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Alfabetização e Letramento
Alfabetização e Letramento
Alfabetização e letramento
e letramento
Luciana Carolina Santos Zatera
Código Logístico
ISBN 978-65-5821-208-9
I0 0 0 7 8 5 9 786558 212089
Alfabetização
e letramento
IESDE BRASIL
2023
© 2023 – IESDE BRASIL S/A.
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Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-208-9
22/12/2022 22/12/2022
8 Alfabetização e letramento
1
Escrita, alfabetização e
letramento: história e conceitos
A linguagem é um tema altamente complexo. Embora o ser humano se
comunique por meio da fala há milhões de anos, ainda há muitas dúvidas
relacionadas ao modo como se adquire a linguagem. Por outro lado, não
costumamos nos preocupar muito com isso no dia a dia, porque a fala nos
parece ser muito natural. Basta uma criança conviver com falantes de uma
língua para que, rapidamente e de modo muito eficaz, passe a falar e a ser
entendida por seus pares.
Contudo, quando tratamos da aquisição da linguagem escrita, há ou-
tras questões a serem abordadas, pois, para dominá-la, faz-se necessário
que o aprendiz passe por um processo explícito e sistematizado de ensi-
no. Por isso, este capítulo objetiva apresentar os conceitos preliminares
para o estudo da alfabetização, do letramento e de suas metodologias.
Primeiro conheceremos a história da escrita, ou seja, como ela se desen-
volveu ao longo dos anos, desde seu surgimento. Em seguida, veremos
que, uma vez criado o sistema de escrita, foi preciso desenvolver um
modo de ensiná-lo às gerações. Então, estudaremos a história da alfabeti-
zação ocidental e brasileira e, por fim, aprofundaremos os conceitos de al-
fabetização e letramentos, considerando suas semelhanças e diferenças.
Objetivos de aprendizagem
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Já os desenhos e as pinturas antecedem esse processo, uma vez que
passaram de uma função inicialmente estética para outra mais des-
critiva, isto é, com o objetivo de representar a realidade por meio de
símbolos, para identificar, por exemplo, uma pessoa ou objeto. Barbo-
sa (1994, p. 35) afirma que “nesta fase, a pintura, os desenhos não têm
ligação direta alguma com o idioma, com a fala – que expressa ideias de
maneira auditiva e não visual”.
10 Alfabetização e letramento
feitos para a posteridade, a partir de símbolos semelhantes aos usados
por diferentes pessoas, com auxílio da memória. Isso é decisivo para o
desenvolvimento da escrita (BARBOSA, 1994).
gogramas) que evocavam a palavra em si, sem a mediação da imagem Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=TVxmJoi-DDg&t=15s.
do objeto (FARACO, 2012). Essa evolução garantiu maior amplitude e
Acesso em: 13 dez. 2022.
funcionalidade ao ato de escrever, pois nem todas as palavras referem-
-se a objetos visíveis e que podem ser desenhados tal qual a realidade.
Mas a evolução da escrita não parou por aí. Ainda era necessário
memorizar um número muito grande de sinais – que representavam
ideias e não palavras – para ler e escrever. Veja um exemplo, baseado
em Barbosa (1994).
Quadro 1
Evolução da escrita
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Se esse desenho estivesse
O desenho de um pé Poderia significar associado a outro sinal, poderia
significar
Pé Apressar-se
Caminhar Carregar
Estar em pé Alicerce
12 Alfabetização e letramento
Figura 1
Hieróglifos
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1
Destaca-se, na história da escrita, os povos semíticos , que man- 1
tinham contato com o Egito e a Mesopotâmia, usavam o papiro e um O termo semítico ou semi-
ta refere-se a vários povos
alfabeto de 22 sinais. Conforme Barbosa (1994, p. 36-37), “nesse alfa- – dentre eles, árabes e
beto, cada sinal representava uma consoante única, usando o som das hebreus – que viviam no
Oriente Médio, ocupando
vogais indicado apenas pelo contexto”. uma vasta região, entre o
Mar Vermelho e o planal-
Segundo Cagliari (1998), os fenícios (um dos povos semíticos), para to iraniano. Muitas línguas
formar seu próprio alfabeto, escolheram hieróglifos egípcios que lem- compõem a família semí-
tica, por exemplo, fenício,
bravam o significado das palavras. A primeira palavra era alef (que sig- hebraico, árabe etc.
nificava boi), e o hieróglifo correspondente era o desenho da cabeça de
um boi. Esse desenho passou a representar o som inicial da palavra alef.
Esse processo aconteceu com todas as palavras e suas respectivas con-
soantes. Assim, essas palavras escolhidas passaram a ser os nomes das
letras que representavam a consoante inicial de cada uma das palavras.
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Fonetização
(sumérios)
Escrita silábica
(semitas)
Alfabeto (gregos)
14 Alfabetização e letramento
1.2 História da alfabetização no Brasil
Vídeo
Sabendo que os sistemas de escrita têm pelo menos 6 mil anos, po-
demos supor que a alfabetização acompanha esse importante fato his-
tórico, pois quem criou as primeiras formas de representar graficamente
a fala, as ideias e os pensamentos deve ter se preocupado com a manei-
ra como os demais membros da comunidade fariam para decifrá-las.
Figura 3
História da alfabetização
ck
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Abert/
• Criado o primeiro alfabeto e • Métodos com base nos sons das • Privilegia a função social da
o primeiro método de ensino: letras e de palavras conhecidas. escrita.
soletração, alfabético ou ABC. • Método fônico: ensino dos sons • Leva em conta as hipóteses
• Processo lento e complexo. das letras e não o seu nome. criadas pelas crianças
• Decorar as 24 letras do • Método silábico: ensinam-se acerca da escrita.
alfabeto grego. os nomes das vogais, das
• Associar o valor sonoro à consoantes e as famílias
representação gráfica. silábicas.
• Memorização das famílias • Método global: partir de um
silábicas, das mais simples às contexto mais próximo da
mais complexas. criança. Iniciar apresentando
• Leitura de palavras e pequenos palavras inteiras, depois
textos, segmentados em sílabas. analisar cada sílaba.
16 Alfabetização e letramento
tura pela palavra e depois analisar os sons das letras. Esse método foi Saiba mais
amplamente difundido no Brasil e foi responsável pelo início do debate As primeiras obras de
alfabetização em língua por-
entre os defensores dos métodos sintéticos (da parte para o todo) e tuguesa foram as seguintes,
dos analíticos (do todo para a parte). segundo Cagliari (1998):
Cartinha: escrita em
Então, é a partir do início do período republicano (1889) que ocorre 1540, por João de Barros
(1496-1571), juntamente
a instituição do método analítico, que passa a ser obrigatório em vários
com a gramática portugue-
estados brasileiros. Todavia, a disputa entre os partidários do método sa mais antiga. Continha o
alfabeto, tabelas (taboas)
sintético e os do método analítico acirra-se nessa época. Mortatti (2006)
com todas as combina-
salienta que, nesse mesmo período, a educação brasileira ganha des- ções de letras usadas para
escrever as palavras.
taque como uma das utopias da modernidade. A escola universaliza-se
Método portuguez para
como local adequado para o preparo das novas gerações, ideal para o ensino do ler e do es-
educar as “massas iletradas”. Saber ler e escrever, nesse momento his- crever: de Antonio Felicia-
no de Castilho, publicada
tórico, tornou-se instrumento privilegiado de aquisição de saberes e em 1850. Apresentava um
elemento decisivo de modernização e desenvolvimento social. alfabeto pictural ou icônico
e textos narrativos para
Nesse contexto, a educação, antes restrita e direcionada aos mais ensinar o uso das letras.
abastados, em casa ou nas poucas escolas do Império, cede espaço à Cartilha maternal ou
arte de leitura: cartilha
educação popular, de caráter obrigatório, leigo e gratuito. Sendo assim, portuguesa muito famosa
necessário organizar o ensino, de forma sistematizada, com o principal no Brasil, escrita por João
de Deus (1830-1896).
objetivo de formar mão de obra para o mercado de trabalho, contri- Privilegiava a escrita em
buindo para o crescimento econômico do país (MORTATTI, 2006). detrimento da leitura.
18 Alfabetização e letramento
aprendem novos jogos sem lerem as regras. Mas o que isso significa no
contexto da alfabetização e do letramento?
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Alfabetização
Aprendizagem de uma tecnologia própria da lei-
tura e da escrita; domínio do código convencional
das relações grafema e fonema (SOARES, 2003).
Letramento
Processo de desenvolvimento da língua oral e
escrita. Estado ou condição que assume quem
aprende a ler e escrever (SOARES, 2014).
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2
2
/KAZA/ Significante Conjunto de sons costoboc/Shutterstock
articulados, ao qual
associamos um significado.
