serem transformados em objetos
de culto e adoração, através do sucesso ou da aceitação na mídia.
Vê-se pastores, escritores e líderes de louvor conceituados, participando em programas que pregam o que eles
mesmos não acreditam, ou que seus próprios ensinos ou cânticos delatam, mas vestidos de cara de pau e
incoerência, fazem tudo para não desprezarem a “oportunidade” de sucesso, aceitação e venderem mais. Tudo
muito triste, pois perdem credibilidade e deixam de ser referenciais. O engano da falsa unidade!
Os modelos de fora que aportaram em nossas livrarias e igrejas fomentam o reconhecimento, o culto ao ego; os
dons que devem “brilhar” e “serem promovidos”, as metas que precisam ser atingidas, e você não pode ser um
Zé Mané, discreto, sem aspiração de aparecer, que é logo descartado ou ignorado. Buscar o reconhecimento e
sucesso pode alavancar crescimento de nosso selo, gravadora, igreja, missão ou ONG e não podemos abandonar
este caminho, dizem alguns.
O Dr. James Houston, fundador do Regent College no Canadá, ensinou que “a última manobra do ego é o
cultivo do narcisismo espiritual, isto é, o uso do inconsciente da prática, para aumentar ao invés de reduzir sua
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própria importância; a busca espiritual e a coisas e práticas espirituais passa a ser um processo ou jornada
de auto-engrandecimento, ao invés de uma jornada de aprofundamento da humildade”.
Calvino e Wesley mostram que, quando não buscamos a felicidade e a glória de Deus, transformamos a vida
religiosa em auto-promoção. A pessoa acredita que Deus a escolheu especialmente para ter habilidades
excepcionais e fazer coisas especiais para Ele. O cara que começou aquele “grande ministério”, juntou tremendo
patrimônio, o homem do descarrego 110 e 220V, que luta contra os demônios B ou C, o músico que enche
estádios e aeroportos, ...é......olha o narcisista aí, gritando e precisando ser satisfeito.
Hoje, gravadoras, editoras e igrejas evangélicas copiam os modelos secularizados das gravadoras e editoras
seculares (até com competência) sem critérios, modelos de gestão em seu negócio, buscando transformar o
artista, o líder, ou a denominação na “sensação” nunca vista antes, que tem “uma unção” que ninguém nunca
teve, que não deve ter contato pessoal com os outros simples mortais cristãos apreciadores de seu trabalho,
apenas no meio da massa. Contam com nossos corações narcisistas, consumistas e sedentos de sucesso.
Vivi a experiência duma geração que fazia tudo por amor mesmo (pastores, missionários, jovens, artistas ou
não) e quanto mais desafios, melhor. Quando nos achávamos mesmo servos (inúteis, porém alegres), movidos
em servir ao Senhor pela causa que abraçamos, constrangidos pelo amor de Deus por nós, ou pelo amor às
pessoas que atingíamos com nosso ministério e com nossa música, ficávamos realizados.
Tempos em que tínhamos alegria de ter contato com o público o tempo todo e não éramos transformados em
seres impessoais, não ficávamos reclusos por orientação dos “empresários” evangélicos (não existiam ainda),
nos hotéis cinco estrelas ou spas logo após as “gloriosas apresentações”, diga-se de passagem, devidamente
pagas com cachês astronômicos.
Quer ter contato com o artista ou pregador? Lamento, tente mandar um e-mail, entre no site dele, inscreva-se no
seu “fã” clube, aguarde aquela noite de autógrafos quem sabe em sua cidade, e não se esqueça, ore por ele e
compre seu material!!! Se o trouxermos para nossa cidade para um evento, provavelmente, você não chegará
perto de tamanha “efeméride”, pois foi mitificado e se tornou objeto de adoração, alguns com segurança e tudo.
Estamos sempre tentando cultuar o “narciso” que existe dentro de nós, o nosso ego, até porque, ele teima em
comandar nossos sonhos, aspirações, e intenções do coração. Esta é uma herança indiscutível de nossa natureza
adâmica. Natureza que busca o reconhecimento de sermos considerados pequenos deuses, objetos de culto e
admiração, sem noção de nossa finitude, do Deus Infinito a quem servimos, e da realidade do sucesso transitório
e efêmero. Somente o Espírito Santo para dominar “este espírito”.
