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Processo Diagnóstico

em Fonoaudiologia – A Importância
da Avaliação Fonoaudiológica

Conteudista
Prof.ª M.ª Nívea Maria Símaro Gomes

Revisão Textual
Esp. Laís Otero Fugaitti
OBJETIVOS DA UNIDADE
• Discutir como e o que avaliar no processo de diagnóstico e suas implica-
ções no diagnóstico diferencial;

• Conhecer os diferentes instrumentos de avaliação fonoaudiológica vali-


dados para a investigação clínica.

Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo on-line


para que você assista à videoaula. Será muito importante para o
entendimento do conteúdo.

Este arquivo PDF contém o mesmo conteúdo visto on-line. Sua dis-
ponibilização é para consulta off-line e possibilidade de impressão.
No entanto, recomendamos que acesse o conteúdo on-line para
melhor aproveitamento.

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Introdução
Vamos iniciar nossa Unidade de estudo trazendo informações sobre o pro-
cesso diagnóstico fonoaudiológico, ressaltando a importância da avaliação
fonoaudiológica nesse contexto. Vale ressaltar que essa temática é funda-
mental para a sua prática profissional, pois, possivelmente, durante sua car-
reira em Fonoaudiologia, as questões relacionadas ao diagnóstico dos dis-
túrbios da comunicação farão parte do seu objeto de estudo e de sua rotina
clínica. Nessa perspectiva, vamos discutir diferentes protocolos de avaliação
fonoaudiológica e sua importância no contexto clínico do profissional.

Lembre-se de fazer anotações, mapas mentais e resumos, bem como ler e as-
sistir aos Materiais Complementares, pois eles ampliarão seu conhecimento e
curiosidade por essa área tão complexa e, ao mesmo tempo, tão interessante
que é a comunicação humana!

Avaliação dos Seguintes


Aspectos: Funções de
Linguagem, Comunicação
Oral, Aspectos Cognitivos
da Linguagem e
Comunicação Escrita
Sabemos que habilidades comunicativas efetivas e eficientes compõem o ponto
central para o desenvolvimento do indivíduo e sua inserção na sociedade, seja
ele criança, adolescente ou adulto. É a qualidade da comunicação socioambien-
tal que permeia, nas últimas décadas, a noção de normalidade e condições de
saúde enquanto bem-estar físico, comportamental, psíquico e social, como de-
monstrado a seguir.

Período pré-natal (da concepção ao nascimento)

• Desenvolvimento físico:

• Ocorre a concepção por fertilização normal ou por outros meios;

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• Desde o começo, a dotação genética interage com as influências
ambientais;

• Formam-se as estruturas e os órgãos corporais básicos: inicia-se


o surto de crescimento do cérebro;

• O crescimento físico é o mais acelerado do ciclo de vida;

• É grande a vulnerabilidade às influências ambientais.

• Desenvolvimento cognitivo:

• Desenvolvem-se as capacidades de aprender e lembrar, bem como


as de responder aos estímulos sensoriais;

• Desenvolvimento psicossocial

• O feto responde à voz da mãe e desenvolve preferência por ela.

Primeira infância (do nascimento aos 3 anos)

• Desenvolvimento físico:

• No nascimento, todos os sentidos e sistemas corporais funcionam


em graus variados;

• O cérebro aumenta em complexidade e é altamente sensível à


influência ambiental;

• O crescimento físico e o desenvolvimento das habilidades motoras


são rápidos.

• Desenvolvimento cognitivo:

• As capacidades de aprender e lembrar estão presentes, mesmo nas


primeiras semanas;

• O uso de símbolos e a capacidade de resolver problemas se desen-


volvem por volta do final do segundo ano de vida;

• A compreensão e o uso da linguagem se desenvolvem rapidamente.

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• Desenvolvimento psicossocial:

• Formam-se os vínculos afetivos com os responsáveis e com outras


pessoas;

• A autoconsciência se desenvolve;

• Ocorre a passagem da dependência para a autonomia;

• Aumenta o interesse por outras crianças.

