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KYMLICKA, Will. Contemporary Political Philosophy: An Introduction. 2a Ed.

New York:
Cambridge University Press, 2002, Cap. 4 (Libertarianism), pp. 102-127

DFD0322 – Filosofia do Direito II


Caio Xavier dos Santos Araujo – NUSP 10776252 – Seminário 05

1. DIVERSIDADE DA TEORIA POLÍTICA DE DIREITA

1.1. Os libertários defendem a liberdade de mercado e opõem-se a políticas


tributárias redistributivas para a implementação da teoria liberal igualitária.
1.1.1. Nem todos os defensores do sistema de mercado são libertários, pois
estes consideram que tal sistema é intrinsicamente justo.
1.1.1.1. Os utilitaristas, por exemplo, defendem o modelo de mercado
somente nas situações em que, por sua produtividade, ele garante a
maximização da utilidade.
1.1.1.2. Outros (como Hayek) defendem o livre mercado como meio de
preservação das liberdades políticas e civis na medida em que
desconcentro o poder estatal.
1.1.2. Nas defesas do capitalismo não-libertárias, os direitos de propriedade são
conferidos instrumentalmente, podendo ser limitados quando não servem a
seu objetivo instrumental.
1.1.3. Os libertários acreditam que os direitos de propriedade são invioláveis
pelo Estado sob qualquer justificativa.
1.1.3.1. A violação dos direitos de propriedade equivale ao trabalho
forçado, constituindo desrespeito a direitos morais básicos.
1.2. Teoria da titularidade (entitlement) de Nozick
1.2.1. A distribuição de bens justa é aquela que parte de uma situação justa e
procede por transações voluntárias.
1.2.1.1. A tributação, um ato coercitivo, é injusto sob qualquer
circunstância, exceto para a manutenção das instituições necessárias
para o funcionamento do sistema de transações voluntárias (p.ex.
Justiça e polícia).
1.2.2. A teoria da titularidade de Nozick tem três princípios.
1.2.2.1. Princípio da transferência: tudo que é justamente adquirido pode
ser livremente transferido.
1.2.2.2. Princípio da aquisição inicial justa: uma versão de como as
pessoas obtiveram as coisas que podem ser objeto do princípio da
transferência.
1.2.2.3. Princípio da retificação da injustiça: uma forma de lidar com
bens que foram injustamente adquiridos ou transferidos.
1.2.3. Tomados em conjunto, os princípios resultam na máxima: ‘de cada um
como se escolher, a cada um como for escolhido’.
1.2.3.1. Somente um Estado mínimo, limitado às funções de segurança e
justiça, é moralmente justificável.
1.2.4. A posição de Nozick é sensível à ambição, mas não é insensível às
dotações (endowment).
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1.2.4.1. Isso viola a teoria liberal igualitária, segundo a qual se deve


