You are on page 1of 23

Integração dos Marcos

do Desenvolvimento Linguístico,
Cognitivo, Socioemocional e Motor

Conteudista
Prof.ª M.ª Nívea Maria Símaro Gomes

Revisão Textual
Esp. Renata Panovich Ferreira
OBJETIVO DA UNIDADE
• Promover a atualização dos conhecimentos teórico-práticos acerca dos
preditores cognitivo-linguísticos e percepto-motores no desenvolvimen-
to de fala e linguagem da criança.

Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo on-line


para que você assista à videoaula. Será muito importante para o
entendimento do conteúdo.

Este arquivo PDF contém o mesmo conteúdo visto on-line. Sua dis-
ponibilização é para consulta off-line e possibilidade de impressão.
No entanto, recomendamos que acesse o conteúdo on-line para
melhor aproveitamento.

2
Introdução
Vamos iniciar nossa Unidade de Estudo trazendo a conceituação sobre os marcos do
desenvolvimento neuropsicomotor e a relação com o desenvolvimento de fala e lin-
guagem na visão da Fonoaudiologia. Vale ressaltar que essa temática é fundamen-
tal para a sua prática profissional, pois, possivelmente, durante sua carreira como
Fonoaudiólogo, as questões relacionadas à fala e à linguagem farão parte do seu
estudo e de sua rotina clínica. Nessa perspectiva, vamos discutir os marcos do de-
senvolvimento neuropsicomotor e a estreita relação com o desenvolvimento de fala
e linguagem, com vistas à compreensão dos conceitos envolvidos nessa temática.

Lembre-se de realizar anotações, mapas mentais, resumos, bem como ler e assis-
tir aos Materiais Complementares, pois eles ampliarão seu conhecimento e sua
curiosidade por essa área tão complexa e, ao mesmo tempo, tão interessante
que é a comunicação humana!

Definição dos Marcos


do Desenvolvimento
Neuropsicomotor
Sabemos que o desenvolvimento motor é compreendido como o processo res-
ponsável pelas mudanças nos movimentos motores da criança e envolve uma
integração neuromuscular com participação de todos os sistemas do organismo.
O desenvolvimento das etapas do aspecto motor não é uma regra, podendo va-
riar de criança para criança, mas existe um tempo máximo, devendo sempre ser
acompanhado pelo pediatra a fim de detectar atrasos e patologias precocemen-
te. Os marcos do desenvolvimento infantil são referências usadas para acompa-
nhar o crescimento das crianças. Esse termo conceitua uma série de parâmetros
que indicam como está o desenvolvimento dos pequenos. Isso pode gerar com-
paração e preocupação em alguns pais e cuidadores, o que é absolutamente nor-
mal. No entanto, devemos lembrar que os marcos do desenvolvimento infantil
são apenas padrões, e não regras, conforme destacado a seguir:

Há uma intensa interação entre a estimulação precoce, via órgãos dos


sentidos e a carga genética. Como consequência, produz-se um efeito
decisivo no desenvolvimento cerebral da criança, com impacto de lon-
ga duração na fase adulta. O desenvolvimento do cérebro humano é
mais do que natureza (patrimônio genético) versus criação (vivências,
meio ambiente, cultura), mas uma substancial ênfase na interação.
– SHONKOFF; PHILLIPS, 2000, p.42

3
Um adequado desenvolvimento motor repercute no futuro da criança em as-
pectos sociais e cognitivos. Os pais e cuidadores devem estimular os bebês e
as crianças na primeira infância por meio de atividades psicomotoras e brin-
quedos próprios para cada idade, inicialmente com chocalhos ou tapetes de
atividades, por exemplo, pois nessa fase o desenvolvimento das habilidades
acontece rapidamente.

Vamos pensar sobre os marcos do desenvolvimento e sua relação


com o desenvolvimento da criança? Os marcos do desenvolvimento
são incluídos em uma lista de verificação e confirmados refletindo
uma estimativa de que 75% - 90% das crianças de uma faixa etária es-
tabelecida alcancem determinadas habilidades (Centro de Controle e
Prevenção de Doenças – CDC, 2022).

Agora vamos falar dos marcos de desenvolvimento motor desde o primeiro mês
de vida até os 4 anos, quando os separamos entre desenvolvimentos motores
grosso e fino.

O desenvolvimento motor grosso envolve os maiores grupos musculares e é res-


ponsável pelos movimentos de andar, sentar e sustentar a cabeça. O desenvol-
vimento motor fino está relacionado com os movimentos de pinça e preensão.