Segunda infância (3 a 6 anos)

• Desenvolvimento físico:

• O crescimento é constante; a aparência torna-se mais esguia e as


proporções mais parecidas com as de um adulto;

• O apetite diminui e são comuns os distúrbios do sono;

• Surge a preferência pelo uso de uma das mãos; aprimoram-se as


habilidades motoras finas e gerais e aumenta a força física.

• Desenvolvimento cognitivo:

• O pensamento é um tanto egocêntrico, mas aumenta a compreen-


são do ponto de vista dos outros;

• A imaturidade cognitiva resulta em algumas ideias ilógicas sobre


o mundo;

• Aprimoram-se a memória e a linguagem;

• A inteligência torna-se mais previsível;

• É comum a experiência do maternal e do jardim de infância.

• Desenvolvimento psicossocial:

• O autoconceito e a compreensão das emoções tornam-se mais com-


plexos; a autoestima é global;

• Aumentam a independência, a iniciativa e o autocontrole;

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• Desenvolve-se a identidade de gênero;

• O brincar torna-se mais imaginativo, mais elaborado e, geralmente,


mais social;

• Altruísmo, agressão e temor são comuns;

• A família ainda é o foco da vida social, mas outras crianças tornam-se


mais importantes.

Terceira infância (6 a 11 anos)

• Desenvolvimento físico:

• O crescimento torna-se mais lento;

• A força física e as habilidades atléticas aumentam;

• São comuns as doenças respiratórias, mas, de modo geral, a saúde é


melhor do que em qualquer outra fase do ciclo de vida;

• Desenvolvimento cognitivo:

• Diminui o egocentrismo;

• As crianças começam a pensar com lógica, porém concretamente;

• As habilidades de memória e linguagem aumentam;

• Ganhos cognitivos permitem à criança beneficiar-se da instrução for-


mal na escola;

• Algumas crianças demonstram necessidades educacionais e talen-


tos especiais;

• Desenvolvimento psicossocial:

• O autoconceito torna-se mais complexo, afetando a autoestima;

• A corregulação reflete um deslocamento gradual no controle dos


pais para a criança;

• Os colegas assumem importância fundamental.

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Adolescência (11 a aprox. 20 anos)

• Desenvolvimento físico:

• O crescimento físico e outras mudanças são rápidos e profundos;

• Ocorre a maturidade reprodutiva;

• Os principais riscos para a saúde emergem de questões comporta-


mentais, como transtornos alimentares e abuso de drogas.

• Desenvolvimento cognitivo:

• Desenvolve-se a capacidade de pensar em termos abstratos e de


usar o raciocínio científico;

• O pensamento imaturo persiste em algumas atitudes e comportamentos;

• A educação concentra-se na preparação para a faculdade ou para


a profissão.

• Desenvolvimento psicossocial:

• A busca pela identidade, incluindo a sexual, torna-se central;

• O relacionamento com os responsáveis geralmente é bom;

• Os amigos podem exercer influência positiva ou negativa.

Adultez emergente (20 a 40 anos)

• Desenvolvimento físico:

• A condição física atinge o auge, depois declina levemente;

• Opções de estilo de vida influenciam a saúde.

• Desenvolvimento cognitivo:

• O pensamento e os julgamentos morais tornam-se mais complexos;

• São feitas as escolhas educacionais e vocacionais, às vezes após um


período exploratório.

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• Desenvolvimento psicossocial:

• Traços e estilos de personalidade tornam-se relativamente estáveis,


mas as mudanças na personalidade podem ser influenciadas pelas
fases e acontecimentos da vida;

• São tomadas decisões sobre relacionamentos íntimos e estilos de


vida pessoais, mas estas podem não ser duradouras;

• A maioria das pessoas casa-se e tem filhos.

