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Materiais e Tecnologias de Fabrico

Limite elástico e cedência

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2023/2024
Limite elástico e cedência
• Todos os sólidos têm um limite elástico a partir do qual acontece
alguma coisa irreversível:
– O comportamento reversível, ou quase, até deformações elevadas (como o das
borrachas) é excecional.

– Um sólido rígido é normalmente frágil e fratura, quer subitamente (como o


vidro), quer progressivamente (como o betão).

– Outros materiais de Engenharia deformam plasticamente mudando de forma


de um modo permanente.

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Curva tensão-deformação típica de um metal dúctil em tracção

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Importância da tensão de cedência

- Limites na carga suportável

- Limites na energia elástica absorvível

- Design:
- Minimização de custos
- Minimização de dimensões
- Minimização de massa

- Desenvolvimento de materiais alternativos

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Valores de propriedades mecânicas
Material y (MPa) TS (MPa) f
Diamante 50000 — 0
Carboneto de silício (SiC) 10000 — 0
Nitreto de silício (Si3N4) 8000 — 0
Alumina (Al2O3) 5000 — 0
Berílio (BeO) 4000 — 0
Mulite (3Al2O3.2SiO2) 4000 — 0
Carboneto de titânio (TiC) 4000 — 0
Zircónia (ZrO2) 4000 — 0
Vidro comum 3600 — 0
Magnésia (MgO) 3000 — 0
Cobalto e suas ligas 180-2000 500-2500 0,01-0,6
Aços de baixa liga 500-1980 680-2400 0,02-0,3
Ligas de níquel 200-1600 400-2000 0,01-0,6
Titânio e suas ligas 180-1320 300-1400 0,06-0,3
Ferros fundidos 220-1030 400-1200 0-0,18 5
Valores de propriedades mecânicas
Material y (MPa) TS (MPa) f
Ligas de cobre 60-960 250-1000 0,01-0,55
Latão e bronze 70-640 230-890 0,01-0,7
Ligas de alumínio 100-627 300-700 0,05-0,3
Aços inox austeníticos 286-500 760-1280 0,45-0,65
Ligas de zinco 160-421 200-500 0,1-1,0
CFRPs (tracção-compressão) — 670-640 —
Ligas de magnésio 80-300 125-380 0,06-0,20
Aço macio 220 430 0,18-0,25
PMMA 60-110 110 —
GFRPs — 100-300 —
Gelo 85 — 0
Poliestireno 34-70 40-70 —
Níquel 70 400 0,65
Cobre 60 400 0,55
Prata 55 300 0,6 6
Valores de propriedades mecânicas
Material y (MPa) TS (MPa) f
ABS/policarbonato 55 60 —
Ferro 50 200 0,3
Ouro 40 220 0,5
Alumínio 40 200 0,5
Madeiras comuns (compressão,  ao grão) — 35-55 —
Chumbo e suas ligas 11-55 14-70 0,2-0,8
Acrílico/PVC 45-48 — —
Estanho e suas ligas 7-45 14-60 0,3-0,7
Polipropileno 19-36 33-36 —
Polietileno de alta densidade 20-30 37 —
Betão comum, compressão 20-30 — 0
Borracha natural — 30 5,0
Polietileno de baixa densidade 6-20 20 —
Madeiras comuns (compressão,  ao grão) — 4-10 —
Espuma de poliuretano 1 1 0,1-1
Valores representativos da tensão de cedência de metais

y (MPa) Estrutura
Ferro 50 ccc
Aços austeníticos 300-500
Aços para altas pressões 1500-1900
Alumínio 40 cfc
Ligas de alumínio 100-267
Cobre 60 cfc
Ligas de cobre 60-960
Níquel 70 cfc
Ligas de níquel 200-1600
Ligas de zinco 160-421 hc
Zircónio e ligas 100-365 hc
Magnésio e ligas 80-300 hc
Prata 55 cfc
Chumbo e ligas 11-55 cfc
Estanho e ligas 7 –45 TCC 8
Cedência em cabos
A tensão num cabo que suporta uma carga F reduz-se a F/A, sendo A
a área da secção. Esta tensão deve permanecer inferior à tensão de
cedência de modo a evitar deformação plástica (no limite igual), isto
é:

 = F/A = F/[p(d/2)2]  y
L
Esta condição implica um valor mínimo para o diâmetro, i.e.:
p(d/2)2 > F/y
Este diâmetro determina o volume, massa e o custo do cabo:

𝝆 = 𝒎ൗ𝑽 Volume = p(d/2)2L > LF/y


Massa = LF(r/y)
Custo = LF C1(r/y)
F
sendo C1 o custo unitário (por kg) e ρ a densidade.
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Critério de desempenho = y/r Maximizar
Cedência num barra de suspensão

Os riscos de cedência numa barra de suspensão são igualmente elevados. No caso


de uma barra apoiada nas extremidades e carregada no centro, as tensões
atingem um valor máximo na posição central, sob o ponto de aplicação da
carga. Esta tensão aumenta com a carga aplicada e com a distância entre apoios,
diminuindo com a largura (b) e com o quadrado da espessura (t2) de acordo com:

Tensão de flexão  = 1,5FL/(bt2)  y


(área de secção retangular)

As expressões da tensão desenvolvida e condições de cedência no caso de suspensão


em varão de secção circular de raio R são semelhantes, isto é:
 = FL/(pR3)  y

F
b
A B
t
C 10
Minimização de custos de material em sistemas de
suspensão
A análise das condições limite de operação (sem exceder a cedência) também
permite a obtenção de um critério de minimização de custos, tendo em conta que
esta imposição se traduz em dimensões mínimas, com consequências no volume e
massa de material consumido. No caso do varão circular é possível estimar o raio
com base no valor limite da tensão:

 = FL/(pR3)  y
R > [FL/(py)]1/3

Custo = massa x custo unitário mássico


= pL R2 r C1
Custo > C1p1/3L5/3r [F/(y)]2/3

sendo C1 o custo unitário (por unidade de massa) e r a massa específica.

Neste caso, o custo mais baixo corresponde ao menor valor de


C1r/y2/3. Nota: a massa do próprio material foi ignorada ! 11
Exercício 1
Qual dos seguintes materiais permite minimizar os custos de vigas capazes de
suportar elevadas cargas?
(Nota: despreze a massa do próprio material)
Plasticidade de metais
Os planos atómicos mais compactos são os principais responsáveis
pela deformação plástica dos monocristais, sendo o escorregamento dos
planos facilitado pelo movimento de deslocações. Estas permitem que o
escorregamento ocorra passo a passo, isto é, mediante movimentos de
átomos individuais ou de uma linha de átomos, sem necessidade de
movimentar simultaneamente todos os átomos do plano. Deste modo, a
“energia de ativação” necessária é relativamente reduzida, mesmo à
temperatura ambiente, tornando possível a deformação plástica dos metais,
incluindo o trabalho a frio.

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Plasticidade:
Escorregamento de planos densos
O escorregamento é facilitado pela existência de planos de átomos com elevada
compacidade, minimizando assim as diferenças de energia entre o estado de
equilíbrio e o estado transiente, como se pode ver na figura seguinte.

Representação da maior facilidade de escorregamento em determinadas direções


de planos atómicos mais compactos tais como o plano (111) na estrutura cfc.
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Os principais planos de escorregamento são os planos (111) nos metais com
estrutura CFC, o plano (011) nos metais com estrutura CCC e o plano basal (0001)
nos metais com estrutura hexagonal compacta.

Cubica de faces Centradas Cubica de corpo Centrado Hexagonal compacta


(CFC) (CFC) (CFC)

Influência da estrutura
cristalina na ductilidade
Sistemas de escorregamento:
Metais cfc
Nos metais com estrutura cfc (Cu, Ni, Co, …) os planos mais compactos são os planos
octaedrais do tipo {111}, como se representa na figura seguinte. O movimento das deslocações
pode efetuar-se nas 3 direções de escorregamento representadas. Embora existam 8 planos
octaedrais por célula unitária, considera-se que planos paralelos entre si são idênticos. Por isso,
apenas se contabilizam 4 planos diferentes, a que correspondem 12 sistemas de
escorregamento, isto é, 12 combinações de 1 plano e de 1 direção de escorregamento.

y
x 16
Sistemas de escorregamento:
Metais ccc (W, Mo, Fe-, latão-)

A estrutura ccc não possui planos com a máxima compacidade. Os planos mais compactos
neste sistema são {110}, como se mostra na figura. O escorregamento pode efetuar-se nas 2
direções representadas. Existem 6 planos do tipo {110}, a que correspondem 6x2=12
sistemas de escorregamento. As tensões de corte necessárias para deformar metais ccc são
mais elevadas do que no caso de metais cfc.

