You are on page 1of 25

ACONSELHAMENTO PASTORAL PARA CASAIS

Edilma de Paula Carrijo Oliveira 1


Jaqueline da Silva dos Santos2

Resumo
O artigo apresenta uma reflexão sobre o aconselhamento pastoral para casais,
analisando seu papel e principais objetivos em situações em que a intervenção se faz
necessária. Analisa-se problemas e situações comuns nos relacionamentos conjugais e
familiares, situações recorrentes e específicas, bem como as formas de intervenção para
ajudar nessas situações de conflitos. O texto convida a uma leitura realista das famílias, em
especial as famílias brasileiras, e os impactos da pós-modernidade em seu formato e seu
papel nas comunidades de fé e na sociedade. Apresenta os resultados que o aconselhamento
pastoral oferece para o casal e sua família numa perspectiva bíblico-cristã. Por último, traz
uma reflexão sobre a importância de se oferecer cuidado pastoral para aqueles que estão
envolvidos no cuidado de outros casais.

Palavras-chave: aconselhamento pastoral; família, intervenção; pós-modernidade;


poimênica.

1
Mestranda em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Bacharel em Teologia pela
Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo. Artigo aprovado em 03.11.2016 na disciplina Trabalho
de Conclusão de Curso com vistas à obtenção de grau de Bacharel em Teologia, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos
Aurélio da Silva.
2
Graduada em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo. Trabalho de Conclusão de
Curso com vistas à obtenção de grau de Bacharel em Teologia, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos Aurélio da Silva.
2

Introdução

O presente trabalho tem por objetivo trazer uma reflexão sobre o aconselhamento
pastoral para casais numa perspectiva bíblico-cristã. Compreender seus reflexos nas famílias
brasileiras, abordando a forma como o aconselhamento e acompanhamento pastoral podem
auxiliar na saúde dos relacionamentos matrimoniais e também o cuidado pessoal com cada
membro da família.
Esta pesquisa se origina da compreensão de que a família é um sistema aberto em
constante transformação e, por ser o núcleo mais antigo das instituições e sua estrutura ter
sido criada com o propósito de manutenção da vida, vem lutando contra os reflexos da pós-
modernidade para sobreviver e não desaparecer.
O tema deste estudo merece reflexão porque reconhecemos que as crises familiares
e a falta de identidade, principalmente dentro da família, tem contribuído para o
agravamento dos desajustes pessoais com reflexos direto na família. Casos como depressão,
baixa autoestima, síndromes, surtos psicóticos, suicídios, violências domésticas e até
mesmo fora do ambiente doméstico tem sido recorrente.
Assim, nosso objetivo com este estudo é contribuir para resolução de problemas
matrimoniais levando em consideração os problemas individuais dos membros da família,
reconhecendo que é um processo educativo onde o aconselhamento e acompanhamento
fazem toda a diferença.
Dessa forma, cada membro tem a oportunidade de fazer as mudanças necessárias de
comportamento para o bem-estar no contexto da família, além da oportunidade de entregar-
se completamente ao amor cuidadoso de Deus, através de um relacionamento íntimo e
pessoal.
Para tanto, o texto que se segue está organizado em três seções. A primeira delas,
conhecendo o aconselhamento pastoral para casais, concentra-se em compreender os
desafios que os casais e suas famílias vem enfrentando ao longo dos anos com os novos
modelos familiares institucionalizados e suas implicações nos relacionamentos, o papel do
aconselhamento pastoral e seus objetivos diante de situações de conflito, a importância de
desenvolver a comunicação no processo de intervenção e busca de soluções.
A segunda seção, problemas e situações comuns no relacionamento conjugal e
familiar, traz uma abordagem mais específica quanto às situações recorrentes e comuns que
tem gerado esses desajustes, a forma como o aconselhador pode contribuir através de sua
intervenção, tendo como padrão final no processo de aconselhamento a Bíblia Sagrada.
3

A terceira seção, resultado do aconselhamento pastoral para a sociedade, aborda a


contribuição do aconselhamento pastoral como instrumento de edificação para o corpo de
Cristo, os resultados desse acompanhamento para o casal e sua família e apresenta uma
pequena reflexão sobre a importância de se oferecer cuidado pastoral para aqueles que estão
envolvidos no cuidado de outros casais.
Por fim, são apresentadas as considerações finais, encerrando, assim, o tema
escolhido.

Conhecendo o Aconselhamento Pastoral para casais

A família, desde o início da criação, passa por processos de transformação para


manter-se numa sociedade que não para de mudar, e vem se esforçando para não
desaparecer. Sob a perspectiva bíblica, a família é o núcleo mais antigo das instituições e
sua estrutura foi criada com o propósito de manutenção da vida. (CARDOSO, 2003)

Cardoso afirma que

Como realidade social, a família responde pela necessidade de


sobrevivência humana, em permanente movimento de adaptação.
[...]Atualmente, os modelos formais de constituição familiar estão
decrescendo, diante das alternativas informais de relacionamento, já
reconhecidas pelo novo Código Civil Brasileiro, em condições quase
equivalentes às dos relacionamentos formalmente constituídos. Mulheres
com independência financeira resolvem gerar filhos sem construir um
vínculo conjugal, na forma de ‘produção independente’. Cônjuges
separados se unem em novas núpcias, trazendo filhos dos relacionamentos
anteriores, tendo filhos em comum e formando núcleos familiares bastante
complexos. (CARDOSO, 2003, p. 95)

Essa nova configuração tem surgido nas famílias modernas, e os indivíduos que
compõem esses novos núcleos enfrentam uma crise de identidade e, por consequência, uma
crise familiar, onde já não se consegue definir e/ou identificar qual o papel de cada membro
dentro desse ambiente. Essa crise familiar tem contribuido para o agravamento dos
desajustes pessoais que refletem nas famílias. Casos como depressão, baixa autoestima,
síndromes (de pânico, bulimia, anorexia, etc.), surtos psicóticos, suicídos, violências
domésticas e até mesmo fora do ambiente doméstico tem sido recorrente.

Schneider-Harpprecht & Streck apresenta a seguinte reflexão sobre a realidade da


família, em especial a família brasileira
4

Observa-se o quanto também no Brasil as famílias sofrem e se


desestruturam devido ao empobrecimento. Realidade familiar para muitas
significa: divórcio, abandono de crianças, violência, agressividade contra
crianças dentro do lar, abuso sexual, diminuição da família tradicional
constituída, pais afastados do lar, empobrecimento da mãe depois da
separação e dificuldades econômicas da mesma. Em quase todos os níveis
sociais constata-se uma mudança da ética matrimonial. (SCHNEIDER-
HARPPRECHT & STRECK, 1994, p. 184)

As demandas das comunidades de fé, enquanto igreja universal do reino de Deus,


pelo aconselhamento pastoral é latente diante de um cenário como este. Esta afirmativa é
percebida na reflexão de Collins: “nunca pensei que houvesse tanta gente sofrendo neste
mundo. [...] No seminário não nos avisaram que havia tanta gente necessitada. [...] nunca
imaginamos a profundidade e a variedade dos problemas que iríamos encontrar depois da
formatura.” (COLLINS, 2004, p. 15).