Vida adulta intermediária (40 a 65 anos)

• Desenvolvimento físico:

• Pode ocorrer uma lenta deterioração das habilidades sensoriais, da


saúde, do vigor e da força física, mas são grandes as diferenças indi-
viduais;

• As mulheres entram na menopausa.

• Desenvolvimento cognitivo:

• As capacidades mentais atingem o auge; a especialização e as habi-


lidades relativas à solução de problemas práticos são acentuadas;

• A produção criativa pode declinar, mas melhora em qualidade;

• Para alguns, o sucesso na carreira e o sucesso financeiro atingem


seu máximo; para outros, poderá ocorrer esgotamento ou mudança
de carreira.

• Desenvolvimento psicossocial:

• O senso de identidade continua a se desenvolver; pode ocorrer uma


transição para a meia-idade;

• A dupla responsabilidade pelo cuidado dos filhos e dos pais idosos


pode causar estresse;

• A saída dos filhos deixa o ninho vazio.

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Vida adulta tardia (65 anos em diante)

• Desenvolvimento físico:

• A maioria das pessoas é saudável e ativa, embora geralmente haja


um declínio da saúde e das capacidades físicas;

• O tempo de reação mais lento afeta alguns aspectos funcionais.

• Desenvolvimento cognitivo:

• A maioria das pessoas está mentalmente alerta;

• Embora inteligência e memória possam se deteriorar em algumas


áreas, a maioria das pessoas encontra meios de compensação.

• Desenvolvimento psicossocial:

• A aposentadoria pode oferecer novas opções para o aproveitamento


do tempo;

• As pessoas desenvolvem estratégias mais flexíveis para enfrentar


perdas pessoais e a morte iminente;

• O relacionamento com a família e com amigos íntimos pode propor-


cionar um importante apoio;

• A busca de significado para a vida assume uma importância funda-


mental, (PAPALIA; MARTORELL, 2022, p. 7).

Entender a complexidade dos marcos do desenvolvimento físico, cognitivo e psi-


cossocial nos diferentes ciclos da vida é fundamental para que o fonoaudiólogo
ou qualquer outro profissional possa intervir de forma mais assertiva, contri-
buindo para o diagnóstico e a intervenção.

No processo de avaliação fonoaudiológica, é importante entendermos o


que significa avaliar e suas implicações na avaliação de fala e linguagem
dos sujeitos. A avaliação da linguagem possibilita identificar a presença
ou não de alterações linguísticas e o conhecimento sobre o desempenho
da linguagem falada, em nível tanto receptivo quanto expressivo, em suas
diferentes habilidades. Para isso, a aplicação de instrumentos sistemáti-
cos e/ou formais para a avaliação da linguagem falada é importante, por
permitir avaliar e diagnosticar dificuldades tanto no processo de aquisição

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quanto no desenvolvimento, além de possibilitar comparações de desem-
penho com um grupo de referência.

Alterações no processo de desenvolvimento da comunicação afetam a inserção


social da criança e do adolescente, seu aprendizado escolar e, em indivíduos
adultos, sua integração na vida profissional. Dessa forma, uma avaliação bem
realizada, assim como um diagnóstico preciso, possibilita a escolha da melhor e
mais adequada terapia.

No processo de avaliação fonoaudiológica, o profissional encontra desa-


fios, entre eles, a produção de evidências confiáveis sobre os processos
de aquisição, desenvolvimento e abrangência da linguagem e, de maneira
complementar, o da identificação de distúrbios nesses processos. Como
recurso para o enfrentamento de tais desafios temos a elaboração, o reco-
nhecimento e a utilização de procedimentos para coleta e interpretação de
informações sobre a forma, o conteúdo e o uso da linguagem que possam
ser incorporados na prática clínica de modo eficiente e efetivo e servir de
base para pesquisas.

