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Resumo
O artigo apresenta uma reflexão sobre o aconselhamento pastoral para casais,
analisando seu papel e principais objetivos em situações em que a intervenção se faz
necessária. Analisa-se problemas e situações comuns nos relacionamentos conjugais e
familiares, situações recorrentes e específicas, bem como as formas de intervenção para
ajudar nessas situações de conflitos. O texto convida a uma leitura realista das famílias, em
especial as famílias brasileiras, e os impactos da pós-modernidade em seu formato e seu
papel nas comunidades de fé e na sociedade. Apresenta os resultados que o aconselhamento
pastoral oferece para o casal e sua família numa perspectiva bíblico-cristã. Por último, traz
uma reflexão sobre a importância de se oferecer cuidado pastoral para aqueles que estão
envolvidos no cuidado de outros casais.
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Mestranda em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Bacharel em Teologia pela
Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo. Artigo aprovado em 03.11.2016 na disciplina Trabalho
de Conclusão de Curso com vistas à obtenção de grau de Bacharel em Teologia, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos
Aurélio da Silva.
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Graduada em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo. Trabalho de Conclusão de
Curso com vistas à obtenção de grau de Bacharel em Teologia, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos Aurélio da Silva.
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Introdução
O presente trabalho tem por objetivo trazer uma reflexão sobre o aconselhamento
pastoral para casais numa perspectiva bíblico-cristã. Compreender seus reflexos nas famílias
brasileiras, abordando a forma como o aconselhamento e acompanhamento pastoral podem
auxiliar na saúde dos relacionamentos matrimoniais e também o cuidado pessoal com cada
membro da família.
Esta pesquisa se origina da compreensão de que a família é um sistema aberto em
constante transformação e, por ser o núcleo mais antigo das instituições e sua estrutura ter
sido criada com o propósito de manutenção da vida, vem lutando contra os reflexos da pós-
modernidade para sobreviver e não desaparecer.
O tema deste estudo merece reflexão porque reconhecemos que as crises familiares
e a falta de identidade, principalmente dentro da família, tem contribuído para o
agravamento dos desajustes pessoais com reflexos direto na família. Casos como depressão,
baixa autoestima, síndromes, surtos psicóticos, suicídios, violências domésticas e até
mesmo fora do ambiente doméstico tem sido recorrente.
Assim, nosso objetivo com este estudo é contribuir para resolução de problemas
matrimoniais levando em consideração os problemas individuais dos membros da família,
reconhecendo que é um processo educativo onde o aconselhamento e acompanhamento
fazem toda a diferença.
Dessa forma, cada membro tem a oportunidade de fazer as mudanças necessárias de
comportamento para o bem-estar no contexto da família, além da oportunidade de entregar-
se completamente ao amor cuidadoso de Deus, através de um relacionamento íntimo e
pessoal.
Para tanto, o texto que se segue está organizado em três seções. A primeira delas,
conhecendo o aconselhamento pastoral para casais, concentra-se em compreender os
desafios que os casais e suas famílias vem enfrentando ao longo dos anos com os novos
modelos familiares institucionalizados e suas implicações nos relacionamentos, o papel do
aconselhamento pastoral e seus objetivos diante de situações de conflito, a importância de
desenvolver a comunicação no processo de intervenção e busca de soluções.
A segunda seção, problemas e situações comuns no relacionamento conjugal e
familiar, traz uma abordagem mais específica quanto às situações recorrentes e comuns que
tem gerado esses desajustes, a forma como o aconselhador pode contribuir através de sua
intervenção, tendo como padrão final no processo de aconselhamento a Bíblia Sagrada.
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Essa nova configuração tem surgido nas famílias modernas, e os indivíduos que
compõem esses novos núcleos enfrentam uma crise de identidade e, por consequência, uma
crise familiar, onde já não se consegue definir e/ou identificar qual o papel de cada membro
dentro desse ambiente. Essa crise familiar tem contribuido para o agravamento dos
desajustes pessoais que refletem nas famílias. Casos como depressão, baixa autoestima,
síndromes (de pânico, bulimia, anorexia, etc.), surtos psicóticos, suicídos, violências
domésticas e até mesmo fora do ambiente doméstico tem sido recorrente.
