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628 psiquiatra (ou psicandlis) tanscultural psiquiatria (ou psicandlise) transcultural > ANTROPOLOGIA: BATESON, GREGORY; Cot Lom, HENRY; CULTURALISMO; DEVEREUX, GEOR. GES; ELLENBERGER, HENRI F ETNOPSIGANAUSE: FANON, FRANTZ; INDIA; JAPAO; KAROINER, ABRAM: MAXNOM, OCTAVE: MEAD, MARGARET: NEOFREUDISMO; RoHEM, Geza: WULF, SACHS. pulsao al. Trib, Instinkt esp. pul. pulsion ng, ove, Instinct Termo surgide na Franca’ em 1625, derivado do |atim pasio, para designaro ato de Impulsionar. Empregade por Sigmund Freud’ a partir de 1905, tomou-se um grande conceito da doutrina elctnaitica, detinide como a carga energética ‘que se encontrana erigom da atlvidade motora do ‘organismo ¢ do funcionamento psiquice incon- {clente do homem. A escolha da palavra pulsio para waduzir 0 alemo Trieb comrespondeu a preocupagao de evitar qualquer confusio com insti ¢ ten- déncia. Essa opeio correspondia de Sigmund Freud*, que, querendo mascara especificidade do psiquismo humano, preservou otermo Trib, reservando Instinks paca qualificar os compor- ‘tamentos animais. Em alemio como em francés fu portugués, os termos Trieb e pulsio reme- tem, por sua etimologia, 3 idéia de um impulzo independentemente de sua orientagio e seu ob- tivo. Quanto’ tradugo inglesa, parece que foi afidelidade Aidéia freudianade umaaniculagio dda psicanilise* com a biologia que norteou a excolha que James Strachey* fez da palavra instinct, em lugar de drive A nogio de pulsio (TrieD)jé esta presente ras concepgies da doenga mental e de sea tratamento desenvolvidas pelos médicos dapsi- quiatia alemi do século XIX, preocupados, como seus colegas inglesese franceses, com a ‘questio da sexualidade'. Assim, antores como Karl Wilhelm Ideler (1795-1860) ou Heinrich ‘Wilhelm Neumann (1814-1884) insistem no papel central das pulsées sexuas, este sltimo consideranda a angtistia como produto da insa- tisfagio das pulsdes. Por outro lado, sabemos que Friedrich ‘Nietasche (1844-1900) concebia o espitito hu- ‘mano como um sistema de pulsses suscetiveis de enirarem em colisio ou se funditem umas com as outras, ¢ que também ele atibufa um papel essencial aos instintos sexuais, os quais distinguia dos instintos de agressividade e de autodestruigio, Freud nunca fez. mistério desses antece- dentes. Em sua autobiografia de 1925, refers sea Nietzsche e confessou sé ohaver lide muito tardiamente, por medo de lhe softer a influén- (Quer se trate de seu aparecimento, de sua importincia ou das reformalagdes de que viria a ser objeto, o conceito de pulsio esté estret ‘mente ligado aos de libido® enarcisismo*, bem como 3s transformagées destes, constituindo lais conceitos trés grandes eixos da teoriafreu- dana da sexualidade, 'Na época pré-psicanalitica da correspon- dléncia com Wilhelm Flies e do “Projeto para ‘umapsicologia cientifica” (1895), Freud desen- volveu a déia de uma libido psfquica, forma de cenergia que ele situow na origem da atividade Inumana, Jé entio estabelecen uma distingSo entre esse “impulso”, cuja origem interna tomava inefredvel pelo individuo, © as exci- tagdes extemas, das quais 0 sujeito* podia fugir ‘4 se esquivar. Nessa ocasiao, Froud atribufa a histeria* a uma causa sexual traumética,efeito dde‘uma sedugao* sofrida na infincia, A pair de 1897, data em que abandonou essa teoria, Freud empenhou-se em reformular sua concepeao da sexualidade, mas manteve a idéia de que o recalque das moydes sexuais era ‘causa de um conflito psiquico que conduzia & ‘Em 1898, aidéiade uma sexualidade infantil tomowrse explicita. Assim, o texto "A sexuali- dade na etiologia das neuroses” deu ensejo & refutagio da tese de uma predisposige neuro- ptica particular, baseada na indicagao de uma degenerescéncia geral, ¢ Freud insstiv no fato de que a etiologia da neurose no podia residir Seno “nas experiéncias vividas na infincia e, ‘mais uma vez — em catiter exclusive —, nas impresses concementes A vida sexual. Eera- se" disse ele, “ao desprezarpor completo vida sexual das criangas; ao que eu saiba, elas sio ccapazes de todas as realizagées sexuais paiqui- cas ede numerosas reaizagdes somiticas.” De- pois de assinalar que essas experiéncias sexuais infantis s6 desenvolviam aesséncia de sua ago ‘em perfodos posteriores da maturagio, Freud cesclareceu; “No intervalo entre a expesiéneia ‘dessas impress6es e sua teprodugio (ou melhor, 0 reforgo dos impulsos libidinais delas prove nientes),ndoapenas oaparelho sexual somitico mas também o aparelho psiquico passam por ‘um desenvolvimento considerivel,e 6 por isso ‘que da influgncia dessas experiéncias sexuais precoces resulta, entio, uma reagio psiquica anormal, e aparecem formagées psicopatolégi- Em seguida, o material elinico acumulado ‘em suas anslises levou Freud a constatar que a sexualidade