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Resumo Consolidado Edital Humanística 187 (Versão Final)
Resumo Consolidado Edital Humanística 187 (Versão Final)
Sumário
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Resumo do edital de humanística – TJSP 187 – Grupo TJSP 2017
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Resumo do edital de humanística – TJSP 187 – Grupo TJSP 2017
c) Platão. ............................................................................................................... 87
d) Aristóteles. ........................................................................................................ 89
2) Filosofia de direito medieval. ................................................................................ 94
a) Dos antigos medievais. ..................................................................................... 94
b) O Cristianismo.................................................................................................. 95
c) Paulo de Tarso .................................................................................................. 97
d) Santo Agostinho. .............................................................................................. 97
e) São Tomas de Aquino. ..................................................................................... 99
3) Filosofia de direito moderna. .............................................................................. 102
a) Thomas Hobbes. ............................................................................................. 107
b) Jonh Locke. .................................................................................................... 109
c) Jean-Jacques Rousseau. .................................................................................. 110
d) Kant. ............................................................................................................... 114
e) Jeremy Bentham. ............................................................................................ 122
4) Filosofia do direito contemporânea. .................................................................. 128
a) Os três caminhos filosofia do direito contemporânea. ................................... 128
b) Filosofia do direito juspositivista. .................................................................. 136
c) Filosofia do direito não juspositivista. ........................................................... 160
d) Filosofia do direito crítica. ............................................................................. 193
E) TEORIA GERAL DO DIREITO E DA POLÍTICA ....................................... 217
1) O conceito analógico de direito. ......................................................................... 217
2) Pessoa. Pessoa jurídica. Direito subjetivo. ........................................................ 219
a) Pessoa natural. ................................................................................................ 219
b) Pessoa jurídica. ............................................................................................... 221
c) Direito subjetivo. ............................................................................................ 222
3) Realismo jurídico. ................................................................................................ 224
4) Direito e poder. .................................................................................................... 225
5) Legitimidade e legalidade. .................................................................................. 228
6) Direitos fundamentais, direitos humanos e direito natural. ............................ 230
a) Direitos fundamentais..................................................................................... 230
b) Direitos humanos. ........................................................................................... 233
c) Direito natural................................................................................................. 234
7) A Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU). ................................ 235
8) Sistema internacional de proteção dos Direitos Humanos. ............................. 235
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A) SOCIOLOGIA DO DIREITO.
1) A pré-sociologia do direito1.
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fora dela. Daí que para Platão não existe homem justo em uma sociedade injusta, pois em
sendo esta injusta, todos os seus indivíduos também o serão.
Nesse contexto, os modernos criam a teoria do contrato social para afirmar
a supremacia do indivíduo sobre a sociedade. Já para os gregos, há um vínculo
indissolúvel entre os indivíduos e a sociedade.
O principal motivo da reprovação ao pensamento de Platão pela modernidade
(capitalismo) reside na sua compreensão social, molecular, “dando primazia ao todo em
relação à parte”, porque, no limite, essa visão “poderá contribuir para dizer que o
interesse de todos está acima do interesse de alguns indivíduos capitalistas”. Mas essa
visão é muito original: “pode-se vislumbrar nela a própria origem da sociologia, que é a
explicação da sociedade a partir dela mesma”.
b) Aristóteles.
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c) Os medievais.
“Os gregos foram a base da explicação social dos romanos durante a maior
parte de sua história”, só vindo a ser abandonados com a chegada do cristianismo, que
inaugurou uma nova fase da pré-sociologia. Ressalte-se que o cristianismo não é
necessariamente a extensão do pensamento e atos de Jesus Cristo, mas do que os cristãos
fizeram posteriormente: “Tanto que, em vez de beberem na explicação evangélica, os
cristãos explicarão o mundo e a sociedade principalmente por meio do Antigo
Testamento ou dos textos de Paulo de Tarso (...)”.
Como o cristianismo explica as mazelas e benesses sociais a partir da vontade
de Deus, ele “esvaziou a possibilidade da afirmação autônoma tanto da filosofia quanto
da sociologia”, porque não mais atribuíveis ao homem. “A pré-sociologia empobreceu-
se”.
No início da Idade Média, Santo Agostinho se destaca como o mais
importante pensador da cristandade, trabalhando a partir de uma distinção entre o mundo
de Deus (Céu) e o dos homens (Terra). Esta é eivada de vícios em decorrência do pecado
original, o que demonstra o individualismo do seu pensamento: “Sendo os indivíduos
necessariamente pecadores por causa de Adão e Eva, a sociedade resultará pecadora
também. (...) Somente a salvação pode levar o homem à justiça e à virtude”.
Nota-se, portanto, que “a pré-sociologia medieval é profundamente
metafísica, isto é, afastada dos vínculos reais da sociedade (...)”.
A filosofia de Santo Agostinho foi a base da Igreja até a chegada de São
Tomas de Aquino, já no final de Idade Média. Aquino “reincorpora elementos que
expliquem a vida social a partir da ação dos próprios homens (...) legitimando a
possibilidade de ação justa na sociedade, porque o homem não se salvaria apenas pela
fé, mas também pelas obras”. Por isso que há, no final da Idade Média, um resgate e uma
legitimação de alguns elementos da pré-sociologia clássica. “Mas isso não faz com que o
pensamento tomista explique a sociedade a partir dela mesma. Deus é a explicação
última da existência”, inclusive do poder dos soberanos absolutistas.
“A teologia medieval, com algumas alterações, também continuou na Idade
Moderna”, mas o “Renascimento trouxe à tona uma tentativa de explicação social mais
coerente, porque vinculada à própria realidade”. Por outro lado, ele “é apenas um feliz
interregno entre a metafísica medieval e a metafísica moderna. Porque, logo nos
primeiros séculos da Idade Moderna, começou a metafísica burguesa”.
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Da teologia à razão.
d) O Absolutismo.
e) O Iluminismo.
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Para acabar com o Absolutismo, a burguesia deve acabar com o próprio poder
absoluto do rei, bem como com a ideia teológica que fundamenta esse poder: é a luz da
razão (daí o nome Iluminismo) que extinguirá as trevas do Absolutismo.
A razão apregoada pelos iluministas não é cultural ou adquirida pela
convivência na sociedade, mas estática, eterna, repousando em cada indivíduo.
É uma razão, portanto, individualista. E assim foi concebida para se afastar a
ideia tradicional dos clássicos gregos de que, sendo a razão produto do homem em
sociedade, seus preceitos seriam passíveis de evolução, transformando-se conforme a
história. A burguesia não queria isso: “a razão deveria ser eternamente a razão burguesa,
e nunca mudar”. A burguesia não queria permitir que no futuro uma nova razão alterasse
os princípios que no presente lhe eram úteis. Assim, defendia que “a razão e a justiça têm
por medida o indivíduo, não tomado socialmente, mas de modo isolado”.
Nesse sentido, o discurso da burguesia “quer atentar apenas para um abstrato
interesse dos indivíduos, e não para o interesse da sociedade em geral”. Note-se que a
burguesia evita explicar a sociedade a partir dela mesma para impedir sua crítica caso ela
fosse injusta: “a explicação a respeito da sociedade deve ser tão crítica que consiga
destruir o Absolutismo, mas não tão crítica que no futuro destrua o próprio interesse
burguês e do capitalismo”.
Em resumo, sucederam-se 3 explicações pré-sociológicas do direito: (i) os
clássicos, a partir da sociedade; (ii) os medievais, a partir de Deus; e (iii) os modernos
(iluministas/burgueses), a partir do individualismo e do contrato social.
f) O contratualismo.
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Para rebater essas críticas, os iluministas dirão que “o contrato social é uma
ficção, (...) porque [a sociedade] surge depois dos indivíduos, apenas pela vontade
destes”. Para essa teoria, antes da sociedade, os indivíduos viviam no estado de natureza,
substituído pela sociedade por meio do contrato social2.
Assim, se o estado natural é o indivíduo e a sociedade uma criação artificial,
“os valores maiores a serem protegidos são os do indivíduo, e não os sociais. Da mesma
forma, o Estado tem sua razão de ser apenas na garantia que dará aos interesses
individuais”. Como o Absolutismo não respaldava a liberdade do indivíduo burguês, era
ele injusto.
Note-se que a lógica iluminista inverte a lógica medieval e absolutista em
relação à vida social: para esta tem-se Deus → Estado → sociedade → indivíduo; para
aquela, indivíduo → sociedade civil → Estado (sociedade política). No entanto, ambas
as visões são pré-sociológicas, porque não explicam a sociedade por ela mesma.
A segmentação da vida social da forma como feita pelos iluministas em 3
esferas, i.e., em indivíduo, sociedade civil e sociedade política é extremamente
interessante à burguesia, “porque legitima o individualismo e, ao mesmo tempo, confina
a política num campo muito estrito e reduzido da ação social”.
A teoria do contrato social estará presente em todos os principais teóricos:
Hobbes, Locke, Kant e Rousseau. Por outro lado, em cada qual ela se prestará a interesses
e se fundará em explicações diversas: (i) Hobbes a usará para justificar o poder absolutista
(enquanto os demais a utilizarão para combatê-lo); (ii) em Locke e Kant “fica explícito o
caráter capitalista da teoria do contrato social”; e (iii) Rousseau a aproveitará para
justificar a defesa da liberdade do indivíduo, mas de maneira característica (é o pensador
que apresentará a teoria social mais rica).
“A proposta de contrato social de Rousseau não é descritiva, mas
propositiva. O indivíduo deve viver livre, e por isso não pode encontrar, na figura do
Estado, um terceiro que lhe seja diferente. Ao inverso, o indivíduo deve encontrar no
Estado a concretização de seu próprio interesse e do interesse de todos”.
Nota-se, assim, um conceito muito peculiar a Rousseau: a vontade geral,
segundo a qual sociedade e Estado não podem expressar a vontade e o interesse apenas
do soberano ou da burguesia, mas de todos. Por isso, “Rousseau, mais que liberal, é
2 Todavia, para Mascaro, “de duas uma: ou o contrato social é apregoado como se fosse uma realidade, e então se
trata de uma postulação pueril, ou é apregoado como uma ficção, uma mentira útil, e então se trata de uma
explicação ignominiosa”.
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• Para Hobbes, somente o Estado pode apaziguar os conflitos entre os homens, maus
por natureza. Ele funda o poder do soberano absolutista não em Deus (como seus
antecessores), mas no contrato social.
• O Absolutismo foi útil à burguesia porque quebrou o isolamento dos feudos,
fomentando a atividade mercantil. Mas depois se tornou prejudicial, pois o soberano
concedia privilégios somente à nobreza. Daí o advento do Iluminismo para combater
o Absolutismo.
• A razão defendida pelos iluministas é estática e eterna, repousando sobre cada
indivíduo tomado não socialmente, mas de modo isolado, para impedir que uma nova
razão viesse a alterar os princípios que lhe eram úteis, bem como para evitar uma
crítica à sociedade caso ela fosse injusta.
• Mapa da explicação pré-sociológica do direito: (i) os clássicos, a partir da
sociedade; (ii) os medievais, a partir de Deus; e (iii) os modernos
(iluministas/burgueses), a partir do individualismo e do contrato social.
• O contratualismo foi desenvolvido para sustentar as ideias e valores da burguesia.
• O homem seria um animal individual por natureza, tendo optado por viver em
sociedade, de modo que esta é artificial, resultante de um contrato.
✓ Crítica de Mascaro: a teoria de Aristóteles é mais acertada, porque os homens são
sociais por natureza (e não por opção), e somente poderia haver contrato social depois
do advento de uma linguagem comum, o que, por sua vez, demandaria a existência
prévia de uma sociedade.
• Os contratualistas rebatem as críticas afirmando que o contrato social é uma ficção
criada para tirar o homem do estado de natureza e inseri-lo na sociedade.
• Sendo o homem naturalmente individual e a sociedade uma criação artificial, o
contratualismo defende a proteção dos valores dos indivíduos, e não os da sociedade.
Assim, a função do Estado é a proteção desses interesses individuais (daí a injustiça
do Estado Absolutista, que não protegia tais interesses).
• A lógica iluminista inverte a medieval e absolutista (mas ambas são pré-
sociológicas, porque não explicam a sociedade a partir dela mesma).
✓ Medieval e absolutista: Deus → Estado → sociedade → indivíduo
✓ Iluminista: indivíduo → sociedade civil → Estado (sociedade política)
• Essa lógica iluminista interessa à burguesia vez que legitima o individualismo e
confina a política a um campo estrito e reduzido da ação social.
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2) Comte e Durkheim.
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a) Auguste Comte.
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compreender a estabilidade normativa de tudo aquilo que envolve a vida social e humana.
Nessa etapa, portanto, a humanidade chegaria a um novo patamar de evolução: o da
ciência positiva.
Assim, sem os enganos das crenças teológicas e das metafísicas particulares,
com o positivismo haveria a promoção de um entendimento geral entre os indivíduos, as
sociedades e os povos.
A etapa positiva, para Comte, começa quando a humanidade começa a
compreender as causas efetivas de suas ações sociais. Somente aí o direito começa a ser
compreendido em suas reais estruturas, pois as normas sociais não seriam pensadas
como produto de uma razão afastada da realidade. Pelo contrário, tais normas são
produtos de estruturas, vícios e virtudes sociais do homem.
No entanto, em verdadeiro paradoxo, ao mesmo tempo em que se mostrou
conservador ao identificar razoes suficientes para legitimar muitas regras de direito como
fatores de organização da sociedade, Comte critica o próprio direito, desmistificando-o
por considerá-lo como um produto social humano, contingente e voltado muitas vezes a
interesses concretos.
Por fim, importante ressaltar que Comte, ao verificar que existe um progresso
na evolução do espírito humano, considera a sociologia como a mais importante das
ciências por lidar com o todo e não apenas parte do todo, como o fazem as demais ciências
até então conhecidas (física, química e biologia).
Além disso, sociologia para ele se divide em duas partes, uma estática e outra
dinâmica.
A primeira parte, “estática”, se presta a observar os fenômenos invariáveis,
constantes de todos os grupos sociais, a exemplo da religião e da família, representando
institutos de organização da sociedade.
Já a segunda parte, por sua vez, concebida como “dinâmica”, trata da
evolução da sociedade, suas alterações, seu progresso.
Foi inclusive com a junção dos dois conceitos que Comte encerra o
fundamental de seu pensamento acerca da sociologia com o lema “ordem e progresso”,
incorporado, inclusive, pela República brasileira à luz da inspiração positivista.
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b) Émile Durkheim.
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Em razão disso, em que pese ter sido um marco por conta de sua objetividade
e clareza, além de pioneiro por conceber a sociologia como ciência autônoma, padeceu
pela falta de crítica em relação à própria sociedade.
3) Max Weber.
Ciência e política.
Weber, que vai se assumir como sociólogo apenas no final da vida, declara
que há uma divergência fundamental entre um cientista da sociedade e um político. Mas,
como ele próprio assumia os dois papéis, precisará então identificar quando escreve como
cientista e quando escreve como político. Resulta dessa pretensão em diferenciar política
e ciência um de seus textos clássico, sobre essas duas vocações.
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Weber se coloca como grande opositor de tudo aquilo que era um senso
comum e imediato da sociologia, o de dizer que a sociologia começa do estudo da
sociedade, o que era dado por óbvio.
O prisma metodológico de Weber era sustentar que a sociologia não analisa
a sociedade. Antes, analisa-a apenas por reflexo, porque a sociologia se baseia, sim, na
ação dos indivíduos. (Individualismo metodológico weberiano)
Weber dirá que quem dá sentido ao ato é o indivíduo e não a sociedade. É
pela repetição, de indivíduo a indivíduo, é que se estabelece um sentido social a um fato.
O método weberiano, assim, partirá do indivíduo para chegar à sociedade, e não o
contrário.
Weber rompe com o senso comum e imediato de que um dado social é sempre
social e nunca eminentemente individual. Ele analisava a sociedade num segundo
momento, imediatamente era um estudioso de ações individuais que se repetem. O
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Crítica e resignação.
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a) Hegel.
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A dialética hegeliana.