Vamos dividir por etapas de 0 a 18 meses e de 2 a 4 anos para melhor entendi-


mento, conforme demonstrado a seguir.

• De 0 a 18 meses:
• 1 mês:
• Motor grosso: move as mãos e os pés ao mesmo tempo;
• Motor fino: abre os dedos ligeiramente quando em repouso;

• 2 meses:
• Motor grosso: levanta a cabeça e o peito em posição prona;
• Motor fino: abre e fecha as mãos, e, por breves períodos, deixa
as mãos juntas;

• Entre 3 e 4 meses:
• Motor grosso: nessa fase a criança leva as mãos à boca, com fre-
quência, e começa a rolar;
• Motor fino: inicia movimento de abrir e fechar as mãos, conse-
gue prensar um objeto e levá-lo até a boca;

4
• Entre 5 e 6 meses:
• Motor grosso: rola por completo, senta-se com apoio e breve-
mente sem apoio;
• Motor fino: consegue pegar objetos e passar de uma mão para outra,
bate os brinquedos na mesa ou no chão e sorri com o som emitido;

• Entre 7 e 9 meses:
• Motor grosso: senta sem apoio, engatinha e ameaça passos
com apoio;
• Motor fino: balança objetos (p. ex. chocalho), joga objetos in-
tencionalmente, pega alimentos para comer com três dedos;

• 1 ano:
• Motor grosso: começa a “andar” e a dar os primeiros passos, muitas
vezes com apoio ainda, e aos poucos consegue ficar em pé sozinho;
• Motor fino: pega objetos com dois dedos (pinça aberta), conse-
gue colocar e tirar objetos de um lugar;

• 15 meses:
• Motor grosso: anda sozinho, para e continua andando nova-
mente; pode agachar para pegar um objeto e levantar sem apoio;
• Motor fino: tira e coloca tampas de panelas e potes, com o in-
dicador aperta um interruptor, pode rasgar as páginas de um
livro. Monta uma torre de dois cubos;

• 18 meses:
• Motor grosso: se você chutar uma bola, ele pode fazer igual por
imitação;
• Motor fino: monta uma torre com três a quatro cubos, explora
toda a sua casa, querendo abrir portas e gavetas;

• De 2 a 4 anos:
• Entre 24 e 30 meses:
• Motor grosso: corre, sobe escadas com ajuda de um adulto, um
degrau por vez; abre portas;
• Motor fino: consegue usar colher para comer e segura bem o
seu copo.

• Entre 36 e 42 meses:
• Motor grosso: alterna os pés para subir escadas, consegue pe-
dalar um triciclo;
• Motor fino: come sozinho, calça sapatos sozinho.

5
• 48 meses:
• Motor grosso: pula em um pé só, anda de bicicleta;
• Motor fino: segura e pinta com lápis, faz desenhos, escova den-
tes sozinho, (BARBOSA; FUKUSATO, 2020)

Pensando, ainda, sobre os aspectos gerais que envolvem os marcos do desenvolvi-


mento infantil, vamos falar sobre os diferentes domínios relacionando-os ao desen-
volvimento da fala e linguagem (DOSMAN; ANDREWS; GOULDEN, 2012), dentre eles:

• Domínio motor: habilidade para controlar e refinar os movimentos, en-


volve a motricidade e os aspectos percepto-viso-motores;

• Domínio cognitivo: habilidade de manipular, memorizar e resolver pro-


blemas, funções executivas;

• Domínio linguístico: habilidade de compreensão e expressão da comu-


nicação/linguagem, percepção auditiva;

• Domínio socioemocional: habilidade para controlar de forma intencio-


nal o comportamento e a cognição.

Figura 1 – Desenvolvimento motor do bebê – bebê engatinhando


Fonte: Getty Images
#ParaTodosVerem: fundo desfocado. Bebê engatinhando, trajando um macacão branco curto. Pele branca, cabelos
ruivos, olhos claros, sorridente. Fim da descrição.

6
Dessa forma é necessário que haja uma integração entre os diferentes domínios
motor, cognitivo, perceptual, socioemocional, socioambiental e linguístico para o
desenvolvimento integral da criança.

Nessa perspectiva, o pensamento, o conhecimento e a razão se estruturam a


partir de certo número de conceitos básicos que não podem se transmitir unica-
mente pela relação verbal, porém necessitam de uma experiência motriz, uma
vivência corporal com o mundo, com o espaço. Experiência que se adquire pela
manipulação do próprio corpo e dos objetos na realidade espaço-tempo. A crian-
ça descobre o mundo através do corpo e, quanto maior sua vivência corporal,
melhor sua visão de mundo.

