You are on page 1of 25
Juan Carlos. Kusnetzoff Introducao a Psicopatologia Psicanalitica CAPITULO V ogdes de metapsicologia freudiana Entende-se por metapsicologia o estudo dos aspectos teéricos psicanaliticos. E — no dizer de Laplanche © Pontalis — uma | dimensio onde se elaboram diversos modelos conceituais que explicaréo os dados empiricos transmitides pela experiacia, Pode parece: um tanto esiranho que devamos fornecer ele- ‘mentos de metapsicologia para quem estuda 0 fendmeno psico- patol6gico psicanalitico; porém hoje se sabe que o préprio Freud do st mostrou muito interessado nos estudos clinicos em si ‘mesmos, mas sim na construgdo de uma tenria globe! 2s psquismo. Mas estudar -metapsicologia 2 Semnove sie 4 scene retocre Rienemerren Wear Cates ditowdiieatin ipuinsetnen Kosmerzo FF . importante porque nela sio estabelecidos os alicerees necessérios que permitirio compreen- der-se determinados quadros da nosografia psicopatoidgica psi- canalitice. Ao mesmo tempo, os modelos metapsicol6gicos per- ampliir oh wito resuitu pela psicopatoiogia clés- a, entre © que é “so” € 0 que é “doente™ Os modelos da metapsicologia freudiana so fundamental mente tr — dindmico, onde se fala de fo impulsora, ete; Jie fie pulsSes, instintos, forgas, mo- ~ Spica, que € © ponty de vista que supde o aparelho psiquico “ividido em sistemas com caracteristicas ¢ fungSes di- ferentes ¢ entio, classicamente, fale-se de Consciente, Pré-Cons- Giente € Inconscieate, ou de Ego, Superezo e Id; — -finalmente, © medelo-ecendmico, que € © ponto“de visa que observa 0 aparctho psiquico como uma circulasio, di tibuisdo © administraggo de uma energia quantficavel; falamos nto de catéxias, ou carges, que aumentam, diminuem, sobre- camegam, ete. » 8 x DS S » g } e x ; . es e Qy ¥ orev Aes RED ES: INN in © QUE E UM “MODELO”? ra em psicopatologia e que ire E j& estamos oferecendo uma pequena distingdo com outros 1a. ‘mos do saber, jé que em todos os setores da ciéncia é habitual o Uso € 0 estudo de modelos. Essencialmente, um modelo é uma simplificagio. E um es- plificado dos caracteres genéricos de uma realidade qual- juer. Esta simplificagSo & sempre instrumental. £ uma ferramen- | t@ que o cientista utiliza para ordenar suas descobertas poder \formalizar a correspondéncia e a articulagdo existente entre o real-empirico © 0 que se pensa sobre ele tudo Emi certo sentido, falar de modelo € como falar de uma metéfora. Assim, por exemplo, um sentido que exprimiria mais literalmente 0 termo modelo diria que € uma maquete, ou um prototipo reduzido, Como quem diz: observei ¢ tive uma idéia da casa, porque me ofereceram um modelo em escala, feito em madeira cartolina, Outro sentido muito comum da palavra modelo € 0 que esigna um tipo especial de desenho (modelo de vestido) ou, inda, alguma coisa ou alguém a imitar, que serve como exem. plo (determinads pessoa como modelo de honestiede. Explicitamos estes tltimos sentidos de modelo porque a me- tapsicologia tem algo a ver com eles, embora nfo se reduza exa- tamente a eles. © sentido de modelo que melhor se adzpta aos esquemes freudianos metapsicol6gicos € 0 de anslogia. Entendemos como tal qualquer tipo de construgdo destinada a reproduzir, 0 mais fielmente possivel, a trama d> relecGes,-a estrutura proveniente do original, porém de forma comparative, através do estabelec mento de relagées de igualdade ou corréspiendéncia entre 0 estamos querendo dar a conhecer ¢ outras estruturas jé coaheci- das, tomadas como parémetro. 