Oates afirma o seguinte

Independente de qual tenha sido sua formação, o pastor não tem o


privilégio de escolher se vai ou não aconselhar os membros de seu
rebanho, pois é inevitável que eles levem seus problemas até ele, em busca
de orientação e de uma palavra de sabedoria. Não há como contornar isso,
se ele permanecer no ministério pastoral. A opção que ele tem que fazer
não é entre aconselhar ou não, mas sim entre aconselhar de maneira
organizada e competente, ou fazê-lo de forma caótica e incompetente.
(OATES apud COLLINS, 2004, p. 15)

Collins reforça esse entendimento de Oates ao afirmar que

Para os escritores dos livros da Bíblia, a assistência ao próximo não era


uma questão de opção, mas uma responsabilidade de todo crente, inclusive
do líder da igreja. Há ocasiões em que o aconselhamento pode parecer
perda de tempo, mas é uma ordenança bíblica e pode vir a ser importante,
necessária e eficaz em qualquer ministério. (COLLINS, 2004, p. 16)

Diante dessa demanda cada vez mais crescente pelo aconselhamento pastoral,
reconhecemos que as igrejas cristãs precisam capacitar seu corpo eclesiástico, seja esta
protestante ou católica. O cristão, enquanto líder levantado e atendendo ao chamado de Deus
para o cuidado com pessoas, se vê diante de problemáticas de toda ordem, que lhe confronta
com a necessidade de ouvir atentamente e, por vezes, aconselhar àqueles que reconhecem
nele a possibilidade de resolver os problemas que estão enfrentando, especialmente assuntos
de ordem espirituais e emocionais.

Adams afirma que


5

a Bíblia é o livro texto de aconselhamento da igreja cristã. [...] A Bíblia se


constitui a base para o aconselhamento cristão porque trata das mesmas
questões abordadas no aconselhamento. Ela foi dada para ajudar a trazer
os homens à fé salvadora em Cristo e assim transformar os crentes à
imagem do Filho de Deus (2 Timóteo 3:15-17). (ADAMS, 2016, p. 13)

Por se tratar de um processo de auxiliar o indivíduo e as famílias a encontrarem apoio


e solução aos desafios da vida, além de ajudá-los a amarem a Deus e ao próximo, a Bíblia
deve ser essa fonte de orientação e ensino, pois estabelece o padrão de vida que agrada a
Deus. Através da mudança de valores apresentadas ao aconselhando, este tem a
possibilidade de uma mudança de vida, em suas crenças, valores, relacionamentos, atitudes
e comportamentos. Somente ela é capaz de transformar as pessoas à imagem do Filho de
Deus, conforme 2 Timóteo 3: 15-17.

Maldonado diz que: “cada nova geração tem o dever de retomar os textos bíblicos
procurando descobrir como aplicar os princípios neles contidos à realidade contemporânea”.
(MALDONADO, 2003, p. 8)

Ainda conforme Adams, “sempre que as pessoas tentam viver suas vidas de modo
independente [...] acabam por falhar miseravelmente. [...] Elas não somente falham
inevitavelmente no decurso do tempo [...], mas suas falhas resultam em misérias para si
mesmas e para os que a cercam”. (ADAMS, 2016, p. 16)

O papel do aconselhamento pastoral e seus objetivos

O aconselhamento pastoral é o ofício mais especializado do cuidado ministerial e


pastoral da Igreja e, em se tratando de aconselhar casais, requer do aconselhador habilidades
específicas, além de cuidados especiais para realizar seu ofício. Dessa forma, necessário se
faz compreender o seu papel no processo e, principalmente, ter os objetivos bem definidos
para ser eficaz nesse acompanhamento pastoral.

O conceito de Aconselhamento Cristão, segundo Collins, seria

uma área mais especializada do cuidado pastoral, que se dedica a ajudar


indivíduos, famílias ou grupos a lidarem com as pressões e crises da vida.
O aconselhamento pastoral emprega vários métodos de cura para ajudar
as pessoas a enfrentarem seus problemas de uma forma coerente com os
ensinamentos bíblicos. (COLLINS, 2004, p. 17)
6

O cuidado pastoral através do aconselhamento cristão utiliza-se de métodos que


contribuem para a cura e aperfeiçoamento do indivíduo na caminhada de fé. Aprendem a
enfrentar as crises, pressões da vida e os desafios dessa caminhada, a preservar suas emoções
tirando proveito das circustâncias para seu crescimento e amadurecimento.

Para Clinebell, o Aconselhamento Cristão seria definido como

uma dimensão da Poimênica 3, a qual se utiliza de vários métodos


terapêuticos e espirituais de cura para ajudar as pessoas a lidar com seus
problemas e crises, de uma forma mais conducente e,assim, a
experimentar a cura de seus quebrantamentos. (CLINEBELL, 2011, p. 25)

De acordo com o conceito apresentado por Collins e Clinebell, o aconselhamento


pastoral se utiliza de métodos que auxiliam as pessoas a enfrentarem seus problemas e
crises, dando-lhes oportunidade de viver sabiamente à luz de Deus através dos ensinamentos
bíblicos.

Quanto aos objetivos, para Collins,

o alvo principal de todo conselheiro que é discípulo de Jesus Cristo é este:


mostrar às pessoas como ter vida abundante e levá-las a encontrar o
caminho da vida eterna prometida a todo aquele que crê. [...] No entanto,
todo mundo sabe que existem muitos crentes sinceros que terão a vida
eterna no céu, mas cuja vida na terra não tem nada de abundante.
(COLLINS, 2004, p. 44)

Em conformidade com o entendimento de Collins, o alvo principal para o


aconselhamento pastoral é estimular o cristão a aprender a caminhar com os outros cristãos
e ser desafiado a enfrentar as crises e dificuldades da vida. Então Collins complementa
afirmando que

Essas pessoas precisam de aconselhamento, algo que envolve outras


coisas além do evangelismo e da educação cristã tradicional. O
aconselhamento pode, por exemplo, ajudá-las a identificar padrões de
pensamento que geram atitudes negativas, aperfeiçoar seus métodos de
relacionamento interpessoal, ensinar novos comportamentos, orientá-las
em decisões difíceis, ajudá-las a mudar seu modo de viver, ou ensiná-las
a mobilizar recursos internos nos momentos de crise. Em alguns casos, o
aconselhamento guiado pelo Espírito Santo consegue libertar o indivíduo
de complexos arraigados, memórias do passado ou atitudes que estão

3
Poimênica: do grego “poimen”, que significa “pastor”. Tem a ver com o trabalho pastoral de um modo geral.
O ministério de ajuda da comunidade cristã para os seus membros e para outras pessoas que a procuram na
área da saúde através da convivência diária no contexto da igreja.
(http://www.dicionarioinformal.com.br/significado/poim%C3%AAnica/5446/, acessado em 03/10/2016 as
10:35h)
7

impedindo o seu amadurecimento. Para o incrédulo, esse aconselhamento


pode funcionar como uma espécie de “pré-evangelismo”, removendo
alguns obstáculos que impedem a conversão. (COLLINS, 2004, p.44-45)

O aconselhamento passa pelo caminho de ajudar as pessoas a reconhecerem os


padrões errados e, diante de novas possibilidades e perspectivas, caminhar em direção à
novos desafios, além da oportunidade de entregar-se completamente ao amor cuidadoso de
Deus, através de um relacionamento íntimo e pessoal.

Já Clinebell diz que o aconselhamento pastoral

[...]é um instrumento de contínua renovação através de reconciliação,


contribuindo para curar nossa alienação em relação a nós mesmas e nossas
famílias, a outros membros da igreja, às pessoas que estão fora da igreja e
a um relacionamento avivador e crescente com Deus. Pode criar aberturas
para uma nova consciência, restaurando a visão de olhos anteriormente
cegados por nossa autopreocupação cheia de ansiedade e culpa - para a
beleza, a tragédia, a maravilha e a dor existentes ao nosso redor. O
aconselhamento pode permitir-nos descobrir novas dimensões de nossa
humanidade. Pode liberar nossos potenciais de autenticidade e vivacidade.
Pode ajudar a libertar nossa criatividade aprisionada – a criatividade
potencial presente em toda pessoa. Renovando-nos como pessoas, o
aconselhamento ajuda a potencializar-nos para nos tornarmos agentes de
renovação numa igreja e numa sociedade que necessitam
desesperadamente de renovação. (CLINEBELL, 2011, p.14-15)

Analisando os conceitos apresentados por esses autores, quanto aos objetivos,


escolhemos aquele apresentado por Clinebell, que expressa bem os objetivos do
aconselhamento pastoral. Primeiramente ele expressa a condição que necessita de mudança,
restauração e transformação, identificando a área a ser tratada, seja de âmbito pessoal,
familiar, interpessoal dentro ou fora da igreja.