20 Alfabetização e letramento
Essa é uma das primeiras habilidades que devem ser aprendidas
pelas crianças em fase de alfabetização: saber que as letras usadas
para escrever as palavras da língua representam, de modo geral, os
sons da língua. Entretanto, é preciso destacar que
não se escreve como se fala. A fala se dá de diferentes maneiras
em diferentes regiões do país e em vários grupos sociais, mas
a escrita elege algumas letras e sinais para representar apenas
alguns dos sons destas variedades. Logo, a escrita não é, embora
muitos creiam nisto, uma transcrição da fala, não é um código de
transcrição. [...] Uma transcrição mais exata da fala só pode ser
obtida por meio do alfabeto fonético, mas não por meio da escri-
ta alfabética convencional. (ROJO, 2006, p. 17, grifos do original)
22 Alfabetização e letramento
Escrita
• Conjunto de habilidades linguísticas e psicológicas, desde registrar uni-
dades de som, relacionando-os a símbolos escritos, até a capacidade
de transmitir significado de modo adequado a um leitor em potencial.
1.4 Letramentos
Vídeo
No final do século XX, os estudos sobre letramento chegaram ao
Brasil e continuam avançando, sobretudo em decorrência do adven-
to das tecnologias digitais de informação e comunicação. Por essa ra-
zão, atualmente, fala-se em letramentos, no plural, pois, segundo Rojo
e Moura (2019), tudo o que se faz em ambientes urbanos envolve a
escrita. Até mesmo os analfabetos envolvem-se em práticas letradas,
como tomar ônibus, utilizar cartão bancário, receber benefícios etc.
Contudo, para participarem de práticas letradas de esferas valorizadas,
a alfabetização é o pressuposto mínimo. Mais do que isso, é preciso
ter desenvolvido outras habilidades e capacidades de compreensão,
24 Alfabetização e letramento
interpretação e produção de textos escritos. E essa prática contínua é
tarefa da escola, portanto, da educação formal, a que muitos não têm/
tiveram acesso ou tiveram de maneira precária.
Disponíveis em:
termo multiletramentos. Multi significa, primeiramente, diversidade social,
Parte 1: https://www.youtube.com/ ou seja, a “variabilidade de convenções de significado em diferentes situa-
watch?v=IRFrh3z5T5w
Parte 2: https://www.youtube.com/
ções culturais, sociais ou de domínio específico”. Isso quer dizer que os tex-
watch?v=uj4gNjksb88 tos variam muito a depender do contexto social, como citam os autores:
Acessos em: 14 dez. 2022.
“experiência de vida, assunto, domínio disciplinar, ramo de trabalho, conhe-
cimentos especializados, ambiente cultural ou identidade de gênero”.
26 Alfabetização e letramento
Figura 5
Multiletramentos
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Modal
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escrito, visual, espacial, tátil,
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Ab
gestual, áudio, oral
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Contextual
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M
Fonte: Elaborada pela autora com base em Kalantzis; Cope; Pinheiro, 2020.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Alfabetizar e letrar são práticas que devem estar presentes no dia a dia
da escola. Para isso, é necessário que os docentes conheçam a evolução
histórica pela qual passou a alfabetização e os novos caminhos apontados
pelos estudos sobre os letramentos e multiletramentos. Além disso, de-
vem compreender a especificidade de cada um desses processos, assim
como perceber que não é possível alfabetizar sem levar em conta as prá-
ticas sociais efetivas de linguagem.
Atividade 2
Construa uma breve linha do tempo acerca da história da alfabeti-
zação no Brasil. Tome como base os períodos a seguir: século XVI
até o final do Império (1889); Brasil República (a partir de 1889);
meados da década de 1920; final do século XX e início do XXI.
Atividade 3
Diferencie os termos letramento e alfabetização e explique por que
são práticas que se complementam.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, J. J. Alfabetização e leitura. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1994.
CAGLIARI, L. C. Alfabetizando sem o bá, bé, bi, bó, bu. São Paulo: Sciplione, 1998.
FARACO, C. A. Linguagem escrita e alfabetização. São Paulo: Contexto, 2012.
KALANTZIS, M.; COPE, B.; PINHEIRO, P. Letramentos. Trad. de Petrilson Pinheiro. Campinas:
Editora da Unicamp, 2020.
MENDONÇA, O. S. Percurso histórico dos métodos de alfabetização. Faculdade de Ciências e
Tecnologia, Departamento de Educação, UNESP – Presidente Prudente, p. 23-35, 15 ago. 2011.
Disponível em: https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40137/1/01d16t02.
pdf. Acesso em: 13 dez. 2022.
MORTATTI, M. do R. L. História dos métodos de alfabetização no Brasil. 2006. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/alf_mortattihisttextalfbbr.pdf. Acesso
em: 13 dez. 2022.
ROJO, R. As relações entre fala e escrita: mitos e perspectivas - caderno do professor.
Belo Horizonte: Ceale, 2006. Disponível em: https://orientaeducacao.files.wordpress.
com/2017/02/col-alf-let-13-relacoes_fala_escrita.pdf. Acesso em: 13 dez. 2022.
ROJO, R.; MOURA, E. Letramentos, mídias, linguagens. São Paulo: Parábola Editorial, 2019.
SOARES, M. A reinvenção da alfabetização. Presença pedagógica, v. 9, n. 52, jul./ago. 2003.
Disponível em: http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/programa_
aceleracao_estudos/reivencao_alfabetizacao.pdf. Acesso em: 13 dez. 2022.
28 Alfabetização e letramento
SOARES, M. B.; BATISTA, A. A. G. Alfabetização e letramento: caderno do professor. Belo
Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005. Disponível em: https://mid-educacao.curitiba.pr.gov.
br/2019/5/pdf/00220354.pdf. Acesso em: 13 dez. 2022.
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 3. ed. 2 reimp. Belo Horizonte:
Autêntica, 2014.
30 Alfabetização e letramento
Objetivos de aprendizagem
32 Alfabetização e letramento
As principais críticas feitas aos métodos sintéticos e analíticos são:
Figura 1
Críticas aos métodos sintéticos e analíticos
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Conhecimento
Ensino prevalece transmitido por
sobre a meio do método
aprendizagem. e da cartilha.
Alfabetização se
reduz à escolha
do método.
34 Alfabetização e letramento
compreender o sistema alfabético e ortográfico da linguagem escrita e
seu funcionamento social” (FRADE, 2005, p. 16).
Dito isso, vamos retomar a história dos métodos. Vale lembrar que,
quando surgiram os métodos sintéticos e analíticos, todas essas ques-
tões citadas e os aspectos da aprendizagem do sistema alfabético/orto-
gráfico da escrita e dos conteúdos relacionados ao seu uso social ainda
36 Alfabetização e letramento
não estavam em pauta na área da educação. A atenção estava voltada
apenas ao método adotado para o ensino inicial da leitura e escrita.
Nesse sentido, observe o Quadro 1:
Quadro 1
Métodos de alfabetização sintéticos e analíticos
38 Alfabetização e letramento
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Leia:
O boi e o lobo.
O lobo pula.
O boi bebe.
O lobo é belo.
Complete:
O lobo ............................................
O boi ..............................................
O lobo é .........................................
daria.volkova_art/Shutterstock
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curiosity/Shutterstock
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A vaca é a Violeta.
Bebê bebe leite de vaca.
va – ve – vi – vo – vu
Va – Ve – Vi – Vo – Vu
va – ve – vi – vo – vu
Va – Ve – Vi – Vo – Vu
40 Alfabetização e letramento
que a linguagem funciona como um todo, e que se deve por isso prio-
rizar a compreensão. Assim, contrariando o ensino da leitura e escrita
por meio de fragmentos de palavras – como nos métodos sintéticos –
os métodos analíticos postulam que a “escola tem que acompanhar os
interesses, a linguagem e o universo infantil e, portanto, as palavras
percebidas globalmente também devem ser familiares e ter valor afeti-
vo para a criança” (FRADE, 2005, p. 32).
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Suzete
Au! Au! Au! – diz Suzete.
Venha, Lili. Venha depressa.
Venha brincar comigo no jardim.
Eu gosto tanto de brincar com você!
Você corre atrás da bola.
Eu corro atrás de você.
Au! Au! Au! Venha depressa, Lili.
(FONSECA, 1961)
42 Alfabetização e letramento
A desvantagem do método de contos revela-se na incerteza do
professor em saber se os alunos estão realmente lendo as lições ou
recitando o texto que foi memorizado por eles. Portanto, se não apren-
derem a decodificar, não conseguirão ler novas palavras.