Habilidades Psicomotoras

Importante
O desenvolvimento das habilidades psicomotoras na criança
possibilita o domínio sobre o próprio corpo e a relação dele
com o ambiente e o espaço. A interação com os outros aspec-
tos do desenvolvimento neuroinfantil, tais como o cognitivo e o
emocional, são fundamentais para o desenvolvimento integral
da criança. Fiquemos atentos!

Um dos fatores fundamentais do desenvolvimento das habilidades motoras du-


rante os 5 primeiros anos de vida diz respeito ao crescimento físico. Nesse período,
o crescimento dos ossos é muito rápido em relação ao desenvolvimento do tecido
muscular. Aos 5 anos, o tecido muscular aumenta ¾ do que ele aumentava em
etapa anterior. Dos 3 aos 6 anos, a força muscular aumenta 65%. Esse aumento
leva a uma melhor habilidade dos membros, permitindo maior velocidade na exe-
cução das atividades motoras. Dos 5 anos em diante, a rapidez do crescimento do
tecido muscular proporciona força e energia necessárias para o dinamismo das
habilidades motoras. As mudanças decorrentes da maturação física explicam em
grande parte as modificações que ocorrem nas duas primeiras infâncias. É nessa
fase que aumenta rapidamente a mielinização do sistema nervoso.

A mielinização é um processo de revestimento das fibras nervosas


pela mielina, que proporciona o aumento da velocidade do impulso
elétrico entre os neurônios, aumentando a rapidez das respostas dos
movimentos e da coordenação motora. Esse processo de mielinização
permite que os sinais se propaguem mais rapidamente e com maior
fluidez. A mielinização começa aproximadamente na metade da ges-

7
tação, tem seu auge durante o primeiro ano de vida, continua na ado-
lescência e persiste durante a terceira década de vida.
– PAPALIA; MARTORELL, 2021, p. 112

A combinação entre os fatores do crescimento físico aumenta a coordenação,


a destreza e a força dos membros, auxiliando a criança a expandir suas possi-
bilidades motoras. Todo o aparelho motor é uma unidade funcional; nunca são
os seus elementos que se movimentam como membros independentes: todo
movimento decorre na esfera global do sistema motor. O que reforça essa com-
binação de fatores são as oportunidades de praticar movimentos através das so-
licitações do meio. A aquisição de uma função depende do desenvolvimento de
estruturas que lhe são indispensáveis. O desenvolvimento neuropsicomotor se
faz por meio de uma sequência ascendente, conduzindo a atividades mais com-
plexas, elaboradas e aperfeiçoadas. Cada nova aquisição se faz por integração ao
conjunto, em um processo de assimilação progressiva.

Essa evolução se faz no sentido de um aperfeiçoamento progressivo da matu-


ração. Há uma constância marcada quanto à ordem de sucessão, que preside a
essa maturação progressiva e à aquisição de novas funções. Dessa forma toda
estimulação deverá proporcionar atividades, levando-se em consideração as ap-
tidões da criança, pois sua realização é primordial para atingir a maturação do
processo do andar, fase motora, que será a base para os processos do falar e
pensar, maturando os pré-requisitos percepto-motores e cognitivo-linguísticos
para a alfabetização.

Coordenação Motora Ampla


• Deve estar amadurecida até os 4-5 anos. Envolve movimentos amplos
com todo o corpo, colocando grupos musculares diferentes em ação si-
multânea, com o objetivo de execução de movimentos voluntários;

• Esses movimentos amplos servem de base à motricidade fina e diferen-


ciada. Coordenação entre membros superiores e inferiores, acrescida do
autocontrole da tonicidade entre eles (rigidez ou flexibilidade dos mús-
culos). Dissociação de movimentos, com autocontrole de movimentos de
algumas partes do corpo e da imobilidade de outras. Conseguir tanto no
andar como no correr uma harmonia entre destreza e velocidade;

• A coordenação motora ampla propicia o desenvolver do equilíbrio dinâ-


mico e estático, da lateralidade, do aprimoramento do salto, da tomada
de consciência do corpo e de seu ritmo. Através dos jogos envolvendo
distâncias, trajetórias e alturas, tem-se a oportunidade da apreciação do
deslocamento e da orientação no tempo e espaço.

