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CHESF

Este livro foi produzido especialmente para a comemora-

CHESF |
ção dos 70 anos da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
(Chesf), em parceria com o Centro da Memória da Eletricidade
no Brasil, entidade cultural sem fins lucrativos, voltada para a
preservação do patrimônio histórico e da memória do setor
elétrico brasileiro.
70 ANOS DE HISTÓRIA
Chesf 70 anos de história oferece uma visão abrangente
sobre a trajetória de uma das mais importantes empresas de

70 ANOS DE HISTÓRIA
energia elétrica do país que, com todos os méritos, tanto vem
contribuindo para o desenvolvimento do Nordeste e do Brasil,
desde seus primeiros passos em 1948.
CHESF
70 ANOS DE HISTÓRIA
COMPANHIA HIDRO ELÉTRICA DO SÃO FRANCISCO - CHESF

DIRETORIA EXECUTIVA
Diretor-Presidente | Sinval Zaidan Gama

Diretor de Engenharia e Construção | Roberto Pordeus Nóbrega

Diretor de Operação | João Henrique de Araújo Franklin Neto

Diretor Econômico-Financeiro | Adriano Soares da Costa

Diretor de Gestão Corporativa | Joel de Jesus Lima Sousa

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Wilson Ferreira Junior | Presidente

Sinval Zaidan Gama

Armando Casado de Araújo

Mauricyo José Andrade Correia

Geraldo Julião Júnior

José Oto Santana Filho

CONSELHO FISCAL
Titulares

Pedro Gaudêncio de Castro | Presidente

Denis do Prado Netto

Orlando Henrique Costa Oliveira


Suplentes

Luisa Helena de Sá Cavalcante

Evandro César Dias Gomes


CHESF
70 ANOS DE HISTÓRIA

Centro da Memória da Eletricidade no Brasil


Rio de Janeiro, 2018
Centro da Memória da Eletricidade no Brasil - MEMÓRIA DA ELETRICIDADE
Copyright © 2018

Presidente | Augusto Rodrigues


Diretora-Executiva Interina | Leila Lobo de Mendonça
Coordenadoria do Centro de Referência e Pesquisa | Leila Lobo de Mendonça
Coordenadoria de Comunicação | Ivson Alves de Sá
Coordenadoria de Administração | Marcos Q. Lima

Coordenação | Paulo Brandi Cachapuz


Pesquisa | Paulo Brandi Cachapuz e Rubeny Goulart
Texto | Paulo Brandi Cachapuz
Revisão | Sergio Tadeu de Niemeyer Lamarão
Pesquisa Iconográfica | Vanessa Braga Baranda, Liliana Neves Cordeiro de Mello
Licenciamento de imagens | Vanessa Braga Baranda
Normatização bibliográfica | Stephanie Costa Silva
Projeto gráfico, editoração eletrônica e tratamento de imagens | Liliana Neves Cordeiro de Mello
Capa | Liliana Neves Cordeiro de Mello
Índice | Leila Lobo de Mendonça, Vanessa Braga Baranda
Apoio Chesf | Tatiana Learth Junqueira, Maria Antonieta Rodrigues de Miranda Aguiar, Zuleica Maria Soares Brandão, José
Carlos Teixeira Coelho, Severino Silva, Cdoc-Chesf
Foto da capa | Cachoeira de Paulo Afonso. Abril 1952.
Acervo Chesf

Foram realizados todos os esforços para obter as autorizações


para a reprodução das imagens utilizadas neste livro e também
para identificá-las corretamente. Em caso de omissão, o editor
compromete-se a consignar os créditos necessários em futuras
edições e a reservar os direitos a seus titulares.

C524c

CHESF: 70 anos de história/ Centro da Memória da Eletricidade


no Brasil. Rio de Janeiro: Centro da Memória da Eletricidade no Brasil,
2018.
156 p.: il; 27,5 cm.
Coordenado por Paulo Brandi de Barros Cachapuz
ISBN 978-85-85147-95-2

1. Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - História. 2. Setor


elétrico - Empresas. I. Centro da Memória da Eletricidade no Brasil. II.
Cachapuz, Paulo Brandi de Barros de. III.Título.

CDD 338.7621312134

Stephanie Costa Silva CRB-7 078/17


APRESENTAÇÃO

Com grande satisfação, apresentamos este livro sobre a história da Compa-


nhia Hidro Elétrica do São Francisco, a nossa Chesf, produzido especialmente
para a comemoração dos 70 anos da empresa, em parceria com o Centro da
Memória da Eletricidade no Brasil. Ao lado de outras iniciativas para celebrar a
efeméride, o presente livro tem o propósito de oferecer uma visão abrangente
sobre a trajetória de uma das mais importantes empresas de energia elétrica
do país que, com todos os méritos, tanto vem contribuindo para o desenvolvi-
mento do Nordeste e do Brasil desde seus primeiros passos em 1948.
A Chesf desempenhou o papel pioneiro de grande empresa de geração e
transmissão de energia elétrica no Nordeste, mudando por completo o pano-
rama da oferta de energia na região a partir do aproveitamento do extraordi-
nário potencial hidrelétrico do rio São Francisco em Paulo Afonso. Ela asse-
gurou energia para uma vasta porção do país precariamente eletrificada até
meados do século XX e teve participação fundamental na construção do siste-
ma elétrico interligado nacional. No cumprimento dessa missão, a Companhia
superou muitos desafios e relembrá-los é certamente uma boa maneira de
nos preparamos para os que virão.
Resultado de cuidadosa pesquisa bibliográfica e iconográfica, Chesf 70 anos
de história mostra o papel da empresa como principal agente do processo de
eletrificação do Nordeste no contexto do modelo estatal do setor elétrico, li-
derado pela Eletrobras a partir de 1962, e chega à atualidade, destacando a
participação da Companhia em empreendimentos fora de sua tradicional área
de atuação, notadamente na região Amazônica, em parceria com diferentes
agentes públicos e privados.
O livro começa por uma retrospectiva geral da história da Chesf e uma
breve descrição do rio São Francisco (nossa principal fonte de energia) e da ca-
choeira de Paulo Afonso. Nos capítulos seguintes, temos o relato da vitoriosa
campanha pela constituição da empresa e de suas grandes realizações, desde
a epopeia da construção da Usina de Paulo Afonso I até os tempos atuais.
Obra ilustrada por mais de uma centena de imagens, trata-se certamente de
uma contribuição oportuna para o conhecimento de nossa história, valendo
também como tributo aos colaboradores de ontem e de hoje que trabalharam
diligentemente pelo êxito da Chesf.

WILSON FERREIRA JUNIOR


Presidente da Centrais Elétricas Brasileiras S. A. - Eletrobras
SUMÁRIO

Chesf: passado & presente.........................................................................................................................9

O rio São Francisco e o potencial de Paulo Afonso........................................................................15


O pioneirismo de Delmiro Gouveia............................................................................................................................. 22

A criação da Chesf e a construção da Usina de Paulo Afonso I.................................................27


A organização da empresa e a saga dos pioneiros............................................................................................... 34

Tempos de expansão e consolidação...................................................................................................51


A reordenação do setor elétrico e a criação da Eletrobras................................................................................ 56
Mais energia em Paulo Afonso..................................................................................................................................... 60
Sobradinho, Paulo Afonso IV e a interligação Norte-Nordeste....................................................................... 67

Tempos de crise e reforma.......................................................................................................................83


Xingó e as mudanças no setor elétrico...................................................................................................................... 91
A reforma setorial e a crise energética de 2001..................................................................................................... 99

Novos desafios no século XXI...............................................................................................................107


Expansão da área de atuação......................................................................................................................................110
Desestabilização financeira e crise hídrica no São Francisco..........................................................................128
Mudanças recentes no setor elétrico........................................................................................................................141

Índice onomástico.....................................................................................................................................145

Referências bibliográficas.......................................................................................................................147

Notas sobre as ilustrações.....................................................................................................................153


Chesf: passado & presente

Há 70 anos, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) foi cons-


tituída com a missão de prover energia para a região Nordeste, mediante o
aproveitamento em grande escala do potencial hidrelétrico da cachoeira de
Paulo Afonso no rio São Francisco.
Tratava-se de empreendimento fundamental para a superação do deficit
energético do Nordeste. Em contraste com a região Sudeste, mais urbanizada
e industrializada, a oferta de energia elétrica no Nordeste era mínima e depen-
dente em larga medida de termelétricas que funcionavam precariamente. As
concessionárias de eletricidade atendiam apenas às capitais e poucos centros
urbanos vizinhos. Fábricas têxteis e usinas açucareiras recorriam a sistemas
próprios de geração. No interior, as pequenas cidades dispunham, quando
muito, de grupos geradores instalados por prefeituras ou particulares para
iluminação em horários restritos. A maioria da população nordestina vivia às
escuras.
Com todos os méritos, a Chesf contribuiu decisivamente para mudar esse
quadro. A partir do aproveitamento das excepcionais condições naturais da
queda do rio São Francisco em Paulo Afonso, a Companhia garantiu energia
para o desenvolvimento do Nordeste, assumindo um papel de ponta no setor
elétrico nacional.
O aproveitamento da energia hidráulica de Paulo Afonso, na divisa de
Alagoas com a Bahia, era uma antiga aspiração de muitos nordestinos. O pri-
meiro a utilizar a força da cachoeira foi o famoso industrial cearense Delmiro
Gouveia que ali instalou uma pequena usina em 1913 para movimentar sua
Na página ao lado, o
diretor técnico Octávio fábrica têxtil. Trinta anos depois, a ideia da construção de uma grande cen-
Marcondes Ferraz, ao tral geradora em Paulo Afonso foi abraçada com entusiasmo pelo engenheiro
centro, com engenheiros,
técnicos e operários junto Apolonio Sales, ministro da Agricultura do governo Getúlio Vargas. Dele partiu
à fachada da Usina de
Paulo Afonso I. 1954 a proposta de criação da Chesf como empresa pública responsável pelo em-
Cpdoc preendimento, sob o controle da União.
Apesar das objeções levantadas dentro do próprio governo, Getúlio Vargas
assinou o decreto de criação da Chesf em outubro de 1945, às vésperas de sua
deposição e das eleições que marcaram o restabelecimento do regime demo-
crático no país. Com o apoio do presidente Eurico Gaspar Dutra, a Companhia
foi finalmente constituída em 15 de março de 1948, em assembleia geral no
Rio de Janeiro, sob a presidência do engenheiro Antônio José Alves de Souza.
A criação da Chesf marcou o início do envolvimento do Estado no campo
da produção de eletricidade. Além disso, indicava a tendência à construção
de usinas de grande porte e à dissociação entre a geração e a distribuição de
energia elétrica. Com efeito, a expansão do parque elétrico brasileiro na se-
gunda metade do século XX obedeceu em larga medida ao modelo proposto
pela Chesf: concentrar a produção em grandes usinas e suprir de energia os
sistemas distribuidores regionais a cargo dos governos estaduais. Esse modelo
ganhou pleno desenvolvimento sob a liderança da Eletrobras, empresa hol-
ding federal constituída em 1962, da qual a Chesf se tornou subsidiária.
A construção da primeira grande usina do Nordeste, em local inteiramen-
te desprovido de recursos básicos, foi uma verdadeira epopeia. O projeto do
aproveitamento hidrelétrico previu a construção de uma central subterrânea
com 180 MW de potência, que ficou conhecida como Paulo Afonso I, e a fu-
tura instalação de mais duas centrais geradoras também subterrâneas (Paulo
10 Afonso II e III), utilizando o mesmo reservatório.
Considerada na época a maior obra da engenharia nacional, a Usina de
Paulo Afonso I foi inaugurada em 1955, mais do que duplicando a potência
instalada de energia elétrica na região. Foi um feito extraordinário, saudado
em prosa e verso como signo de uma nova era no Nordeste e marco inicial da
trajetória da Chesf como grande empresa supridora de energia elétrica.
De imediato, a Chesf iniciou as obras da Usina de Paulo Afonso II e de am-
pliação de seu sistema de transmissão. Em quinze anos, o número de locali-
dades atendidas pela Companhia passou de 28 para 1.322, abrangendo todos
os estados nordestinos, exceto o Maranhão. Em 1971, com a entrada em ope-
ração das primeiras máquinas de Paulo Afonso III, a Companhia ultrapassou a
marca de um milhão de quilowatts de potência instalada.
A Chesf prosseguiu a exploração do potencial do rio São Francisco com a
construção de mais cinco usinas: Moxotó, oficialmente denominada Apolonio
Sales, e Paulo Afonso IV, que completaram o Complexo Hidrelétrico de Paulo
Afonso; Sobradinho, que conta com um dos maiores reservatórios do mundo,
de grande importância para a segurança do suprimento de energia ao Nordes-
te; Itaparica, que ganhou o nome de Usina Luiz Gonzaga, em homenagem ao
célebre compositor e cantor pernambucano; e Xingó, a maior, com capacida-
de de 3.162 MW, concluída em 1997. Além das usinas instaladas no rio São
Francisco, a Chesf incorporou o aproveitamento de Boa Esperança (Presidente
Castelo Branco), no rio Parnaíba, na divisa do Maranhão com o Piauí, as usinas
de Funil e Pedra, no rio das Contas, na Bahia, e as pequenas centrais de Araras
e Coremas, situadas na Paraíba e no Ceará, respectivamente.
No segmento de transmissão, um dos feitos mais notáveis foi a construção
da linha de extra-alta tensão entre Sobradinho (BA) e Imperatriz (MA) com
mil km de extensão, integrante da interligação Norte/Nordeste, inaugurada
em 1981. Complementada por linhas da Eletronorte, a interligação viabilizou
o intercâmbio de energia entre a Chesf e a Eletronorte. Com a entrada em
operação da Usina de Tucuruí, em 1984, a Companhia passou a contar com a
energia da grande hidrelétrica do rio Tocantins, no Pará, para complementar
a demanda de seu mercado, quando necessário. Em 1999, as usinas e a rede
de transmissão da Chesf passaram a integrar o chamado Sistema Interligado
Nacional (SIN), em decorrência da implantação da linha Norte-Sul que estabe-
leceu a conexão entre os sistemas interligados Norte/Nordeste e Sul/Sudeste/
Centro-Oeste, coroando longo processo de interligação dos sistemas elétricos
do país.