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ABHT (abacate)
LARGA (laranja)
MECLA (melancia)
AGU (caju)
BEIRA (pera)
ABHIX (abacaxi)
46 Alfabetização e letramento
a natureza social do desenvolvimento e, consequentemente, o papel 5
fundamental da educação escolar. Segundo a perspectiva histórico-cul- A pedagogia histórico-críti-
ca foi um termo cunhado
tural, é fundamental transmitir às novas gerações o que os seres huma- por Demerval Saviani,
nos já desenvolveram e conquistaram no decorrer da história. Todavia, em 1978, e “assume um
compromisso explícito
essa transferência não acontece natural nem mecanicamente. É preciso com a transformação da
6
desenvolver as funções psicológicas superiores para apropriar-se da sociedade e com a luta
socialista” (SANTOS, 2018,
cultura. Essas funções possibilitam aos indivíduos “utilizar o patrimônio p. 45), pois “a questão
humano-genérico exitosamente fazendo das apropriações mediações educacional é sempre
referida ao problema do
entre os sujeitos e a realidade” (MARTINS; MARSIGLIA, 2015, p. 30). desenvolvimento social e
das classes. A vinculação
Sabendo que a apropriação das capacidades intelectuais depende entre interesses popula-
do desenvolvimento, a educação escolar tem papel significativo nesse res e educação é explícita”
(SAVIANI, 2013, p. 72 apud
contexto, pois é a mais elaborada forma de ensinar e aprender. Para SANTOS, 2018, p. 45).
esses três estudiosos, é preciso que ela estimule “o desenvolvimento
máximo dos indivíduos tendo como referência a apropriação da cultu- 6
ra” (MARTINS; MARSIGLIA, 2015, p. 31). A educação escolar, portanto,
As funções superiores ou
para a concepção histórico-cultural, além de ter natureza social, possui processos psicológicos
superiores são capacida-
objeto, saberes, forma de apropriação e abordagem dos conteúdos.
des humanas que têm
Vejamos quais são eles. a função de organizar a
vida mental dos sujeitos
Figura 3 de modo adequado, tais
Educação escolar para a abordagem histórico-cultural como memória (ativa),
atenção (voluntária), ima-
ginação, pensamento, pla-
nejamento e linguagem.
48 Alfabetização e letramento
Figura 4
Zona de desenvolvimento proximal
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Zona de desenvolvimento
proximal (mediação)
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Pré-instrumental (a partir dos 3 anos)
50 Alfabetização e letramento
fase, introduzir cores, tamanhos, formas, quantidades, letras e outros
símbolos auxilia a criança a expressar em sua atividade gráfica, segun-
do Martins e Marsiglia (2015, p. 51), “uma relação entre signo e signi-
ficado e a servir de recurso auxiliar da memória”. A realização de uma
dobradura de um animal, por exemplo, além de desenvolver operações
motoras e cognitivas, ajuda a criança a relacionar essa dobradura a um
substantivo concreto, ou seja, é uma maneira de representar o animal.
Assim, o objetivo dessa fase é fazer a criança avançar para o registro de
um conteúdo específico.
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Face fonética
Aspecto verbal, sonoro, exterior da palavra, representação
material.
A palavra ocupa o lugar do objeto que representa.
Face semiótica
O significado da palavra ancora a significação mais ampla
da linguagem.
Função simbólica da palavra.
Permite distinguir as características essenciais dos objetos,
integrando-os em determinadas categorias.
52 Alfabetização e letramento
Na fase da escrita simbólica, os conteúdos devem avançar para a lei-
tura, interpretação e escrita de textos – agora, cada vez mais por meio
de produções individuais -, domínio do sistema de escrita alfabético e
suas particularidades, morfologia, sintaxe, concordância verbal e nomi-
nal, acentuação, pontuação etc.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aprendizagem inicial da leitura e da escrita, como se viu, é um pro-
cesso complexo e supera a questão da escolha do método. Envolve a in-
teração entre professores e alunos – diferentes sujeitos –, cada um com
repertório cultural específico. Nesse processo, é fundamental possibilitar
aos estudantes a construção dos conceitos de leitura e escrita para que,
além de dominarem a escrita convencional, aprendam os usos e as fun-
ções sociais desse fantástico instrumento cultural.
ATIVIDADES
Atividade 1
Complete o quadro a seguir, sistematizando as discussões acerca
dos métodos de alfabetização.
Atividade 3
Sintetize as fases de aquisição da escrita, citadas por Luria, de acordo com a
perspectiva histórico-cultural, completando o quadro a seguir.
REFERÊNCIAS
FONSECA, A. O Livro de Lili. 87 ed. São Paulo: Editora do Brasil, 1961.
FRADE, I. C. A. da S. Métodos e didáticas de alfabetização: história, características e modos
de fazer de professores: caderno do professor. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005.
Disponível em: https://orientaeducacao.files.wordpress.com/2017/02/col-alf-let-08-
metodos_didaticas_alfabetizacao.pdf. Acesso em: 8 dez. 2022.
GOMES, M. de F. C.; MONTEIRO, S. M. A aprendizagem e o ensino da língua escrita:
caderno do professor. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005. Disponível em: https://
www.ceale.fae.ufmg.br/files/uploads/Col.%20Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o%20e%20
Letramento/Col%20Alf.Let.%2006%20Aprendizagem_ensino_linguagem_escrita.pdf.
Acesso em: 8 dez. 2022.
LIMA, B. A. de. Caminho suave. 76 ed. São Paulo: Editora Caminho Suave, 1974.
MAIA, C. M. Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem. Curitiba: InterSaberes, 2017.
MARTINS, L. M.; MARSIGLIA, A. C. G. As perspectivas construtivista e histórico-crítica sobre
desenvolvimento da escrita. Campinas: Autores Associados, 2015.
PALANGANA, I. C. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vigotski: a relevância do
social. 6 ed. São Paulo: Summus, 2015.
PERES, E.; RAMIL, C. de A. Cartilhas, pré-livros, livros de alfabetização, livros para o ensino
inicial da leitura e da escrita: guardá-los e estudá-los, para quê? Linhas. Florianópolis, v. 19,
n. 41, p. 34-64, set./dez. 2018. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/
linhas/article/view/1984723819412018034/pdf. Acesso em: 8 dez. 2022.
SANTOS, R. E. de O. Pedagogia histórico-crítica: que pedagogia é essa? Horizontes, v. 36, n. 2,
p. 45-56, maio/ago. 2018. Disponível em: https://revistahorizontes.usf.edu.br/horizontes/
article/view/520/286. Acesso em: 28 dez. 2022.
54 Alfabetização e letramento
SOARES, M. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2016.
SOARES, M. A reinvenção da alfabetização. Presença pedagógica, v. 9, n. 52, jul./ago. 2003.
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SUZUKI, Y. R. M. As relações entre concepções de ensino: aprendizagem e alfabetização.
In: LAURITI, N. C.; MOLINARI, S. G. S (orgs.). Perspectivas da alfabetização. Jundiaí, SP: Paco
Editorial, 2013.
VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. Trad. de Paulo Bezerra. São
Paulo: Martins Fontes, 2000.
Objetivos de aprendizagem
56 Alfabetização e letramento
3.1 Desenvolvimento infantil e alfabetização
Vídeo
Iniciaremos refletindo sobre o que distingue a espécie humana dos
outros animais. Por mais que alguns animais possuam diferentes for-
mas de comunicação bastante interessantes – como os golfinhos, as
abelhas, os macacos –, apenas os seres humanos têm a capacidade
de criar sistemas simbólicos ou de representação, isto é, determinado
símbolo ou sinal serve para significar alguma coisa. Assim funciona a
linguagem verbal, um sistema simbólico criado pela humanidade por
meio do qual foi possível desenvolver todas as formas de conhecimen-
to – religiões, filosofia, ciências, arte etc. Faraco (2012, p. 21-22) elenca
algumas características da linguagem verbal:
• permite a articulação de um número infinito de enunciados;
• seus signos (fonemas, sílabas, morfemas, palavras, sentenças
etc.) também são infinitamente combináveis;
• permite falar sobre o passado e futuro, aquilo que está ausente
ou distante e criar realidades imaginárias;
• os signos admitem sentido figurado e completam sua significa-
ção na situação de uso em que ocorrem.
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Linguagem
É toda maneira de expressão em que haja si-
nais, por meio dos quais possa haver comu-
nicação: placas de trânsito, notas musicais,
gestos, desenhos, fala, escrita etc.
Língua
É uma manifestação particular, históri-
ca e sistemática de interação humana.
Refere-se à fala e à escrita.
Referem-se a interações
lizando nos sons da língua da comunidade da criança com o auxílio dos
1
que ocorrem por meio da jogos interativos de linguagem , assim as primeiras palavras vão surgindo
linguagem entre os bebês
e as mães ou outros adul-
– os nomes das coisas (mamã, mamá, nenê, bola, au-au etc.) e palavras
tos. Por exemplo, quando operatórias, que funcionam como verbos (dá, tó, qué, ó, cadê, achô etc.).
a mãe está trocando o
bebê, esconde-se atrás da
Posteriormente, a criança passa a produzir frases com duas palavras, como
fralda e diz: “Achou!”, ou “péna boneca” (ou seja, “veja a perna da boneca”). Depois, com três ele-
tantas outras situações em
que adultos ou crianças
mentos, mas sem artigos e preposições, como “bô péna boneca” (ou seja,
maiores interagem com os “quebrou a perna da boneca”. E, por volta dos dois anos, proferirá enun-
bebês usando palavras ou
enunciados do cotidiano,
ciados como “quebrou a perna da boneca”, sem sabermos exatamente
como: “Quer mamar?”, como isso aconteceu e que procedimentos cognitivos foram responsáveis
“Fez xixi?”, “Pega a bola”,
“Vamos nanar?” etc.
por esse salto qualitativo da linguagem. Ainda, utilizará enunciados mais
elaborados posteriormente, como períodos coordenados e subordinados.
