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TCC Valéria Pereira Soares
TCC Valéria Pereira Soares
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
ENGENHARIA QUÍMICA
João Pessoa - PB
2020
Valéria Pereira Soares
JOÃO PESSOA - PB
2020
COSMÉTICOS NATURAIS E ORGÂNICOS:
UMA OPÇÃO DE INOVAÇÃO SUSTENTÁVEL
Banca Examinadora
Agradeço a Deus primeiramente por ter me proporcionado viver essa experiência e por
ter me dado forças em todos os momentos.
Minha eterna gratidão aos meus pais, Valdimeire e Carlos, à minha irmã Camilla, por
todo apoio desde o começo.
Agradeço aos meus professores do CT em especial ao meu orientador Gênaro Zenaide
Clericuzi por todo apoio e ensinamentos.
Carinho enorme e extrema gratidão as minhas amigas Alany, Elen, Lívia, Giulia e Iza
por toda troca de conhecimentos, amizade, parceria e crescimento.
E não menos importante, gratidão à UFPB por ter me proporcionado viver experiências
enriquecedoras e que me moldaram como pessoa e profissional.
Resumo
The challenge of research is to build ideas about the production and consumption of
natural and organic cosmetics based on the following question "can natural cosmetics be used
as a device to think about a more responsible ecological conscience?". The methodology used
to carry out this study was of a qualitative nature based on the exploratory method, in a
bibliographic survey published on the internet. We sought to combine knowledge in relation to
natural and organic cosmetology with the benefits that they have to offer to the environment.
The results found in general, were sufficient to work the question that generates the research,
making possible the approach of a more ecological environmental awareness through the
problematization of the use of industrial cosmetics. From the information collected, it was
possible to verify that the awareness of this theme by both organizations and people is the key
to the beginning of a new behavior capable of positioning society on a sustainable path for its
future.
MO Microrganismos
UE União Europeia
Tabela 1 – Descrição dos Produtos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC) ... 21
Tabela 2 – Definição de produtos cosméticos de acordo com o IBD....................................... 22
Tabela 3 – Definição de produtos cosméticos de acordo com a Ecocert ................................. 23
Tabela 4 – Requisitos gerais da Ecocert e IBD para cosméticos naturais e orgânicos............. 28
Tabela 5 – Conservantes permitidos pela Ecocert e IBD em ingredientes e produtos acabados
.................................................................................................................................................. 30
Tabela 6 – Processos permitidos e proibidos de acordo com a Ecocert ................................... 31
Tabela 7 – Processos permitidos e proibidos de acordo com o IBD ........................................ 32
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 14
1.2 Justificativa................................................................................................................. 15
2 OBJETIVOS ................................................................................................................ 15
4.4 Definição das matérias primas para cosméticos naturais e orgânicos .................. 27
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 43
14
1 INTRODUÇÃO
1.2 Justificativa
2 OBJETIVOS
4 REFERENCIAL TEÓRICO
O perfil de consumo dos brasileiros tem se tornado cada vez mais complexo, pois eles
estão mais sustentáveis; 30% observam os ingredientes que compõe o produto e 58% não
compram de empresas que testam em animais (ABIHPEC, 2019).
Conhecidas mundialmente como vaidosas, as brasileiras também têm buscado por uma
beleza mais naturalista (ABIHPEC, 2018) e as empresas que se preocupam em atender as
demandas deste mercado ganham a preferência, principalmente das mais jovens, (ANGUS,
2019) por isso, elas vêm segmentando cada vez mais para atender a demanda de todos os
públicos (ABIHPEC, 2019), pois sabe-se que o consumidor tem buscado por produtos que
proporcionem maior sensação de bem estar, que não causem danos à saúde, nem ao meio
ambiente, tenham um bom custo benefício, não prejudiquem os animais, dentre outros atributos
(ANGUS, 2019).