11
Na primeira década do século XXI, a trajetória da Chesf sofreu importante
inflexão, em virtude da abertura do mercado de energia elétrica brasileiro à
competição entre agentes públicos e privados, nacionais e estrangeiros, bem
como do virtual esgotamento do potencial hidrelétrico aproveitável no Nor-
deste, tradicional área de atuação da Companhia.
A Chesf continuou a desempenhar papel fundamental no abastecimento
de energia aos estados da região, mas não de forma quase exclusiva como na
segunda metade do século passado. Sem perda da sua identidade fortemente
associada ao Nordeste, a Companhia firmou parcerias para a consecução de
empreendimentos em outras regiões, entre os quais os aproveitamentos hi-
drelétricos de Jirau, no rio Madeira em Rondônia, e Belo Monte, no rio Xingu,
no Pará.
Além disso, contribuiu significativamente para a notável expansão da ener-
gia eólica no Nordeste assumindo participação em empreendimentos na Bahia,
Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte e investindo em projetos de transmis-
são para escoamento de energia de numerosos parques eólicos na região.
Entre as empresas da Eletrobras, a Chesf foi certamente a mais afetada
pelas mudanças no marco regulatório do setor elétrico propostas pela Medida
Provisória nº 579, de setembro de 2012, com o objetivo de viabilizar a redu-
ção do custo da energia elétrica para o consumidor brasileiro. A MP nº 579,
12 convertida na Lei nº 12.783, de janeiro de 2013, possibilitou a prorrogação da
concessão de grande parte dos ativos de geração e transmissão da Chesf que
venceriam em 2015. A Companhia aceitou alocar a energia das usinas renova-
das no regime de cotas com tarifas reguladas, o que ocasionou uma forte que-
da de receita e a necessidade de readequação dos seus negócios, com esforço
concentrado na redução de gastos.
Em janeiro de 2018, o presidente Michel Temer assinou projeto de lei com
proposta de privatização de Eletrobras, prevendo a desestatização da empre-
sa em operação de aumento do capital, com limitação de 10% do poder de
voto de qualquer acionista ou grupo de acionistas que participar da oferta
pública. O Projeto de Lei nº 9.463 sobre a desestatização da Eletrobras previu
a descotização das usinas da Chesf com o objetivo de garantir receitas para o
Programa de Revitalização do rio São Francisco.
Ao completar 70 anos de existência, a Chesf se encontra certamente no
limiar de uma nova etapa de sua história, de contornos ainda indefinidos, mas Na página ao lado, vista
certamente tão importante para o Nordeste e o país como as etapas anterio- do aproveitamento
hidrelétrico de
res, em que se projetou como uma das maiores e mais bem-sucedidas empre- Xingó (SE/AL)
sas de energia elétrica do Brasil. Constran
13
14
O rio São Francisco
e o potencial de Paulo Afonso

O rio São Francisco é um dos mais importantes do Brasil em extensão,


volume d’água e área drenada. O ‘velho Chico’, como é carinhosamente cha-
mado, percorre 2.680 quilômetros das nascentes, na Serra da Canastra, à foz,
no Oceano Atlântico, divididos em quatro trechos (alto, médio, submédio e
baixo), banhando os estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas
e Sergipe. Em razão de condições climáticas adversas, o rio recebe poucos
afluentes permanentes após adentrar a Bahia, representando a única garantia 15
de água perene em vasta porção nordestina.
Típico rio de planalto, com cachoeiras e corredeiras em diversos trechos, o
São Francisco nasce a cerca de 1.200 m de altitude, no sul de Minas. Ele se di-
rige inicialmente para o norte, atravessa a Bahia e, nas proximidades do Piauí,
muda de rumo, avançando para nordeste e, finalmente, sudeste, alcançando
o mar na divisa de Alagoas com Sergipe. O trecho alto (630 km) situa-se entre
as nascentes e Pirapora (MG); o médio (1.090 km), entre Pirapora e Remanso
(BA); o submédio (686 km), entre Remanso e a cachoeira de Paulo Afonso; e o
baixo (274 km), entre Paulo Afonso e a foz.
A bacia hidrográfica do São Francisco drena uma área de 631 mil km², mais
da metade incluída no Polígono das Secas. Cerca de 83% de sua área encon-
tram-se em Minas Gerais e na Bahia, 6% em Pernambuco, Sergipe e Alagoas
Ao lado, página de
rosto do relatório e 1% em Goiás e no Distrito Federal. Os biomas que mais ocupam superfície
do engenheiro na bacia são o cerrado e a caatinga, predominante sob as condições de clima
Henrique Halfeld
com levantamento mais severas. Desde o período colonial, quando as áreas do alto São Francisco
cartográfico do rio
São Francisco foram ocupadas por mineradores de ouro e de diamantes, o rio constituiu um
Memória da Eletricidade eixo de comunicação entre o Nordeste e o Sudeste.
O rio São Francisco concentra a quase totalidade do potencial hidrelétrico
do Nordeste. A bacia hidrográfica do Parnaíba, a segunda mais importante da
região, apresenta um potencial energético de certa magnitude, notadamen-
te no rio Parnaíba, formador da divisa dos estados do Maranhão e Piauí. Na
Bahia, os rios Paraguaçu, das Contas e Pardo contribuem secundariamente
para a geração de energia elétrica. Em outras bacias nordestinas, a geração
hidrelétrica é virtualmente inviável por causa das baixas quedas e níveis de
garantia de deflúvios.
A cachoeira de Paulo Afonso, mais famosa fonte de energia hidráulica do
São Francisco, está localizada na divisa da Bahia com Alagoas, em área de cli-
ma tipicamente semiárido. Seis quilômetros a montante da cachoeira, o rio
se dividia em vários braços, formando um arquipélago fluvial com numerosas
ilhas e canais, por alguns dos quais não passava água no período de estiagem.
O braço principal esquerdo constituía o rio propriamente dito. Quanto aos bra-
ços secundários, os mais importantes eram o da Tapera e o da Velha Eugênia.
As águas do braço principal e da maioria dos braços secundários se reuniam
imediatamente a montante da cachoeira, formada por quedas de grande bele-
za com desnível de 80 metros. A jusante, tem início o cânion do São Francisco
com aproximadamente 60 quilômetros de extensão, cercado por paredões de
rocha granítica.
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Cânion do rio São


Francisco nas
proximidades da
cachoeira de Paulo
Afonso. Julho 1952
Chesf

Na página ao lado,
cachoeira de Paulo
Afonso. Abril 1952
Chesf
17
A primeira descrição detalhada de Paulo Afonso foi feita pelo engenheiro
e geógrafo alemão Henrique Guilherme Halfeld. Entre 1852 e 1854, comissio-
nado pelo governo imperial, Halfeld estudou o São Francisco e seus afluentes,
desde Pirapora até o Atlântico. Ele relatou cada légua percorrida no Atlas e
relatório concernente à exploração do rio São Francisco, publicado em 1860,
descrevendo em cores vivas o espetáculo das águas da cachoeira de Paulo
Afonso:

É interessante observar esta maravilha pela manhã, quando os refle-


xos dos raios solares produzem um magnífico arco-íris, penetrando o
vapor elevado sobre as águas da cachoeira; o estrondoso ruído que
causa esta catadupa é tão forte que, falando uma pessoa a outra Primeiro registro
junta ao pé de si, nada se pode ouvir, e vê-se somente mover a boca fotográfico da
cachoeira de Paulo
da pessoa que fala; a pressão do ar produzida pelo tombo da imensa Afonso. Theophile
Auguste Stahl. 1860
massa d´água do rio faz um efeito maior do que centenares de ven-
Fundação Biblioteca
taneiras unidas de uma fábrica de ferro. (Halfeld, 1860, p. 45) Nacional - Brasil

18
Henrique Guilherme
Fernando Halfeld,
engenheiro alemão
naturalizado brasileiro
Instituto Teuto-Brasileiro
William Dilly

19
O próprio imperador D. Pedro II empreendeu penosa viagem para conhe-
cer a cachoeira em 1859. E não se arrependeu. Mandou afixar no local uma
placa de bronze como registro de sua passagem e anotou em seu diário: “É be-
líssimo o ponto de que se descobrem sete cachoeiras que se reúnem na grande
(...). Tentar descrever a cachoeiras em poucas páginas, e cabalmente, seria
impossível”. (Pedro II, 1959, p. 126)
Algumas das principais preocupações da época com relação ao São Francis-
co eram desobstruir a sua barra, facilitar a navegação, incrementar as viagens
a vapor, contornar a cachoeira de Paulo Afonso por via férrea ou canal, e deso-
bstruir as cachoeiras de Pirapora e Sobradinho (BA).
Em 1879 e 1880, a Comissão Hidráulica do Império realizou estudos para
melhoramento do tráfego a vapor em toda a extensão do grande rio. Na se-
quência, a Comissão de Melhoramentos do Rio São Francisco executou as
obras de desobstrução de Sobradinho e outros trechos que impediam a franca
navegação. O engenheiro e geógrafo baiano Theodoro Sampaio integrou as
duas comissões, conheceu Paulo Afonso e registrou em seu diário de viagem
o quanto ficara impressionado com o que vira: “Paulo Afonso vê-se, sente-se,
não se descreve”. (Santos, 2010, p. 129)

Acima, Theodoro
Fernandes Sampaio,
20 engenheiro, geógrafo,
historiador e
escritor baiano
Chesf

Placa comemorativa
da visita de D. Pedro
II à cachoeira de
Paulo Afonso
Chesf
Equipe da Comissão A primeira concessão para aproveitamento energético de Paulo Afonso 21
de Melhoramentos do
Rio São Francisco em remonta ao início do regime republicano. Em novembro de 1890, o governo
Sobradinho. 1886
federal autorizou o advogado João José do Monte a utilizar o potencial da ca-
Instituto Histórico
e Geográfico choeira com a finalidade de levar energia aos seus próprios estabelecimentos
Brasileiro (IHGB)
industriais ou a consumidores dos estados de Sergipe e Alagoas. Trabalhos
nesse sentido não foram sequer iniciados e a concessão caducou cinco anos
mais tarde.
Em 1910, o engenheiro inglês Richard George Reidy pleiteou o direito de
utilização da força hidráulica de Paulo Afonso e outras quedas menores no rio
São Francisco, mas seu requerimento foi indeferido pelo governo federal. Em
1911, um grupo concorrente, liderado pelos engenheiros Francisco de Paula
Ramos de Azevedo e Hans Hacker, obteve a concessão para exploração do
potencial da grande cachoeira. Contudo, nada de concreto resultou dessa ini-
ciativa, assim como da concessão outorgada ao engenheiro Francisco Pinto
Brandão que se comprometera a organizar a Empresa Hidro Elétrica Agrícola
Industrial do Brasil, com capital de um milhão de libras esterlinas, tendo em
vista o estabelecimento de fábricas de cimento, fornos elétricos, material de
construção, cerâmica, vidro, papel e outros fins.
O PIONEIRISMO DE DELMIRO GOUVEIA

Em 1913, o potencial hidrelétrico de Paulo Afonso foi aproveitado pioneira-


mente pelo empresário cearense Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, responsá-
vel pela construção da pequena Usina de Angiquinho na margem alagoana da
cachoeira. Comerciante e grande exportador de couros e peles em Pernambu-
co, Delmiro Gouveia mudou-se para Alagoas no início do século, praticamente
falido após desavenças com sócios e adversários políticos, fixando residência Usina de Angiquinho,
em foto do engenheiro
na Vila da Pedra (atual cidade de Delmiro Gouveia). Distante 24 km da cacho- italiano Luigi Borella,
eira de Paulo Afonso, o povoado contava então com meia dúzia de casebres e contratado para
execução da obra
apenas uma construção importante: a estação da Estrada de Ferro Paulo Afon- Fundação Joaquim
so, via de ligação entre Piranhas (AL) e Jatobá, atual Petrolândia (PE). Nabuco

