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FACULDADES OSWALDO CRUZ

ENGENHARIA QUÍMICA

DANIEL JERONIMO CARNEIRO SANCHES

TRATAMENTO DE EFLUENTES DE INDÚSTRIAS GALVÂNICAS

SÃO PAULO
2016
Daniel Jeronimo Carneiro Sanches

TRATAMENTO DE EFLUENTES DE INDÚSTRIAS GALVÂNICAS

Monografia apresentada às Faculdades Oswaldo


Cruz como parte dos requisitos exigidos para a
conclusão do curso de Engenharia Química

Orientador: Bacharel Luis Carlos Rocha

SÃO PAULO
2016
Dedico esta monografia aos meus pais, ami-
gos, corpo docente e orientador, pelo apoio,
paciência, orientação e pela presença de to-
dos nos momentos que mais precisei, no de-
correr da elaboração desta.
AGRADECIMENTOS

A Deus e a todas as funções protetoras do universo, pela saúde e força para superar
as dificuldades.
Aos meus pais e familiares que tiveram paciência e colaboraram para me manter em-
penhado.
Ao meu orientador Luis Carlos Rocha, professora Irene Campos e professor Luís Fer-
nando Pereira pelo suporte, pelas correções e incentivos.
À Faculdade Oswaldo Cruz, seu corpo docente, direção e administração que me deu
essa oportunidade e uma janela para vislumbrar o horizonte do ensino superior.
Aos meus amigos Rafael Scott e Wellington Belani, que apesar de todas as dificulda-
des e desentendimentos estiveram presentes me apoiando.
E a todos que diretamente ou indiretamente fizeram parte da nossa formação, o nosso
muito obrigado.
A química é a ciência que tende a favorecer o
progresso da humanidade, desvendando as
leis naturais que regem a transformação da
matéria; a tecnologia química, que dela de-
corre, é a soma de conhecimentos que per-
mite a promoção e o domínio dos fenômenos
que obedecem a essas leis, para sistemático
usufruto e benefício do Homem.
Conselho Regional de Química
RESUMO

A presente monografia visa abordar os impactos ambientais e os prejuízos à saúde


causados pelos rejeitos de resíduos de indústrias galvânicas sem o tratamento ade-
quado, levando em consideração os riscos que cada tipo de metal ou substância quí-
mica residual oferece. A monografia também apresenta novas tecnologias na área de
tratamento de efluentes industriais, visando alternativas que solucionam ou corrigem
os problemas do descarte de resíduos tóxicos. Também é estudado a possibilidade
de recuperação de água e de reagentes descartados no efluente, abrangendo um
conjunto de equipamentos para isso.

Palavras chave: Tratamento de efluentes. Galvanoplastia. Meio ambiente. Saúde.


Metais pesados. Substâncias tóxicas. Recuperação de água.
ABSTRACT

This monograph aims approach the environmental impacts and the health loss caused
by the rejects of waste effluents of galvanic industries without the right treatment,
considering the risks that each component or chemical waste offers. The monograph
also show new technologies on the industrial wastewater treatment area, aiming alter-
natives that solve or correct the problems of discarding toxic substances. Also is stud-
ied the possibility of recover the water and reagents discarded in the effluent, covering
a set of equipment for this.

Key words: Wastewater treatment. Electroplating. Environment. Health. Heavy met-


als. Toxic substances. Water Recovery.
LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Quadro de pH ótimo para precipitação de cada metal pesado no efluente.


Figura 2 – Corte das membranas de ultrafiltração
Figura 3 – Características de cada filtração
Figura 4 – Modelo de funcionamento de filtro prensa esteira.
Figura 5 – Sistema Cleartec da B&F Dias
LISTAS DE SIGLAS E ABREVIATURAS

M.O. – Matéria Orgânica

ETE – Estação de tratamento de efluentes

ETS – Estação de tratamento de superfície

OD – Oxigênio dissolvido

DBO – Demanda biológica de oxigênio

DQO – Demanda química de oxigênio


LISTAS DE QUADROS

Quadro 1 – Condições de descarte de parâmetros físico-químicos em águas naturais

Quadro 2 – Parâmetros inorgânicos e valores máximos de poluentes em águas natu-


rais
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 6

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................................. 7

2.1 GALVANOPLASTIA ................................................................................................................................. 7

2.2 INFLUÊNCIA DA GALVANOPLASTIA NA SOCIEDADE .................................................................................... 9

2.3 INFLUÊNCIA DA GALVANOPLASTIA NA INDÚSTRIA ...................................................................................... 9

2.4 O TRATAMENTO DE EFLUENTES ........................................................................................................... 10

3 NECESSIDADE DO TRATAMENTO DE EFLUENTES ....................................................................... 11

3.1 COMO É GERADO O EFLUENTE ........................................................................................................... 11

3.2 CONSEQUÊNCIAS DO NÃO-TRATAMENTO ................................................................................. 12

3.3 LEIS QUE VIGORAM A RESPEITO ........................................................................................................... 13

3.4 RESOLUÇÕES CONAMA .................................................................................................................... 13

3.5 CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DOS EFLUENTES ........................................................................... 15

3.5.1 PH ................................................................................................................................................ 15

3.5.2 Temperatura ............................................................................................................................... 16

3.5.3 Resíduo sedimentável ............................................................................................................... 16

3.5.4 Óleos e graxa ............................................................................................................................. 16

3.5.5 Oxigênio dissolvido ................................................................................................................... 16

3.5.6 Demanda bioquímica de oxigênio (DBO)................................................................................. 17

3.5.7 Demanda química de oxigênio (DQO) ...................................................................................... 17

3.5.8 Despejos e substâncias potencialmente tóxicas .................................................................... 17

3.6 IMPACTOS AMBIENTAIS DOS METAIS E OUTRAS SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PRESENTES NA ÁGUA .................... 18

3.6.1 Arsênico ..................................................................................................................................... 18

3.6.2 Bário ........................................................................................................................................... 18

3.6.3 Boro ............................................................................................................................................ 19

3.6.4 Cadmio........................................................................................................................................ 19

3.6.5 Chumbo ...................................................................................................................................... 19


3.6.6 Cianeto........................................................................................................................................ 20

3.6.7 Cobre .......................................................................................................................................... 20

3.6.8 Fenol ........................................................................................................................................... 21

3.6.9 Ferro Solúvel (Fe2+).................................................................................................................... 22

3.6.10 Fluoretos .................................................................................................................................... 22

3.6.11 Manganês Solúvel (Mn2+) .......................................................................................................... 22

3.6.12 Mercúrio...................................................................................................................................... 23

3.6.13 Níquel .......................................................................................................................................... 23

3.6.14 Prata ............................................................................................................................................ 24

3.6.15 Selênio ........................................................................................................................................ 24

3.6.16 Sulfato......................................................................................................................................... 24

3.6.17 Sulfeto......................................................................................................................................... 25

3.6.18 Zinco ........................................................................................................................................... 25

3.6.19 Cromo ......................................................................................................................................... 25

4 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES ............................................................................. 26

4.1 GRADEAMENTO .................................................................................................................................. 27

4.2 TANQUE DE EQUALIZAÇÃO (ACÚMULO) ................................................................................................. 27

4.3 REATOR DE QUEBRA DE EMULSÃO ....................................................................................................... 29

4.4 SEPARADOR ÁGUA-ÓLEO .................................................................................................................... 29

4.5 TANQUE DE CORREÇÃO DE PH (NEUTRALIZAÇÃO) ................................................................................. 29

4.6 TANQUE DE MISTURA RÁPIDA ............................................................................................................... 30

4.7 TANQUE DE FLOCULAÇÃO.................................................................................................................... 30

4.8 DECANTADOR SECUNDÁRIO................................................................................................................. 30

4.9 ADENSADOR DE LODO (PULMÃO DE LODO) ............................................................................................ 31

4.10 FILTRO-PRENSA ................................................................................................................................. 31

4.11 PARTICULARIDADES NO TRATAMENTO DEVIDO À NECESSIDADE DO EFLUENTE (GASOSO; OLEOSO;


EMULSIONADO; ETC.) .......................................................................................................................... 31
5 NOVAS TECNOLOGIAS ALIADAS AO TRATAMENTO FÍSICO-QUÍMICO DE EFLUENTES E SUAS
VANTAGENS ....................................................................................................................................... 32