Os fatores principais para alcançar, além de um relacionamento bom e crescente com


Deus, é a mudança de mente, liberdade, cura, restauração e transformação. Algo
impressionante é que uma vez que o aconselhando alcança esses objetivos ele se torna
agente de transformação para outros, tornando-se potencializado para renovar e transformar
sua família, sua igreja e até mesmo a sociedade na qual está inserida.

No contexto famíliar, os objetivos do aconselhamento pastoral são os mesmos. É a


maneira de fazer refletir, confrontar, amar, curar, restaurar e transformar. Em meio a uma
sociedade corrompida, onde seus relacionamentos também estão corrompidos, o
aconselhamento é uma ferramenta de auxílio e transformação desse núcleo. E família
restaurada significa igreja fortalecida e sociedade transformada.
8

Quando a intervenção se faz necessária através do aconselhamento pastoral e a


importância da comunicação no relacionamento familiar

Sabemos que o matrimônio não é uma instituição muito estável, especialmente


nestes tempos de pós-modernidade. Porém, sabemos que existem casamentos felizes.
Fatores como ter uma imagem positiva do cônjuge, considerá-lo como seu melhor amigo,
se importar um com o outro, ser acessível e confiável, ter uma comunicação eficaz são
fundamentais para manter esta harmonia e preservar a alegria de permanecerem juntos.
(COLLINS, 2004)

Mas, apesar de sabermos que existem casamentos felizes e crer que isso é possível,

estamos vivendo numa época em que a infidelidade conjugal é mais


comum, e em que muitas pessoas vêem o divórcio como uma saída de
emergência conveniente e sempre disponível, para o caso dos problemas
matrimoniais ficarem muito difíceis de resolver. A ‘incompatibilidade de
gênios’ torna-se motivo suficiente para o rompimento da união conjugal,
e o divórcio amigável permite que o casamento seja legalmente desfeito
quando um dos cônjuges – ou ambos – simplesmente não quer mais
permanecer junto. O matrimônio, essa união permanente instituída por
Deus, é tratado cada vez mais como um acordo de conveniência
temporário. Essas atitudes da sociedade, associadas às diversas pressões
que cercam o casamento de hoje, muitas vezes causam problemas que
acabam nos gabinetes dos conselheiros. As pesquisas realizadas nos
últimos anos demonstram insistentemente que os problemas conjugais
levam mais pessoas a procurarem aconselhamento do que qualquer outro
motivo isolado. (COLLINS, 2004, p. 476-477)

A facilidade com que as pessoas hoje em dia conseguem realizar um divórcio é


assustador, além de tornar esse mecanismo, para muitos, como uma saída rápida de uma
escolha malfeita. Como um contrato em que basta uma das partes desejar e assim proceder
ao seu rompimento. Sem considerar que houve muito mais do que uma união de corpos.

“A psicologia moderna, a sociologia e disciplinas correlatas esclareceram algumas


das formas pelas quais as pessoas se desviaram dos padrões bíblicos para o casamento”
(COLLINS, 2004, p. 478), conforme descrito em Gênesis 2.24: “Por essa razão, o homem
deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne”.

Quando o Senhor estabelece que “serão os dois uma só carne” (Gn 2.24),
não decreta nenhuma escravidão, como alguns afirmam hoje, mas o
contrário. A indissolubilidade é uma demonstração do amor do Criador
por suas criaturas, proporcionando-lhes a oportunidade de realizar-se
plenamente e ser felizes. Além disso, é importante destacar que a união
matrimonial marca ambos os cônjuges para toda a vida. O amor mútuo, a
9

intimidade sexual, o choro e o riso juntos durante mais ou menos tempo,


o amor e o cuidado dos filhos – se o tiverem – tudo isso deixa marcas que
nem o desamor, nem o egoísmo, nem o capricho, nem todas as normas
legais podem apagar facilmente. (CARDOSO, 2003, p. 174)

Questões como falhas na comunicação; relacionamentos onde “o desenvolvimento


pessoal do marido e da esposa parecem seguir caminhos independentes”, ou quando “o
relacionamento se torna tão envolvente que os dois cônjuges perdem sua identidade própria
e se sentem num beco sem saída”; tensões interpessoais, como inflexibilidade, dinheiro,
sexo, religião, valores; necessidades conflitantes e diferenças de personalidade; pressões
externas e até mesmo o tédio são pontos de fragilidade que podem acabar contribuindo para
as dificuldades conjugais. (COLLINS, 2004, p. 478-482)

Quando isso acontece, a expectativa de se ter um relacionamento saudável dá espaço


à confusão, desânimo, levando ao afastamento, abandono e se transforma numa grande fonte
de frustração e infelicidade (COLLINS, 2004). É aí que a intervenção se faz necessária para
que o desfecho desse relacionamento não seja a separação ou o divórcio.

Em todas as situações de aconselhamento, o orientador precisa fazer pelo


menos quatro perguntas: Qual o problema? Será que devo intervir e tentar
ajudar? O que eu poderia fazer para ajudar? Será que existe alguém mais
qualificado para atuar neste caso? É importante que os conselheiros
cristãos tenham conhecimento da natureza dos problemas (como eles
surgem e como podem ser resolvidos), saibam o que a Bíblia ensina sobre
eles e estejam familiarizados com as técnicas de aconselhamento.
(COLLINS, 2004, p. 19)

A intervenção se faz necessária quando os envolvidos reconhecem que precisam de


ajuda, ou quando o aconselhador vê que em determinados aspectos é necessário intervir.
Porém, sabemos que se torna mais eficaz quando uma das partes reconhecem que precisam
de acompanhamento, pois muitas vezes uma intervenção de terceiros pode levar a recusa e
retração, prejudicando assim a eficácia do aconselhamento pastoral.

Collins afirma que “a intervenção nos momentos de crise geralmente é uma boa
oportunidade para trabalhar com as famílias, ajudando-as a lidar com os problemas que estão
enfrentando e, também, a evitar métodos de solução de problemas que são destrutivos a
longo prazo”. (COLLINS, 2004, p. 489)

Muitos não tem aberto seus relacionamentos para o diálogo, sendo que a
comunicação é a chave para um relacionamento saudável, pois é um momento de troca.
10

Collins explica que:

A comunicação envolve o envio e o recebimento de mensagens. As


mensagens podem ser enviadas de forma verbal (com palavras) e não
verbal (através de gestos, tom de voz, expressões faciais, palavras escritas
num papel, imagens na tela de um computador, ações, presentes, ou até
períodos de silêncio). Quando a mensagem verbal e não verbal se
contradizem, uma mensagem dupla é enviada. Isso causa confusão e
interrupção da comunicação. [...] Numa comunicação eficiente, a
mensagem enviada verbalmente é coerente com a mensagem não verbal.
A boa comunicação também requer que a mensagem enviada seja idêntica
à mensagem recebida. (COLLINS, 2004, p. 478-479)

O corpo humano fala, através de olhares, gestos, expressões faciais e até mesmo pelo
silêncio. O ser humano traz dentro de si padrões de reações diante de situações de confronto
e conflito, e acabam por reproduzir em seus relacionamentos. Muitos não conseguem expor
seus sentimentos de forma clara, objetiva e sincera.