Pode parecer que não defendo o sustento digno de seus trabalhadores e dos artistas, que tem sido, diga-se de
passagem, explorados pelas próprias gravadoras e igrejas ao longo dos anos ou que acho não ser possível
mostrar a criação para os outros. Não é este o raciocínio ou intenção deste artigo.
Temos que honrar aqueles que tem procurado viver seriamente e honestamente da arte e da pregação. E para
isto devemos ter critérios e maturidade. Tenho um amigo muito chegado, grande pregador, que disse que agora
ele “só canta” e a mensagem vai “de lambuja”, para não ser humilhado após conferências e congressos vendo os
artistas ganhando “polpudos cachês” e ele, que “somente” pregou, ganhar aquela oferta vergonhosa de se dar.
Mas temos que reconhecer, na “linguagem de hoje”, Jesus teria que espantar os vendilhões do templo, das
sacadas do templo, do telhado do templo, das imediações do templo. A pergunta que não quer calar: como lidar
para que não se instale e se cultive o Narciso em nossas vidas? Quais vacinas para repelir este “vigoroso” vírus
do sucesso e autopromoção, que muitas vezes pode nos afastar do Deus que quer ser adorado e reconhecido?
Vírus solto no meio dos que estão na adoração, arte ou mesmo ministérios.
Este é o retrato: qualquer um cria ministério ou monta uma igreja, qualquer um tem CD, publica livro, fita, do
zelador ao tesoureiro da igreja, do bispo cantor ao segurança da igreja, da filha do diácono ao genro do
coordenador da escola dominical. Somos transformados em produtos agora, deixamos de ser pessoas, agora
aspirantes a adorados e reconhecidos, roubando muitas vezes o lugar Daquele que deveria ser adorado,
admirado e cultuado. Conformando-nos facilmente com isto, amoldamos a nossa consciência e ética cristã de
forma distorcida e justificamos tudo e a todos. Temos que resistir! Deus nos ajude!
http://www.provoice.com.br/artigos-nb/nb12-artista.htm. Acesso em: 14/02/2005.
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Louvando com o coração ... e com a mente! – Arthur W. Dück
A música é uma das partes mais importantes no culto a Deus. Mas como devemos usar a música na igreja? A
Bíblia apresenta alguns princípios para orientação: “deixem-se encher pelo Espírito, falando entre si com
salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao Senhor” (Ef 5.18-19); “Habite
ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e
cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração” (Col 3.16). No NT a música
deixou de ser o trabalho de sacerdotes profissionais para envolver toda a congregação visando a edificação (1
Co 14.26). A música não serve apenas para o êxtase espiritual e louvor a Deus, mas também contempla a
dimensão horizontal: instrução e aconselhamento (Col 3.16); falando entre vós com salmos, ... (Ef 5.19). Além
de louvar a Deus, a música tem uma função fortemente ligada ao ensino. Cristãos cheios do Espírito têm prazer
em cantar louvores a Deus porque isso não é algo que simplesmente vem dos lábios, mas do coração. São
cânticos espirituais, pois são inspirados pelo Espírito. Tanto o falar (instruir e aconselhar) como o cantar
envolve os salmos, hinos e cânticos espirituais. Isso mostra que o nosso louvor cantado precisa ser tanto
emocional como racional: “cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento” (1 Co 14.15). A
música toca profundamente os nossos sentimentos, mas não deve excluir o racional. Hoje, por causa da cultura
atual tendemos para o lado emocional. As pessoas querem “sentir” a presença de Deus, mas dificilmente
prestam atenção no que cantam.