5.1 TRATAMENTO FÍSICO-QUÍMICO ............................................................................................................. 32

5.2 ULTRAFILTRAÇÃO ............................................................................................................................... 33

5.3 OSMOSE REVERSA ............................................................................................................................. 34

5.4 FILTROS (BELT FILTER) ....................................................................................................................... 34

5.5 OUTRAS ATUALIZAÇÕES ...................................................................................................................... 35

5.5.1 Membrane BioReactor (MBR) ................................................................................................... 35

5.5.2 Moving bed biofilm reactor (MBBR) ......................................................................................... 36

5.5.3 Biofiltros ..................................................................................................................................... 37

5.5.4 Sistemas de tratamento móveis ............................................................................................... 37

5.6 RESINA DE TROCA IÔNICA SELETIVA PARA RECUPERAÇÃO DE METAIS ..................................................... 37

5.7 RECUPERAÇÃO DE AGUA ............................................................................................................. 38

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 39


6

1 INTRODUÇÃO

Atualmente existe uma grande preocupação com a qualidade do produto aca-


bado nos processos fabris, envolvendo a otimização do processo produtivo, melhorias
internas e cumprimento das normas e legislações ambientais vigentes, por isso a sua
produção deve estar intrinsecamente ligada com o meio ambiente, levando em consi-
deração a toxicidade das matérias primas e dos componentes que serão utilizados e
manejados. Vendo de uma maneira geral, todos os processos fabris geram resíduos,
sendo esses gasosos, líquidos ou sólidos (SANCHES, 2016).

Os efluentes gasosos devem ser captados por alguma tubulação e enviados à


um lavador de gás, para assim tirar as substâncias tóxicas e poluentes do ar, fazendo
com que os poluentes e os materiais tóxicos passem para o estado líquido e prossi-
gam para o seu devido tratamento, para atender as normas exigidas pela CETESB,
CONAMA e outros órgãos que controlam as emissões de poluentes.

Esses efluentes vão para uma estação denominada ETE (estação de trata-
mento de efluentes), para serem caracterizados dependendo de sua composição,
sendo a mais comum uma mistura heterogênea de água contaminada, óleos e graxas,
tratados e descartar sua água limpa em córregos, rios coletores ou reuso para fins
menos nobres (descarga de sanitários, lavagem de ruas, calçadas e pátios, dentre
outros).

Nessa estação os efluentes passam por diversas etapas de tratamento, sendo


essas a segregação de emulsão oleosa, neutralização, coagulação, floculação e de-
cantação, fazendo com que forme uma fase sólida e uma fase líquida. A fase líquida
é o efluente já tratado, passando posteriormente por um processo de clarificação e
por fim, seu descarte ou reuso.

A fase sólida é o lodo formado, no qual encontram-se retidos todos os elemen-


tos poluidores e tóxicos. O lodo tem seu destino final após ser classificado segundo
as normas da ABNT.
7

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 GALVANOPLASTIA

A galvanização por eletrólise tem início, de acordo com a biografia de Alessan-


dro Volta1, em 1800, como resultado de uma discórdia profissional sobre a resposta
galvânica, inicialmente apresentado por Luigi Galvani. Volta então desenvolveu a pilha
voltaica, que constitui uma eletrólise gerada por diferença de potenciais de metais
diferentes em um recipiente com pontes salinas ou água salobra.

A galvanoplastia é uma etapa do tratamento de superfície, juntamente com a


pintura e outros menos utilizados. Todos os processos do tratamento de superfície
têm como principais finalidades a proteção anticorrosiva ou proteção decorativa de
uma peça, um acessório ou um conjunto de peças (CRQIV, 2016).

De acordo com uma matéria no site do CRQ42, a galvanoplastia é um processo


químico ou eletroquímico de deposição de uma fina camada de um metal sobre uma
superfície, que pode ser ou não ser metálica, com o objetivo de proteger o material
contra a corrosão, aumentar sua durabilidade, melhorar as propriedades superficiais
e resistência, bem como sua condutividade, espessura e capacidade de estampar.

Os metais mais comuns na galvanoplastia são Cr, Ni, Zn, Cd, Cu, Ag, Au, Sn,
Pb e algumas ligas, como Latão (Cu e Zn) e Bronze (Cu e Sn) (SANCHES, 2016).

A galvanoplastia consiste na eletrodeposição do metal escolhido na camada


exterior do objeto a ser protegido, devido à passagem de corrente elétrica, pois essa
possibilita essa reação, que ocorre de forma não espontânea.

1
Disponível no site http://www.explicatorium.com/biografias/alessandro-volta.html Acesso em
02/05/2016.

2
Disponível no site http://www.crq4.org.br/quimicavivatratamento_de_superficies Acesso em
02/05/2016.
8

Os processos da galvanoplastia são os seguintes (ICZ, 201-?)3: Desengraxe,


decapagem, enxágue, fluxagem, imersão no metal fundido que foi escolhido previa-
mente e o resfriamento.

O desengraxe tem por objetivo remover a sujeira pesada, como óleos, gordu-
ras, graxas incrustações, marcas de solda, entre outros. A temperatura usual para
esse processo fica em torno de 60ºC e 90ºC. Esse desengraxe pode ser tanto catódico
quanto anódico, sendo que o catódico a corrente flui dos anodos para as peças a
serem limpas e o anódico a corrente flui das peças para os anodos.

A decapagem utiliza ácidos inorgânicos e aditivos, utilizado em peças que pos-


suem roscas, para uma profunda limpeza.

O Enxágue e a fluxagem das peças é feito com água deionizada, para retirar
qualquer impureza carregada dos tanques anteriores, para dar seguimento ao pro-
cesso de galvanização.

A imersão no metal fundido é o ponto principal da galvanização. Nela que é


depositado o metal protetor na peça que será protegida, através de corrente elétrica,
fazendo com que os íons do metal nobre se depositem na camada exterior da peça,
dando a ela a característica superficial do material que se depositou.

O resfriamento é necessário para o prosseguimento da utilização das peças


galvanizadas, pois elas saem com uma temperatura muito alta do tanque de imersão,
pois para fundir o metal que será protegido, a temperatura deve alcançar uma tempe-
ratura entre 450ºC (zinco) e 1.100ºC (ouro).

3
Disponível no site http://www.icz.org.br/portaldagalvanizacao/galvanizacao-fluxograma-de-um-pro-
cesso-de-galvanizacao-a-fogo.php, Acesso em 02/05/2016.
9

2.2 INFLUÊNCIA DA GALVANOPLASTIA NA SOCIEDADE

Estudos que se iniciaram com Luigi Galvani, anteriores à pilha voltaica, desco-
briram que o zinco, quando em uma infusão contendo uma peça de ferro e em pre-
sença de corrente elétrica, forma uma camada em volta da peça. Como o zinco é mais
anódico do que o ferro, ele corrói primeiro, dando origem à proteção catódica.

Essa proteção catódica, posteriormente foi utilizada com outros metais, sendo
esses o Níquel, o Cromo, o Ouro e a Prata, pois esses, além de aumentar a resistência
aos ataques químicos e físicos, são utilizados para embelezar as peças, dando-as um
aspecto mais nobre.

Essa galvanização estética deu origem às semi-joias, que são adornos comuns,
geralmente de ferro ou aço, que passam pelos processos de cromação 4, douração5,
niquelação6 ou prateação7, pois são os processos mais comuns utilizados nesse ramo.

2.3 INFLUÊNCIA DA GALVANOPLASTIA NA INDÚSTRIA

Na indústria, a galvanoplastia deixa seu conceito estético, fazendo com que ela
seja utilizada prioritariamente para reforçar e proteger os metais presentes nos pro-
cessos. Algumas indústrias trabalham constantemente com altas concentrações de
ácidos, como ácido sulfúrico, ácido clorídrico, entre outros. Outras trabalham com al-
tas concentrações de bases, como soda cáustica, hidróxidos de cálcio, entre outros.

4
Banhos de cromo hexavalente ou trivalente, para dar às peças um aspecto prateado e brilhante.

5
Banho de ouro nas peças, para dar um aspecto semelhante às peças de ouro maciço, tendo sua
superfície endurecida graças à essa fina camada depositada.