y
x 17
Defeitos vs. plasticidade

• cálculo teórico (a partir da estrutura atómica e da rigidez


das ligações entre átomos): produz valores típicos de
E/y≈15.
– Os vidros e alguns cerâmicos aproximam-se deste valor, apresentando
a resistência ideal;
– a maior parte dos polímeros também — embora tenham tensões de
cedência baixas, os seus módulos também são baixos;
– todos os metais, pelo contrário, apresentam tensões de cedência
muito abaixo dos valores calculados, por vezes cinco ordens de
grandeza abaixo.
• este comportamento deve-se ao facto dos cristais reais terem defeitos
(pontuais e/ou lineares).
• tal como a resistência de uma cadeia é determinada pelo elo mais
fraco, também a resistência de um cristal, e, portanto, a do material, é
limitada pelos defeitos que ele contém.

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Defeitos Pontuais
◼ Falta de um átomo (ou ião) no local normal de rede: lacuna

◼ Posicionamento num local não normal (intersticial) de um átomo do


próprio material ou estranho (impureza).

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Defeitos Lineares - Deslocações
◼ Um tipo de defeito que faz com que um material ceda (i.e.
deforme plasticamente) mais facilmente, é a deslocação: fila
de átomos ausentes ou fora de lugar na rede cristalina.
◼ devido às deslocações, os átomos não precisam de se mover todos
em simultâneo: o escorregamento não é instantâneo, mas antes o
movimento progressivo de deslocações através da rede cristalina.

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Defeitos Lineares - Deslocações

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Deslocações em cunha e parafuso

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Plasticidade de metais: Efeitos
das deslocações
1
2
3
4
5
6

Representação de uma deslocação em cunha e seu movimento,


originando deformação plástica.

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Endurecimento
• Endurecimento: aumento da resistência de um material (que não
pode, nunca, ultrapassar a resistência teórica):
– encruamento: muitas deslocações juntas interferem e dificultam o movimento
umas das outras (endurecimento por trabalho);

– solução sólida: adição de átomos estranhos (e.g., latão, aço inox);

– precipitados ou dispersão: ultrapassado o limite de solubilidade sólida, passam a


coexistir duas fases e os átomos em excesso precipitam como pequenas partículas,
muito próximas umas das outras (e.g., duralumínio – CuAl2);

– qualquer combinação dos três.

• O encruamento cria dificuldades na conformação:


– uma tensão de cedência originalmente baixa pode subir rapidamente (quando se
atinge a deformação limite, o metal fissura ou rompe), a ponto de ser necessário
interromper o processo de conformação, recozer o material e recomeçar.

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Endurecimento por trabalho a frio
A existência de diversos planos de escorregamento nos materiais metálicos
torna inevitável a interação das deslocações em movimento com vários desses
planos. Desta interação resulta obstrução do movimento das deslocações e o
consequente endurecimento, sobretudo quando a sua concentração é
elevada. O endurecimento por trabalho a frio implica que os metais devam ser
sujeitos a recozimentos intermédios para remover o excesso de deslocações.

O endurecimento por trabalho a frio é geralmente descrito por uma


dependência exponencial entre a tensão de cedência (de corte) e a
distorção, isto é:
t y  gm
A relação entre tensão de cedência e extensão numa amostra policristalina
com orientação aleatória dos grãos e sujeita a força uniaxial é semelhante:
y   m
25
Endurecimento por trabalho a frio
0.3
Trabalho
a frio recozido
0.2
(GPa)

0.1

0
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5

Representações típicas de curvas tensão nominal-extensão


nominal de amostras de cobre trabalhadas a frio e recozidas
26
Endurecimento por trabalho a frio

27
Deslocações durante o trabalho a frio

28
Endurecimento por solução sólida
A presença de átomos com raios inferiores ou superiores ao raio do metal maioritário
origina tensões locais cuja presença inibe o movimento das deslocações e,
consequentemente, a deformação plástica. Por exemplo, a presença de átomos de zinco
(com raio atómico superior ao do cobre) torna os latões mais duros do que o cobre.
Considera-se que a solução sólida introduz um contributo adicional para a resistência ao
escorregamento, fazendo subir a tensão de corte crítica.