A atuação fonoaudiológica em avaliação e diagnóstico das lin-


guagens oral e escrita é fortalecida à medida que o profissional
sistematiza sua forma de observação, registro e análise de casos
e divulga seu fazer. A composição entre a atuação clínica e a atu-
alização científica sustenta a prática baseada em evidências, isto
é, possibilita ao profissional o olhar amadurecido e crítico sobre
seu próprio conhecimento e as informações disponíveis na lite-
ratura.
– PERISSINOTO; AVILA, 2014, p. 609

Mas o que é avaliar? Segundo o Dicionário Oxford Languages,


trata-se de um verbo transitivo direto e, nesse contexto tem a
seguinte definição: “1. ter ideia de conjecturar sobre ou deter-
minar a qualidade, a extensão, a intensidade etc. de algo” (AVA-
LIAR, 1990, n.p.).

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Figura 1 – Avaliação entre terapeuta e paciente
Fonte: Getty Images
#ParaTodosVerem: foto de um ambiente clínico. Existem janelas ao fundo iluminando a sala. No ambiente,
há a presença de uma profissional, que é uma mulher branca e está sentada. Ela tem cabelos longos e
castanhos, que estão soltos. Usa uma blusa preta; sua mão direita está apoiada em uma caixa com
brinquedos dentro; ela tem o olhar fixo para uma criança que está seu lado. A criança está usando uma
blusa de frio colorida; olha para a terapeuta sorrindo e manipula os brinquedos que estão dentro da caixa
à sua frente; tem cabelos castanho-claros e pele branca. Fim da descrição.

Uso de Protocolos Validados


Para o Diagnóstico Diferencial
das Habilidades Comunicativas
e de Linguagem
Classicamente, a avaliação fonoaudiológica dos aspectos da fala e da linguagem
oral e escrita engloba a caracterização dos seguintes aspectos:

• Descrição do paciente (física e comportamental);

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• Avaliação das funções de linguagem (expressiva, representativa, contex-
tual, fática e metalinguística);

• Avaliação da comunicação oral (nível fonético-fonológico, sintático-se-


mântico e pragmático);

• Avaliação dos aspectos cognitivos da linguagem (esquema corporal,


orientação espacial, orientação temporal, audibilização e visualização);

• Avaliação da comunicação escrita (nível grafêmico e sintático-se-


mântico);

• Avaliação do sistema estomatognático – Órgãos Fonoarticulatórios (OFA)


e Funções Neurovegetativas (FNV);

• Voz e sistema prosódico.

Saiba Mais
Você conhece as estruturas do sistema estomatognático?

“ O sistema estomatognático (SE) é composto por


ossos, músculos, articulações, dentes, lábios,
língua, bochechas, glândulas, artérias, veias e
nervos, que realizam funções de sucção, mas-
tigação, deglutição, fonoarticulação e respira-
ção. Tais estruturas não são individualmente
especializadas em determinada função, ou seja,
agem de forma conjunta, de maneira que qual-
quer modificação anatômica ou funcional espe-
cífica pode levar a desequilíbrios e vários tipos
de alterações.
– CASTRO et al., 2012, p. 120

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Figura 2 – Avaliação entre fonoaudióloga e criança
Fonte: Getty Images
#ParaTodosVerem: foto de um ambiente clínico. Ao fundo, há um painel com números coloridos e outro
com letras coloridas, ambos fixados na parede. Uma mulher branca está sentada em uma cadeira pequena
azul-claro. Tem cabelos longos e loiros, amarrados, e usa óculos de armação preta. Está trajando uma camisa
azul-claro, calças bege e sapatos brancos de salto anabela. Ela está sorrindo para uma criança e segurando
uma caneta na mão direita e uma prancha para anotações na esquerda, que está apoiada na perna direita.
À sua frente está uma criança, uma menina, segurando no colo um coelho de pelúcia cinza. Ela também está
sentada em uma cadeira pequena azul-claro e usa um vestido dessa mesma cor. Tem cabelos loiros, que estão
presos, e faz uso de uma tiara rosa clara. Está sorridente e interage com a profissional. Fim da descrição.

Trocando Ideias
Mas o que é avaliar no contexto da Fonoaudiologia?

