História do pensamento filosófico  As escolhas, como votar, mudar de emprego, praticar esportes ou ir

ao teatro, são baseadas em diferentes critérios, todos envolvendo

 Conceituar e identificar as características das diferentes abordagens do valores que nos orientam, mesmo que não tenhamos total clareza
real: o pensamento mítico, o senso comum, a experiência religiosa, o
sobre eles. Refletir sobre o que é melhor para nossa vida é,
conhecimento científico, a reflexão lógico-filosófica.
essencialmente, um exercício filosófico.
 Refletir criticamente, através da análise e discussão de textos filosóficos.
Ler, de modo filosófico, textos de diferentes áreas do conhecimento.
 A disposição para o filosofar decorre do fato de sermos pessoas
 Relacionar os principais problemas abordados pelo pensamento filosófico racionais e sensíveis, capazes de dar sentido às coisas. Chamamos
com o contexto atual, possibilitando o exercício do pensamento de filosofia de vida a esse filosofar espontâneo.
autônomo.  A filosofia de vida é, na verdade, uma “pré-filosofia”, apenas uma
disposição para o filosofar, que pode cumprir-se ou não.
Módulo 1- O QUE É E POR QUE ESTUDAR FILOSOFIA?
Conteúdo do módulo: Filosofia do especialista:
 Já a filosofia do especialista ocupa-se com o rigor do conceito, o que
 Para Saviani (2000)*, o que leva o ser humano a filosofar são os
pressupõe intimidade com a história da filosofia.
problemas que ele se defronta no decorrer da sua vida. “Eis pois, o objeto
 O pensar do filósofo: Não é melhor nem superior a todos os outros, mas
da filosofia, aquilo de que trata a filosofia, aquilo que leva o homem a
diferente, porque se propõe a problematizar nossos pensamentos e
filosofar: são os problemas que o homem enfrenta no transcurso da sua
nossas ações, resultando a experiência filosófica.
existência” (2000, p. 10).
 Os filósofos estão sempre questionando o mundo e a si mesmos, pois não
 O ser humano ao produzir continuamente sua própria existência enfrenta
aceitam certezas absolutas e soluções rápidas. Por isso, delimitam os
o iniludível: problemas, configurados como necessidades que não podem
problemas que os intrigam e buscam o sentido desses pensamentos e
ser ignorados, pois a resolução desses problemas é de vital importância
ações.
para a existência humana. Dessa forma, diante dos problemas o ser
humano deve refletir em busca de esclarecê-los, elucidá-los.
2- É possível definir a filosofia?
 A filosofia pode ser definida como uma reflexão radical, rigorosa e de
 O filósofo alemão Edmund Husserl diz saber o que é filosofia, ao mesmo
conjunto sobre os problemas que a realidade apresenta.
tempo que assume desconhecê-la.
TEXTO: A experiência filosófica (Capítulo 1). ARANHA, Maria Lúcia de Arruda &  Explicitar o que é filosofia já é, em si, uma questão filosófica. Portanto,
MARTINS, Maria Helena P. Martins. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4a ed. São mesmo quando os pensadores se arriscam a dar respostas, sabem que
Paulo: Moderna, 2009. são sempre imprecisas e provisórias.

1- Filosofia da vida Filosofia não é um saber

 As questões filosóficas fazem parte do nosso cotidiano. Qualquer decisão  A estranha afirmação de que a filosofia não é um saber significa que ela
que tomamos se baseia sempre em reflexões que podem ser de natureza não constitui uma doutrina, no sentido de uma teoria ou um conjunto de
filosófica. conhecimentos estabelecidos de uma vez por todas. Ao contrário, o
 filosofar é uma atitude que pressupõe constante disponibilidade para a
indagação.
 Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude do filósofo é admirar-
se, ser capaz de se surpreender com o óbvio e questionar as verdades
dadas. Essa é a condição para problematizar, o que caracteriza a filosofia
como busca da verdade, e não como sua posse.