1. Cantamos muitos textos do AT que refletem uma teologia que já recebeu um “upgrade” de Jesus. Cantamos
que queremos adorar a Deus no santo lugar, no santo monte, etc., que se refere ao templo de Jerusalém, o
local próprio para adorar a Deus no AT. Mas Jesus diz que a nossa adoração deve ser contínua e não se
restringir à igreja. Não temos uma passagem sequer no NT ensinando que o povo de Deus deva se reunir
para adorar a Deus, o que infelizmente é repetido semanalmente nas igrejas. Não há dúvida que o elemento
coletivo de nosso louvor é importante. Este ocorre quando o povo de Deus se ajunta, mas a igreja não se
reúne para adorar a Deus, e sim, para a edificação mútua e o crescimento espiritual (Ef 4). A música pode e
deve cumprir essas funções;
2. Usamos um linguajar litúrgico cujo significado foge da maioria das pessoas que freqüentam a igreja, sem
mencionar os visitantes. Cantamos que Jesus é o leão de tribo de Judá, que seus cabelos são brancos como a
neve, etc., sem ter a mínima noção do que significa;
3. A música se restringe a poucos temas encolhendo a nossa teologia. Os Salmos mostram que todas as esferas
da vida podem e devem ser levadas a Deus. Hoje a música tende a se restringir a assuntos como louvor,
adoração, e linguagem de amor romântico entre o crente e Jesus. Nisso esquecemos que adoração envolve o
reconhecimento da santidade de Deus, da nossa pecaminosidade e a disposição para servi-lo como escravo.
Assim criamos uma música “escapista”, uma catarse emocional que nos “toca”, mas que não nos leva a
amar a Deus mais profundamente (mostrada em nosso estilo de vida). Tiago nos diz que a fé sem obras é
morta. Uma adoração que não leva a uma mudança de atitude em relação a Deus e ao nosso pecado, nem
nos move a ações concretas de serviço a Deus e aos necessitados, é morta, ou seja, diante de Deus é
totalmente inútil. Na verdade ainda é prejudicial porque nos ilude – pensamos que agradamos a Deus com
ela. Mas, freqüentemente ouvimos: “as pessoas gostam que seja assim”. Jesus nos alertou que precisamos
estar alerta quando todos nos elogiam (Lc 6.26). A função da música na igreja é muito mais do que “entreter
a galera” e “criar o clima”. Trata-se de nos conscientizar da presença santa de Deus que gera temor nos
pecadores e os leva a obediência (Is 6.1-8; Rom 12.1-2). Se isso não for emocional e racional não vamos a
lugar algum.
Os músicos na igreja precisam de treinamento musical e teológico. Com a conquista de um espaço cada vez
maior acabam ensinando mais que os pastores. A teologia da igreja tende a ser determinada pelas músicas que
cantamos. Se não treinarmos os nossos músicos, eles acabam “treinando” a igreja. Na verdade, eles “treinam” a
igreja, resta saber como ...
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Confusão na Adoração - retrato de nossa época – Nelson Bomilcar
O que poderia ser motivo de unidade, hoje nos afasta. O que poderia ser um caminho de aliança, hoje faz
romper; o que poderia ser motivo de edificação, faz ruir; o que poderia ser caminho de testemunho, impede
incrédulos de enxergar e conhecer o cerne do evangelho! O que poderia exaltar a pessoa de Jesus, exalta
pessoas, ministérios e “pequenos reinos”. Adoração confusa marca nossa época presente, refletindo a falta de
ensino bíblico e interpretações estranhas das Escrituras!
Algumas décadas atrás, a igreja brasileira sofreu algumas divisões provocadas por entendimentos diferentes
quanto à doutrina do Espírito Santo e a adoração. Na adoração e louvor, as divisões quase todas se deram por
uma análise das “posturas externas”. Uns levantavam a mão, outros não, uns diziam aleluia, outros não, uns
batiam palmas, outros não, uns dançavam, outros não, uns falavam em línguas, outros não, uns eram informais
nos cultos públicos, outros não, etc.
Nossa adoração pública era influenciada por movimentos musicais que refletiam situações específicas vividas
por algumas pessoas ou algumas igrejas em seus países de origem. Recebemos heranças que, não há como
negar, os missionários trouxeram para a igreja brasileira, e muito foi absorvido sem questionamento ou uma
análise mais profunda. Por exemplo, dizia-se que não se podia usar música popular nos cânticos e hinos, e não
nos dávamos conta que nossos hinários estavam repletos de músicas populares acrescidas com letras de temática
bíblica ou cristã.
Tivemos a influencia de Ralph Carmichael, Otis Schillings, Salomão Ginsburg, Kurt Kaiser, Beverly Shea (das
cruzadas de Billy Graham), do ministério Maranatha Music, das cantatas de Peterson, etc. Em seu pano de
fundo, refletiam momentos com ênfases doutrinárias vividas pela igreja na América do Norte. A igreja
brasileira, ainda sem uma identidade na adoração, simplesmente absorvia estes modelos e produções, muitas
delas de excelente qualidade musical e teológica, outras nem tanto.