“ Avaliar constitui uma etapa do processo diagnósti-


co que, em qualquer área da saúde, significa iden-
tificar ou reconhecer uma doença, uma anorma-
lidade ou um distúrbio pela análise dos sintomas
presentes (ou ausentes), podendo incluir o estudo
da origem e o desenvolvimento dos sintomas.
– GIACHETI, 2014, p. 545

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O processo de avaliação e diagnóstico é sempre a primeira etapa de trabalho,
mas pode também fazer parte de etapas intermediárias (follow-up) ou da etapa
final para confirmação ou não da necessidade de intervir na sua finalização.

Na atuação fonoaudiológica, várias habilidades são alvo da avaliação, como


a linguagem (em suas diferentes modalidades e componentes: fonologia, se-
mântica, sintaxe, pragmática e morfologia), fala (voz, fluência e articulação)
e audição. Aspectos motores orofaciais e avaliação da deglutição também
fazem parte do protocolo de avaliação fonoaudiológica, independentemente
da presença ou não da queixa dos pacientes ou de seus familiares que bus-
cam a avaliação e a intervenção.

A seguir, apresentamos um roteiro de avaliação fonoaudiológica com os princi-


pais aspectos para investigação diagnóstica segundo Giacheti (2016, p. 245-259).

1. Identificação – Descrição do paciente: física (caracteres físicos) e


comportamental (observar a conduta motora e como o indivíduo se
comunica);

2. Funções de linguagem: observar como o indivíduo usa as funções e


quais utiliza no processo de comunicação, entre elas:

• Expressiva: mensagem centrada no emissor que traduz suas ideias,


seus sentimentos;

• Representativa: a mensagem é centrada no referente, ele é o su-


porte de atividades cognitivas;

• Contextual: é a mensagem (lúdica);

• Fática: centrada no canal de comunicação, assegurar-se de que o


receptor está em linha;

• Metalinguística: centrada no código (meio pelo qual a mensagem é


enviada, como fala, escrita, gestos ou figuras) para falar dele próprio.

3. Avaliação da comunicação oral: contato (realizado por meio de conver-


sa espontânea entre terapeuta e paciente). Atenuar, por meio dessa in-
teração, a artificialidade da situação de exame, obter dados da realidade
do indivíduo. Avaliar:

• Recepção oral nível fonético-fonológico;

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• Emissão oral nível fonético-fonológico;

• Recepção oral nível sintático-semântico;

• Emissão oral nível sintático-semântico;

• Nível pragmático:

• Fonético-fonológico: como o indivíduo está adquirindo o as-


pecto fonêmico da própria língua;

• Sintático-semântico: significante-significado (forma-conteú-


do). A sintaxe é a parte da gramática que se preocupa com a
relação entre as palavras. A semântica forma o sentido;

• Pragmático: é a área da Linguística que analisa o uso concreto


da linguagem em diferentes contextos;

• Morfológico: diz respeito à classificação das palavras de acordo


com as suas características;

Recepção oral nível fonético-fonológico:


• Objetivo: avaliar se o paciente é capaz de discriminar os estímulos sono-
ros recebidos (sons verbais);

• Discriminar: é o processo de diferenciação de sons acusticamente simi-


lares, mas com frequência, duração e/ou intensidade diferentes;

Atividade sugerida:
• Lista de pares mínimos:

• Pata-bata: diferença quanto a traço de sonoridade;

• Pente-dente: diferença quanto a ponto e modo de articulação.

Na atividade descrita, a criança deverá dizer se os sons são iguais ou diferentes.


Para crianças menores, mostrar duas figuras e solicitar que o paciente aponte
qual foi nomeada.

Emissão oral nível fonético-fonológico:

• Objetivo: avaliar a emissão dos vocábulos em que estão representados


os fonemas da língua;

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Atividades sugeridas:

• Álbum de figuras:

• As figuras deverão ser facilmente identificáveis;

• Não deverão dar margem à ambiguidade.