Diante dessa demanda cada vez mais crescente pelo aconselhamento pastoral,
reconhecemos que as igrejas cristãs precisam capacitar seu corpo eclesiástico, seja esta
protestante ou católica. O cristão, enquanto líder levantado e atendendo ao chamado de Deus
para o cuidado com pessoas, se vê diante de problemáticas de toda ordem, que lhe confronta
com a necessidade de ouvir atentamente e, por vezes, aconselhar àqueles que reconhecem
nele a possibilidade de resolver os problemas que estão enfrentando, especialmente assuntos
de ordem espirituais e emocionais.
Maldonado diz que: “cada nova geração tem o dever de retomar os textos bíblicos
procurando descobrir como aplicar os princípios neles contidos à realidade contemporânea”.
(MALDONADO, 2003, p. 8)
Ainda conforme Adams, “sempre que as pessoas tentam viver suas vidas de modo
independente [...] acabam por falhar miseravelmente. [...] Elas não somente falham
inevitavelmente no decurso do tempo [...], mas suas falhas resultam em misérias para si
mesmas e para os que a cercam”. (ADAMS, 2016, p. 16)
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Poimênica: do grego “poimen”, que significa “pastor”. Tem a ver com o trabalho pastoral de um modo geral.
O ministério de ajuda da comunidade cristã para os seus membros e para outras pessoas que a procuram na
área da saúde através da convivência diária no contexto da igreja.
(http://www.dicionarioinformal.com.br/significado/poim%C3%AAnica/5446/, acessado em 03/10/2016 as
10:35h)
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Mas, apesar de sabermos que existem casamentos felizes e crer que isso é possível,
Quando o Senhor estabelece que “serão os dois uma só carne” (Gn 2.24),
não decreta nenhuma escravidão, como alguns afirmam hoje, mas o
contrário. A indissolubilidade é uma demonstração do amor do Criador
por suas criaturas, proporcionando-lhes a oportunidade de realizar-se
plenamente e ser felizes. Além disso, é importante destacar que a união
matrimonial marca ambos os cônjuges para toda a vida. O amor mútuo, a
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Collins afirma que “a intervenção nos momentos de crise geralmente é uma boa
oportunidade para trabalhar com as famílias, ajudando-as a lidar com os problemas que estão
enfrentando e, também, a evitar métodos de solução de problemas que são destrutivos a
longo prazo”. (COLLINS, 2004, p. 489)
Muitos não tem aberto seus relacionamentos para o diálogo, sendo que a
comunicação é a chave para um relacionamento saudável, pois é um momento de troca.
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O corpo humano fala, através de olhares, gestos, expressões faciais e até mesmo pelo
silêncio. O ser humano traz dentro de si padrões de reações diante de situações de confronto
e conflito, e acabam por reproduzir em seus relacionamentos. Muitos não conseguem expor
seus sentimentos de forma clara, objetiva e sincera.
A comunicação, ou a falta dela, tem se tornado uma arma poderosa para destruir os
relacionamentos, principalmente os familiares. Especialmente nessa era tecnológica, muitos
casais tem perdido o hábito de se comunicar e relacionar. Os membros das famílias tem se
perdido dentro da suas casas, cada um no seu mundo virtual, e a única maneira de se
comunicar e se relacionar é com a tela de seus produtos eletrônicos, perdendo o aprendizado
e seus valores, e dando espaço para a destruição dos relacionamentos pessoais e familiares.
Reconhecemos que as pessoas são diferentes umas das outras, com criações, manias,
culturas e, em meio a essas diferenças, elas decidem viver juntas e no mesmo lugar. Sabemos
que relacionamento não é algo fácil, principalmente quando se trata do relacionamento
conjugal e familiar. Nesse momento já se pode iniciar grandes conflitos se um não estiver
disposto a compreender o outro.
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Como já dito na primeira parte deste artigo, a sociedade na qual estamos inseridos
pouco nos ajuda a vivenciar um relacionamento saudável, principalmente com a nova
formatação familiar que não condiz com o que a Bíblia nos ensina, acarretando muitas
indisciplinas e desavenças no âmbito familiar que hoje já se encontra corrompido.