7 ‘Avs modelos analésicos nlo interessa a itnitagdo ponto por pponto, respeitando, em sua reproducio, a proporgio da mednie Pelo contrétio, 0 que interessa a0 modelo analégico é uma fi ralidade muito mais abstrata: a reprodugio de um sistema in. terligado de fungSes, ou seja, de uma estrutura © modelo analégico compartilha com seu original a mesma configuragio de relagies, desinteressando-se da proporcionalida- de (se grande, se pequeno, se fino, se grosso, etc.). Os matemé- ticos modemnos, particularmente Carnap, chamam de “isomérfi- co” 30 modelo analégico (Carnap, R.: Introduction to Symbolic Logic and its Applications, New York, 1958, p. 75) © Ieitor deverd observar que, 20 conceber tio abstratamen- te um modelo, este adquire possibilidades infinitas, 0 que torna seu estudo fascinante. A abstragio também Ihe concede grande poder explicativo, como ocorre com os modelos metapsicolégi- 0s freudianos. Mas seré também necessério ressalvar que 0 mo- delo, por mais aperfeigoado que seja, uma hipétese (literal- mente, uma sub-positio, uma suposigéo) e, portanto, propor- ciona uma plausibilidade em relacdo aos. fatos, nunca suas demonstragées. Os cisntistas sempre trabelharam com modelos, com um conjunto de conctitos esqueméticos, e Freud ndo escapou dist. © modelo nio pertence aos dominios da experiéncia ordi néria (nunca ninguém viu ou tocou um modelo!) e pode ser tio simples ov tio complicado quanto © desejemos, contanto que saibamos usé-lo. Em cigncia, a rigueza de um modelo, tal como aconteceu com 0s que Freud esbogou desde 1913, époce da sua criagéo retapsicol6gica, consiste na quantidade de sugestOes especu- ages novas para operar de forma eficaz no campo empitico. Veja-se como Freud, com um modelo simples com remi cias 6pticas do Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente, operava, interpretava e tratava seus doentes, jé em 1900. Quando esses modelos se tornaram pouco eficazes, porque mudou o campo do realempirico, nfo existiu entfo para ele a correspondéncia su- ficiente entre seus pacientes © a5 hipéteses com as quais ele + pensava sobre eles. Assim, para os quadros psicéticos ¢ nar O PONTO DE VISTA TOPICO OU TOPOGRAFICO Este ponto de vista ou modelo metapsicolégico supe 0 aparelho Psiquico como uma organizagao dividida em sistemas ou instin- cias. Literalmente, t6pico vem do grego topos, que significa Iu- #21, portaato © modelo tépico & um modelo dos lugares Esses lugares, ou sistemas, esto dispostos numa determi- nada ordem, formando um conjunto que funciona como tal. Este ‘limo conccito € importante porque, embora estudemos sepa- radamente cada um desses sistemas, isto se dé por exigéncias des- critivo-pedagégicas, mas a realidade nunca se comporta da mes- ma forma. Por isso, ressalvamos que o termo «pico faz cair a acentuacio sobre uma certa disposigéo espacial das instincias, fodendo dar uma significaggo errénea de seu funcionamento, Provavelmente por essa razio Freud usou a palavra “aparelho”, que sublinha a funcionalidade interligada das instincias entre si, como também a capacidade de produzir um trabalho. ‘A nogio de aparelho psiquico como um conjunto articula- dor de lugares virtuais aparece desde A Interpretagao dos So- om if , tm att femeso Cepitute VI, Fi senha o aparelho como um aparelho Sptico, capaz de condensar, distribuir, focalizar ou dispersar o feixe luminoso. Temos aqui o modelo Sptico mostrando, por analogia, uma das fungdes princi- pais do aparelho psiquico: as transformagies da energia (dos instintos). Como se pode observer, é muito diffcil separar 0 Modelo Tépico do Modelo Dindmico, porque neste timo a origem, 0 processamento, a distribuicéo © o destino final da energia estio articulados as distintas funcdes que correspondem a cada luger, a cada instincia do Modelo Tépico. 