Observar: função semântica, evocação, se nomeia ou se define pela função do objeto.

• Lista de palavras para repetição:

• Vocábulos foneticamente balanceados (ocorrência dos fonemas no


início-meio-final das palavras);

• Representar no quadro fonêmico as alterações articulatórias apre-


sentadas;

• As atividades deverão ser gravadas.

Observar: ocorrência de alterações articulatórias, como:

• Trocas ou substituições (ex.: gato – a criança fala “dato”);

• Omissões (ex.: cachorro – a criança fala “achorro”);

• Contaminações (ex.: tigre – a criança fala “trigre”);

• Reduções (ex.: bola – a criança fala “bo”);

• Adição (ex.: marrom – a criança fala “amarrom”);

• Inversão fonêmica ou transposição (ex.: lagartixa – a criança fala “largati-


xa”; para “caderno”, fala “cardeno”);

• Inversão silábica (ex.: capacete – a criança fala “pacacete”);

• Distorções: quando a produção do som parece ser estranha, por exem-


plo, som de “s” parecido com o de “ch” (sapato para “chapato”) ou som de
“z” com o de “j” (azul para “ajul”).

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Recepção oral nível sintático-semântico

• Objetivo: avaliar a reprodução de história oral a partir do modelo do


terapeuta.

Atividades sugeridas:

• Reconto de história: complementação de sentenças.

Observar: sequência lógico-temporal, manutenção do tema, coesão entre as


ideias, similaridade com a história contada pelo terapeuta e manutenção das
ideias centrais e secundárias.

Emissão oral nível sintático-semântico

• Objetivo: avaliar a produção de narrativa oral em que o interlocutor,


mesmo presente, não tem a função de colaborador como no diálogo.

Atividades sugeridas:

• Elaboração de história oral a partir de figuras em sequência ou de uma


só figura de ação;

• Conversa espontânea entre terapeuta e paciente.

Observar: coesão entre as ideias apresentadas, sequência lógico-temporal, cria-


tividade, concordância textual e estilo da narrativa.

4. Avaliação dos aspectos cognitivos da linguagem: como o próprio nome


diz, são aquisições básicas importantes para o desenvolvimento da criança.

Destacam-se as seguintes funções:

• Audibilização (processo pelo qual a cognição auditiva permite a aquisi-


ção e o desenvolvimento correto da fala, da linguagem, da leitura e da
escrita);

• Visualização (capacidade para interpretar a informação que os nossos


olhos recebem; o resultado dessa informação interpretada e recebida
pelo cérebro é o que chamamos de percepção visual);

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• Orientação espacial (é a capacidade que a criança tem de situar-se e orientar-
se em relação aos objetos, às pessoas e ao seu próprio corpo em determinado
espaço; é saber localizar o que está à direita ou à esquerda, à frente ou atrás,
acima ou abaixo de si ou, ainda, um objeto em relação a outro);

• Orientação temporal (capacidade de processar informações relativas a


dia, hora, mês, ano, festividades, estações do ano e momento adequado
de agir, entre outras);

• Esquema corporal (é a consciência do corpo como ferramenta de


comunicação consigo mesmo e com o meio; é um elemento básico indispen-
sável para a formação da personalidade da criança, uma construção mental
que ela realiza gradualmente, de acordo com o uso que faz de seu corpo).

5. Avaliação da comunicação escrita

Avaliar os seguintes aspectos:

• Recepção em nível grafêmico: decodificação do símbolo gráfico;

• Emissão em nível grafêmico: codificação do símbolo gráfico;

• Recepção em nível sintático-semântico;

• Emissão em nível sintático-semântico.

A seguir, sugestões de como avaliar os aspectos da leitura e da escrita.

