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Medir expetativas: um olhar sobre o desenvolvimento emocional da criança

Os adultos têm determinadas expetativas em relação ao desenvolvimento emocional


das crianças, contudo, nem sempre têm em conta a sua maturidade e as etapas
pré-estabelecidas para o surgimento das competências emocionais. Por vezes,
exigem cedo demais que as crianças tenham a capacidade de regular, expressar
e conhecer as emoções, esquecendo-se que existe uma relação importante com a
fase do desenvolvimento cognitivo em que se encontram, assim como com a
maturidade biológica (Goleman, 2006).

Crianças cujos pais são capazes de prever com precisão o desempenho cognitivo
dos seus filhos têm melhor desempenho, provavelmente porque esses pais
conseguem adequar os seus esforços como educadores às necessidades dos
filhos.

A maioria dos programas de intervenção parental envolve o ensino de estratégias


eficazes para lidar com o comportamento dos filhos. No entanto, para alguns
pais, práticas parentais problemáticas não estão ligadas à falta de
conhecimento do modo de controlar o comportamento de seus filhos, e sim a
modos de pensar inadequados.

 Quando surgem as emoções autoconscientes (constrangimento, empatia e inveja)


– entre os 15 e os 24 meses;
 Quando surgem as emoções autoavaliadoras (orgulho, culpa e vergonha) – 3
anos - exige uma internalização das normas e princípios morais;

Contudo, organizar as etapas de desenvolvimento recorrendo de forma primária a uma


linha cronológica é pouco eficaz no processo de entendimento do desenvolvimento
infantil; isto porque, o que na realidade explica a passagem de um período a outro do
desenvolvimento não é o componente tempo, mas sim a superação relacional dos
principais desafios presentes em cada período de desenvolvimento

O que acontece na Infância não fica na Infância

O equilíbrio Perfeito
Artigo: “A disciplina na creche e no jardim-de-infância – educar sem castigos e sem
recompensas” – Uma pedagogia sem punições nem recompensas

Desenvolvimento da criança – Será que crescer é fácil?

O comportamento das crianças de dois a quatro anos


Capelatto, Moisés e Minatti (2006) definem as características e a dinâmica do
funcionamento emocional dessa faixa etária: na criança de dois anos prepondera a
afirmação de sua identidade recém-descoberta, tentativas obstinadas de independência,
comportamento incontrolável e impulsivo, baixa tolerância à frustração com acessos de
raiva frequentes. A criança de três anos começa a se libertar da sua completa
dependência anterior de mãe e pai. Ela quererá fazer tudo sozinha, porque não permitirá
que a ajudem. Por isso, nesta fase a criança começa a ficar teimosa e agressiva, quando
não consegue o que quer, e desafiará frequentemente a paciência dos pais. Estas
características permanecerão até a idade de quatro anos e meio e, segundo os autores, é
importante “um trabalho de humanização, em que impulsos primitivos são depurados e
processados para virar desejos - pelos quais cada um pode lutar sem destruir ou ser
destruído” (p. 33). Para isso, asseguram, é necessário que o adulto se porte com firmeza
e imponha limites sem explicações. Contrariados irão chorar, fazer birras, mas tudo isso
faz “parte do processo em que a frustração gera mudanças, criando novos lugares
afetivos” (p. 34).

De acordo com Winnicott (1999), se uma criança tem confiança no pai e na mãe,
usa de todos os meios possíveis para se impor. “Com o passar do tempo, põe à prova o
seu poder de desintegrar, destruir, assustar, cansar, manobrar, consumir e apropriar-se”
(p. 129). E, se o lar consegue suportar todo este tipo de comportamento da criança, ela
sossega e vai brincar.

Comportamentos de agressão e teimosia em crianças pequenas, para Winnicott


(1999), têm dois significados: “Por um lado, constitui direta ou indiretamente uma
reação à frustração. Por outro lado, é uma das muitas fontes de energia de um
indivíduo” (p. 102). Contudo, acrescenta que é tarefa dos pais e dos professores cuidar
para que as crianças nunca se vejam diante de uma autoridade tão fraca a ponto de
ficarem livres de qualquer controle e, por medo, assumirem elas próprias a autoridade.