22
23
Em pouco tempo, Delmiro enriqueceu novamente com o comércio de pe-
les e couros. Disposto a empregar parte de seu capital no setor industrial,
projetou a construção de Angiquinho e a instalação de uma fábrica de fios e
linhas em Pedra. A concessão para o aproveitamento hidrelétrico foi outorga-
da pelo governo alagoano em 1911 e o projeto foi levado adiante com o apoio
de sócios estrangeiros. Consta que Delmiro almejava levar a energia de Paulo
Afonso até a capital pernambucana, tendo conversado sobre o assunto com o
general Emídio Dantas Barreto, governador do Estado. Desconfiado, o gene-
ral teria recusado a proposta, declarando: “O negócio que o senhor propõe é
tão vantajoso para o Estado, que deve envolver alguma velhacaria”. (Martins,
1963, p. 75)
Delmiro Gouveia. Em 1912, o empresário e seus sócios constituíram a Companhia Agro Fabril
[1917]. Acima, homens,
mulheres e crianças Mercantil, que assumiu a responsabilidade do empreendimento hidrelétrico.
operárias a caminho Paralelamente às obras da usina, Delmiro promoveu a construção de estradas
da fábrica de Delmiro
Gouveia na Vila da de rodagem, ligando a Vila da Pedra à cachoeira, aos centros urbanos mais
Pedra (AL). [191-?]
próximos de Água Grande e Mata Grande e às localidades mais distantes de
Fundação Joaquim
Nabuco Quebrangulo (AL) e Garanhuns (PE).
Em janeiro de 1913, a hidrelétrica de Angiquinho, a primeira do rio São
Francisco e uma das primeiras do Nordeste, entrou em operação, asseguran-
do o fornecimento de energia para a iluminação da Vila da Pedra e o funcio-
namento da fábrica da Companhia Agro Fabril Mercantil, inaugurada um ano
depois. A casa de força com duas unidades geradoras, totalizando 1.100 kW de
potência instalada, foi construída no paredão rochoso do cânion, em local de
difícil acesso, representando o maior desafio da obra.
Pioneira na produção de linhas de costura no Brasil, a fábrica de Delmiro en-
frentou a concorrência da poderosa companhia inglesa Machine Cotton, mas
conquistou uma posição importante no mercado nacional, tirando proveito da
redução da oferta das linhas estrangeiras durante a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918). A fábrica aumentou progressivamente sua produção, chegando a
empregar 800 operários, todos obrigados a cumprir rígidas normas de higiene,
segurança, educação e alimentação, estabelecidas por Delmiro.
A Companhia Agro Fabril Mercantil chegou a encomendar equipamentos
para instalação de uma segunda hidrelétrica, perto da Furna dos Morcegos,
uma grande caverna situada no início do cânion, mas o plano não foi levado
adiante por causa do assassinato do empresário em outubro de 1917.
Delmiro Gouveia tornou-se um dos símbolos mais fortes da luta pela in-
dustrialização e modernização do Nordeste. Também conquistou a reputação
24 de liderança nacionalista, em virtude de sua intensa disputa com a Machine
Cotton que acabou adquirindo o controle de sua fábrica. Em 1930, a fábrica
da Pedra foi desmantelada pela empresa inglesa e suas máquinas atiradas ao
Interior da fábrica da
fundo do rio São Francisco. A Usina de Angiquinho permaneceria em operação Companhia Agro Fabril
Mercantil. [191-?]
até março de 1960, quando uma forte enchente danificou geradores, excitatri-
Fundação Joaquim
zes e quadros de controle, obrigando a Chesf a retirá-la de serviço. Nabuco
Cascata da Princesa Vários estudos e prognósticos sobre o potencial hidrelétrico do São Fran-
na cachoeira de
Paulo Afonso cisco foram feitos nas décadas de 1920 e 1930, sem consequências de ordem
Chesf prática. Em 1921, uma equipe de engenheiros da Comissão de Estudos de
Forças Hidráulicas, órgão ligado ao Serviço Geológico e Mineralógico do Mi-
nistério da Agricultura, fez o primeiro levantamento topográfico da cachoeira
de Paulo Afonso. Entre os membros da equipe, estava o engenheiro carioca
Antônio José Alves de Souza, futuro presidente da Chesf.
Em 1925, uma comissão de engenheiros franceses percorreu o São Fran-
cisco e seus afluentes, apresentando um relatório em que preconizava o esta-
belecimento de grandes centrais hidrelétricas destinadas a fornecer energia
para a instalação de indústrias e a irrigação de áreas ribeirinhas. A vinda dessa 25
comissão ocorreu por iniciativa do engenheiro baiano Geraldo Rocha e contou
com o patrocínio de bancos franceses.
Em 1939, o engenheiro cearense José Antônio da Fonseca Rodrigues ela-
borou um anteprojeto de aproveitamento hidrelétrico em Paulo Afonso, com
capacidade inicial de 147 MW, em combinação com arrojado esquema de
transposição das águas do São Francisco para combate às secas e irrigação de
áreas de vários estados nordestinos. Professor da Escola Politécnica de São
Paulo, Fonseca Rodrigues estudou o assunto por iniciativa própria em parceria
com Sebastião Penteado Júnior, engenheiro eletricista de uma das concessio-
nárias do grupo American & Foreign Power Company (Amforp) atuante no in-
terior paulista e em diversas capitais nordestinas. O anteprojeto chegou a ser
apreciado por técnicos do Ministério da Agricultura, mas não foi tomado em
consideração pelo ministro Fernando Costa.
Tantos estudos improfícuos e o tempo passando em vão levaram um es-
critor nordestino a lançar um repto que fez época: “Paulo Afonso está ficando
rouca de tanto clamar aos engenheiros do país para aproveitarem sua ener-
gia”. (Souza, 1950, p. 94)
26
A criação da Chesf e
a construção da Usina de Paulo Afonso I

A expansão da indústria de energia elétrica no Brasil na primeira metade


do século XX foi marcada pela acentuada desigualdade entre os níveis de de-
senvolvimento das regiões do país. Prova disso foi a concentração do parque
gerador no Sudeste, em especial no eixo Rio-São Paulo, palco de atuação do
grupo Brazilian Traction, Light and Power, de origem canadense, conhecido
como Light. Responsável pelo suprimento de eletricidade à área mais urbani-
zada e industrializada do país, a Light implantou sistemas elétricos de grande
porte para os padrões da época. Em 1940, suas usinas somavam 595 MW de
potência instalada, correspondentes a mais da metade do total nacional. 27
No Nordeste, apenas as capitais e alguns centros urbanos vizinhos dispu-
nham de serviços de energia elétrica minimamente estruturados. Entre as em-
presas de eletricidade atuantes na região, a mais importante era a já mencio-
nada Amforp, pertencente à multinacional norte-americana Electric Bond &
Share Corporation (Ebasco). O grupo Amforp detinha a concessão dos serviços
de energia elétrica em Salvador, Maceió, Recife e Natal, em capitais de outras
regiões, como Belo Horizonte, Vitória, Curitiba e Porto Alegre, e também em
diversas cidades do interior paulista.
No quadro das empresas controladas pela Amforp, figuravam a Companhia
de Energia Elétrica da Bahia, que atendia a Salvador e localidades do Recôn-
cavo Baiano, a Pernambuco Tramways and Power Company Ltd, que detinha a
concessão de diversos serviços públicos em Recife, e a Companhia Força e Luz
do Nordeste do Brasil, que servia às capitais de Alagoas e do Rio Grande do
Norte. Entre as concessionárias de energia elétrica estrangeiras em atividade
Na página ao lado, no Nordeste, encontravam-se ainda a empresa inglesa Ceará Tramway, Light
planta geral das obras da
Usina de Paulo Afonso I and Power, em Fortaleza, e a norte-americana Ulen Management Company,
Memória da Eletricidade em São Luís.
De um modo geral, as usinas instaladas no Nordeste eram termelétricas
que queimavam derivados de petróleo ou lenha. Salvador era a única capital
que contava com suprimento de energia hidrelétrica, produzida pela Usina de
Bananeiras, no rio Paraguaçu, com 9 MW de potência. A maioria das cidades
do interior dispunha, quando muito, de pequenos grupos geradores perten-
centes a prefeituras ou particulares, cujos serviços se restringiam praticamen-
te à iluminação, operando apenas no período noturno. Fábricas têxteis e usi-
nas açucareiras possuíam sistemas próprios de geração de energia elétrica. Em
1940, a capacidade instalada de energia elétrica na região Nordeste, incluindo
as usinas de autoprodutores, era de 123 MW, representando 9,8% do total na-
cional de 1.243 MW. Levando-se em conta os dados de população, a potência
instalada por habitante era de apenas 8,5 Watts, enquanto a média nacional
se situava em 30 Watts, em notável contraste com as médias superiores a 100
Watts das áreas atendidas pela Light em São Paulo e no Rio de Janeiro.
A campanha pela construção de uma grande usina em Paulo Afonso ga-
nhou ímpeto no final do primeiro governo Getúlio Vargas (1930-1945), ao
tempo em que a intervenção do Estado na vida econômica do país adquiria
uma dimensão mais ampla. Na verdade, o governo federal assumiu papel cres-
centemente intervencionista em assuntos econômicos a partir da Revolução
de 1930, encorajando o crescimento de diversos setores mediante a criação
28 de comissões e autarquias e adotando uma legislação nacionalista no tocante
à exploração dos recursos minerais e das quedas d’água.
Em 1934, o Código de Águas estabeleceu normas inovadoras para o fun-
cionamento da indústria de energia elétrica no país, assegurando à União a
possibilidade de uma fiscalização mais rigorosa de todas as empresas do setor.
Outro passo importante foi dado em 1939, com a criação do Conselho Nacio-
nal de Águas e Energia Elétrica (Cnaee). Órgão subordinado à Presidência da
República, o Cnaee foi encarregado de múltiplas tarefas, como a organização
dos planos de interligação de usinas e sistemas elétricos, a regulamentação do
Código de Águas e a resolução dos dissídios entre a administração pública e
as concessionárias.
O grande artífice da campanha pelo aproveitamento de Paulo Afonso foi o
engenheiro agrônomo pernambucano Apolonio Jorge de Faria Sales. Nome-
ado ministro da Agricultura em fevereiro de 1942, o engenheiro manifestou
interesse imediato pelo aproveitamento da cachoeira de Itaparica, tendo em
vista o abastecimento do Núcleo Colonial Agro-Industrial do São Francisco, em
Petrolândia (PE). Ele chegou a cogitar a construção de uma grande usina em
Itaparica, mas cedeu aos argumentos de Antônio José Alves de Souza e outros
técnicos da Divisão de Águas do ministério que consideravam mais vantajosa
sua localização em Paulo Afonso. Entrementes, o Ministério da Agricultura le-
vou adiante a instalação de uma pequena hidrelétrica em Itaparica, com 1.000
kW de potência, retomando obra iniciada em 1932 pela Companhia Agrícola e
Pastoril do São Francisco.
Em abril de 1944, Apolonio Sales apresentou ao presidente Getúlio Vargas
o anteprojeto de criação da Chesf, justificando o aproveitamento do poten-
cial de Paulo Afonso como obra-chave para a superação do deficit energético
do Nordeste. O ministro também frisou a necessidade de deter o acelerado
desequilíbrio entre o Nordeste e o Sudeste como um imperativo da unidade
nacional.

29
30 O anteprojeto previu a organização da Chesf com capital de Cr$ 400 mi- Esquema de
aproveitamento
lhões, subscritos em sua maioria pelo governo federal, e a instalação de 112 hidrelétrico do rio São
Francisco em Paulo
MW como meta inicial da empresa, tal como indicado em estudo dos enge- Afonso proposto pelos
nheiros José Leite Correa Leal e Leopoldo Schimmelpfeng. O esquema de apro- engenheiros José Leite
Correa Leal e Leopoldo
veitamento da cachoeira de Paulo Afonso proposto pelos engenheiros previa Schimmelpfeng
uma barragem de pequena altura no braço principal do rio São Francisco, a Memória da Eletricidade

retificação do braço da Velha Eugênia, a construção de túneis para adução da


água até as turbinas e a instalação da casa de máquinas na margem direita do
cânion, a jusante da Furna dos Morcegos.
Em junho do mesmo ano, Apolonio Sales viajou aos Estados Unidos para
conhecer de perto a experiência da Tennessee Valley Authority (TVA), agên-
cia federal norte-americana encarregada de promover o desenvolvimento da
empobrecida e desassistida região do vale do rio Tennessee. Ele voltou en-
tusiasmado com o modelo de planejamento integrado da TVA e propugnou
sua adoção no vale do São Francisco, tendo vista as finalidades da irrigação,
navegação e produção de energia. “As três finalidades se entrelaçam de tal
maneira”, declarou numa de suas conferências, “que não podemos separar
uma das outras”. (Chesf, 1950, p. 71)
Apolonio Sales defendeu ardorosamente a criação da Chesf, queixando-se
mais de uma vez ao presidente Vargas das medidas protelatórias do ministro
da Fazenda, Artur de Souza Costa. Em setembro de 1944, o Cnaee aprovou
parecer favorável à criação da empresa, recomendando para o êxito da em-
preitada a elaboração de anteprojeto sobre o aproveitamento progressivo de
Paulo Afonso e seu exame por especialistas no país e no estrangeiro. O Cnaee
também aprovou a instalação de uma pequena hidrelétrica com aproveita-
mento do braço do Capuxu (conhecida depois como Usina Piloto) para o supri-
Usina hidrelétrica de
Bananeiras (BA) mento de energia ao canteiro de obras da Chesf em Paulo Afonso e ao Núcleo
Chesf Agro-Industrial de Petrolândia.

31
Em novembro de 1944, entretanto, o Conselho Técnico de Economia e Fi- Alves de Souza nas
obras de Paulo Afonso
nanças (CTEF), órgão consultivo do Ministério da Fazenda, considerou inopor- com visitantes. Na
última fila, o engenheiro
tuna a constituição da Chesf, sugerindo antes a organização de um grupo de Hélio Gadelha (ao
trabalho para o estudo completo do projeto da usina e de seu sistema de trans- centro, de bigode),
responsável pelo setor
missão. Para dirimir a controvérsia, Vargas solicitou a audiência da Comissão de concreto das obras
de Planejamento Econômico, órgão complementar do Conselho de Segurança Chesf

Nacional. Em julho de 1945, a comissão acolheu o parecer do tenente-coronel


Hélio de Macedo Soares e Silva recomendando a criação da Companhia, não
obstante a oposição de alguns membros, como o economista Eugênio Gudin
Filho. Conhecido defensor da iniciativa privada, Gudin julgava que o investi-
mento na construção de uma grande hidrelétrica no sertão nordestino não se
justificava economicamente. Mas reviu sua posição em artigo publicado mais
tarde no jornal carioca O Globo: “Passados quase vinte anos, devo confessar
o meu erro. A experiência demonstrou, tanto quanto posso apurar, que a obra
foi também economicamente proveitosa”. (Gudin, 1963)
Em 3 de outubro de 1945, o presidente Vargas assinou o Decreto-Lei nº
8.031, que autorizou a organização da Chesf pelo Ministério da Agricultura, e
o Decreto-Lei nº 8.032, que abriu ao Ministério da Fazenda o crédito especial
de Cr$ 200 milhões para a subscrição de ações ordinárias da Companhia. Pelo
Decreto nº 19.706, promulgado na mesma data, a empresa obteve concessão
por 50 anos para efetuar o aproveitamento progressivo de energia elétrica
do trecho do rio São Francisco entre Juazeiro (BA) e Piranhas (AL), fornecer
energia em alta tensão a concessionários de serviços públicos e, respeitados
os direitos de terceiros, realizar a distribuição de eletricidade.
A área de atuação da Companhia foi delimitada por um círculo de 450 qui-
lômetros de raio em torno de Paulo Afonso, abrangendo 347 municípios dos
O presidente Getúlio
Vargas em visita às
estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas,
obras de Paulo Afonso, Sergipe e Bahia, que somavam 516 mil km2, situados em grande parte no Po-
acompanhado por Alves
de Souza (à direita), lígono das Secas.
em junho de 1952. Na
ocasião, foi inaugurada A criação da Chesf marcou a primeira intervenção direta da União no setor
a linha de transmissão elétrico brasileiro, somando-se a outras iniciativas do primeiro governo Vargas
de 44 kV interligando
a Usina Piloto às em setores estratégicos da economia, como a construção da Usina de Volta
cidades de Glória (BA)
e Petrolândia (PE) Redonda pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a criação da Compa-
Chesf nhia Vale do Rio Doce (CVRD).
A ORGANIZAÇÃO DA EMPRESA E A SAGA DOS PIONEIROS