Muito se discute também em torno de algumas classes de matérias primas utilizadas nas
formulações dos cosméticos sintéticos como conservantes, compostos derivados de petróleo,
dentre outros. Alguns estudos os apontam como disruptores endócrinos interferindo no sistema
hormonal humano considerando nossa exposição diária à diversos compostos químicos
(SANTA MARTA, 2001). Outros o apontam como compostos das formulações cosmética que
desencadeiam reações alérgicas na pele e/ou no couro cabeludo (GALEMBECK, 2010).
Seguindo esta tendência de cosméticos mais naturais grandes empresas também têm
investido em tecnologia e inovação para desenvolvimento de novas formulações como Natura,
Lola, Salon Line, Cativa Natureza, marcas tradicionais brasileiras que inclusive estão entre as
mais lembradas (FURTADO, 2020). Porém, para que uma empresa seja reconhecida e atestada
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como seus produtos sendo cosméticos naturais, orgânicos, feitos com produtos orgânicos,
veganos ou cruelty free, existe uma série de especificações e parâmetros que devem ser
analisados pelos órgãos certificadores competentes.
Produtos de higiene pessoal, perfumes e cosméticos são definidos pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) de acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada
(RDC) Nº 07 de 10 de fevereiro de 2015, como preparações constituídas por substâncias
naturais ou sintéticas para as diversas partes do corpo humano como pele, sistema capilar,
unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes, dentre outros (BRASIL, 2015). Já o Food and
Drug Administration (FDA), órgão regulamentador dos cosméticos nos EUA, define-os como
produtos que quando aplicados no corpo humano, limpam, embelezam e/ou modificam a
aparência da pele e dos cabelos ou do corpo, sem afetar a sua estrutura ou função (RIBEIRO,
2010).
Além das determinações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), para
que as empresas possam produzir e comercializar os produtos cosméticos como sendo de fato
naturais, elas necessitam dos selos das certificadoras que em sua maioria são empresas privadas,
em trabalho conjunto com os órgãos públicos, que garantem que os produtos sejam de fato
naturais trazendo maior credibilidade e aumentando a confiança do consumidor. Isto ocorre
devido ao fato de não termos determinações e esclarecimentos objetivos em nossas legislações,
havendo abertura para que possa ser realizado um trabalho apelativo e de marketing no mercado
que nem sempre condiz com a real natureza daqueles produtos ou a retrata apenas em partes.
Logo, quando devidamente certificados temos uma garantia da natureza daquele produto.
A ANVISA possui várias RDCs (Resolução da Diretoria Colegiada) que orientam as
empresas e vão desde embalagens, rótulos, definições de termos da produção até condições da
água como matéria prima. Por exemplo, a RDC Nº 48 de 25 de outubro de 2013, visa as Boas
Práticas de Fabricação de Cosméticos e também trata sobre ensaios toxicológicos dos produtos,
ensaios físico químicos, controle da qualidade, segurança das matérias primas, dentre outros
(BRASIL, 2013). Porém, para os biocosméticos serem reconhecidos como tal, está descrito
abaixo as principais certificadoras que os atestam como cosméticos naturais.
O selo representado pela Figura 4 é restrito aos produtos certificados de acordo com a
lei brasileira 10.831 de 2003 e segundo critérios do MAPA, ele é denominado selo do Sistema
Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SISORG).
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Os produtos podem ser classificados como sendo de grau 1 que são os produtos de
higiene pessoal, perfumes e cosméticos (HPPC) cuja aprovação não implica restrições de uso e
nem riscos à sua utilização ou os produtos de grau 2, que são produtos de higiene pessoal,
perfumes e cosméticos (HPPC) que necessitam de testes de atividade e confirmação de eficácia
(VILHA, 2009).
A definição de cosméticos é ampla e varia de país para país, como por exemplo a
definição do que são produtos cosméticos pelo FDA nos Estados Unidos como produtos que
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quando aplicados no corpo humano, limpam, embelezam e/ou modificam a aparência da pele e
dos cabelos ou do corpo, sem afetar a sua estrutura ou função (RIBEIRO, 2010).