Quase todo mundo concorda que falhas ocasionais na comunicação entre


marido e mulher são inevitáveis. Entretanto, quando as falhas são mais
frequentes que os sucessos, o casamento começa a ter sérios problemas.
As falhas na comunicação tendem a se reproduzir. (COLLINS, 2004, p.
479)

A comunicação, ou a falta dela, tem se tornado uma arma poderosa para destruir os
relacionamentos, principalmente os familiares. Especialmente nessa era tecnológica, muitos
casais tem perdido o hábito de se comunicar e relacionar. Os membros das famílias tem se
perdido dentro da suas casas, cada um no seu mundo virtual, e a única maneira de se
comunicar e se relacionar é com a tela de seus produtos eletrônicos, perdendo o aprendizado
e seus valores, e dando espaço para a destruição dos relacionamentos pessoais e familiares.

Problemas e situações comuns no relacionamento conjugal e familiar

Reconhecemos que as pessoas são diferentes umas das outras, com criações, manias,
culturas e, em meio a essas diferenças, elas decidem viver juntas e no mesmo lugar. Sabemos
que relacionamento não é algo fácil, principalmente quando se trata do relacionamento
conjugal e familiar. Nesse momento já se pode iniciar grandes conflitos se um não estiver
disposto a compreender o outro.
11

Como já dito na primeira parte deste artigo, a sociedade na qual estamos inseridos
pouco nos ajuda a vivenciar um relacionamento saudável, principalmente com a nova
formatação familiar que não condiz com o que a Bíblia nos ensina, acarretando muitas
indisciplinas e desavenças no âmbito familiar que hoje já se encontra corrompido.

Scheneider–Harpprecht & Streck apresenta a seguinte reflexão sobre a questão da


mudança do papel do homem e da mulher dentro do contexto familiar

Especialmente em famílias empobrecidas a figura paterna parece estar


ausente. Muitos homens são alcoolistas ou dependentes de drogas e as
mulheres trabalham fora de casa para garantir o sustento da família. Isso
faz com que as crianças passem a maior parte do tempo em creches e
escolas, longe do convívio com os pais. O tempo que pais e filhos passam
juntos é cada vez menor. Muitas crianças começam a trabalhar
precocemente para ajudar no sustento da família. A situação habitacional
de famílias pobres e de classe média baixa é precária. (SCHENEIDER –
HARPPRECHT & STRECK, 1994, p. 184)

O que se vê é que, além da bagagem sócio-cultural que o indivíduo traz quando entra
num relacionamento matrimonial, soma com esses os problemas externos que são fatores
talvez mais complexos e difíceis de vivenciar, romper e vencer. Oliveira & Fleury, citando
Diniz-Neto & Feres-Carneiro, apresentam outros fatores que tem contribuido para os
desajustes nos relacionamentos

[...] as mudanças tecnológicas que transformam a arquitetura da família,


podendo provocar um distanciamento enorme aos casais; as novas
exigências, conquistas e papéis da mulher na contemporaneidade
(trabalho, lideranças corporativas e empresariais, espaço mundo
acadêmico, etc.), que obrigam readaptações familiares, devido sua
ausência em detrimento às suas novas conquistas. (DINIZ-NETO;
FERES-CARNEIRO apud OLIVEIRA & FLEURY, 2005, p. 7)

Igualmente em processo de mudanças, os homens também vivenciam desafios de


transformação no seu interior como consequência das mudanças no ambiente externo.
Oliveira & Fleury expõem com muita propriedade algumas dessas mudanças

Quanto ao homem na modernidade e/ou pós-modernidade, pode-se dizer


que ele também experimenta uma nova reorganização em termos do seu
papel: como homem da casa, provedor, profissional, esposo, pai,
masculinidade, entre outras realidades inerentes a sua imagem
historicamente concebidos. Tais fatores apontam a constatação de que o
homem atual também está envolto a conflitos sobre sua identidade e passa
por crises, o que pode interferir sensivelmente na vida conjugal.
(OLIVEIRA & FLEURY, 2013, p. 7)
12

Diante das considerações de Scheneider–Harpprecht & Streck e Oliveira & Fleury,


podemos identificar as crises mais frequentes, além daquelas pessoais de aprender a
conviver com os defeitos um do outro, e essas crises externas são cada dia mais evidentes e
tem se tornado recorrentes nos lares.
Além da questão do empobrecimento que acarreta muitas outras crises, temos o
contexto da modernidade, por isso consideramos a observação de Oliveira & Fleury, pois
estão conceituando bem as consequências das mudanças culturais e tecnólogicas que tem
influenciado no contexto familiar nesses dias atuais, principalmente em se tratando da
particularidade da mulher e do homem.
As mudanças do mundo moderno tem causado, primeiramente, crises internas no
homem e na mulher, fazendo com que eles se auto-avaliem e analisem tudo aquilo que eles
se relacionam. Analisam o seu passado, seu presente e futuro, e todas as suas escolhas desde
a infância. Infelizmente, uma das primeiras coisas que é colocado em conflito é o
relacionamento matrimonial.
Os conflitos sempre vão existir, e o desafio está na maneira que esses indivíduos
encontrarão para solucioná-los. Nesse momento, é papel do aconselhador pastoral trazer a
importância do matrimônio baseado em princípios bíblicos, sem ignorar que a modernidade
não está acontecendo e influenciando, mas tendo como objetivo auxiliar os casais a
vencerem seus conflitos internos e com a sociedade, e a aprenderem a se adaptar sem
corromper valores e princípios, principalmente os princípios bíblicos.

Aconselhando casais em crise e situações recorrentes e específicas

Como vem sendo apresentado nesta reflexão, o aconselhamento pastoral consiste no


estabelecimento de um relacionamento terapêutico de cooperação entre o aconselhando e o
aconselhador. Esse relacionamento cresce na medida em que o aconselhador se propõe a
estar com o aconselhando, ouvindo-o e respondendo-o com uma empatia solícita, ou seja,
ele precisa “ouvir profundamente e relacionar-se plenamente” com o aconselhando.
(CLINEBELL, 2011, p. 72)

Nesse sentido, percebemos que os pastores são aconselhadores naturais devido à sua
posição e seu papel na vida de sua comunidade de fé, pois dispõem de acesso frequente e
natural a muitos núcleos familiares. Aos olhos das pessoas que estão sofrendo com alguma
situação, a imagem e a identidade do pastor representa apoio e nutrição, além da
13

oportunidade de discutir as causas de seus problemas para, então, encontrar caminhos de


solucioná-los.

São muitas as pessoas à procura de um ouvido que às ouça. Elas não o


encontram entre os cristãos, porque eles falam quando deveriam ouvir.
Quem não mais ouve a seu irmão (ou irmã), em breve também não mais
ouvirá a Deus. [...] Quem não consegue ouvir demorada e pacientemente,
estará apenas conversando à toa e nunca estará realmente falando com os
outros, embora não esteja consciente disso. (DIETRICH BONHOEFFER,
apud CLINEBELL, 2011, p. 69)

É sabido que um conflito conjugal normalmente sinaliza questões mais sérias, como
problemas de comunicação, sentimentos de inferioridade, pecados ocultos, egoísmo,
dificuldade de liberar perdão, ansiedade, vícios, raiva, amargura, e até falta de amor.
Tensões interpessoais, como inflexibilidade, princípios e valores, dinheiro, sexo,
interferências externas de parentes ou pessoas próximas, divergências nos papeis e até
mesmo religião, são fatores que podem contribuir para os conflitos no casamento, e são
pontos que precisam ser trabalhados de forma minuciosa no aconselhamento pastoral, por
serem recorrentes nos relacionamentos.