A organização da Chesf foi retardada pela deposição de Vargas em 29 de outu-


bro de 1945, permanecendo em compasso de espera por dois anos até receber o
apoio resoluto do presidente Eurico Dutra (1946-1951) e do ministro da Agricul-
tura, Daniel de Carvalho. Esse apoio ficou patente em outubro de 1947, quando o
engenheiro Antônio José Alves de Souza foi encarregado de estruturar a Compa-
nhia por designação do ministro.
Segundo o advogado Afrânio de Carvalho, chefe de gabinete do ministro da
Agricultura e mais tarde diretor administrativo da Chesf, a escolha de Alves de
Souza para a missão de organizador e futuro presidente da empresa revelou a
preocupação do governo em evitar as “injunções e transigências naturais na po-
lítica” (Carvalho, 1989, p. 35). Isso teria motivado a exclusão a priori do nome do
ex-ministro Apolonio Sales, que conquistara o mandato de senador por Pernam-
buco nas eleições de 1945.
Alves de Souza concentrou seus esforços em três frentes: divulgar a Chesf nos
estados nordestinos, emitir manifesto explicitando os objetivos e as possibilidades
da Companhia, e garantir a subscrição de ações preferenciais, inclusive nos esta-
dos do Sul e do Sudeste.
Publicado em novembro de 1947, o Manifesto da Chesf tomou por base o or-
34 çamento aprovado para a constituição da Companhia (Cr$ 400 milhões) e o ante-
projeto dos engenheiros Correa Leal e Schimmelpfeng para o aproveitamento de
Paulo Afonso. O anteprojeto recebera o endosso do engenheiro norte-americano
Oren Reed, da TVA, mas vinha sendo contestado por técnicos da Divisão de Águas
do ministério. Um deles, o engenheiro Luiz Antônio de Souza Leão, delineou uma
concepção alternativa com a construção da barragem na crista da cachoeira de
Paulo Afonso e a localização da usina na margem esquerda. O engenheiro e sena-
dor pelo Espírito Santo Henrique de Novais também esboçou uma sugestão para
o aproveitamento da grande queda, concordando com os pontos fundamentais
da proposta de Souza Leão.
O manifesto previu a instalação de 112 MW e a implantação de duas linhas pri-
márias de transmissão, uma até Recife e outra até Propriá (SE), de onde partiriam
linhas secundárias para Maceió e Aracaju. O documento suscitou protestos da
bancada baiana no Congresso, que questionou a exclusão da Bahia na relação dos
estados a serem energizados na primeira etapa de Paulo Afonso. O impasse foi re-
solvido no início de dezembro, quando o presidente Dutra lançou a campanha de
subscrição de ações da Companhia, declarando que autorizaria as operações de
crédito necessárias para extensão das linhas de transmissão à Bahia e à Paraíba.
Em 15 de março de 1948, a Chesf foi constituída em assembleia geral de acio-
nistas presidida pelo ministro Daniel de Carvalho, realizada no Rio de Janeiro,
onde ficaria inicialmente sediada. O governo federal contribuiu com metade do
Primeira diretoria capital, subscrevendo as ações ordinárias. As preferenciais foram subscritas, em
da Chesf. A partir da
esquerda: Adozindo sua maior parte, pelos governos da Bahia, de Pernambuco, Alagoas e Sergipe, sen-
Magalhães de Oliveira,
Carlos Berenhauser do integralizadas com a participação de institutos de previdência federais. Eleita
Júnior, Antônio José a primeira diretoria, Antônio José Alves de Sousa assumiu o posto de presidente,
Alves de Souza e Octávio
Marcondes Ferraz. tendo como principais auxiliares os engenheiros Octávio Marcondes Ferraz, Carlos
Rio de Janeiro,
Março 1948 Berenhauser Júnior e Adozindo Magalhães de Oliveira, os quais ocuparam as dire-
Cpdoc torias Técnica, Comercial e Administrativa, respectivamente.

35
Os primeiros meses de atividade da Chesf foram dedicados à sua instalação, à
compra e ao transporte de alguns equipamentos e materiais para Paulo Afonso, à
melhoria das rodovias de acesso e aos estudos do projeto básico da usina. A cons-
tituição da empresa e a construção da hidrelétrica ainda suscitavam discussão e
críticas de especialistas, como relatou o engenheiro Alves de Souza em conferên-
cia na Escola de Minas de Ouro Preto (MG):

Criticaram desfavoravelmente a resolução do governo de empregar


dinheiros públicos em uma zona de desenvolvimento ainda muito
incipiente, quando poderia empregá-los com resultados maiores e
mais imediatos em zonas mais prósperas do Sul do país (...) Afigura-
-se a mim que compete principalmente ao governo a atitude pioneira
de fomentar o progresso de regiões menos desenvolvidas, suprindo
aí as deficiências da iniciativa privada e evitando, dessa forma, pro- Transporte de materiais
para a construção
fundos desequilíbrios econômicos e sociais entre as diversas regiões de Paulo Afonso I
do país. (Souza, 1949, p. 9) Chesf

36
37

Marcondes Ferraz expõe O projeto definitivo da usina foi elaborado por Marcondes Ferraz. Base-
o projeto de Paulo Afonso
I ao presidente Dutra e ado em minucioso levantamento topográfico e em sondagens geológicas da
membros de sua comitiva
em visita às obras da
cachoeira de Paulo Afonso e da área vizinha, o diretor técnico concebeu uma
usina. Agosto 1950 solução original para o aproveitamento hidrelétrico, diferente das propostas
Chesf
até então esboçadas.
O arranjo geral do aproveitamento compreenderia duas barragens princi-
pais em forma de raiz quadrada, destinadas a elevar o nível d’água a montante
da cachoeira e a formar uma bacia de decantação do material sólido transpor-
tado pelo rio; a tomada d’água no vértice das barragens; um sistema de túneis
de adução; a casa de máquinas subterrânea, a 80 metros de profundidade;
e um túnel de descarga com 180 metros de comprimento, desaguando no
cânion do São Francisco. As barragens foram concebidas de modo a permitir
a futura ampliação do aproveitamento, efetivada com a instalação de mais
duas tomadas d’água e respectivas casas de máquinas (Paulo Afonso II e III),
também subterrâneas.
Paulo Afonso I e a Usina Nilo Peçanha, construída na mesma época no Rio
de Janeiro pela Light, foram as primeiras centrais geradoras subterrâneas do
Brasil. Além de mais vantajosa do ponto de vista econômico, a solução propos-
ta por Marcondes Ferraz permitia melhor aproveitamento da altura de queda,
em virtude da grande variação do nível de água no cânion do São Francisco (30
metros entre a estiagem e a cheia máxima). A compacidade da rocha e a quase
impermeabilidade do terreno também foram elementos determinantes para Início de escavação do
poço adutor interligando
a opção subterrânea, mediante a escavação de uma caverna de 60 metros de a tomada d’água à casa
máquinas da Usina Paulo
comprimento, 16 de largura e 32 de altura para abrigar a casa de força com Afonso I. Junho 1950
três unidades geradoras de 60 MW. Chesf

38

Formas para a
concretagem do
vertedouro da hidrelétrica
de Marimbondo, em
dezembro de 1971. As
linhas que interligaram
a usina ao sistema
elétrico do sudeste foram
as primeiras em 500
quilovolts no país e no
continente

Acervo Memória
da Eletricidade
39

Medição da velocidade A casa de comando foi localizada na superfície, na margem baiana, assim
das águas na região do
cânion com a utilização como a subestação elevadora, com os bancos de transformadores e o restante
de um pequeno molinete.
Os operários o chamavam
do equipamento de alta tensão. Dessa subestação partiriam as linhas-tronco
de zepelim. Julho 1950 de transmissão Norte e Sul, em direção, a Recife e Salvador, ambas de 220
Chesf
quilovolts (kV), com 405 e 456 quilômetros de extensão, respectivamente. As
linhas até as subestações abaixadoras nas capitais pernambucana e baiana
constituiriam o sistema primário de transmissão da Chesf. O sistema secundá-
rio contaria com ramais de 66 kV, derivados das subestações de Angelim (PE)
e Itabaiana (SE). Situada em ponto intermediário da linha Norte, a subestação
de Angelim foi projetada para o atendimento de Maceió e localidades per-
nambucanas, como Caruaru e Garanhuns. A subestação de Itabaiana, localiza-
da no trajeto da linha Sul, alimentaria Aracaju e zona circunvizinha.
40 O aproveitamento de Paulo Afonso tornou obrigatória uma resolução a Chegada de equipamento
importado em Paulo
respeito da questão da frequência na região. A maioria dos sistemas elétricos Afonso. Setembro 1951
nordestinos operava em 50 Hz, cabendo destacar como principal exceção o Chesf

sistema de 60 Hz da CEEB, subsidiária da Amforp, atuante em Salvador e áreas


vizinhas. Entretanto, a Chesf apresentou argumentos definitivos em favor da
opção por 60 Hz, como o menor custo dos equipamentos elétricos e a ten-
dência predominante em quase todos os estados brasileiros para o uso dessa
frequência.
Um empréstimo de 15 milhões de dólares do Banco Internacional de Re-
construção e Desenvolvimento (Bird) assegurou grande parte da cobertura de
despesas em moeda estrangeira com a compra de duas unidades geradoras
e demais equipamentos e materiais importados, mediante concorrências in-
ternacionais. O material hidráulico e elétrico da usina e os equipamentos das
subestações de Recife, Salvador, Angelim e Itabaiana foram fornecidos pela
firma norte-americana Westinghouse. Os equipamentos das linhas-tronco de
transmissão foram adquiridos de diversos fabricantes, entre os quais a Gene-
ral Electric, a Svenska Metallwerken e a Compagnie Générale d’Electro-Céra-
mique.
As obras de Paulo Afonso foram realizadas diretamente pela Chesf, sem a
participação de firmas empreiteiras. Dos acampamentos aos caminhos de ser-
viço, da construção da barragem à montagem eletromecânica da usina, tudo
ficou a cargo de engenheiros, técnicos e operários da própria Companhia. A
Lança pedra no trabalho
de concretagem instalação das linhas-tronco de transmissão e das quatro primeiras subesta-
de barragem.
Dezembro 1950 ções, único serviço contratado com terceiros, foi realizada pela firma norte-
Chesf -americana Morrison-Knudsen.

41
A construção dos acampamentos teve início em outubro de 1948. O acam-
pamento da margem baiana, conhecido como “cidade Chesf”, reuniu a maioria
das instalações da empresa. Paulo Afonso, um lugarejo praticamente desabi-
tado, pertencente ao município de Glória, sofreu uma transformação radical
com as obras do grande aproveitamento hidrelétrico. O engenheiro Marcon-
des Ferraz conta que na sua primeira viagem a Paulo Afonso encontrou ape-
nas “um acampamento com meia dúzia de casas de sapê e um prédio de dois
andares construído pelo Ministério da Agricultura para fazerem uma pequena
usina piloto”. E acrescentou:

As pessoas, inclusive o engenheiro e o ajudante encarregados da tal


usininha haviam se instalado em Pedra, com medo da maleita. Aqui-
lo era um campo de maleita! Todo o mundo lá era maleitoso. Fiquei
meio decepcionado e fomos dormir em Pedra. Mas no dia seguinte
voltei para a obra, levando cama, trem de cozinha, comida e passei Marcondes Ferraz
e morador de Paulo
a morar em Paulo Afonso com maleita ou sem maleita. (Memória da Afonso. Agosto 1952
Eletricidade, 1993, p. 98) Chesf

42
Alojamento de
operários solteiros no
acampamento da Chesf
Chesf

Abaixo, cooperativa
de abastecimento
em Paulo Afonso
Chesf

43
44 Em 1950, Paulo Afonso já contava com população superior a seis mil habi- Escola primária
mantida pela Chesf
tantes, distribuídos em três bairros residenciais (Bairro General Eurico Dutra, Chesf
Vila Alves de Souza e Vila Operária) e na Vila Poty, núcleo informal composto
pelos trabalhadores conhecidos como “cassacos”, em sua maioria sem qua-
lificação, atraídos pela possibilidade de emprego e pelos serviços médicos e
educacionais da Companhia. Além da ajuda do Ministério da Educação para
a instalação de hotel, escolas e serviços de puericultura, a Chesf contou com
o apoio da Aeronáutica que cuidou da construção do aeroporto. Em 1953,
Paulo Afonso foi elevado à condição de distrito; cinco anos depois, tornou-se
município.
O escritório-sede no Rio de Janeiro, localizado à rua Visconde de Inhaúma,
centralizou os recursos técnicos de planejamento. Paulo Afonso, onde fun-
cionava a Diretoria Técnica, concentrou o pessoal básico da Companhia e a
maior administração regional, junto ao canteiro de obras da hidrelétrica. Ali,
como escreveu a socióloga Rezilda Rodrigues de Oliveira, “operários e enge-
nheiros da Chesf realizariam uma epopeia digna daquela descrita por Euclides
da Cunha quando se referia ao labor do forte homem sertanejo”. (Oliveira,
2001, p. 6)
A Chesf também recebeu razoável afluxo de estrangeiros que prestaram
importantes serviços para a empresa nos seus primeiros anos. Além do francês
André Jules Balança, responsável pelos cálculos hidráulicos de Paulo Afonso I e
pela construção de seu modelo reduzido, a Companhia recebeu imigrantes de
outros países europeus após a Segunda Guerra Mundial.
A Usina Piloto, projetada e construída em grande parte por engenheiros da
Divisão de Águas do Ministério da Agricultura, foi transferida para a Chesf em
fevereiro de 1949. Instalada a 500 metros da margem direita do São Francis-
co, com aproveitamento do braço do Capuxu, a pequena hidrelétrica entrou
em operação em outubro do mesmo ano, dispondo de uma unidade geradora
com 2 MW de potência. Antes disso, os canteiros de obras foram alimentados
por grupos termelétricos e pela Usina de Angiquinho.
As escavações para as fundações das barragens tiveram início em março
de 1949. O trabalho foi quase todo manual até o final do ano, quando a Chesf
Usina hidrelétrica
Paulo Afonso Auxiliar, passou a dispor de equipamentos pesados adquiridos no exterior. Construídas
conhecida como
Usina Piloto. 1950 em concreto ciclópico e armado, as duas barragens têm extensão superior a
Chesf quatro quilômetros e altura média de dez metros.

45
A construção da barragem no braço principal do São Francisco representou
o grande desafio das obras do aproveitamento hidrelétrico. O trecho a ser
vencido era relativamente estreito (130 metros no período de estiagem), mas
profundo e impetuoso. O barramento foi realizado em duas etapas por meio
de ensecadeiras celulares, seguindo um processo original concebido pelo en-
genheiro Marcondes Ferraz. A primeira compreendeu a montagem de uma
ensecadeira em torno da margem esquerda e a construção da barragem até o
meio do rio. Na segunda etapa, a Chesf isolou a outra metade do braço prin-
cipal, tendo em vista seu completo fechamento e o término da construção da
barragem.
A montagem da primeira ensecadeira foi feita com o auxílio de um cai-
xão metálico flutuante, utilizado como anteparo móvel contra a correnteza.
O caixão tinha a forma aproximada de um navio e funcionou como elemento
tranquilizador do caudal, facilitando a cravação das estacas da ensecadeira.

