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PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO

Princípios e regras

• Regras – prescrevem condutas de maneira direta, concreta. Eventual conflito entre regras se
resolve através da necessária exclusão de uma em favor da outra (lei posterior revoga lei
anterior; lei especial revoga lei geral);

• Princípios – prescrevem condutas com elevado grau de abstração. O princípio não oferece
uma resposta imediata sobre quais condutas são permitidas ou proibidas sendo necessário
desenvolver o seu conteúdo. Esta tarefa pode ser exercida pelo legislador ou pelo Poder
Judiciário. Os princípios servem de fundamento para a elaboração das regras. Eventual conflito
deve ser solucionado através de harmonização, ponderação.

Princípio da supremacia do interesse público sobre o privado

• Determina a prevalência dos interesses coletivos sobre os interesses individuais quando


estes colidirem.

Conceito de Interesse Público

“O somatório de interesses individuais coincidentes em torno de um bem da vida que lhes


significa um valor, proveito ou utilidade de ordem moral ou material, que cada pessoa deseja
adquirir, conservar ou manter em sua própria esfera de valores e que passa a ser público quando
dele participa e compartilha um tal número de pessoas que o mesmo passa a ser identificado
como um querer valorativo predominante da comunidade.” (BORGES, Allice Gonzales:
Supremacia do Interesse Público: Desconstrução ou Reconstrução? Disponível em
http://www.direitopublico.com.br/pdf_seguro/Supremacia%20do%2
0Interesse%20P%C3%BAblico%20%20%20Alice%20Gonzalez%20Borg es.pdf)

Interesse Público enquanto dimensão coletiva dos interesses individuais

• Para Celso Antônio Bandeira de Mello não existe um antagonismo absoluto entre interesse
público e interesses privados. Se é certo que um interesse público poderá contradizer o interesse
privado de um ou de alguns indivíduos não é possível que exista um interesse público que
contrarie o interesse de cada um dos membros da sociedade. Há uma relação profunda entre o
interesse público e os interesses individuais.

• O interesse público segundo o autor nada mais é do que a dimensão pública dos interesses
individuais, ou seja, dos interesses de cada indivíduo enquanto membros da sociedade. • Exs:
pessoalmente um indivíduo não tem interesse em ser desapropriado ou em ser multado, mas
não pode ter interesse em que não exista o instituto da desapropriação ou a previsão de multas.
• O interesse público é uma faceta dos interesses dos indivíduos: aquela que se manifesta
quando estes se apresentam como membros de uma determinada coletividade. • É do
ordenamento jurídico (Constituição e leis) que se extrai o conteúdo do interesse público e quais
os interesses públicos a proteger. A qualificação de determinado interesse como público é
promovida pela Constituição e, a partir dela, pelo Estado, primeiramente através dos órgãos
legislativos, e depois por via dos órgãos administrativos, nos casos e limites da
discricionariedade que a lei lhes haja conferido.

INTERESSE PÚBLICO – CONCEITO JURÍDICO INDETERMINADO


• A expressão “interesse público” possui conteúdo e extensão vagos, fluídos, imprecisos. Seu
conteúdo específico deverá ser preenchido pelo legislador no momento de elaboração da lei e
pela Administração Pública no momento de sua aplicação:

• Constituição Federal – Art. 5°, XXIV - XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e
prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;

Decreto-lei 3.365/1941 Art. 1 o A desapropriação por utilidade pública regular-se-á por esta lei,
em todo o território nacional. Art. 5 o Consideram-se casos de utilidade pública: a) a segurança
nacional; b) a defesa do Estado; c) o socorro público em caso de calamidade; d) a salubridade
pública; e) a criação e melhoramento de centros de população, seu abastecimento regular de
meios de subsistência; f) o aproveitamento industrial das minas e das jazidas minerais, das águas
e da energia hidráulica; g) a assistência pública, as obras de higiene e decoração, casas de saude,
clínicas, estações de clima e fontes medicinais; h) a exploração ou a conservação dos serviços
públicos;

Lei n° 8.666/93

Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de interesse


público devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintes normas:
I - quando imóveis, dependerá de autorização legislativa para órgãos da administração direta e
entidades autárquicas e fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades paraestatais,
dependerá de avaliação prévia e de licitação na modalidade de concorrência, dispensada esta
nos seguintes casos: (...)