6
Banho de níquel juntamente com o de cromo, para aumentar a resistência das peças conforme seu
envelhecimento.

7
Banho de prata nas peças, geralmente talheres de cozinha, para garantir sua durabilidade e sua
resistência à corrosão, devido à presença de oxidantes nos alimentos, que atacam o ferro quando está
desprotegido.
10

Outras trabalham em ambientes altamente degradantes, como indústrias agrí-


colas, onde os tratores e outras máquinas estão constantemente expostas ao material
degradante presente no solo, além do ar que é altamente oxidante.
Devido a esses fatores, as peças férricas presentes nesses meios devem ser
rigidamente protegidas, evitando ao máximo sua deterioração, pois a maioria das es-
truturas das indústrias, vigas, colunas e afins, são compostas por ferro, então esses
devem ser protegidos, pois o comprometimento das estruturas acabam colocando em
risco a vida dos trabalhadores que atuam nas áreas prejudicadas.

2.4 O TRATAMENTO DE EFLUENTES

O tratamento desses efluentes consiste em, basicamente, retirar todas as im-


purezas e substâncias tóxicas provenientes da galvanização, sendo essas substân-
cias os cianetos, metais pesados, material particulado, entre outras.

O tratamento começa com a junção de todos os resíduos em um tanque de


armazenamento, e de acordo com a classificação do efluente, é dosado os ácidos, as
bases, os reagentes e os polieletrólitos.

Se for escolhido tratar todos os efluentes residuais do processo separada-


mente, os custos serão altos com variações muito altas de concentrações, tendo que
alterar constantemente essas dosagens.
11

3 NECESSIDADE DO TRATAMENTO DE EFLUENTES

Desde a revolução industrial, que teve início em 1760, o mundo começou a


produzir equipamentos mais sofisticados e com isso, mais poluentes. Um exemplo
disso era na época, as máquinas a vapor, que produziam uma alta carga de poluentes
gasosos, devido à combustão dos combustíveis sem filtro ou qualquer tipo de trata-
mento. Com a segunda etapa da revolução industrial, em 1860, começaram a surgir
indústrias que empregavam o aço como matéria prima e utilização de energia elétrica
e de combustíveis derivados do petróleo. Nesta sofisticação, surgiu os motores a ex-
plosão, locomotivas a vapor e desenvolvimento de produtos químicos, sendo algumas
das principais inovações daquele período. Porém, por ser produtos recentes, não se
tinha controle e quanto a produção dos mesmos poluiria o mundo no geral 8.

A necessidade de controlar a emissão de poluentes nos meios naturais come-


çou a ser instaurada no Brasil no século XX, sendo instituído através da lei6.938/81 o
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que é o órgão consultivo e delibe-
rativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) 9.

3.1 COMO É GERADO O EFLUENTE

Como esse ramo da galvanoplastia é realizada em tanques com soluções aquo-


sas, o despejo desses resíduos é altamente tóxico, pois possuem restos de metais
pesados ionizados em sua composição, além de outros materiais que são provenien-
tes das impurezas contidas na peça, que são retiradas nos processos de desengraxe,

8 Disponível no site http://www.sohistoria.com.br/resumos/revolucaoindustrial.php acesso em


10/10/2016

9
Disponível no site http://www.mma.gov.br/port/conama/ acesso em 10/10/2016
12

decapagem e enxágue, fazendo com que metais pesados e outros poluentes sejam
unidos em efluente final.

Esse efluente deve ser tratado de acordo com as normas do CONAMA (Con-
selho nacional do meio ambiente) e do MMA (Ministério do meio ambiente).

3.2 CONSEQUÊNCIAS DO NÃO-TRATAMENTO

Não tratar efluentes de industrias que atuam no ramo de galvanoplastia causam


sérios problemas no ecossistema dos rios e outros corpos receptores desse despejo,
pois o mesmo possui uma elevada carga de metais pesados, agredindo assim toda a
fauna e a flora presente. Não tratar estes efluentes também provocam reações nega-
tivas no corpo humano, como diarreia, náusea, vômito, além de alguns metais interfe-
rirem nos processos metabólicos do nosso corpo, provocando alterações na tireoide,
tumores, reações alérgicas e até alterações neurológicas.

Além dos efluentes líquidos, estas indústrias emitem efluentes gasosos, que
são globalmente sentidos, devido ao ar ser um recurso natural compartilhado por todo
o planeta. Essa emissão contribui com o efeito estufa, a destruição da camada de
ozônio e a ocorrência das chuvas ácidas, e esses são alguns exemplos de fenômenos
agravados pela emissão exacerbada desses efluentes gasosos industriais (TERA,
201-?).

Quanto à problemas respiratórios causados por essas emissões, pode-se citar


asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, enfisema e até câncer pulmonar.

Devido a todos estes problemas, os órgãos responsáveis pelo meio ambiente


começaram a criar leis para limitar o descarte desses produtos tóxicos.
13

3.3 LEIS QUE VIGORAM A RESPEITO

De acordo com o site do ministério do meio ambiente, o CONAMA foi instituído


pela lei 6,938/81, que dispõe sobre a Política nacional do Meio Ambiente, regulamen-
tada pelo Decreto 99.274/90.

As competências do CONAMA são estabelecer normas e critérios para o licen-


ciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; determinar, quando jul-
gar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis consequên-
cias ambientais de projetos públicos ou privados; decidir sobre multas e outras pena-
lidades impostas pelo IBAMA; determinar perda ou restrição de benefícios fiscais con-
cedidos pelo poder público, entre outras.

Os atos do CONAMA em relação às suas competências são as resoluções,


quando se tratar de deliberação vinculada a diretrizes e normas técnicas, critérios e
padrões relativos à proteção ambiental e ao uso sustentável dos recursos ambientais;
Moções, quando se tratar de manifestação, de qualquer natureza, relacionada com a
temática ambiental; Proposições, quando se tratar de matéria ambiental a ser enca-
minhada ao Conselho de Governo ou às Comissões do Senado Federal e da Câmara
dos Deputados; Decisões, quando se tratar de multas e outras penalidades impostas
pelo IBAMA, entre outros.

3.4 RESOLUÇÕES CONAMA

Uma das principais resoluções do CONAMA, entre as mais recentes, é a 430,


de 13 de maio de 2011 (encontra-se em anexo). Ela é uma complementação da reso-
lução 357, de 17 de março de 2005, das condições e padrões de lançamento de eflu-
entes

Art. 16. Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados dire-
tamente no corpo receptor desde que obedeçam às condições e padrões previstos
neste artigo, resguardadas outras exigências cabíveis:
14

I - Condições de lançamento de efluentes:

Quadro 1 – Condições de descarte de parâmetros físico-químicos em águas naturais

Parâmetros Condições
PH Entre 5 e 9
Temperatura Inferior a 40ºC; a variação de temperatura do corpo re-
ceptor não deverá exceder 3ºC no imite da zona de mis-
tura
Materiais sedimentáveis Até ml/l em teste de 1 hora em cone Inhoff
Vazão Regime de lançamento com vazão máxima de até 1,5
vez a vazão média do período de atividade diária do
agente poluidor, exceto nos casos permitidos pela auto-
ridade competente
Óleos minerais Até 20 mg/l
Óleos vegetais Até 50 mg/l
Gorduras animais Até 50 mg/l
Materiais flutuantes Ausência de materiais flutuantes
Demanda bioquímica de Remoção mínima de 60% de DBO sendo que este limite
oxigênio (DBO 5 dias a só poderá ser reduzido no caso de existência de estudo
20ºC) de autodepuração do corpo hídrico que comprove aten-
dimento às metas do enquadramento do corpo receptor
Fonte: dados extraídos da Resolução 430/11, Seção II, Ari 16, parágrafo II do CONAMA.

II - Padrões de lançamento de efluentes:

Quadro 2 – Parâmetros inorgânicos e valores máximos de poluentes em águas naturais.