Na pesquisa em questão, foram selecionados os comportamentos de


agressividade, teimosia e agitação, com base em Conceição (2004) que descreve como
os “três tipos básicos” de comportamentos relacionados à ausência do princípio de
autoridade: a “Criança Agitada”, criança irrequieta “que faz mil coisas ao mesmo
tempo, mas não se concentra e acaba deixando tudo pela metade”, gerando irritação nos
pais; a “Criança Agressiva”, criança “mal-educada” que se comporta de maneira hostil e
indelicada todas as vezes que se sente contrariada; e a “Criança Teimosa”, “que vive
dizendo ‘não quero’, ‘não faço’, ‘não vou’, num tipo ditatorial” (p. 56).

Portanto, com base na literatura revisada sabe-se que as crianças de dois a quatro anos
possuem comportamentos de agitação, teimosia e agressividade, e também são
dependentes de seus pais enquanto figuras de autoridade, responsáveis por exercerem
um controle sob sua espontaneidade.

Desenvolvimento emocional e funções executivas (COGNIÇÃO E EMOÇÃO)

(Funções executivas - memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade mental)

As funções executivas (FE) podem definir-se, de forma consensual, como um


conjunto de habilidades cognitivas associadas ao desenvolvimento do córtex frontal.
São responsáveis por processos de controlo de comportamentos e emoções muito
diretamente implicadas na aprendizagem.

No entanto, alguns autores têm sugerido que o comportamento emocional, social


e motivado (por exemplo, decidir-se entre comer um pedaço de bolo ou abraçar um ente
querido) pode ser mais difícil de controlar e até mesmo exigir um tipo diferente de
mecanismo em comparação com condições emocionalmente neutras (por exemplo,
decidir se cinco é um número par ou ímpar). Alguns autores estabeleceram uma
distinção entre os aspetos "frios" (puramente cognitivos) e "quentes" (afetivos) da
função executiva.

Assim, na resolução de problemas volta para uma meta, a função executiva e a


regulação da emoção têm uma relação recíproca. No entanto, os requisitos específicos
da regulação da emoção dependerão da importância motivacional do problema e de se o
próprio problema é “quente” ou “frio”.

As crianças com capacidades de controle de atenção superiores tendem a lidar


com a raiva utilizando métodos verbais não hostis, ao invés de métodos claramente
agressivos. O maior autocontrole (do inglês “effortful control”) também se correlaciona
positivamente com a empatia. Demonstrar empatia em relação às outras pessoas exige a
interpretação de seus sinais de aflição ou de prazer. De facto, a capacidade do indivíduo
de distinguir entre seus próprios e os estados mentais dos outros indivíduos (Teoria da
Mente, ToM), que é outro componente cognitivo central da empatia,11 está fortemente
associada às diferenças individuais de autocontrole e de controle inibitório.

O desenvolvimento emocional é formado a partir de uma diversidade de


habilidades cognitivas, incluindo a capacidade de regular o comportamento com
flexibilidade, de forma voluntária, exigindo esforço (função executiva), dependendo
fortemente do amadurecimento dos lobos frontais. A regulação cognitiva e emocional
parecem se desenvolver em conjunto, exibindo um forte desenvolvimento durante o
período pré-escolar e um curso de desenvolvimento mais demorado durante a infância
posterior e adolescência.

O desenvolvimento do controle executivo é afetado por fatores ambientais, como


a educação proporcionada pelos pais e a escolaridade. A qualidade das interações entre
pais e filhos na primeira infância parece estimular o desenvolvimento da função
executiva mais tarde. As atitudes dos pais, tais como a afetividade, a receptividade e a
disciplina pacífica, que estão relacionadas para garantir o vínculo entre pais e filhos e
uma reciprocidade positiva, estão vinculadas às habilidades avançadas da função
executiva na criança.