Fomos nos tornando mais rebuscados na adoração e em nossas manifestações artísticas, ao mesmo tempo em
que se confundia adoração somente com música. A igreja estava desmobilizada para a adoração pessoal e
comunitária, vivia-se de apresentações musicais onde as pessoas “assistiam” os chamados “serviços de culto”.
A tentação de copiar modelos era grande, a busca por novidades era intensa e não tínhamos muitos mentores
que pudessem ajudar a igreja brasileira a crescer nesta compreensão da adoração.
Por isso que trabalhos como o do Pr. João Souza Filho, Gottfriedson, Asaph Borba (na época na Seara Latina
Evangelística), Jairinho e Paulo César (na época na Palavra da Vida), Vencedores por Cristo, tornaram-se
referenciais para muitos. E graças a Deus, bons referenciais. Fomos abençoados por eles.
A busca por modelos e novidades que vêm de fora continua como característica da igreja brasileira nestes dias.
Uma geração mais enfraquecida em sua compreensão bíblica, pois quase desapareceram os mestres e pastores
que pregam a Bíblia expositivamente, preocupados e cuidadosos em ensinar o que ela diz, considerando as
linguas originais, contexto, regras básicas de interpretação bíblica, etc. Conseqüentemente, o povo está menos
habilitado a discernir e avaliar o que estamos ouvindo e vendo, fazendo o filtro fundamental de “reter o que é
bom”.
Infelizmente, em nossa geração consumista, instantânea e internética, que cultua a “imagem”, que “clama”
novidades o tempo todo (Ron Kenoly e Graham Kendrick já são vistos como ultrapassados, imaginem só!), não
buscamos os caminhos de simplicidade na adoração conforme ensinado por Jesus. Ele que nunca se iludiu ou se
iludirá com manifestações e aparências externas na forma de religiosidade (Isaías 1) ou de eventos
megalomaníacos para a mídia.
O lugar esquecido da adoração, continua sendo o coração do homem, quebrantado, humilde e que reconhece a
necessidade existencial e espiritual de conhecer, se entregar e andar com Cristo Jesus para de fato poder adorar
a Deus (João 4.20-28). Enquanto isso, trabalhos musicais aportam numa velocidade incrível em nosso país,
disseminando e despejando suas idéias e convicções sobre adoração, algumas bem pontuais, circunstanciais, e
baseados na experiência ou revelações recebidas, de uma ou duas pessoas.
Tenho participado de um número enorme de encontros, retiros e congressos, onde, em nome de “contribuir”
para a visão da igreja brasileira, colocam-se pessoas de todas as tendências, estilos e pensamentos diferentes,
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para que, como num grande supermercado, escolhamos a linha ou visão a seguir. A idéia é: “consuma o que
desejar e for pertinente para a sua realidade”. Quase no slogan do comercial conhecido em nosso país
“experimenta, experimenta, experimenta”.....
Ao contrário de maturidade, abertura de mente e humildade, isto reflete nossa insegurança e imaturidade em não
balizar caminhos saudáveis para a adoração através do que a Bíblia realmente ensina, isto é, numa exegese
mínima aceitável.
Demonstra também uma grande fragilidade dos chamados líderes de adoração (termo que precisa também ser
definido e explicado), que não ajudam as pessoas a discernir o que é bíblico e pertinente para a adoração. Falta-
nos coragem de dizer o que cremos ou pensamos de fato e alertar sobre enganos que temos visto.
Em nome de uma “unidade cosmética”, refletida em muitos palcos, ficamos em nossos cantos, vendo proliferar
idéias e manifestações perigosas; algumas altamente manipulativas e humanizadas, e não colocamos a cara para
bater falando, exortando e alertando dos perigos que alienam as pessoas de uma adoração que deve estar
presente na vida, no cotidiano, no dia a dia, no silêncio, nos relacionamentos, onde ninguém vê ou está olhando,
sem rádio e TV .