“Muitas crises familiares em que se busca a ajuda de um pastor envolvem relações


pai/mãe – filho pequeno, pai/mãe – adolescente, criança – pai/mãe – avós, relações com
sogro/a e entre irmãos/irmãs.” (CLINEBELL, 2011, p. 288) O que se vê hoje são
relacionamentos conjugais expostos a desafios nunca antes enfrentados.Índices cada vez
mais altos de divórcio, de abandono de família, espancamento da mulher, abuso de crianças,
delinquência juvenil, suicídio, bem como tédio, sofrimento e infelicidade conjugais são
evidências alarmantes de que a experiência matrimonial vem se tornando um fato gerador
de dano às pessoas.

O aconselhador, no entanto, precisa ter certos “objetivos operacionais” para que,


durante o processo de aconselhamento, ele possa caminhar por esse processo e colaborar
para que o casal encontre o caminho do perdão e reconciliação e a harmonia familiar seja
restabelecida.

Quando as vidas de indivíduos são de alguma forma traumatizadas, toda


sua rede familiar recebe o impacto. É importante proporcionar assistência
poimênica e, em alguns casos, aconselhamento pastoral para a família
inteira. Provavelmente todos estão sofrendo, alguns mais obviamente que
outros. Para ajudar famílias a usarem seus problemas para o crescimento
é fundamental intervir pastoralmente junto à família inteira.
(CLINEBELL, 2011, p. 288-289)
14

Infelizmente, nos tempos atuais, poucos são os casais que ao enfrentar uma crise
conjugal pedem ajuda. É mais fácil separar do que resolver questões que causam dor,
desconforto e sofrimento. Mas iniciar um novo relacionamento sem resolver o anterior é
perigoso, pois a bagagem emocional das feridas e decepções vão acompanhá-lo.

É de suma importância o aconselhamento em crises conjugais e familiares e


situações recorrentes e específicas de cada núcleo familiar. Na verdade, é necessário que as
pessoas tenham condições de expor suas questões, feridas e decepções, afinal, a
comunicação é uma chave importante para um acerto. Por isso, se faz necessário o
aconselhamento pastoral principalmente quando se depara com as crises, sejam elas interior
ou exterior.

Temas sobre conflitos familiares e conjugais tornaram-se recorrentes nas igrejas, em


forma de pregações para pastores e também material de estudos para os ministérios dentro
dessas instituições. As igrejas tem reconhecido a necessidade de contribuir para a
reconstrução e restauração dos relacionamentos em crise, além de oferecer esperança através
das possibilidades de saída dessas situações. Pois a fé tem papel fundamental para ajudar o
indivíduo nesse processo de reparação e restauração do vínculo.

A tarefa de um aconselhador pastoral diante de um casamento em crise, dessa forma,


é oferecer a oportunidade de identificar e discutir as causas de seus problemas, para que
ambos assumam sua parte da culpa, porém, sem se sentirem derrotados ou condenados, mas
para reconhecer qual seu papel na busca da solução.

“O aconselhamento em casos de crise matrimonial pode ajudar alguns casais a


enfrentar seus problemas e a resolvê-los de maneira que tragam crescimento. Em
matrimônios profundamente conturbados, a terapia conjugal é essencial”. (CLINEBELL,
2011, p. 239)

Através das ferramentas e técnicas de aconselhamento, o pastor pode cooperar para


melhorar a saúde física, emocional e espiritual de casais e ver os resultados dessa
cooperação nos filhos e nos filhos de seus filhos. Por meio de um confrontamento profundo
e íntimo, cada um tem a oportunidade de conhecer a si mesmo, ao outro e, durante esse
processo, ao próprio Deus. “No sofrer, no arriscar-se, no abrir-se, no conhecer-se, ambos
podem ir concretizando o ‘ser uma só carne’, que também inclui o sofrimento.” (BREPOHL,
2003, p. 117)
15

Formas de intervenção com o aconselhamento pastoral

Existem várias maneiras de intervenção dentro do aconselhamento pastoral, mas os


objetivos principais sempre serão crescimento, cura, restauração, libertação e um bom
relacionamento, mesmo diante das adversidades e lutas que sempre existirão. As formas de
intervenção direcionam o aconselhador na melhor maneira de intervir, ou qual a melhor
ferramenta para ajudar casais e famílias a viverem satisfatoriamente, ativando suas
capacidades de superação e de se relacionarem com o interior e exterior.
Primeiramente, para que haja a intervenção, é necessário que uma das partes busque
ajuda e exponha o problema, ou que apenas reconheça que tem algo que esteja
incomodando. Depois, é necessário que o aconselhador seja sensível e atento na
identificação dos problemas para que possa encontrar a melhor forma de ajudar e intervir e
assim oferecer um aconselhamento eficaz.
Collins ressalta que
Intervir nas crises é um meio de prestar primeiros socorros emocionais, de
caráter imediato e temporário, a vítimas de traumas psicológicos e físico.
O interventor precisa agir hábil e rapidamente diante de comportamentos
muitas vezes desorganizado, confuso e potencialmente perigoso. Como as
crises geralmente surgem de repente e são de duração limitada, é melhor
tratá-las tão logo aparecem. (COLLINS, 2004, p. 77)

Essa afirmação de Collins é para nós um ponto de partida, visto que a crise, num
primeiro momento, parece um acidente, onde é necessário um resgate imediato, mas na
verdade, aponta para algo que foi sinalizado anteriormente e não foi dada a devida atenção.
Nesse caso, a intervenção é uma maneira de amenizar um turbilhão para que se possa tratar
o mal pela raiz e orientar, fazendo refletir ambas as partes, auxiliando para que possam
chegar a solução e satisfação pessoal e conjugal, segundo os princípios bíblicos, como um
processo terapêutico.
É importante que o interventor tenha habilidade e seja sensível para agir no tempo
certo ou até mesmo rapidamente, dependendo da situação. A sensibilidade do aconselhador
para intervir é o fator primordial, pois a sensibilidade auxilia na identificação de coisas que
as partes provavelmente estejam escondendo, situações graves e perigosas, o fator
motivador e a raiz do problema, a solução, como vai ser esse aconselhamento, se vai ser a
curto ou longo prazo.
É necessário cuidado para que não perca a confiança dos aconselhandos, passando
confiança e interesse pelo assunto, e principalmente, muito cuidado para não tomar partido
16

ou se envolver, de tal maneira que leve para o lado pessoal, deixando influenciar na sua vida
secular.
É necessário estar atento para que o casal não desanime. Em situações como essa,
Oliveira & Fleury também destacam que
[...] o pastor ou a pastora que se dispõe a tarefa de acompanhar casais em
momentos de crises precisa ter cuidado com os gestos, atitudes, olhares,
falas etc. Qualquer realidade que indique não engajamento ou
acolhimento, pode determinar também a falta de motivação e até o
fracasso do programa. (OLIVEIRA & FLEURY, 2013, p. 18)

O aconselhamento também deve ser de maneira dinâmica, para que haja interesse
das partes, para isso há várias formas de fazer do aconselhamento um processo eficaz e
prazeroso. Por exemplo, pode-se, além do acompanhamento terapêutico, sugerir e fazer uso
de literaturas, filmes, dinâmicas, material lúdico, grupos de apoio e tudo aquilo que a
imaginação do aconselhador possa trazer como ferramenta para auxiliar nesse processo de
aconselhamento.
É importante ser criativo, porém, sempre atento para identificar em cada caso
específico a maneira e ferramenta específica, respeitando a seriedade de toda a questão
envolvida. Cada caso é diferente do outro, então, a intervenção acontece da mesma forma.
Não se pode esquecer que a intervenção deve promover interesse aos aconselhandos para
prosseguirem fielmente no processo de aconselhamento.

O que não se pode esquecer, em todas as etapas do processo de intervenção, é que a


Bíblia é o padrão final em termos de autoridade no aconselhamento cristão. A própria Bíblia
nos oferece princípios para o entendimento e contribuição no aconselhamento pastoral, além
de orientar o aconselhador em cada fase desse cuidado.