Escavação e concretagem
de barragem. Junho 1950
Chesf

46
47

Montagem de células A segunda etapa do barramento apresentava um problema ainda maior.


da segunda ensecadeira
no braço principal do A velocidade das águas aumentara bastante em virtude do estreitamento do
rio São Francisco. A
jusante, estruturas
rio e já não permitia o uso do ‘navio’ como anteparo das células da outra en-
enrocadas ou ‘gaiolas’ secadeira que precisava ser montada. Marcondes Ferraz idealizou um artifício
utilizadas na etapa
final do fechamento diferente para acalmar as águas, projetando a construção de um enrocamento
do rio. Julho 1954
com o auxílio de duas treliças de aço. Mergulhadas no leito do São Francisco,
Chesf
as treliças, também conhecidas como ‘gaiolas’, seriam preenchidas por pedras
lançadas de uma distância conveniente.
O representante do Banco Mundial, engenheiro Adolph Ackerman, discor-
dou dessa solução, afirmando que a continuidade da obra estava ameaçada e
que a Chesf acabaria falindo. Alves de Souza e Marcondes Ferraz foram obri-
gados a viajar aos Estados Unidos para dar explicações técnicas à direção do
banco sobre o programa de fechamento do rio. Conseguiram dirimir as dúvi-
das do Banco Mundial, que designou um novo representante para o acompa-
nhamento da obra.
Em julho de 1954, o rio São Francisco foi controlado exatamente como pre-
visto nos estudos em modelo reduzido do laboratório hidráulico da Chesf. A
construção da ensecadeira da margem direita foi realizada sem maiores di-
ficuldades, graças ao remanso formado pelo enrocamento, permitindo o fe-
chamento do braço principal, o enchimento da bacia de decantação de Paulo Barragem de comportas,
célula de ensecadeira
Afonso em setembro e o início dos trabalhos de comissionamento da usina. e enrocamento de
pedras-de-mão no
O engenheiro carioca Paavo Nurmi de Vicenzi, recém-chegado a Paulo braço principal do rio
Afonso, fez uma descrição emocionada do momento do fechamento do rio. São Francisco, por
ocasião da operação de
Ele conta que havia milhares de pessoas na barranca do rio, esperando a últi- enchimento da bacia
de decantação de Paulo
ma comporta baixar e as águas deixarem de correr pelo leito original. Quando Afonso. Setembro 1954
isso aconteceu, houve uma grande comemoração: Chesf

48
49
O presidente João Foi uma aclamação imensa, aquele foguetório, alegria, todo mundo rin-
Café Filho discursa na
inauguração da Usina do, uma coisa extraordinária. Aquela gente toda que estava ali, gente
de Paulo Afonso I.
Janeiro 1955
pobre, gente modesta, entrou na parte seca (...) o povo desceu e apa-
Chesf nhou os peixes com a mão (...) um daqueles cassacos, daqueles ope-
rários que trabalhavam descalços e praticamente nus, só com calção,
subiu no mastro, pegou a bandeira brasileira e atravessou a pé o rio
com as cores do Brasil. (Jucá, 1982, p. 86-88)

No início de outubro, a turbina nº 1 da usina girou pela primeira vez. As


linhas de transmissão para Recife e Salvador foram submetidas a testes no
mês seguinte. Em 1º de dezembro de 1954, marcando a entrada em operação
da hidrelétrica, Marcondes Ferraz ligou o primeiro circuito de alimentação da
rede do Recife.
Em 15 de janeiro de 1955, o presidente João Café Filho inaugurou oficial-
mente a usina, considerada na época a maior obra da engenharia nacional. Em
setembro, a hidrelétrica atingiu a capacidade final de 180 MW, com a entrada
em operação da terceira unidade geradora.
50
Tempos de expansão e consolidação

A inauguração de Paulo Afonso I foi o ponto de partida da Chesf como


grande empresa supridora de energia elétrica da região Nordeste. Para se ter
uma ideia da importância do empreendimento, basta comparar a potência ins-
talada da usina (180 MW) com a capacidade geradora preexistente na área de
atuação da Companhia (110 MW). De fato, a hidrelétrica ampliou significativa-
mente a oferta de energia a cidades com demanda insatisfeita ou reprimida,
permitiu a desativação de pequenas termelétricas que funcionavam à base de 51
combustível importado e, mais do que isso, abriu a perspectiva do atendimen-
to a numerosas localidades que mal conheciam a eletricidade.
Além de Paulo Afonso I e da Usina Piloto, a Chesf logo passou a contar com
uma termelétrica em seu parque gerador. Em junho de 1955, por doação do
governo federal, a Companhia incorporou a usina a gás natural de Cotegipe,
construída pela Viação Férrea Federal do Leste Brasileiro, em Aratu, no Recôn-
cavo Baiano. Com 20 MW de potência instalada, a termelétrica fornecia ener-
gia para o trecho eletrificado da ferrovia, a cidade de Alagoinhas e a capital
baiana no horário de ponta. A Usina de Cotegipe permaneceria em operação
até o fim de 1982.
Ao lado, vista das três O número de localidades supridas com energia da empresa federal pas-
primeiras usinas do
Complexo Hidrelétrico sou de 28 para 195 entre 1955 e 1961, paralelamente à construção de mais
de Paulo Afonso com as
estruturas das tomadas mil quilômetros de linhas de transmissão e 30 subestações. Nesse período,
d’água de Paulo Afonso I o atendimento da demanda de energia elétrica foi determinado quase que
(a menor), Paulo Afonso
II e Paulo Afonso III (mais exclusivamente pela substituição dos grupos geradores particulares e de em-
avançada) e o cânion
do rio São Francisco presas distribuidoras, o que redundou na absorção total da potência de Paulo
Eletrobras Afonso I.
Cidade do Crato (CE).
1962. Tibor Jablonsky/
Nilo Bernardes
IBGE

Autorizada pelo Decreto nº 37.584, promulgado em 1955, a Companhia


pôde realizar o fornecimento direto de energia a indústrias cuja carga instala-
52 da fosse superior à metade da carga do sistema de distribuição dos concessio-
nários de eletricidade locais. Tratava-se de uma medida lógica, considerando
os sistemas obsoletos das distribuidoras e a necessidade de atender às exigên-
cias da demanda reprimida por longo tempo.
A Chesf lutou por tarifas que pudessem suportar os encargos de sua ope-
ração e remunerar o capital investido à base de 10%, percentual máximo pre-
visto pela legislação. Atuando como agência de fomento regional, tomou a ini-
ciativa de convocar órgãos da administração pública, associações comerciais
e federações estaduais de indústrias para mesas-redondas com o objetivo de
discutir planos de desenvolvimento para a região, fomentar o uso da eletrici-
dade e viabilizar o mercado consumidor da Companhia.
Recife, Salvador e Aracaju foram as primeiras cidades beneficiadas pela
energia de Paulo Afonso. A subestação de Recife operou inicialmente com
equipamentos conversores de frequência com capacidade para atender a car-
ga do sistema de 50 Hz da Pernambuco Tramways and Power, subsidiária da
Amforp. Em 1957, concluída a mudança para 60 Hz no sistema de distribuição
da capital pernambucana, a antiga termelétrica do Gasômetro de Recife foi
retirada do sistema.
Os suprimentos de energia permaneceram limitados aos estados de Per-
nambuco, Bahia e Sergipe no primeiro ano de operação de Paulo Afonso I.
Em 1956, passaram a incluir centros consumidores de Alagoas e Paraíba, no-
tadamente Maceió, Campina Grande e João Pessoa. O fornecimento direto de
energia a grandes consumidores industriais teve início no mesmo ano, abran-
gendo fábricas de tecidos, usinas de açúcar e, mais tarde, a refinaria de petró-
leo de Mataripe, instalada pela Petrobras no Recôncavo Baiano. Em 1961, o
sistema de transmissão da Chesf alcançou o sul do Ceará, com a entrada em
funcionamento do circuito de 220 kV entre Paulo Afonso e a subestação de
Milagres. Por intermédio dessa linha, a empresa iniciou o abastecimento de
Juazeiro do Norte, Crato e outras localidades cearenses da região do Cariri.

53

Cidade do Crato (CE).


1962. Tibor Jablonsky/
Nilo Bernardes
IBGE
O projeto de aproveitamento energético de Paulo Afonso concebido pelo
engenheiro Octávio Marcondes Ferraz previu a construção de mais duas usi-
nas subterrâneas no mesmo represamento, posteriormente denominadas
Paulo Afonso II e Paulo Afonso III. A segunda e a terceira usina do complexo
Vista da Usina de Paulo
hidrelétrico tiveram um custo bastante reduzido, em virtude do investimento Afonso II em construção
previamente realizado no canteiro de obras e na barragem de Paulo Afonso I. Chesf

54
55

Operários na escavação As obras de Paulo Afonso II e das linhas de transmissão do primeiro plano
da caverna da casa
de máquinas da Usina de expansão da Chesf contaram com recursos do Fundo Nacional de Eletrifica-
de Paulo Afonso II.
ção, empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE)
Chesf
e financiamento de 15 milhões de dólares do Export and Import Bank (Exim-
bank). Diversos convênios para construção de linhas e subestações foram fir-
mados com governos estaduais, prefeituras municipais e organismos federais,
como a Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), criada em 1948, e a Supe-
rintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), fundada em 1959,
importante aliada da Companhia na missão de promover a industrialização da
região.
O empreendimento de Paulo Afonso II exigiu basicamente a construção da
tomada d’água e da casa de força da usina projetada para abrigar seis unida-
des geradoras. A primeira unidade de 75 MW entrou em operação em dezem-
bro de 1961, quando o sistema elétrico da Companhia já enfrentava uma séria
sobrecarga.
A REORDENAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO E A CRIAÇÃO DA ELETROBRAS

O período das primeiras realizações da Chesf foi também de mudanças


importantes no setor elétrico brasileiro. A participação do Estado no setor
ganhou um peso crescente com a criação de várias empresas federais e es-
taduais e a instituição de recursos fiscais para a sustentação do investimento
público no setor.
A maior presença do Estado foi determinada em boa medida pela necessi-
dade premente de ampliar a capacidade geradora do país. Por volta de 1950,
as grandes empresas estrangeiras já não atendiam satisfatoriamente ao mer-
cado de energia elétrica dos maiores centros urbanos e industriais. As conces-
sionárias privadas nacionais também não respondiam a contento ao aumento
da demanda que crescia em ritmo acelerado.
Em face desse quadro, o presidente Getúlio Vargas propôs um novo orde-
namento institucional para o setor elétrico em seu segundo governo (1951-
1954), encaminhando ao Congresso quatro projetos de lei inter-relacionados.
O primeiro instituía a cobrança do Imposto Único sobre Energia Elétrica (IUEE)
e a criação do Fundo Federal de Eletrificação (FFE), destinando-lhe 40% dos re-
cursos do imposto único cobrado nas contas dos consumidores. O segundo tra-
tava dos critérios de rateio do imposto entre os estados, os municípios e o Dis-
56 trito Federal. O terceiro estabelecia o Plano Nacional de Eletrificação e o quarto

Trecho da linha Paulo


Afonso-Recife em
construção. Agosto 1952
Chesf
Feira em Juazeiro
do Norte (CE). 1962
Tibor Jablonsky
IBGE

autorizava a constituição das Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras).


O primeiro projeto foi aprovado em 1954 e o segundo demorou mais dois anos 57
para ser convertido em lei. O projeto do Plano Nacional de Eletrificação foi
abandonado e o da Eletrobras foi sancionado somente em 1961.
Em paralelo, os governos de Minas Gerais e São Paulo assumiram a res-
ponsabilidade pela construção de usinas e linhas de transmissão, constituindo
empresas de economia mista com essa finalidade. Assim, surgiram a Centrais
Elétricas de Minas Gerais (Cemig) em 1952, a Usinas Elétricas do Paranapane-
ma (Uselpa) em 1953, a primeira de uma série de empresas organizadas pelo
governo paulista, posteriormente unificadas em torno da Centrais Elétricas de
São Paulo (Cesp).
Em 1957, em mais uma iniciativa da União no campo da geração de energia
elétrica, o governo Juscelino Kubitschek (1956-1961) criou a Central Elétrica
de Furnas, tendo em vista o aproveitamento do potencial hidrelétrico do rio
Grande no trecho das corredeiras de Furnas, próximo à divisa de Minas Gerais
com São Paulo. A Usina de Furnas despontou como a primeira central gerado-
ra do país com capacidade superior a mil MW. Situado em ponto quase equi-
distante das três maiores capitais do Sudeste, o empreendimento foi concebi-
do como peça-chave da interligação de sistemas elétricos até então isolados.
Em julho de 1960, o governo federal deu mais um passo na organização
do setor energético, criando o Ministério das Minas e Energia (MME), que
incorporou em sua estrutura o Cnaee, a Divisão de Águas e demais reparti-
ções do Ministério da Agricultura. Nessa altura, a Cemig liderava o ranking das
empresas estatais em termos de capacidade geradora (239 MW), secundada
pela Chesf (202 MW).
A participação do poder público no setor elétrico também cresceu com o
surgimento de companhias estaduais basicamente distribuidoras. No Nordes-
te, foram constituídas seis concessionárias públicas entre 1959 e 1962: a Cen-
trais Elétricas do Maranhão (Cemar), a Companhia de Eletricidade do Estado
da Bahia (Coelba), a Empresa Distribuidora de Energia em Sergipe (Energipe),
a Companhia de Eletricidade de Alagoas (Ceal), a Companhia Serviços Elétri-
cos do Rio Grande do Norte (Cosern) e a Centrais Elétricas do Piauí (Cepisa).
A própria Chesf chegou a atuar no segmento da distribuição por intermédio
da Companhia de Eletricidade do Cariri (Celca), subsidiária criada em outubro
de 1960 com o objetivo de melhorar a qualidade do atendimento a Juazeiro do
Norte e outras localidades no sul do Ceará. Além disso, a Companhia assumiu
a administração do Serviço de Luz e Força de Fortaleza (Serviluz) em 1960, em
razão de convênio com a prefeitura municipal de Fortaleza que vigorou por
dois anos. Findo o convênio, o controle acionário da Serviluz passou da prefei-
58 tura de Fortaleza para a Eletrobras, quando então a empresa transformou-se
na Companhia Nordeste de Eletrificação de Fortaleza (Conefor).