Percebemos uma igreja que é altamente desmobilizada, por exemplo, na prática da ação social e ministério do
socorro, adoração prática recomendada por Tiago (Tg 1.27). Onde estão as “reuniões poderosas de adoração”
no serviço em favelas, hospitais, cuidando dos meninos e homens de rua, na evangelização e obra de missões,
que transformam pessoas e realidades sociais? Onde está a adoração que abraça causas humanas e de justiça?
Isto não passa nem de perto na compreensão de vários ministérios e líderes de adoração que caminham em
nosso país.
Ouve-se sobre adoração profética, sem se definir o que significa adoração e o que se quer dizer com profético.
Como se ouve tanta coisa sobre isto, e mal explicado, quase como um jargão, a confusão se instala. Usam-se de
forma inadequada o termo profético e a palavra profecia.
O retorno ao louvor hebraico como pré-requisito na adoração,“parece” o caminho mais seguro ou divino, mas é
um engano; busca-se então, um modelo de louvor chamado extravagante (precisamos buscar as bases bíblicas
sobre o que é isto), Outro caminho trilhado tem sido a chamada “adoração no e do “mover” (quem conseguiu
mapear a ação do Espírito que sopra onde quer, ninguém sabe de onde ele vem e nem para onde vai?). Outras
ênfases sobre “posturas” do adorador tem sido veiculadas, quase como mudança de hábitos ou comportamento,
e não de transformação interna e pessoal, etc.
O Pai continua a procura dos que o adorem em espírito e em verdade. Como igreja, precisamos sempre do
ensino e compreensão bíblica sobre adoração; o caminho está aberto para os mestres, pastores, e os que
ministram louvor em nosso país que tem seus ministérios reconhecidos. As pessoas estão olhando para estes
referenciais, e, portanto, temos que ser mais prudentes.
Esclarecer e não confundir, ajudar as pessoas comuns a encontrar e adorar a Jesus na singeleza e simplicidade
da vida, na meditação, na oração, na comunhão, na missão, na contemplação, e não em ritos mágicos, em
oráculos e modelos decifrados por alguns especialistas e privilegiados dos “mistérios” da adoração.
Há uma grande responsabilidade sobre os que ensinam em ajudar a igreja brasileira a entender, expressar e viver
a adoração em todas as suas dimensões. A capacitação sem dúvida é do Espírito Santo.Temos boas influências
que vêm de fora de nosso país, cabe-nos orar, ouvir, discernir com sabedoria e mútuo conselho, e reter o que é
bom, segundo a revelação da Palavra de Deus.
http://www.provoice.com.br/artigos-nb/nb9-probl.htm. Acesso em 02/04/2008.
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Parei de ouvir música cristã – Mark Carpenter
Há dois anos escrevi neste espaço que lamento o estado da música cristã. Percebi agora que simplesmente parei
de ouvi-la. Acabo de verificar o que tenho armazenado no WMP. Não há nada de “música cristã”, a não ser as
gravações de cinco artistas que mal cabem no gênero: John Coltrane, Sufjan Stevens, U2, Leigh Nash e a
extinta Sixpence None the Richer. Parei de comprar CD’s do gênero após acumular uma longa lista de
decepções.
Cabe aqui uma definição. Por “música cristã”, me refiro à categoria criada pelas gravadoras que produzem
música popular para consumo pelo público “gospel”. “Música cristã” não é bem um gênero musical, pois o que
existe é um mix retalhado de músicas que emprestam de gêneros legítimos.
Não incluo na minha definição a música usada na igreja para o louvor coletivo. Música de canto congregacional
independe de padrões musicais usados na avaliação de desempenho performático e na análise crítica da letra
como poesia. O gênero conhecido como worship music tem como foco direcionar a atenção para as virtudes e as
promessas de Deus, de forma que a qualidade de música em si passa a ser menos importante que seu aspecto
pragmático no culto de adoração. Neste gênero específico, os critérios de avaliação resumem-se à (1) ortodoxia
teológica da letra, (2) capacidade de envolver a participação da congregação e (3) qualidade técnica da
execução pelo ministro de louvor, pelos instrumentistas e pelo backing vocal. Ou seja, worship music tem muito
mais a ver com worship do que com music. Não minimizo a importância deste gênero, pois a própria Bíblia
valoriza o louvor coletivo.