Recepção em nível grafêmico:

• Objetivo: avaliar a decodificação do símbolo gráfico;

• Atividade sugerida: leitura em voz alta;

Emissão em nível grafêmico:

• Objetivo: avaliar a codificação grafêmica (produção escrita da criança) a


partir de pista visual ou auditiva;

Atividades sugeridas:

• Ditado: nessa atividade, a criança passa por quatro etapas: 1) transfor-


mação da unidade auditiva em unidade gráfica; 2) evocação da letra que

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representa determinado som; 3) discriminação do som entre outros (p/b;
f/v; t/d); e 4) imagem gráfica que envolva o ato de escrever (coordenação
motora e orientação espacial);

• Cópia: transformação de uma unidade visual em unidade gráfica.

Recepção em nível sintático-semântico

• Objetivo: avaliar compreensão de texto, nível de interpretação e postu-


ra de interação com o texto;

• Atividade sugerida: leitura silenciosa para interpretação e complemen-


tação de sentenças.

Emissão em nível sintático-semântico

• Objetivo: avaliar elaboração e organização do texto, introdução, desen-


volvimento e fechamento do tema;

• Atividade sugerida: produção de texto escrito (redação).

Importante
A partir das sugestões anteriores, devemos observar alguns
pontos.
Aspectos gerais da leitura: envolvem o reconhecimento de
palavras e compreensão leitora.
• Quanto ao sistema de significantes (nível grafêmico):
• Observar a rota utilizada pela criança na leitura
em voz alta;
• Correspondência letra-som;
• Nível de fluência da leitura;
• Velocidade de leitura;
• Compreensão da pontuação;
• Ocorrência de trocas, omissões e inversões de le-
tras, sílabas ou palavras.

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• Quanto ao significado (nível sintático-semântico):
• Estratégia predominante de leitura (analítica ou de-
dutiva);
• Nível de interpretação (superficial ou mais profundo);
• Postura de interação com o texto (reflexiva ou me-
cânica);
• Hábitos de leitura;
• Relação afetiva da criança com a leitura.

Aspectos gerais da escrita: considerar os seguintes pontos.

• Conhecimento dos símbolos e correspondência entre


sons e letras;
• Alterações ortográficas;
• Domínio sintático-semântico;
• Uso da pontuação e modo de organização do texto;
• Elaboração;
• Introdução, desenvolvimento e fechamento do tema;
• Coesão: ideias interligadas ou justapostas;
• Estilo da narrativa: predomínio da oralidade ou de for-
mas mais típicas da escrita;
• Nível de consciência dos erros;
• Procedimentos de autocorreção.

Saiba Mais
Quanto à rota utilizada pela criança na leitura em voz alta:

“ Rota fonológica (permite a pronúncia precisa das


palavras ou pseudopalavras que possuem correspon-
dência regular letra/som. É a via utilizada pelos leitores
iniciantes e também a decodificação de palavras des-
conhecidas). Rota lexical (é necessária para realizar
leitura de vocábulos conhecidos que já estavam
armazenados na memória ortográfica, em função
de práticas repetidas de leitura. Esse movimento é
chamado de sistema de reconhecimento visual das
palavras ou léxico de input visual).
– MOOJEN, 2015, p. 22

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Vídeo
Assista a seguir a um vídeo sobre como o fonoau-
diólogo faz a avaliação de fala e linguagem de uma
criança. Reflita sobre a importância de o profissional
conhecer os diferentes conceitos envolvidos para o
diagnóstico das alterações de fala e linguagem.

Concluindo, é importante que o fonoaudiólogo esteja atento a todas as deman-


das que envolvem o processo diagnóstico. O desejo de empregar recursos instru-
mentais para a caracterização do perfil fonoaudiológico de pacientes por meio da
avaliação fonoaudiológica não pretende esgotar todas as questões de avaliação
que podem ser formuladas, uma vez que hipóteses diagnósticas novas podem
surgir à medida que avançamos nesse processo. Veja a seguir um checklist para
que você, querido(a) estudante, não se esqueça de tudo que tratamos aqui!