Parâmetros inorgânicos Valores máximos


Arsênio total 0,5 mg/L As
Bário total 5,0 mg/L Ba
Boro total (Não se aplica para o lançamento em águas salinas) 5,0 mg/L B
Cádmio total 0,2 mg/L Cd
Chumbo total 0,5 mg/L Pb
Cianeto total 1,0 mg/L CN
Cianeto livre (destilável por ácidos fracos) 0,2 mg/L CN
Cobre dissolvido 1,0 mg/L Cu
Cromo hexavalente 0,1 mg/L Cr+6
Cromo trivalente 1,0 mg/L Cr+3
Estanho total 4,0 mg/L Sn
Ferro dissolvido 15,0 mg/L Fe
Fluoreto total 10,0 mg/L F
Manganês dissolvido 1,0 mg/L Mn
Mercúrio total 0,01 mg/L Hg
Níquel total 2,0 mg/L Ni
Nitrogênio amoniacal total 20,0 mg/L N
Prata total 0,1 mg/L Ag
15

Selênio total 0,30 mg/L Se


Sulfeto 1,0 mg/L S
Zinco total 5,0 mg/L Zn
Parâmetros orgânicos Valores máximos
Benzeno 1,2 mg/L
Clorofórmio 1,0 mg/L
Dicloroeteno (somatório de 1,1 + 1,2cis + 1,2 trans) 1,0 mg/L
Estireno 0,07 mg/L
Etilbenzeno 0,84 mg/L
Fenóis totais (substâncias que reagem com 4-aminoantipirina) 0,5 mg/L C6H5OH
Tetracloreto de carbono 1,0 mg/L
Tricloroeteno 1,0 mg/L
Tolueno 1,2 mg/L
Xileno 1,6 mg/L
Fonte: dados extraídos da Resolução 430/11, Seção II, Ari 16, parágrafo II do CONAMA.

3.5 CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DOS EFLUENTES

Além dos poluentes dissolvidos ou em suspensão presentes nas águas de descartes


industriais, devemos analisar também suas medidas de pH, temperatura, resíduos sedi-
mentáveis, óleos e graxas, DBO, despejo de substâncias potencialmente tóxicas e DQO.

3.5.1 PH

Medida de potencial de hidrogênio do efluente; informa se a água possui caráter


ácido ou alcalino. Quando um despejo possui um pH abaixo de 5, o mesmo contribui
para a corrosão de estruturas metálicas e adicionam na água metais pesados como o
ferro, cobre, chumbo, zinco, cádmio, etc. águas que possuem pH abaixo de 5 e acima
de 10 são difíceis de serem tratadas por métodos biológicos, pois os metais em con-
tato com a matéria orgânica se estabilizam em forma de complexos, sendo esta esta-
bilidade do composto medida em milhões de anos. Variações bruscas de pH em leitos
naturais comprometem seres vivos sensíveis, como peixes, algas e outros seres aqu-
áticos em geral. A faixa de concentração de pH, adequada para a existência da vida
é muito estreita e crítica. O desejável é que seja de 7 a 8,5, mas é permissível de 6,5
a 9,2.
16

3.5.2 Temperatura

Medida qualitativa, realizada geralmente por um termômetro, que consiste em


uma coluna de mercúrio, cuja escala está em função do ponto de congelamento (0ºC)
e ebulição (100ºC) da água à pressão de uma atmosfera. A elevação da temperatura,
por lançamento de efluentes industriais aquecidos, pode causar danos às espécies
aquáticas que vivem ao longo do curso de um rio, pois as medidas de oxigênio dissol-
vido na água diminuem, conforme o aumento da temperatura. Um aumento súbito na
temperatura do curso de águas pode resultar em alta taxa de mortalidade na vida
aquática, também causando o florescimento de fungos bactérias anaeróbicas e plan-
tas aquáticas indesejáveis.

3.5.3 Resíduo sedimentável

Quantidade de material que sedimenta ou flutua sobre determinadas condi-


ções, constituído por resíduos industriais (flóculos) ou águas residuais em geral. Sua
medição é feita em um cone Inhoff de geralmente 1 litro de capacidade, deixando
sedimentar por 45 a 60 minutos. Os sólidos (flóculos) constituem o volume que sedi-
menta em uma hora no cone em ml/l.

3.5.4 Óleos e graxa

Efluentes industriais com esses compostos produzem odores indesejáveis, pro-


blemas sanitários e estéticos, devido aos ácidos graxos, que são originados pela sa-
ponificação insuficiente desses compostos, que possuem odor próprio característico.
É recomendado a isenção desses componentes em mananciais de abastecimento pú-
blico.

3.5.5 Oxigênio dissolvido

O oxigênio dissolvido é um fator limitante para a manutenção da vida aquática


e de processos de autodepuração em sistemas aquáticos naturais e estações de tra-
tamento de esgotos (CRQIV, 2013)
17

As bactérias, durante a degradação da matéria orgânica, utilizam o oxigênio


nos seus processos respiratórios, causando a redução de sua concentração no meio.

3.5.6 Demanda bioquímica de oxigênio (DBO)

A demanda bioquímica de oxigênio corresponde a quantidade de oxigênio ne-


cessária para oxidar a matéria orgânica biodegradável aerobiamente. Essa unidade
de medida leva em consideração a quantidade de oxigênio dissolvido e a quantidade
que será consumida pelos organismos aeróbicos ao degradarem a matéria orgânica
(SOUZA, 2016).

3.5.7 Demanda química de oxigênio (DQO)

A diferença entre a demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e a demanda quí-


mica de oxigênio (DQO) é que a DQO avalia a quantidade de oxigênio dissolvido
consumido em meio ácido para degradar qualquer matéria orgânica, sendo ela bio-
degradável ou não (SOUZA, 2016).

3.5.8 Despejos e substâncias potencialmente tóxicas

Indústrias galvânicas utilizam banhos de metais pesados para uma determi-


nada finalidade. Estes metais, quando já foram exaustos pelos banhos, são descarta-
dos e acumulados em um tanque, para posteriormente serem tratados. Quando estes
metais não passam por um tratamento adequado eles acabam contaminando os rios
e lagos próximos, causando a mortandade da vida aquática nessas vias, além de cau-
sar sérios danos à saúde animal e humana, quando em contato com essa água con-
taminada (BRITES, 2016). Os efeitos da contaminação por esses metais serão discu-
tidos no próximo assunto.
18

3.6 IMPACTOS AMBIENTAIS DOS METAIS E OUTRAS SUBSTÂNCIAS TÓXI-


CAS PRESENTES NA ÁGUA

Nos peixes e seres aquáticos em geral, os metais, seguindo um grau decres-


cente de toxicidade, são os seguintes: Mercúrio, cobre, zinco, cádmio, estranho, alu-
mínio, níquel, arsênico, ferro trivalente, ferro bivalente, bário, manganês, potássio, cál-
cio, magnésio e sódio.

3.6.1 Arsênico

Os compostos de arsênico têm sido enfatizados recentemente pelo seu caráter


carcinogênico, além de serem acumulados no organismo, pois o mesmo tem dificul-
dade de expulsá-lo. Em baixas quantidades ele é inofensivo, porém, quando a inges-
tão de uma água contendo uma quantidade superior a 100mg/l, ele pode causar uma
severa intoxicação, incluindo envenenamento dos rins, fígado e paredes do intestino.
Quando o nível alcança 130mg/l ele se torna letal. Seus compostos orgânicos são
trivalentes e pentavalentes e são originadas de despejos industriais, atividades de mi-
neração e por lavagem do solo, quando os inseticidas e herbicidas são à base desse
elemento.

3.6.2 Bário

O grau de toxicidade desse elemento se dá ao fato de seu ânion estar presente,


na maioria das vezes, na forma de cátion metálico. Devido à solubilidade extrema-
mente baixa do sulfato de bário, apenas traços são encontrados nas águas naturais,
na forma de carbonato, que provém de certas fontes de mineração.

Nenhum alimento possui bário em sua composição, então sua entrada principal
no corpo humano é pelo ar e pela água. A ingestão do bário causa sérios efeitos tóxi-
cos sobre o coração, vasos sanguíneos e nervos, agravando casos de hipertensão.
Quando ingerido em doses pequenas, causa aumento da pressão sanguínea por va-
soconstrição, sendo a sua dose fatal considerada entre 0,8 e 0,9g do cloreto de bário,
que contém entre 550 a 660mg de bário.
19

3.6.3 Boro

O boro é o elemento mais importante a ser considerado nos despejos de eflu-


entes, pois é altamente tóxico em concentrações acima de 3mg/l; até agora não se
provou ser tóxico e nem ser acumulado nos tecidos humanos. Ele é um dos compostos
responsáveis pelo crescimento das plantas, mas é agressivo às plantas mais sensí-
veis em concentrações acima de 1mg/l.