tributar as transações para compensar pelas desvantagens naturais e
sociais.
1.2.4.2. Nozick rebate a crítica liberal, afirmando que todos tem um
direito absoluto de usar seus bens como quiser, desde que não recorra
a violência ou fraude.
1.2.4.2.1. Assim, não seria justo coercitivamente impor como os
bens de uma pessoa têm de ser usados, mesmo que por uma
causa filantrópica.
1.2.5. Uma leitura generosa de Nozick identifica dois argumentos em favor de
sua teoria da titularidade.
1.2.5.1. Há um argumento intuitivo, que aponta as vantagens dessa
concepção da propriedade.
1.2.5.2. Há um argumento filosófico, que deriva esses direitos de
propriedade da noção de ‘autopropriedade’ (self-ownership).
1.2.5.2.1. Esse argumento pode ser interpretado como um apelo à
ideia de tratar as pessoas como iguais.
1.2.6. Além dos argumentos de Nozick, outros autores libertários se baseiam na
ideia contratualista de vantagem múltipla ou no direito à liberdade.
1.3. Argumento intuitivo: exemplo de Wilt Chamberlain
1.3.1. Nossas objeções intuitivas ao libertarianismo advém da possibilidade de
que ele resulte em uma distribuição radicalmente desigual, que deixa
alguns na miséria e impacta as oportunidades de seus filhos.
1.3.2. Nozick mostra que, a partir de uma situação presumidamente justa, o
princípio da transferência é intuitivamente superior a princípios de
redistribuição liberais.
1.3.2.1. Ele o ilustra com a impossibilidade de mostrar que os
rendimentos de um atleta talentoso (Wilt Chamberlain), superiores ao
de todas as pessoas, são injustos se diversas pessoas escolheram pagá-
lo para vê-lo jogar.
1.3.2.1.1. A transação entre cada pessoa e Wilt Chamberlain não
impacta terceiros, de modo que estes não têm qualquer direito a
parte dos objetos da transação.
1.3.3. Este argumento tem força porque enfatiza o sentido de uma teoria das
parcelas justas: a possibilidade de cada um fazer o que quiser com sua
parcela.
1.3.4. O exemplo de Nozick não confronta a intuição sobre desigualdades
injustas.
1.3.4.1. Considerando que Wilt Chamberlain foi arbitrariamente
privilegiado por talentos naturais, nada impede de tributá-lo para
ajudar um deficiente físico que está na miséria.
1.3.4.2. O próprio Nozick considera forte a intuição liberal sobre as
desigualdades arbitrárias.
1.3.5. Nozick considera que, embora intuitiva, a concretização de direitos a
algo implica a violação de direitos absolutos sobre propriedade.
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1.3.5.1. A prevalência total da titularidade sobre os direitos a algo é uma


consequência necessária de um princípio com o qual estamos
profundamente comprometidos: o princípio da autopropriedade.

2. O ARGUMENTO DA AUTOPROPRIEDADE

2.1. Nozick considera que seu princípio da autopropriedade é uma interpretação da


exigência kantiana de tratar as pessoas como fins em si mesmos.
2.1.1. Para não tratar as pessoas como instrumentos, deve-se limitar os
sacrifícios exigíveis de cada um.
2.1.1.1. O utilitarismo é inaceitável exatamente porque não limita os
sacrifícios de cada pessoa.
2.1.2. As ações de que os indivíduos não são obrigados a abrir mão é o
conteúdo da teoria dos direitos.
2.1.2.1. Assim, o respeito aos direitos garante a dignidade de cada pessoa
e seu direito de escolher seus projetos pessoais e fomentá-los por
mecanismos voluntários.
2.2. Rawls e Nozick concordam em sua crítica ao utilitarismo quanto ao sacrifício
que pode ser demandado de cada um pelo bem da comunidade ou dos outros.
2.2.1. Ambos concordam que há direitos que são invioláveis aos cálculos
utilitaristas.
2.3. Rawls e Nozick discordam sobre qual direito é o mais importante.
2.3.1. Rawls elege o direito a uma parte dos recursos da sociedade.
2.3.2. Nozick elege o direito sobre si próprio, isto é, ter sobre si os direitos que
um dono de escravos tem sobre seu escravo.
2.4. Nozick julga incompatíveis os direitos a recursos da sociedade e o direito sobre
si próprio.
2.4.1. O direito sobre si próprio engloba o direito sobre os próprios talentos, de
modo que tudo que eles produzem é titularizado pelo indivíduo.
2.4.2. Portanto, exigir que os bens produzidos pelos talentosos sejam usados
para o bem dos não-talentosos viola o direito de autopropriedade.
2.5. Os liberais consideram que o direito sobre os próprios talentos inclui a
liberdade de uso para projetos pessoais, mas não os benefícios do exercício dos
talentos.
2.5.1. Para Nozick, isso institui direitos de propriedade parciais sobre os outros,
o que viola a igualdade kantiana.
2.6. Pode-se resumir os argumentos de Nozick em duas teses.
2.6.1. Esquemas redistributivos, como a proposta de Rawls, violam o
reconhecimento das pessoas como proprietárias de si próprias; somente o
capitalismo irrestrito não o faz.
2.6.2. O reconhecimento das pessoas como proprietárias de si próprias é
essencial para tratá-las como iguais.
2.7. Duas objeções à posição de Nozick foram levantadas.
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2.7.1. A autopropriedade não deriva necessariamente os direitos de propriedade