Filosofia não se confunde com ciência
 Enquanto as ciências se especializam e observam "recortes" da realidade,
a filosofia jamais renuncia a analisar seu objeto do ponto de vista da
totalidade. Isso porque é uma visão de conjunto, em que o problema
filosófico nunca é examinado parcial e isoladamente, mas sempre
conforme a relação estabelecida com o contexto em que se encontra
inserido, ou seja, a filosofia se apresenta como reflexão crítica e
problematização do saber e do agir.
3- O processo do filosofar
 Kant sobre filosofar: [...] não é possível aprender qualquer filosofia; [...] só
é possível aprender a filosofar, ou seja, exercitar o talento da razão,
fazendo-a seguir os seus princípios universais em certas tentativas
filosóficas já existentes, mas sempre reservando à razão o direito de
investigar aqueles princípios até mesmo em suas fontes, confirmando-os
ou rejeitando-os.
 Kant destaca que aprender filosofia requer esforço pessoal para exercitar
o talento da razão, mas isso não significa ignorar as conquistas anteriores
do pensamento filosófico. Ele incentiva o estudo dos grandes filósofos,
mas também defende o direito de cada um refletir por si próprio,
concordando ou discordando das ideias encontradas. A filosofia é, acima
de tudo, uma experiência contínua de pensamento. Ao encontrar a
tradição filosófica, é preferível não recebê-la passivamente como um
produto acabado, mas compreendê-la como um processo de reflexão
crítica e questionadora da realidade.
4- Para que serve a filosofia?
 Vivemos num mundo que valoriza as aplicações imediatistas do
conhecimento. O senso comum aplaude a pesquisa científica.
 Com essa linha de pensamento, a filosofia seria “inútil”, já que não serve
para qualquer alteração imediata de ordem prática.
 No entanto, ela é fundamental para compreender o ser humano e o
mundo. Por meio daquele “olhar diferente”, a filosofia busca outra
dimensão da realidade além das necessidades imediatas nas quais o
indivíduo encontra-se mergulhado
5- Reflexão filosófica
 O conceito de reflexão, não é exclusivo da filosofia. O que, portanto,
distingue a reflexão filosófica das demais? Na tentativa de “delimitar”,
pelo menos provisoriamente, vamos examinar a proposta do filósofo
brasileiro Dermeval Saviani*, que conceitua a filosofia como uma reflexão
radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas apresentados pela
realidade.
 Radical: A filosofia é radical, não no sentido corriqueiro de ser inflexível,
mas porque busca explicitar os conceitos fundamentais usados em todos
os campos do pensar e do agir.
 Rigorosa: O pensamento filosófico é rigoroso por ser argumentativo e
por manter a coerência de suas diversas partes. A linguagem rigorosa
evita a ambiguidade das expressões cotidianas, o que permite a
interlocução com outros filósofos com base em conceitos claramente
definidos. É por meio do rigor dos conceitos que os caminhos da reflexão
se inovam.
 De conjunto: A filosofia é um tipo de reflexão totalizante, de conjunto,
porque examina os problemas relacionando diversos aspectos entre si.
Mais ainda, o objeto da filosofia é tudo, porque nada escapa a seu
interesse.
6- O exemplo de Sócrates
 Ao dialogar, Sócrates não era um professor que “ensinava verdades”, mas
alguém que estimulava cada um a pensar por si mesmo.
 Seu conhecimento não é um saber acabado, porque está em processo de
se fazer, e tem por conteúdo a experiência cotidiana.
 Sua crítica ao saber dogmático não implica que ele próprio seja detentor
de um saber. Desperta as consciências adormecidas, mas não se
 considera um “farol” que ilumina: o caminho novo deve ser construído
pela discussão e pela busca das soluções.
 Sócrates é “subversivo” porque “desnorteia”, perturba a “ordem” do
conhecer e do fazer, por isso incomoda tanto os poderosos.