Para Hegel, a dialética não é, como o era antes dele, um procedimento adotado
pelo intelecto humano como forma de desvendar um conflito que estava aparente em dois
conceitos opostos. Isso está presente na tradição filosófica platônica, aristotélica, tomista,
da qual até Kant tomou proveito, e essa tradição da dialética baseia-se na compreensão
dos aparentes opostos, que se resolvem por meio de uma mediação entre tais. Em geral,
para essa tradição, a dialética é muito mais um processo de argumentação, de
compreensão de argumentos, resolvendo-os e descobrindo suas oposições. Para Hegel,
contudo, a dialética é diversa de tudo isso.
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A filosofia do direito.
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para Hegel, é preciso suplantar tanto a visão antiga, que diluía o indivíduo no todo, quanto
a visão moderna, que derruba o todo em prol da individualidade autônoma.
É no Estado que Hegel enxergará a síntese superior entre o social e o
individual. Seu modelo é distinto daquele dos gregos, pois prevê o direito do indivíduo,
e também mais impactante que o contrato social moderno, pois não se limita a um
momento originário no qual a vontade individual tenha que dar a diretriz da vida política.
O Estado suplanta as razões individuais.
A própria época hegeliana enseja esse passo adiante, à medida que já se
estabilizavam as revoluções liberais e o mundo burguês não era apenas um mundo ideal
de direitos desejados, mas um mundo real no qual tais direitos burgueses já eram
positivados pelo Estado, e o próprio Hegel apontará a passagem para o Estado como o
momento da plenificação do direito.
A concepção de direito de Hegel compreende o fenômeno jurídico de maneira
bastante vasta. Em suas obras, o direito é apresentado não como tradicionalmente pensado
e trabalhado pelos juristas juspositivistas. Questões tidas por Hegel como do direito são,
mais que jurídicas, também da ética, da moral, da política e da economia. Ocorre que
Hegel, buscando empreender um sistema filosófico que tivesse por vista a totalidade, não
considera que seja possível compreender o direito a partir do seu estrito núcleo normativo-
judicial. Mergulhado historicamente no todo social, o direito deve ser compreendido
justamente na interface com os demais fenômenos desse todo. Em sua importante obra
jurídica, Hegel se afasta do jusnaturalismo e, ao mesmo tempo, rejeita um tratamento do
direito como uma ciência positiva, limitada às normas. É preciso, para Hegel, entender a
razão de ser dessa própria ciência positiva do direito no todo social. Por isso, para Hegel
não é a ciência do direito, mas sim a filosofia do direito, o momento superior da
reflexão sobre o próprio direito, na medida em que o pensamento jusfilosófico
analisa o direito pelo todo.
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equivalia a moralidade com o justo jurídico, porque os dois saem do mesmo imperativo
categórico, de uma razão individual, Hegel rompeu essa equivalência. Individualidade e
moralidade são reinos que devem ser subordinados a um momento superior, que é o da
eticidade consubstanciada no Estado. O conceito de sociedade civil, em Hegel, é bastante
específico em relação à tradição moderna. De um lado, Hegel escapa ao contratualismo
moderno, tendo em vista que o Estado não é o acordo dos indivíduos, mas é dado em si e
para si.
De outro lado, as instâncias sociais que uma parte da tradição moderna dividia
sem muita clareza entre estado de natureza e estado civil (sendo este tanto social quanto
político, formado com base no contrato social), Hegel irá especificá-las de outra maneira:
a sociedade civil não se confunde com o Estado, havendo uma distinção muito clara entre
essas duas esferas. Boa parte da filosofia política moderna não lograva uma diferença tão
clara entre sociedade e Estado, tratando-as apenas como momentos da história civil, a
partir do contrato. Para Hegel, a tentativa de subsumir o Estado dentro da sociedade civil
foi típica do pensamento moderno, arraigadamente burguês.
Ocorre que é o Estado, sendo a esfera do público, que reelabora, dentro de si,
o campo do privado. A filosofia do direito moderna buscava fazer o contrário, construir
o Estado a partir de categorias tipicamente individualistas, como as do contrato. O
contrato social é a exacerbação do privado como explicação da constituição do público.
Hegel rompe com tais explicações: o campo da sociedade civil é o campo do mercado. O
Estado não pode ser refém dos limites impostos pelos interesses mercantis. Pelo
contrário, é justamente a chegada ao nível público estatal que permitiu à sociedade
a liberdade jurídica dos privados, ensejando assim o contrato.
Em Hegel, cessa o esquema moderno de elaboração conceitual do Estado
como uma decorrência da sociedade civil. Por isso, não chegando à conclusão da
existência de um contrato social, Hegel não partilhará a hipótese de que tenha havido um
estado de natureza, como pensavam os modernos. Não há, para Hegel, uma etapa pré-
social e outra social, na qual, então, passasse a se desenvolver a história da sociedade.
Toda a evolução social é histórica.
O Estado para Hegel não é, portanto, um ente resultante do acordo de
vontades individuais. Sua existência é para além dos indivíduos e da sociedade civil, e
postula-se, também, pela insuficiência dessas esferas como racionais em si mesmas, na
medida em que a sociedade civil, para Hegel, é essencialmente a esfera privada burguesa.
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b) Karl Marx.
A dialética.
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História e revolução.
A dialética presente no capitalismo não é eterna, isso não quer dizer que Marx
preveja que, pelo simples decurso do tempo, o capitalismo se exterminará. Pelo contrário,
Marx aponta que através da luta de classes é possível acelerar o perecimento do
capitalismo ( regida pelo capital) para atingir uma sociedade então socialista.
Marx apontava que sempre na sociedade houve uma forma de exploração
social, quando atingíssemos o socialismo, e os homens não mais explorassem
economicamente outros homens começaríamos a grande história da humanidade. O meio
para isso é através da revolução. Só os conservadores querem a sociedade como ela está
mas os revolucionários compreendem a ideia de injustiça. Como as contradições da
sociedade capitalista são estruturais, a revolução será também uma mudança estrutural.
As contradições criam as condições para sua própria superação, para
surgimento de outro patamar de organização social. O germe de uma etapa está na etapa
anterior, é pouco provável que um modo de produção surgisse se não nas condições dadas
anteriormente. O capitalismo, nas suas contradições, possui o germe do socialismo. Isso
que dizer que não seria possível, diretamente, a partir de uma revolução dos servos do
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O direito e Marx.
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da realidade. Ex: quando o trabalhador vende sua força de trabalho ao capitalista, eles são
dois desiguais. Mas o Direito os reputa como iguais, porque ambos são tidos como
sujeitos de direito e ambos fizeram um acordo de vontade “livremente”. A função
suplementar do direito é de servir de máscara ideológica, isso faz com que os explorados
nem saibam que estão sendo explorados.
a) Habermas.
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suspiro da modernidade. “Uma lei válida para todos, uma ação válida para todos, uma
verdade comum, etc.” (Nesse ponto se aproxima de Kant).
Com efeito, o pensamento pós-moderno, de acentuar cada vez mais uma
racionalidade distinta e, por conta disso, devesse permanecer cada qual no seu mundo
próprio, sem se comunicar com os demais. Por isso, um certo uso de Habermas ainda é
combativo e progressista, visando uma razão universal que seja a busca de uma
característica comum a todos, ainda que sucumba na tentativa de fundar a universalidade
no consenso comunicacional.
Habermas e o direito.
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b) Raymond Aron.
Considerações inicias.
4 CATANI, Afrânio Mendes. Aron, Raymond. Memórias. Rev. adm. empres., São Paulo , v. 27, n. 2, p. 61-64;
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901987000200010&lng=en&nrm=iso. E
https://educacao.uol.com.br/biografias/raymond-aron.htm. Acesso em 13/7/2017.
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comunistas. Suas obras são contemporâneas à URSS, retratam o seu surgimento, seu
desgaste e a polarização da guerra fria. Na sua época, as posições que defende não podiam
ser consideradas tão “óbvias” como podem parecer hoje, e abriram caminho para outros.
A característica mais marcante de seu pensamento é uma forte crítica à
ideologia marxista, não só nos países comunistas, mas também a influência e fascínio que
ela exercia nos “intelectuais ocidentais”. Esse último aspecto é marcante em sua obra,
notadamente a crítica aos intelectuais da França, que segundo Aron seriam
majoritariamente afinados aos ideais marxistas.
Apesar sempre ser lembrado pela crítica ao marxismo, é possível
compreender seu pensamento de forma mais ampla. A crítica não é apenas ao marxismo,
mas a rigor contra toda forma de ideologia que se transforma numa religião, ignora a
evidência dos fatos e que vê nos fins justificativa para qualquer meio (em especial os
meios violentos). Isso possibilita a aplicação contemporânea de suas ideias.
Embora a busca não tenha sido exaustiva, no Brasil não foram localizadas
obras científicas que abordassem ou resumissem seu pensamento de forma sistêmica.
Muitas das análises um pouco mais aprofundadas carregam em menor ou maior grau a
visão de mundo daquele que a subscreve, deixando de refletir com exatidão o pensamento
de Aron pelo fato de ele naturalmente atrair admiradores ideologicamente “não
esquerdistas” (se é que se pode falar dessa forma).
Por isso, como o assunto desperta paixões (o que paradoxalmente tenta ser
combatido pelo próprio Aron), com o intuito de não ficar comprometida a compreensão
de seu pensamento nesse resumo procurou-se sempre que possível manter a transcrição
literal de trechos relevantes de suas obras.
5 No Brasil, a edição mais atual é de 2016, da editora Três Estrelas, São Paulo, 2016. As transcrições e referências
feitas neste resumo são da edição de 1980, tradução de Yvone Jean, Brasília, Editora Universidade de Brasília.
6 Professor de Filosofia da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp,
http://www.unespciencia.com.br/2016/11/resenha-80/, acesso em 13/7/2017.
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O mito da esquerda.
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esquerda não consiste em dissolver os trustes, mas em transferir para o Estado o controle
de certos ramos da indústria ou certas empresas gigantescas” (p. 54).
Na realidade, “Quanto mais extensa a superfície da sociedade ocupada pelo
Estado, tanto menores as possibilidades de um estado democrático, quer dizer, de um
objeto de competição pacífica entre grupos relativamente autônomos” (p. 56).
“As inevitáveis transformações da técnica ou das estruturas econômicas, a
expansão do Estado não implicam nem uma libertação nem uma escravidão. Mas toda
libertação traz em si o perigo de uma nova forma de escravidão.
O mito da esquerda cria a ilusão de que o movimento histórico, orientado para
um fim feliz, acumula as aquisições de cada geração. Graças ao socialismo, as verdadeiras
liberdades acrescentar-se-iam às liberdade formais forjadas pela burguesia. A histórica,
na verdade é dialética. Não no sentido estrito que os comunistas conferem hoje à palavra.
Os regimes não são contraditórios. Mas, no interior de cada um, existem diferentes
ameaças suspensas sobre os homens (...)” (p. 56).
O mito da revolução.
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7Lembre-se que uma das ideias de Marx era de que o próprio capitalismo iria gerar as condições (proletarização e
pauperização) para um inevitável socialismo. Essa visão, segundo Aron, é mítica.
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O mito do proletariado.
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das palavras, menos é possível aos dirigentes confessarem publicamente a realidade dessa
distinção” (p. 116).
Religiões seculares.
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libertação, etc.)”. Assim, “o homem não seria aquele para o qual o Cristo foi crucificado,
mas aquele ao qual Marx profetizou o fim da pré-história graças à potência das máquinas
e à revolta dos proletários” (p. 224/225).
Segundo Aron, a identificação do verdadeiro comunista envolve três etapas:
culto do partido, escolástica interpretativa e formação do militante. Atingidas as etapas,
ele “adquire o direito de “repensar” o dogma a seu modo, tanto os temas principais quanto
as aplicações cotidianas” (p. 226).
No comunismo a revolução “não adota nenhuma religião”, “porque ela
própria era uma Igreja. Do mesmo modo que a religião civil, o comunismo santifica os
deveres do indivíduo para com o partido, o Estado socialista, o futuro humano” (p. 230).
A “ideologia torna-se o conteúdo de um dogma” quando “O salvador coletivo
não se submete à história, cria a história, edifica o socialismo e forja o futuro” (p. 231).
“A fé cristã pode ser chamada de total, no sentido de que inspira a existência
inteira; foi totalitária quando ignorou a autonomia das atividades profanas. A fé
comunista torna-se totalitária logo que quer ser total, pois só cria a ilusão de totalidade
impondo verdades oficiais e submetendo às instruções pode poder atividades de cuja
essência requer a autonomia” (p. 232).
Segundo Aron, “Marx chamava a religião de ópio do povo. Queira ou não, a
Igreja consolida a injustiça estabelecida. Ajuda os homens a suportar e a esquecer seus
males em vez de curá-los. Obcecado pelo cuidado com o além, o crente é indiferente à
organização da cidade”.
Contudo, observa que “A mesma crítica aplica-se à ideologia marxista, uma
vez que o Estado a erigiu em ideologia: também ensina a obediência às massas e confirma
a autoridade dos governantes. Até as Igrejas de rito oriental consideravam que tinham o
direito de censurar o soberano indigno. O czar, o chefe da Igreja, não decretava o dogma”.
Já o “secretário geral do partido tem a liberdade de reescrever, com acordo com um
presente volúvel, a história do Partido Comunista que constitui o essencial do dogma
staliniano.
O conceito da sociedade sem classes esvazia-se de sentido à medida em que
o regime oriundo da revolução vai se estabilizando num despotismo burocrático sem
originalidade” (p. 235/236).
Conclusão parcial.
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8Transcrições e referências feitas da edição brasileira de 2000, 5ª edição, 2ª tiragem, tradução Sérgio Bath, São Paulo,
Martins Fontes, 2000.
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“Não se pode ignorar a continuidade que existe entre Marx e Max Weber,
entre Max Weber e Parsons, e mesmo entre Auguste Comte e Durkheim, e entre Marcel
Mauss e Claude Lévi-Strauss. Os sociólogos de hoje são claramente, sob alguns aspectos,
herdeiros e continuadores daqueles que alguns chamam de pré-sociológicos. A própria
expressão pré-sociólogo evidencia a dificuldade na investigação histórica a que me
proponho.
Qualquer que seja o objeto da história – instituição, nação ou disciplina
científica – é preciso defini-lo, delimitá-lo, para acompanhar o seu devenir. (...) O bom
historiador guarda o sentido do caráter específico de cada época da sucessão das épocas
e, por fim, das constantes que o autorizam a falar de uma só e mesma história. (...)
A sociologia é o estudo, que pretende ser científico, do social enquanto social,
seja no nível elementar das relações interpessoais, seja no nível macroscópico de vastos
conjuntos, como as classes, as nações, as civilizações ou, para empregar expressão
corrente, as sociedades globais. (...). A Política de Aristóteles nos parece um tratado de
sociologia política ou uma análise comparativa dos regimes políticos. (..).
A sociologia moderna não tem como origem exclusiva as doutrinas histórico-
sociais do século passado; possui outra fonte, as estatísticas administrativas, os surveys,
as pesquisas empíricas.
A sociologia do século XIX marca incontestavelmente um momento de
reflexão dos homens sobre si mesmos. (...) Exprime também uma intenção (...) de um
conhecimento propriamente científico, segundo o modelo das ciências natureza, e com
igual objetivo. (...).
Os sociólogos preconizam métodos empíricos, praticam pesquisas por
sondagem, empregam um sistema conceitual próprio, questionam a realidade social sob
certo ângulo, possuem uma ótica específica” (p. 6/9).
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se deve justo título homenagear Marx. Hoje, o historiador não ousaria mais fechar os
olhos às humildes realidades que comandam a vida de milhões de homens. Não se tem
mais a ilusão que se possa compreender uma sociedade ignorando a organização do
trabalho, a técnica de produção, as relações de classes. (...).
O marxismo continua atual sob a sua forma primeira no conflito ideológico
do nosso tempo. Condenação da propriedade privada ou do imperialismo capitalista,
convenção de que a economia de mercado e o reino da burguesia vão por si próprios para
seu fim e direção ao planejamento socialista e ao poder do proletariado: estes fragmentos
destacados da doutrina não são apenas aceitos pelos stalinistas ou os simpatizantes, como
também pela imensa maioria daqueles que se querem progressistas. A “intelligentsia”
chamada avançada, mesmo nos países anglo-saxões onde jamais leu O Capital, subscreve
quase que espontaneamente a estes preconceitos” (O ópio dos intelectuais, 1980, p. 113).