8
Postura
Uma boa postura, seja em pé ou sentada, permite a colocação correta das vér-
tebras da coluna vertebral, que é o eixo central e o sustentáculo de nosso corpo.
Adotada a partir da infância evitará uma série de problemas futuros. O valor de uma
postura correta não está ligado apenas à conservação da coluna vertebral em si ou
valorizada pelo senso estético. A coluna vertebral é contendedora da medula espi-
nhal, que é responsável pelas vias condutoras de estímulos e respostas aos diver-
sos centros nervosos, desempenhando um papel de grande destaque nas funções
mentais e motoras. Uma posição correta, sem curvaturas exageradas ou distorções,
pode colaborar para uma boa qualidade daquelas mensagens dos centros mentais
superiores e, consequentemente, ser um dos fatores de uma boa aprendizagem. O
professor pode levar seus alunos a adquirir bons hábitos posturais durante as di-
versas atividades na escola, em pé, parados ou andando e sentados, principalmente
nos exercícios pré-gráficos, onde eles serão preparados para escrita. A postura ideal
em pé, quando se está parado, deve ser com os pés ligeiramente afastados, com o
peso do corpo distribuído igualmente entre os dois lados do corpo. A postura ideal
para as atividades de mesa é a posição com a coluna vertebral apoiada no encosto
da cadeira, com os antebraços apoiados sobre a mesa ou carteira.

Marcha
Constitui uma das atividades habituais de deslocamento; portanto, seu aper-
feiçoamento permite exercitar a coordenação global. Aproximadamente aos 12
meses, o bebê adquire o andar tosco. Após os 16 meses, caso não domine essa
habilidade, é considerado atraso do andar. Aos 3 anos, adquire o andar cruzado.
Aos 5 anos, as diferenças entre os movimentos do andar da criança e do adulto
não devem mais ser notadas facilmente.

Correr
Correr procede, naturalmente, do caminhar. O correr em si caracteriza-se por
períodos de não sustentação, quando o corpo fica suspenso no ar. Em geral a
criança não está apta a impulsionar o próprio corpo para o ar até os 18 meses,
mas, se encorajada, tenta caminhar rapidamente. A força, o equilíbrio e a coorde-
nação necessários para executar os requisitos para correr desenvolvem-se aos 2
anos. Apesar do refinamento do padrão do correr ser contínuo até a puberdade,
aos 5 anos a criança, geralmente, corre de uma forma mais segura.

9
Saltar
A criança começa a ensaiar o salto logo que adquire um caminhar mais seguro e
confiante. Entre os 18 e 24 meses, a criança salta frequentemente. Aos 3 anos, a
criança consegue saltar de uma altura de 60 cm, de uma distância de 30 a 90 cm e por
cima de um obstáculo de 30 cm de altura. A criança só consegue saltar com um pé só
ou com pés alternados com a maturação do sistema nervoso. As atividades relativas
a saltos estimulam o desenvolvimento da força e da resistência cardiovascular.

Chutar
Esse padrão começa a se desenvolver tão logo a criança comece a correr. Em geral, o
chutar vai de um fraco movimento pendular da perna sem impulso até um movimen-
to de uma perna arrebatadora que envolve também o movimento de todo corpo.

Arremessar e Pegar
A criança começa a lançar logo no seu primeiro ano de vida, através dos mo-
vimentos de segurar e largar os objetos. Pegar ou apanhar uma bola é talvez
a mais difícil das habilidades que a criança precisa adquirir. Inúmeras variáveis
interferem no apanhar uma bola: o tamanho da bola, o percurso da bola no ar,
a distância entre o atirador e o receptor, a velocidade da bola e o deslocamento
que a criança terá que fazer ou não para apanhar a bola. Arremessar e pegar são
atividades que caminham juntas.

Subir e Descer
O subir é muito importante, pois o corpo da criança se movimenta completamen-
te. Esse padrão se desenvolve bem cedo, iniciando-se quando a criança começa
a engatinhar. O movimento que a criança executa com as mãos e os joelhos é o
mesmo se for na escada ou no chão liso, logo a criança não encontra dificuldade
para engatinhar em escada. A criança aprende a subir escada antes de conseguir
descer. Inicialmente desce a escada sentada. A habilidade de subir e descer es-
cada está na oportunidade de praticar. A criança deve ser encorajada a subir e
descer qualquer tipo de saliência. De grande importância é a posição das mãos
no corrimão, o polegar deve ser colocado em volta da barra que está segurando.
Aos 2 anos, a criança sobe escada marcando passo.

10
Rolar e Engatinhar
O rolar é de extrema importância, pois propicia a adequação do tônus muscular
e a maturação do sistema vestibular, tão importante para o equilíbrio da criança.