O que se vê é que, além da bagagem sócio-cultural que o indivíduo traz quando entra
num relacionamento matrimonial, soma com esses os problemas externos que são fatores
talvez mais complexos e difíceis de vivenciar, romper e vencer. Oliveira & Fleury, citando
Diniz-Neto & Feres-Carneiro, apresentam outros fatores que tem contribuido para os
desajustes nos relacionamentos
Nesse sentido, percebemos que os pastores são aconselhadores naturais devido à sua
posição e seu papel na vida de sua comunidade de fé, pois dispõem de acesso frequente e
natural a muitos núcleos familiares. Aos olhos das pessoas que estão sofrendo com alguma
situação, a imagem e a identidade do pastor representa apoio e nutrição, além da
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É sabido que um conflito conjugal normalmente sinaliza questões mais sérias, como
problemas de comunicação, sentimentos de inferioridade, pecados ocultos, egoísmo,
dificuldade de liberar perdão, ansiedade, vícios, raiva, amargura, e até falta de amor.
Tensões interpessoais, como inflexibilidade, princípios e valores, dinheiro, sexo,
interferências externas de parentes ou pessoas próximas, divergências nos papeis e até
mesmo religião, são fatores que podem contribuir para os conflitos no casamento, e são
pontos que precisam ser trabalhados de forma minuciosa no aconselhamento pastoral, por
serem recorrentes nos relacionamentos.
Infelizmente, nos tempos atuais, poucos são os casais que ao enfrentar uma crise
conjugal pedem ajuda. É mais fácil separar do que resolver questões que causam dor,
desconforto e sofrimento. Mas iniciar um novo relacionamento sem resolver o anterior é
perigoso, pois a bagagem emocional das feridas e decepções vão acompanhá-lo.
Essa afirmação de Collins é para nós um ponto de partida, visto que a crise, num
primeiro momento, parece um acidente, onde é necessário um resgate imediato, mas na
verdade, aponta para algo que foi sinalizado anteriormente e não foi dada a devida atenção.
Nesse caso, a intervenção é uma maneira de amenizar um turbilhão para que se possa tratar
o mal pela raiz e orientar, fazendo refletir ambas as partes, auxiliando para que possam
chegar a solução e satisfação pessoal e conjugal, segundo os princípios bíblicos, como um
processo terapêutico.
É importante que o interventor tenha habilidade e seja sensível para agir no tempo
certo ou até mesmo rapidamente, dependendo da situação. A sensibilidade do aconselhador
para intervir é o fator primordial, pois a sensibilidade auxilia na identificação de coisas que
as partes provavelmente estejam escondendo, situações graves e perigosas, o fator
motivador e a raiz do problema, a solução, como vai ser esse aconselhamento, se vai ser a
curto ou longo prazo.
É necessário cuidado para que não perca a confiança dos aconselhandos, passando
confiança e interesse pelo assunto, e principalmente, muito cuidado para não tomar partido
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ou se envolver, de tal maneira que leve para o lado pessoal, deixando influenciar na sua vida
secular.
É necessário estar atento para que o casal não desanime. Em situações como essa,
Oliveira & Fleury também destacam que
[...] o pastor ou a pastora que se dispõe a tarefa de acompanhar casais em
momentos de crises precisa ter cuidado com os gestos, atitudes, olhares,
falas etc. Qualquer realidade que indique não engajamento ou
acolhimento, pode determinar também a falta de motivação e até o
fracasso do programa. (OLIVEIRA & FLEURY, 2013, p. 18)
O aconselhamento também deve ser de maneira dinâmica, para que haja interesse
das partes, para isso há várias formas de fazer do aconselhamento um processo eficaz e
prazeroso. Por exemplo, pode-se, além do acompanhamento terapêutico, sugerir e fazer uso
de literaturas, filmes, dinâmicas, material lúdico, grupos de apoio e tudo aquilo que a
imaginação do aconselhador possa trazer como ferramenta para auxiliar nesse processo de
aconselhamento.
É importante ser criativo, porém, sempre atento para identificar em cada caso
específico a maneira e ferramenta específica, respeitando a seriedade de toda a questão
envolvida. Cada caso é diferente do outro, então, a intervenção acontece da mesma forma.
Não se pode esquecer que a intervenção deve promover interesse aos aconselhandos para
prosseguirem fielmente no processo de aconselhamento.
Sabemos que Deus tem propósito em tudo que nos acontece, apesar de nem sempre
conseguirmos encontrar respostas para determinadas situações que vivenciamos. Por outro
lado, temos a oportunidade de aprender e crescer quando enfrentamos situações de tensão
ou crises específicas.