absolutos, sendo compatível com outros arranjos de propriedade.
2.7.2. O princípio da autopropriedade é inadequado para interpretar a
igualdade, mesmo do ponto de vista de Nozick.
2.7.2.1. Se fosse reajustado, esse princípio resultaria em uma visão de
justiça liberal.
2.8. Autopropriedade e propriedade de bens (property-ownership)
2.8.1. Deve-se examinar como Nozick deriva a propriedade de bens da
autopropriedade.
2.8.1.1. A autopropriedade gera propriedade sobre os bens criados com os
poderes de cada um.
2.8.1.2. A propriedade sobre bens físicos também pode advir de
transferências voluntárias feitas por pessoas que são legitimamente
donas deles.
2.8.1.2.1. A validade dos direitos de propriedade transferidos
depende da validade da cadeia de transferências anteriores.
2.8.1.2.1.1. Isso gera a necessidade de averiguar a validade e
explicar a aquisição inicial de recursos externos ao
indivíduo.
2.8.2. Aquisição inicial
2.8.2.1. O fato histórico de que a aquisição inicial ocorreu violentamente
gera um dilema para a teoria de Nozick.
2.8.2.1.1. Ou se considera que a violência tornou a aquisição inicial
ilegítima, de modo que não há razão moral que impeça a
redistribuição.
2.8.2.1.2. Ou se considera que a violência não torna aquisições
ilegítimas, de modo que é possível usar a força para a
redistribuição.
2.8.2.2. Nozick considera que, atualmente, a propriedade atual é ilegítima
pois sua origem foi contaminada pela aquisição inicial violenta.
2.8.2.2.1. Não é possível retornar o bem aos proprietários legítimos,
pois não se sabe de quem era o bem antes.
2.8.2.2.2. Ele sugere uma redistribuição geral nos moldes do
princípio da diferença de Rawls, a partir da qual há uma situação
justa para aplicação do libertarianismo.
2.8.2.2.2.1. Por isso, muitos teóricos consideram que a teoria
de Nozick defende políticas compensatórias no estado de
coisas atual.
2.8.2.2.3. Esse juízo de ilegitimidade é uma consequência
inescapável da teoria da justiça libertária.
2.8.2.2.3.1. Isso porque a teoria de Nozick é comprometida
com a historicidade dos eventos, em oposição ao valor de
um resultado.
2.8.2.3. Saber como se dá uma aquisição inicial legítima é essencial para
o sucesso teórico do libertarianismo.
2.8.2.3.1. Locke definiu o critério da legitimidade da apropriação de
bens naturais como não prejudicar terceiros pela apropriação.
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2.8.2.3.1.1. Assim, basta que a apropriação deixe bens


suficientes e tão bons quanto para os demais.
2.8.2.3.2. Locke considerou que a apropriação pode, inclusive,
melhorar a posição de todos.
2.8.2.3.2.1. Uma razão para isso é a tragédia dos comuns, isto
é, o desincentivo de produzir quando os frutos do trabalho
individual serão partilhados com os caronistas (free-riders)
preguiçosos que também detém o bem.
2.8.2.3.2.1.1. Essa situação também gera incentivos para
explorar destrutivamente o bem comum, para lucrar
individualmente o máximo possível.
2.8.2.3.2.2. Com a maior produtividade da propriedade
individual, mesmo os desapossados serão beneficiados pelo
maior acesso aos bens.
2.8.2.4. Nozick desenvolve a condição de Locke (proviso), segundo a qual
a aquisição inicial é justificada se a posição dos demais não-
adquirentes não é prejudicada por ela.
2.8.2.4.1. Outros sustentam, inclusive, que a apropriação sob a
condição de Locke é moralmente obrigatória, pois é a única
forma de deixar bens suficientes e tão bons quanto para todos.
2.8.2.4.2. Deve-se analisar quais prejuízos são vedados sob a
condição de Locke.
2.8.2.4.2.1. Nozick abrange os prejuízos materiais, aferidos em
comparação à situação em que o bem estava sobre
propriedade comum.
2.8.2.4.2.1.1. Isso torna legítimo que uma pessoa adquira toda a
terra de uma região e dê um salário à outra em valor
superior ao que esta obtinha da terra.
2.8.2.4.3. Nozick considera que a condição de Locke é facilmente
preenchível e possibilitará um sistema regido pela justiça
libertária.
2.8.3. A condição de Locke
2.8.3.1. Pode-se resumir a posição de Nozick em cinco proposições.
2.8.3.1.1. As pessoas são proprietárias de si mesmas.
2.8.3.1.2. O mundo é inicialmente propriedade de ninguém.
2.8.3.1.3. Pode-se adquirir direitos absolutos de propriedade sobre
uma parcela desproporcional do mundo se não se piorar a
condição dos outros.
2.8.3.1.4. É relativamente fácil adquirir direitos absolutos sobre a
parcela desproporcional do mundo.
2.8.3.1.5. Logo, uma vez que as pessoas tenham apropriado bens,
um livre mercado de capital e trabalho é moralmente obrigatório.
2.8.3.2. A posição de Nozick sobre o critério de atribuição de prejuízos é
implausível e, se revisada, levaria a direitos de propriedade limitados.
2.8.3.2.1. Ele considera que somente prejuízos materiais são
contabilizados.
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2.8.3.2.2. Ele considera que o padrão de comparação para aferição