3.6.4 Cadmio

O cádmio, em condições naturais, é encontrado nas águas em mínimas quan-


tidades, mas sua concentração pode aumentar quando entra em contato com recipi-
entes ou canalizações em que o mesmo esteja presente como contaminante do zinco
empregado na galvanização e outros processos da galvanoplastia, pois ele está pre-
sente, além da galvanoplastia, em tintas, baterias alcalinas, plásticos, cerâmicas, fo-
tografia, reatores nucleares e nos fertilizantes. O cádmio apresenta alta toxicidade
pois exerce efeito cumulativo e tóxico no organismo, sendo eliminado em pouquíssima
quantidade. A exposição aguda de seres humanos a altas concentrações dos com-
postos de cádmio, por inalação, provoca desde edemas e lesões permanentes até
lesões fatais no pulmão. A inalação em baixas concentrações, cerca de 0,1mg/m 3,
gera desde bronquite crônica a enfisema pulmonar, porém, o órgão mais sensível à
toxidez do cádmio são os rins.

3.6.5 Chumbo

O chumbo presente na água geralmente vem da poluição por efluentes indus-


triais ou por mineração, ou ainda como resultado da ação corrosiva nas tubulações
desse metal. O chumbo possui efeito acumulativo e tóxico, sendo a intoxicação por
esse metal denominada de saturnismo, que pode inclusive levar à morte. Uma das
fontes mais comuns de ingestão do chumbo é o hábito de fumar. A intoxicação aguda
do chumbo é caracterizada por queimaduras na boca, sede intensa, inflamação do
trato intestinal, ocasionando diarreias e vômitos, dores abdominais diversas, confusão
20

mental, distúrbios visuais, anemia e convulsões, além de substituir o cálcio no orga-


nismo, afetando também toda a formação óssea, provocando queda dos dentes, os-
teoporose, etc.

3.6.6 Cianeto

O cianeto é proveniente principalmente da galvanização, cementação, banhos


para clarificação de metais, refinamento de ouro e prata, lavadores de gás para pro-
cessos piréticos (coqueificação, refinação, alto-fomo), borracha, fibras acrílicas, indús-
trias de plástico e intermediários de processos químicos.

A toxidez do íon cianeto deve considerar que a grande parte do mesmo está na
água em forma de ácido cianídrico. É evidente que sua toxicidade depende dos valo-
res do pH, pois em uma determinada concentração pode ser inócua em um pH maior
ou igual a 8, tornando-se nocivo quando o pH diminuir para níveis inferiores a seis.

O organismo humano aceita pequenas quantidades de substâncias que conte-


nham cianeto (palmito, alface, repolho, etc). O íon cianeto CN-, exceto por uma pe-
quena porção exalada, é transformado, no fígado, em sulfeto, complexo não tóxico
(SCN, tiocianato), sendo eliminado irregularmente e vagarosamente pela urina, não
tendo efeito acumulativo no organismo.

Sua toxicidade se deve ao fato de a hemoglobina do sangue forma uma subs-


tância altamente estável em presença do íon cianeto, o cianohemoglobina. Por ser
estável, impedindo a oxigenação necessária para o organismo, reduzindo suas capa-
cidades físicas progressivamente até o óbito.

3.6.7 Cobre

O cobre que o sanitarista aplica constitui-se em um elemento altamente nocivo


e poluidor nas águas para controle de algas. Na forma de cloreto, sulfato e nitrato são
muito solúveis na água. Os íons de cobre, que se encontram a um pH igual ou maior
21

do que sete nas águas naturais precipitam como carbonatos e hidróxidos e são assim
removíveis por absorção ou sedimentação.

No organismo humano, o cobre se deposita na espinha sendo responsável por


inúmeros casos de doenças na coluna, podendo levar a deformações permanentes e
causar danos funcionais ao fígado e rins.

3.6.8 Fenol

O fenol é corrosivo, irritante das membranas mucosas e pode ser fatal se inge-
rido, inalado ou absorvido pela pele. Afeta principalmente o sistema nervos central,
fígado e rim.

Na presença desse contaminante os peixes passam a apresentar movimentos


natatórios rápidos, maior batimento opercular, alteração na cor, maior secreção de
muco, convulsões, maior susceptibilidade ao ataque de parasitas e lamelas branquiais
escurecidas. Em altas concentrações, o fenol também pode vir a provocar hemólise
no sangue e ação paralisante dos mecanismos neuromusculares, levando o orga-
nismo contaminado à morte10.

Sua consequência mais comum é, ao acumular na gordura dos peixes (é lipos-


solúvel), fornece gosto ruim ao pescado, pois mesmo em pequenas concentrações
(<1 ppm), os compostos fenólicos afetam o gosto e o odor de águas potáveis e peixes.
Além disso, vários fenóis substituídos, como cloro e nitrofenóis, são altamente tóxicos
para o homem e organismos aquáticos e são os principais produtos de degradação
de pesticidas organofosforados e fenoxiácidos clorados11.

10 Disponível no site http://www.qca.ibilce.unesp.br/prevencao/produtos/fenol.html acesso em


15/10/2016

11
Disponível no site http://mortandadedepeixes.cetesb.sp.gov.br/alteracoes-fisicas-e-quimicas/conta-
minantes/fenol/ acesso em 15/10/2016
22

3.6.9 Ferro Solúvel (Fe2+)

A presença de ferro nas águas permite o desenvolvimento das chamadas fer-


robactérias. Essas bactérias são encontradas principalmente na rede de distribuição,
nos filtros e poços profundos. Essas bactérias transmitem à água odores fétidos e
cores: avermelhada, verde escura ou negra. Além dessas circunstâncias que, muitas
vezes, tomam a água imprópria ao consumo, as ferrobactérias obstruem as canaliza-
ções, pela formação de precipitados, também provocando manchas em sanitários e
roupas.

3.6.10 Fluoretos

Quando a concentração de fluoreto em água potável ultrapassa 1,5 mg/l de


flúor, provoca mancha nos dentes. Contudo, os efeitos tóxicos ocorrem somente em
quantidades muito maiores, pois são necessários 230 mg de fluoreto de sódio, como
dose tóxica, a 4000 mg, como dose letal.

A ingestão de flúor acima dos limites recomendados causa alterações da es-


trutura óssea, inutilização por fluorose e morte.

3.6.11 Manganês Solúvel (Mn2+)

O manganês apresenta um comportamento semelhante ao ferro. Manganês no


estado reduzido (Mn2+) é mais frequente nas águas subterrâneas do que nas águas
superficiais. A causa disto é que o oxigênio, presente nas águas superficiais, oxide o
manganês a uma forma menos solúvel: óxido de manganês hidratado.

Existem duas razões principais para limitar a concentração do manganês nas


águas de consumo humano: Prevenir os prejuízos de ordem estética e econômica e
evitar efeitos fisiológicos adversos, devido ao seu consumo excessivo.
23

3.6.12 Mercúrio

O mercúrio está presente no meio ambiente, quando utilizado na indústria e na


agricultura. Verifica-se a aplicação do mercúrio na produção eletrolítica da soda e do
cloro, na fabricação de instrumentos industriais e farmacêuticos, pinturas, catalisado-
res, na produção de pesticidas (fungicidas, herbicidas), explosivos etc.; constituindo,
assim, um componente frequente de diversos resíduos industriais.

Ainda que o mercúrio inorgânico possa ter efeitos prejudiciais ao homem e a


outros animais, tornou-se claro que os compostos orgânicos de mercúrio na forma de
alquil são os mais tóxicos, principalmente o metil mercúrio.

A toxidez aguda com o mercúrio pode provocar náuseas, vômitos, cólicas ab-
dominais, diarreia sanguínea, danos aos rins e, usualmente, morte dentro de um pe-
ríodo de dez dias. Já a toxidez crônica caracteriza-se por inflamação da boca e gen-
givas, dilatação das glândulas salivares, salivação excessiva, perda dos dentes, pro-
blemas renais, alterações psicológicas e psicomotoras.