TEXTO: “A missão da Filosofia”. CARVALHO, J. M. Revista de Ciências Humanas
EDUFSC, n.29, p.81-92, Florianópolis, abr. de 2001. Acesso em: 18 out. 2013
As origens na Grécia ou considerações introdutórias
 A filosofia é uma forma de pensar a existência, de tratar o sentido do
mundo e de nossa presença nele.
 A filosofia é uma forma de explicar o mundo de modo racional, sendo que
a sabedoria filosófica se tornou estratégia para lidar com a argumentação
mendaz.
 Através dela é possível rejeitar as explicações sem rigor conceitual, pode-
se contraditar os poderosos sem escrúpulos e os inescrupulosos sem
poder.
 A sabedoria ensinada por Sócrates é uma forma de racionalidade que
propicia o desenvolvimento do espírito crítico, justamente por isso ele foi
condenado a beber cicuta. E que ensinar a pensar é uma ameaça a ordens
sociais injustas e aos privilégios dos poderosos, considerado conduta
desviante pelos governantes, quase sempre, punível com a morte.
 A Filosofia teve várias definições ao longo da história do ocidente, aquela
que melhor traduz o espírito que Sócrates lhe imprimiu a apresenta como
uma amizade pela sabedoria que se exprime pelo pensamento.
O sentido revolucionário do filosofar
 A Filosofia alterou significativamente a vida dos gregos e, posteriormente,
toda a cultura ocidental, ao oferecer um novo meio de explorar o dilema
fundamental da existência e seu significado, uma questão essencial para a
humanidade em todos os períodos.
 0 confronto com o passado da consciência humana é para o homem de
hoje o alimento da reflexão.
 Refletindo sobre as origens da filosofia na Antiga Grécia e as lições
extraídas da história da disciplina, somos levados a uma nova abordagem
sobre sua origem. A filosofia surge do empenho de cada indivíduo em
buscar compreender a razão por trás de sua própria existência. Ao
confrontar-se com essa tarefa, ao ponderar sobre a missão da filosofia em
nosso tempo, torna-se evidente que não podemos ignorar o legado
filosófico desenvolvido ao longo dos últimos dois mil e quinhentos anos.
Este legado representa a matéria-prima com a qual temos que trabalhar.
A origem pessoal do filosofar
 O filosofar está relacionado a uma tradição cultural, emerge na Grécia e
ali se desenvolveu como investigação de certos problemas, porque
existiam condições para o seu florescimento. Além disso, indicamos,
embora sucintamente, que novos problemas emergiram como resultado
das mudanças ocorridas na cultura.
Nosso tempo e seu tema
 A filosofia em nosso século se deparou com a existência e sua missão
consistiu em esclarecer a situação do homem, em elucidar o seu modo de
ser e a traçar novas bases do seu viver.
 O trabalho central da Filosofia é clarear o sentido de nossa presença no
mundo a partir do que nele introduzimos.
A missão da filosofia ou consideração conclusivas
 A Filosofia instiga a sabedoria, a explicação radical de que falava Sócrates,
que nós sempre temos dificuldade de formular. Cabe ao filósofo insistir,
construir essa explicação, ainda que ela necessite ser refeita mais tarde,
porque nossa consciência é histórica e não definitiva. Esta é uma lição
preciosa da Filosofia, nossa obra é falível porque nós próprios o somos e
ela espelha nosso modo de ser.
 A Filosofia tem hoje, como teve na antiga Grécia, a missão de elaborar
argumentos válidos capazes de nos libertar do medo e da ignorância. A
Filosofia instiga a não nos acomodarmos, pois a acomodação do homem
alimenta a irracionalidade da besta fera, que toda a evolução da espécie
não eliminou.