Engatinhar
A maturação do mesencéfalo está intimamente relacionada ao engatinhar. A ma-
nutenção da boa postura ereta depende do engatinhar, pois, ao realizar esse mo-
vimento, a criança estará preparando o tônus da musculatura dorsal. Engatinhar
é o primeiro exercício preparatório para o grafismo (ato de escrever), pois propi-
cia a dissociação das grandes articulações.

Figura 2 – Bebê engatinhando


Fonte: Getty Images
#ParaTodosVerem: no centro da imagem, há um bebê, de pele branca, cabelos loiros, olhos azuis. Ele
usa um macacão azul claro com um laço também da mesma cor e uma camisa de mangas curtas na cor
branca. Ele está engatinhando, sorridente. Ao fundo, há um balão colorido e três caixas de presentes. Fim
da descrição.

11
Coordenação Motora Fina
A coordenação motora fina é uma das coordenações mais diferenciadas e espe-
cíficas do nosso corpo. Uma boa coordenação motora fina proporciona traçados
mais precisos, desenhos mais bem configurados e letras mais legíveis. Os primei-
ros movimentos de preensão se dão na posição de decúbito dorsal. Desde a mais
tenra idade é importante que a criança vivencie o relaxamento de braços e mãos,
movimentação de braço e mãos livres, flexibilidade do pulso e independência
digital, que irão dar condições à criança de realizar as atividades de coordenação
motora fina com ferramentas (lápis, tesoura, pincel etc.), preparando sua muscu-
latura manual para as atividades gráficas posteriores.

Marcos do Desenvolvimento
Neuropsicomotor e a Relação
com o Desenvolvimento de
Linguagem
A linguagem é, possivelmente, a maior habilidade e a maior conquista dos seres
humanos. Composta por uma complexa rede de estruturas neurológicas envol-
vidas nas funções cerebrais, permite a nossa capacidade de comunicação; desse
modo, descrever sua anatomia não é uma tarefa fácil.

Para dar início à descrição do que se sabe até agora sobre o caminho que a lin-
guagem percorre em nosso cérebro, faz-se necessário entender o conceito de
percepção, especificamente quando nos referimos à linguagem.

Percepção é a capacidade de associar as informações sensoriais que


recebemos às nossas memórias e à nossa cognição, de modo a for-
mar conceitos sobre o mundo e sobre nós mesmos e orientar nosso
comportamento. Portanto, apesar de ser totalmente dependente dos
sentidos, por isso a chamamos de percepção visual, percepção audi-
tiva ou percepção somestésica, envolve processos complexos ligados
à memória, à cognição e ao comportamento e é a base do desenvolvi-
mento de linguagem.
– FÁVERO; PIRANA, 2019, p. 15

12
Esquema Funcional de Lúria – Alexander
Romanovitch Luria (1902 – 1977)

Justifica o funcionamento do córtex cerebral subdividindo-o em três comparti-


mentos funcionais:

• Áreas primárias: de projeção ou recepção ou sensação;

• Áreas secundárias: de decodificação ou gnósticas ou percepção;

• Áreas terciárias: de associação ou integração ou superposição. Se nas


áreas primárias ocorre a sensação e nas secundárias a percepção, nas
áreas terciárias podemos afirmar que ocorre a cognição.

Dessa forma, para a aquisição da linguagem oral, faz-se necessária integridade e ma-
turação neurobiológica e neurofuncional, por meio da integração neurossensorial,
do processamento auditivo inicial; da codificação fonológica; associação semântica;
codificação e programação articulatória, para a execução da fala contextualizada.

A comunicação é um meio pelo qual o indivíduo recebe e expressa a linguagem,


sendo um elemento essencial para a socialização e a integração na comunidade.
A linguagem é o sistema simbólico usado para representar os significados em
uma cultura, abrangendo seis componentes: fonologia (sons da língua), prosódia
(entonação), sintaxe (organização das palavras na frase), morfologia (formação e
classificação das palavras), semântica (vocabulário) e pragmática (uso da lingua-
gem). A linguagem significa trocar informações (receber e transmitir) de forma
efetiva, enquanto a fala se refere basicamente à maneira de articular os sons na
palavra, incluindo a produção vocal e a fluência. É o canal que viabiliza a expres-
são da linguagem e corresponde à sua realização motora. Desde o nascimento,
a criança se comunica através do choro, do olhar e dos gestos. É capaz de discri-
minar vozes, diferenciar padrões de entonação e movimentos corporais, que são
bases para o desenvolvimento comunicativo. A aquisição normal da linguagem é
dependente de uma série de fatores como o contexto social, familiar e histórico
pré, peri e pós-natal do indivíduo, suas experiências, suas capacidades cognitivas
e orgânico-funcionais.