Com relação a efeitos genéticos e a longo prazo, devido à exposição ao mer-


cúrio, os estudos provaram que compostos de mercúrio provocam rompimento dos
cromossomos e agem como inibidores do mecanismo mitótico. No caso do metil-mer-
cúrio, o cérebro é o primeiro a ser danificado, com destruição dos tecidos nervosos,
de modo irreversível.

3.6.13 Níquel

O cianeto CN-, combinado com níquel, forma o níquel-cianeto. A quantidade de


1 mg/l de cianeto, combinado com níquel, é mais tóxico, em um pH baixo, do que 1000
mg/l do mesmo complexo a um pH 8, condição em que sua toxidez passa a ser des-
prezível.

Juntamente com seu gêmeo cobalto, deposita-se no cérebro e no sistema ner-


voso central, provocando uma série de doenças de caráter irreversível, em termos de
24

coordenação motora, cegueira, problemas auditivos, podendo levar a algumas formas


de paranoia.

3.6.14 Prata

O principal efeito da prata no corpo humano consiste numa descoloração per-


manente da pele, olhos a mucosa. Não são conhecidas as quantidades de prata co-
loidal para produzir este estado de argirismo, que servirá como base para o estabele-
cimento do seu padrão nas águas.

3.6.15 Selênio

O selênio é altamente insolúvel e precisa oxidar-se de selenita para selenato,


antes que apreciáveis quantidades apareçam na água. Existem evidências de que
essa reação é catalisada por certas bactérias do solo. A toxidez do selênio assemelha-
se à do arsênio e, se a exposição for suficientemente demorada, pode causar a morte.
Os sais de selênio são rápidos a eficientemente absorvidos pelo trato intestinal e eli-
minados em grande quantidade pela urina. A retenção é alta no fígado a nos rins.

3.6.16 Sulfato

Os sulfatos encontram-se nas águas, como resultado da lixiviação do gesso e


de outros minerais comuns. Também são produzidos como resultado final da oxidação
dos sulfetos, sulfitos, tiossulfatos e da matéria orgânica no ciclo do enxofre que, por
sua vez, são fontes de energia para as sulfobactérias, que transformam os sulfitos em
sulfatos. Tanto o sulfato de sódio como o de magnésio são laxativos, bem conhecidos,
obtendo-se a seguinte conclusão: quando uma água contém cerca de 750 mg/l de
sulfato, possui ação laxativa, não tendo este efeito em concentrações inferiores a 600
mg/l.
25

3.6.17 Sulfeto

O gás sulfídrico (H2S) ou sulfureto (S2-) pode ser decorrente da poluição indus-
trial como, por exemplo, de fábricas de papel, de refinarias, de óleos, de curtumes etc.
Este gás é tóxico, corrosivo e causa sérios problemas de odor e sabor. É letal aos
peixes na concentração de 1 a 6 mg/l. A maior parte dos sulfetos, sendo agentes
fortemente redutores, também é responsável por uma demanda imediata de oxigênio
dissolvido nos cursos de água. Os sulfetos também impedem a floculação nas esta-
ções de tratamento de água a provocam manchas e fixações.

3.6.18 Zinco

O zinco é empregado em materiais galvanizados, fios elétricos, pigmentos para


pinturas, cosméticos, produtos farmacêuticos, inseticidas, podendo encontrar-se em
muitos resíduos industriais. Alguns sais de zinco como: cloreto de zinco, sulfato de
zinco são muito solúveis em água.

Outros sais de zinco como: carbonato de zinco, hidróxido de zinco, óxido de


zinco, sulfeto de zinco são insolúveis na água e, por isso, algumas quantidades de
zinco podem ser removidas por decantação nos processos de tratamento de água.
Salienta-se que a solubilidade do zinco é variável, dependendo do pH e da alcalini-
dade. São conhecidos os efeitos tóxicos do zinco sobre peixes, bem como para certos
tipos de algas. Frequentemente ocorrem mortes em massa de peixes em aquários
ornamentais, vitimados por zinco, proveniente do revestimento interno de canos gal-
vanizados. No corpo humano, causa falhas no crescimento e perda do paladar.

3.6.19 Cromo

Sais de cromo são raramente encontrados nas águas naturais, de modo que
quando estão, são oriundos de poluição por despejos industriais. O cromo, tanto he-
xavalente quando o trivalente, é largamente usado nas operações de niquelagem e
cromagem de metais, corantes, explosivos, cerâmicas, papel, despejos de curtumes
e de circulação de águas de refrigeração, quando é usado no controle da corrosão.
26

4 PROCESSO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES

Os principais elementos químicos que compõem os efluentes de indústrias gal-


vânicas são o cromo trivalente (Cr2+), Chumbo (Pb), Ferro II (Fe2+), Zinco (Zn), Man-
ganês (Mn), Estanho (Sn), Cádmio (Cd) e Níquel (Ni).

De acordo com pesquisas realizadas e com suporte de manuais técnicos de


uma empresa que atua há mais de 20 anos desse ramo, essas substâncias possuem
uma faixa certa de pH para ser precipitadas, caso contrário, continuam em solução na
forma de íons ou na forma de compostos solúveis.

De acordo com o quadro abaixo, pode-se observar que existe uma faixa de pH
que enquadra todos as substâncias, quanto à sua capacidade de precipitação.

Figura 1: Quadro de pH ótimo para precipitação de cada metal pesado no efluente.

Fonte: ROCHA, Luis. Manual de tratamento de efluentes (arquivo interno).

Essa faixa de pH (7,5-11,5) é denominada de faixa ótima de precipitação.

Nessa faixa, todas as substâncias anteriormente citadas precipitam mais facil-


mente, e é nela que a estação deverá operar, para se obter o máximo de eficiência.
27

4.1 GRADEAMENTO

São grades postas após a captação dos efluentes, caso contenham sólidos so-
brenadantes. A distância entre a lateral de uma coluna e a lateral imediatamente ao
lado deve ser menor do que o diâmetro dos sólidos que necessitam ser retirados para
dar continuidade no tratamento.

O diâmetro e o material da coluna devem ser escolhidos com base na capaci-


dade de resistir fisicamente à vazão do efluente e quimicamente à composição do
efluente.

Sua limpeza (retirada dos sólidos presos pelas grades) deve ser agendada para
obter o máximo desempenho da ETE, dependendo do volume de sólidos grosseiros
contidos no efluente.

Normalmente essa limpeza é realizada entre 1 e 2 vezes ao dia, porém pode


aumentar se a quantidade de sólidos dor alta. A principal necessidade da retirada
desses sólidos é protege as bombas, válvulas, registros e evitar o entupimento das
tubulações.

4.2 TANQUE DE EQUALIZAÇÃO (ACÚMULO)

Este tanque capta os efluentes e acumula em seu interior, tendo como objetivo
homogeneizar e regularizar a vazão aduzida para as etapas subsequentes.

Este tanque é necessário caso o despejo de efluentes seja descontínuo ou de-


sigual, pois ele recolhe esses efluentes e os libera em uma determinada vazão, para
que o resto da linha de tratamento opere em vazão constante.

Essa homogeneização consiste em regularizar a cor, o pH, a temperatura, a


carga orgânica e a turbidez, para praticamente anular a variação desses poluentes e
características, fazendo com que posteriormente a dosagem de reagentes e de polie-
letrólitos seja constante, aumentando a eficiência total da ETE.
28

O material do tanque, dos reatores e das tubulações devem ser rigidamente


escolhidos, para evitar qualquer deformação, corrosão e desgaste conforme essa ETE
é utilizada ao decorrer do tempo.

Para manter a uniformidade do efluente em todos os pontos do tanque, o


mesmo deve possuir um agitador e ter suas extremidades arredondadas, para manter
os sólidos menores em suspensão e a composição química em todos os pontos do
tanque o mais igual possível.

O tranque de acúmulo possui, na maioria dos casos, volume suficiente para


abastecer a estação de tratamento por um período de 4 a 6 horas, podendo haver
modificação, dependendo da vazão e da jornada de trabalho da empresa.

Este tanque deve ter o nível de água controlado por um sistema automático que
desligará a bomba, quando o nível mínimo for atingido, e a ligará quando a lâmina
ascender até o nível máximo.