Críticas doutrinárias ao princípio da supremacia do interesse público

• A afirmação da supremacia do interesse público sobre os interesses privados pode justificar a


adoção de práticas autoritárias pelo Estado;

• A CF não prevê expressamente a existência do princípio;

• A fluidez do conceito impede que seja definido com precisão;

• A ideia de supremacia, de preponderância não é compatível com a própria natureza dos


princípios jurídicos;

• Por fim, a CF prevê uma série de direitos e garantias fundamentais do indivíduo em face do
Estado. Haveria, portanto, uma supremacia dos direitos fundamentais ou da dignidade da
pessoa humana e não do interesse público. Ex: Art. 5°, XI, XII (inviolabilidade do domicílio e sigilo
da correspondência). Assim, a regra seria a supremacia do direito fundamental só ocorrendo a
supremacia do interesse público em caráter excepcional quando assim admitido. Ex: Art. 5°,
XXIV.

Em resposta a estas críticas os defensores da existência do princípio argumentam que quando a


Constituição protege direitos e garantias individuais não o faz exclusivamente na proteção do
indivíduo, mas sim visando a proteção da sociedade em geral. Além disso, alegam que sem o
reconhecimento da supremacia do interesse público restariam inviabilizadas uma série de
prerrogativas estatais necessárias ao regular funcionamento da sociedade (fiscalizações,
aplicação de sanções, intervenção na propriedade).

Interesse público primário X Interesse público secundário


O primeiro corresponde ao interesse da coletividade não pertencente ao Estado que tem apenas
o papel de promovê-lo.

Já os segundos são interesses próprios do Estado que ele titulariza pelo simples fato de ser uma
pessoa jurídica como as demais existentes na sociedade. São também denominados interesses
privados do Estado.

Estes interesses, entretanto, só podem ser perseguidos quando não contradizerem os interesses
públicos primários. Ex: embora possa cobrar tributos o Estado não pode fazê-lo de forma
desmesurada a fim de aumentar seu patrimônio; não pode pagar valores ínfimos aos seus
servidores visando à economia de recursos com o que prejudicaria o desempenho de suas
atribuições.

Princípio da indisponibilidade do interesse público

Conforme ressaltado a Administração Pública não é a detentora do interesse público primário,


mas sim a coletividade. À Administração compete tão somente proteger, tutelar este interesse.
Sendo assim, não pode dispor deste interesse deixando de exercer as competências que lhe são
atribuídas pelo ordenamento jurídico para esta finalidade.

O ordenamento jurídico confere uma série de poderes à Administração Pública. Todavia, tais
poderes são instrumentais ao cumprimento das finalidades previamente delineadas pela
Constituição Federal e pelas leis. Por esta razão, na lição de Celso Antônio Bandeira de Mello é
correto falar-se em “deveres-poderes” da Administração Pública já que na medida em que lhe
foram conferidos apenas para atingir fins públicos não podem deixar de serem manejados
quando verificada a situação que requer sua utilização.

Exemplos: regra geral, a Fazenda Pública não pode deixar de cobrar os tributos devidos; um
fiscal do IBAMA não pode deixar de aplicar uma multa caso constate uma infração ambiental; o
superior hierárquico não pode deixar de investigar as condutas irregulares de seus
subordinados.

Enquanto o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado constitui fundamento


para as prerrogativas conferidas ao Estado o princípio da indisponibilidade do interesse público
representa a justificativa para as sujeições que são impostas à Administração Pública.

Princípios constitucionais implícitos

Ambos os princípios (supremacia e indisponibilidade do interesse público) são considerados


princípios constitucionais implícitos da Administração Pública uma vez que o texto
constitucional não lhes faz menção expressa. Porém, a partir da leitura de determinados
dispositivos constitucionais é possível concluir pela sua existência (Art. 5°, XXIV, XXV; Art. 37,
XXI).

Legislação infraconstitucional

Já nas normas infraconstitucionais é possível encontrar menção expressa aos referidos


princípios, especialmente no art. 2°, na Lei n° 9.784/99:

Art. 2 o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade,


finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou
competências, salvo autorização em lei.

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