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Material de Apoio
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Crianças cujos pais são capazes de prever com precisão o desempenho cognitivo
dos seus filhos têm melhor desempenho, provavelmente porque esses pais
conseguem adequar os seus esforços como educadores às necessidades dos
filhos.
O equilíbrio Perfeito
Artigo: “A disciplina na creche e no jardim-de-infância – educar sem castigos e sem
recompensas” – Uma pedagogia sem punições nem recompensas
De acordo com Winnicott (1999), se uma criança tem confiança no pai e na mãe,
usa de todos os meios possíveis para se impor. “Com o passar do tempo, põe à prova o
seu poder de desintegrar, destruir, assustar, cansar, manobrar, consumir e apropriar-se”
(p. 129). E, se o lar consegue suportar todo este tipo de comportamento da criança, ela
sossega e vai brincar.
Portanto, com base na literatura revisada sabe-se que as crianças de dois a quatro anos
possuem comportamentos de agitação, teimosia e agressividade, e também são
dependentes de seus pais enquanto figuras de autoridade, responsáveis por exercerem
um controle sob sua espontaneidade.
Limites:
Estilos parentais
De acordo com o estudo realizado por Chora et al. (2019), com crianças entre os 3 e os
6 anos, os pais que adotam um estilo maioritariamente autoritativo tendem a apresentar
uma maior aceitação, compreensão e apoio das emoções dos filhos, em conjunto com
práticas de socialização mais positivas. Em contrapartida, quando os pais adotam um
estilo maioritariamente autoritário ou permissivo, verifica-se o inverso, pois uma vez
que estes são pautados pela desvalorização dos interesses e preocupações dos filhos e
desconforto face à expressão das emoções, isto terá repercussões mais negativas no seu
desenvolvimento emocional, seja ao nível do conhecimento, seja ao nível da regulação,
assim como na relação com os outros.
perfeito
“Não basta ser genitor, nem ser designado como pai para preencher todas as
condições, é necessário ‘tornar-se pais’, o que se faz por meio de um processo
complexo, implicando níveis conscientes e inconscientes do funcionamento mental”
(Houzel, 2004).
Bugental e seus colegas analisaram a conduta de mães que acreditam que seus filhos
têm mais poder do que elas próprias em situações em que as coisas não estão indo bem.
Essas mães são ameaçadas e podem tornar-se tanto agressivas e hostis como inseguras e
submissas. Enviam mensagens confusas a seus filhos, e o resultado é que as crianças
param de prestar atenção a elas, e mostram uma queda na habilidade cognitiva. Essa
visão da relação de poder tem um preço: afeta a capacidade da mãe para resolver
problemas e, consequentemente, desempenhar de maneira eficaz seu papel de mãe. De
modo similar, mães menos eficazes – isto é, que não acreditam que possam criar seus
filhos de maneira eficaz – deixam de lado as práticas parentais quando a tarefa é
desafiadora, e ficam deprimidas. Mostram-se frias, sem afetividade e não se envolvem
na interação com seus bebês. Brody e seus colegas, em um estudo de famílias afro-
americanas monoparentais, relataram que a eficácia estava relacionada aos objetivos
que a mãe estabelece para seu filho – tais como ser bem-educados e comportar-se
adequadamente –, e justamente esses objetivos, que permitiam prever as práticas
parentais, estavam, em última análise, associados à habilidade da criança para regular
seus comportamentos e fazer planos. Para outras mães cujas convicções positivas sobre
suas habilidades na prática parental são irreais, a probabilidade é que se mostrem
severas e críticas com seus filhos em idade pré-escolar, os quais, em contrapartida,
mostram-se desafiadores.
Os pesquisadores avaliaram também a capacidade dos pais para analisar a situação pelo
lado de seus filhos. Crianças cujos pais são capazes de prever com precisão o
desempenho cognitivo de seus filhos têm melhor desempenho, provavelmente porque
esses pais conseguem adequar seus esforços como educadores às necessidades dos
filhos.11 Da mesma forma, Hasting e Grusec constataram que pais que são capazes de
identificar com exatidão o pensamento e os sentimentos de seus filhos em situações de
conflito conseguiam alcançar soluções mais satisfatórias. Por fim, a propensão dos pais
para ver seus filhos como indivíduos que também têm estados mentais e sua avaliação
correta desses estados mentais foi associada a uma ligação segura com as crianças.
Projeto de idealização que permeia o imaginário dos pais em relação aos filhos, nos
quais existe uma grande expectativa de realização e perfeição depositada nos
descendentes
As atitudes e as crenças a respeito da educação dos filhos estão cada vez mais
dependentes do conhecimento dos especialistas, tais como os pediatras, os
professores e os psicólogos. Pode-se verificar que através de todo o discurso das mães, a
centralização do desenvolvimento de seus filhos perpassa a importância da escola e a
concepção de que os pais não são tão capazes quanto a escola no que diz respeito às
necessidades dos filhos. Uma das justificativas para tal situação é de que as mães não
possuem o conhecimento necessário para educar seus filhos, ao contrário da escola, que
também seria a sede do conhecimento necessário para o exercício de tal função. Supõe-
se, como propõe Priszkulnik (2002), que essa forma de interferência dos especialistas
teve suas consequências nas relações entre pais e filhos. Contribuiu para a ideia de que o
saber natural dos pais é desqualificado em relação ao saber dos especialistas e, desta
forma, também retira dos pais a autoridade inerente sobre seus filhos, pois esta se
justifica quando podem se responsabilizar inteiramente pela educação dos mesmos.
fenômeno pode ser lido como uma “reação violenta” da sociedade científica contra um
posicionamento em que os pais não consideravam as crianças plenamente enquanto
cidadãs. Portanto, a preocupação maior destes “discursos especializados” estava em
buscar sensibilizar os pais acerca da necessidade de maiores cuidados em relação a seus
filhos, mas acabaram por provocar um sentimento exacerbado em que, atualmente, a
criança é colocada no lugar de protagonista e de quem decide sobre o seu futuro.
Por outro lado, prevalece a visão de que a rua, o brincar e mesmo as atividades
desenvolvidas na própria casa têm uma importância menor, se comparadas àquelas
oferecidas na escola. Ou seja, a importância do estudo e do acesso ao conhecimento
surge em detrimento do brincar livre e aparentemente descomprometido com a
aprendizagem formal.
“Para ela [a criança] todas as sensações são tremendamente intensas. Nós, como
adultos, só em momentos especiais atingimos essa maravilhosa intensidade de
sentimentos que é característica dos primeiros anos e tudo o que nos ajude a alcançá-la
sem susto é bem acolhido.”
“Para as crianças e muito mais para os bebés, a vida é apenas uma série de experiências
terrivelmente intensas.”
Nas questões do corpo é possível cometer erros, admitir até raquitismo, e mesmo assim
criar um filho sem coisa pior que umas pernas tortas. Mas do lado psicológico, um bebé
privado de algumas coisas correntes, mas necessárias como um contacto afetivo, está
votado, até certo ponto, a perturbações no seu desenvolvimento emocional que
revelarão através de dificuldades pessoais, à medida que crescer.