Meu lamento, então, reflete apenas a paupérie artística de muita música produzida para consumo cristão fora da
igreja. É como se a indústria cristã tivesse determinado que o que vale é o conteúdo da letra: desde que ela
contenha certos chavões, frases ou narrativas evangelísticas — além de um estilo bacana apreciado pelo
mercado alvo —, é desnecessária a busca da verdadeira expressão artística. Basta o “suficiente”. Acaba tendo
mais em comum com propaganda que com arte. Para fazer um jingle, não precisa chamar Caetano. Qualquer
Emmerson Nogueira serve.
Percebo que há muita gente talentosa nas bandas das igrejas, pessoas realmente apaixonadas pela música e
dispostas a sacrificarem para melhorar. Mas muitos são vencidos pela baixa expectativa da maioria, pelo padrão
acomodativo e pelo ambiente em que o verdadeiramente excelente é visto com desconfiança. O desafio para
aqueles músicos que realmente desejam a arte é aprenderem a fazer benchmarking pessoal com os melhores, e
colocarem o seu talento a serviço do reino de Deus, e não apenas a serviço das gravadoras evangélicas.
Isto não significa que já não existam cristãos fazendo boa música. Mas, por ironia, usualmente os músicos que
levam a sério tanto seu cristianismo quanto a qualidade musical são aqueles que rejeitam o rótulo “música
cristã” para assim distanciarem-se da média medíocre. São esses que revitalizam na música o espírito criativo,
que reflete a beleza e a verdade de Deus.
Parei de ouvir música cristã e comecei a buscar mais a boa música, inclusive aquela composta e executada por
cristãos.
http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=1995&secMestre=2078&sec=2096&num_edicao=310&palavra=m
usica. Acesso em 02/04/2008.
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Culto transformado em show
Os israelitas leram o Livro da Lei do Senhor durante três horas, e passaram outras três horas confessando os
seus pecados e adorando o Senhor (Ne 9.3).
Não é apenas a mídia que está usando a palavra show para se referir a alguns cultos. Nós mesmos usamos esse
termo em nosso meio. Uma de nossas revistas chama-se Show da Fé. As missas celebradas pelo padre Marcelo
Rossi são usualmente denominadas de “showmissas”.
As palavras culto e show não combinam, a não ser que lhes demos significados modernos. O dicionário Aurélio
define show como “um espetáculo de teatro, rádio, televisão etc., geralmente de grande montagem, que se
destina à diversão, e com a atuação de vários artistas de larga popularidade, ou às vezes de um só”. Ora, nessa
definição, nada combina com o significado de culto, que o mesmo dicionarista diz ser “adoração ou homenagem
à divindade em qualquer de suas formas, e em qualquer religião”. “A igreja existe, não para oferecer
entretenimento, encorajar vulnerabilidade, melhorar auto-estima ou facilitar amizades, mas para adorar a Deus.
Se falharmos nisso”, conclui Philip Yancey, “a igreja fracassa” (Igreja: Por Que me Importar, p. 25).
Outro dia, Silas Tostes, um dos organizadores do 4º Congresso Brasileiro de Missões, mostrou-se inseguro
quanto ao número de participantes, por ser um congresso de missões e não um show de música gospel.
De fato, em muitas igrejas, o tempo destinado à exposição da Palavra é cada vez menor e o tempo reservado aos
cânticos é cada vez maior. Em alguns cultos já não há lugar para o antigo sermão, nem para algum substituto
dele. Assim como há geléia light, maionese light e pão light, temos o culto light (leve, ligeiro, alegre, jocoso
etc.). Embora a música de adoração seja de suma importância e de fundamento bíblico (basta recordar o
desempenho dos cantores e instrumentistas levitas), o papel da música religiosa hoje em dia não implica,
obrigatoriamente, uma elevação da qualidade dos adoradores e do culto. A decadência do culto transformado
em show leva obrigatoriamente a outros absurdos: certo “levita” explicou que o ministro de música (no caso, o
tal artista de larga popularidade, da definição do Aurélio) “deve andar de carro novo e vestir-se elegantemente
porque, afinal de contas, tem a responsabilidade de conduzir o povo ao trono de Deus em adoração”.