58 Alfabetização e letramento
Há diferentes teorias que tentam explicar a aquisição da linguagem Biografia
oral pela criança. Uma delas – vinculada à constatação de que esse pro- Noam Chomsky (1928-),
um dos mais respeitados
cesso é universal, pois ocorre igualmente com todas as crianças, falantes
estudiosos da área da
de qualquer língua – é a hipótese inatista, propagada especialmente por linguística, é conhecido
como o fundador do
Noam Chomsky, cuja ideia principal é que “a linguagem verbal está gene-
gerativismo - teoria que
ticamente inscrita no cérebro humano” (FARACO, 2012, p. 28). estuda a linguagem, consi-
derando as propriedades
Contudo, pela dificuldade em saber como funciona o cérebro hu- da mente humana e sua
relação com a organiza-
mano e as atividades cognitivas, outras teorias se opõem ao inatismo
ção biológica da espécie.
ou o complementam, buscando evidenciar demais fatores que podem É também um ativista polí-
tico norte-americano.
ser responsáveis pela aquisição da linguagem oral pela criança. Fa-
raco (2012) constata que a criança não domina a língua apenas por
imitação; ela é capaz de elaborar enunciados novos com o repertório
que vai aprendendo com seus pares. Portanto, “Ela se mostra um ser
cognoscente ativo. Há, em seu cérebro, uma atividade cognitiva que
opera sobre os dados que recebe do exterior. É esta atividade que
ainda não fomos capazes de descrever. Podemos apenas observar
indícios de que ela está acontecendo” (FARACO, 2012, p. 30). Sem falar
na facilidade que a criança pequena tem em aprender mais de uma
língua ao mesmo tempo, quando em contato com comunidades bilín-
gues, por exemplo.
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Desenvolvimento
Processo que resulta dos níveis de maturação psicoló-
gica da criança em interação com experiências com a
língua escrita em seu contexto sociocultural – o desen-
volvimento acontece de “dentro para fora”.
Aprendizagem
Processo pelo qual a criança, pela mediação dos outros,
adquire informações sobre a escrita e habilidades com
a escrita, o que possibilita que formule e reformule con-
ceitos a respeito da escrita – a aprendizagem ocorre de
“fora para dentro”.
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Modelo ascendente
Ler é:
• compreender o significado da mensagem decifrada;
• reconhecer o aspecto gráfico das palavras;
• pronunciar os elementos de um texto e compreendê-
-los silenciosamente;
• entender o pensamento colocado no escrito.
62 Alfabetização e letramento
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Modelo descendente
Ler é:
• construir hipóteses sobre o sentido do texto, conforme
o conhecimento de mundo do leitor, as estratégias e o
objetivo de leitura;
• atribuir sentido por meio de uma assimilação
geral do texto;
• compreender o texto como um todo.
Figura 1
Concepções de aprendizagem da escrita
Transferência de um produto
• A escrita é um produto pronto e acabado.
• O professor é o conhecedor da escrita e a transmite aos alunos.
• O aprendizado acontece “de fora para dentro”.
• O aprendiz deve ter memória fantástica e deve assimilar tudo o
que foi ensinado.
64 Alfabetização e letramento
Na primeira concepção, a escrita é considerada um produto pron-
to a ser adquirido; então a criança que erra a ortografia de uma palavra
precisa copiá-la várias vezes corretamente. Isso não garante que ela
aprenda a grafar outras palavras que possuam grafia semelhante, pois
esse tipo de atividade é mecânica e não faz sentido para o aluno; vale
apenas como uma punição ao erro.
66 Alfabetização e letramento
res, formou um grupo de pesquisa e publicou sua tese de doutorado.
Três anos depois, juntamente da pedagoga Ana Teberosky – argentina,
nascida em 1944 e doutora em Psicologia pela Universidade de Bar-
celona –, desenvolveu vários experimentos com crianças, resultando
na obra Psicogênese da língua escrita, publicada em 1979 na Argentina
e em 1984 no Brasil. Essa é sua obra mais importante, ainda que não
apresente nenhum método pedagógico, e sim a compreensão sobre o
processo de aprendizagem da criança, questionando os métodos tra-
dicionais de leitura e escrita. Essas duas estudiosas construíram, de
acordo com Soares (2020, p. 55), “uma teoria, a psicogênese da escrita:
um modelo explicativo da gênese (da origem) dos processos cognitivos
(psíquicos) que conduzem a criança, ao longo de seu desenvolvimento,
à progressiva construção do conceito de escrita como um sistema de
representação dos sons da língua por letras”.
68 Alfabetização e letramento
• relação entre desenhos e palavras e entre palavras e orações;
• reconhecimento das letras do alfabeto;
• diferenciação entre números e letras, entre letras e sinais de
pontuação;
• orientação espacial da leitura;
• separação entre palavras;
• interpretação de atos de leitura (silenciosa, oral); 2
São oportunidades
• reconhecimento de diferentes portadores de texto.
dadas à criança de
tentar escrever. Segundo
Para estabelecer esses aspectos relativos à leitura, Ferreiro e Soares (2020), devem
Teberosky se orientam por uma perspectiva evolutiva, identificando ní- ser frequentes desde a
Educação Infantil, pois re-
veis em cada um deles, mas sem estabelecer uma teoria específica de velam-se como atividades
níveis da leitura como um todo, diferente do que ocorre com a escrita. periódicas diagnósticas
que permitem verificar em
Em suas pesquisas, Ferreiro selecionou crianças de 4 a 6 anos falantes que nível de compreensão
do espanhol e as convidou a escrever palavras e frases curtas por meio da escrita está a criança.
2 Podem-se ditar palavras;
do que chama de escrita espontânea ou inventada . Ela concluiu que “as entregar uma folha com
crianças evoluem em níveis sucessivos, em uma progressiva compreen- desenhos e solicitar o
registro por escrito dos
são da escrita como um sistema de representação. Esses níveis têm nomes dos objetos; pedir
sido confirmados em numerosas pesquisas com crianças falantes de para fazer listas, como
dos animais ou comidas
outras línguas” (SOARES, 2020, p. 56), sobretudo as que possuem fron- de que mais gosta etc.
teiras silábicas nitidamente demarcadas, como é o caso do português.
Fase 1
Diferenciação entre desenho e escrita; uso
de grafismos para imitar a escrita (garatujas,
linhas curvas e retas); reconhecimento da
arbitrariedade e linearidade da escrita.
Fase 2 (pré-silábica)
Uso de letras sem correspondência com os valores
sonoros e com as propriedades sonoras da palavra
(número de sílabas), normalmente, respeitando
a quantidade mínima de sílabas (pelo menos três
letras) e a variedade (letras não repetidas).
Fase 3 (silábica)
Uso de uma letra para cada sílaba da palavra.
Inicialmente, sem valor sonoro, reunidas
aleatoriamente. Depois, letras com valor sonoro,
representando um dos fonemas da sílaba.
Fase 4 (silábico-alfabética)
Passagem da hipótese silábica para a alfabética,
quando a criança começa a analisar a sílaba em
unidades menores (fonemas). Em uma palavra, a
criança escreve letras representando uma sílaba e
outras já representando fonemas.
Fase 5 (alfabética)
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70 Alfabetização e letramento
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Criança 1
1
A Criança 1 parece já compreender a linearidade da escrita, e as
formas que usa lembram a escrita cursiva. As linhas são sinuosas, obe-
decendo a direção da escrita do português: de cima para baixo e da
esquerda para a direita. Nessa mesma fase, há crianças que usam gara-
tujas que se assemelham a letras caixa-alta ou, ainda, há aquelas que,
incertas da diferença entre escrita e desenho, acabam por representar
a escrita das palavras com símbolos que mais parecem desenhos, di-
ferentes dos traços retos ou curvos das letras, como os da imagem a
seguir. A Criança 2 não percebeu ainda a linearidade da escrita.