Por isso que, Roberto de Oliveira Campos, ao prefaciar a edição de 1980 do
livro O Ópio dos intelectuais, define-o como um “tratado contra o fanatismo”.
Para ele, “Aron se volta contra o fanatismo de esquerda, que se saiu vitorioso
da Segunda Guerra Mundial, mas não sem ser contaminado pelo desejo ardente de
violência purificadora, do extremismo de direita, com a única diferença que este advoga
a violência pura, enquanto aquele apresente sob a roupagem de premissas humanitárias e
redentoras.
Ao denunciar os mitos e as simplificações fideístas, Aron prestou um grande
serviço à causa da tolerância. E fê-lo quando os desapontamentos subsequentes e os
desmentidos históricos do profetismo marxista ainda não eram tão claros quanto hoje.
Como notou Bettiza, sua contribuição principal foi rejeitar os mitos solipsistas:
- só a esquerda está habilitada a enunciar o futuro;
- só a revolução pode eliminar o mal e o erro das coisas humanas;
- só o proletariado é capaz de trazer à humanidade a salvação que ela em vão
busca há milhares de anos;
- a história é o motor e síntese desse processo grandioso” (p. 7/8)
Destaco a frase, que pode servir de norte à compreensão da essência e da
importância atual do pensamento de Aron: ele presta “um grande serviço à causa da
tolerância”.
Nesse sentido, Aron se comunica com os dias atuais como nunca porque a
tolerância (ou a falta dela), sem dúvida, está na pauta do dia. Basta pensar no crescimento
do terrorismo, preconceito com os refugiados, ascensão dos partidos da extrema direita
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(Trump nos EUA, as últimas eleições francesas, etc.). No Brasil, a recente crise política
demonstra uma polarização de ideologias que inviabiliza diálogos racionais e
construtivos9.
6) A Escola de Frankfurt.
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sociedade injusta.
Dentre os pensadores da escola, Herbert Marcuse é quem mais leva adiante a
ideia de uma sociedade dominada racionalmente. Ele trouxe para o entendimento da
sociedade a psicanálise. Ao lado de Marx, Freud passa a ser um dos pensadores mais
importantes para a reflexão de Marcuse. Em sua obra, Eros e Civilização, dá mostras
dessa interessante junção.
Para a psicanálise, há impulsos naturais em todo indivíduo, que buscam o
prazer, mas tais impulsos (id para Freud) são reprimidos pelas barreiras (superego para
Freud) que o próprio indivíduo adota a partir da sociedade. O capitalismo acentua as
necessidades, mas não distribui riquezas nem possibilidades, daí necessitando refrear os
impulsos de prazer dos indivíduos, que se tornam reprimidos, recalcados, frustrando
desejos e aspirações.
Numa sociedade que incentiva o consumismo, o ter, a futilidade, multidões
trabalhadoras nada têm. Elas são privadas de seus desejos em prol da manutenção da
exploração capitalista. Entre o amor, a fraternidade, o sexo (tudo isso a que Marcuse
chama de Eros) e o ódio, a divisão, a exploração, a injustiça, o poder só para alguns, a
morte (por ele chamados de Thanatos), a sociedade capitalista se encaminha a passos
largos para esta última direção.
Na proposta freudiana, o id é um impulso de prazer inato dentro de nós, uma
busca de prazer que se revela desde muito cedo. As proibições do superego, no entanto,
não nos são inatas, são-nos ensinadas. Trata-se aqui da castração dos prazeres. Tal
repressão advém da sociedade: os pais ensinam as boas regras, o vizinho zomba dos maus
jeitos, a escola doutrina. O adulto bem educado é a criança bem castrada: faz tudo direito,
conforme lhe mandam, não tem impulso contestador.
Alguns princípios da castração também hão de se revelar, fundamentalmente,
no Estado e no direito. O policiamento, as boas condutas, o respeito à propriedade alheia,
o sofrimento, a miséria, tudo isso está institucionalizado. O direito e o Estado, de tal modo,
representam imediatamente os imperativos de ordem. O resultado disso, a civilização, é
o superego dominando o id, ou seja, a repressão dominando o prazer.
Para Marcuse e para outros pensadores (Erich Fromm e Wilhelm Reich) que
a seu modo tentaram juntar o pensamento de Freud com o de Marx, a sociedade capitalista
é profundamente neurótica, doente em sua psique coletiva. O Brasil tem terras nas quais
haveria facilmente comida para todos, no entanto, a maioria da população não tem as
mínimas condições de comida, casa, saúde etc. Resplandece a exuberante felicidade de
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Caio Prado Júnior, na década de 30, nega que o Brasil seja ao mesmo tempo
capitalista e feudal. Explica que o Brasil foi colonizado por Portugal com finalidades
capitalistas, nunca tendo existido no nosso País estruturas do tipo feudal. Ou seja, o Brasil,
desde o início, é voltado ao mercado.
O autor explica que há uma diferença sociológica entre a institucionalização
do direito brasileiro e a institucionalização do direito na Europa. Na Europa, havia
relações entre o capital e o trabalho do tipo assalariado (aviltante salário, mas havia), já
no Brasil, sequer salário existia (escravidão); o que incluía nosso País na periferia do
capitalismo. Esse fenômeno é chamado de “superexploração” (ou “sobre-exploração”)
capitalista, visando explicar a relação entre capitalista e escravo. Trata-se, segundo
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entender o passado para compreender e atuar politicamente no presente; tudo com intuito
de mudar a realidade. Por ela, tenta mostrar que a solução do País estaria no mercado
interno. Isto porque, analisa que o Brasil seria dependente por ser exportador e a
independência política e econômica apenas viria com a constituição de um mercado
interno. Analisa que o desenvolvimento da colônia cingiu-se a atender aos interesses da
metrópole (Portugal), tratando-se de uma exploração extensiva e simplesmente
especuladora dos recursos naturais do país. Ele parte do abstrato, buscando compreender
o sentido da colonização, para o concreto, demonstrando os resultados práticos do
processo de colonização. Nega a presença de um caráter feudal na história do País, pois
se assim fosse, a luta social seria dada a partir da reivindicação da propriedade da terra,
enquanto, em verdade, os operários do campo reivindicavam leis trabalhistas. Foi o
primeiro a nacionalizar o marxismo, interpretando-o como método de abordagem.
Analisa as desigualdades, diversidades e contradições sociais. Sua “redescoberta do
Brasil” foi radical; “redescobrir o Brasil”, para ele, significa ver que ao lado da elite existe
a grande massa da população brasileira e, nesta “face oculta”, reside o verdadeiro Brasil.
Vale dizer, Caio Prado deu a devida importância para os setores populares e pôs ênfase
no papel de grupos sociais menos privilegiados. Ele via nos trabalhadores, nas próprias
massas populares, os protagonistas para a mudança da realidade. Mas, para este mister,
seria fundamental que esses mesmos trabalhadores, através de sindicatos, partidos e da
própria luta cotidiana, conseguissem uma elevação material e cultural, adquirindo
consciência política de seu destino, de sorte a desembocar no “socialismo” (ainda que a
longo prazo), num esquema de “revolução”, que poderia ser caracterizada como
gradualista e processual.
b) Raimundo Faoro11.
Raimundo Faoro é autor da obra “Os Donos do Poder”, que visa identificar
os donos do poder ao longo da história. Analisou a formação do patronato brasileiro e
buscou as raízes de uma sociedade na qual o poder público é exercido, e usado, como se
fosse privado. Esta obra aponta o período colonial brasileiro como a origem da corrupção
e burocracia, porquanto impediu o desenvolvimento de uma nação independente. Afirma
11A parte a seguir não consta do livro do Mascaro, mas visa cobrir o item A.7 do edital (pensamento dos autores
destacados).
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que toda a estrutura patrimonialista de Portugal foi trazida para cá, tornando-se a estrutura
de nossa economia política. Esta concepção de Estado patrimonialista colocaria a
propriedade individual como sendo concedida pelo Estado, caracterizando uma
“sobrepropriedade” da coroa sobre seus súditos. Como dito por Mascaro alhures, Faoro
nega a existência de um regime propriamente feudal nas origens do Estado brasileiro.
Afirma que o que se teve no Brasil foi um capitalismo politicamente orientado, conceito
este de inspiração weberiana, que atribui ao Estado patrimonial e seus funcionários
características de um estamento burocrático, ainda que este impeça a consolidação de uma
ordem burguesa propriamente dita no País. Noutras palavras, o poder no Brasil sempre
teria sido exercido por meio de estamento burocrático, uma vez que ausente um “quadro
administrativo”, a chefia se dispersa e assume um caráter patriarcal, identificável no
mando do fazendeiro, senhor do engenho, coronel. No ponto, o estamento governante,
aludido por Faoro, não seria àquela burocracia moderna, organizada em carreira
administrativa e cujos integrantes agem segundo os padrões da legalidade e racionalidade
(de classificação weberiana); seria, pois, um grupo estamental correspondente ao tipo
tradicional de dominação política, em que o poder não é uma função pública, mas sim
objeto de apropriação privada. Ao contrário da visão marxista, Faoro não procura a
explicação na infraestrutura, ou seja, na sociedade civil, mas antes na superestrutura, isto
é, no Estado.
B) PSICOLOGIA JUDICIÁRIA12.
a) Conceito e importância.
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Para os juristas essas noções de psicologia jurídica servem para que estes
não sejam totalmente leigos diante de um laudo pericial psicológico, muito embora
contem com o papel dos assistentes técnicos. Além dos inúmeros benefícios na
compreensão global dos casos a eles confiados, o conhecimento técnico permite aos
advogados, promotores e juízes uma visão mais ampla, que certamente refoge ao
dogmatismo do direito.
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3) Psiquiatria forense.
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5) A Psicologia da Conciliação.
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Sobre os procedimentos que devem ser adotados pelos mediadores para que
conduzam, de maneira sutil e sem interferência de juízos de valores, a um acordo que
atenda as pretensões e expectativas dos envolvidos, aludem Marilene Marodin e Stella
Breitman:
Qual o procedimento mais adequado do mediador? Em primeiro lugar,
reverter os papeis; de coadjuvantes, os atores passam a ter o papel principal. Eles são os
donos do problema/conflito que o mediador, de modo imparcial e neutro, tentará
conduzir, guiar, administrar sem julgamentos, preferências ou juízos de valor. Ele tentará
reestruturar a possibilidade de escuta recíproca e direta, sem intermediários parciais.
Nesse sentido, o mediador procurará tornar legítima e qualificar as pretensões de ambos.
De forma equidistante e habilmente treinado, não se deixar envolver por nenhum,
mantendo seus próprios juízos de valores e princípios. Isso significa que o Mediador não
participa da cultura beligerante, antes facilita a solução da disputa, o que não significa
resolver o conflito, ou mesmo chegar a um acordo. Ele alcança as ferramentas para as
pessoas refletirem sobre o que está acontecendo.17
Quatro formas de abordagem da maioria dos mediadores, de acordo com
Leonard Riskin18:
Abordagem avaliadora restrita, abordagem avaliadora ampla, abordagem
facilitadora restrita e abordagem facilitadora ampla.
Sendo assim, as abordagens da mediação podem se dar:
1. No eixo da intervenção: a) abordagem avaliadora: o mediador ajuda as
partes a perceber pontos fortes e fracos de suas posições; b) abordagem facilitadora: o
mediador ajuda as partes a identificar as propostas sem avaliar.
2. No eixo de análise: a) abordagem restrita: focada nos elementos em
questão; b) abordagem ampla: identifica os interesses e questões subjacentes aos
elementos da lide.
No que tange as técnicas de negociação, leciona Luciano Zajdznajder:
Durante o processo de negociação, as partes costumam lançar mão de meios
e modos de atingir os objetivos de forma indireta. Isto é, não proclamam abertamente o
que desejam ou o que esperam da outra parte. Estes meios e modos, que em geral tomam
a forma de simulações e de manobras, são utilizados com duas funções: A primeira função
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Garantias de imparcialidade.
Garantias de independência.
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respeito ao início das mesmas, já que muitas vezes o atraso quanto ao término é
plenamente justificável.
VII – exercer assídua fiscalização sobre os subordinados, especialmente no
que se refere à cobrança de custas e emolumentos, embora não haja reclamação das
partes;
Os emolumentos judiciais possuem a natureza de taxa (tributo), competindo
ao Estado o controle sobre sua legalidade. O juiz deve exercer o controle, sob pena de
responsabilidade funcional, bem como evitar a evasão fiscal na concessão indevida de
gratuidade da lei 1.060/50.
VIII – manter conduta irrepreensível na vida pública e particular.
Busca-se do juiz o cumprimento das expectativas que o cidadão espera, ou
seja, honestidade na sua vida pessoal e pública.
O artigo 36 traz as seguintes vedações ao magistrado:
I – exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, inclusive de
economia mista, exceto na condição de acionista ou quotista;
O objetivo é não desviar sua atuação, que deve ser focada no exercício da
jurisdição, evitando ainda a perda de sua imparcialidade.
II – exercer cargo de direção ou técnico de sociedade civil, associação ou
fundação, de qualquer natureza ou finalidade, salvo de associação de classe, e sem
remuneração.
Não deve o magistrado dirigir entidades desportivas, filantrópicas ou
sociedade civil, mesmo sem remuneração. A única exceção é a de ser diretor presidente
ou gestor de associação de magistrado, e sem qualquer remuneração, inclusive, neste
último caso pode ficar afastado da prestação jurisdicional durante o exercício do mandato.
III – manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo
pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos
ou sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou
no exercício do magistério.
O juiz não de ser um midiático, mas ter apreço pelo recato e neutralidade.
Deve ser imparcial (não manifestação nos processos próprios) e ético (não manifestação
nos processos alheios).
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a) Corregedorias.
b) Ouvidorias.
Com a reforma do judiciário (EC 45), houve previsão expressa no artigo 103-
B, § 7º, da CF, determinando que a União criasse ouvidorias de justiça, competentes para
receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos do
Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxiliares, representando diretamente ao CNJ.
Elas estão encarregadas de receber reclamações, denúncias, críticas e
sugestões, como também elogios, bem como de levar adiante essas manifestações e
conseguir respostas adequadas, até mudanças no procedimento de organização.
c) Conselho da Magistratura.
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6) Responsabilidades do Magistrado.
a) Responsabilidade civil.
b) Responsabilidade administrativa.
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c) Responsabilidade penal.
7) Princípios éticos.
a) Independência.
b) Imparcialidade.
c) Transparência.
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e) Diligência e dedicação.
Objetiva zelar para que os atos processuais sejam realizados com a máxima
pontualidade possível, em observância aos princípios da celeridade processual e da
duração razoável do processo, evitando-se a injustiça que comporta uma decisão tardia,
sem descuidar da boa qualidade.
A dedicação é a abdicação do tempo particular em prol da judicatura, e a
diligência é o aprimoramento pessoal e profissional a serviço dessa boa judicatura.
g) Conhecimento e capacitação.
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O artigo 35, IV, do Código de Ética prevê o dever de tratar com urbanidade
as partes, o MP, advogados, testemunhas, funcionários e todos os participantes da
atividade judiciária. Estende-se ao tratamento aos outros magistrados. Tal exigência ética
está também consubstanciada no princípio da cortesia, disposto nos artigos 22 e 23 do
mesmo diploma.
D) FILOSOFIA DO DIREITO.
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a) Os pré-socráticos.
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entramos e não entramos, somos e não somos (...), não se pode entrar duas vezes no
mesmo rio” exprime a ideia de devir (fluxo infinito do mundo) e da luta dos contrários.
Heráclito coloca a filosofia como um confronto de opostos e algo mutável,
afastando-a de noção de estável e eterna. As visões antigas da filosofia compreendiam a
justiça como estável e inabalável. Já ele via a justiça como o conflito, a discórdia.