1. © PRIMEIRO TOPICO © contexto-epistemiolégico em que Freud-trabalhou, particular- meat na segunda metade do século XIX, era um conterto i pregnado de trabalhos neurofisiol6gicos relatives ‘as locelizagdes cerebrais de funcées. | | Freud foi um brilhante expoente dos laboratérios experi. mentais da época e, além de dizias de trabalhos sobre neurofi- siologia, escreveu em 1891 um livro sobre as afasias. © tema, de grande importincia, critica as teorias que hierarquizavam a localizagéo anatémica-conereta, de renomados cientistas da épo- ca. A semente da consteugio de um aparelho tedrico, ou seja, descritive de lugares no detectaveis histologicamente, jé se en- contra ai, Sua associagdo com Breuer desemboca numa espécie de axiomia: “o espelho de um telescépio ndo pode ser, simulta- seamente, uma chapa fotogrifica”, Isto significa ums anteci- pasio da formulagio teérica de 1900, onde a funsio perceptiva € & fungio mnésica requeririo dois sistemas diferentes. Seré interessante observar que, dentro de todo esse conter “to, Freud escolhe 0 sonho como cena para sua primeira mode- lizagdo. Ou seja, uma produgdo mental que aparece tanto em pessoas normais como em doentes, ¢ que € independente do con- trole consciente. © Ieitor concluiré facilmeme que por todas estas razées Freud viu-se obrigado a conceber um aparelho psiquico que ex- plleecce © fonbmn: seiéncia ¢ que. 20 mesmo tempo, tivesse fungBes de recepgdo, processamento e arquivo dos estimulos, © aparetho psiquico do primeiro tépico compée-se de trés sistemas: 0 Inconsciente (abrev. Ics), © Pré-Consciente (PCs) Sev Cunsciente (Cs). Este dltime sistema € &s vezes deuvuti Sistema Percepcio-Consciéncia (abrev. Ce-Cs) fig. 11}, Pept Mrem Mnem' he Pes Freums 11 (St. Br, vol. V, p. $77) A) 0 SISTEMA PERCEPGAO-CONSCIENTE OU CONSCIENCIA Do ponto de vista tico, este subsistrhaesté localizado na pe- riferia do aparelho psiquico, Embora Freud manifestasse a in- tengio de evitar localizagSes precisas, nio hi dividas de que existem “infiltragées", como a8 que estamos vendo, que denne «slam a origem anatomotsiolég 4 Fiel a0 postulado axiomftico de que um espelho de um te. leseépio ndo pode ser simultancamente uma chapa fotogrifica, Freud oulorg's eit sstema Consete 3 funche ot Seer 8 informaghes provenientes do enterior © do interior: maar onservar nenhum trago, neWbis marca duradgurs Sch in formagdes. A Coniitnca serd um fato Tague, « nan un au vo. Estas informagbes exctardo, no. sistema Consent, ms sites de registro qualitativo sensivel ao prazer e 20 desprazer, \, © sistema Consciente funciona em conjungio com o sis tema Tnconsciente, mat se opie 2 ee, desde que o sistema In consciente € 0 lugar de registro e de conservacdo das exelarées O sistema Consciente cuids dos processos do pensamento, do ut 20, assim como da parte consciente da. cvocssio. B) © PRE-CONSCIENTE Designa um sistema, dentro do aparetho psiquico. elarsmente iverso do sistema Inconsciente, mas que, de modo funcionsl, estd articuledo ao sistema Conscient. Do ponto de vista t6pico, 0 Pré-Conscieme est separado do Inconsciente pela Censura, a responsivel pela interdicfo, & maneira de crivo, sofrida pelos contetidos e processos inconscien- tes