dos prejuízos é o estado de uso comum do bem.
2.8.3.3. Prejuízos materiais
2.8.3.3.1. O fundamento da importância da autopropriedade é a
tutela da capacidade de agir com base em projetos pessoais.
2.8.3.3.1.1. Assim, seria natural que a interpretação de
‘prejuízo’ negasse qualquer condição que limitasse a
autonomia individual.
2.8.3.3.2. Contudo, a condição de Locke não impede que uma
pessoa fique subordinada à vontade de outra na condição de
empregado.
2.8.3.3.2.1. O empregado não teve a liberdade de consentir
para que a apropriação do bem no qual ele trabalha
ocorresse.
2.8.3.3.2.2. O empregado não tem a liberdade de escolher seu
trabalho, necessitando submeter-se aos ditames de seu
novo chefe.
2.8.3.3.3. Apesar do grande impacto à liberdade individual, Nozick
não confere às pessoas o direito de recusar a apropriação feita
por outros.
2.8.3.3.3.1. O direito de recusar não pode ser limitado por seu
desacerto substantivo, já que isso seria paternalismo (ao
qual Nozick se opõe).
2.8.3.3.3.2. O direito de recusar garantiria que as pessoas
pudessem participar da decisão sobre as regras da
apropriação.
2.8.3.3.3.2.1. Isso permitiria que cada um salvaguardasse a
possibilidade de seguir seus projetos pessoais.
2.8.3.4. Redução arbitrária de opções
2.8.3.4.1. Com seu padrão de comparação, Nozick não é sensível a
quem realiza a apropriação privada.
2.8.3.4.1.1. É uma doutrina de ‘quem chegar primeiro leva’,
que é arbitrária.
2.8.3.4.1.2. São ignoradas outras alternativas, como a
propriedade coletiva ou apropriações que são mais
produtivas que a anterior.
2.8.3.4.2. As arbitrariedades da aquisição inicial serão transmitidas
para as próximas gerações, gerando prejuízos para os
descendentes dos prejudicados.
2.8.3.4.3. O critério de aferição do prejuízo de Nozick aprova
qualquer regime de propriedade, de modo que não fundamenta o
capitalismo em particular.
2.8.3.4.3.1. Se algum desses outros regimes impedem que
pessoas morram de fome, parece que eles são mais
legítimos que o capitalismo.
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2.8.3.4.4. Pode-se pensar em definir o padrão de comparação dos