Já na União Europeia (UE), de acordo com a Cosmetics Directive – Regulation (EC)
Nº 1223 de 30 de novembro de 2009, os produtos cosméticos são definidos como qualquer
substância ou mistura destinada a ser posta em contato com partes mais externas do corpo
humano, dentes e mucosas bucais com objetivo exclusivo de limpar, perfumar, modificar o
aspecto, proteger e manter um bom estado ou corrigir odores corporais. Além disso o
regulamento traz diversas definições sobre o significado de fabricante, utilizador final,
nanomaterial, conservante, corante, dentre outros (ZUCCO et al., 2012).
E na China, o órgão que regulamenta e define o que são produtos cosméticos é o
China Food and Drug Administration (CFDA), anteriormente denominado National Medical
Products Administration, cuja sua definição sobre produtos cosméticos é semelhante aos
demais órgãos (VERLY, 2020).
No âmbito internacional tem-se o ICCR – Internacional Cooperation on Cosmetics
Regulation. Esse grupo é composto por autoridades responsáveis pela regulamentação dos
cosméticos mundialmente. É composto pela União Europeia, Canadá, Japão e EUA cujo
objetivo é desburocratizar os limites comerciais da indústria cosmética e assim, também, trazer
confiança ao consumidor. O Brasil e a China participam regularmente dos encontros
promovidos pelo grupo onde trocam informações regulatórias (SILVA, 2013).
O fato de haver diversas certificadoras e não haver uma definição oficial brasileira e
nem internacional sobre o que são realmente cosméticos naturais e orgânicos faz com que haja
diversas definições. No Brasil as que são mais levadas em consideração são as do IBD e da
Ecocert.
O IBD trabalha com 4 definições de acordo com seu referencial atualizado em 2019,
em sua 6º edição:
porção orgânica pela norma animal devem ter origem orgânica conforme a
Natrue Regulamentação Europeia (EC) 834/2007 citada
anteriormente.
Cosméticos Orgânicos em Pelo menos 95% de matérias primas devem ser orgânicas
conformidade com o ou 70% de matérias primas feitas com ingredientes
Ministério de Agricultura e orgânicos. Selo representado pela Figura 4.
Pecuária (MAPA)
Cosméticos Orgânicos em Pelo menos 95% das substâncias naturais de origem
conformidade com a norma vegetal e animal e das derivadas do natural devem ser de
Natrue manejo orgânico controlado e/ou de acordo com os
critérios da Regulamentação Europeia (EC) 834/2007
citada anteriormente.
Fonte: IBD CERTIFICAÇÕES, 2019
definições dos cosméticos naturais e orgânicos e na definição sobre considerar ou não a água
da formulação como matéria prima. Para a Ecocert, a água é sim um componente da matéria
prima, mas para o IBD, não (ECOCERT, 2017).
seus cosméticos e o consumidor, que a cada dia mais está buscando por ofertas, produtos e
procedimentos mais sustentáveis e ecologicamente corretos.
Além do mais, a indústria de cosméticos tende a considerar o crescente aumento da
produção, enquanto que o consumo de cosméticos artesanais naturais ainda está longe de ser
uma concorrência e um grande problema para as grandes indústrias. Porém é sim uma espécie
de afronta e uma realidade que vem ganhando força aos poucos. Mais e mais pessoas mostram-
se interessadas em uma relação mais saudável na hora de consumir produtos que conversem
com sua saúde, aproximam-se do natural e estendem um olhar de cuidado ao meio ambiente.
Por conta disso a indústria está buscando aproximar-se dessas características, inovando
e investindo em pesquisas para a produção de cosméticos, mas que tragam em suas composições
formulações mais naturais e menos agressivas. Acaba até mesmo entrando na moda ter um
consumo mais ecológico e buscar nas prateleiras os produtos com embalagens que nos digam
coisas como: “livre de parabenos e petrolatos”, “não contém silicone”, “esse produto é livre de
alumínio em sua composição”.