A regulação mútua ajuda os bebês a aprender a ler o comportamento dos outros


e a desenvolver expectativas em relação a eles. Crianças de 3 e 9 meses cujas mães
estão em alta sincronia interacional regulam melhor seu comportamento aos 2, 4 e 6
anos de idade: estão mais propensas a concordar tanto com pedidos quanto com
restrições

A segunda linha de investigação tem origem na teoria de James-Lange (Plutchick, 1980)


que se baseia na noção da emoção como estado afectivo, tendo sido a perspectiva
dominante na explicação do processo intrapsíquico e da origem dos estados afectivos
até ao início dos anos 80 (Campos, Campos, & Barrett, 1989). Esta assume que o estado
emocional depende de uma componente cognitiva de apreciação, e centra-se na emoção
como resposta ou como reacção a um estímulo/situação (Izard, 1971). As emoções não
são consideradas inatas (Sroufe, 1995). Primeiro, são reflexos e disposições
emocionais que se vão desenvolvendo mediante a maturação dos sistemas neurais
(Schore, 1994; Sroufe, 1995) e desenvolvimento das funções cognitivas.

A capacidade de adiar as recompensas e de regular as emoções, são competências


que são adquiridas com a ajuda e compreensão do adulto. – (para a regulação
emocional) Uma vez que os adultos são exemplos para as crianças, elas beneficiam
bastante quando os pais se preocupam desde cedo com as suas necessidades e desejos,
quando as ajudam a compreender as emoções e a desenvolver a empatia, assim como
quando valorizam o que elas sentem (Brion-Meisels & Jones, 2012; H. Pinto, Carvalho
& Sá, 2014; Zeman & Shipman, 1996).

Capacidade de adiar as recompensas (através funções executivas e dos limites).

Limites:

A “tendência antissocial” (Winnicott, 1956/2000) é decorrente da falta de um cuidado,


num certo momento do desenvolvimento, que a criança sente que anteriormente teve.
Pensando na dinâmica de pais de crianças que não são capazes da imposição do limite,
esse acontecimento ocorre num período posterior do desenvolvimento da criança, em
que outros cuidados anteriores de que ela necessitava dos pais foram cumpridos. Ou
seja, passado o período de “dependência absoluta”, onde os pais puderam exercer bem
suas funções, no período de “dependência relativa” essa criança se depara com pais que
agora não são capazes de exercer adequadamente suas funções − por sentirem
dificuldade de exercer a função de autoridade − e um comportamento de agressividade
excessivo, então, pode (com o cuidado de não cair em generalizações) estar a serviço de
uma destrutividade, , onde a criança busca no ambiente um embate contra o
comportamento impulsivo.

Socialização emocional parental:

Mota e Souza e Mendes (2018) realizaram também um estudo, com 25 mães e


respetivos filhos, cujo objetivo foi analisar a associação entre as conceções parentais
acerca das competências emocionais das crianças e o conhecimento emocional das
mesmas. O estudo concluiu que quando os pais valorizam as emoções das crianças e se
preocupam em conversar com elas sobre o que sentem, estas demonstram maior
conhecimento emocional.
Gottman et al. (1996) desenvolveram um modelo denominado “filosofia da
metaemoção”, com base em entrevistas realizadas aos pais que se focaram nas suas
conceções acerca das emoções das crianças e na forma como decorre a sua comunicação
emocional com os filhos. Este modelo, que explica de que forma os pais percecionam as
suas próprias emoções e as dos outros, descreve quatro padrões de socialização
emocional: “coaching emocional”, “laissez-faire”, “rejeição de emoções” e
“desaprovação”

A vinculação constitui uma vertente que influencia bastante o desenvolvimento


emocional das crianças na medida em que, uma vez que uma vinculação mais segura
permite um maior diálogo da criança com a mãe acerca das suas emoções negativas e
uma maior facilidade em identificar as emoções, está então relacionada com uma
regulação emocional mais adaptativa (Denham, 2007; P. Machado et al., 2008; Zimmer-
Gembeck et al., 2015).