Na tradição de Homero e de Anaximandro, a discórdia e a guerra eram
injustas, enquanto a concórdia e a paz eram justas. Para Heráclito, a guerra trás unidade
e só a luta dos contrários é harmonia e justiça.
O último importante pré-socrático é Parmênides de Eleia, que é colocado
por Platão em seus diálogos como contemporâneo de Sócrates. Para ele, a verdade é a
razão, aquilo que é, enquanto a opinião é aquilo que se sente, logo muda. Para Heráclito,
a mudança era intrínseca a todas as coisas. Para Parmênides, o que é só é de uma única
forma, não muda.
b) Sócrates.
Sócrates e os sofistas.
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O direito em Sócrates.
O direito em Sócrates é exibido por meio dos diálogos de Platão e por sua
própria história de vida.
Sócrates foi condenado à morte e por diversas vezes teve a oportunidade de
fugir da prisão. Mas ele estava determinado a fazer cumprir sua própria sentença, como
um dever moral de respeito à polis.
O fato de ter permitido que a sentença se cumprisse à risca pode fazer parecer
que Sócrates tivesse sido o primeiro juspositivista, mas isto é incorreto. Ele não se
submeteu às leis por considerá-las corretas, nem por ter achado sua sentença justa. Ele
teve uma visão mais moral e filosófica: acima do direito há um justo, que pode ser
compreendido pela razão, e aceitar o justo é um dever. Sendo a sua condenação injusta,
sua execução mostraria aos atenienses, por contraste, o justo.
Disto extrai-se que Sócrates separava a apreciação moral do justo da sua
afirmação jurídica.
c) Platão.
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Em suas grandes obras, como A República e Carta VII, Platão constrói seu
método dialético.
Platão considerava impossível fixar a razão nos limites do mundo sensível,
pois a realidade é falha e limitada. Era preciso ir além, ao mundo das ideias.
O Mito da caverna é momento máximo de tal abordagem.
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recrutados pela educação entre os mais virtuosos, estivesse preparado para entender a
natureza da lei e a sua relação com a divindade.
d) Aristóteles.
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● Justiça
o Justiça universal
o Justiça particular
▪ Distributiva
▪ Corretiva
▪ Reciprocidade (caso especial)
Justiça distributiva.
Justiça corretiva.
Reciprocidade.
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Do âmbito da justiça.
A justiça é uma ação. Não basta conhecer o justo, é preciso agir de forma
deliberada. Justo é o ato que é feito deliberadamente com objetivo de ser justo,
enquanto o injusto é o ato realizado deliberadamente para ser injusto.
Um juiz que condena alguém após passar a noite bebendo e sem prestar
atenção a nada durante o julgamento, mesmo que depois descubra-se que o indivíduo era
culpado, não agiu com justiça.
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A equidade.
Para Aristóteles, acima da justiça da lei, há a justiça do caso concreto, que ele
chama de equidade.
Na Grécia Antiga, a lei era resultado da unificação das vontades dos cidadãos,
que deliberavam em conjunto para chegar ao bem-comum da polis. Assim, a lei é boa, a
lei é justa.
Desta forma, sendo a equidade justa, ela não difere da própria lei, sendo esta
também justa. São apenas formas de justiça complementares. A lei é a previsão geral, que
abarca muitos cenários. A equidade é a justiça do caso específico.
Aristóteles compara a aplicação da equidade à utilização da Régua de
Lesbos. Na ilha de Lesbos, os construtores utilizam uma régua flexível que se adaptava
às formas das pedras.
A reflexão sobre as leis e a equidade leva ao conceito de direito natural em
Aristóteles. Diferente do conceito moderno, direito natural para ele é a apreensão da
natureza das coisas. Entender a natureza das coisas revela o justo. Por isso, a equidade
vem acima da lei.
A prudência.
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A política.
A escravidão.
Apesar da justiça se realizar entre os cidadãos, isso não significa que não haja
relações justas (em sentido amplo) entre cidadãos e não-cidadãos. Ele não afirmava que
os escravos não merecessem tratamento digno, mas considerava que as relações entre
senhor e escravo se estabeleciam na esfera privada, longe da política e do justo,
consolidados no espaço público.
Os tipos de governo.
O governo é bom quando busca a felicidade de todos. Isso não quer dizer que
todos devam participar do governo.
Fazendo uma análise quanto à finalidade do governo e ao número de
governantes, Aristóteles chega ao esquema abaixo (aula de Constitucional do Levy):
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O Epicurismo.
Tem sua origem lastreada nas ideias de Epicuro de Samos. Sua maior
orientação está na busca do prazer, entendido não como uma ação positiva no sentido da
mundanidade, mas sim na sua acepção de negação: ausência de perturbação e de dor.
Em Epicuro é possível vislumbrar uma noção de justiça que se funda na ideia
de que há o interesse de uma vida plena e prazerosa dos indivíduos que conduz a que não
se dominem reciprocamente. Daí que a política se constrói no objetivo de uma utilidade
comum. O justo é agir em conformidade com o bem do outro, numa espécie de principio
de solidariedade. Nunca houve justiça em si, mas nas relações recíprocas. Não há a noção
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de que o justo seja algo determinável. Em busca do prazer, que é afastar o sofrimento,
deve-se agir pelo justo, já que o injusto pode gerar a punição.
O Estoicismo.
b) O Cristianismo.
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c) Paulo de Tarso
d) Santo Agostinho.
Ao fim da Idade Antiga, o mais importante pensador era Sto. Agostinho. Sua
reflexão é, ao mesmo tempo, uma defesa da ortodoxia religiosa e uma afirmação de uma
filosofia cristã. De origem pobre, cresceu sob a cultura romana, foi professor de retórica,
ocasião em que tomou contato com a obra de Cícero e de Platão (a marca do platonismo
é muito forte no pensamento agostiniano), e se converteu aos 28 anos. Seu pensamento
afasta as virtudes do centro do debate teológico, para pôr em evidência a graça divina. É
a graça de Deus, e não a virtude dos homens, que leva à salvação. Não é pela virtude dos
atos que se mede a justiça, e sim pela fé em Deus e pela consequente graça de Deus para
com os salvos.
Seus escritos não são sistemáticos, suas obras são de ocasião. Também não
se compreende o direito de maneira única no seu pensamento, na medida em que suas
reflexões no campo jurídico são incidentais. Também não é uníssono o seu pensamento
no tocante a moral , campo que aproxima bastante a questão da justiça.
A justiça em Agostinho.
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O poder e a obediência.
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Fé e razão.
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Para ele, a lei é uma regra e uma medida dos atos humanos, orienta o homem
e a natureza e por isso é passível de compreensão pela razão. Lei é aquela ordenação que
visa o bem comum, ou seja, a lei não é aquilo com validade formal, mas aquilo que é
voltado ao bem comum.
Dentro das leis de deus, existem as leis eternas – aquela que é a razão divina,
transcendente e que governa o mundo, praticamente ininteligível ao homem – e a lei
divina – aquela que é a regra de deus anunciada através da revelação, é um mandamento
revelado ao homem que o alcança por meio da fé. A lei divina se manifesta como
direcionamento moral e jurídico aos homens, e sua diretiva é dada por deus no Antigo
Testamento e no Novo Testamento.
Ao lado desse bloco das leis eternas e divinas, inalcançáveis pela razão
humana, há uma lei que se comunica com os homens a partir de sua própria existência
natural. É a lei natural, que é divina pela sua origem, mas passível de compreensão pelo
homem. A lei natural nada mais é do que a participação da lei eterna na criatura racional.
Dessa forma, a lei natural não é apenas conhecida pelos crentes. Ela também fala aos
pagãos, e é por meio dessa lei natural que quem não conhece a fé pode agir no sentido de
sua salvação. A lei natural atinge tanto aos homens quanto aos animais. Para Tomás de
Aquino a lei natural é passível de mudanças, já que a natureza não está inerte. Há novos
tempos, novas situações, novas demandas e por isso o direito natural deve se adaptar,
muito mais acrescentando novas previsões àquelas já consolidadas, ou seja, seus preceitos
iniciais não são passíveis de mudança.
Além disso, para Tomas de Aquino existem a lei humana positiva, que servem
para auxiliar a conquista do bem comum, da paz e da virtude. Essas leis não são
necessariamente injustas ou corruptíveis, como propunha Agostinho. Dessa forma, São
Tomás de Aquino analisa as leis partindo de três grandes quadrantes e não mais de dois
– lei de deus e lei dos homens – típico do pensamento agostiniano.
O tratado da justiça.
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O pensamento tomista abre espaço á razão e aos atos justos, mesmo que
mantendo a subordinação do direito e do justo ao mando divino. O tomismo é um avanço
e uma abertura em relação ao agostinianismo, na medida em que permite ao homem
conhecer a medida do justo. Mas é uma abertura parcial, porque o sistema jusfilosófico é
mantido sob a égide da teologia. Antes da razão ainda vem a fé, ainda que esta não se
oponha ou negue aquela, mas ainda há uma relação de subordinação.
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Absolutismo.
Iluminismo.
Capitalismo e modernidade.
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Individualismo.
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A questão do conhecimento.
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em si, da experiência das coisas, mas sim que estão na própria idealidade humana. São
construções racionais para perfazerem um conhecimento. Ao encaminhar-se para um
conhecimento não centrado no objeto, o racionalismo albergar-se-á no mundo do sujeito.
Para Descartes, todos teriam a aptidão de bem julgar e de conhecer o verdadeiro do falso.
Por isso, então, seria possível a universalidade do conhecimento. O racionalismo é uma
perspectiva filosófica adotada por toda a Europa continental e por todos os países que
receberam sua influência – a exemplo do Brasil. A Alemanha, mas também a França, a
Itália, Portugal e outros, são países que vivenciam uma filosofia de paradigma
racionalista, e, no plano jurídico, o sistema de direito que se consolidou há séculos é
aquele que denominou-se civil law ou direito legal.
Os empiristas, por outro lado, desenvolveram, na questão do conhecimento,
a reflexão filosófica centrada na percepção mesma das coisas antes que nas categorias
que dariam sentido a essa percepção. Para os empiristas, o método só vem depois da
experiência, e não antes. O conhecimento se faz das coisas reais, sentidas, experienciadas,
não de ideias sobre as coisas – como propugnam os racionalistas –, mas das coisas e da
experiência em si. O conhecimento tem que ser postulado, pela filosofia burguesa
moderna, como individual e universal. Por isso, está de fora das filosofias modernas a
possibilidade do conhecimento se assentar sobre uma base social. Os indivíduos não
aprendem a razão uns com os outros. Se assim o fosse, a própria sociedade permitiria uma
variedade de opiniões, julgamentos, e, portanto, de razões. Isso acarretaria o fato de que
seriam possíveis vários julgamentos a respeito do justo, o que inviabilizaria o projeto
jurídico moderno de assentar o conhecimento apenas na base das normas que
interessavam à burguesia. O conhecimento que se adquire com os demais, em sociedade,
é cultura. O empirismo, em geral, foi um movimento filosófico característico da
Inglaterra, dos países nórdicos e dos países do mundo de cultura anglo-saxônica. Essa
peculiaridade, geográfica, encontra-se em exato paralelismo com o sistema de direito que
nesses países, desde o final da Idade Média e início da Idade Moderna, foi-se
consolidando: a common law.
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tomamos hoje. A condição primeira dos indivíduos na história, antes da vida social, na
qual os homens são livres, os modernos a denominam estado de natureza. Estando os
homens em estado natural, lá encontram liberdade sem controles, mas tal liberdade é
pouco apreciada, segundo o pensamento filosófico dos modernos, porque não há garantia
de seu exercício racional e nem de salvaguarda dos direitos naturais. Por isso, como meio
de instituir uma ordem capaz de garantir seus interesses e direitos, os indivíduos, dando
vazão à sua vontade livre, dispõem-se a viver em sociedade. Como tal vida social é
artificial, gerada que foi por um contrato e não por um dado natural, impõe-se um respeito
mútuo às regras acordadas. Não se pode, então, viver sob a independência total do estado
natural, onde cada indivíduo era seu soberano. É preciso que haja uma instância política
que unifique as vontades individuais.
As teorias do contrato social, que fundamentam a teoria política moderna, são
também um espelho das teorias do direito natural, que se constituem como base da
filosofia do direito moderna iluminista. Como os homens são, em natureza, iguais, o
contrato social é estabelecido a partir de parâmetros iguais. Todos os homens, assim,
possuem os mesmos princípios que devem ser resguardados na vida política, porque,
quando se associaram contratualmente, valia cada qual o mesmo que o outro. Começa a
nascer daí a ideia dos direitos naturais do homem, que é a tônica da filosofia política e
jurídica dos modernos.
A filosofia do direito moderna iluminista tem por tema mais importante a
postulação de um direito natural da razão. O exercício da razão não está, para a filosofia
moderna, em homens privilegiados, em autoridades (e não está, pois, no soberano
absolutista). A razão, para os modernos, é um dom a todos distribuído, e a possibilidade
de se conhecerem as leis naturais é igualmente dada à razão de todos. Na medida em que
se afasta o arbítrio de um monarca, o Iluminismo também afasta a perseguição às ideias
contrárias ao detentor do poder estatal.
O pensamento jusfilosófico moderno, no movimento que se dá do
Absolutismo ao Iluminismo, foi produzido por uma série de pensadores de grande vulto.
O último e marcante deles foi Kant. Mas Hobbes, Locke e Rousseau, que influenciaram
decisivamente os seus tempos no que tange à política e às lutas sociais, são também três
pensadores muito distintos no que diz respeito aos horizontes postulados, ainda que sejam
todos defensores da ideia de contrato social.
a) Thomas Hobbes.
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As leis naturais, para Hobbes, obrigam in foro interno, isto é, para a própria
pessoa, sua vontade e consciência, mas não in foro externo, ou seja, na convivência
concreta dos homens em sociedade.
Menciona ainda o Hobbes, ao dispor que o homem não irá, de forma livre e
espontânea, cumprir com as leis naturais, que os pactos sem a espada não passam de
palavras, sem força para dar segurança a ninguém. Portanto, apesar das leis de natureza
se não for instituído um poder suficientemente grande para a nossa segurança, cada um
confiará, e poderá legitimamente confiar, apenas na sua própria força e capacidade, como
proteção contra todos os outros.
Hobbes diz, ainda, que o justo a súdito é obedecer as regras ditadas pelo
soberano (leis civis) e não as leis naturais. Há, no entanto, no pensamento de Hobbes,
uma grande exceção à submissão total ao soberano: o direito de se valer dos meios
necessários para preservar a própria vida. Isso não serve como mostra de que Hobbes
fosse um propugnador do jusnaturalismo, opondo-se ao direito positivo. Trata-se do
contrário, justamente porque é uma exceção.
De maneira muito peculiar, é verdade que o pensamento jurídico hobbesiano
afirma o direito natural, mas para depois dissolvê-lo sob a égide do poder absoluto do
soberano.
b) Jonh Locke.
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ante a incerteza e a constante exposição à violação por parte dos outros (medo). “E não é
sem razão que ele procura e almeja unir-se em sociedade com outros que já se encontram
reunidos ou projetam unir-se para a mútua conservação de suas vidas, liberdade e bens,
aos quais atribuo o termo genérico de propriedade.”
Locke também estabelece uma distinção entre os poderes na sociedade
política, destacando três: o legislativo (com maior poder), o executivo e o federativo.
Locke também escreveu sobre o direito natural. Para ele a lei natural busca a preservação
de si mesmo e da humanidade e, no estado de natureza, todos os indivíduos são executores
da lei natural, na medida em que ainda não há um Estado que possa se arrogar nesse papel.
Para Locke a propriedade está entranhada como direito natural do indivíduo; vem antes
do Estado. Contra ela o Estado não tem poder, devendo respeitá-la.
A propriedade privada é a razão de ser do contrato social e é o eixo central e
problemático da filosofia de Locke. Muito embora ele mencione que é ilegítimo possuir
mais alimento que o necessário numa situação de natureza, ao dispor acerca da vida em
sociedade, argumenta que, em decorrência da existência de dinheiro (prata e ouro) é
possível ter mais alimento que o necessário, visto que este pode ser estocado ou vendido.