É bom saber que se pode contar com produtos mais naturais de fácil acesso no mercado,
porém vale lembrar que a indústria continua mantendo sua base na produção química em larga
escala, muitas continuam não se preocupando com questões como a exploração irracional de
matéria prima, trabalho exploratório, uso de embalagens não biodegradáveis e de resíduos que
são despejados de forma irresponsável na natureza. Deve-se estar atentos as questões que
envolvem o estímulo do pensamento ecológico, mas que na verdade estão ligados diretamente
com interesses do capital, visando a geração de lucro para os donos dessas empresas.
Em uma matéria publicada pela “Revista Galileu”, encontram-se dados de uma pesquisa
que coloca as maquiagens e os cosméticos, junto de produtos de limpeza, pesticidas, solventes,
tintas plásticas, como um dos maiores responsáveis pela poluição do ar, mais ainda do que os
próprios carros e veículos movidos a queima de petróleo (REVISTA GALILEU, 2018).
Veículos sempre foram tidos como os principais vilões da poluição do ar. Um carro
popular libera, por quilômetro rodado, em média 150 gramas de dióxido de carbono, que é um
dos gases responsáveis pelo aquecimento global. Além disso, a queima de combustíveis fósseis
também libera compostos orgânicos voláteis (em inglês chamados de “VOCs‟), que são
substâncias químicas ligadas a diversos problemas, que vão desde alergia, irritação nos olhos
ao câncer. Os pesquisadores concluíram que esses produtos químicos produzem mais do que o
dobro das emissões de gás que os carros e além do mais, tem um agravante, que é o fato de
geralmente serem produtos utilizados em ambientes fechados, dentro de residências e edifícios
comerciais, por exemplo.
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Sabe-se que a cadeia produtiva para produção dos cosméticos naturais e orgânicos são
extremamente extensas. No caso dos produtos orgânicos o manejo com as matérias primas é
mais criteriosa e tem como princípios a valorização da agricultura orgânica gerando renda para
as famílias, comunidades e/ou cooperativas que são responsáveis pelo cultivo, colheita e
extração dos ativos vegetais e insumos naturais (BRITO, 2019). Vale ressaltar que no caso da
agricultura orgânica é proibido o uso de pesticidas e todo cultivo dos insumos deve ser realizado
em uma cadeia que seja sustentável e com condições adequadas de trabalho. No Brasil , as
matérias primas certificadas como orgânicas seguem critérios estabelecidos pelo MAPA de
acordo com a Lei 10.831 de 23 de dezembro de 2003 (IBD CERTIFICAÇÕES, 2019).
Castanha, andiroba, copaíba, cumaru, dentre outros, são alguns exemplos de matérias-
primas naturais que são provenientes da agricultura orgânica da região Amazônica e que são
utilizados como insumos nas indústrias de cosméticos em diversas regiões do país e fora dele
já que o Brasil é um país com enorme potencial para fornecer matérias primas natural (BRITO,
2019).
Inclusive, em 2019, na Paraíba houve o Encontro de Oportunidades para
Empreendimentos da Agricultura Familiar e Sociobiodiversidade. O estado destaca-se pela
extração de mangaba e umbu e o evento teve o intuito de “integrar extrativistas da região com
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2019).
Importante salientar que no desenvolvimento dos cosméticos orgânicos e naturais,
analisar a compatibilidade dos conservantes com outras matérias primas do meio é fundamental
para contribuir com a melhor sinergia, pois a estabilidade e viscosidade do produto final podem
ser completamente alteradas de acordo com o processo realizado. Assim como também verificar
a faixa de pH no qual é possível obter maior eficácia conservante, é indispensável para a
formulação ao qual será incorporado (CHEREPANOV, 2017), sendo comum nesta formulação
dos produtos naturais e orgânicos a combinação de dois ou mais conservantes listados abaixo
para atingir o objetivo idealizado.
processos e operações industriais que precisam ser muito bem definidas e planejadas. Pois de
nada adianta utilizar as matérias primas adequadas se esse processo não for bem guiado e
controlado (GALEMBECK, 2010). Nesse cenário, o cumprimento das boas práticas de
fabricação deve ser seguido fielmente para garantir a qualidade dos produtos e a ausência de
contaminação.