Estilos parentais

Os estilos parentais constituem uma vertente que influencia bastante o desenvolvimento


emocional das crianças, tal como podemos verificar por alguns estudos apresentados em
seguida. Neste sentido, primeiro, serão definidos os principais estilos parentais –
autoritário, permissivo e autoritativo. Segundo Baumrind (1978), o estilo autoritário
consiste em baixos níveis de afetividade e elevados níveis de controlo, em que os pais
não permitem à criança ter liberdade de escolha nem defender a sua opinião, sendo esta
submissa a todas as regras impostas pelos mesmos. O mesmo autor define o estilo
permissivo com baixos níveis de controlo e elevados níveis de afetividade, em que os
pais permitem à criança agir de acordo com a sua vontade na maioria das situações e
regular o seu próprio comportamento, estabelecendo poucas regras e limites. Por fim,
considera o estilo autoritativo como o mais adequado, pois os pais exercem o seu
controlo e afetividade em níveis equilibrados, em que por um lado são responsivos às
necessidades da criança e por outro definem regras adequadas às situações, tendo em
conta a sua opinião antes de tomar a decisão final.

De acordo com o estudo realizado por Chora et al. (2019), com crianças entre os 3 e os
6 anos, os pais que adotam um estilo maioritariamente autoritativo tendem a apresentar
uma maior aceitação, compreensão e apoio das emoções dos filhos, em conjunto com
práticas de socialização mais positivas. Em contrapartida, quando os pais adotam um
estilo maioritariamente autoritário ou permissivo, verifica-se o inverso, pois uma vez
que estes são pautados pela desvalorização dos interesses e preocupações dos filhos e
desconforto face à expressão das emoções, isto terá repercussões mais negativas no seu
desenvolvimento emocional, seja ao nível do conhecimento, seja ao nível da regulação,
assim como na relação com os outros.

Fragilização das funções parentais

O fenómeno da “fragilização das funções parentais” como característico de pais


que sentem culpa, dúvida e insegurança em relação ao próprio posicionamento,
enquanto pais, diante do que podem, devem, ou não, fazer pelos seus filhos, na
contemporaneidade. Naturalmente as novas formas de relacionamento entre pais e filhos
são difíceis de serem assimiladas isentas de conflitos, já que os valores tradicionais que
embasavam o processo educacional passaram a ser amplamente questionados e os
modelos novos ainda não estão totalmente estabelecidos. (destaca o comportamento
ambivalente dos pais ao exercerem seus papéis e considera que isto se deve ao
confronto entre ideais tradicionais, de autoritarismo e submissão, e os modernos, de
igualdade na família, diante do qual os pais se sentem confusos e em conflito.)

Procurando relacionar o sentimento de competência dos pais com as suas


práticas, um estudo na Austrália (Sanders & Woolley, 2004), por exemplo, defende a
ideia de que pais, que são mais permissivos com seus filhos, apresentam um sentimento
de competência reduzido e que este sentimento corresponde a suas práticas efetivas.

O fenômeno da “fragilização das funções parentais” denuncia a existência de


pais que não conseguiram se apropriar de todas essas mudanças de um modo
equilibrado: ou seja, proporcionar uma educação não rígida, que dê maior espaço para
a participação da criança na família, promovendo formas de relações mais
compreensivas e próximas da mesma, ao mesmo tempo em que reconheçam que a
criança em idade precoce precisa ser orientada, em termos de limites, e respeitada
dentro de suas possibilidades e capacidades características.  Equilíbrio

perfeito

Portanto, na atualidade torna-se necessário que os pais construam um modo


consistente de exercer a parentalidade, reforçando as relações Fragilização dos Papéis
Parentais hierárquicas no interior da família, sem confundir o emprego da autoridade
com autoritarismo, e respeitando os lugares e funções diferenciadas de cada um no
grupo familiar.

As práticas educativas só podem adquirir um caráter consistente e não


ambivalente, se forem construídas com autenticidade e segurança pelos próprios pais,
valorizando suas qualidades e experiências pessoais para essa função, em primeiro
plano. Como cenário de fundo ou segundo plano, de modo complementar e não em
substituição, estaria alocado o saber dos especialistas e as características da sociedade
contemporânea.

“Não basta ser genitor, nem ser designado como pai para preencher todas as
condições, é necessário ‘tornar-se pais’, o que se faz por meio de um processo
complexo, implicando níveis conscientes e inconscientes do funcionamento mental”
(Houzel, 2004).