13
Vídeo
Primeira Infância (Até 6 Anos) Exige Con-
vivência Olho no Olho
Reflita sobre a importância da estimulação
socioambiental para o desenvolvimento mo-
tor e de linguagem do bebê. Exige convivên-
cia, olho no olho.

Vamos agora caracterizar as habilidades de linguagem oral em relação aos as-


pectos: fonético-fonológicos, sintático-semânticos, morfossintáticos e prag-
máticos, relacionando-os ao período de desenvolvimento típico das crianças,
mas antes vamos nos lembrar dos conceitos envolvidos nessa temática.

Glossário
• Fonética: é a parte da linguística que estuda o próprio som
da fala, emitido, captado e percebido. Seu objeto de estudo
é o som do ponto de vista articulatório e acústico. Realidade
física dos sons da língua. Os sons da fala são aqueles emiti-
dos pelo aparelho vocal humano e ocorrem nas línguas do
mundo;
• Fonologia: é a parte da linguística que estuda o som como
significado do código. Seu objeto de estudo é a organização
dos sons da fala em cada sistema linguístico e seus padrões
de funcionamento. Os fonemas de uma língua são os sons
que são pertinentes para a veiculação de significado;
• Sintático-semântico: estudo das regras que regem a for-
mação de frases e do seu significado;
• Morfossintático: nível da estrutura e/ou da descrição
linguística que engloba a morfologia (estudo das formas) e
a sintaxe (regras de combinação que regem a formação de
frases);
• Pragmática: A pragmática analisa a linguagem considerando
a influência do contexto comunicacional, extrapolando assim
a visão da semântica e da sintaxe, CORTINA et al., 2018.

14
Principais Características da Comunicação
das Crianças na Faixa Etária de 0 a 7 Anos

Trocando Ideias
Mas o que esperar do desenvolvimento de fala e da linguagem de
crianças sem queixas de alterações do neurodesenvolvimento?

Vejamos alguns parâmetros.

• Entre 0 e 2 meses:

• Comunicação não verbal/pré-linguística;

• Nessa fase, os seus comportamentos estão caracterizados por reações


determinadas por uma organização do sistema nervoso (cérebro);

• Ainda não se constitui como sujeito;

• Riqueza de comunicação pré-verbal não intencional;

• Embora a criança não tenha condições de comunicar algo intencio-


nalmente, a tendência dos adultos de atribuírem a ela tal capacidade
constitui-se como fator relevante para seu desenvolvimento.

• Entre 2 e 10 meses:

• Os bebês vão demonstrando um interesse crescente acerca de tudo


o que está ao seu alcance;

• Começam a perceber, de forma regular e repetitiva que certos com-


portamentos produzem determinados resultados, estabelecendo
assim, intuitivamente, vínculos causais entre eles;

• Aos 03 ou 04 meses de vida: o bebê vocaliza sons sem significado e


apenas para se divertir, sem a intenção de se comunicar;

• Entre 06-09 meses: as vocalizações dão lugar aos balbucios –


“papa”, “mama”, “auau” – Sons que as crianças produzem com
intenção comunicativa;

15
• Entre 10 e 12 meses:

• Comunicação intencional: por volta dos 10 meses: reduplicação si-


lábica – (“dadada”, “papapa”), de onde surgirão as primeiras palavras;

• Também aparecem os monossílabos intencionais, sílabas com signi-


ficado de palavra. Ex: /ma/ - mamadeira, /bo/- bolacha;

• Entre 1 e 2 anos:

• Aparição dos fonemas plosivos: /p/, /t/, /k/, /b/, /d/, /g/;

• Fonemas nasais: /m/, /n/, /nh/;

• Fonemas fricativos: /f/, /v/;

• Aos 20 meses apresenta todo o sistema vocálico. Estágio I - /a/, /i/,


/u/. Estágio II - /e/, /o/. Estágio III - /é/, /ó/.

(Obs: os fonemas não estão representados conforme a Associação Internacional


de Fonética).