Dos processos utilizados na tecnologia de fabricação cosmética geralmente a agitação
é o mais comum deles e isto, a depender do produto a ser formulado, como por exemplo,
emulsões, soluções, dispersões, dentre outros (GALEMBECK, 2010). Já os equipamentos, mais
especificamente os reatores utilizados, são geralmente dimensionados a partir do tipo de
produto, sendo consideradas algumas características para escolhê-lo como a viscosidade do
produto a ser feito, o tipo de pá de agitação escolhido que será acoplado ao reator, o volume
apropriado daquele equipamento além de outras propriedades físico químicas como a
temperatura da reação, velocidade, tempo de reação, dentre outros (GALEMBECK, 2010).
No caso dos cosméticos naturais e orgânicos nem todos os processos físico químicos
são permitidos pelas certificadoras para a sua produção e nem também para a produção dos
insumos, pois não são considerados “verdes” gerando passivos para o meio ambiente (FLOR et
al., 2019). Isto é considerado como um dos pontos de inovação para esta indústria no qual os
processos permitidos pelas certificadoras acabam limitando as possibilidades das reações
realizadas (CHEREPANOV, 2017).
Neste contexto, a Ecocert permite ingredientes fisicamente modificados, ou seja, que
não sofreram modificações moleculares e também os quimicamente modificados. O órgão
também entende que matérias primas sintéticas são as derivadas de petróleo ao qual não são
permitidas nas formulações. No caso de processos biotecnológicos, estes são permitidos desde
que não sejam OGM, e no caso dos produtos orgânicos estes processos biotecnológicos também
precisam estar em conformidade com o regulamento sobre produtos orgânicos de cada país.
Nestes casos da produção orgânica, inclusive o solvente utilizado para extração e purificação
dos ingredientes vegetais deve ser de origem natural (GROUP ECOCERT, 2012).
Abaixo segue alguns dos processos permitidos e proibidos pela Ecocert:
1950 que causou vários óbitos devido a superdosagem do produto hexaclorofeno que é uma
substância antimicrobiana (SANTOS, 2008).
Regulamentos internacionais como os do FDA e da União Europeia, por exemplo,
estabelecem diretrizes para compostos que são proibidos nas formulações cosméticas,
independente se são convencionais, naturais ou orgânicas, assim como a Anvisa também. A
RDC Nº 03 de 20 de janeiro de 2012 estabelece em suas diretrizes substâncias permitidas em
partes, sendo especificados os valores máximos aceitáveis. Já a RDC Nº 83 de 17 de junho de
2016 regulamenta a lista de substâncias proibidas nos produtos cosméticos, de higiene pessoal
e perfumes. Estas listas são comumente denominadas de listas vermelhas. E ambas as RDCs se
diferenciam da 29/2012, citada anteriormente, porque não tratam exclusivamente de compostos
conservantes. Algumas substâncias que requerem atenção e têm seus valores máximos
delimitados nas composições dos produtos descrito na RDC 03/2012 da Anvisa: o álcool
benzílico, linalol, eugenol, nitrato de prata, ácido salicílico, sulfato e cloreto de alumínio, dentre
outros. (BRASIL, 2012a).
Importante salientar que antes da comercialização dos produtos cosméticos, são
realizados vários testes para assegurar sua qualidade e confiabilidade, mas ainda assim, algumas
matérias primas podem causar irritações inesperadas à pele do consumidor (RITO, 2012). Essas
irritações ocorrem porque essas substâncias ativam o sistema imunológico despertando o corpo
para defendê-lo como o efeito de um processo alérgico (CHORILLI, 2007). Mas quanto aos
testes toxicológicos que são realizados, de acordo com o Guia para Avaliação de Segurança de
Produtos Cosméticos da Anvisa eles podem ser in vivo (geralmente animais) e in vitro como:
as análises de sensibilização dérmica, avaliação de irritação acumulada, irritação e
corrosividade cutânea, teste de irritação da mucosa, fototoxicidade, dentre outros (BRASIL,
2012b).