Embora o aconselhamento pastoral faça uso de material utilizado no


aconselhamento secular, ele não é, não pode ser, secular. É um tipo distinto
de aconselhamento. O que em particular o distingue de outras formas de
aconselhamento é a abordagem e a orientação do conselheiro. O seu
trabalho tem um nível espiritual, baseado em valores espirituais e
princípios bíblicos. (JAGNOW, 2003, p. 29-30)

Sabemos que Deus tem propósito em tudo que nos acontece, apesar de nem sempre
conseguirmos encontrar respostas para determinadas situações que vivenciamos. Por outro
lado, temos a oportunidade de aprender e crescer quando enfrentamos situações de tensão
ou crises específicas.
17

E o aconselhamento pastoral que utiliza a Bíblia como base para este cuidado, tem
em si uma importante ferramenta para orientar os casais e famílias nos princípios divinos e
na busca por uma espiritualidade transformadora. Como diz Collins, “o cerne de toda a
assistência genuinamente cristã, seja ela pública ou particular, é a influência do Espírito
Santo. Na verdade, o que torna o aconselhamento cristão realmente único é justamente a
influência e a presença do Espírito” (COLLINS, 2004, p. 21).

Resultado do aconselhamento pastoral para a sociedade

Como vem sendo apresentado neste artigo, as famílias tem tomado diferentes formas
e sofrido muitas mudanças através do tempo e das influências sócioculturais. Porém, jamais
desapareceu. Em meio a tantas mudanças, desajustes e desafios e tendo o divórcio muitas
vezes como saída, ainda assim as pessoas continuam se casando e tendo filhos. E, ao
afirmarmos que família é projeto de Deus, podemos garantir e assegurar sua permanência.

Deus certamente quer que os relacionamentos conjugais sejam bem sucedidos e se


tornem a representação do bom relacionamento entre Cristo e a sua igreja. E isso é possível
quando o aconselhador cristão compreende os princípios bíblicos para os relacionamentos
e se utiliza das técnicas corretas no acompanhamento pastoral. Assim, terá condições de
obter sucesso, além de estar melhor qualificado para o apoio a casais e famílias, e alcançará
o ideal divino para o relacionamento conjugal. Os recursos da graça e da Palavra são
primordiais para o relacionamento familiar.

Jorge Atiencia, em seu artigo intitulado “Pessoa, casal e família”, esclarece que,
quando o indivíduo compreende a estrutura famíliar e seus fins, terá papel decisivo “no
desenvolvimento de seus membros” (ATIENCIA, 2003, p. 41). E complementa

A família está projetada e chamada a ser um núcleo onde se permite e se


estimula o crescimento integral de todos os seus membros; não somente
dos filhos. Esse crescimento integral implica na satisfação das
necessidades sexuais (Gn 1: 27-28), afetivas (Ef 6: 1-4), intelectuais (Pv 1
a 4; Lc 2:52), materiais (Lc 2:6-7), espirituais (Lc 2:52), de relacionamento
(Lc 2:21-38; 2:52), etc. Ou seja, vemos a família cumprindo as funções
básicas de reprodução, nutrição, educação e socialização, algumas das
quais tem sido descritas pela sociologia e pela psicologia.

Com o objetivo de prover esse crescimento integral, a família, à luz da


Bíblia, reconhecendo suas múltiplas expressões históricase culturais, está
18

capacitada a desenvolver-se com base nos seguintes princípios: relação de


amor, marido e esposa, pais e filhos, e mesmo senhores e servos, e devem
relacionar-se com base no amor mútuo (Ef 5:21 ss); [...] provisão afetiva,
[...] na qualidade das relações [...]; posição e limites, a Bíblia insinua que
cada membro da família tem uma função a desempenhar e que existem
regras que regulam as suas relações. Ao mesmo tempo, provê recursos
para corrigir a quebra das normas. [...] Dos filhos espera-se obediência
mediada pelos mandamentos (Ef 6:1-12). Dos pais espera-se uma
participação ativa, que leve em conta a disciplina e a admoestação do
Senhor (Ef 6:4). (ATIENCIA, 2003, p. 41-42).

Esta afirmação de Atiencia nos mostra o quanto a realidade atual está comprometida
diante da falta de compreensão desses princípios norteadores da relação familiar e da sua
relevância na formação do indivíduo como um ser responsável e capaz. Os princípios
bíblicos são claros quanto às orientações na formação desse indivíduo para habilitá-lo a
viver em comunidade, a servir ao próximo e também ao mundo. Ignorá-los traz implicações
sérias nos ambientes em que este indivíduo está inserido.

Na base da família está o casal e o seu delicado relacionamento. Não se pode ignorá-
lo. Parece-nos, então, de extrema importância hoje, diante desse cenário de desajustes no
ambiente familiar, o papel do aconselhador cristão como um conhecedor desses marcos de
referência familiares, de entrar em contato com essas raízes de problemas para orientar e
conduzir os casais e familiares na busca por alcançar o padrão que Deus estabeleceu.

Resultado do aconselhamento pastoral para o casal e sua família

Evidentemente o que mais se espera do aconselhamento pastoral são seus resultados,


para o casal, sua família e para a sociedade. Quando o aconselhamento atinge seus objetivos,
os resultados não atingem somente os aconselhandos, mas reflete em todas as áreas da vida.
O aconselhamento pastoral tem se tornado muito eficaz e também muito procurado. Muitos
reconhecem seus benefícios, para si e para a sociedade, tanto que podemos ver alguns casos
de pessoas não cristãs que, quando estão vivendo uma crise conjugal ou familiar, procuram
a orientação de um aconselhador cristão, pois identificam os resultados positivos do
aconselhamento.

O relacionamento conjugal e familiar é a base estrutural e principal do ser humano,


é o primeiro estreitamento relacional onde descobrimos nossa identidade. Atualmente
encontramos muitas pessoas sem identidade, sem conhecimento de si, pois as famílias de
hoje não tem se relacionado, não tem intimidade, confiança e amor. Sabemos que muito se
dá pela agitação do mundo, muitas coisas que tiram a atenção e o foco do relacionamento
19

pessoal. Podemos ver que há uma troca de valores relacionais, pois hoje, o relacionamento
pessoal e interpessoal se limita às redes sociais.

Um dos mais importantes resultados do aconselhamento pastoral é justamente o


resgate do relacionamento pessoal e interpessoal, que traz de volta o contato físico e a
comunicação, fortalecendo, reestruturando e promovendo crescimento para as relações. Os
pastores têm um papel importante para um resultado satisfatório quando o assunto é
aconselhamento pastoral, afinal, não são solucionadores dos problemas dos outros, mas
educadores.

Clinebell faz a seguinte afirmação

[...] o papel dos pastores como educadores lhes possibita ensinar intuições
de nossa tradição religiosa que fomentam o relacionamento assim como
habilidades contemporâneas de comunicação e solução de conflitos.
Semelhante ensinamento pode contribuir para a prevenção de problemas
familiares. Pode também lançar sementes que eventualmente darão fruto
em oportunidades de aconselhamento quando surgem crises na família.
(CLINEBELL, 2011, p. 236)

Esta afirmação de Clinebell enfatiza que os aconselhadores são educadores e não


solucionadores. O pastor e a pastora não resolvem os problemas conjugais e familiares,
apenas ensinam aos seus aconselhandos a maneira bíblica e a melhor forma de saírem de
suas crises e criam caminhos para identificar possíveis problemas e também meios de
prevenção das mesmas. Esses ensinamentos resultam em crescimento e maturidade para
que, diante dos conflitos conjugal e familiar, os problemas sejam solucionados da melhor
forma e os valores bíblicos sejam introduzidos no processo.

As pessoas quando procuram o aconselhamento pastoral estão em busca de socorro,


cuidados, respostas, cura, libertação, transformação e crescimento.