nem sempre aparecia explicita- mente nos sonhos* e nas fantasias*, surgindo, riuitas vezes, sob disfarces que era preciso saber decifrat: Por isso ele foi levado a es- tudar as aberragdes, as perverses™ sexuais eas origens da sexualidade, isto 6, a sexualidade infant ‘Tal foi o propésito dos Trés ensaios sobre a teoria da sexualidade*, publicados em 1905, Foi na versio inicial desse livro que Freud recorreu pela primeira vez. 4 palavra pulsio, ‘Num trecho acrescentado em 1910, le forne- ‘cea uma definigao geral que, em sua esséncia, aio sofreria nenhuma madificacio: “Por pul- ‘do, antes de mais nada, nio podemos designar outra coisa senéo a representagio psfquica de ‘uma fonte endossomatica de estimulagées que ‘luem continuamente, em contraste com a es: timulagéo produzida por excitagdes es- porsdicas ¢ extemas. A pulsto, portanto, é um ‘dos conceitos da demarcacio entre o psiquico © © somatico," Desde a primeira edigio dos Trés ensaios, 0 que esté em pauta € essencialmente a pulsao sexual, cuja definigio, por si 56, di a medida da revolugéo que Freud impés 3 ‘concepso dominante da sexualidade, fosse ela a do senso comum ou a da sexologis*. Para Froud, a pulsio sexual, diferente do instinto sexual, nio se reduz as simples atividades sexuais que costumam ser repertoriadas com seus abjetivos e seus objetos, mas é um impulso ‘do qual a libido constiui a energia, Dainfinciaa puberdade, apulsio sexual aio ‘existe como tal, mas assume a forma de um ‘conjuato de pulsées parcais, as quais 6 impor- pulsto 629 tante no confundir com as pulsées clas- sificadas por categoria (cuja existéncia Freud sempre rejeitou, como € atestado, por exemplo, ‘por sua refutagio da iia de uma pulsSo gregé- tiaem Pricologia das maszas eandlize do eu) CO cariter sexual das pulsses parciais,ejasoma constitu a base da sexvalidade infantil, define se, num primeiro momento, por um procesto de apoio" em oulras atividades sométicas, ligadas a determinadas zonas do corpo, as quas, dessa raneira, adquirem o estatuto de zonas exége- nas, Assim, a satisfagio da necessidade de nu- leigdo, obtida através do sugar, 6 uma fonte de prazer, ¢ os ldbios se ransformam numa zona erégena, origem de uma pulsio parcial, Num segunde momento, essa pulsio parcial, eujo cardter sexual é assim ligado a0 processo de erotizagdo da zona corporal considerada, sepa- ra-se de seu objeto de apoio para se tomar auténoma. Funciona entio de maneira auto- exética, Esse regisro do aute-erotismo* cons- titi a fase preparatéria da instauragio do que Freud chamaria, alguns anos depois, de narei- sismo primério, esultante da convergéncia das pulsées parciais para o eu* intero, e nio mais apenas para uma zona corporal especifica. Pos- leriormente, a pulsio sexual pode encontrar sua unidade através da satisfagio genital e da fun- io da procriagao, Nos Trés ensaios, Freud esboga uma dis- lingo entre as pulsées sexuais ¢ as outras, igadas & satisfagio de necessidades priméias. Cinco anos depois, em "A concepso psicans- litiea da perturbacio psicogénica da visio", enuncia seu primeiro dualismo palsional, opon~ ddo as pulses sexunis, cuja energia € de orem, libidinal, as pulses de antoconservacio, que \ém por objetivo a conservagio do individuo: “Todas as pulsdes organicas atuantes em nossa alma podem ser classificadas, seguindo as pa- lavras do poeta, como fome e amor.” Essa cla sificago no deve obscurecer 6 que contrasta esses dois tipos de pulsdes, uma vez que as ppulsdes de autoconservaio, também denomi- nadas de puls6es do eu, paricipam da defesa* ddo eu contra sua invasio pelas pulsdes sexuais, ‘Num texto de 1911, "Formiulagées sobre os dois principios do funcionamento psfguico”, Freud distribui esses dois grupos pulsionais de avordo com as modalidades de funcionamento 620 pulsdo «do aparelho psiquico: as pulsées sexuais encon- tram-se sob o dominio do principio de prazer*, ‘enguanto as de autoconservagio fica a servigo do desenvolvimento psiquico determinado pelo principio de realidade* Em 1914, odesenvolvimento do conceito de natcisismo subverteu esse dualism. A partir de suas préprias observagées sobre as psicoses* e ‘daleitura dos tabalhos de Eugen Bleuler*, Kael Abraham" e Emil Kraepelin®, Freud constatou ‘que, nessas formas patolégicas, estamos na pre- senga de uma retirada da libido dos objetos ‘extemos e de una reversio dessa libido para o eu, que assim se transforma, ele préprio, em objeto de amor. Essa reformulagio feudiana, portanto, consistiu numa redistsibuigéo das pulses sexuais, por um lado colocadas no eu — donde a denominagso ibido do eu (ou libido naefsica) — e, por outo, nos objetos externos, donde a denominacio bide objetal ‘Aos poucos, essa nova concep se impés. Freud indicou explicitamente, em "Sobre onar-

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