Yesaulov Vadym/Shutterstock 2izzayani/Shutterstock
Criança 2
2
1
(Continua)
3
Ambas as crianças se encontram na fase do rabisco ou das garatu-
jas e ainda não perceberam que, para haver escrita, é preciso usar sinais
gráficos, ou seja, as letras. No entanto, à medida que convivem com a
escrita, em casa e na escola, passam a notar a necessidade de letras para
o registro de escritos. Atividades como a chamada diária (com os nomes
escritos em crachás), para que a criança reconheça seu nome e copie-o
em seus materiais, são importantes nessa fase. Todo o contexto de sala
de aula é povoado de materiais escritos, que devem ser manipulados e
observados: calendário dos aniversariantes, livros, jornais, revistas, al-
fabeto na parede e móvel, cartazes etc. Além das leituras frequentes de
histórias, nas quais a professora mostre as imagens e as diferencie das
letras usadas para formar as palavras. A leitura de poemas, parlendas
e cantigas apontadas no quadro, por exemplo, mostrando a direção da
escrita, também contribui para a passagem dessa fase para a próxima
ORGORIO
OGROTODO
ROGRIORDRI
1
72 Alfabetização e letramento
Há algumas considerações a serem feitas relativas à tentativa de
escrita da Criança 3. Como já conhece as letras de seu nome, usa es-
sas mesmas letras e algumas outras para escrever as palavras, numa
combinação aleatória. O fato de não as utilizar na mesma sequência
em que aparecem na escrita convencional do nome Rodrigo mostra
seu conhecimento de que para escrever diferentes palavras – mesmo
que domine praticamente apenas as letras de seu nome – precisa com-
binar as letras de distintas formas. Então, o princípio da variabilidade
foi preservado, além do princípio da quantidade (usa ao menos três
letras para grafar uma palavra). Obviamente, o traçado da letra, nessa
fase, ainda não é firme, e, às vezes, as crianças traçam-nas de modo
espelhado. Como imitam o que os adultos fazem, “seu repertório de
letras é limitado e as letras são grafadas com evidente insegurança”
(SOARES, 2020, p. 67). Também é comum escreverem as letras em
caixa-alta bem juntas, sem espaçamento adequado. Acontece, ainda,
nessa fase, o que chamamos de realismo nominal, quando a criança
associa o tamanho do objeto à quantidade de letras necessárias para
escrever a palavra que o nomeia. Por exemplo, escreve girafa com
muitas letras, porque ela é alta, e formiga com poucas, porque ela é
pequena. Soares (2020) assegura que à medida que amplia o contato
com a escrita, a criança passa a reconhecer, nomear e grafar as letras
com maior segurança e habilidade grafomotora, preparando-se para
a próxima fase.
Consciência silábica
A palavra pode ser dividida
em sílabas.
Fonte: Elaborada pela autora com base em Soares, 2020.
74 Alfabetização e letramento
tados pelas letras que a compõem. Após a intervenção sistemática do
professor, dando continuidade às atividades que exploram a consciên-
cia fonológica, as crianças passam a escrever silabicamente com valor
sonoro. Observe as duas tentativas de escrita a seguir.
TAR
BTUA
NAN
1
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Criança 5
KAO
AAUH
AAE
1
KVAO
TATAUGA
AKARE
1
76 Alfabetização e letramento
relaciona os sons com as letras que os representam. A primeira sílaba da
palavra jacaré foi grafada apenas com a letra a. Como as demais sílabas
da palavra foram segmentadas em fonemas – KA (cá) e RE –, é provável
que a criança reconheça que a sílaba JA seja formada por mais de um fo-
nema, mas ainda não saiba que letra representa esse som. Normalmen-
te, crianças nessa etapa avançam rapidamente para a próxima, quando
passam a segmentar todas as sílabas das palavras em fonemas.
CAVALO
TATARUGA
JACARE
1
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levar em consideração a construção do conhecimento pelo sujeito,
seu desenvolvimento cognitivo e, ao mesmo tempo, a aprendizagem –
que se dá pela mediação do educador no processo de aquisição do sis-
tema de escrita – é alfabetizar numa perspectiva socioconstrutivista. Isso
porque garante o espaço para que cada aprendiz reflita sobre a língua e
elabore hipóteses com base em seus conhecimentos prévios, por meio da
escrita espontânea. E, para que domine a escrita alfabética, é essencial a
observação e orientação frequente do mediador, permitindo que as crian-
ças avancem qualitativamente em suas produções.
ATIVIDADES
Atividade 1
Explique a relação entre o desenvolvimento da criança e a aprendi-
zagem no processo de aquisição da escrita.
78 Alfabetização e letramento
Atividade 2
Argumente a favor do modelo interativo de leitura.
Atividade 3
Observe a tentativa de escrita de uma criança para as palavras
BONECA, PETECA e SAPATO. Em que fase de aquisição da escrita
essa criança se encontra, de acordo com a psicogênese da língua
escrita? Justifique sua resposta.
• OEA
• PEKA
• AAO
REFERÊNCIAS
COSSON, R. Círculos de leitura e letramento literário. São Paulo: Contexto, 2020.
FARACO, C. A. Linguagem escrita e alfabetização. São Paulo, Contexto, 2012.
GOMES, M. de F. C.; MONTEIRO, S. M. A aprendizagem e o ensino da língua escrita: caderno
do professor. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005. Disponível em: https://www.ceale.fae.
ufmg.br/files/uploads/Col.%20Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o%20e%20Letramento/Col%20
Alf.Let.%2006%20Aprendizagem_ensino_linguagem_escrita.pdf. Acesso em: 13 dez. 2022.
MICOTTI, M. C. de O. Alfabetização: propostas e práticas pedagógicas. São Paulo: Contexto, 2012.
OLIVEIRA, M. A. de. Conhecimento linguístico e apropriação do sistema de escrita: caderno do
formador. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005. Disponível em: https://www.ceale.fae.
ufmg.br/files/uploads/Col.%20Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o%20e%20Letramento/Col%20
Alf.Let.%2003%20Conhecimento_Linguistico.pdf. Acesso em 13 dez. 2022.
ROJO, R. Desenvolvimento e apropriação da linguagem pela criança: caderno do professor.
Belo Horizonte: Ceale, 2006. Disponível em: https://www.ceale.fae.ufmg.br/files/uploads/
Col.%20Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o%20e%20Letramento/Col%20Alf.Let.%2012%20
Desenvolvimento_Apropriacao.pdf. Acesso em 13 dez. 2022.
SOARES, M. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2016.
SOARES, M. Alfaletrar: toda criança pode aprender a ler e a escrever. São Paulo: Contexto, 2020.
SOARES, M. B.; BATISTA, A. A. G. Alfabetização e letramento: caderno do professor. Belo
Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005. Disponível em: https://mid-educacao.curitiba.pr.gov.
br/2019/5/pdf/00220354.pdf. Acesso em: 13 dez. 2022.
Objetivos de aprendizagem
80 Alfabetização e letramento
4.1 Aprendizagem inicial da leitura e escrita
Vídeo
Diferentemente do japonês e do chinês, que são línguas ideográficas e
grafam, de modo geral, os significados da fala, a Língua Portuguesa escrita
é alfabética, ou seja, grafa os sons da fala, os significantes. Sendo assim,
aprender a ler e escrever em nossa língua é saber “converter sons da fala
em letras, ou combinação de letras – escrita –, ou converter letras, ou com-
binações de letras, em sons da fala – leitura” (SOARES, 2016, p. 46).
Quadro 1
Consciência fonológica
Níveis de
consciência Conceito e objetivos Exemplos de atividades
fonológica
Consciência Compreender o conceito de palavra. Destacar as palavras de um texto (parlenda,
lexical Diferenciar palavras de conteúdo (substanti- quadrinha, cantiga, fábula etc.) para desenvolver
vos, adjetivos, verbos) de palavras funcionais atividades: da fábula O leão e o ratinho, trabalhar
(conjunções, preposições, artigos). com os nomes dos dois animais. Contar a quan-
tidade de letras de cada palavra e mostrar que o
Superar o realismo nominal (suposição de que
tamanho da palavra não tem relação com o ta-
o tamanho da palavra tem relação com o ta-
manho do animal.
manho do objeto a que se refere).
Na brincadeira Lá vai o meu barquinho, apresen-
Explorar rimas e aliterações entre palavras. (Continua)
tar a dobradura de um barco e dizer que dentro
Mostrar que segmentos de sons iguais se es- dele só podem entrar palavras que comecem
crevem com as mesmas letras. com o mesmo som da palavra LARANJA. Cada
criança dirá uma palavra que começa com LA (ali-
teração). Ou então, no barco só entram palavras
que terminem com ÃO, como AVIÃO (rima).
Consciência Segmentar a cadeia sonora da palavra em sí- Segmentar as palavras em sílabas batendo uma
silábica labas (inicialmente, utilizando qualquer letra; palma para cada sílaba.
depois, percebendo em cada sílaba o som que Andar pela sala falando uma palavra. Cada passo
mais se destaca e escolhendo a letra que re- corresponde a uma sílaba.
presenta esse som).
Em uma folha com figuras de animais, colocar
Orientar a reflexão da criança sobre sua escri- um tracinho para cada sílaba da palavra.
ta silábica sem valor sonoro.