 A precariedade da nossa existência realça, neste final de milênio, a
importância do filosofar. Filosofemos, pois, e anunciemos a dignidade do
 homem e a necessidade da racionalidade. A Filosofia é nossa resposta
contra as forças da corrupção e as ameaças a humanidade.
 pensamento crítico.
TEXTO: Introdução – Para que Filosofia? CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13ª
ed. São Paulo: Ática, 2003.
 Em nossa vida cotidiana, afirmamos, negamos, desejamos, aceitamos ou
recusamos coisas, pessoas, situações. Fazemos perguntas como “que
horas são?”, ou “que dia é hoje?”. Dizemos frases como “ele está
sonhando ”, ou “ela ficou maluca”.
 Imaginemos, agora, alguém que tomasse uma decisão muito estranha e
começasse a fazer perguntas inesperadas. Em vez de “que horas são?” ou
“que dia é hoje?”, perguntasse: O que é o tempo? Em vez de dizer “está
sonhando” ou “ficou maluca”, quisesse saber: O que é o sonho? A
loucura? A razão?
 Alguém que tomasse essa decisão, estaria tomando distância da vida
cotidiana e de si mesmo, teria passado a indagar o que são as crenças e
os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existênsenso
cocia.
 Ao tomar essa distância, estaria interrogando a si mesmo, desejando
conhecer porque cremos no que cremos, porque sentimos o que
sentimos e o que são nossas crenças e nossos sentimentos. Esse alguém
estaria começando a adotar o que chamamos de atitude filosófica.
 Assim, uma primeira resposta à pergunta “O que é Filosofia?” poderia
ser: A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias,
os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência
cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e
compreendido.
 Perguntaram, certa vez, a um filósofo: “Para que Filosofia?”. E ele
respondeu: “Para não darmos nossa aceitação imediata às coisas, sem
maiores considerações.
 A atitude filosófica possui duas características principais: negativa e
positiva. A negativa consiste em rejeitar o senso comum, os preconceitos
e as ideias estabelecidas, enquanto a positiva envolve questionar a
natureza das coisas, suas razões e seu funcionamento. Essas indagações
fundamentais formam a base do pensamento filosófico. A combinação
dessas duas faces constitui o que se chama de atitude crítica e
A filosofia começa por rejeitar as crenças e preconceitos do senso comum,
reconhecendo a própria ignorância. Sócrates afirmava que a primeira
verdade filosófica é reconhecer que "nada sabe". Para Platão, a filosofia
começa com a admiração, enquanto Aristóteles acredita que ela começa
com o espanto. Tanto admiração quanto espanto significam distanciar-se
do mundo familiar e questioná-lo como se fosse desconhecido, buscando
entender o que é, por que é e como é o mundo, assim como o que somos,
por que somos e como somos.
 Uma sociedade que valoriza principalmente a utilidade imediata das
disciplinas. Enquanto outras áreas do conhecimento são aceitas sem
questionamento, a Filosofia muitas vezes é vista como inútil e até mesmo
como um devaneio sem sentido.
 A Filosofia é apresentada como uma disciplina que questiona, reflete e
critica tanto as crenças comuns quanto os conhecimentos científicos
estabelecidos. Ela busca entender a natureza das coisas, as relações
humanas, a moralidade e os princípios que fundamentam o pensamento
e a ação.
 A reflexão filosófica, portanto, envolve uma análise sistemática das
questões fundamentais da existência, tais como o propósito da vida, a
natureza da realidade e a busca pela sabedoria. Embora não tenha uma
definição única, a Filosofia aborda uma ampla gama de temas, desde a
ética até a epistemologia, sempre com uma abordagem crítica e reflexiva.
 Apesar de muitas vezes ser considerada inútil pelo senso comum, a
Filosofia é defendida como uma disciplina essencial para a compreensão
de si mesmo, da sociedade e do mundo. Ela oferece ferramentas para
pensar de forma independente, questionar pressupostos e buscar o
conhecimento verdadeiro, contribuindo assim para o bem-estar e a
felicidade da humanidade.