De acordo com o FDA, as principais classes de matérias primas cosméticas que
desencadeiam processos alérgicos são as fragrâncias (como benzoato de benzilo, citronelol,
eugenol e d-limoneno), os conservantes (como metilisotiazolinona, metilcloroisotiazolinona e
diazolidinilureia), os corantes (p-fenilenodiamina e alcatrão de carvão), o látex e metais pesados
(como níquel e ouro) (U.S FOOD, 2019). A literatura também aponta os tensoativos aniônicos
como substâncias propensas a causar irritação, como por exemplo o lauril sulfato de sódio
utilizado em shampoos, assim como também os polêmicos parabenos utilizados como
conservantes microbiológicos (CHORILLI, 2007). No caso dos produtos considera-se os filtros
solares, tinturas capilares, sabonetes antissépticos e shampoo anticaspa como os maiores
responsáveis por irritações cutâneas (RITO, 2012).
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4.8 Sustentabilidade
Portanto, em geral, os GPs são referido como tendo um impacto menor no meio
ambiente e prejudicando menos a saúde humana do que os produtos tradicionais (JANSSEN E
JAGER, 2002).
BRAIMAH (2015) afirmou recentemente que o mercado de marcas verdes está
crescendo exponencialmente em nível global. Essas tendências estão relacionadas ao
aumentando as pressões sociais e políticas como muitas empresas têm adotado estratégias de
marketing verde e, portanto, questões ambientais tornou-se uma vantagem competitiva
(COLEMAN, 2011). Além disso, os estudos (KONG, 2014) mostraram que a demanda de verde
produtos (orgânicos) aumentaram significativamente nos últimos anos, como bem, e, do ponto
de vista do meio ambiente, é avaliado muito positivamente.
Dentre os agentes envolvidos na cadeia de cosméticos à base de produtos naturais, as
matérias primas naturais são as que desempenham papel-chave no desenvolvimento e no
sucesso de uma empresa desse segmento. Sendo assim, um olhar atento aos insumos naturais
reforça sua importância, bem como ressalta o estratégico papel da biodiversidade brasileira no
setor.
única preocupação era somente controlar a quantidade de resíduos que saiam das chaminés ou
canos das indústrias, visando o tratamento dos mesmos somente no fim da linha de produção.
Começam a surgir ou a se definir conceitos e iniciativas industriais e governamentais que já
estavam em "gestação" e que muito contribuiriam para o estabelecimento da Química Verde.
Podemos citar como exemplo, a Lei de Prevenção à Poluição nos EUA (1990), a qual busca
prevenir a poluição pelo incentivo às empresas para reduzir a geração de poluentes por meio de
mudanças economicamente efetivas na produção, operação e uso da matéria-prima. Foi a
primeira e única lei focada na prevenção da poluição ao invés do típico tratamento e
remediação. Também nesse período, o conceito de sustentabilidade é estabelecido e preconiza
que devemos satisfazer as necessidades atuais dos seres humanos, não comprometendo a
capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas necessidades. Surge, ainda, o conceito de
"Minimização de Resíduos", que se refere à redução da quantidade de resíduos sólidos ou
líquidos produzidos por um determinado processo.
A prática do processo de reciclagem, a valorização e o tratamento seguro dos resíduos
sólidos e líquidos, a embalagem segura e rotulagem adequada também estão incorporados neste
conceito. Todavia, por ser menos abrangente, o conceito de Minimização de Resíduos é
considerado menor na hierarquia de intervenção pré-poluição do que a Química Verde. Já o
"Projeto para o Meio Ambiente" (Design for the Environment - DfE) tem por objetivo examinar
todo o ciclo de vida do produto para propor alterações no projeto, de forma a minimizar o
impacto ambiental desde a sua fabricação até o seu descarte. É visto como uma ferramenta que
incorpora considerações ambientais no projeto de produtos e processos. Por fim, o Programa
de Atuação Responsável, criado no Canadá pela Canadian Chemical Producers Association a
partir de 1984, e que atualmente está estabelecido em 42 países, estando no Brasil desde 1992.