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Endurecimento por soluções sólidas

O endurecimento por solução sólida depende da concentração de soluto,


como ocorre nas soluções sólidas Cu-Zn (latões) ou Cu-Sn (bronzes). A
tensão de cedência deverá aumentar com o decréscimo da distância entre
átomos de soluto responsáveis pela inibição do movimento da deslocações.
Esta distância pode estimar-se a partir da concentração de átomos de soluto
C=n/V=1/L3, sendo L3 o volume correspondente a 1 só átomo de soluto.
Logo, LC-1/3 e espera-se que a tensão de cedência aumente com C1/3.
30
Endurecimento por precipitação

A formação de precipitados, frequentemente com escala nanométrica, é


outro dos principais mecanismos de endurecimento de metais, devido à
imobilização das deslocações. Este mecanismo de endurecimento assume
especial importância nos duralumínios (p. ex. ligas de Al-Cu). 31
Endurecimento por precipitação

32
Exemplo

Projecto de folhas de mola: selecção de um material que não


deforme plasticamente.

• Considere o seguinte esquema:

33
Exemplo

• Uma barra elástica de secção retangular, apoiada em ambas as extremidades e


carregada no centro por uma força F, experimenta uma deflexão 
(desprezando a sua própria massa) dada por:

Fl 3
=
4Ebt3
• com esta geometria de carga, a tensão é máxima à superfície da barra e é dada
por:
3Fl
= 2
2bt
• a tensão máxima deverá ser sempre inferior à tensão de cedência y, a partir da
qual ocorrerá deformação plástica permanente:
3Fl 𝝈𝒚 𝟔𝜹𝒕
2
 y ou seja: > 𝟐
2bt 𝑬 𝑰 34
Exemplo

• Substituindo os valores das dimensões da mola na relação (y/E), obtém-se:

𝝈𝒚 𝟔𝜹𝒕 𝟔 × 𝟔, 𝟑𝟓 × 𝟐 −𝟑
> 𝟐 = = 𝟒, 𝟕 × 𝟏𝟎
𝑬 𝑰 𝟏𝟐𝟕𝟐

Material E (GPa) y (MPa) y / E (10-3)


Latão 120 638 5,32
Bronze 120 640 5,33
Bronze fosforado 120 770 6,43
Bronze de Berílio 120 1 380 11,5
Aço 200 1 300 6,5
Aço inox 200 1 000 5,0
35
Exemplo

• Os valores apresentados na Tabela anterior mostram que o aço,


que é o mais barato dos materiais listados, é adequado para este
fim, mas com um coeficiente de segurança preocupantemente
pequeno para acomodar o eventual desgaste das capas de fricção;

• de todos os materiais indicados, só o bronze de Berílio, muito


mais caro, assegura um coeficiente de segurança confortável

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Exemplo

• As molas de suspensões de veículos, onde se exigem grandes δ (suspensões macias) e


grande capacidade de suportar carga (grandes F) são concebidas usando molas de folhas
múltiplas: pode manter-se t pequeno para obter um δ elevado sem cedência plástica (de
acordo com (σy/E)>6 δt/l2) enquanto que a capacidade de suportar carga perdida devido
ao pequeno t é recuperada pelas várias folhas combinadas.

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Exemplo

• Outros materiais, além dos metais listados, podem ser adequados para a construção de
molas:

– o vidro, ou a sílica vítrea, com (σy/E)≈58x10-3 (E=69 GPa, σy=4 GPa), é excelente
desde que opere protegido de ser riscado ou de receber carga por impacto:
suspensões de galvanómetros;

– o nylon também é bom (E=4 GPa, σy=87 MPa, σy/E)≈22x10-3), desde que a carga
a suportar seja baixa: usado em aplicações domésticas e em brinquedos — e
também nas cerdas das escovas de dentes;

– as folhas das molas dos camiões pesados são atualmente feitas em CFRP: o seu
valor de (σy/E) é comparável ao do aço (6x10-3) e a economia de massa compensa
o custo mais alto.

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Exercício 2
Tendo em conta valores típicos da tensão de cedência (80 MPa) e massa específica
(2,70 g/cm3) do alumínio, estime a altura máxima de um cabo de alumínio suspenso
pela sua extremidade superior de modo a que a tensão produzida pelo peso do
próprio cabo não provoque deformação plástica.

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