Por ocasião do avivamento acontecido em Jerusalém sob a liderança de Esdras e Neemias, logo após o retorno
dos exilados, gastavam-se três horas para a leitura da Lei do Senhor e mais três horas para a confissão de
pecados e adoração (Ne 9.1-5).
http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=950&secMestre=1012&sec=1013&num_edicao=295&palavra=mu
sica. Acesso em 02/04/2008.
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Adoração de entretenimento? – Carlos Sider
...quando usamos a letra de nossa música para algo além de entreter, revelamos aspectos da vida que temos com
Deus, descrevemos como Ele nos ajudou a vencer desafios, vales e abismos, e como ajustou e tem ajustado
nossa vida. São letras assinadas, que pressupõem o compromisso que existe entre o autor e Deus. E que, para
serem cantadas de forma atenta, também pressupõem o mesmo compromisso por parte de quem as canta.
Não estou pretendendo aqui eliminar a música de nossas vidas e ministérios. Mas proponho um ‘basta’ a esta
cultura consumista de compor e cantar músicas para animar baile de crente. Um ‘basta’ à ‘adoração de
entretenimento’!
”Não se esqueça , meu irmão! Adoração é vida, não música! Deus se agrada do que somos diante Dele.
Louvemos portanto com nossa vida, não apenas com nossos lábios e nossas canções”
Tudo absolutamente certo com esta frase. Nada tão bíblico. É uma das frases mais repetidas pelos dirigentes de
louvor, ministros de adoração, ministros de música, regentes, etc. Ela volta agora à minha mente após te-la
ouvido alguns domingos atrás da boca de um pastor que milita na área de música & adoração.
Tudo muito bom. Mas comecei a me questionar (não só a ele, mas a mim também, pois afinal também milito na
mesma área...)
Será que nossas atitudes confirmam este conceito? Será que nós temos sido coerentes com esta frase? Será que
nós, que dirigimos os períodos de louvor congregacional em nossas comunidades, que compomos, produzimos
e publicamos canções para uso nas igrejas de nosso país, não a negamos por praticarmos uma inversão de
prioridades no nosso dia a dia?
Veja comigo se esta ‘auto-crítica’ não nos cabe...
Se adoração é vida e não música, por que a área de adoração em nossas igrejas é sempre coordenada por alguém
que saiba música, que cante bem, que toque algum instrumento? Adoração não deveria ser uma prioridade de
toda a igreja, e de sua liderança como um todo? Será que esta atitude não afirma o contrário do que falamos?
Que adorar é cantar?
Se o que mais importa é a vida que temos diante de Deus, quais tem sido nossas prioridades efetivas? Discipular
pessoas ou ensaiar nossos grupos? Onde gastamos mais tempo? Com o que nos preocupamos? Ora, escrevo este
artigo enquanto deveria estar enviando a liturgia do próximo domingo via e-mail para sei lá quem! Que deveria
estar ligando para fulano e beltrano para marcar o ensaio!
Quanto tempo temos gasto com a vida das pessoas que conosco trabalham no ministério? Quanto tempo temos
gasto orando pela reunião do próximo domingo? Pelas pessoas que lá estarão? Vejo por mim mesmo e
confirmo: tenho gasto um tempo muito menor do que o tanto que gasto ensaiando, escrevendo cifras ou
partituras, fazendo reuniões de planejamento, preparando transparências e data-shows...
Por que ficamos felizes quando a congregação participa, canta alto, se emociona, bate palmas e até dança
durante o período de louvor? Por que não estamos ‘muito aí’ em saber se a vida deles anda bem ou anda mal?
O que dizem nossos atos, não nossas palavras? O que diriam as pessoas ‘francas’ se perguntadas sobre nossa
prioridade ministerial? Tenho receio de que digam: ‘ah, o cara é músico’.
Sigamos um pouco mais adiante...
Outro dia assistí e participei de uma conversa informal entre músicos, produtores e gente de estúdio.
Analisávamos o repertório de um certo CD recém-lançado, dizendo que ‘não deveria vender muito, pois não
continha muitas músicas comerciais’. E a conversa seguiu: ‘esse negócio de fazer música com letra
complicada, densa, de conteúdo... é legal, mas não paga a conta... melhor mesmo é fazer como os caras da - - -
- - -, que escolhem músicas com uma levada legal, e com letras que ninguém discute, tipo, Deus é santo, é
tremendo, Te entronizamos, Te louvamos, Te amamos...’