Módulo 2- A CONSCIÊNCIA MÍTICA E AS FUNÇÕES DO MITO
Conteúdo do módulo:
  A palavra mito tem sua origem etimológica em mythos, que significa
“palavra”, “o que se fala”.
 De um modo geral os mitos faziam parte da cultura e eram contados pelos
pais, pelas amas de leite, pelas pessoas em geral, pelos aedos (isto é
poetas cantores).
 Desse modo, o mito é uma forma de explicar o mundo, de atribuir sentido
ao existente e assim tranquilizar o ser humano. Trata-se de uma verdade
intuída cuja autoria se perde no tempo, sendo, em geral, considerado
como uma produção anônima e coletiva.
 Os mitos não foram produzidos apenas na Grécia antiga. Diferentes povos
em diferentes épocas produziram seus próprios mitos, como por exemplo,
os mitos produzidos por tribos indígenas da floresta amazônica. O ponto
comum entre as diferentes concepções míticas é a busca de dar sentido
ao mundo, de dar uma explicação para os fenômenos desconhecidos.
TEXTO: A consciência mítica. (Capítulo 2). ARANHA, Maria Lúcia de Arruda &
MARTINS, Maria Helena P. Martins. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4a ed. São
Paulo: Moderna, 2009.
A consciência mítica.
 O mito é a forma mais remota de crença, por meio do qual os povos se
relacionam com o sobrenatural.
 Tem caráter explicativo ou simbólico.
 O mito está impregnado do desejo humano de afugentar a insegurança,
os temores e a angústia diante do desconhecido, do perigo e da morte.
 Os relatos míticos se sustentam pela crença em forças superiores, cuja
existência não precisa se comprovada. São elas que protegem ou
ameaçam, recompensam ou castigam.
 Examinando de forma racional os mitos, muitos tendem a categorizá-los
como meras lendas, histórias fantasiosas desprovidas de veracidade. No
entanto, para diversas culturas antigas, como os gregos e povos indígenas,
os mitos representam uma forma de responder questões fundamentais
sobre a origem dos deuses e do mundo.
 Contrariamente à perspectiva contemporânea da verdade, o mito é
encarado como uma narrativa que dispensa comprovações, embasada
unicamente na crença e fé. Ele emerge como uma intuição compreensiva
da realidade, enraizada nas emoções e afetividade humanas, capturando
desejos, temores, atrações e repulsas em relação ao mundo.
 O "falar sobre o mundo" por meio do mito reflete o anseio humano por
compreensão, dissipando inseguranças, temores e angústias diante do
desconhecido e da morte.
 O mito possui três funções principais:
1. Explicar – o presente é explicado por alguma ação que aconteceu no
passado, cujos efeitos não foram apagados pelo tempo.
2. Organizar – o mito organiza as relações sociais, de modo a legitimar
e determinar um sistema complexo de permissões e proibições. O
mito de Édipo existe em várias sociedades e tem a função de
garantir a proibição do incesto, por exemplo. O “castigo” destinado a
quem não obedece às regras funciona como “intimidação” e garante
a manutenção do mito.
3. Compensar – o mito conta algo que aconteceu e não é mais possível
de acontecer, mas que serve tanto para compensar os humanos por
alguma perda, como para garantir-lhes que esse erro foi corrigido no
presente, oferecendo uma visão estabilizada da Natureza e do meio
que a cerca.
 Assim, o mito é uma primeira narrativa sobre o mundo, uma primeira
atribuição de sentido ao mundo, na qual a afetividade e a imaginação
exercem grande papel.
 Além de explicar a realidade, o mito também trata de adaptar
psicologicamente o homem ao mundo.
A mitologia grega
 Na Grécia antiga, os mitos eram recitados de memória em praça pública
pelos aedos e rapsodos, cantores ambulantes e poetas, como Homero e
Hesíodo. Porém, nem sempre é possível identificar a autoria desses
poemas, por resultarem de produção coletiva e anônima.