em sua intengo de entrar no campo da consciéncia Mas seré importante destacar que sua localizagio, préxima do_campo Consciente, faz do Pré-Consciente um peaueno arqui- ‘Yo, sem_gue por is 0 Inconssienis.A earacterts- iearoyea que seus conteddes podem 1 recuperados por um ato.da vontade, © que nio ocorre. com os do Inconsciente, Por essa razlo, do ponto de vista dezcitivo, um conieido mental qualquer pode ser consciente ov incon Mas bastard um ato da vontade para fazé-lo entrar ou no na i Consciéncia. Se isto foi possvel, & porque o contedido estava no Pré-Consciente (diz-se entdo que 0 conteido estava reprimido} foi possivel, a sua localizagao era no Inconsciente (diz-se ento, que 0 contetido estava recalcado) TInsistimos: © que earacteria o Pré-Consciente ¢ a capaci- dade voluntéria de se chegar a ele. Como € expresso por La- planche © Pontalis, o Pré-Consciente de modo geral designa o implicto na atividade mental, embora nfo seja objeto de consciéncia, Seb o pono de visa do contetdo, 0 Pré-Consiat con- em “repreuntasss de palates uma area matic da pales cuvkn, Induce 6 tuna repromnsiiey Mo, wna. plees, Ot fru € um elemento senvel que deaou mets de sua pstogem pale apart psluicn, A stepesenaplo de palava” € uma marca actstica, que se PO ca aire gpg aie Inconcente ¢ & predonisanesone visual, A epesntgto de coisa" nuea pode ser consciente se nfo exer asociada 8 al Ss eres a a cine Taek Coon ¢) © INCONScIENTE Ja dissemos que 0 ato da conscitncia € temporalmeate circuns- tancial, momentineo, Isso significa que hi elementos que nesse ‘momento se encontram fora da Consciéneia, Deduz-se daf que aqulio que esté fora da Conscitacia, fenomenologicameute, € cha- mado Inconsciente. Dissemos também que esses determinados contedidos inconscientes, sob © ponto de vista t6pico, poderdo ser pré-conscientes ou se localizarem no inconsciente propriamente ito, conforme possam ou no ser recuperados por um ato da vor Ocupar-nos-emos aqui do Inconsciente no sentido t6pico. Trata-se da parte mais arcaica do aparelho psiquico, est- dando-se_nela as representagées chamadas “representagtes de Geis". Devemos também lembrer que “representacéo ideativa’ “irago mnémico” e “representagdes de coise” sfo sindnimos, » "OQ Incossciente contém “representagSes de coisa”, que sf0 fragmecios de reprodugées de entigas percepgées. Essas’represen- tagbes estfo dispostas como uma sucessio de inscrigbes, que sto { i J presentagio de. coi como uma espécie de arquivo sensorial. O leitor devers fazer un ssforgo imaginativo para conceber esta espécie de registro senso. rial como um conjunto de elementes despidos de palavras. Sio 38 coisas, reduzidas a seus tragos coasttutivos essenciai, tl co. mo se inscreveram, numa época em que ndo existiam palavras para designéslas: de zero a dez ou doze meses, aproximadamen. te. Embora essas representagies se refiram a todos os sentidos, auditivo, gustativo, olfativo, tétl © visual, € este ltimo quem exerce uma clara predomingncia hegembnica sobre 0 resto. Dat que © conjunto de representagGes imconscientes forma verdade- 0s fantasmas, carregados de energia proporcionada pelas pulses. Assinalamos mais acima que o Tnconscieate é 0 subsistema mais areaico do aparelho psiquico. Mas devemos ressalvar que € arcaico num sentido duplo: ontogenética e filogeneticamente De fato, Freud nunca deixou de admitir, partcularmente de- pois de 1923, a existéncia de uma parte do Inconsciente como hreranga genética, a que chama de “Nicleo do Inconsciente Esta