Solis-Ponton (2004), dentro desta vertente, compreende a parentalidade como um “tipo


de estrutura que se instala em ação e evolui com o desenvolvimento do indivíduo e a
evolução do grupo familiar” (p. 29). Implica, segundo ela, em um processo de
preparação e de aprendizagem. A criança é o elemento que inaugura a tríade, constrói e
parentaliza os pais ao mesmo tempo em que ela mesma se constrói.

Convicções dos pais

Bugental e seus colegas analisaram a conduta de mães que acreditam que seus filhos
têm mais poder do que elas próprias em situações em que as coisas não estão indo bem.
Essas mães são ameaçadas e podem tornar-se tanto agressivas e hostis como inseguras e
submissas. Enviam mensagens confusas a seus filhos, e o resultado é que as crianças
param de prestar atenção a elas, e mostram uma queda na habilidade cognitiva. Essa
visão da relação de poder tem um preço: afeta a capacidade da mãe para resolver
problemas e, consequentemente, desempenhar de maneira eficaz seu papel de mãe. De
modo similar, mães menos eficazes – isto é, que não acreditam que possam criar seus
filhos de maneira eficaz – deixam de lado as práticas parentais quando a tarefa é
desafiadora, e ficam deprimidas. Mostram-se frias, sem afetividade e não se envolvem
na interação com seus bebês. Brody e seus colegas, em um estudo de famílias afro-
americanas monoparentais, relataram que a eficácia estava relacionada aos objetivos
que a mãe estabelece para seu filho – tais como ser bem-educados e comportar-se
adequadamente –, e justamente esses objetivos, que permitiam prever as práticas
parentais, estavam, em última análise, associados à habilidade da criança para regular
seus comportamentos e fazer planos. Para outras mães cujas convicções positivas sobre
suas habilidades na prática parental são irreais, a probabilidade é que se mostrem
severas e críticas com seus filhos em idade pré-escolar, os quais, em contrapartida,
mostram-se desafiadores.

Os pesquisadores avaliaram também a capacidade dos pais para analisar a situação pelo
lado de seus filhos. Crianças cujos pais são capazes de prever com precisão o
desempenho cognitivo de seus filhos têm melhor desempenho, provavelmente porque
esses pais conseguem adequar seus esforços como educadores às necessidades dos
filhos.11 Da mesma forma, Hasting e Grusec constataram que pais que são capazes de
identificar com exatidão o pensamento e os sentimentos de seus filhos em situações de
conflito conseguiam alcançar soluções mais satisfatórias. Por fim, a propensão dos pais
para ver seus filhos como indivíduos que também têm estados mentais e sua avaliação
correta desses estados mentais foi associada a uma ligação segura com as crianças.

Projeto de idealização que permeia o imaginário dos pais em relação aos filhos, nos
quais existe uma grande expectativa de realização e perfeição depositada nos
descendentes

As atitudes e as crenças a respeito da educação dos filhos estão cada vez mais
dependentes do conhecimento dos especialistas, tais como os pediatras, os
professores e os psicólogos. Pode-se verificar que através de todo o discurso das mães, a
centralização do desenvolvimento de seus filhos perpassa a importância da escola e a
concepção de que os pais não são tão capazes quanto a escola no que diz respeito às
necessidades dos filhos. Uma das justificativas para tal situação é de que as mães não
possuem o conhecimento necessário para educar seus filhos, ao contrário da escola, que
também seria a sede do conhecimento necessário para o exercício de tal função. Supõe-
se, como propõe Priszkulnik (2002), que essa forma de interferência dos especialistas
teve suas consequências nas relações entre pais e filhos. Contribuiu para a ideia de que o
saber natural dos pais é desqualificado em relação ao saber dos especialistas e, desta
forma, também retira dos pais a autoridade inerente sobre seus filhos, pois esta se
justifica quando podem se responsabilizar inteiramente pela educação dos mesmos.

fenômeno pode ser lido como uma “reação violenta” da sociedade científica contra um
posicionamento em que os pais não consideravam as crianças plenamente enquanto
cidadãs. Portanto, a preocupação maior destes “discursos especializados” estava em
buscar sensibilizar os pais acerca da necessidade de maiores cuidados em relação a seus
filhos, mas acabaram por provocar um sentimento exacerbado em que, atualmente, a
criança é colocada no lugar de protagonista e de quem decide sobre o seu futuro.