As bombas desse tanque nunca deverão operar a seco, pois a cavitação dete-
riora brutalmente as bombas, então se a vazão do efluente decair sensivelmente, a
estação deve ter um atuador para regular a vazão de abastecimento da ETE, para
deixar sempre as vazões de entrada e de saída semelhantes, evitando escassez ou
acúmulo.

O tanque deve ser limpo quando necessário, ter seu fundo e suas paredes de-
sincrustados, geralmente com esguichamento de água, ou possuir uma camada de
revestimento que impede os poluentes de incrustarem no material do tanque.

A manutenção das bombas deverá seguir as orientações dos fabricantes, de-


vendo sempre possuir duas bombas instaladas, sendo uma para a operação principal
e outra para reserva ou rodízio.

Em caso de defeito, a bomba avariada deverá ser imediatamente levada para


conserto e substituída.
29

4.3 REATOR DE QUEBRA DE EMULSÃO

Esse reator nem sempre está presente pois não é comum ter óleos e graxas
emulsionados no efluente. Esse reator adiciona o efluente com óleo emulsionado e
injeta ácido concentrado, fazendo com que o pH da emulsão desça à níveis abaixo de
2,0, pois abaixo dessa faixa a emulsão se quebra, gerando duas fases: a fase aquosa
e a fase oleosa, que contém todos os óleos e graxas contidos no efluente.

4.4 SEPARADOR ÁGUA-ÓLEO

Os separadores de água e óleo são imprescindíveis quando há graxa e óleos


no geral contidos no efluente, pois podem causar perde de eficiência na ETE, pois o
tratamento de óleos atualmente possui um alto custo, então são separados no início
do tratamento e são descartados ou enviados para postos que realizam sua recicla-
gem ou tratam para reutilização, após sua classificação de acordo com o CONAMA.

Esse separador retira a água pelo extremo inferior e o óleo pelo extremo supe-
rior, devido a diferença de densidade das duas substâncias.

4.5 TANQUE DE CORREÇÃO DE PH (NEUTRALIZAÇÃO)

Os despejos equalizados são, em sua maioria, extremamente alcalinos, de-


vendo ter seu pH reduzido, para assim atingir os valores ótimos para floculação, sendo
utilizado geralmente ácido sulfúrico, podendo ser substituído pelo ácido clorídrico.

O pH ótimo pode variar, porém nunca excede a faixa de 7,5 a 11,5, de acordo
com a figura 1. Este tanque deve possuir um agitador para aumentar a área de contato
do efluente com o ácido, para reduzir o pH de maneira igual. A dosagem ótima de
ácido é calculada com base nos ensaios Jar-test.
30

4.6 TANQUE DE MISTURA RÁPIDA

Neste tanque se inicia o processo de coagulação, sendo aplicados os produtos


químicos, tais como cloreto férrico ou sulfato de alumínio, objetivando a dispersão
destes produtos de forma rápida, devido à um misturador rápido de montagem fixa,
com entrada e saída em cantos opostos e com chicanas para quebrar os vórtices
(cortinas) e com cantos arredondados.

4.7 TANQUE DE FLOCULAÇÃO

O tanque de floculação recebe o efluente do tanque de mistura rápida e através


da agitação lenta, se completa o processo de floculação.

Este tanque deve ter um agitador fixo, cantos arredondados, entrada por baixo
e saída por cima, com descarga de fundo para remoção de depósitos de materiais
sedimentáveis, sendo esses materiais direcionados para o tanque de equalização.

A passagem é feita para o decantador por um vertedor retangular, de modo que


a velocidade não provoque quebra dos flocos.

No tanque de floculação é aplicado o polieletrólito, para aumentar a densidade


do floco através da aglutinação.

4.8 DECANTADOR SECUNDÁRIO

Depois de completada a floculação, no decantador secundário ocorre a sedi-


mentação, onde os flocos, ao se tornarem mais densos, depositam-se no fundo, per-
mitindo serem removidos por pressão hidrostática para a caixa de lodo e posterior-
mente para adensamento.

O líquido clarificado flui de forma ascendente e é recolhido por canaletas, sendo


direcionado ao corpo receptor.
31

É necessário ter um número de Reynolds baixo para o decantador operar, pois


ele é efetivo apenas em regime laminar.

4.9 ADENSADOR DE LODO (PULMÃO DE LODO)

O lodo formado no fundo do decantador é recolhido, através de pressão hidros-


tática, para uma caixa provida de sistema de recalque e desta para o adensador.
Neste tanque é recolhido mais uma parte do líquido por calhas, direcionando ao de-
cantador novamente. O objetivo do adensador é reduzir a umidade do lodo, obtendo
menos volume e maior concentração.

4.10 FILTRO-PRENSA

O lodo do fundo do adensador é removido através de carga hidrostática para


uma caixa de lodo dotada de sistema de recalque, que conduz para o filtro-prensa.
Neste processo ocorre a desidratação do lodo, transformando-se em torta, recolhida
em containers. A água restante do filtro-prensa retorna para o tranque de equalização;
a água do adensador de lodo, chamado também de pulmão de lodo, retorna para o
decantador, pois essa água teve a mesma origem da água do decantador, o reator de
floculação.

4.11 PARTICULARIDADES NO TRATAMENTO DEVIDO À NECESSIDADE DO


EFLUENTE (GASOSO; OLEOSO; EMULSIONADO; ETC.)

Efluentes especiais demandam tratamentos especiais. Quando há a presença


de efluentes gasosos, é necessária uma cabine ou uma capela para retirar esse eflu-
ente da fábrica e passar por um lavador de gases. Quando o efluente contém óleo, é
necessário a passagem pelo tanque separador de água e óleo. Quando o efluente
possui uma emulsão, é necessário ainda mais um passo além do separador de água
e óleo, é necessário um reator de quebra de emulsão.
32

5 NOVAS TECNOLOGIAS ALIADAS AO TRATAMENTO FÍSICO-QUÍMICO


DE EFLUENTES E SUAS VANTAGENS

Com o avanço da tecnologia na área galvânica, onde peças de carro, artigos


de utilidade industrial, artigos de decoração e outras peças metálicas no geral passam
por um tratamento para adquirir mais resistência, durabilidade ou tenacidade, o au-
mento de despejos tóxicos aumentou muito. Devido à essa evolução na indústria, leis
obrigaram a tratar os resíduos gerados pela produção.

A lei atualmente ainda permite um certo nível de toxicidade das águas descar-
tadas, porém a longo prazo isso será prejudicial ao planeta no geral, tanto para os
vegetais quanto para os animais.

Com isso, atualmente métodos mais eficientes de tratamento de efluentes têm


sido estudados, como o aperfeiçoamento do tratamento físico-químico tradicional, a
ultrafiltração, a osmose reversa, filtros contínuos (belt filter), filtros semi contínuos,
entre outros.

5.1 TRATAMENTO FÍSICO-QUÍMICO

O tratamento físico-químico convencional é um dos mais utilizados para tratar


efluentes de indústrias galvânicas, pois não existe grande presença de carga orgânica
e os metais pesados contidos nos efluentes são altamente prejudiciais às bactérias e
aos fungos que fariam a depuração biológica. Este processo consiste na adição de
soluções químicas ao efluente industrial, que possui componentes na forma solúvel e
na forma particulada.
33

5.2 ULTRAFILTRAÇÃO

A ultrafiltração consiste em módulos compostos centenas de fibras ocas com


menos de um milímetro de diâmetro, sendo porosa, com os poros tendo tamanho má-
ximo de 0,01 mícron, que fornece uma área superficial grande o suficiente para ga-
rantir um bom fluxo de tratamento.

A ultrafiltração exige um pré-tratamento no efluente, pois se o mesmo conter


uma elevada carga de resíduos, o processo terá de ser interrompido diversas vezes,
para manutenção e limpeza das fibras.

Neste caso, a água filtrada, que possui em torno de partículas de tamanho in-
feriores a 130 micra, parte para o interior do cartucho de ultrafiltração e ocupa todo o
espaço disponível. A água sob pressão entra no módulo através da barreira formada
pela membrana. Os resíduos são retidos na superfície da membrana e a água é reti-
rada do interior das fibras.