Uma visão liberal diretamente ligada ao interesse burguês.
Argumenta ainda que mesmo o poder supremo não pode tomar a propriedade
excedente de seus proprietários. O desrespeito à propriedade torna o governo tirânico.
c) Jean-Jacques Rousseau.
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torna o homem egoísta –, leva-o a pensar nas causas da vida em civilização e do seu
perecimento.
Não busca a volta a um idílico estado natural. Antes, seu projeto é o de
entender a natureza humana para saber se ainda há solução para consertar a própria
civilização, dado o grau de degeneração a que ela e os homens chegaram. A diferença de
abordagem sobre o homem na natureza entre Rousseau e demais contratualista é que,
segundo ele, estes buscaram o homem natural com as lentes da própria condição humana
presente. Ou seja, não conseguiam investigar o homem em seus estágios mais primitivos
e, em decorrência disso, suas teorias sempre situam o homem natural com alguns atributos
que são já da civilização.
Assim sendo, Rousseau não fará uma “antropologia” do estado de natureza.
Pelo contrário, trabalhará no plano das hipóteses, num nível argumentativo. Não é
empiricamente que se constata o estado de natureza, porque toda empiria estaria viciada
com a visão de mundo da constatação presente.
Em seu livro “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade
entre os homens” Rousseau diferencia o homem do animal, além de tratar de aspectos
metafísicos e morais do homem. Rousseau, em “Discurso sobre a origem e os
fundamentos da desigualdade entre os homens”, afirma o contraste de suas posições em
relação às de Hobbes: não é possível transferir os vícios que são do estado de civilização
para o estado natural.
O homem não é naturalmente mau. Em estado de natureza, não é pelo fato de
que haja uma ausência da ideia de bondade que o homem será constituído por uma
condição má. A ignorância leva o homem à calma das paixões (esta – calma –, reconhece
Rousseau, não é, todavia, eterna).
A segunda parte do Discurso sobre a origem e os fundamentos da
desigualdade entre os homens se abre com uma das mais conhecidas e fundamentais
proposições de Rousseau.
O que dá origem ao estado de desigualdade entre os homens, se, de início, a
calma das paixões e o uso dos recursos da natureza são-lhes suficientes? É justamente o
surgimento da propriedade privada que marca a destruição da condição de felicidade
natural, passando a impor aos homens os sofrimentos sociais.
A conclusão de Rousseau é clara. Com a propriedade privada e a competição
e a vaidade entre os homens, instaura-se um estado de guerra e, então, os poderosos
conclamam os fracos a um pacto. Facilmente todos concordam com tal contrato, e dele
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d) Kant.
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específicos, como À paz perpétua (1795) e a Metafísica dos costumes (1797), são obras
dessa etapa final de sua vida, que se poderiam contar como um momento derradeiro, após
suas três grandes críticas, e com relevo interessam ao direito. Na própria Metafísica dos
costumes Kant trata especialmente do direito, na primeira parte da obra, a chamada
“Doutrina do direito”.
A construção do modelo filosófico kantiano não é nem empirista nem
racionalista. Kant reconhece em David Hume uma verdade necessária: por meio das
experiências, somos informados dos eventos e fatos que se nos apresentam. Mas o
conhecimento, para Kant, não era somente a apresentação das coisas à nossa vista. Sua
proposta, muito mais elaborada que o racionalismo e o empirismo, será conhecida como
um dos momentos marcantes do idealismo alemão. Trata-se de uma relação superior entre
realidade e razão.
Sobre a questão do conhecimento, começa Kant sua teoria reconhecendo a
existência do conhecimento empírico, aquele que se dá com base na experiência. O sujeito
do conhecimento conhece, sim, por meio da experiência. Alguém sabe a cor da parede de
tal casa porque a viu.
Kant, no entanto, rejeitará que a percepção nos leve ao conhecimento das
coisas em si. Para ele, o que se conhece das coisas, com a percepção, é só o fenômeno que
tais coisas representam para o sujeito do conhecimento. Fenômeno, nessa acepção
kantiana, quer dizer daquilo que se apresenta da coisa para os sentidos do sujeito do
conhecimento.
O fenômeno, a aparência das coisas para conosco, é a relação que o sujeito
do conhecimento tem com a experiência. Mais importante do que a coisa que é vista, para
Kant é o sujeito que vê. É o sujeito que vê que transforma o fenômeno em um objeto para
o pensamento.
Com isso, com a percepção conhecendo só fenômenos, Kant exclui a
possibilidade do conhecimento das coisas em si, rejeitando, assim, uma parte da teoria do
empirismo. Se as coisas em si não são a causa do conhecimento universal, serão as
ferramentas dos sujeitos a causa da universalidade do conhecimento. Como todos
compreendem os fenômenos por meio das mesmas ferramentas, o conhecimento é
universal, não por causa da coisa conhecida, mas por conta de quem conhece.
A apreensão dos fenômenos só é racional porque há no sujeito estruturas
prévias, chamadas então por a priori, que possibilitam perfazer o conhecimento.
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A razão prática.
A razão pura, para Kant, trata do conhecimento dos fenômenos, das condições
de possibilidade do entendimento. Mas, para o direito, mais importante que a razão pura,
será a razão prática. De que maneira será possível conhecer o justo? Com certeza não por
meio da experiência, a teoria kantiana sobre a justiça e a injustiça, sobre o bem e o mal,
sobre o belo, sobre o correto, as virtudes, enfim, sobre tudo que envolve o mundo dos
valores, da vida prática, das considerações para a ação e o julgamento humano, essa teoria
em Kant faz-se com base na razão prática, cujo núcleo residirá nos imperativos
categóricos.
Segundo Kant, para estruturar a razão prática é preciso distinguir entre dever
e moralidade. Agir conforme o dever é empreender as ações que sigam os trâmites de
uma determinada legalidade. Mas seguir o dever não significa, necessariamente, o
cumprimento da moralidade.
Alguém pode cumprir o dever da caridade por interesse: quer ter
reconhecimento social.
A moralidade não é apenas o cumprimento do dever. É mais: trata-se de uma
predisposição a cumprir o dever sem nenhum outro fundamento que não apenas o próprio
querer. Por isso, a moralidade não se mede pelo seu resultado. O querer, sem intenções
outras que não o próprio cumprimento do dever, é seu fundamento último.
A boa vontade é elevada como eixo instituidor da moralidade kantiana. Trata-
se de um querer somente pelo querer. Essa é uma visão da moralidade muito distinta
daquela construída pelos antigos ou pelos medievais. Para os antigos, como Aristóteles,
a moralidade busca o alcance de um fim.
Para Kant, a boa vontade é boa não porque leve à felicidade, nem porque
atinja um fim desejado por Deus, mas apenas por si própria. Mesmo que o resultado da
boa vontade fosse totalmente obstado pelas circunstâncias, o querer é suficiente por si
mesmo, pouco importa seu resultado.
O imperativo categórico.
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O direito em Kant.
Para Kant, o direito se distingue da moral porque esta última busca uma
espécie de prática da lei por si mesma, tendo seu âmago na vontade interna do sujeito,
enquanto o direito se impõe como uma ação exterior, concretizando-se no seu
cumprimento, ainda que as razões do sujeito não sejam morais.
Para Kant, os princípios que regem racionalmente o direito são hauridos da
mesma fonte lógica daqueles que regem a moral. Os imperativos categóricos são base da
moral. O seu lastro está na universalidade das normas. Também o direito é pensado a
partir de uma universalidade. Tal como a moral não é um horizonte adaptável conforme
as conveniências, não é justo o direito parcial, particular, que dá privilégios. Somente as
normas universais podem ser pensadas como justas.
Como os demais burgueses modernos, para ele o direito natural é da razão,
extraído como possibilidade do pensamento do sujeito. Kant representa a mais radical
ruptura com o pensamento jurídico antigo, clássico, cujo maior propositor fora
Aristóteles. Para este, a natureza ensinava, servia de guia e mensuração. Para Kant, o
direito justo é pensado, e não necessita nem de confirmação nem de correções na
realidade.
O direito justo não é aquele que visa ao bem comum. Não é aquele que se
orienta para corrigir as desigualdades sociais, e tampouco para amparar os mais frágeis
na sua relação com os mais fortes. Apenas a forma da relação entre livres e iguais é o que
importa. Assim sendo, num decisivo trecho da Metafísica dos costumes, Kant conceituará
o direito como uma esfera exterior do dever (e não interior, como no caso da moralidade),
e dirá que o direito não se mede pelos proveitos, necessidades e explorações concretos da
relação, e sim apenas pela forma que seja presumida livre e igual.
A mera forma da relação presumida livre e igual corresponde, em Kant, ao
apogeu da legitimação da relação de exploração capitalista, sem considerações maiores a
respeito da sua injustiça estrutural. O bem-estar social não encontra abrigo em suas
reflexões jurídicas. A mera conservação dos parâmetros da circulação mercantil e dos
contratos é o que Kant considerará por direito justo.
No pensamento kantiano, não há diferenciação entre o direito racional e a
moral no que diz respeito ao conteúdo das normas em si, tendo em vista que as normas
jurídicas racionais e as morais são pensadas todas a partir de uma mesma forma –
imperativos categóricos. Sendo o imperativo o mesmo para a moralidade e para o direito,
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a moral se cumpre por um querer interior ao sujeito e o direito se revela por meio da
coerção externa ao sujeito, promovida pelo Estado.
A liberdade plena do indivíduo é perdida em favor do Estado para que este,
então, guarde-a e a permita. Em não sendo possível fundar a sociabilidade apenas em
moralidade racional, que busca a si mesma, Kant apresenta ao seu lado o direito, lastreado
na coerção estatal, a bem, principalmente, da manutenção da ordem social burguesa.
O contratualismo kantiano.
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No que diz respeito à sua visão sobre a cidadania, Kant reconhece, no poder
legislativo, uma ligação com a vontade do povo, que se expressa por meio das eleições.
Ocorre que, na sua teoria, eleitor deve ser o proprietário, aquele que tem meios próprios
para viver e não se submete ao trabalho controlado por um terceiro.
O próprio Kant busca matizar sua posição, ressaltando que o trabalhador
subordinado é também um cidadão, mas, não sendo proprietário nem dono de seus
próprios meios de subsistência, é um cidadão passivo sem direito a votar.
Além disso, sua abominável distinção entre cidadãos ativos e passivos – que
segrega o trabalhador e a mulher – revela o quanto sua filosofia política e do direito não
representa um marco de rompimento, mas sim de conservação do já dado.
Para Kant, ainda que o soberano seja um tirano, injusto, não há um direito de
resistência do povo, que deve se conformar à condição jurídica dada, sem postular uma
revolução. Se o direito natural se consubstancia num direito positivo que garanta a
liberdade recíproca dos indivíduos, atentar contra tal ordem é injusto.
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No que tange ao direito das gentes, Kant constata que os Estados encontram-
se, nas relações entre si, muitas vezes numa situação ou de guerra ou de hostilidade,
semelhante ao estado de natureza entre os indivíduos.
A fim de superar tal estágio, não se há de pensar num poder soberano por
sobre os Estados, pois isso acabaria com suas independências e se encaminharia a uma
tirania de um Estado mais forte sobre os outros. A proposta kantiana é de uma federação
de Estados. Muitos vislumbram, em tal proposta kantiana, o primeiro embrião teórico de
uma entidade supranacional como a Organização das Nações Unidas.
Além de um direito das gentes, Kant aponta em direção a um direito
cosmopolita. Pode-se dizer que o direito cosmopolita é um avanço proposto por Kant em
relação ao já tradicional direito das gentes. Não se trata apenas de analisar o direito que é
dado a cada cidadão a partir de seu Estado. Trata-se do direito do cidadão numa sociedade
internacional.
No seu terceiro artigo proposto em À paz perpétua, disse Kant que o direito
cosmopolita deve se limitar às condições da hospitalidade universal, não pode transbordar
para o colonialismo ou o imperialismo.
Na filosofia de Kant, sua expectativa a respeito do futuro não está mensurada
em fatos empíricos, nem num método que aponte a um caminho histórico necessário. Pelo
contrário, Kant propõe uma leitura apenas das possibilidades humanas tendo em vista o
uso da razão.
Nesse sentido, é de fundamental importância para Kant o papel do direito na
consecução das possibilidades futuras da humanidade. Kant chega mesmo a apontar a
organização de uma sociedade civil que sustente o direito como maior problema do
gênero humano.
Na visão kantiana, é o progresso justamente do direito que acarreta a melhoria
da humanidade. A razão construirá uma possibilidade do futuro a partir do progresso
jurídico.
Ao morrer, tendo já entrado no século XIX, deixou Kant todo o embasamento
filosófico para o pensamento jurídico burguês de seu tempo, sendo que, até os dias atuais,
as retomadas de muitas posturas jusfilosóficas liberais e de legitimação da ordem jurídica
do capitalismo continuam a passar por ele.
e) Jeremy Bentham.
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O princípio da utilidade.
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O papel do Direito.
Para Bentham, ética, moral e Direito eram a mesma coisa. Pretendia iniciar
uma nova ciência do Direito, tal como reformar a sociedade, tornando-a moderna e
disciplinada. "Contrariamente aos juristas mais destacados desse período, Bentham
defendeu a ideia de que as leis são revogáveis e aperfeiçoáveis", salienta Peluso.
Porém, a medida também era conservadora: "Bentham sempre temeu as
revoluções que, em seu tempo, viu varrer o continente europeu e as Américas. A ordem
e a segurança eram preocupações centrais, assim como era crucial poder contar com essa
previsibilidade da interação e da certeza do resultado. O comércio exige um sistema
jurídico que faça cumprir as promessas e assegure as expectativas legítimas", narra
Morrison. Também frisa Peluso: "Educação e disciplina social são as duas pilastras que
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Resumo do edital de humanística – TJSP 187 – Grupo TJSP 2017
prazer particular e o bem público. Nesse sentido, a felicidade alheia é desejada porque
está associada com a própria felicidade do sujeito moral", explica Peluso. Morrison
complementa: "O direito objetiva aumentar a felicidade total da sociedade ao
desestimular os atos que possam gerar más consequências. Um ato criminoso ou ilegal
representa, por definição, uma prática claramente prejudicial à felicidade do corpo social;
somente um ato que, de alguma forma específica, inflija na prática algum tipo de dor –
diminuindo, assim, o prazer de um indivíduo ou grupo específico – deve ser objeto da
preocupação do Direito."
127
Resumo do edital de humanística – TJSP 187 – Grupo TJSP 2017
bêbado, ainda que Bentham admitisse que nem a infância nem a intoxicação eram bases
suficientes para a ‘impunidade absoluta’. A punição também não deve ser infligida (iii)
quando for improfícua ou excessivamente onerosa, ‘quando os danos em que resultasse
fossem maiores do que aquilo cuja ocorrência impedisse’; (iv) quando for desnecessária,
‘quando o dano puder ser impedido ou interrompido sem ela, isto é, a um menor custo’,
sobretudo nos casos ‘que consistem na disseminação de princípios perniciosos em matéria
de dever’, uma vez que em tais casos a persuasão é mais eficaz do que a força", diz
Morrison.
128
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OBSERVAÇÃO
Os então denominados pós-positivistas seriam, para o autor, os positivistas
éticos (pág. 312). Esse resumo trata de todo o juspositivismo, na classificação do autor
(ecléticos, estritos e éticos).
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Cada uma das vertentes representa uma visão sobre o fenômeno jurídico.
O juspositivismo é reducionista, pois reduz o direito aos limites de sua
manifestação estatal → reducionismo ao normativismo.
O segundo campo não juspositivista escapa do reducionismo, pois entende
que o direito não é autônomo e desconectado e por detrás das normas existem relações de
poder, que são históricas, concretas e sociais → reducionismo ao campo político estatal
ou ao poder.
O marxismo (e somente ele) alcança a plena compreensão do direito, pois não
amplia o objeto somente para as relações de poder, mas também entende os nexos mais
profundos dessas relações → visão da totalidade.
Juspositivista: Kelsen
Não juspositivista e não marxista - decisionista: Carl Schmitt
Não juspositivista e marxista: Evgeni Pachukanis
Esses citados são doutrinadores originais, pois não se apoiam em outras
posições: “são o extrato mais puro das três visões mais distintas possíveis do direito”.