Lebrun (2004) considera que a sobrevinda do discurso da ciência, que subverteu


profundamente o equilíbrio até então em jogo na família, surgiu para acabar de vez com
o poder da autoridade paterna, proporcionando um deslocamento do posicionamento
de autoridade para o de responsabilidade.
Wagner (2003) considera como fato comum, hoje, pais e mães sem referências claras
do que deveriam fazer em questões simples do cotidiano. Para ela, como as regras da
educação não estão claras para os pais, tornam-se inconsistentes diante dos filhos.

Com relação à posição da família frente ao desenvolvimento da criança, foi percetível


que, apesar da maioria das mães possuírem um trabalho informal, estas relatam falta de
tempo para seus filhos, deixando a escola encarregada de exercer algumas funções que
poderiam ser atribuídas às próprias mães.

Por outro lado, prevalece a visão de que a rua, o brincar e mesmo as atividades
desenvolvidas na própria casa têm uma importância menor, se comparadas àquelas
oferecidas na escola. Ou seja, a importância do estudo e do acesso ao conhecimento
surge em detrimento do brincar livre e aparentemente descomprometido com a
aprendizagem formal.

Estratégias (mediante tais conceções então o que se pode fazer?)

Cultivar a brincadeira (Winnicott):

Tal como as personalidades dos adultos se desenvolvem através de suas


experiências de vida, assim as das crianças evoluem por intermédio de suas próprias
brincadeiras e das invenções de brincadeiras feitas por outras crianças e por adultos
(WINNICOTT, 1982, p. 163).

Na faixa etária entre os 2 e os 6 anos, um meio fundamental para a criança


resolver seus problemas emocionais é a brincadeira. É através do brincar que ela
encontra uma maneira de lidar com seus impulsos e sentimentos, sejam eles a
agressividade ou outros como a angústia, o medo, a alegria.

Segundo Winnicott: Visto as crianças em idade pré-escolar tenderem a ser vítimas de


suas próprias emoções fortes e agressivas, a professora deve, por vezes, proteger as
crianças delas próprias e exercer o controle e orientação necessários na situação
imediata, e, além disso, assegurar o fornecimento de atividades lúdicas satisfatórias para
ajudar a criança a guiar sua própria agressividade para canais construtivos e para
adquirir habilidades eficazes. (WINNICOTT, 1982, p. 223)

Para a teoria Histórico-cultural, os jogos de faz-de-conta são considerados como os


mais importantes para o desenvolvimento (sobretudo na idade pré-escolar), nomeados
como atividade-principal em Leontiev (1988) e Elkonin (2009) e como atividade que
cria zonas de desenvolvimento iminente em Vigotski (2008). – ver artigo A teoria do
jogo de Elkonin e a educação infantil

Uma mãe capaz de apresentar o mundo em pequenas doses (Winnicott):

“Para ela [a criança] todas as sensações são tremendamente intensas. Nós, como
adultos, só em momentos especiais atingimos essa maravilhosa intensidade de
sentimentos que é característica dos primeiros anos e tudo o que nos ajude a alcançá-la
sem susto é bem acolhido.”

“Para as crianças e muito mais para os bebés, a vida é apenas uma série de experiências
terrivelmente intensas.”

Bebés como pessoas:

O desenvolvimento do ser humano é um processo contínuo. Tal como no


desenvolvimento do corpo, assim também no da personalidade e no da capacidade de
relações. Nenhuma fase pode ser suprimida ou impedida sem efeitos perniciosos. (…)

Nas questões do corpo é possível cometer erros, admitir até raquitismo, e mesmo assim
criar um filho sem coisa pior que umas pernas tortas. Mas do lado psicológico, um bebé
privado de algumas coisas correntes, mas necessárias como um contacto afetivo, está
votado, até certo ponto, a perturbações no seu desenvolvimento emocional que
revelarão através de dificuldades pessoais, à medida que crescer.

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