Oliveira e Fleury afirmam que

As pessoas quando procuram o cuidado pastoral, seja individualmente ou


com seu cônjuge, chegam profundamente machucadas, tristes, magoadas,
sem esperança. O papel do/a conselheiro/a pastoral é prover sempre ao
casal uma esperança realística e segura, quanto a mudanças da realidade
provocadora de conflitos, dramas ou crises. Isto não isenta o/a
conselheiro/a de tocar na ferida quando necessário; chamar os cônjuges a
responsabilidade da relação e não deixá-la apenas a Deus ou uma das
partes da relação. O caminho para o crescimento e libertação na vida
conjugal está nessa atitude. (OLIVEIRA & FLEURY, 2013, p.16)
20

Nesta afirmação de Oliveira & Fleury podemos ver também que, como resultado do
aconselhamento pastoral, o individuo é confrontado com a realidade e tem a liberdade de
fazer suas escolhas e decisões, levando ao nível de crescimento pessoal, conjugal e familiar.
Os resultados vão além da reconciliação entre o casal, o resgate de relacionamentos pessoais
e interpessoais como casal e familiar, mas podem se modelar e estreitar relacionamentos,
transformando o individuo a nível pessoal, ensinando-o a resolver seus conflitos.

Esses resultados são mais visíveis não somente quando acontece a reconciliação do
casal e familiar, mas quando depois desse primeiro momento de socorro e de conflitos,
ambos conseguem lidar consigo mesmo e com suas possíveis crises, e descobrem maneiras
de prevenir. Diante desses resultados de resoluções, reconciliações e crescimento, é gerado
um desejo de ajudar a outros nessa difícil, porém, maravilhosa tarefa de aconselhar
casais.Com isso, o resultado alcançado vai além do nível pessoal e familiar, pois reflete na
sociedade. Afinal é exatamente isso que buscamos: uma identidade em meio a esta
sociedade com valores corrompidos e comprometidos, onde podemos, em meio a isto, viver
conforme os padrões bíblicos e ter uma vida, igreja e sociedade saudáveis.

Cuidando dos que cuidam

Atualmente, é muito comum ver casais que venceram suas crises e cresceram
espiritualmente e em seus relacionamentos, desejarem fazer com que outros experimentem
o que viveram, e além de testemunhar o que viveram, passam a ajudar a outros também.

Esta última parte deste artigo diz respeito à categoria cuidado, em especial ao
cuidado daqueles que oferecem cuidado pastoral no contexto das instituições eclesiais,
sejam eles pastores e pastoras ordenados ou consagrados, ou até mesmo aqueles que são
considerados pastores / cuidadores leigos.

Roseli M. K. de Oliveira, em sua dissertação de Mestrado sobre o tema, apresenta a


seguinte reflexão

A questão do cuidado aos cuidadores tem sido objeto de estudos recentes,


na teologia, psicologia, medicina e outras profissões de ajuda. O ambiente
eclesiástico propicia que pastores e pastoras sejam considerados
cuidadores por excelência. Isto porque, no contato com a sociedade em
geral, os religiosos são muitas vezes procurados por pessoas ou famílias
em dificuldades, em busca de aconselhamento ou de consolo. Disto resulta
uma grande rede de apoio e faz do aconselhamento pastoral um dos
maiores sistemas de prevenção e atuação de saúde mental, gratuito e
21

acessível a todas as camadas da população. Mas, e os religiosos,


especificamente, pastores e pastoras evangélicos, como eles mesmos
lidam com estas situações?

Visões distorcidas e idealizadas da figura do pastor tem sido detectadas


junto às comunidades cristãs [...]. Neste sentido, pastores e pastoras por
vezes não são percebidos como pessoas, mas como semideuses, não
sujeito ao cansaço, enfermidades e irritações, entre outras mazelas. O
poder pastoral a que são expostos, as questões do tempo familiar e pessoal,
as demandas da comunidade religiosa na qual se inserem, podem gerar
estresse, visto que manter a imagem idealizada ou mostrar-se como ser
humano envolve tensão e ansiedade. (OLIVEIRA, 2004, p. 12)

Fica evidente, diante dessa reflexão, a necessidade de ampliar os estudos sobre esse
tema e, assim, poder oferecer possibilidades de cuidado àqueles que cuidam. Infelizmente,
nos dias de hoje, vemos na mídia casos de homens e mulheres de Deus que já ajudaram
tantas pessoas a restaurar casamentos e relacionamentos, e, de repente, estão envolvidos em
escândalos ou serem encontrados em depressão profunda. Muitos desses casos acontecem
por não assumirem e nem reconhecerem que precisam de ajuda.

Várias perguntas [..] tornaram-se pertinentes, tais como: quem cuida dos
pastores? Com quem eles podem desabafar e repartir os problemas? De
que forma é possível o cuidado dos pastores? Como as estruturas
denominacionais ou comunidades religiosas podem colaborar? Pode-se
pensar em cuidados preventivos, além dos terapêuticos, contra o estresse
e a exaustão? (OLIVEIRA, 2004, p. 13)

Perguntas como essas levantadas por Oliveira tem se tornado frequente nos
ambientes informais das comunidades de fé, em especial aquelas em que o número de
membros já não permite um cuidado mais próximo de seu pastor titular. Esse tipo de cuidado
tende a uma estafa emocional, espiritual e até mesmo física que é preciso ser bem
administrado, até mesmo para a revitalização, crescimento e bom andamento do corpo de
Cristo.

A frustração por não conseguir oferecer um cuidado pastoral que atenda a todas as
demandas da comunidade pode levar o pastor a um isolamento, desencadeando no orgulho
e vergonha de pedir ajuda. Collins alerta que

Haverá momentos em que você pode sentir necessidade de procurar um


conselheiro, mas esta pessoa pode ser difícil de achar. É duro e humilhante
admitir que “eu, um conselheiro, estou precisando de aconselhamento”.
Talvez você conheça todos os conselheiros em sua região, e pode não ser
fácil escolher um com quem possa se abrir. Algumas pessoas preferem
procurar alguém distante, mas talvez você queira discutir até mesmo esta
22

decisão com algum colega respeitável que esteja próximo. (COLLINS,


2004, p. 700)

Assim como alerta Collins, com certeza não é fácil admitir que o aconselhador
precisa de ajuda, até mesmo porque a imagem que as pessoas tem de um pastor/aconselhador
é que seja uma pessoa bem resolvida, que é inabalável e que sempre se resolve muito bem
e que não precisa de ajuda, muito menos de um aconselhador.

Um outro ponto que pode ser destacado é quando os sentimentos de raiva e frustração
são contidos e não expostos a alguém de confiança do pastor aconselhador que vão
somatizando e volta-se contra a própria pessoa, desenvolvendo em sintomas físicos ou até
mesmo em doenças psicossomáticas, como a depressão.

A depressão, que pode variar da melancolia e da distimia4, aos casos onde


é preciso intervenção médica psiquiátrica e internação em hospital
especializado, também atinge os cuidadores pastorais, e se apresenta de
várias formas, como o desleixo próprio e adoecimentos, até situações de
descuido à família ou ao trabalho na igreja. (OLIVEIRA, 2004, p. 84)

Diante dessas reflexões sobre os desencadeamentos dos sintomas que o aconselhador


pastoral está sujeito, como a depressão e suas formas de manifestar, percebemos que o tema
requer atenção não só das igrejas, mas das várias especialidades médicas, como a psicologia
e psiquiatria. Quanto às instituições eclesiais, estas precisam ter um olhar mais atento à
pessoa do cuidador. A atividade do aconselhador pressupõe o acompanhamento e
aconselhamento pastoral, da parte do pastor às pessoas da comunidade, mas e o contrário?
Cabe aqui uma reflexão sobre o assunto.