Juazeiro do Norte (CE).


1962. Tibor Jablonsky
IBGE
59
O presidente João Em abril de 1961, o presidente Jânio Quadros assinou a lei de criação da
Goulart e o primeiro-
ministro Tancredo Eletrobras, após sete anos de tramitação do projeto enviado por Vargas ao
Neves na solenidade
de constituição da
Congresso. Em junho de 1962, já no governo João Goulart (1961-1964), a Ele-
Eletrobras. Rio de trobras foi efetivamente constituída, assumindo as funções de holding das
Janeiro. Junho 1962
O Cruzeiro concessionárias federais, agência de financiamento setorial e entidade coor-
denadora dos programas de planejamento da expansão dos sistemas elétricos
À direita, Apolônio do país.
Jorge de Faria Sales
Chesf De imediato, a Chesf tornou-se uma subsidiária da Eletrobras, juntamente
com Furnas. Nessa condição, pôde contar com o aporte de recursos carreados
pela holding e atender ao crescimento do consumo de energia em sua área de
atuação. A saída do diretor técnico Marcondes Ferraz em março de 1960, por
desavenças com o presidente Kubitschek, e a morte em dezembro de 1961
do engenheiro Alves de Souza, que presidia a empresa desde sua constitui-
ção, não provocaram uma mudança nos rumos até então seguidos. A posse de
Apolonio Sales, idealizador da Chesf, no posto máximo da Companhia em maio
de 1962 (após um curto período de gestão interina do engenheiro Amaury Al-
ves de Menezes) em muito contribuiu para assegurar essa continuidade.
MAIS ENERGIA EM PAULO AFONSO

Entre 1955 e 1974, quando concluiu o programa de aproveitamento ener-


gético de Paulo Afonso traçado nos primórdios da Companhia, a Chesf se
consolidou como a principal empresa de energia elétrica da região Nordeste,
tanto pela extensão da área atendida quanto pela notável expansão de seu
sistema de geração e transporte de energia. Investindo na interiorização de
sua malha de transmissão, a Companhia construiu também uma vasta rede de
subtransmissão, atingindo assim um mercado consumidor bem maior.
O número de localidades supridas pela Chesf em seus primeiros oito anos
de operação passou de 28 para 269 em seis estados: Alagoas, Bahia, Ceará,
Paraíba, Pernambuco e Sergipe. No início de 1963, o Rio Grande do Norte co-
meçou a receber energia de Paulo Afonso graças à entrada em serviço da linha
de transmissão entre Campina Grande (PB) e Santa Cruz (RN). Em dezembro
do mesmo ano, Natal tornou-se a sexta capital nordestina a contar com os
serviços da Companhia.

Montagem de torre de
linha de transmissão de
220 kV. Agosto 1952
Chesf

60
Tomada d’água Em agosto de 1964, no primeiro ano do governo chefiado pelo general
da Usina de Boa
Esperança (PI/MA) Humberto Castello Branco (1964-1967), a área de atuação da Chesf foi am-
Chesf pliada pelo Decreto nº 54.160, passando a ser delimitada por um círculo de
700 km de raio com centro em Paulo Afonso. Com esse redimensionamento,
todos os municípios do Rio Grande do Norte e da Paraíba e a grande maioria
dos municípios do Ceará (entre os quais, Fortaleza), Piauí (inclusive Teresina)
e Bahia (notadamente Vitória da Conquista e Ilhéus) foram incorporados à sua 61
área de atuação.
Em janeiro de 1965, a energia de Paulo Afonso chegou a Fortaleza com a
entrada em funcionamento da linha Milagres-Fortaleza em 230 kV, com quase
400 km de extensão. No início de 1969, o sistema da Chesf alcançou o Piauí:
a cidade de Parnaíba, a segunda maior do estado, passou a ser atendida com
energia de Paulo Afonso, gerada a 1.091 km de distância. Em 1970, as linhas
de transmissão da Companhia ultrapassaram a marca dos 10 mil quilômetros
de extensão.
A área de atuação da Chesf foi novamente ampliada em maio de 1973. Por
determinação da Eletrobras, a empresa encampou a Companhia Hidro Elétrica
de Boa Esperança (Cohebe), subsidiária da holding federal, responsável pela
construção da Usina de Boa Esperança no rio Parnaíba, no sudoeste do Piauí,
e do sistema de transmissão associado à hidrelétrica. Inaugurada em abril de
1970, com duas unidades geradoras com 54 MW, Boa Esperança supria diver-
sas cidades do Maranhão e Piauí, incluindo as capitais São Luís e Teresina. Em
1974, a energia da Chesf beneficiava 2.134 localidades nordestinas, entre as
quais 1.046 das 1.375 sedes municipais existentes na região.
A capacidade geradora da empresa teve um crescimento bastante signi-
ficativo, atingindo o patamar de 1.839 MW em 1974. Esse crescimento foi
assegurado fundamentalmente pela ampliação do Complexo Hidrelétrico de
Paulo Afonso, com a conclusão das usinas de Paulo Afonso II e Paulo Afonso III.
A instalação das seis unidades geradoras de Paulo Afonso II, totalizando
480 MW, foi concluída em 1967. O pleno aproveitamento de suas máquinas foi
garantido pelo reservatório da barragem de Três Marias (MG), construída no
curso superior do São Francisco pela Cemig. Formado em 1961, o reservatório Caminhões da Chesf
transportam peças
de Três Marias elevou a descarga mínima do rio no período de estiagem, con- da terceira unidade
geradora da Usina de
tribuindo decisivamente para o atendimento das necessidades energéticas da Paulo Afonso II. [1964]
Chesf até a inauguração da barragem de Sobradinho, em 1978. Chesf

62
63

Casa de força da
Usina de Paulo Afonso
A construção da terceira usina do complexo hidrelétrico teve início em
III. Severino Silva 1966. O projeto original foi aprimorado com o avanço da tomada d’água em
Chesf
relação às demais, o que permitiu melhor rendimento de altura e queda. A
Usina de Paulo Afonso III foi dimensionada para operar com quatro unidades
de 216 MW. Duas entraram em funcionamento em 1971, colocando a Chesf
no seleto grupo de empresas geradoras brasileiras com mais de um milhão de
quilowatts de potência instalada. Em 1974, a Companhia concluiu a monta-
gem do conjunto de máquinas da hidrelétrica, que atingiu assim a capacidade
de 864 MW. Na época, as três usinas de Paulo Afonso, totalizando 1.524 MW
de capacidade instalada, constituíam o maior conjunto energético do país.
Em escala mais modesta, a incorporação de usinas de outras empresas
também contribuiu para o aumento do parque gerador da empresa. A mais
importante, sem dúvida, foi a hidrelétrica de Boa Esperança, da Cohebe, que
permitiu à Companhia assumir o suprimento de energia aos estados do Ma-
ranhão e Piauí.
Também foram incorporadas as hidrelétricas de Bananeiras (9 MW), Funil
(30 MW), Curemas (4 MW) e Araras (4 MW). As usinas de Bananeiras e Funil
passaram ao controle da Chesf mediante entendimento com a Companhia de
Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), ao passo que as pequenas centrais
de Araras e Coremas foram recebidas do Departamento Nacional de Obras
Contra Secas (DNOCS).
Bananeiras era uma das mais antigas hidrelétricas em operação na região
Nordeste. Inaugurada em 1920 pela Companhia Brasileira de Energia Elétrica
(CBEE) e posteriormente transferida para a Coelba, a usina foi instalada no rio
Paraguaçu, no Recôncavo Baiano. Adquirida pela Chesf em 1967, integraria o
sistema elétrico da empresa até 1981, quando foi desativada em virtude da
construção da barragem de Pedra de Cavalo.
A Usina de Funil foi construída no rio das Contas, em Ubaitaba (BA) pela
Centrais Elétricas do Rio das Contas (CERC), empresa constituída em 1954 sob
o controle do governo baiano. Inaugurada em 1962, a hidrelétrica foi trans-
ferida para a Coelba seis anos depois. Adquirida pela Chesf em 1970, integra Usina de Funil (BA)
desde então o seu parque gerador. Chesf

64
A Usina de Curemas, localizada às margens do rio Piancó, em Coremas
(PB), teve suas obras iniciadas em 1939 pelo DNOCS. Concluída apenas em
1957, foi incorporada pela Chesf em 1969. A usina é suprida pelos açudes
públicos de Coremas (Estevam Marinho e Mãe D’Água), no rio Piancó, e o de
Mãe D’Água, no rio Aguiar, interligados por um canal.
A Usina de Araras está localizada em Varjota (CE), distante 60 km da cida-
de de Sobral. Sua construção, iniciada em 1956 pelo DNOCS, chegou ao fim
somente em 1967. Dois anos depois, a pequena central foi incorporada pela
Chesf. A hidrelétrica é suprida pelo açude público Paulo Sarasate, que por
sua vez é abastecido pelo rio Acaraú de regime não perene.
A termeletricidade desempenhou um papel secundário na expansão do
sistema gerador e na estratégia operacional da Chesf. Mesmo assim, o parque
térmico da empresa cresceu, embora várias usinas tenham sido desativadas.
Em 1967, a Companhia incorporou as 16 unidades geradoras a diesel da
termelétrica da Conefor em Fortaleza, somando 23 MW. Seis unidades da
usina foram cedidas ao governo do território do Amapá em 1968 e as dez
restantes foram transferidas para São Luís em 1978 e, em seguida para Im-
peratriz (MA).
Em 1973, uma usina térmica flutuante adquirida nos Estados Unidos pela
Eletrobras foi cedida à Chesf para reforço do atendimento de ponta de Sal-
vador. Tratava-se de uma usina a gás com 120 MW de potência. Atracada no 65
porto de Aratu, esta usina serviu à capital baiana até a entrada em funcio-
namento da primeira máquina da termelétrica de Camaçari em 1979, sendo
transferida, em seguida, para Manaus.
A par das grandes obras em geração e transmissão, a Chesf promoveu a
instalação de centenas de subestações para atendimento de pequenas con-
cessionárias e prefeituras com energia de Paulo Afonso.
Na verdade, a grande maioria das pequenas concessionárias municipais
nordestinas foi absorvida pelas companhias estaduais, seguindo uma ten-
dência dominante em todo o país. Além disso, a presença do poder público
nos serviços de energia elétrica do Nordeste tornou-se ainda mais acentua-
da com a compra das concessionárias do grupo Amforp pela Eletrobras em
novembro de 1964. A transação incluiu a Companhia Força e Luz do Nor-
deste do Brasil, a Pernambuco Tramways and Power Ltd., e a Companhia de
Energia Elétrica da Bahia, posteriormente incorporadas ao domínio estadu-
al. A participação do capital privado nos serviços públicos de eletricidade da
região ficou praticamente limitada à Companhia Sul Sergipana de Eletricida-
de (Sulgipe), atuante no sul de Sergipe.
No Nordeste, o processo de organização de concessionárias públicas es-
taduais prosseguiu com a criação de três empresas: a Sociedade Anônima de
Eletrificação da Paraíba (Saelpa), em 1964, a Companhia de Eletricidade de
Pernambuco (Celpe), em 1965, e a Companhia de Eletricidade do Ceará (Co-
elce), em 1971.
Embora modesta, a atuação da Companhia de Eletrificação Rural do Nor-
deste (Cerne) merece registro. Criada em 1962 pela Sudene, a Cerne instalou
pequenas unidades diesel (com menos de 400 quilowatts) em 66 localidades
do Maranhão, Piauí, Ceará e Bahia. Em janeiro de 1964, a Chesf chegou a criar
uma subsidiária para incrementar a eletrificação rural por meio da organiza-
ção de cooperativas. Apesar do empenho pessoal do presidente Apolonio Sa-
les na constituição da Eletrificação Rural de Paulo Afonso (Erpasa), a iniciativa
não vingou, esbarrando na oposição de Mauro Thibau, ministro das Minas e
Energia do governo Castello Branco.

66
SOBRADINHO, PAULO AFONSO IV
E A INTERLIGAÇÃO NORTE-NORDESTE

Nos anos 1970, a Chesf empreendeu um ambicioso programa de obras de


geração e transmissão com o objetivo de garantir o suprimento de energia à
região Nordeste. A Companhia acelerou o aproveitamento dos potenciais hi-
dráulicos existentes na região, levando em conta novos e acurados estudos de
planejamento coordenados pela Eletrobras. Na época, a holding federal conso-
lidou a posição de empresa líder do setor elétrico brasileiro, atuante em todo
o território nacional, por intermédio de suas subsidiárias de âmbito regional:
Chesf, Furnas, a Centrais Elétricas do Sul do Brasil (Eletrosul), criada em 1968, e
a Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte), organizada em 1973.
A expansão do sistema elétrico da Chesf seguiu em boa medida as reco-
mendações do Comitê Coordenador dos Estudos Energéticos da Região Nor-
deste (Enenorde), organismo composto em 1969 sob a direção da Eletrobras,
com a participação de técnicos da própria Chesf, de concessionárias estaduais
da região e órgãos governamentais como a Sudene e o Banco do Nordeste
do Brasil (BNB). Concluídos em 1972, os estudos do Comitê fixaram diretrizes
para o atendimento do mercado de energia elétrica da região até 1985.
O Enenorde fez uma avaliação aprofundada de projetos já contemplados
no planejamento da Chesf, como os aproveitamentos de Moxotó, Paulo Afon- 67
so IV e Sobradinho, obra essencial para a regularização do rio São Francisco e o
maior aproveitamento das instalações do Complexo de Paulo Afonso. A Usina
de Moxotó, a única não subterrânea do Complexo de Paulo Afonso, despontou
como obra prioritária para o atendimento do mercado da Companhia. Além da
usina propriamente dita, o projeto de Moxotó previu a construção de um canal
de adução para a casa de força de Paulo Afonso IV.
O relatório final do Enenorde apontou um potencial de 8.100 MW na re-
gião Nordeste, considerando sete aproveitamentos no rio São Francisco. O
mais importante em termos de potência garantida era o de Xingó, na divisa de
Alagoas e Sergipe, destacando-se ainda os aproveitamentos de Sobradinho, na
Bahia, e Itaparica, em Pernambuco.
Quanto à ampliação do sistema de transmissão da Chesf, o comitê reco-
mendou a adoção da tensão nominal de 500 kV nas linhas de extra-alta tensão.
Resumidamente, o sistema de transmissão proposto para o Nordeste Oriental
consistiria em três troncos principais de 500 kV: um na direção sul para aten-
der à área de Salvador, o segundo na direção leste com o centro principal de
carga em Recife e o terceiro para o norte, atendendo à área de Fortaleza.
As obras de Moxotó, Sobradinho e Paulo Afonso IV tiveram início entre
1971 e 1973, durante o governo Emílio Médici (1969-1974), no auge do perí-
odo de crescimento que se convencionou chamar de “milagre econômico bra-
sileiro”. Na época, além de atacar simultaneamente várias obras, a empresa
modernizou sua estrutura organizacional, na sequência do processo iniciado
em 1968 com a criação das diretorias Econômico-Financeira e de Operação.
Em 1972, a reforma dos estatutos criou o cargo de vice-presidente executivo e
o Conselho de Administração como órgão superior da direção da Companhia.
O significado dessas mudanças foi resumido pelo engenheiro José Antonio Fei-
jó de Melo:

Depois de vinte anos com a mesma estrutura de sua fundação, mol-


dada como se fosse apenas a empresa de construção que era no iní-
cio, a Chesf finalmente começara a voltar-se para a sua real condição Construção da tomada
d’água da Usina de Paulo
de empresa de produção, transmissão e venda de energia elétrica, Afonso IV. Setembro 1978
que também exercia atividades de construção. (Melo, 2004, p. 57) Chesf

68
69

Edifício-sede da Em junho de 1974, no início do governo Ernesto Geisel (1974-1979), o en-


Chesf em Recife
Chesf genheiro pernambucano André Dias de Arruda Falcão Filho assumiu o lugar de
Apolonio Sales no comando da Chesf ao mesmo tempo em que era aprovada
a transferência da sede da empresa do Rio de Janeiro para o Recife. Efetivada
em 1975, a mudança garantiu maior eficiência operativa à Companhia, mar-
cando o deslocamento de seu centro político-administrativo para o Nordes-
te. O edifício-sede, construído no bairro do Bongi, próximo à subestação de
mesmo nome, foi inaugurado dois anos depois. O prédio receberia o nome
de André Dias Falcão, em homenagem ao presidente da empresa, falecido no
exercício do cargo em fevereiro de 1978, em acidente aéreo em Paulo Afon-
so. O lugar de presidente da Companhia foi preenchido então pelo engenhei-
ro pernambucano Arnaldo Rodrigues Barbalho que deixaria o cargo quatro
meses depois em virtude de sua nomeação para a presidência da Eletrobras.
Barbalho foi substituído no comando da Chesf pelo engenheiro baiano Alberto
Costa Guimarães.
Os novos aproveitamentos hidroenergéticos no São Francisco suscitaram
um desafio inédito para a Chesf. Diferentemente das Usinas de Paulo Afonso
I, II e III, alimentadas por uma pequena bacia de decantação (conhecida como
reservatório Delmiro Gouveia), os aproveitamentos de Moxotó, Sobradinho e
Paulo Afonso IV exigiram a construção de grandes reservatórios e a relocação
de populações atingidas.
A barragem de Moxotó, nome de um afluente pela margem esquerda do
São Francisco, foi erguida 3 km a montante das comportas principais do barra-
mento de Paulo Afonso I, II e III. O aproveitamento hidrelétrico inundou área
de 90 km2 pertencente aos municípios de Delmiro Gouveia (AL), Glória (BA) e
Jatobá (PE), exigindo a transferência dos habitantes das localidades de Barra
e Glória para a cidade de Nova Glória (BA), construída pela Chesf. O reserva-
tório com capacidade para acumular um bilhão de metros cúbicos de água foi
projetado para promover a regularização semanal das vazões do São Francisco
e possibilitar a derivação do fluxo d’água para a Usina de Paulo Afonso IV, por
meio de um canal artificial com 5,2 km de extensão escavado na rocha.
A relevância do reservatório de Moxotó para o sistema energético da Chesf
foi plenamente demonstrada em 1976, ano marcado por acentuada estiagem
no São Francisco. Dada a importância do rio para o atendimento de suas ne- Barragem de comportas
cessidades energéticas, a Chesf passou a integrar em 1977 o Grupo Coorde- do aproveitamento
hidrelétrico de Moxotó
70 nador para Operação Interligada (GCOI), organismo dirigido pela Eletrobras, (Apolonio Sales)
composto inicialmente por concessionárias das regiões Sudeste e Sul. Chesf
Montagem de gerador A Usina de Moxotó entrou em operação em abril de 1977, completando a
da Usina de Moxotó
(Apolonio Sales) instalação de seu conjunto de quatro unidades geradoras de 110 MW no mes-
Chesf mo ano. Posteriormente foi constatada a presença de reação álcali-agregado
ocasionando expansão do concreto, o que exigiu a execução de serviços para
a convivência com esse fenômeno e manutenções periódicas nas unidades 71
geradoras, monitorando os efeitos da expansão e garantindo o aumento da
vida útil da casa de força. Em 1983, durante as comemorações dos 35 anos
da Chesf, a hidrelétrica passou a denominar-se oficialmente Apolonio Sales,
em homenagem ao idealizador e ex-presidente da empresa, falecido no ano
anterior. Moxotó foi a última obra executada diretamente pela Chesf sem a
utilização de empreiteira.
A hidrelétrica de Paulo Afonso IV foi instalada na margem direita do rio
São Francisco, a 1,5 km a jusante de suas precursoras. O arranjo geral do apro-
veitamento compreende um reservatório de compensação, alimentado com
águas do reservatório de Moxotó por meio de um canal artificial, as barragens
e os diques com comprimento total de 7,4 km, o vertedouro, a tomada d’água
e a casa de força subterrânea com seis máquinas de 410 MW de potência
unitária. O empreendimento transformou o centro da cidade de Paulo Afonso
numa ilha artificial, cercada por usinas hidrelétricas. A construção foi iniciada
em 1973 por pessoal e com equipamentos da própria Chesf e transferida em
1975 para uma empreiteira especializada, escolhida em processo de licitação
pública, que absorveu os operários da obra vinculados à Companhia.
Paulo Afonso IV entrou em operação em novembro de 1979 e foi inaugu-
rada oficialmente pelo presidente João Batista Figueiredo (1979-1985) no ano
seguinte. Concluída a motorização em 1983, a hidrelétrica atingiu a capacidade
de 2.462 MW, tornando-se então a maior usina da Chesf em funcionamento.
O pleno aproveitamento do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso tornou
imperiosa a regularização da descarga do rio São Francisco que apresentava
enorme variação entre o período das cheias e o da estiagem. A solução ado-
tada, a partir do relatório do Comitê de Estudos Energéticos do Nordeste, foi
a construção da barragem do Sobradinho, no médio São Francisco, a 40 km a
montante de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), e a aproximadamente 470 km de
Paulo Afonso.
O objetivo primordial da barragem era a regularização plurianual do São
Francisco, estabelecendo uma vazão mínima de 2.060 m3 por segundo para ga-
rantir o funcionamento contínuo das usinas a jusante. Outros objetivos eram
o melhoramento das condições de navegabilidade a montante e a construção
Usina de Paulo Afonso IV.
de uma tomada d´água para o projeto de irrigação da Codevasf na região de Severino Silva
Petrolina-Juazeiro. Chesf

72
Usina de Sobradinho Sobradinho representou um desafio à parte na história da Chesf pela com- 73
(BA). Casa de força, muro
divisor e vertedouro de plexidade e pelo grande impacto socioambiental do empreendimento. Por
superfície. Ao fundo, determinação da Eletrobras, a Companhia criou uma superintendência com
o grande lago. 1983
Chesf plenos poderes e o único objetivo de construir o enorme reservatório. Para
chefiá-la, foi escolhido o engenheiro Eunápio Peltier de Queiroz, ex-deputado
federal pela Bahia, responsável pela implantação da Usina de Funil.
As obras começaram em junho de 1973. A construção da casa de força da
barragem foi decidida no início do governo Geisel, tendo em conta as metas
do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) e as diretrizes de política
energética adotadas em função da crise mundial do petróleo. O Departamen-
to Nacional de Portos e Vias Navegáveis assumiu os custos de implantação de
uma grande eclusa de navegação.
A barragem e os diques ficaram prontos em novembro de 1977. No local,
segundo o engenheiro Flavio Miguez de Mello, o rio São Francisco apresentava
margens abatidas em vale muito aberto, o que, mesmo limitando a altura da
barragem e definindo a usina como de baixa queda, gerou um reservatório de
grandes dimensões com volume acumulado de 34,1 bilhões de metros cúbicos
e extensa área alagada de 4.214 km2.
74 Em maio de 1978, a barragem foi oficialmente inaugurada pelo presidente Remoção de famílias
atingidas pela barragem
Geisel. A primeira das seis unidades de 175 MW da usina entrou em operação de Sobradinho. Abril 1976
em outubro do ano seguinte. Em 1980, a inauguração da eclusa permitiu o rei- Margarida Dantas

nício da navegação no trecho entre Pirapora e Juazeiro. O processo de moto-


rização da hidrelétrica prosseguiu até fevereiro de 1982, quando Sobradinho
completou 1.050 MW de capacidade instalada final.
O reservatório de Sobradinho, um dos maiores lagos artificiais do mundo,
inundou terras dos municípios de Sento Sé, Juazeiro, Xique-Xique, Remanso,
Casa Nova e Pilão Arcado, as sedes de quatro dos seis municípios atingidos (as
exceções foram Juazeiro e Xique-Xique) e dezenas de pequenos povoados. Um
estudo do ecologista inglês Robert Goodland identificou os impactos ambien-
tais adversos do projeto, recomendando os meios de prevenir, remediar ou
mitigar tais efeitos.
Cerca de 70 mil pessoas foram retiradas da área de inundação, na maio-
ria camponeses que abasteciam o mercado regional. Ao contrário de muitas
outras barragens construídas no Brasil, sem terras disponíveis na periferia
das áreas alagadas, em Sobradinho foi possível reassentar na borda do lago a
maior parte das famílias rurais desalojadas.
O processo de esvaziamento da área de inundação e de reassentamento da
população ocorreu numa conjuntura política adversa a movimentos reivindi-
catórios. A região do reservatório foi decretada Área de Segurança Nacional.
Somente após a formação do lago e já instalados nos núcleos rurais, os campo-
neses começaram a exigir reparações pelos prejuízos da barragem, sobretudo
a perda de rebanhos na retirada e a reavaliação das indenizações recebidas
por suas casas e roças.
Além da reconstrução das cidades de Casa Nova, Remanso, Sento Sé e Pilão
Arcado e da relocação de famílias na borda do reservatório, a Chesf promoveu
a transferência de aproximadamente quatro mil famílias para o Projeto Espe-
cial de Colonização de Serra do Ramalho, implantado no município de Bom
Jesus da Lapa (BA), distante 800 km da região, em convênio com o Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Graças às usinas de Moxotó, Paulo Afonso IV e Sobradinho, a capacidade
geradora da Chesf deu um grande salto, alcançando a marca de 6.077 MW
em 1983. Além desses aproveitamentos hidrelétricos, o parque gerador da
Usina Termelétrica
de Camaçari (BA) empresa incorporou três usinas de menor porte: a hidrelétrica de Pedra e as
Chesf termelétricas de Camaçari e Bongi.

75
Instalada no rio das Contas, a 18 km da cidade de Jequié, a Usina de Pedra
começou a ser construída em 1971 pela Coelba em comum acordo com o
DNOCS, responsável pelas obras do reservatório. Além da geração de ener-
gia, a barragem de Pedra possibilitou a regularização do rio para controle
de enchentes, abastecimento d’água e irrigação agrícola. A construção da
usina passou à responsabilidade da Chesf em 1975. Pedra foi inaugurada em
novembro de 1978 e possui apenas uma unidade geradora de 20 MW. Não
obstante sua pequena capacidade, a hidrelétrica é importante para o supri-
mento energético da região em que se situa, pois, além de contribuir com
geração para o sistema, propicia o alívio de carga das linhas que alimentam Usina de Pedra (BA)
o estado da Bahia. Chesf

76
A Usina Termelétrica de Camaçari foi instalada no município de Dias d’Ávila,
na Região Metropolitana de Salvador, com o objetivo de atender às neces-
sidades energéticas do Polo Petroquímico de Camaçari, primeiro complexo
petroquímico planejado do pais. Foi originalmente composta por cinco tur-
bogeradores a gás, alimentados por óleo diesel, cada um com 58 MW de po-
tência. Começou a operar em 1979 e foi concluída em 1981, quando atingiu a
capacidade de 290 MW.
A Usina Termelétrica de Bongi foi instalada ao lado da subestação de mesmo
nome, em Recife, com o objetivo de atender à demanda da capital pernambu-
cana em momentos de pico e em situações de emergência. Suas cinco unidades
geradoras a gás, totalizando 142,5 MW de potência, foram instaladas em 1977.