• Vocabulário elementar infantil – dia a dia;

• Velocidade lenta, 1 a 3 palavras por semana;

• O marco de 50 palavras proporciona a EXPLOSÃO VOCABULAR por


volta dos 18 meses;

• Velocidade acelerada, 10 palavras por semana;

• Evolução do vocabulário é outro marco importante; aos 2 anos tem


vocabulário de 200 palavras (MÍNIMO de 50 palavras);

• O repertório das primeiras 50 palavras é formado por palavras de


categoria lexical (substantivos, verbos e adjetivos);

• A aquisição da categoria de palavras gramaticais (preposições, conjunções,


advérbios e pronomes) é mais abstrata e dependente da evolução sintática;

• Aos 18 meses, surgem os primeiros enunciados, com o início da


morfossintaxe;

16
• Entre 18 e 20 meses, apresenta um estilo “telegráfico” em seus enun-
ciados - /nenê mimi/, /mama bo/ (etapa da sintaxe primitiva);

• Entre 2 e 3 anos:

• Fonemas fricativos: /z/, /s/, /j/, /ch/;

• Fonema líquido: /l/;

• Todas as simplificações fonológicas são esperadas;

• Aos 3 anos, tem vocabulário de 450 a 500 palavras (MÍNIMO de 200


palavras);

• É característica marcante dessa fase a rapidez em realizar trocas de turno;

• Entre 30 e 36 meses, surgem frases coordenadas com os verbos “ser”


e “estar”, uso de pronomes e artigos definidos (etapa da expansão
gramatical);

• Entre 3 e 4 anos:

• Aos 4 anos, tem vocabulário de 1000 a 2500 palavras (MÍNIMO de


500 palavras);

• Entre 36 e 42 meses (continua a etapa da expansão gramatical), as


frases coordenadas se tornam mais complexas com uso frequente
da conjunção “e”; uso do passado simples e futuro;

• Fonema líquido: /rr/;

• Entre 4 e 5 anos:

• Vocabulário acima de 3000 palavras;

• Entre 42 e 54 meses (continua a etapa da expansão gramatical), as


modalidades do discurso tornam-se cada vez mais complexas — afir-
mação, negação e interrogação;

• Fonemas líquidos: /lh/, /r/;

• Entre 5 e 6 anos:

17
• Vocabulário acima de 4000 palavras;

• Em torno dos 5 anos, já consegue o domínio do sistema gramatical


básico de uma língua;

• Grupos consonantais: /r/, /l/;

• Entre 6 e 7 anos:

• Vocabulário de 7000 a 10.000 palavras;

• Aos 6 anos, todas as simplificações fonológicas são superadas;

• Com 11 anos, aproximadamente 40.000 palavras;

• Aprendizagem de palavras novas é facilitada em combinação à re-


presentação gráfica destas;

Trocando Ideias
Dessa forma, exploramos aqui sobre a relação dos marcos do de-
senvolvimento e das habilidades percepto-motoras e linguísticas
para o desenvolvimento integral da criança. A integração entre
os diferentes estímulos e experiências com o ambiente socioam-
biental e educacional constitui fator importante para o aumento
da comunicação, com vistas à identificação precoce de alterações
de desenvolvimento para posterior intervenção, se necessário.
Mas, afinal, como a família poderá estimular suas crianças no dia a dia?

• Dar oportunidades e observar desvios no desenvolvimento infantil;

• Estimular o desenvolvimento das habilidades sensoriais, perceptuais,


motoras e linguísticas através das brincadeiras infantis e das atividades
de vida diária (psicomotricidade);

• Fornecer um ambiente harmonioso;

• Não usar linguagem infantilizada;

• Pensamento coerente e claro das pessoas que cercam a criança;

18
• Limites;

• Estimular através de histórias (papel dos avós).

Importante
Alguns fatores são determinantes para o desenvolvimento da
comunicação infantil (combinados):
• A criança necessita ter uma razão ou motivo para se comu-
nicar = uma intenção;
• Há necessidade de se ter algo para comunicar = um conteúdo;
• Faz-se necessário um meio de comunicação = forma;
• Há necessidade de pessoas com quem se comunicar = um
interlocutor;
• Condições favoráveis para a interação = uma situação ou
contexto;
• A criança necessita ter capacidades cognitivas favoráveis =
para compreender e atuar sobre o mundo.

Figura 3 – Interação entre mãe e bebê de 05 meses


Fonte: Getty Images
#ParaTodosVerem: mulher e bebê deitados em um travesseiro branco. Mulher sorridente, cabelos e olhos
castanhos, pele branca, sorrindo para seu bebê, simulando uma interação afetiva. Bebê está trajando um macacão
branco, com listras azuis claras, responsivo ao estímulo da mãe, sorridente, fitando os seus olhos e tocando seu
queixo com a mão direita. Fim da descrição.