Esse programa engloba uma diversidade de elementos, incluindo a segurança do processo,
transporte e interação com fornecedores, distribuidores e outros interessados, objetivando o
fornecimento de produtos químicos que podem ser fabricados de forma segura, protegendo o
meio ambiente e a saúde da população.
Paralelamente a esses eventos, em 1991, um pouco depois da publicação da lei de
Prevenção à Poluição nos EUA, a Environmental Protection Agency, por meio do Instituto de
Prevenção à Poluição e Tóxicos lançou também o programa "Rotas Sintéticas Alternativas para
Prevenção de Poluição", uma linha de financiamento para projetos de pesquisa que incluíssem
a prevenção de poluição em suas sínteses, ou seja, fabricar produtos por meio de processos
ambientalmente corretos. Em 1993, o programa foi expandido para incluir outros temas, tais
como solventes ecológicos e produtos químicos mais seguros, sendo renomeado como Química
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Verde. Estava estabelecida, portanto, não somente uma mudança que levaria muitas empresas
a reavaliarem os seus processos de produção, buscando ganhos ambientais além dos
econômicos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em meio a tantas opões existentes de produtos que se dizem ser verdes, isentos de
parabenos, sulfatos, petrolatos e não testados em animais, as certificações dos produtos naturais
ou produtos orgânicos através das certificadoras, seja Ecocert ou IBD, traz um significado de
que estes produtos de fato podem ser considerados naturais ou orgânicos. Isso não significa que
estes produtos não possam desencadear processos alérgicos, como visto anteriormente, pois
eles contêm fragrâncias e até mesmo conservantes que têm seus limites máximos delimitados
pela Anvisa de acordo com a RDC 83/2016. Além disto, são passíveis de conter bioativos ou
extratos vegetais que mesmo naturais ou orgânicos também são passíveis de desencadear
processos alérgicos.
O fato é que mesmo assim, essas empresas devidamente certificadas também têm toda
uma preocupação em relação a cadeia que envolve cuidados com os resíduos da produção e seu
descarte, com a utilização de embalagens de forma minimalista e reutilizável, com os
fornecedores, e no caso dos produtos orgânicos, ainda há uma rastreabilidade ainda maior da
origem dessas matérias primas juntamente a uma responsabilidade social seja com as famílias,
associações ou cooperativas de plantações, de forma a garantir que as matérias primas sejam
totalmente isentas de quaisquer substâncias agrotóxicas, ou seja, uma matéria advinda também
da agricultura orgânica. Apesar dos processos de certificações muitas vezes não serem tão
claros e gerar dúvidas, de muitas determinações serem diferentes entre Ecocert e IBD, e ser
feito um processo extremamente criterioso de análise e auditoria, ainda assim, são as
certificações que contribuem para padronizar este mercado de cosméticos naturais e orgânicos
assim como também passar maior credibilidade das empresas ao consumidor.
A realidade deste mercado de cosmético orgânico e natural é que ele tende a crescer
nos próximos anos também considerando o estilo de vida da humanidade atualmente. Uma
realidade baseada na estima social, muito alimentado por meio das redes sociais, pela cultura
do cuidado pessoal, do corpo, da espiritualidade e do cuidado com o meio ambiente. Isto
também pode ser observado dado que, para os consumidores, atributos como segurança e saúde,
apesar de terem sido considerados importantes para as escolhas dos produtos, ainda assim
ficaram abaixo de fatores como consumo consciente.
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Por fim, por meio deste trabalho obteve-se uma visão da realidade das empresas que
já nasceram com esse propósito, do quanto que esse mercado é um mercado promissor. Os
cosméticos naturais e orgânicos podem valer-se como dispositivo para pensar acerca de uma
consciência ecológica mais responsável, mas algumas definições e esclarecimentos, precisam
ser feitos pelas empresas para a melhor compreensão do consumidor, pois de fato, ele não
compreende ainda de forma abrangente qual a real proposta dos cosméticos naturais e
orgânicos.
REFERÊNCIAS
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