Pedir para que as crianças retirem certas sílabas
de uma palavra. Ex.: Se retirar MA de MACACO,
o que sobra? E se retirar CO de MACACO, o que
sobra? Quais novas palavras formamos?
Em brincadeiras com parlendas, cantigas, trava-
-línguas, escrever as palavras ou textos, grifando
ou separando cada sílaba à medida que escreve
e lendo-as em voz alta, destacando a escrita igual
de rimas e aliterações.
Ensinar músicas que apresentam o alfabeto (relacio-
nar as letras com palavras que comecem com elas).
(Continua)
82 Alfabetização e letramento
Níveis de
consciência Conceito e objetivos Exemplos de atividades
fonológica
Consciência Perceber a estrutura interna da sílaba. Com o alfabeto móvel, trabalhar com pares míni-
fonêmica Perceber os fonemas que as letras representam. mos, solicitando a troca de uma letra por outra,
como em mar, dar, lar, bar etc., e chamando a
Desenvolver a consciência grafofonêmica:
atenção para o fato de que a substituição de uma
consciência das correspondências entre letras
letra por outra (alterando também o som, ou o
(grafemas) e fonemas.
significante), leva à mudança de significado.
Relacionar fonemas e letras e escrever alfabe-
Ler em voz alta as palavras que a criança escreveu,
ticamente.
suscitando a consciência fonêmica. Ao identificar
Identificar um fonema por estar em oposição lacunas na cadeia sonora, voltar a atenção da crian-
1
a outro, produzindo significados diferentes ça para a representação de sons da fala por letras.
. Ex.: pata – bata; vaca – faca; fica – viga etc. A criança deve escolher a ficha onde está o nome
da figura. Ex.: figura de um gato e três opções:
pato, gato, rato.
Completar o nome da figura com a letra que está
faltando. Ex.: figura de um galo (GA__O) e de um
gato (GA__O.
Circular a figura cujo nome começa com a mes-
ma letra do nome da primeira figura: peteca, pa-
nela, lata, cola.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Soares, 2016; Soares, 2020.
Figura 2
Capacidades a serem desenvolvidas no sistema alfabético
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Figura 3
Cordas vocais separadas ou juntadas
86 Alfabetização e letramento
à corrente sonora na cavidade bucal. Os sons consonantais são aqueles
em que algum tipo de impedimento, seja ele total ou parcial, é colocado
à corrente sonora na cavidade bucal” (OLIVEIRA, 2005, p. 29).
[u] Lutar, tatu, tato. [e] Telha, escola. [o] Bolo, avô.
(Continua)
Dígrafo é o encontro última sílaba foi grafada “ti” devido ao modo como esse aprendiz pronun-
entre duas letras para
representar um único cia a palavra. Quando passa a grafar pente ortograficamente, notou que a
som na fala. São dígrafos escrita ortográfica “independe da fala de quem quer que seja, inclusive da
consonantais: nh, lh, ch,
rr, ss, sc, sç, xc, xs, qu e gu, sua própria. Ele percebeu que a escrita ortográfica representa um nível mais
presentes nas palavras abstrato de organização sonora [...]” (OLIVEIRA, 2005, p. 37).
caminho, milho, chutar,
carro, pássaro, nascer, Portanto, detalharemos como funciona o sistema gráfico do portu-
nasça, excesso, exsudar,
quilo, guerra. guês de modo a auxiliar os aprendizes a mover-se, conforme Oliveira
São dígrafos vocálicos: (2005, p. 39), “de um sistema de representação calcado na fala para
am, an, em, en, im, in, om,
um sistema de representação calcado na língua”. Além disso, a escrita
on, um, un. Ex.: campo,
sangue, sempre, entrou, ortográfica incorpora outras nuances, que devem ser superadas pela
limpo, tinto, ombro, ontem,
criança ao longo do processo de aprendizado.
nenhum, sunga etc.
De acordo com Faraco (2012, p. 122), “a língua portuguesa tem uma
representação gráfica alfabética com memória etimológica”. O princí-
pio geral da escrita alfabética é que cada fonema será representado
por um grafema e cada grafema representará um fonema. Contudo,
em razão da memória etimológica, as formas gráficas de certas pala-
vras serão fixadas não só pelas unidades sonoras, mas também por
sua origem – grega, latina, tupi etc. Por isso, a relação grafema e fone-
88 Alfabetização e letramento
ma não será sempre regular, surgindo, assim, as representações arbi-
trárias – que irão gerar dificuldades para o alfabetizando.
Unidade Unidade
Ocorrências
sonora gráfica
Só ocorre no início de sílaba: mato, cama, palma, admitir.
/m/ m A letra m, em fim de sílaba, participa da representação das vogais nasais: tempo,
bomba, limpo. Em fim de palavra, representa a semivogal /y/ ou /w/: também, porém,
falam, cantam.
/n/ n A letra n, em fim de sílaba, participa da representação das vogais nasais: vento, tinta,
manco. Em fim de palavra, a letra n é muito rara, representando a semivogal /y/ ou
/w/: hífen, nêutron.
/r/
r Ocorre entre vogais ou no encontro consonantal: cenoura, trato, carta.
(erre fraco)
Ocorre no início de sílaba e no encontro consonantal: lápis, falar, planta.
/l/ l
Em final de sílaba, a letra l representa /w/, como em anel, funil, pastel.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Faraco, 2012.
No segundo caso, a unidade sonora tem mais de uma representa-
ção gráfica, cada uma num contexto determinado, como exemplificado
no quadro a seguir.
Quadro 5
Relações cruzadas previsíveis: segundo caso
3
As vogais i e u (representadas pelos sons /y/ e /w/) são semivogais quando acompanham outra vogal na mesma sílaba. O som das
semivogais é menos sonoro do que das vogais. Ex.: pai, quarto, mão, alguém.
90 Alfabetização e letramento
As relações cruzadas podem ser também parcialmente previsíveis
e parcialmente arbitrárias quando a unidade sonora tem mais de
uma representação. Em alguns casos, a representação gráfica é previsí-
vel pelo contexto, e em outros não. Vejamos o quadro a seguir.
Quadro 6
Relações cruzadas parcialmente previsíveis e parcialmente arbitrárias
Unidade
Unidades gráficas
sonora
Representação previsível: só j:
a) A letra j quando a unidade sonora /ʒ/ for seguida de a, o, u: janela, jogo, juba.
Representações arbitrárias: j ou g:
b) As letras j ou g quando /ʒ/ for seguida de e ou i: girar, geralmente, jegue, nojento, argentino.
/ʒ/ Obs: Regras para a relação cruzada das letras g e j. Diante de e e i, a letra g é mais frequente que a letra j.
A letra j ocorre em palavras derivadas de outras que se escrevem com j: laranja, laranjeira, loja, lojista; ver-
bos terminados em jar: viajar, velejar. Em palavras de origem tupi, africana ou popular: pajé, jiboia, jiló. A
letra g ocorre em palavras derivadas de outras escritas com g: vertigem, vertiginoso; verbos terminados em
ger e gir: eleger, fugir, dirigir. Na maioria das palavras terminadas em gem: aprendizagem, ferrugem, co-
ragem. Nas palavras terminadas em ágio, égio, ígio, ógio, úgio: estágio, prestígio, colégio, refúgio, relógio.
Representações previsíveis: só z, só s e só x:
/z/ d) Em e + /z/ + vogal, quase só a letra x: exato, exemplo, exímio, exótico, exumar.
Representações arbitrárias: s ou z:
a) Entre vogais, /z/ pode ser representado pela letra s (mais frequentemente) e pela letra z: casa,
mesa, meses, azar, rezar, luzes.
Obs: A letra s ocorre sempre: depois de ditongos (encontro de uma vogal e uma semivogal em uma mesma
sílaba): pausa, coisa, lousa; nas palavras terminadas em oso ou osa: formoso, dolorosa; nos femininos
em esa ou isa: duquesa, francesa; nas palavras derivadas de outras escritas com s: empresa, empresário,
casa, casinha; em verbos em isar, que derivam de palavras com s: pesquisa, pesquisar, análise, analisar. A
letra z ocorre sempre nas palavras derivadas de outras escritas com z: cruz/cruzada, rapaz/rapaziada; nos
substantivos terminados em eza derivados de adjetivos: pobreza, tristeza; nos verbos em izar derivados de
palavras cuja raiz não termina em s: suave/suavizar, útil/utilizar.
(Continua)
4
Usa-se c/ç e não ss: depois de ditongos (louça, traição); nos sufixos aça, aço, ação, ecer, iço, ança, uço (ricaço, barcaça, armação,
entardecer, caniço, criança, dentuço); nos vocábulos de origem tupi, africana ou árabe (araçá, Iguaçu, paçoca, muçulmano, açúcar).
Usa-se ss e não c em correlação constante entre palavras: CED-CESS (conceder/concessão); GRED-GRESS (agredir/agressão);
PRIM-PRESS (oprima/opressão); TIR-SSÃO (omitir/omissão); MET-MISS (submeter/submissão).