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RESUMINDO
CONTEMPORANEIDADE
JUSPOSITIVISMO NÃO JUSPOSITIVISTA E NÃO JUSPOSITIVISTA E
NÃO MARXISTA NÃO MARXISTA
Visão estatal, formalista, Filosofia do Direito do poder Filosofia do Direito Crítica.
institucional e liberal. ou existencialista. Visão crítica mais profunda,
Tem uma visão realista, não com horizonte mais amplo
formalista e não liberal, porém, para transformação social,
sem a visão crítica e profunda política e jurídica
do marxismo.
Dupla exclusão
Estrito: normativista Existenciais Marxismo
extremo Decisionismo
Ético: moralistas Microfísica do poder
Eclético
Reduz o direito ao Escapa do reducionismo ao Amplia para analisar os nexos
normativismo normativismo. e finalidades das relações de
Porém, reduz o Direito ao poder.
campo do poder político e das Visão plena do Direito
relações de poder
Kelsen Heidegger Marx
Kant Gadamer Evgeni Pachukanis
Hegel Foucault
Carl Schmitt
O juspositivismo.
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RESUMINDO
JUSPOSITIVISMO REDUCIONISTA: adstrito, reduzido às normas
Direito = norma estatal
Fundamentos metodológicos: filosofia analítica, linguística e lógica
Analítica: análise autônoma da norma (Kelsen)
Linguística: aspectos da comunicação.
Lógica: lógica normativa.
JUSPOSITIVISTAS NÃO REDUCIONISTAS
Ecletismo: pré-reducionista → Savigny (escola histórica) e Miguel Reale
(culturalismo).
Ético: pós reducionista → Jurgen Habermas.
Observação
O juspositivismo é sempre conservador, ainda que em níveis variados.
RELEMBRANDO
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Segunda vertente
Podem ser denominadas como FILOSOFIA DO DIREITO DO PODER
OU EXISTENCIALISTA, e têm uma perspectiva realista, não formalista e não liberal,
porém, sem a visão crítica e profunda do marxismo (por isso essa vertente é definida
por dupla exclusão: não positivista e não marxista).
Dentro dessa vertente, estão as filosofias existenciais, o decisionismo ou a
microfísica do poder.
RESUMINDO
Existencial: recusa do positivismo presente e futuro. Busca do passado.
Naturalismo aristotélico.
Decisionismo: não há recusa total ao positivismo, mas sua utilização como
expressão do poder político. A verdade política supera a norma. Modernidade estatal.
Microfísica do poder: superação do direito positivo para uma nova
construção social, libertária
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Resumo do edital de humanística – TJSP 187 – Grupo TJSP 2017
Observação
Em tese, Habermas poderia ser considerado um filósofo crítico (do
marxismo). Porém, o marxismo somente admite o reformismo como meio de alcançar
a revolução, e não como solução social definitiva. Por essa razão, Habermas pertence
à ala radical do não juspositivismo e não à ala conservadora do marxismo.
Na verdade, para o estabilizado capitalismo europeu-norte-americano,
Habermas é progressista. Para as necessidades do capitalismo periférico, Habermas é
conservador.
A situação se assemelha a Foucault: o Brasil o lê como grande crítico (3ª
vertente), enquanto a Europa o enxerga como não marxista.
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Horizontes contemporâneos.
RESUMINDO
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136
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RESUMINDO
Absolutismo: direito positivo contrário aos interesses da burguesia
Burguesia: jusnaturalismo racional → razão elenca liberdade, igualdade e
propriedade privada como direitos naturais
Séc XIX = fim absolutismo = ideais jusracionalistas incorporadas ao direito
positivismo.
Busca da burguesia pela segurança jurídica e previsibilidade = o justo é dito pela Estado
→ noções de “sistema” e “técnica”.
Pensamento jurídico = teoria geral do direito.
RESUMINDO
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O juspositivismo eclético.
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RESUMINDO
Ecletismo: direito fundamentado em diversos aspectos extranormativos.
Primeira inspiração: jusnaturalista
Outras escolas importantes:
- Escola histórica de Savigny → direito como manifestação do espírito do povo.
Incorporação desse espírito à norma
- Teoria Tridimensional (Miguel Reale)
Reale e a tridimensionalidade.
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OBSERVAÇÃO
Embora influenciado por Kant, aqui Reale dele se afasta, pois para Kant os
campos do ser e do dever-ser tinham especificidades próprias, havendo uma estrutura
estritamente lógica-formal no ato de conhecer, sem qualquer elemento axiológico.
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RESUMINDO
REALE
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A ontognoseologia de Reale.
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RESUMINDO
Dialética de Reale → integração do conhecimento e da realidade → dialética de
implicação e polaridade.
Ontognoseologia: ontologia + gnoseologia.
Ontologia: ciência do ser.
Gnoseologia: ciência do conhecimento.
Ontognoseologia: fusão do ser e do conhecimento, da realidade com a teoria → base
da tridimensionalidade especifica → relação processual, dinâmica, não estanque entre
fato, valor e norma.
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RESUMINDO
Direito não é produto da intelecção racional, mas da experiência cultural (a cultura
advém da experiência)
Cultura → caráter histórico social do Direito
Caráter histórico → evolução. Porém, em um dado momento, o valor se torna se torna
uma constante axiológica
Conjectura: Reale desenvolve a noção de conjectura, que estabelece com a ciência uma
dialética de polaridade e implicação → muitas verdades cientificas são conjecturas que
permitem a expansão do conhecimento.
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não pode ser chamada de sincrética (no sentido de não ser positivista); O professor
REALE É UM POSITIVISTA – o direito é dever ser, tem a sanção como elemento
fundamental, permite o exercício ideológico e resulta da vontade de um poder qualquer.
Ou seja, ainda que não somente juspositivista, Reale funda no Estado e no
direito positivo o momento superior da juridicidade. Há relevância dos valores, mas
não há juízo sobre eles. Os tipos de relações sociais que ensejam o direito, as interações
de poder, o papel das relações histórico-sociais não têm tratamento preferencial no
pensamento realeano (como tem nas doutrinas criticas).
Os juspositivistas estritos.
145
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OBSERVAÇÃO
Os procedimentos utilizados por Kelsen foram extraídos da lógica e da base
filosófica de Kant.
Porém, ao mesmo tempo em que Kelsen conclui uma teoria puramente
normativa do direito, também deixa aberto o campo para que o método analítico se
desdobre sobre novas questões. Assim, pode-se vislumbrar uma continuidade de
Kelsen na filosofia do direito analítica que se desenvolve desde então, bem como na
filosofia analítica da linguagem, que tornou-se carro-chefe do pensamento analítico e
conservador, de resistência às teorias críticas, como a marxista.
146
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do entendimento científico que se pode fazer a respeito dessa manifestação. Para Kelsen,
o direito e a ciência do direito são coisas distintas.
Considerando que o DIREITO É DIFERENTE DA CIÊNCIA DO DIREITO,
Kelsen não pretende que o fenômeno jurídico seja puro, mas que a ciência do direito seja
pura.
O entendimento de Kelsen se refere à ciência jurídica e sua teoria É PURA
POR NÃO ENVOLVER A REALIDADE JURÍDICA, já que a ciência do direito não
é sociologia do direito, nem filosofia do direito, não é especulativa, nem empírica. A
ciência do direito é uma ciência técnica e o fato é considerado cientificamente para o
direito somente enquanto iluminado por um sentido normativo. Ou seja, os atos brutos
somente são compreendidos se passarem por uma interpretação normativa → os fatos não
revelam o direito, mas sim a interpretação normativa dos fatos.
OBSERVAÇÃO
Os juspositivistas sabem que na prática, o direito se mistura a todos os demais
fenômenos sociais. Porém, para eles, nem por isso o Direito irá se misturar
cientificamente, pois a ciência está em outro patamar. A ciência do direito abstrai os
fatos concretos e trabalha em um outro nível, das normas estatais.
Quando a Teoria Pura delimita o conhecimento do Direito em face de outras disciplinas
(sociologia, política etc), faz isso não por ignorar ou negar a relação do Direito com
tais ciências, mas porque quer impedir um sincretismo metodológico que obscurece a
essência da ciência jurídica.
OBSERVAÇÃO
A propósito, a construção teórica de Kelsen, lastreada numa filosofia neokantiana
formal, objetiva, analítica, encerrada em normas estatais – pura, no seu dizer – alcançou
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fama e uso universal e sua teoria pura do direito almejou seu intento de ser o
espelho da universalidade da técnica normativa estatal contemporânea.
A perspectiva kelseniana também é responsável pela nomenclatura mais usual da
ciência → teoria geral do pensamento jurídico e da prática jurídica, separando a
filosofia do direito da teoria geral do direito (cujo objeto é a norma).
Como teoria, quer única exclusivamente conhecer o seu próprio objeto: o que
é o Direito? Não importa como o Direito deve ser. É ciência jurídica e não política do
Direito. A objetividade do conhecimento deve ser afastada de qualquer entendimento do
direito enquanto fato social, enquanto fato econômico, enquanto fato político ou moral.
O direito não é analisado pelo campo de sua manifestação concreta, como ser. Para
Kelsen, o direito só pode ser entendido cientificamente a partir da norma, do campo do
dever-ser → método normativo, objeto normativo, núcleo especificamente jurídico.
A especificidade do Direito não é investigada com as ciências naturais,
orientadas para a explicação através da lei da causalidade. Em lugar do nexo de
causalidade, o conceito central da teoria jurídica é o de norma jurídica, que vincula certas
ação humana a determinadas consequências, em termos de IMPUTAÇÃO. Como
consequência, as normas não podem ser analisadas na esfera da realidade do “ser”, mas
sim no plano do “dever ser”.
Pode-se dizer que o pensamento jurídico kelseniano é NEOKANTIANO.
A proposta filosófica de Kant foi a de perguntar sobre o quê e como se pode
conhecer. Distinguindo o conhecimento específico e objetivo do pensamento
especulativo, Kant abriu margem à sua teoria pura do conhecimento, em sua obra
Crítica da razão pura.
A teoria pura implica o encerramento parcial dos fenômenos sociais,
utilizando-se o MÉTODO ANALÍTICO → para ser analisado na ciência do direito, o fato
pretende-se objetivo, cerrado, isolado a partir de algumas premissas.
Para Kelsen, o pensamento a partir da totalidade se perde. A ferramenta
analítica restringe-se à parcela que se ele considera, cientificamente, por direito. O
resultado de tal método é uma profunda objetividade, mas também um profundo
desgarramento das manifestações da totalidade social.
Analítico quer dizer “quebra”
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OBSERVAÇÃO
Embora seja uma criação teórica científica, a norma fundamental contém
um grau de realismo, na medida em que diz ao jurista qual ordenamento é válido. Há
uma certa ligação entre a norma fundamental e aquele ordenamento específico (norma
fundamental da CF/88 se liga ao nosso ordenamento, não ao hindu). A norma
fundamental não é um mero capricho do jurista; é uma diretriz para o ordenamento que
se apresenta na realidade.
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RESUMINDO
JUSPOSITIVISMO ESTRITO
Análise do conhecimento jurídico baseado no dever-ser, alijado do ser, da realidade.
Principal expoente: Kelsen
Outros autores: Alf Ross, Herbert Hart e Norberto Bobbio
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KELSEN:
- Direito é diferente da ciência do direito (fenômeno ≠ ciência).
- A pretensão de Kelsen é uma ciência pura e não um fenômeno jurídico puro.
- O objeto da ciência do direito são as normas, o “dever ser”, e não sua manifestação
concreta (ser).
- Ciência do Direito = Direito positivo em geral = universalidade = lógica formal
invariável
- O caráter universal foi acolhido pelo pensamento contemporâneo → teoria geral do
direito encarada de forma autônoma
- Teoria pura: não considera a realidade (e outras disciplinas = sociologia, política,
filosofia).
- O método é normativo, o objeto é normativo, núcleo é especificamente jurídico
estatal.
- A causalidade (típica das ciências naturais) é representada pela imputação (conduta
→ consequência) = se A é, B deve ser.
- Kelsen é neokantista, pois Kant foi quem abriu margem à teoria pura do conhecimento
(Crítica à razão pura)
- Método analítico: encerramento parcial dos fenômenos sociais - isolamento dos fatos.
- A ciência jurídica é lógica, porém, sem verificação empírica. A verificação da ciência
jurídica se dá por coerência, mediante a regularidade formal da norma → normas
superiores como fundamento de validade das inferiores.
- Abordagens teóricas das normas: estática e dinâmica.
- Estática: compreensão interna das normas; inferência das consequências lógicas
internas → normas jurídicas tem um vínculo de imputação, de dever-ser + aparato
estatal
- Dinâmica: criação e relação entre as normas
- Na criação, há um ato de vontade (norma → vontade → norma)
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Os juspositivistas éticos.
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RESUMINDO
Resgate da moral – meados e final do séc XX
Alguns denominam tais pensadores de pós-positivistas; porém, suas ideias
não são posteriores ao positivismo nem são desgarradas do direito estatal.
Vários modos de encarar a relação Direito x moral → dificuldade de
classificação.
Melhor termo didático: juspositivistas éticos
Alguns expoentes: John Rawls, Ronald Dworkin, Robert Alexy e Jürgen
Habermas.
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Resumo do edital de humanística – TJSP 187 – Grupo TJSP 2017
LEMBRANDO
Em tese, Habermas poderia ser considerado um filósofo crítico (do marxismo). Porém,
o marxismo somente admite o reformismo como meio de alcançar a revolução, e não
como solução social definitiva. Por essa razão, Habermas pertence à ala radical do não
juspositivismo e não à ala conservadora do marxismo.
Na verdade, para o estabilizado capitalismo europeu-norte-americano, Habermas é
progressista. Para as necessidades do capitalismo periférico, Habermas é conservador.
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OBSERVAÇÕES
O autor entende que ao “abandonar” o Marxismo, Habermas se tornou menos profundo, pois a
Teoria do agir comunicativo não permite o mesmo nível de apreensão que o marxismo
possibilita. Diz que o trabalho libera o discurso comunicativo, por liberar os homens dos
constrangimentos de ordem material.
Entende também que a filosofia analítica, própria do capitalismo liberal e que enxerga a
comunicação como um limite à universalização do conhecimento,
tem pontos em comum com o pensamento de Habermas.
Ao final, o autor também consigna que nem todos os conflitos sociais são processualizados sob
a forma de Direito e, por isso, o Direito não poderia resolvê-los.
RESUMINDO
Primeiro momento: marxista e hegeliano → Escola de Frankfurt
Posteriormente: virada linguística → agir comunicativo
Pensamento reformista, social-democrata, de resgate ao projeto sócio-político do pós-guerra.
Sociabilidade se funda na comunicação.
Processo de comunicação → consenso → estabilização do consenso → razão
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Como instrumento da democratização ética, o Direito deve ser objeto de um jogo dialético, de
comunicação com a sociedade
Legitimidade do Direito → comunicação
Moral: legitimidade interna
Comunicação – democracia: legitimidade externa
Dialética: sociedade comunicativa → direito → novos institutos jurídicos
O discurso de consenso de Habermas fundamenta a prevenção de conflitos supranacionais,
sugerindo uma interação cosmopolita.
PALAVRAS CHAVES – HABERMAS
Virada linguística → teoria do agir comunicativo
Sociabilidade → comunicação → consenso → razão e verdade
Direito e Democracia evitam conflito → instrumentos de consenso
Consenso → transformação social
Direito: generalização da ética e da democracia
Legitimidade do Direito advém da comunicação
Consenso → prevenção de conflitos
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Heidegger.
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O Ser-aí.
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A técnica.
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A política.
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O direito.
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Gadamer.
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pelo sujeito, que teoricamente utilizaria da sua razão como uma ferramenta
independente. Já para Gadamer, seria necessário compreender a hermenêutica como um
fenômeno de apreensão da verdade existencial do ser, e não apenas de sua
correspondência a um conceito correto. O ser há de se revelar mais amplo do que aquele
previsto no catálogo do correto da ciência e da racionalidade moderna. A busca da
verdade não é uma questão de método científico”.