Homero:
 A autoria das epopeias Ilíada e Odisseia é atribuída a Homero, embora haja
controvérsias sobre sua existência e a época em que teria vivido. Alguns
sugerem que os poemas foram compilados por diferentes autores em
 períodos históricos distintos, devido à diversidade de estilos. Na Grécia
antiga, esses poemas desempenhavam um importante papel pedagógico,
narrando episódios da história grega e transmitindo valores culturais por
meio das realizações dos deuses e antepassados. As crianças aprendiam
passagens desses poemas desde cedo.
 As epopeias retratavam a intervenção constante dos deuses nas ações
heroicas, mostrando o indivíduo como sujeito ao destino imutável. O herói
grego vivia dependente dos deuses e do destino, sem noção de vontade
pessoal ou liberdade, mas era visto como superior pelas virtudes do
guerreiro belo e bom, destacando-se pela coragem e força, especialmente
em batalha. A virtude, para os gregos, representava excelência e
superioridade, expressa também na habilidade de persuasão discursiva na
assembleia dos guerreiros.
Hesíodo:
 Hesíodo, um poeta que teria vivido entre o final do século VIII e o início do
século VII a.C., é conhecido por sua obra Teogonia, na qual relata as
origens do mundo e dos deuses. Nessa obra, as forças emergentes da
natureza se transformam nas próprias divindades, tornando a teogonia
também uma cosmogonia, narrando a transição do Caos para a ordem do
Cosmo.
 Apesar de seu interesse nos mitos, Hesíodo desenvolveu um estilo pessoal
que revela suas particularidades, diferenciando-se da poesia impessoal e
coletiva das epopeias. Essas características apontam para o período arcaico
em que vivia.
 Em Teogonia, Hesíodo descreve o surgimento do Caos, dando origem às
divindades primordiais, como Gaia (a Terra) e Eros. Gaia, por sua vez, gera
Urano e, em união com ele, dá origem aos gigantes, ciclopes e titãs.
O mito hoje
 Apesar do desenvolvimento do pensamento reflexivo, o mito persiste em
nosso cotidiano, expressando-se por meio de crenças, temores e desejos.
Embora não exerça o mesmo domínio que antigamente, o mito ainda
influencia várias áreas da vida, como na linguagem, entretenimento e
comportamento social. A filosofia reconhece sua importância na
compreensão do mundo. Elementos míticos estão presentes em rituais de
passagem e eventos culturais, como o Carnaval e o futebol, refletindo o
imaginário coletivo e forças inconscientes.
A filosofia nasceu no ocidente
 O pensamento filosófico surgiu na Grécia, mais propriamente nas colônias
gregas, com os primeiros pensadores: Tales de Mileto, Pitágoras e Heráclito
de Éfeso.
 Os sábios orientais, contemporâneos aos filósofos gregos, não
desenvolveram doutrinas filosóficas, concentrando-se em promover a boa
conduta e a harmonia social, muitas vezes ligadas a aspectos práticos e
religiosos. Em contrapartida, os filósofos gregos buscavam problematizar a
realidade, questionando princípios constituintes das coisas com base na
razão (logos), o que os distingue como os precursores da filosofia. Além
disso, os gregos deram primazia ao racional não apenas na filosofia, mas
também na geometria, expandindo seu conhecimento para além do uso
prático, diferentemente das culturas orientais, que aplicavam conceitos
geométricos principalmente empiricamente em construções.
Leitura Complementar
TEXTO: VERNANT, J. P. O universo, os deuses, os homens. Trad. Rosa Freire
d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
Módulo 3- O SURGIMENTO DA FILOSOFIA
TEXTO: O nascimento da filosofia (Capítulo 3).ARANHA, Maria Lúcia de Arruda &
MARTINS, Maria Helena P. Martins. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4a ed. São
Paulo: Moderna, 2009.