92 Alfabetização e letramento
Como se pode notar, o som /s/ é bastante produtivo na língua portu-
guesa, e em várias situações suas representações gráficas são arbitrárias,
o que dificulta a apreensão da ortografia correta por parte dos aprendizes
iniciantes. Contudo, Faraco (2012) aconselha trabalhar, inicialmente, com
as formas regulares. Depois, aos poucos, introduzir as arbitrárias com a
forma global da palavra e com as respectivas famílias, evitando as mais ra-
ras. Nas séries iniciais, faz mais sentido trabalhar com a memorização das
palavras de uso frequente e nas séries mais avançadas promover maior
reflexão acerca das regularidades e arbitrariedades da língua.
Unidade
Unidades gráficas Observações
sonora
/ʃ/ A letra x ou o dígrafo ch, como nas palavras: a) O dígrafo ch só representa / ʃ /.
chave, chiste, encharcado, macho, xale, xisto,
b) A letra x tem outros valores no sistema gráfico.
enxadrezado, faxineiro.
c) A representação de / ʃ / por ch é mais frequen-
te que por x.
d) Usa-se sempre x:
• Depois de ditongos: caixa, ameixa, paixão, rou-
xinol.
• Em vocábulos de origem indígena ou africana:
abacaxi, xavante.
• Geralmente depois da sílaba inicial en: enxada,
enxame, enxuto, enxofre.
d) Serão com ch (depois de en) palavras derivadas
de outras escritas com ch: cheio/encher; enchi-
mento/preencher.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Faraco, 2012.
94 Alfabetização e letramento
Bebês Crianças bem pequenas Crianças pequenas
Imitar entonação e gestos feitos pelo Relatar experiências, histórias, fatos, Recontar histórias para o professor
adulto ao ler e cantar; comunicar-se filmes; criar e contar histórias com escrevê-las; levantar hipóteses so-
por gestos, movimentos, fala; conhe- base em imagens ou temas sugeri- bre gêneros textuais; realizar hipóte-
cer e manipular instrumentos e su- dos; desenhar, traçar letras e sinais ses sobre a escrita e realizar escrita
portes de escrita. gráficos. espontânea.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 2018.
Sam
Leitura/escuta Oralidade
arets/Shuttersto
(de texto escrito, (práticas com
imagens estáticas ou sem contato
ou em movimento face a face)
e som)
ck
Análise linguística/
Produção
semiótica (envolve
(escrita e
conhecimentos
multissemiótica)
linguísticos)
96 Alfabetização e letramento
Além da organização por eixos, o documento propõe outra cate-
goria organizadora do currículo, denominada de campos de atuação,
de modo articulado à leitura/escuta, produção e análise linguística/
semiótica. Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e, portanto, tam-
bém nas classes de alfabetização, os campos de atuação são: campo
da vida cotidiana, campo artístico-literário, campo das práticas de estu-
do e pesquisa e campo da vida pública. Esses eixos contemplam usos
variados da linguagem e contribuem para a definição de objetos de
conhecimento (conteúdos) e das habilidades (objetivos) a serem desen-
volvidos em cada etapa da escolarização. Vamos listar alguns exemplos
de habilidades relacionadas ao eixo análise linguística, que poderiam
ser trabalhadas em sala de aula. Acompanhe o quadro a seguir.
Quadro 9
Propostas de atividades baseadas nas habilidades presentes na BNCC
98 Alfabetização e letramento
A questão 3 avalia a capacidade de ler palavras e relacionar o signi-
ficado e o significante de uma palavra iniciada por uma sílaba formada
somente por vogal, diferentemente das compostas por consoante e vo-
gal (bola, bala, pato). Nesse caso, o aluno precisa identificar que uma
sílaba pode ser formada por uma única vogal, como é o caso de apito,
mas deve ler toda a palavra; caso contrário, confundirá com a alterna-
tiva que apresenta a palavra agito.
Escrita pré-alfabética Escrita alfabética com correspon- Escrita alfabética com correspondên-
dência trocada por semelhança de cia trocada pela mudança de sons
traçado
ampofelida (a minha pro- nacaco (macaco); boce (doce); qato (pato) cheito (jeito); cato (gato); papa (baba)
fessora é linda)
A criança ainda não se Em razão da semelhança no traçado das Quando as crianças repetem as palavras
resolveu entre a repre- letras, muitas crianças confundem, por sussurrando-as ao escrevê-las, acabam
sentação de grupos de algum tempo, a grafia de algumas letras trocando sons sonoros por surdos.
sons (escrita silábica) ou a como m e n, p e q, b e d.
representação de sons in-
dividuais (escrita alfabética).
Fonte: Elaborado pela autora com base em Oliveira, 2005.
Quadro 11
Problemas de escrita II
Violações das relações Violações das regras Violações da relação entre Violação de formas
biunívocas entre os sons invariantes que con- os sons e os grafemas por dicionarizadas
e os grafemas trolam a representa- interferência das
ção de alguns sons características estruturais
do dialeto do aprendiz
fava (mola); cata (bola) Um aluno grafa gato sou (sol); bunito (bonito) cesta-feira (sexta); cinto
corretamente, mas (sinto)
escreve gera (guerra). jelo (gelo); xoque (choque)
Aprendiz que não con- Há regras sem exceção Dependerá de como a criança Grafias de natureza to-
seguiu até o momento (invariantes) para grafar fala, de acordo com o seu talmente arbitrárias. Há
estabelecer as relações [g] diante de [ɛ] e [h] dialeto. casos em que as duas
mínimas entre alguns sons entre vogais. formas existem, mas se
e alguns grafemas. relacionam a contextos
diferentes, e outras que
não existem, porém são
tecnicamente possíveis.
Quadro 12
Problemas de escrita III
A partição da fala não cor- A criança percebe que muitas palavras Casos em que a criança grafa uma palavra
responde à partição da terminam com a letra l, mas tem som de u de modo incorreto, mas sem nenhuma re-
escrita. (pastel, sol, lençol) e aplicam esse conheci- lação com a sua fala.
mento a outras palavras.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Oliveira, 2005.
Figura 5
Principais características dos transtornos específicos da aprendizagem
Fonte: Elaborada pela autora com base em Machado, 2020; Pereira, 2018.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo inicial de ensino-aprendizagem da leitura e escrita exi-
ge estudo e comprometimento por parte dos professores e da escola.
Além de um trabalho alinhado às propostas da BNCC, o qual toma como
eixo as práticas de leitura, oralidade e escrita, é preciso estar atento ao
desenvolvimento dos alunos, observando como cada um adquire o sis-
tema de escrita e as possíveis dificuldades que podem ocorrer durante
esse processo.
ATIVIDADES
Atividade 1
Desde pequenas, em casa ou na Educação Infantil, as crianças
desenham, traçam linhas, letras ou outros sinais gráficos, imitando
a escrita dos adultos. Contudo, há um marco decisivo para seu
avanço no processo de alfabetização. Explique como se dá esse
salto qualitativo.
Atividade 2
Podemos afirmar que, no português, cada fonema será representado
por um grafema e cada grafema representará um fonema? Explique.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_
versaofinal_site.pdf. Acesso em: 16 dez. 2022.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.
htm. Acesso em: 16 dez. 2022.
FARACO, C. A. Linguagem escrita e alfabetização. São Paulo: Contexto, 2012.
FRADE, I. C. A da S.; SILVA, C. S, R. da. A organização do trabalho de alfabetização na escola e na
sala de aula: caderno do professor. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005. Disponível em:
https://www.ceale.fae.ufmg.br/files/uploads/Col.%20Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o%20
e%20Letramento/Col%20Alf.Let.%2007%20Organizacao_trabalho.pdf. Acesso em: 29 dez.
2022.
MACHADO, J. M. Transtornos funcionais específicos da aprendizagem: identificação e
intervenção. Curitiba: InterSaberes, 2020.
OHLWEILER, L. Introdução aos transtornos da aprendizagem. In: ROTTA, N. T.; OHLWEILER,
L.; RIESGO, R. dos S. (org.). Transtornos de aprendizagem: abordagem neurobiológica e
multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2016.
OLIVEIRA, M. A. de. Conhecimento linguístico e apropriação do sistema de escrita: caderno do
formador. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005. Disponível em: https://www.ceale.fae.
ufmg.br/files/uploads/Col.%20Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o%20e%20Letramento/Col%20
Alf.Let.%2003%20Conhecimento_Linguistico.pdf. Acesso em 16 dez. 2022.
PEREIRA, R. de C. Transtorno psicomotor e aprendizagem. Rio de Janeiro: Thieme Revinter
Publicações, 2018.
SOARES, M. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2016.
SOARES, M. Alfaletrar: toda criança pode aprender a ler e a escrever. São Paulo: Contexto, 2020.
Texto 1
Um, dois, feijão com arroz.