Chegamos ao final da nossa Unidade. Você, que em breve será profissional da


Fonoaudiologia, por meio de uma avaliação fonoaudiológica bem-feita e com cri-
térios, poderá compreender melhor os parâmetros que levam ao diagnóstico,
contribuindo para uma intervenção mais assertiva.

Saiba Mais
Checklist para um processo diagnóstico em Fonoaudiologia (
CESAR; LIMA, 2020, p. 15):
• Anamnese detalhada;
• Avaliação abrangente e com protocolos e testes
padronizados;
• Análise clínica criteriosa dos dados – raciocínio
clínico;
• Discussão com a equipe multidisciplinar;
• Hipótese(s) diagnóstica(s);
• Encaminhamentos necessários;
• Devolutiva para a família;
• Devolutiva para o avaliado;
• Planejamento terapêutico;
• Definição de objetivos e metas;
• Psicoeducação;
• Reuniões com a equipe escolar;
• Reavaliação: continuidade, ajustes ou alta;
• Frequente troca de informações com a equipe
sobre o processo terapêutico.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

Vídeos

O que Esperar da Fala de uma Criança de 2 Anos?


https://youtu.be/OoUkXjMj55Y

Ensinar Cores, Formas, Números e Letras Atrapalha o


Desenvolvimento de Fala?
https://youtu.be/DuMuYDSHaPY

Minicurso Online: Alfabetização e a Interface Saúde e Educação: o


que o Fono Clínico Precisa Saber?
https://youtu.be/mquUAYjtaNA

Leitura

Base Nacional Comum Curricular: Educação é a Base


https://bit.ly/46piWyp
REFERÊNCIAS

AVALIAR. In: Dicionário Oxford Languages. Oxford: Oxford University Press, 1990.
Disponível em: <https://languages.oup.com/google-dictionary-pt/>. Acesso em:
03/06/2023.

CASTRO, M. S. J. et al. Avaliação das funções orofaciais do sistema estomatognático


nos níveis de gravidade de asma. Jornal da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia,
São Paulo, v. 24, n. 2, p. 119-124, 2012.

CESAR, A. M.; LIMA, M. D. Fundamentos e práticas em Fonoaudiologia. Rio de


Janeiro: Thieme Brazil, 2020. v. 3. (e-book)

EHRLICH, C. H. Anamnese da criança. In: SCHOCHAT, E. et al. (org.). Tratado de Audio-


logia Clínica. 3. ed. São Paulo: Manole, 1989. p. 617-630.

GIACHETI, C. M. Diagnóstico fonoaudiológico em genética. In: MARCHESAN, I. Q.;


JUSTINO, H.; TOMÉ, M. C. (org.). Tratado das especialidades em Fonoaudiologia. São
Paulo: Grupo GEN, 2014. p. 545-555. (e-book)

GIACHETI, C. M. (org.). Avaliação da fala e da linguagem: perspectivas interdiscipli-


nares. Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2016.

LOPES FILHO, O. (ed.). Novo tratado de Fonoaudiologia. São Paulo: Manole, 2013.
(e-book)

MARCHESAN, I. Q.; JUSTINO, H.; TOMÉ, M. C. Tratado das especialidades em


Fonoaudiologia. São Paulo: Grupo GEN, 2014. (e-book)

MOOJEN, S. M. P. A escrita ortográfica na escola e na clínica: teoria, avaliação e


tratamento. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2015.

PAPALIA, D. E.; MARTORELL, G. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Grupo A,


2022. (e-book)

PERISSINOTO, J.; AVILA, C. J. B. Avaliação e diagnóstico das linguagens oral e escrita.


In: MARCHESAN, I. Q.; JUSTINO, H.; TOMÉ, M. C. Tratado das especialidades em Fo-
noaudiologia. São Paulo: Grupo GEN, 2014. cap. 73. (e-book)

PERNAMBUCO, L. A.; ASSENÇO, A. M. C. Fonoaudiologia: avaliação e diagnóstico. Rio


de Janeiro: Thieme Brazil, 2020. (e-book)

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