experiéncia filogenética se articularia @ um outro conceito de Freud, que sio as “protofantasias", ou “fantasias primitivas ixjuitias”. Pious di as fantasméticas transmitidas flogen« te, © que tém consis- téncia © organizagéo néo correspondentes & experiéncia real in- fantil vivida pelo sujeito. (Ver p. 178.) Devemos reconhecer que esse conctito de “Nécleo do In- consciente” € um conceito polémico, controvertido, que des © dé margem a acaloradas discusses, particularmente epistemo- légicas. Transcrevemos, porém, literalmente, a frase final da au- torizada opiniéo de Laplanche e Ponta: “No nosso modo de ver, as reservas suscitadas pela teoria de uma transmissio gené- tica hereditéria nfo devem nos fazer considerar igualmente cadu- ca_a idéia de que existem, na vida fantesiosa, estruturas irredut veis &s contingéncias do vivido individual”. Além das “representagées de coisa”, o Inconsciente € cons- tituido por energia proveniente=das pulsdes. Tuncionalmente, re- ¢ energia pulsional operam em conjuno, ‘As representagGes, juntamente com sua energia corvespor- dente, caracterizam-se pelo fécil deslocamento e descarga. Isto € 0 que se conhece com o nome de “Processo Primério”, carac- 124 terizado por dois tipos de mecanismos que afetam as representa ges: _deslocamento € condensacio. Este sltimo € 0 somatério das virias cadeias de cepresenta- ‘ges; € um produto do deslocamento. Para facilitar a compreen- si, diriamos que a condensagdo € o sintoma, enquanto 0 deslo~ camento € 0 mecanismo que conduz a ele. A condensacio nio deverd.ser confundida com um resumo; € um produto da inter segdo circunstancial de deslocamentos em varios niveis de Incons- ciente. Assim como a energia circula praticamente livre no In- consciente, assim permanentemente ovorrem destocamentos que produzem condensagSes, as quais, por sua vez, originam novos eslocamentos, € assim sucessivamente, (Ver p. 165.) D) CENSURA Com o termo Censura denominamos uma importante regifo fron- teirga que une e separa o Pré-Consciente/Consciente do Incons- cienle, Esta agio fronteiriga € permanente ¢ sua oigem contun- de-se com a da repressio (recalque) ‘A titulo pritico, podemos dizer que Censura ¢ Repressio (recalque) so sindnimos.* : Deveremos também assinalar que esta Censura é chamada “"Censura Verdadeira” ou “propriamente dit, jé que existe outra Censure, muito mais freca, entre a Pré-Consciente e o Consciente, A Censura Verdadeira, ou Censura do Recalque (ver p. 165 € segs p. 188), é uma forge intens, rigid, responsével pelos impe- imentos i passagem dos conteddos inconscientes & Consciéncia Nesse impedimento @ Censura opera transformando as represen- tagées, por meio dos dois mecanismos anteriormente descrtos: Primeieo ‘Tépice um caréter ainda passive, de barreira inerte que apenas separa com rigidez 0s contetidos inconscientes do sistema Cs-PC%. Esta Censura,-descrita originalmente em.1900, na “Interpreta- 0 dot Sonhos", € um adiantamento do que Freud depois des- + Na molerne termisologia, 0 termo Censura € splicado de forma sais resrita: apenas para caracierizar a ago. do fecslque na elaboraelo dos soshos. ereveu como Supeiego. Realments, em 1923, ele ineluiu entre as fungées do Superego, a da Censura, mas conferindo-the agora um sentido de coisa vigilante e dindmica, com caracteres de ins- tincia psiquica diferenciada, 2. © SEGUNDO TOPICO A partir de 1920, especiticamente ap6s seu polémico artigo “Além do Principio do Prazer", Freud labora sua segunda ¢

You might also like