Para maximizar a filtragem, há a eliminação dos resíduos pela retrolavagem,


que é realizada periodicamente.

Figura 2: Corte das membranas de ultrafiltração

Fonte: site http://www.elessia.com/pt/explication-du-procede-dultrafiltration.html, acesso em


12/10/2016.
34

5.3 OSMOSE REVERSA

A osmose reversa, bem como a nanofiltração, se encaixam no grupo de ultra


filtração, onde o que se diferencia são as membranas, em sua porosidade.

A osmose reversa e a nanofiltração tem os mesmos princípios da ultrafiltração,


onde existe a entrada do efluente pelo cartucho, penetrando nas membranas e a água
pura saindo pelo tubo coletor.

Assim como as outras filtrações da família, a osmose reversa requer um trata-


mento de água antes de retirar todas as impurezas contidas nas águas, devido a sua
alta capacidade de filtragem (TAE, 2012).

Figura 3: características de cada filtração

Fonte: site http://www.revistatae.com.br/noticiaInt.asp?id=4576 acesso em 20/09/2016 .

5.4 FILTROS (BELT FILTER)

A grande vantagem do filtro prensa esteira, ou Belt filter press, é sua filtração
ser contínua, o que permite uma capacidade maior de produção.
35

Seu funcionamento se consiste em telas e rolos que fazem a prensa do lodo


que penetra o filtro, formando pressão e separando a água dos sólidos no processo
final de tratamento.

Figura 4: Modelo de funcionamento de filtro prensa esteira.

Fonte: site http://frcsystems.com/belt-filter-press/ acesso em 15/10/2016.

5.5 OUTRAS ATUALIZAÇÕES

A edição da revista TAE de agosto de 2014 trouxe um tema, escrito por Daiana
Cheis, sobre tecnologias alternativas para tratamento de efluentes, focadas no trata-
mento biológico.

A maioria dos tratamentos biológicos são ineficazes para tratar metais pesados,
pois eles são nocivos à vida das bactérias e protozoários, porém, fazem parte do
avanço tecnológico na área de tratamento de água.

5.5.1 Membrane BioReactor (MBR)

Esse Sistema não se trata de uma ultrafiltração direta, mas sim de um sistema
biológico completo em que as membranas de ultrafiltração fazem parte do processo
36

de digestão da matéria orgânica presente. Um dos pontos negativos é a necessidade


do efluente ser biodegradável e ter baixa carga orgânica para ser tratado. Contudo,
comparada aos tratamentos biológicos, é vantajoso pela diminuição de área necessá-
ria para implantação e pelo gasto energético menor do que os tratamentos convenci-
onais.

5.5.2 Moving bed biofilm reactor (MBBR)

Essa tecnologia de tratamento, foi desenvolvida na Noruega na década de


1980, através da parceria entre a companhia Kaldnes Miljoteknologi (KMT) e o instituto
de pesquisa SINTEF (RUSTEN et al apud CHEIS, 2014). O tratamento consiste em
uma adaptação aos sistemas de lodos ativados por meio da introdução de pequenas
peças de plástico de baixa densidade e de grande área superficial (biomídias) no in-
terior do tanque de aeração, que atuam como suporte para desenvolvimento do bio-
filme, mantidos em constante circulação e mistura seja em função da introdução de ar
difuso ou devido à existência de agitadores mecanizados; não havendo necessidade
de recircular o lodo. (WEF, MOP nº 35, 2010; Minegatti, 2008; Rusten et al, 2000;
Ødegaard et al. 1994 apud CHEI, 2014).

Figura 5: Sistema Cleartec da B&F Dias

Fonte: http://revistatae.com.br/revistas/n20/5.jpg
37

5.5.3 Biofiltros

Biofiltro é um sistema de tratamento de água com resíduos tanto de origem


urbana como industrial. É um sistema que elimina eficientemente a matéria orgânica
e com um alto rendimento de purificação. O biofiltro é dividido tanto em tratamento
aeróbio quanto anaeróbio.

5.5.4 Sistemas de tratamento móveis

Os sistemas de tratamento móveis têm uma forte tendência no mercado, que


inclusive já estão disponíveis por diversos fabricantes. Estes sistemas são uma ótima
opção para tratar efluentes por momentos de contingência, demanda ou ampliações
temporárias ou sazonais no sistema de tratamento. A grande vantagem deste tipo de
tratamento é a mobilidade do equipamento e o poder de variabilidade do mesmo, pois
pode conter um tratamento físico-químico convencional, pode ter osmose reversa,
pode ter ultrafiltração, então pode se ajustar à necessidade da situação.

5.6 RESINA DE TROCA IÔNICA SELETIVA PARA RECUPERAÇÃO DE METAIS

Para industrias que trabalham com galvanoplastia, é interessante recuperar os


metais descartados nos efluentes residuais, como níquel, cobre, cromo, zinco, entre
outros. Para isso, entretanto, são necessárias resinas de troca iônica seletivas.

As resinas de troca iônica, na presença de uma solução, atingem um estado de


equilíbrio entre os íons presentes no grupo funcional da resina e os íons da solução.
A partir daí, são definidos coeficientes de seletividade baseados na razão dos íons da
solução pelos íons nas resinas.

A maior diferença entre o tratamento por resina de troca iônica seletiva e o


tratamento de água por osmose reversa se dá no fato de a osmose reversa não apre-
sentarem seletividade e sim níveis de rejeição de acordo com os sais dissolvidos na
solução.
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As principais resinas utilizadas neste tipo são as resinas aniônicas, catiônicas


e mistas. As resinas aniônicas e catiônicas são utilizadas principalmente nos proces-
sos de desmineralização e abrandamento de água industrial; as resinas mistas entram
no processo de polimento final de água desmineralizada.

5.7 RECUPERAÇÃO DE AGUA

Para evitar o consumo excessivo de água nas empresas, ou se a mesma visa


a redução do custo com gasto de água pelos resíduos, existe a possibilidade de se
recuperar essa água.

Indústrias do ramo de galvanoplastia necessitam, para sua produção, água


desmineralizada para ter uma maior eficácia de galvanização.

Para recuperar essa água através dos efluentes de descarte, é possível utilizar
um conjunto de equipamentos, sendo esses uma ETE, filtros de areia carvão, Abran-
dador, UV e UDI. A própria ETE se encarrega da maior parte dos sólidos a serem
retirados. Após a água ser clarificada pela ETE, ela é encaminhada para os filtros,
para polimento, remoção da turbidez e de mais sólidos suspensos. Passando pelos
filtros, a água passa pelo abrandador, onde se retira a dureza da água (íons cálcio e
magnésio). Após toda essa limpeza, encaminha-se a água para a UV (ultravioleta)
para esterilizar a água, matando todos os seres vivos contidos nela e após isso ela é
encaminhada para a UDI (unidade de desmineralização de água), onde são retirados
os íons remanescentes, tornando a água desmineralizada e pronta para utilização no-
vamente.
39

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa monografia teve como aspecto apresentar conhecimentos referentes ao trata-


mento de efluentes de indústrias que atuam no ramo de galvanoplastia, grande emissora
de metais pesados, e por consequência disso, colocam em risco a saúde de toda a fauna
e flora presente nos arredores dos rios que captam seu descarte.

Como o CONAMA instaurou uma lei que limita a emissão de poluentes e produtos
tóxicos, todas as empresas foram obrigadas a instalar estações para tratar seus despejos.
Porém, como era uma tecnologia relativamente recente no mercado, seu custo era muito
alto, fazendo com que muitas empresas atuassem ilegalmente, despejando seus resíduos
em vias naturais sem qualquer tipo de tratamento.

Com as alternativas apresentadas nesta monografia, é possível baratear o custo e a


eficiência de tratamento dos despejos tóxicos, incentivando as empresas a ficarem de
acordo com a legislação vigente e contribuir com a preservação do meio ambiente.

Com o avanço da tecnologia de tratamento, pôde-se ver que é possível inclusive re-
aproveitar a água e os metais descartados utilizados no processo de produção.

A água pode ser recuperada com a utilização de equipamentos em conjunto, para


retirar todas as impurezas e fazer com que a água volte para os tanques de galvanização.

Os metais podem ser recuperados através de resinas de troca iônica seletivas, sendo
essas cada vez mais utilizadas no tratamento de água.
40

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