Logo, a hermenêutica existencial não se consolida como um conjunto de
ferramentas que determinam, de antemão, tudo o que será investigado. Pelo contrário,
aliás, a realidade e aquele que a compreende estão numa posição de constante fusão de
horizontes, em um processo que não se exauri em determinações lógicas. Em virtude de
tal abertura da hermenêutica para além do método das ciências e da filosofia moderna,
Gadamer comparará a perquirição sobre a hermenêutica à arte. Parecido com Heidegger,
que situava no poético a morada do ser, Gadamer, seu mais próximo discípulo, também
vislumbra, na experiência da arte, as profundidades da hermenêutica, que o método
científico não alcança.
Ao transcender as barreiras das ciências e da filosofia moderna, as quais
insistem em estabelecer um método universal para a apreensão da verdade, o projeto de
Gadamer, em sua obra máxima Verdade ou método, é, praticamente, a proposição de que
a verdade é justamente impossibilitada pelas determinações teóricas prévias com
pretensões lógicas acabadas. Ou seja, é como se, parodiando ironicamente o título do seu
livro, desse-se verdade ou método.
Contrastando as pretensões universais dos métodos, o pensamento de
Gadamer insiste num reposicionamento positivo da hermenêutica. Na mesma linha de
Heidegger, Gadamer afirma a hermenêutica como compreensão existencial. É impossível
que o intérprete proceda de modo afastado da sua condição existencial. A filosofia não se
constrói com um pensamento externo e altaneiro em face do mundo. Para Heidegger, a
filosofia se abre hermeneuticamente porque não pode ser dada como metodologicamente
prévia à existência.
Daí a impossibilidade de fundar a filosofia num método ou numa posição
idealista. Gadamer vai além, para afirmar que não só a filosofia é hermenêutica, como a
própria hermenêutica é o modo geral de compreensão do mundo. Dessarte, a
hermenêutica erige-se como o horizonte que faz com que a filosofia, bem como as artes,
a teologia e mesmo o próprio direito venham a operar com os mesmos padrões e aberturas.
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O direito em Gadamer.
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tomada no seu sentido geral. (…). A hermenêutica jurídica, assim sendo, revela uma
indissociação entre o texto interpretado e o caso em tela no qual a norma se aplica. O
jurista não é outro em relação ao mundo da decisão que tomará. Está mergulhado nesse
mesmo contexto, com seus preconceitos e seus horizontes. A prática e a aplicação o
orientam, num processo que é unitário. (…). A interpretação do direito não é um
processo que alcançasse primeiro uma verdade essencial das normas jurídicas e que,
depois, se veria perder quando de sua aplicação em casos concretos. Pelo contrário, a
verdade jurídica é a própria aplicação do direito. A realidade não é um empecilho à
hermenêutica jurídica, mas, antes, é o próprio solo no qual opera. Não há um momento
ideal normativo, prévio ou alheio à realidade do direito aplicado, decidido ou
concretizado”.
A hermenêutica filosófica gadamerana proclama uma compreensão
existencial do direito e mesmo uma relação com o texto jurídico oposta àquelas
encontradas nas filosofias do direito juspositivistas. Enquanto para estas, há um momento
normativo fundamental, em torno da qual gira o trabalho do jurista, para Gadamer, que
promove uma ruptura com o juspositivismo, o hermeneuta encontra-se imerso no mesmo
processo existencial de sua interpretação do texto normativo, lendo, julgando e decidindo
conforme seus preconceitos. Dessa forma, inexiste um afazer jurídico que se inscreva,
precipuamente, como técnica normativa. A situação existencial fala mais alto que uma
pretensa aplicação das normas postas aos fatos. Gadamer é sobejamente claro em afirmar
que o direito não opera pela subsunção.
O jurista não é um técnico neutro na aplicação de normas jurídicas. Está
constituído e mergulhado num todo existencial. O intérprete e a norma jurídica não são
mais tomados de um modo dissociado, como o são para a tradição jurídica moderna e o
texto normativo não mais se apresenta como um dado objetivo, apartado do mundo.
Todavia, isso não quer dizer que a procura pela compreensão do originário do direito seja
simplesmente buscar arqueologicamente a vontade do legislador, como um pensamento
limitado e ainda juspositivista poderia argumentar.
Ao contrário de velhas filosofias hermenêuticas que se propõem a buscar o
que o legislador originalmente almejou, como se isso fosse uma vontade congelada no
tempo, a noção de pré-conceito, na filosofia de Gadamer, funda-se em uma perspectiva
dialética e dá ensejo a possibilidades críticas. A propósito, Lênio Luiz Streck argumenta
que:
174
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banhar-se duas vezes na mesma água do rio! Ao lado disso, traços fortes do teor crítico
da hermenêutica de Gadamer residem no fato de que, a partir da hermenêutica
heideggeriana, rompe-se com qualquer possibilidade de idealismo e realismo. O
intérprete não está fora da história efectual. Se, na filosofia da consciência, se dizia que
o sujeito cognoscente poderia, de forma racional, determinar o objeto, com Gadamer
ocorre o rompimento com a questão epistemológica sujeito-objeto, uma vez que o sujeito
não é uma mônada; o sujeito é ele e sua possibilidade de ser-no-mundo, é ele e suas
circunstâncias, enfim, é ele e sua cadeia significante.
É possível afirmar que as filosofias de Heidegger e Gadamer não se
confrontam com o marxismo, na medida em que a amplitude da compreensão existencial
rompeu com o confinamento da dicotomia sujeito-objeto e com os estreitos campos do
eterno, em favor do histórico. Nisto, Marx, horizontalmente, ao postular uma determinada
perspectiva de totalidade, em nada se vê limitado na vastidão Heideggero-gadamerana.
Não por outra razão, as grandes perspectivas da filosofia do direito heidegeriana no
:Brasil – desde a pioneira escola de Aloysio Ferraz Pereira e Jeannette Antonios Maman
– leem Heidegger a partir de propósitos críticos, com diálogo com o marxismo.
Em Heidegger e Gadamer, a transposição dos problemas políticos concretos
para a filosofia é, ironicamente, uma espécie de fim da metafísica que inaugura um mundo
próprio do ser, que, não sendo da especificidade do ser concreto, acaba sendo quase uma
outra metafísica, que se nega, perigosamente próxima daquilo a que mais se contrapõe.
Marx concorda que a verdade se revela situacional e historicamente, porém
leciona o estrutural-específico dessa história, algo que Heideger e Gadamer não o fazem.
É a diferença entre uma crítica geral ao direito enquanto técnica, esfumaçada e que tem
dificuldade de lhe apontar uma superação, e uma crítica concreta ao direito como técnica
específica do capitalismo, e que portanto há de apontar claramente à revolução, como
abertura ao socialismo. Em largueza, a filosofia existencial e o marxismo empatam. Em
profundida e especificidade, no entanto, o marxismo é maior. Heidegger e Gadamer
caberiam em Marx, mas Marx não caberia totalmente em ambos.
Schmitt.
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Carl Schmitt situa o fenômeno jurídico nos lindes da exceção. A decisão que não está
adstrita à regra – e não o automatismo do cumprimento da norma jurídica – é o momento
fundamental da filosofia do direito schmittiana.
Sua proposta jusfilosófica, em algum momento e de algum modo, coadunou-
se com os objetivos do nazismo. Sua participação no movimento hitleriano, ainda que
tortuosa, deu mostras dessa grande afinidade. Entretanto, Carl Schmitt busca lastrear suas
posições teóricas em uma longa tradição que vai desde Hobbes até os pensadores
reacionários do século XIX. Há muito da teologia católica em Schmitt. Sua própria
formação religiosa, minoritária num ambiente religioso acentuadamente protestante, dá
mostras de sua arraigada inspiração católica. De família católica e com poucos recursos
financeiros, Schmitt formou-se em direito em Estrasburgo, lecionou em Bonn, onde se
destacou teoricamente a partir da década de 1920, e posteriormente em Berlim, onde
iniciou sua projeção política, intervindo nos rumos da República de Weimar, então sob
ataques e enfrentando dificuldades. Logo após a queda de Weimar, filia-se ao Nazismo.
Porém, ainda nos primórdios do governo de Hitler, começa a ser relegado do centro
político-jurídico do regime. Com o final da guerra, foi preso, levado ao Tribunal de
Nuremberg, mas escapou da acusação de crime de guerra. Retira-se então da vida pública
e universitária, conquanto tenha continuado a escrever até o estertor de sua vida.
Carl Schmitt erigiu sua teoria do decisionismo – que representa o seu marco
de maior originalidade teórica – logo no início de suas construções jusfilosóficas;
remontam à década de 1920 suas obras mais destacadas, como A ditadura (1921),
Teologia política (1922) e O Conceito do político (1927).
Entrementes, segundo o autor, “em um segundo momento de sua trajetória
intelectual, perfilhou-se ao lado da perspectiva jurídica do institucionalismo, chamando
a si o pensamento de Santi Romano, dentre outros. Esse momento é, já, uma espécie de
acomodação do decisionismo de Schmitt aos lastros institucionais-sociais do fenômeno
jurídico. Não é a fase mais importante de Schmitt, na medida em que seu ecletismo nesse
período fez amainar o ímpeto e a virulência de suas ideias originais”.
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soberania: ela não provém a partir da consubstanciação jurídica do Estado, isto é, não
se funda num ato de constitucionalização”.
Dada a ocorrência de tal deslocamento – o direito não constitui fundamento
da soberania – Schmitt recusa a identidade do poder com a norma. A soberania atrela-se
muito mais à originalidade da criação da ordem – exceção – do que com a decorrência
normativa – que seria a visão estrita do juspositivismo.
No cenário do liberalismo contemporâneo, a proposta de soberania de Schmitt
soa como afronta. Na própria Alemanha da República de Weimar, os freios e contrapesos
constitucionais faziam dos líderes políticos atores com papéis muito marcados e
previamente delimitados pelas normas jurídicas. O soberano, de acordo com as ideias de
Schmitt, no entanto, é aquele que concentra em suas mãos o poder último. Ele se encontra
acima das regras, porque decide sobre a sua própria exceção. A sua pessoalidade afasta a
repetição difusa e autônoma da técnica liberal, dando sentido à política.
A questão do controle de constitucionalidade revela a matriz política do
pensamento de Schmitt, contrastando com a do liberalismo Kelseniano. Para Kelsen, um
tribunal constitucional seria uma instância necessária de equilíbrio jurídico e político nas
democracias. Alheio ao poder executivo e do governante, o tribunal constitucional teria
o papel de assegurar o cumprimento da constituição.
Na visão de Carl Schmitt, sendo o guardião da Constituição o Fuhrer, a
constituição não é compreendida apenas como um conjunto de normas jurídicas de
hierarquia superior. Pelo contrário, a constituição é uma decisão política, que orienta o
Estado, o direito e a vida social por tal ou qual caminho. Daí que o controle constitucional,
para Schmitt, não tocaria ao técnico em normas jurídicas, e sim ao político soberano,
porquanto decidir sobre a constituição é deliberar sobre a própria instauração da política.
O conceito do político.
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Decisionismo e existencialismo.
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pastor é o direito para seu rebanho, a Igreja é a depositária dos destinos de seus fiéis. “A
prática do direito é apenas a hermenêutica posterior daquilo que, de modo mais
importante, já foi dado antes pela decisão soberana”.
Na esteira do juspositivismo, o jurista interpreta a lei em consonância com os
limites normativos. Porém, para Gadamer, a verdade jurídica é uma hermenêutica ainda
muito maior, existencial, No entanto, para além disso, a verdade jurídica pode ser
discutida ainda mais no ato soberano do poder que prostrou o jurista a interpretá-la. Uma
crítica inicial é a interpretação da norma que se presume uma mera técnica jus-positiva,
feita por Gadamer. A grande crítica, no entanto, é ao poder do fundador da lei, feita por
Schmitt.
Foucault.
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A microfísica do poder.
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Essa visão das intenções declaradas ou pressupostas é o grande paradigma combatido por
Foucault, o qual defende que o poder é sua prática, e não seu discurso ou suas intenções.
A terceira precaução revela uma postulação filosófica e sociológica muito
importante para Foucault, o qual defenderá que o poder não constitui um fenômeno
binário, a partir do qual os indivíduos são ou não detentores totais ou seus submetidos
inexoravelmente, senão algo que se espraia pelos indivíduos, colocando-os, todos, na
condição de opressores e oprimidos.
Logo, em vez de uma relação binária, o poder se exerce em rede, de maneira
que é nas cadeias das relações de opressão que ele se manifesta. O poder não é algo que
uns detêm contra outros. Ele se implanta em estruturas sociais.
Nessa perspectiva, Foucault adverte que, muito embora quando analisado de
longe, o direito possa se apresentar como algo que alguns detêm contra outros, sobretudo
numa sociedade capitalista, cindida em classes, em que claramente se divisa uma maior
intensidade de dominação a partir das classes burguesas e, ao mesmo tempo, uma maior
concentração de opressão das classes proletárias, ao se analisá-lo de perto, nos seus
delineamentos microfísicos, o poder está estruturado em todas as relações sociais. Ele
está na relação entre o rico e o pobre, nas questões raciais, na questão do gênero, nas
relações sexuais, no controle da vizinhança, etc. O Poder se exerce, portanto, em rede.
Em sua quarta preocupação metodológica, Michel Foucault chama a atenção
para uma compreensão do poder que não seja formalista, dedutiva, mas que busque se
pautar pela especificidade dos fatos que se apresentam. O jurista, por meio de sua visão
de mundo positivista, procede a deduções. Imagina o juspositivista que, se as normas
constitucionais preveem regras democráticas, então o país é democrático. No entanto,
Foucault chama a atenção para o contrário. A especificidade das relações é que revelarão
o todo, e não uma dedução formal, feita de gabinete, das normas institucionalizadas.
A quinta preocupação metodológica fomentada por Foucault propõe uma
reflexão acerca do caráter do poder, isto é, se ele está necessariamente vinculado a
grandes visões de mundo. O poder, na perspectiva foucaultiana, não é ideológico. Ou seja,
a tortura, como saber-poder de dominação do carcereiro, não é uma prática capitalista, ou
socialista, ou antissemita, ou cristã ou árabe. Pelo contrário, o poder é mais e muito menos
que uma ideologia. Esses saberes têm uma rede de operacionalização e de continuidade
que são independentes em relação aos grandes estabelecimentos ideológicos. As
ideologias se aproveitam desse saber-poder para seus fins.
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O Poder Disciplinador.
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O sujeito e o biopoder
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O sujeito, sendo resultado não apenas de uma repressão externa a algo já dado
previamente, mas sendo constituído por mecanismos disciplinares que alcançam sua
modelagem, seus gestos, suas vontades, sua própria manifestação corporal e sexual,
revela portanto a característica do poder contemporâneo, um biopoder. Para Foucault, o
poder não pode ser pensado apenas como aparato formal, estatal, militar, pela força das
armas, do dinheiro ou da política. Ele alcança a vida, e por isso é um biopoder.
A grande importância de Foucault para a filosofia do direito é justamente a
sua nova compreensão fenomênica do poder, do Estado, das instituições e do direito.
Atravessados por redes de disciplinas, tais fenômenos não podem ser pensados apenas
como dados formais. O jurista, ao entender o direito a partir de Foucault, não se limita
mais ao mundo institucional oferecido pelas normas estatais. O direito é mais e menos
que isso, mas nunca só isso.
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problemáticas do direito de modo geral, e, por isso, é preciso desvendá-los num quadro
global.
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Lênin.
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O autor, baseando-se nos textos de Marx e Engels, se mostra contrário a essa posição,
pois acredita que o Estado seja uma instância de dominação política própria do
capitalismo. Portanto, a luta da classe trabalhadora não deve a tomada dessa instituição
política, mas sim, a sua superação libertando-se do seu caráter opressivo. “Somente com
o fim do Estado é que haverá abertura para a implementação do regime comunista”, “o
Estado é o instrumento de exploração de classe, e a libertação dessa exploração será
também o fim do Estado”.