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E o aconselhamento pastoral que utiliza a Bíblia como base para este cuidado, tem
em si uma importante ferramenta para orientar os casais e famílias nos princípios divinos e
na busca por uma espiritualidade transformadora. Como diz Collins, “o cerne de toda a
assistência genuinamente cristã, seja ela pública ou particular, é a influência do Espírito
Santo. Na verdade, o que torna o aconselhamento cristão realmente único é justamente a
influência e a presença do Espírito” (COLLINS, 2004, p. 21).
Como vem sendo apresentado neste artigo, as famílias tem tomado diferentes formas
e sofrido muitas mudanças através do tempo e das influências sócioculturais. Porém, jamais
desapareceu. Em meio a tantas mudanças, desajustes e desafios e tendo o divórcio muitas
vezes como saída, ainda assim as pessoas continuam se casando e tendo filhos. E, ao
afirmarmos que família é projeto de Deus, podemos garantir e assegurar sua permanência.
Jorge Atiencia, em seu artigo intitulado “Pessoa, casal e família”, esclarece que,
quando o indivíduo compreende a estrutura famíliar e seus fins, terá papel decisivo “no
desenvolvimento de seus membros” (ATIENCIA, 2003, p. 41). E complementa
Esta afirmação de Atiencia nos mostra o quanto a realidade atual está comprometida
diante da falta de compreensão desses princípios norteadores da relação familiar e da sua
relevância na formação do indivíduo como um ser responsável e capaz. Os princípios
bíblicos são claros quanto às orientações na formação desse indivíduo para habilitá-lo a
viver em comunidade, a servir ao próximo e também ao mundo. Ignorá-los traz implicações
sérias nos ambientes em que este indivíduo está inserido.
Na base da família está o casal e o seu delicado relacionamento. Não se pode ignorá-
lo. Parece-nos, então, de extrema importância hoje, diante desse cenário de desajustes no
ambiente familiar, o papel do aconselhador cristão como um conhecedor desses marcos de
referência familiares, de entrar em contato com essas raízes de problemas para orientar e
conduzir os casais e familiares na busca por alcançar o padrão que Deus estabeleceu.
pessoal. Podemos ver que há uma troca de valores relacionais, pois hoje, o relacionamento
pessoal e interpessoal se limita às redes sociais.
[...] o papel dos pastores como educadores lhes possibita ensinar intuições
de nossa tradição religiosa que fomentam o relacionamento assim como
habilidades contemporâneas de comunicação e solução de conflitos.
Semelhante ensinamento pode contribuir para a prevenção de problemas
familiares. Pode também lançar sementes que eventualmente darão fruto
em oportunidades de aconselhamento quando surgem crises na família.
(CLINEBELL, 2011, p. 236)
Nesta afirmação de Oliveira & Fleury podemos ver também que, como resultado do
aconselhamento pastoral, o individuo é confrontado com a realidade e tem a liberdade de
fazer suas escolhas e decisões, levando ao nível de crescimento pessoal, conjugal e familiar.
Os resultados vão além da reconciliação entre o casal, o resgate de relacionamentos pessoais
e interpessoais como casal e familiar, mas podem se modelar e estreitar relacionamentos,
transformando o individuo a nível pessoal, ensinando-o a resolver seus conflitos.
Esses resultados são mais visíveis não somente quando acontece a reconciliação do
casal e familiar, mas quando depois desse primeiro momento de socorro e de conflitos,
ambos conseguem lidar consigo mesmo e com suas possíveis crises, e descobrem maneiras
de prevenir. Diante desses resultados de resoluções, reconciliações e crescimento, é gerado
um desejo de ajudar a outros nessa difícil, porém, maravilhosa tarefa de aconselhar
casais.Com isso, o resultado alcançado vai além do nível pessoal e familiar, pois reflete na
sociedade. Afinal é exatamente isso que buscamos: uma identidade em meio a esta
sociedade com valores corrompidos e comprometidos, onde podemos, em meio a isto, viver
conforme os padrões bíblicos e ter uma vida, igreja e sociedade saudáveis.
Atualmente, é muito comum ver casais que venceram suas crises e cresceram
espiritualmente e em seus relacionamentos, desejarem fazer com que outros experimentem
o que viveram, e além de testemunhar o que viveram, passam a ajudar a outros também.
Esta última parte deste artigo diz respeito à categoria cuidado, em especial ao
cuidado daqueles que oferecem cuidado pastoral no contexto das instituições eclesiais,
sejam eles pastores e pastoras ordenados ou consagrados, ou até mesmo aqueles que são
considerados pastores / cuidadores leigos.