Considerações finais

Ao abordarmos o tema aconselhamento pastoral para casais, refletimos sobre as


várias mudanças que as famílias brasileiras vem sofrendo com a modernidade e a pós-
modernidade, e tivemos a oportunidade de reconhecer o aconselhamento pastoral como o
ofício mais especializado do cuidado ministerial e pastoral da igreja para os casais e famílias

4
Pode-se dizer que a distimia é uma depressão crônica, de moderada intensidade. É uma palavra que vem do
grego e significa mau humor. Durante séculos, serviu para caracterizar o sujeito mal humorado, irritadiço, de
personalidade complicada. Atualmente, o termo é empregado para designar um subtipo da depressão. Leia
mais em http://drauziovarella.com.br/letras/d/distimia-3/ acessado em 06/11/2016 às 23:25h.
23

em crise. Em se tratando de aconselhar casais, compreendemos que o aconselhador precisa


desenvolver habilidades específicas, além de cuidados especiais para realizar seu ofício.

Ao compreender os benefícios do aconselhamento para casais, foi possível


identificar quando a intervenção se faz necessária, através da identificação de problemas
conjugais e familiares. Foi possível compreender, também, a importância da comunicação
nos relacionamentos tanto para solucionar os conflitos como para evita-los.

Ao abordarmos as problemáticas vividas pelos casais e identificarmos situações


comuns nos relacionamentos conflituosos, foi possível compreender os reflexos que a
bagagem sócio-cultural que o indivíduo traz quando entra num relacionamento, somado às
mudanças vividas no ambiente externo, enfrentados por ambos, são fatores complexos e,
muitas vezes difíceis de serem ultrapassados para vencerem as crises conjugais.

Vale também destacar que, quando os indivíduos de alguma forma sofrem traumas,
toda a família é afetada. Através do aconselhamento pastoral, esses indivíduos tem a
oportunidade de expor suas feridas, decepções, e reconhecer sua parte na busca para
enfrentar os problemas e resolvê-los de maneira que lhes tragam crescimento.

A sensibilidade do aconselhador para contribuir numa intervenção é fator primordial


para identificar coisas que as partes muitas vezes omitem nos encontros de aconselhamento.
Por outro lado, o interventor precisa ter cuidado para não perder a confiança dos
aconselhandos. A criatividade e dinamicidade nas atividades realizadas com os casais pode
contribuir e promover o interesse aos aconselhandos para prosseguirem no processo de
aconselhamento.

Ao abordarmos os resultados do aconselhamento pastoral para a sociedade, foi


identificada uma realidade comprometida nas famílias quanto à falta de compreensão dos
princípios norteadores da relação familiar, bem como da sua relevância na formação do
indivíduo como um ser responsável. Porém, compreendemos que os princípios bíblicos são
claros quanto às orientações para a formação desse indivíduo como ser social. Recusá-los
e/ou ignorá-los traz implicações sérias nos ambientes em que este indivíduo está inserido.

Para os casais e suas famílias, um dos resultados mais importantes do


aconselhamento é justamente de promover o resgate nos relacionamentos entre os membros
desse núcleo familiar, através de uma comunicação efetiva. O aconselhador tem em si o
24

papel educativo ao ajudar os casais a desenvolverem habilidades contemporâneas de


comunicação e solução de conflitos.

Finalmente, trouxemos uma reflexão sobre o tema cuidado daqueles que oferecem
acompanhamento pastoral no contexto das instituições eclesiais, tema este que foi destacado
por Roseli M. K. de Oliveira em sua dissertação de mestrado5, que trabalhou a problemática
de cuidadores que se veem em situações de dificuldades mas que, por serem vistos muitas
vezes como semideuses, não tem coragem de buscar apoio e cuidado, mergulhando muitas
vezes no mar da depressão e do isolamento. Tema este bastante amplo e que merece uma
oportunidade de ser aprofundado, mas que este espaço não nos permite.

Cremos que o exposto até aqui mostra que o tema merece uma revisão detalhada e
profunda. Não há como esgotar o assunto, afinal, a pesquisa é dinâmica e um mesmo tema
pode ser estudado sob várias perspectivas. Que estas linhas sirvam como um impulso e
motivação para uma troca de ideias, preocupações e experiências no campo do
aconselhamento bíblico-pastoral para casais.

Referências bibliográficas

ADAMS, Jay E. Teologia do Aconselhamento Cristão. Eusébio/CE: Peregrino, 2016.


ATIENCIA, Jorge. Pessoa, casal e família. In: MALDONADO, Jorge (Ed.). Casamento e
Família: uma abordagem bíblica e teológica. Viçosa: Ultimato, 2003, p. 32-46.
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª ed. Barueri:
Sociedade Bíblica do Brasil, 2993. Edição Revista e Atualizada no Brasil.
BREPOHL, Margareth. Casamento: problema e mistério. In: MALDONADO, Jorge (Ed.).
Casamento e Família: uma abordagem bíblica e teológica. Viçosa: Ultimato, 2003, p. 113-
120.
CARDOSO, Amauri M. Uma visão psicoteológica da família. In: MALDONADO, Jorge
(Ed.). Casamento e Família: uma abordagem bíblica e teológica. Viçosa: Ultimato, 2003,
p.93-111.
CASTRO, Edson Farias de. Aconselhamento em Psicologia Pastoral. [s.d.]
CLINEBELL JR, Howard J. Aconselhamento Pastoral. São Paulo: Paulinas, 2011.

5
Para se aprofundar no assunto cuidado aos cuidadores, leia a Dissertação de Mestrado de Roseli Margareta
Kuhnrich de Oliveira, Cuidando de quem cuida: Propostas de poimênica aos pastores e pastoras no contexto
de igrejas evangélicas brasileiras. São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, 2004.
25

COLLINS, Gary R. Aconselhamento Cristão: edição século 21. Tradução Lúcia Marques
Pereira da Silva. São Paulo: Vida Nova, 2004.
CRABB, Larry. Conexão. São Paulo: Mundo Cristão, 1999.
FRIESEN, Albert. Cuidando do Casamento. Curitiba: Esperança, 2004.
JAGNOW, Dieter J. O Diálogo Pastoral: princípios de comunicação no aconselhamento
cristão. Porto Alegre: Concórdia, 2003.
MALDONADO, Jorge E. Casamento e Família: uma abordagem bíblica e teológica.
Viçosa: Ultimato, 2003.
MOREIRA, Márcio B.; MEDEIROS, Carlos A. Princípios básicos de análise do
comportamento. Porto Alegre: ArtMed, 2007.
OATES, Wayne E. An introduction to pastoral counseling. Baptist Sunday School.
Nashville: Broadman, 1959.
OLIVEIRA, Márcio D.; FLEURY, Kleyson. Aconselhamento Pastoral: uma proposta de
acompanhamento, enriquecimento e cura a casais em crise. Vox FAIFE: Revista de Teologia
da Faculdade FAIFA. Vol. 5, nº 1 (2013) ISSN 2176-898
OLIVEIRA, Roseli M. K. Cuidando de quem cuida: propostas de poimênica aos pastores e
pastoras no contexto de igrejas evangélicas brasileiras. São Leopoldo: Escola Superior de
Teologia, 2004.
SCHIPANI, Daniel S. O caminho da sabedoria no aconselhamento pastoral. Tradução de
Paul Tornquist. São Leopoldo/RS: Sinodal, 2004.
SCHNEIDER-HARPPRECHT & STRECK. Christoph, Valburga S. Aconselhamento
Pastoral da Família – uma proposta sistêmica. Estudos Teológicos, 34(2): 184-198, 1994.
SZENTMARTONI, Mihály. Caminhar Juntos – Psicologia Pastoral. Tradução: Anna Maria
Pareschi Capovilla. São Paulo: Loyola, 2006.

You might also like