Três, quatro, feijão no prato.
Cinco, seis, chegou minha vez.
Sete, oito, comer biscoito.
Nove, dez, comer pastéis.
Texto 2
Parlendas
Construção
Função social Conteúdo temático
composicional
As parlendas têm função de divertir. Normalmente, toma- São organizadas em versos Não há um tema específico
mos conhecimento delas na infância, quando recitadas e estrofes. explorado pelas parlendas,
pelos familiares ou na escola. São passadas entre as ge- Apresentam rimas, ritmo e pois sua função é trabalhar
rações pela oralidade. Encontramos por escrito em livros sonoridade. com ritmo e rima por meio
infantis ou na internet. Quem costuma ler esse gênero da organização de palavras.
Não têm título e são textos
são professores e pais, para brincar com as crianças. Não
curtos.
há indicação de autoria nas parlendas, são de domínio
público.
Adivinhas
As adivinhas têm origem folclórica e a função de desafiar Normalmente, começam Não há um tema em espe-
e divertir. São perguntas e respostas de humor, com con- com “O que é o que é”. cífico, mas sempre buscam
teúdo dúbio ou desafiador e, na maioria das vezes, su- São formuladas em forma o humor e provocam refle-
bentendido. Como fazem parte do cotidiano popular, não de pergunta marcada pelo xões por meio de questões
têm indicação de autoria e são transmitidas oralmente. ponto de interrogação. enigmáticas.
Encontramos por escrito em livros de piadas, jornais, re-
Têm uma resposta conven-
vistas, almanaques ou internet. Os leitores são diversos.
cionada.
Há adivinhas para crianças e adultos.
Apresentam um desafio.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Baumgärtner; Costa-Hubes, 2007.
Figura 1
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Fonte: Elaborada pela autora com base em Dolz; Noverraz; Schneuwly, 2004.
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Apresentação da Produção textual
situação
Reconhecimento do
gênero
Apresentação da situação
Motivar a turma a participar da Semana do Folclore, promovida
pela escola. O primeiro ano ficará responsável por apresentar uma
coletânea de parlendas recolhidas pelos alunos. Para isso, é necessá-
rio trabalhar com o conceito de folclore, por meio de pesquisas, entre-
vistas com os familiares etc., e com os gêneros textuais que possuem
temáticas folclóricas, como parlendas, lendas, cantigas de roda, ditos
populares, adivinhas, quadrinhas populares etc.
Reconhecimento do gênero
Questionar os alunos sobre o que é uma parlenda, se conhecem al-
guma e qual, se sabem por que as parlendas são criadas e quais suas
principais características. Podem trazer de casa parlendas contadas pelos
familiares ou pesquisar na biblioteca. Permitir o contato com várias par-
TOURO
_OURO
_OURO
_OURO
MATO
_ATO
_ATO
_ATO
GENTE
_ENTE
_ENTE
_ENTE
Exercer a imaginação
Decompor textos; relacionar o poema
a outras formas de expressão; ouvir,
Exploração do texto poético repetir e reinventar os poemas.
Utilizar desenhos, representações
plásticas, atividades rítmicas, jogos
com palavras do poema.
Ludicidade
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Primeiro momento
Leitura contemplativa:
sensibilização do leitor pelas Segundo momento
impressões e emoções
estéticas do texto.
Elaboração pelos alunos de uma
paráfrase do poema.
Situar o autor e a obra (aspectos
históricos e sociais, se for o caso).
Terceiro momento
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Objetivos
• Refletir sobre as semelhanças e diferenças sonoras
entre palavras.
Vantagens
Os alunos percebem que nem sempre o foco de
atenção deve ser o significado das palavras, ou seja,
passam a atentar para a pauta sonora em busca de
encontrar a lógica da escrita.
Objetivos
• Conhecer as letras do alfabeto e nomeá-las.
• Perceber que palavras diferentes possuem partes
sonoras iguais.
Vantagens
Os alunos consolidam a ideia de que as sílabas variam quanto à
composição e ao número de letras. Uma sílaba pode ser formada
por uma letra (A-MOR), por duas (BO-TA), por três (PRA-TO) ou por
quatro (TRANS-FOR-MA), mas obrigatoriamente uma dessas letras
precisa ser uma vogal. Os alunos aprendem que a ordem em que os
fonemas são pronunciados deve ser respeitada no registro escrito.
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Objetivos
• Incorporar conscientemente as correspondências
grafema-fonema, reconhecendo todas as letras e
suas correspondências sonoras.
Vantagens
Os alunos são capacitados à leitura e à
escrita fluentes.
Mico de rimas
Objetivo
Recursos
Como jogar
Exemplos:
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Recursos
Como jogar
O jogador deve deslizar a tira formando novas palavras que devem ser
lidas e copiadas no caderno.
Exemplos:
M A N T A
Recursos
Como jogar
(Continua)
PEGO PREGO
BANCO BRANCO
BOTA BROTA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quanto mais diversa a prática com leitura, oralidade, análise linguís-
tica e produção de gêneros textuais, maior a possibilidade de alfabetizar
letrando. Assim, o uso de sequências didáticas para o trabalho com gêne-
ros textuais torna-se ótima escolha, pois contempla as práticas discursivas
necessárias à atuação do sujeito nas sociedades letradas. Ademais, a lu-
dicidade por meio da literatura, de jogos e brincadeiras também contribui
para o processo de alfabetização e letramento.
ATIVIDADES
Atividade 1
O que são gêneros textuais e quais as suas características? Cite
alguns exemplos de gêneros textuais próprios para alfabetização.
Atividade 2
Explique como pode acontecer a aplicação de uma sequência didá-
tica com o gênero textual adivinha em uma classe de alfabetização.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BAUMGÄRTNER, C. T.; COSTA-HUBES, T. da C. (org.). Sequência didática: uma proposta para
o ensino da Língua Portuguesa nas séries iniciais. Cascavel: ASSOESTE, 2007. (Caderno
Pedagógico 2).
BEAUCHAMP, J.; PAGEL, S. D.; NASCIMENTO, A. R. do. (org.). Ensino Fundamental de nove
anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/
seb/arquivos/pdf/Ensfund/ensifund9anobasefinal.pdf. Acesso em: 20 dez. 2022.
CAMARGO, L. Panela de arroz. 11. ed. São Paulo: Ática, 2007.
COSSON, R. Letramento literário. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2019.
COSSON, R. Paradigmas do ensino da literatura. São Paulo: Contexto, 2020.
COSTA-HÜBES, T. da C. Reflexões linguísticas sobre metodologia e prática de ensino de Língua
Portuguesa. p. 130-145, 2009. Disponível em: https://revistaconfluencia.org.br/rc/article/
view/705/474. Acesso em: 20 dez. 2022.
DOLZ, J.; NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. Sequências didáticas para o oral e a escrita:
apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na
escola. Trad. de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro (org.). Campinas: Mercado de Letras, 2004.
GOULART, C. Alfabetização e letramento: os processos e o lugar da literatura. In: PAIVA, A.
et al. (org.). Literatura: saberes em movimento. 2. ed. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2014.
KISHIMOTO, T. M. O jogo e a Educação Infantil. In: KISHIMOTO, T. M. (org.). Jogo, brinquedo
e brincadeira. São Paulo: Cortez, 2005.
LOBATO, M. Reinações de Narizinho. São Paulo: Globo, 2007. v. 1.
MACHADO, M. Z. V. Literatura e alfabetização: quando a criança organiza o caos. In: PAIVA, A.
et al. (org.). Literatura: saberes em movimento. 2. ed. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2014.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO,
A. R.; BEZERRA, M. A. (org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
OLIVEIRA, R. N. K. M. de.; MERLIN, M. B. R. Brincadeira de criança: o lúdico no processo de
alfabetização. Curitiba: Edição do autor, 2015.
SANTOS, F. C. dos.; MORAES, F. Alfabetizar letrando com a literatura infantil. São Paulo:
Cortez, 2014.
SOARES, M. Alfaletrar: toda criança pode aprender a ler e a escrever. São Paulo: Contexto, 2020.
SOUZA, R. J. de. (org.). Leitura e alfabetização: a importância da poesia infantil nesse
processo. In: SOUZA, R. J. de. Caminhos para a formação do leitor. São Paulo: DCL, 2004.
5 Práticas alfabetizadoras
1. O que são gêneros textuais e quais as suas características? Cite
alguns exemplos de gêneros textuais próprios para alfabetização.
Gêneros textuais são modos de dizer que se alteram com o tempo,
de acordo com a necessidade humana, e são usados para a interação
verbal. Suas principais características são o conteúdo temático
(aquilo que normalmente é dito em certo gênero), a construção
composicional (a estrutura do texto) e o estilo (uso de recursos da
Alfabetização e letramento
e letramento
Luciana Carolina Santos Zatera
Código Logístico
ISBN 978-65-5821-208-9
I0 0 0 7 8 5 9 786558 212089