Fica evidente, diante dessa reflexão, a necessidade de ampliar os estudos sobre esse
tema e, assim, poder oferecer possibilidades de cuidado àqueles que cuidam. Infelizmente,
nos dias de hoje, vemos na mídia casos de homens e mulheres de Deus que já ajudaram
tantas pessoas a restaurar casamentos e relacionamentos, e, de repente, estão envolvidos em
escândalos ou serem encontrados em depressão profunda. Muitos desses casos acontecem
por não assumirem e nem reconhecerem que precisam de ajuda.
Várias perguntas [..] tornaram-se pertinentes, tais como: quem cuida dos
pastores? Com quem eles podem desabafar e repartir os problemas? De
que forma é possível o cuidado dos pastores? Como as estruturas
denominacionais ou comunidades religiosas podem colaborar? Pode-se
pensar em cuidados preventivos, além dos terapêuticos, contra o estresse
e a exaustão? (OLIVEIRA, 2004, p. 13)
Perguntas como essas levantadas por Oliveira tem se tornado frequente nos
ambientes informais das comunidades de fé, em especial aquelas em que o número de
membros já não permite um cuidado mais próximo de seu pastor titular. Esse tipo de cuidado
tende a uma estafa emocional, espiritual e até mesmo física que é preciso ser bem
administrado, até mesmo para a revitalização, crescimento e bom andamento do corpo de
Cristo.
A frustração por não conseguir oferecer um cuidado pastoral que atenda a todas as
demandas da comunidade pode levar o pastor a um isolamento, desencadeando no orgulho
e vergonha de pedir ajuda. Collins alerta que
Assim como alerta Collins, com certeza não é fácil admitir que o aconselhador
precisa de ajuda, até mesmo porque a imagem que as pessoas tem de um pastor/aconselhador
é que seja uma pessoa bem resolvida, que é inabalável e que sempre se resolve muito bem
e que não precisa de ajuda, muito menos de um aconselhador.
Um outro ponto que pode ser destacado é quando os sentimentos de raiva e frustração
são contidos e não expostos a alguém de confiança do pastor aconselhador que vão
somatizando e volta-se contra a própria pessoa, desenvolvendo em sintomas físicos ou até
mesmo em doenças psicossomáticas, como a depressão.
Considerações finais
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Pode-se dizer que a distimia é uma depressão crônica, de moderada intensidade. É uma palavra que vem do
grego e significa mau humor. Durante séculos, serviu para caracterizar o sujeito mal humorado, irritadiço, de
personalidade complicada. Atualmente, o termo é empregado para designar um subtipo da depressão. Leia
mais em http://drauziovarella.com.br/letras/d/distimia-3/ acessado em 06/11/2016 às 23:25h.
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Vale também destacar que, quando os indivíduos de alguma forma sofrem traumas,
toda a família é afetada. Através do aconselhamento pastoral, esses indivíduos tem a
oportunidade de expor suas feridas, decepções, e reconhecer sua parte na busca para
enfrentar os problemas e resolvê-los de maneira que lhes tragam crescimento.
Finalmente, trouxemos uma reflexão sobre o tema cuidado daqueles que oferecem
acompanhamento pastoral no contexto das instituições eclesiais, tema este que foi destacado
por Roseli M. K. de Oliveira em sua dissertação de mestrado5, que trabalhou a problemática
de cuidadores que se veem em situações de dificuldades mas que, por serem vistos muitas
vezes como semideuses, não tem coragem de buscar apoio e cuidado, mergulhando muitas
vezes no mar da depressão e do isolamento. Tema este bastante amplo e que merece uma
oportunidade de ser aprofundado, mas que este espaço não nos permite.
Cremos que o exposto até aqui mostra que o tema merece uma revisão detalhada e
profunda. Não há como esgotar o assunto, afinal, a pesquisa é dinâmica e um mesmo tema
pode ser estudado sob várias perspectivas. Que estas linhas sirvam como um impulso e
motivação para uma troca de ideias, preocupações e experiências no campo do
aconselhamento bíblico-pastoral para casais.
Referências bibliográficas
5
Para se aprofundar no assunto cuidado aos cuidadores, leia a Dissertação de Mestrado de Roseli Margareta
Kuhnrich de Oliveira, Cuidando de quem cuida: Propostas de poimênica aos pastores e pastoras no contexto
de igrejas evangélicas brasileiras. São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, 2004.
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