prejuízos como a existência de outro regime que seja melhor
para dada pessoa.
2.8.3.4.4.1. Cada sistema privilegiará mais uns que outros, de
modo que esse teste é impossível.
2.8.3.4.4.2. Esse teste é ilegítimo, pois ninguém pode
demandar que o mundo seja adaptado para suas
circunstâncias particulares.
2.8.3.4.5. O critério de comparação dos prejuízos deve ser um meio
termo entre a opção de Nozick e o melhor sistema para cada um.
2.8.3.4.5.1. Esse critério é objeto de muito debate, podendo
inclusive se distanciar bastante do libertarianismo.
2.8.3.5. Propriedade inicial do mundo
2.8.3.5.1. Nozick não justifica sua premissa de que o mundo é
inicialmente sem propriedade.
2.8.3.5.1.1. Muitos libertários consideram que o mundo é
conjuntamente propriedade de todas as pessoas, sem negar
a autopropriedade.
2.8.3.5.1.2. Um mundo que é propriedade comum pode resultar
em um esquema de Rawls, já que haveria o direito de
recusar a apropriação privada.
2.8.3.5.2. A autopropriedade não define o conteúdo da propriedade
sobre bens.
2.9. Autopropriedade e igualdade
2.9.1. Há três argumentos que partem da autopropriedade e, com outras ideias,
defendem um regime libertário.
2.9.1.1. Pode-se defender que o consenso dos seres com autopropriedade
geraria um regime libertário.
2.9.1.1.1. O consenso provavelmente geraria um regime liberal
igualitário, a julgar pela argumentação de Rawls sobre o véu da
ignorância.
2.9.1.2. Pode-se defender que regimes liberais violam um conceito
material de autopropriedade, a autodeterminação, já que o indivíduo
depende da permissão dos outros para perseguir seus interesses.
2.9.1.2.1. A base fundamental da teoria dos direitos de Nozick é
permitir que cada um possa agir segundo suas próprias
concepções do bem, exigindo a autodeterminação.
2.9.1.2.2. Contudo, o libertarianismo não garante a
autodeterminação a todos, sobretudo aos trabalhadores
desapossados.
2.9.1.2.2.1. Nozick explicitamente afirma que a reivindicação
legítima de cada um se restringe à autopropriedade formal.
2.9.1.2.2.2. Os desapossados não explorados, porque são
compelidos a participar de um sistema que não lhes dá
autodeterminação.
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2.9.1.2.3. Assim, os programas de redistribuição buscam tornar igual


a parcela de autodeterminação que cada um tem, transferindo-a
dos ricos para os pobres.
2.9.1.2.3.1. A limitação à autodeterminação que os ricos
sofrem com esses programas não é inaceitável, em
comparação àquela dos pobres.
2.9.1.3. Pode-se defender que programas de redistribuição violam a
dignidade das pessoas, que é essencial para tratá-las como iguais.
2.9.1.3.1. Se a dignidade for ligada à autodeterminação, já se
demonstrou que os regimes liberais são superiores aos
libertários.
2.9.1.3.2. O conteúdo da dignidade depende de concepções prévias
sobre o certo ou errado, de modo que não pode fundamentar uma
vedação por si só.
2.9.1.4. O valor da autopropriedade depende de ela garantir a
autodeterminação.
2.9.1.4.1. A razão da preocupação de Nozick com a autopropriedade
é a tentativa de evitar a escravização de uma pessoa.
2.9.1.4.1.1. Isso é melhor feito garantindo a autodeterminação.
2.9.1.4.2. Susan Okin sustenta que a autopropriedade de Nozick leva
à conclusão absurda de que a mãe pode ser proprietária de seu
bebê, se obtiver o esperma via transferência voluntária.
2.9.1.4.2.1. Para ela, a incapacidade de perceber essa
consequência advém de uma exclusão implícita das
mulheres e do trabalho de cuidar das crianças.
2.9.1.4.3. A ênfase de Nozick na autopropriedade advém de seu
caráter de tudo ou nada, impedindo que se analisem concepções
limitadas dos direitos ligados a ela.
2.9.1.4.3.1. Deve-se separar os elementos que contribuem para
a capacidade de perseguir seus projetos pessoais e atingir
um equilíbrio ótimo entre autopropriedade e
autodeterminação.
2.9.1.5. Nozick não enfrentou o argumento de Rawls de que os talentos
naturais são circunstâncias arbitrárias ao invés de propriedades do
indivíduo.

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