Bom, sai da conversa com a orelha pegando fogo, pois o tal CD analisado e ‘condenado’ era um que eu havia
gravado.
Mas sigo perguntando? Por que fazer música com letra densa, de conteúdo, que ‘incomode’ um pouco não dá
popularidade? Por que é melhor fazer música ‘genérica’? Por que ‘o mercado’ prefere músicas de cuja letra
sempre se diz: ‘onde que já ouvi isso antes?’
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Será que as letras que confrontam, as letras que ‘incomodam’, as letras que não são necessariamente
‘transbordantes de conceitos vitoriosos’ não são aquelas que nos lembram que nossa vida é o que importa, não a
nossa música? Não são estas as letras que só podem ser cantadas por alguém que entende e vive com o Deus
verdadeiro retratado nelas?
Será que as letras ‘genéricas’, as que falam que Deus é legal, que Deus é dez, que Ele é santo, tremendo,
altíssimo, etc, não são aquelas que podem ser cantadas por qualquer pessoa, mesmo aquela que pouco ou nada
conhece a Deus?
Permita-me aqui reforçar este conceito aqui com um exemplo talvez até estúpido, mas claro. Imagine que você
é um cantor profissional e eu um produtor de comerciais e audio-visuais. Eu lhe chamo para um trabalho e lhe
dou duas músicas para cantar: a primeira tem uma letra que retrata a beleza do lago Titicaca, nos Andes
peruanos; descreve o ar rarefeito e puro, a cor do céu e seu reflexo na água, etc, e será usada cono trilha sonora
em um documentário sobre o Perú. A segunda tem uma letra ácida, em forte tom de crítica ao atual governo,
citando nomes e cobrando posicionamentos; será usada em uma campanha política de um candidato da
oposição. Nas duas não só o seu nome será associado, mas sua imagem também.
Você concorda que o primeiro trabalho é bem mais fácil? Você concorda que o primeiro exige muito menos
(talvez quase nenhum) compromisso? Você concorda que o segundo pode gerar envolvimentos talvez
‘politicamente incorretos’?
Quando cantamos letras ‘genéricas’ sobre Deus, assemelhamo-nos ao primeiro caso. Falamos Dele mas não do
nosso compromisso com Ele. Mas quando cantamos coisas mais densas, de maior conteúdo, retratamos a vida
que temos com Ele. Isso nos expõe, nos revela, nos faz sair da trincheira.
E quanto a nós, compositores? Quando compomos música com letra ‘genérica’, o que fazemos? Convidamos
qualquer um a cantar... Quem tem compromisso com Deus canta, louva e adora. Quem não tem, até canta... até
se emociona... até chora e bate palmas...
Mas quando usamos a letra de nossa música para algo além de entreter, revelamos aspectos da vida que temos
com Deus, descrevemos como Ele nos ajudou a vencer desafios, vales e abismos, e como ajustou e tem ajustado
nossa vida. São letras assinadas, que pressupõem o compromisso que existe entre o autor e Deus. E que, para
serem cantadas de forma atenta, também pressupõem o mesmo compromisso por parte de quem as canta.
Não estou pretendendo aqui eliminar a música de nossas vidas e ministérios. Seria de minha parte um total
contrasenso, pois música é a linguagem que Deus me deu para usar. Mas proponho um ‘basta’ a esta cultura
consumista de compor e cantar músicas para animar baile de crente. Um ‘basta’ à ‘adoração de entretenimento’.
Que a música seja ferramenta mas não um ídolo. Prestar excessiva atenção à música, à excelência, nos tira o
foco da verdadeira adoração.
Que nossas canções falem do que e como vivemos, e que sejam úteis. Que fujam do esquema ‘enredo de escola
de samba’, onde o tema é algo histórico, distante, desconhecido; pois nos carnavais vale mais a festa, nem tanto
o conteúdo.
Que a nossa adoração não seja vendida como um show de fim de semana, mas que pratiquemos a adoração
verdadeira, bíblica, de segunda a sexta.
Adoração. Que busquemos e pratiquemos a verdadeira, a bíblica. Não a de entretenimento.