19
Chegamos ao final da nossa Unidade de Estudo. Você, como futuro
Fonoaudiólogo, poderá fazer a diferença na identificação precoce de altera-
ções no desenvolvimento de fala e linguagem, pois, ao conhecer os parâme-
tros dos marcos de desenvolvimento infantil, você terá condições clínicas de
contribuir para o diagnóstico e a intervenção fonoaudiológica nos casos que
se fizerem necessários.

20
MATERIAL COMPLEMENTAR

Vídeos

Marcos do Desenvolvimento Infantil – O que São e Como Acompanhar


https://youtu.be/DDAAb03Y9Bw

Marcos do Desenvolvimento Infantil


https://youtu.be/5sIONvd1dQ0

Como Estimular a Fala e a Linguagem do Bebê de 0 a 6 Meses


https://youtu.be/OXTJX_DB2Ys

Leitura

Diretrizes de Estimulação Precoce: Crianças de Zero a 3 Anos com


Atraso no Desenvolvimento Neuropsicomotor
https://bit.ly/3ZBuAn4

Manual Para Observação Dinâmica dos Marcos do Desenvolvimento


em Crianças de 0 a 3 Anos
https://bit.ly/45dZDGC
REFERÊNCIAS
ADAMS, M. J. et al. Consciência fonológica em crianças pequenas. Porto Alegre: Art-
med, 2007. Disponível em: < h t t p s : / / i n t e g r a d a . m i n h a b i b l i o t e c a . c o m . b r / # / b o o k s /
9 7 8 8 5 3 6 3 1 0 8 5 5 / >. Acesso em: 17/04/2023.

AIMARD, P. A linguagem da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

BARBOSA, E. A.; FUKUSATO, P. C. S. Manual prático do desenvolvimento infantil. Rio


de Janeiro: Thieme Revinter, 2020. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.
com.br/#/books/9788554652500/>. Acesso em: 17/04/2023.

CORTINA, A. et al. Fundamentos da língua portuguesa. Porto Alegre: SAGAH, 2018. v.


1. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595024076/>.
Acesso em: 15/04/2023.

CDC – Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Seu bebê de 2 meses. 2022. Dispo-
nível em: <https://www.cdc.gov/ncbddd/actearly/pdf/other-lang/Brazilian-Portuguese-
Checklists_LTSAE-P.pdf>. Acesso em: 25/05/2023

DOSMAN, C. F.; ANDREWS, D.; GOULDEN, K. J. Evidence-based milestone ages as a frame-


work for developmental surveillance. Paediatr Child Health. 2012 Dec;17(10):561-8. Dis-
ponível em: < h t t p s : / / p u b m e d . n c b i . n l m . n i h . g o v / 2 4 2 9 4 0 6 4 >. Acesso em: 20/05/2023.

FÁVERO, M. L.; PIRANA, S. Tratado de Foniatria. Rio de Janeiro: Thieme Revinter, 2019.
Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788554652296/>.
Acesso em: 17/04/2023.

FRANKERBURG, W. K. et al. Denver II: Teste de Triagem do Desenvolvimento. São Paulo:


Hogrefe, 2018.

LURIA, A. R. Pensamento e Linguagem: as últimas conferências de Luria. Porto Alegre:


Artes Médicas, 1987.

MASSINI-CAGLIARI, G. O texto na alfabetização: coesão e coerência. Campinas:


Mercado das Letras, 2002. (Idéias sobre linguagem).

PAPALIA, D. E.; MARTORELLE, G. Desenvolvimento humano. 14. ed. Porto Alegre:


AMGH, 2021. Disponível em: < h t t p s : / / i n t e g r a d a . m i n h a b i b l i o t e c a . c o m . b r / # / b o o k s /
9 7 8 6 5 5 8 0 4 0 1 3 2 / >. Acesso em: 27/04/2023.
ROTTA, N. T.; BRIDI FILHO, C. A.; BRIDI, F. S. (orgs.). Plasticidade cerebral e aprendiza-
gem: abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2018. Disponível em: <https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582715086/>. Acesso em: 17/04/2023.

SHONKOFF, J. P., PHILIPPS, D. A. 2000. (Eds.). National Research Council & Institute
of Medicine. From neurons to neighborhoods: the science of early childhood de-
velopment. Washington: National Academy Press. Disponível em: < h t t p s : / / n a p .
n a t i o n a l a c a d e m i e s . o r g / r e a d / 9 8 2 4 / c h a p t e r / 5 # 4 2 >. Acesso em: 20/05/2023.

WILLIAMS, L. C. A.; AIELLO, A. L. R. Manual do Inventário Portage operacionalizado:


avaliação do desenvolvimento de crianças de 0 a 6 anos. Curitiba: Juruá, 2018.

You might also like