Todavia, não nega o autor a necessidade de conquista do Estado; afinal,
entende ser necessário que a classe trabalhadora detenha o poder político e, para tanto,
exerça sua ditadura em relação à classe de exploradores por meio do aparato estatal. Mas,
se essa classe revolucionária quiser ir até o final do processo de emancipação do homem,
é necessário acabar com esta instituição e com todas as outras formas de exploração e
dominação, e não, apenas promover sua manutenção. Portanto, o Estado tem um caráter
transitório, estratégico na concepção de Lênin.
Partindo desse pressuposto, Lênin passa a tentar responder algumas questões
como: “pelo quê substituir a máquina do Estado quebrada, superada?”. Analisa a Comuna
de Paris como parâmetro a ser seguido, ou seja: quebra das instituições burguesas
(exército, Estado, etc...) e ascensão de uma democracia não mais liberal (que servia
apenas a uma minoria), e sim, proletária (realizada de forma completa e consequente de
modo a combater a exploração e dominação da classe burguesa que ainda resiste e dos
resquícios do próprio Estado). Para Lênin, é necessário destruir com a velha máquina
burocrática e construir algo novo de modo a acabar com o funcionalismo e a divisão entre
governantes e governados – mas isso é um processo, não algo imediato como propõe os
anarquistas.
Todo esse pensamento sobre a posição do Estado na conjuntura da luta de
classes repercutiu também na reflexão sobre o papel do direito. Muitos conservadores
diziam que o Estado era necessário na sociedade Socialista para cumprir um papel de
administrador, resolvendo o conflito cotidiano entre indivíduos – que nada teria a ver com
o conflito estrutural entre as classes. E, para isso, Lênin dava a resposta de que realmente
haveria conflitos entre indivíduos, excessos de determinadas pessoas, mas, para resolvê-
los, não seria necessário um aparelho especial de repressão, no caso, o Estado. O próprio
povo, emancipado e protagonista político, cumpriria com esse papel – como é o que
ocorre hoje quando alguém separa uma briga entre amigos, etc... Além disso, hoje se tem
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uma série de conflitos individuais que derivam da exploração das massas e da miséria,
portanto, irão desaparecer com a sociedade socialista.
Mas o pensamento jurídico de Lênin vai além. Diz ele que, assim como o
Estado, o direito também é necessário para possibilitar o período de transição do sistema
capitalista para o comunista. Está claro aos revolucionários que o proletariado não vai
assumir imediatamente um nível de engajamento, consciência social e produtividade, de
modo a possibilitar a abolição dos mecanismos de controle do trabalho e da distribuição.
Isso porque o trabalhador foi forjado numa perspectiva capitalista, com valores e modo
de pensar do capital. Portanto, para se criar o novo homem de uma nova sociedade, é
necessário uma transição gerenciada. Aí que entra o direito.
O ordenamento jurídico teria o papel de conduzir esta transição, e o pontapé
inicial seria a proteção da propriedade comum, da igualdade e da liberdade do trabalhador.
Tudo o que fosse produzido faria parte de fundo público do proletariado e sua distribuição
seria pensada coletivamente seguindo a regra “come quem trabalha”, e não mais a regra
“come quem possui dinheiro”.
Essa participação popular, outorgada e regulada pelo direito, possibilitaria
que cada indivíduo administrasse autonomamente o bem comum, fazendo com que o
próprio direito caducasse. Além disso, o próprio entendimento do justo se refinaria não
mais se balizando apenas no trabalho como medida contábil para a distribuição, mas na
sofisticada rede de exigências da capacidade (de trabalhar) e de gozo das necessidades,
pois o povo compreenderia as desigualdades dos indivíduos.
No entanto, é necessário afirmar que, para Lênin, tal qual para Marx e Engels,
o Estado e o direito são instrumentos institucionais do capitalismo burguês e que,
portanto, precisam ser extintos para se construir o comunismo.
Stutchka.
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Pachukanis.
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Para Stutchka, o direito ainda possuía instituições neutras que poderiam ser
utilizadas na luta pelo socialismo. Mas, para Pachukanis, o direito está vinculado à
economia mercantil, portanto, se se quer acabar com o mercado, é necessário acabar com
o direito também.
É necessário que tal ciência tenha um caráter genérico – para haver uma
instituição estatal-jurídica para empreender o respaldo da relação entre contratantes
privados.
A forma jurídica não está no dever-ser, ou seja, no campo genérico da
normatividade, mas no ser, no mundo real. Além disso, ela não determina – é determinada
pela forma mercantil. Há um sobredeterminação, pois a esfera da circulação, que
determina a forma jurídica, é determina pela esfera de produção, ou seja, o específico
processo de organização capitalista do trabalho.
Roma – escravagismo – sistema de trocas primitivo – direito usado como
complemento. Hoje – capitalismo – sistema de trocas generalizado – formas jurídicas
generalizadas (escravidão incidental).
É o sistema mercantil que institucionaliza mecanismos jurídicos. Os sujeitos
comercializam livremente porque assim permitiu o direito, tornando-o um sujeito de
direito, com seus institutos: capacidade, competência, responsabilidade, dever, direito
subjetivo. Equivalência mercantil = igualdade jurídica dos homens que possuem
mercadorias.
O direito é um aparato necessário ao capitalismo, diferente da igreja e dos
meios de comunicação. É através do contrato que o sistema se apropria da força de
trabalho do assalariado – garantir lucros e bens (proteção da propriedade privada). Ele
não é um aparato a serviço da burguesia, é algo que está intimamente atrelado a lógica
capitalista.
A questão da propriedade. Já havia expropriação das terras antes do
capitalismo, mas isso só foi observado pela forma jurídica quando a propriedade privada
era necessária para manter a relação mercadoria – dinheiro – mercadoria.
Na sociedade burguesa, diferentemente das outras, a forma jurídica e sua
ideologia têm o papel de defender os interesses das classes dominantes através da defesa
de princípios abstratos da subjetividade jurídica. - a legalidade (sempre burguesa) surge
para mediar as relações comerciais entre sujeitos iguais e livres.
Diante do exposto, concluímos que, para Pachukanis, não existe um direito
socialista, pois esta sociedade visa superar as formas de produção e mercado do
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capitalismo. Tal entendimento é fortemente perseguido por Stálin que buscava constituir
um capitalismo de Estado para, depois, proporcionar a transição para o socialismo.
Não se deve almejar socialismo através do direito, mas da política. O
socialismo acabará com o direito.
Gramsci.
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A Escola de Frankfurt.
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Marxismo e psicanálise.
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Lukács.
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desenvolvida pelo capitalismo, mas também por um corpo de especialistas que se põem
relativamente à parte das demais classes. Isso dá um caráter de distanciamento ao direito,
o que dificulta identificá-lo como instância de manutenção da própria reprodução
capitalista. O direito se vende como imparcial e técnico, mas não deixa de ser outra coisa
que não a própria institucionalização da reprodução econômica capitalista.
Althusser.
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determinada pelo nível econômico, mas tal nível econômico não preside,
necessariamente, o imediato da vida social. A economia determina de modo último a
lógica social, mas, em cada modo de produção, uma sobredeterminação econômica,
política ou ideológica pode se fazer presente”.
E, sob esse aspecto, a totalidade de Marx é vista por Althusser como uma
unidade que se consolida por conta das estruturas capitalistas, que presidem,
infraestruturalmente, as demais relações sociais. “Mas a totalidade não é apenas uma
soma lógica de todas as relações sociais, como se todo um conteúdo, indistintamente,
fosse jogado no mesmo continente. Os específicos fenômenos sociais têm uma formação
própria, e a sua reunião, sob determinadas condições, constitui então esse todo”.
“A discussão althusseriana a respeito da totalidade tem implicações
necessárias para o campo do direito. O direito não é uma instância neutra que se adapta a
cada totalidade de maneira indistinta. Isto é, o fenômeno jurídico não é a mesma coisa em
todos os tempos, apenas adaptando-se ora ao feudalismo, ora ao capitalismo, ora ao
socialismo. Pelo contrário, o direito é uma manifestação histórica específica, do
capitalismo, porque engendra determinadas relações que são necessárias a esse modo de
produção, e só a ele. Só por isso, então, o direito é pensado como fenômeno a se esgotar,
por conta das concretas relações sociais que necessariamente o excluem e dele não
carecem no quadro de uma nova articulação social, e não apenas porque,
escatologicamente, não lhe competiria teoricamente um papel sob o socialismo. O juízo
sobre o direito no capitalismo e no socialismo não é sobre bondade, justiça ou sua beleza,
mas sim sobre seu específico funcionamento estrutural no capitalismo. No que tange à
relação do direito com o todo, tanto sob uma leitura dialética marxistahegeliana quanto
sob uma leitura althusseriana, o direito é ligado umbilicalmente às relações mercantis
capitalistas. A diferença é no que tange ao tipo de ligação. Na primeira leitura, é pelo
sentido do todo que o direito apresenta sua pertença ao capital. Na segunda leitura,
althusseriana, isso se deve não por algum sentido anunciado, mas por relações estruturais,
no seio da concretude das formações sociais.”
Ao lado de suas noções sobre totalidade, o estudo do seu conceito de
ideologia é importante para o direito.
A ideologia não é uma fantasia descartável, mas um item decisivo para a vida
social. Ela é um dado estabelecido estruturalmente na sociedade, a partir de sua
reprodução. Ela não é distorção da realidade, mas verdadeira parte dela, estrutura de
pensamento da realidade.
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Com isso, ele se aproxima de Foucault e sua microfísica do poder. Porém para
Foucault o estudo se deu pela rede de relações genéricas, enquanto Althusser analisa
práticas ideológicas específicas. A ideologia faz o sujeito, não é uma escolha, é parte da
estrutura social em que o sujeito se insere. Ela é um inconsciente, valendo-se aqui também
da psicanálise.
No capitalismo, a ideologia é a da classe dominante, a burguesia. E, para
Althusser, o direito assume especial relevância pelo conceito de sujeito de direito. “O
indivíduo se entende como subjetividade autônoma, à qual correspondem direitos e
deveres, e, por meio de tal visão, submete-se à máquina de reprodução mercantil infinda
do capitalismo, vendendo-se como força de trabalho assalariado indistinta ao mercado,
mas sem perceber de imediato sua exploração: de início, sua constituição ideológica
identifica, nos elementos que o levam ao mercado para ter seu trabalho vendido, a sua
liberdade e a sua autonomia da vontade. A armação da subjetividade jurídica se dá,
exatamente, na base da circulação mercantil, fazendo com que a ideologia seja um
processo que interpela e constitui o sujeito, necessariamente, como sujeito de direito. A
subjetividade jurídica é o segredo da própria subjetividade no capitalismo. A ideologia
jurídica é o coração da própria ideologia”.
Althusser faz distinção entre poder do Estado e aparelho do Estado para dizer
que não porque a classe operária chegará ao poder do Estado que haverá extinção do
aparelho de Estado. E divide os aparelhos entre repressivos e ideológicos.
“O aparelho repressivo de Estado é a própria função clássica identificada no
exército, nas polícias, na violência monopolizada, na autoridade e hierarquia formais.
Mas há uma instância fundamental da vida social que não se limita a esse aparelho
repressivo. Trata-se da instância dos aparelhos ideológicos de Estado. Tais aparelhos se
esparramam por regiões não diretamente localizadas no corpo administrativo e repressivo
estatal, mas mesmo assim ligadas funcionalmente a esse complexo dos aparelhos de
Estado. O próprio Althusser identifica os aparelhos ideológicos de Estado: religioso,
escolar, familiar, jurídico, político (o sistema político, os diferentes partidos), sindical, de
informação (a imprensa, o rádio, a televisão etc.), cultural (letras, belas-artes, esportes
etc.). Em tal classificação, Althusser ressalta que o direito, peculiarmente, pertence ao
mesmo tempo ao aparelho repressivo de Estado e aos aparelhos ideológicos de Estado.
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Bloch.
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conceito de direito e tem lugar na estrutura da norma jurídica, não sendo autorrealizável.
A sanção não é da essência do direito, porém é de sua natureza. A sanção não precisa
estar obrigatoriamente na norma, bastando que se trate de sanção sistêmica, pois a norma
jurídica deve ser sempre contextualizada no ordenamento jurídico.
A analogia pode ser classificada em três categorias: intrínseca, extrínseca e
metafórica.
A analogia metafórica, também conhecida como imprópria ou figurada, é
aquela em que, apesar de o termo ter um sentido direto e próprio, se aplica também a
outras realidades, em sentido figurado, em virtude de uma proporção imprópria que se
estabelece com a significação originária.
As analogias extrínsecas e intrínsecas podem ser identificadas nos diversos
significados do termo direito.
Analogia intrínseca.
Analogia extrínseca.
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a) Pessoa natural.
20Para o autor, há cinco acepções fundamentais de direito: há o direito como norma, como justo, como faculdade,
como ciência e como fato social.
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b) Pessoa jurídica.
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c) Direito subjetivo.
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3) Realismo jurídico.
Para a escola jusfilosófica conhecida como Realismo Jurídico foi uma das
inúmeras tentativas teóricas de responder à indagação “o que é o direito” e adota, como
postulado básico, a postura epistemológica segundo a qual o direito é haurido da
experiência social. Ou seja, para os realistas o direito é sempre aquilo que, como tal, se
apresenta no contexto da comunidade humana: o direito é o que é. Trata-se de uma
ontologia do direito.
O Realismo considera o direito um FATO SOCIAL. É patente a relevância
que adquirem os interesses sociais para os realistas.
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4) Direito e poder.
Poder e soberania.
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A relação entre direito e poder foi analisada por Michel Foucault, que dedicou
sua obra à investigação tanto da arqueologia do poder, isto é, como as instituições e
redes de poder puderam formar-se em determinado momento histórico, quanto à
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genealogia do poder, ou seja, a busca da forma, lógica e método em que esse poder é
exercido.
Foucault trata do poder como uma questão de dominação real efetiva, que
não advém de uma instituição ou de um aparelho político, mas das relações de força que
permeiam a sociedade como um todo. Pelo estudo das relações cotidianas menores é
possível constatar que o poder infiltra-se de forma capilar na sociedade. Essa identificação
do poder em pequena escala, nas ocorrências e relações cotidianas, é tratada sobretudo na
obra “Microfísica do Poder”, na qual o autor sustenta que o Estado se apropria dessas
micro relações justamente para exercer seu poder.
O direito, que consiste numa espécie de relação poder, não seria encontrado
somente na dominação formal, legalista do Estado, mas nas pequenas relações, na conduta
dos próprios agentes estatais. Assim, o direito não está adstrito à norma jurídica, mas sim
disperso na realidade social.
Poder e hermenêutica.
Detentores do poder.
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Resumo do edital de humanística – TJSP 187 – Grupo TJSP 2017
decisões do poder judiciário confere autoridade ao intérprete, porque pode motivar outro
a adotá-la como premissa de procedimento.
b) Relação de liderança: a interpretação é generalizada quando todos ou
quase todos repetem a mesma interpretação. A interpretação, para exercer liderança, exige
a neutralização das interpretações divergentes. Assim, uma interpretação apoiada em
manifestação de vários doutrinadores e em manifestações produzidas em outras áreas do
saber confere autoridade ao intérprete, porque pode motivar terceiros a adotá-la, como
premissa de procedimento.
c) Relação de reputação: a interpretação é generalizada com base no
prestígio do intérprete. A reputação é exercida no sentido de neutralizar qualquer reflexão
a respeito do conteúdo interpretado. Assim, uma interpretação apoiada em princípios
constitucionais e em manifestações de juristas respeitados e confiáveis, confere
autoridade ao intérprete, porque pode motivar outros a adotá-la como premissa de
procedimento.
Interpretação predominante.
5) Legitimidade e legalidade.
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Legalidade e hermenêutica.
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a) Direitos fundamentais.
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Concepção ordinária.
Concepção positivista.
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em diferentes graus normativos. Se, por outro lado, admitir-se que os direitos
fundamentais podem derivar de diferentes graus normativos, então deve existir outro
critério para sua definição, que não sua posição na hierarquia formal de normas.
Concepção objetivista.
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b) Direitos humanos.
Primeira dimensão.
Segunda dimensão.
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Terceira dimensão.
c) Direito natural.
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