Subestação de
Bongi. Recife
Memória da Eletricidade

77
A expansão dos sistemas de transmissão e transformação da Chesf na
década de 1970 foi igualmente expressiva. A Companhia construiu sete mil
quilômetros de linhas de transmissão, incluindo as primeiras linhas de 500
kV, implantadas a partir de Paulo Afonso em direção ao Polo Petroquími-
co de Camaçari e ao Recife. Novas subestações foram construídas e as já
existentes foram ampliadas, notadamente as próximas a grandes centros
consumidores e indústrias eletrointensivas. Em 1976, entraram em opera-
ção as subestações de Rio Largo, que abasteceria a indústria Salgema em
Alagoas, e a de Camaçari, para alimentar a Copene e a Dow Química. A linha
Paulo Afonso-Camaçari, energizada provisoriamente em 230 kV, começou a
operar em 500 kV, reforçando o abastecimento às indústrias do polo petro-
químico e à área de Salvador. Em 1978, a área do Recife também passou a
ser atendida em 500 kV.
Por outro lado, seguindo recomendação da Eletrobras, a Chesf transferiu
para as concessionárias estaduais a quase totalidade de seu sistema de sub-
transmissão em 69 kV, constituindo com essas empresas o Comitê Coorde-
nador da Operação do Nordeste (CCON). Sediado em Recife e unindo uma
grande empresa supridora às nove distribuidoras regionais, o CCON realizou
uma integração que ia da geração à distribuição de energia. Assim, o Comitê
impulsionou a grande transformação, iniciada com a transferência do sis-
78 tema de subtransmissão da Chesf para as concessionárias de distribuição.
O engenheiro Mario Fernando de Melo Santos lembra que a transferên-
cia do sistema de subtransmissão da Chesf exigiu um amplo trabalho de
treinamento e capacitação profissional:

A Chesf era dona de praticamente 90% das subestações de distribui-


ção do Nordeste. A Companhia se viu obrigada a ajudar empresas
que possuíam três ou quatro subestações e, de repente, tornavam-
-se responsáveis por dez, quinze ou vinte. Acostumadas a manusear
o escoamento de distribuição em níveis de tensão de 13,8 kV, elas
tinham agora de assumir o manuseio de tensões da base de 69 kV,
subestações de porte e equipamentos mais sofisticados. (História,
2003, p. 134)

Um dos maiores feitos na área de transmissão foi a construção das linhas


e subestações de 500 kV entre Sobradinho e Imperatriz, no Maranhão, inte-
grantes da interligação Norte-Nordeste, implantada conjuntamente com a
Eletronorte sob a supervisão da Eletrobras.
LEGENDA

500 kV Hidrelétrica CH - Chesf


230 kV Termelétrica EL - Eletronorte
138 kV Subestação CA - Coelba

79

DETALHE 1 - ÁREA DE RECIFE DETALHE 2 - ÁREA DE SALVADOR


2 CH CH

CH GOVERNADOR CATU - CH
MANGABEIRA - CH
2 CH
GOIANINHA - CH
2 CH
CH

2 CH

2 CH
JACARACANGA - CH
CAMAÇARI - CH
MIRUEIRA - CH CH
5 X 60.0 MW
3 CH CA

Mapa geoelétrico do 2 CH
CH CH
3 CH
Sistema Interligado COTEGIPE - CH

Norte/Nordeste em BONGI - CH
5 X 28.0 MW
CH

1985, preparado pelo 2 CH


RECIFE II - CH 3 CH
CH

Grupo Coordenador 2 CH
CH PITUAÇU - CH

para Operação 3 CH

Interligada (GCOI) PIRAPAMA - CH MATATU - CH

Memória da Eletricidade
A interligação Norte-Nordeste foi concebida em 1974, tendo em conta
a possibilidade do intercâmbio permanente de energia entre os sistemas
Chesf e Eletronorte a partir da entrada em operação da Usina de Tucuruí,
primeira grande hidrelétrica da região Norte, localizada no rio Tocantins.
De fato, a construção de Tucuruí pela Eletronorte, aprovada no início do go-
verno Geisel, abriu a perspectiva de integração da Amazônia Oriental com
o sistema da Chesf.
O grande empreendimento foi composto por 1.800 km de linhas implan-
tadas desde a Sobradinho até as proximidades de Belém. Coube a Chesf a
instalação de 1.035 km de linhas de 500 kV, desde a sua usina no rio São
Francisco até Imperatriz, passando pelas subestações de São João do Piauí
e Boa Esperança, no Piauí, e Presidente Dutra, no Maranhão. A Eletronorte
cuidou da construção do restante do sistema de 500 kV nos trechos entre
Imperatriz, Marabá, Tucuruí e Vila do Conde, complementado por um siste-
ma de 230 kV para o atendimento de Belém.

80
Em outubro de 1981, a interligação entrou em operação, beneficiando
a região Norte, em especial a cidade de Belém. A Chesf passou a fornecer
energia elétrica não apenas à capital paraense, mas também ao canteiro
de obras da hidrelétrica de Tucuruí e à Vila do Conde, onde a multinacional
Albrás instalava sua fábrica de alumínio, contribuindo assim para uma subs-
tancial economia de geração térmica a óleo combustível.
O estado do Maranhão foi formalmente transferido para a área de atu-
ação da Eletronorte em 1980. A partir de janeiro de 1983, todos os compo-
nentes do sistema Chesf instalados no Maranhão foram transferidos para
a Eletronorte. Entretanto, até a entrada em operação da Usina de Tucuruí
em outubro de 1984, o Maranhão e grande parte do Pará continuaram a
receber energia da Chesf.
A expansão do parque gerador e da malha de transmissão da Chesf
acompanhou o crescimento e a diferenciação do seu mercado consumidor.
A implantação de indústrias eletrointensivas no Nordeste promoveu o cres-
cimento da participação dos consumidores industriais no total da energia
elétrica consumida de 53% em 1975 para 59% em 1981. A participação dos
consumidores industriais atendidos diretamente pela Chesf em 230 kV na
energia comercializada pela Companhia aumentou de 13,5% para 22,8% no
mesmo período. A Bahia respondia por 44% do consumo de energia elétrica
da região, vindo a seguir os estados de Pernambuco (20%), Alagoas (9,1%) 81
e Ceará (8,9%).
82
Tempos de crise e reforma

A Chesf e as empresas do setor elétrico brasileiro enfrentaram grandes di-


ficuldades nos anos 1980, em virtude da grave e persistente crise econômica
e financeira que se abateu sobre o país após o segundo choque do petróleo
em 1979. Os problemas da balança de pagamentos, a alta inflacionária e a re-
tração das atividades produtivas incidiram fortemente sobre o setor elétrico.
De um lado, o menor crescimento econômico ocasionou sobras de energia e
redução de receita para as concessionárias. Por outro, os preços da eletrici-
dade foram sistematicamente contidos pelo governo em nome do combate à
inflação, ocasionando a queda da remuneração abaixo do mínimo legal. Além
disso, o esgotamento dos mecanismos de captação de recursos externos com-
prometeu seriamente a execução das obras planejadas na década anterior. 83
Foi o caso precisamente da Chesf. O cronograma das obras de geração e
transmissão da Companhia foi continuamente revisto por causa de falta de
recursos e dificuldades financeiras da Eletrobras. Os atrasos provocaram fre-
quentes problemas operacionais e até mesmo a imposição de severo racio-
namento de energia na região Nordeste entre março de 1987 e janeiro de
1988. O racionamento teve como causas determinantes as baixas afluências
no rio São Francisco e o retardamento de obras prioritárias, notadamente a
hidrelétrica de Itaparica e o segundo circuito da linha de transmissão entre
Tucuruí e a subestação de Presidente Dutra (MA), integrante da interligação
Norte-Nordeste.
A Usina de Itaparica foi construída em Petrolândia (PE), em trecho da seção
inferior do médio São Francisco, 50 km a montante do Complexo Hidrelétrico
de Paulo Afonso. O empreendimento foi autorizado pelo MME em 1975, tendo
Na página ao lado,
construção da Usina de
em conta o crescimento do mercado da Chesf e a necessidade de reforçar o seu
Itaparica, oficialmente parque gerador no período de 1981 a 1985. A Eletrobras iniciou entendimentos
denominada Usina Luiz
Gonzaga (PE). 1982 para a aquisição dos equipamentos da usina em 1976 e as obras civis começa-
Chesf ram em 1979, prolongando-se muito além do previsto no planejamento.
O projeto básico da hidrelétrica considerou a possibilidade de instalação
de dez unidades de 250 MW de potência unitária, mas apenas seis foram efe-
tivamente instaladas. O reservatório, com 834 km² de superfície, exigiu a re-
locação de 10.400 famílias, das quais seis mil residentes em áreas rurais, e as
demais, nas cidades de Petrolândia, Rodelas (BA) e Itacuruba (PE), em núcleos
urbanos menores como o povoado de Barra do Tarrachil (BA), que foram co-
bertos pelas águas, sem contar 200 famílias indígenas da tribo Tuxá.
As escavações da tomada d´água, casa de máquinas e vertedouro de Ita-
parica foram concluídas em 1982. A operação de desvio do rio São Francisco,
através das adufas do vertedouro da barragem, começou em novembro de Igreja Matriz de
Petrolândia (PE),
1984 e foi concluída no início do ano seguinte. Nessa altura, a previsão de en- inundada pelo
reservatório de
trada em serviço da primeira máquina da usina, após sucessivos adiamentos, Itaparica. [1988]
já havia passado para dezembro de 1987. Chesf

84
Obras da Usina Luiz Mesmo com atrasos no cronograma, a construção de Itaparica andou em
Gonzaga (PE). Abril 1986
Eletrobras
ritmo mais rápido que as negociações entre o MME, a Chesf, órgãos governa-
mentais e o movimento dos pequenos agricultores e trabalhadores atingidos
pela barragem. Eles lutaram pela distribuição de terras nas margens do reser-
vatório e por outros direitos, como a remuneração de 2,5 salários mínimos, 85
desde a transferência até a comercialização da primeira colheita em suas no-
vas terras. Liderado pelo Polo Sindical dos Trabalhadores Rurais do Submédio
São Francisco, o movimento ganhou amplitude, ao mesmo tempo em que o
país caminhava rumo ao restabelecimento da democracia e o setor elétrico
era instado a reformular conceitos e práticas para minimizar os impactos e
custos sociais de seus empreendimentos.
No primeiro ano do governo José Sarney (1985-1990), a Chesf iniciou a
construção dos novos centros urbanos de Petrolândia, Itacuruba, Rodelas e
Barra do Tarrachil, com infraestrutura e padrão de urbanização superior ao das
antigas cidades. Todavia, a liberação da área para a formação do reservató-
rio ainda aguardava uma solução. O impasse persistiu até dezembro de 1986,
quando mais de 200 agricultores ocuparam o canteiro de obras da usina. Após
exaustivas negociações, a Chesf apresentou a concepção definitiva do projeto
de reassentamento, entrando em acordo com as comunidades atingidas. A
Companhia assinou contrato com o Banco Mundial para o financiamento do
reassentamento da população rural e a implantação de projetos de irrigação
em convênio com a Codevasf.
86

A Usina de Itaparica entrou em operação em junho de 1988, sendo inau- Rodelas (BA), cidade
alagada pelo reservatório
gurada oficialmente em outubro do mesmo ano pelo presidente Sarney. O de Itaparica
processo de motorização foi concluído apenas no início de 1990, quando a Chesf

hidrelétrica recebeu a sexta unidade geradora, atingido a capacidade de 1.500


MW. Em agosto de 1989, Itaparica ganhou a denominação oficial de Usina
Hidrelétrica Luiz Gonzaga, em homenagem ao famoso cantor e compositor
nordestino, falecido naquele ano.
Como resposta às questões ecológicas, a Chesf, sobretudo a partir de 1987,
tomou uma série de iniciativas voltadas para a preservação do meio ambiente.
A instalação da hidrelétrica de Itaparica foi acompanhada de estudos, elabora-
dos em conjunto com instituições científicas e universidades, que resultaram,
entre outros, no resgate de 60 mil animais dos trechos que viriam a ser inun-
dados e sua posterior soltura em áreas pré-selecionadas. Foram ainda reali-
zados frequentes monitoramentos de qualidade da água dos reservatórios e
verificados os índices de poluição hídrica das proximidades das subestações.
O atraso de Itaparica teve sérias consequências para o Nordeste. A de-
mora da construção da usina colocou em risco o atendimento do mercado
de energia elétrica regional. Esse risco se agravou em decorrência do ciclo
hidrológico desfavorável na bacia do rio São Francisco no período úmido de
1986-1987 e a consequente redução da energia armazenada nos reservató-
rios de Três Marias e Sobradinho. As vazões verificadas no período de janeiro
a abril de 1987 situaram-se em 55% da Média de Longo Termo (MLT) das
descargas do histórico do São Francisco. A crise energética culminou com
a imposição do racionamento de energia elétrica em todo o Nordeste em
março de 1987.
O GCOI tentou diversas medidas para contornar a crise, como o aumento
da transferência da energia da Eletronorte para a Chesf até o limite de carre-
gamento da interligação Norte-Nordeste. Mas o racionamento foi inevitável,
atingindo também o sul do Pará e o norte de Goiás, depois desmembrado
para a criação do estado de Tocantins. Composta sob a direção do Dnaee,
a Comissão Coordenadora do Racionamento das Regiões Norte e Nordeste
definiu cotas fixas de redução de energia por classe de consumidor e tarifas
diferenciadas para os consumos acima da meta.

Notícia sobre o
racionamento no
Nordeste, publicada 87
no jornal carioca
Jornal do Brasil em 27
de janeiro de 1987
Cpdoc/JB
A Chesf participou da comissão coordenadora do racionamento, procuran-
do manter a geração hidrelétrica tão eficiente quanto possível, explorando ao
máximo os limites de transmissão e a geração térmica das usinas de Camaçari
e Bongi. Em julho de 1987, o governo federal instituiu o Programa de Emer-
gência para Suprimento de Energia Elétrica do Nordeste, assegurando recur-
sos para a motorização das quatro primeiras unidades geradoras de Itaparica,
a implantação da linha de transmissão Sobradinho-Itaparica e a conclusão do
segundo circuito da linha Tucuruí-Presidente Dutra, ambas em 500 kV, além
da instalação da termelétrica de Camaçari II e a ampliação da Usina de Boa
Esperança.
Encerrado em janeiro de 1988, o racionamento possibilitou uma redução
média do consumo de energia de 10,2% com reflexos negativos para a região e
a própria Chesf, não apenas pelo impacto em sua receita, como também pelo
aumento das despesas operacionais, decorrentes do aumento da compra de
energia da Eletronorte e de autoprodutores.

88
89

Polo Petroquímico de No final de 1988, a Chesf colocou em operação a primeira unidade da Ter-
Camaçari (BA). 1992
Braskem
melétrica de Camaçari II, vinculada ao programa emergencial criado durante
o racionamento. No ano seguinte, a usina atingiu a capacidade de 112,2 MW
com a instalação de mais cinco turbinas a gás. Camaçari II integrou o parque
gerador da Companhia durante curto período. A usina foi desativada em agos-
to de 1992 e suas máquinas foram transferidas para a Eletronorte, por orien-
tação da Eletrobras.
A ampliação da Usina de Boa Esperança foi efetivada com a instalação de
duas unidades de 63 MW, que entraram em operação em 1990 e 1991, elevan-
do a potência geradora da hidrelétrica para 237 MW.
A expansão do sistema de transmissão da Chesf entre 1984 e 1990 foi limi-
tada às obras consideradas absolutamente prioritárias, em virtude da escassez
de recursos para investimentos. A rede de transmissão alcançou a marca de
15 mil km de extensão no final do período, cabendo ressaltar que as linhas de
500 kV e 230 kV implantadas pela empresa no Maranhão foram transferidas
para a Eletronorte.
A energização do segundo circuito das linhas entre Paulo Afonso e os
centros consumidores de Recife e Salvador, em 1983, bem como das linhas
que ligavam Itaparica à Usina de Sobradinho e às subestações de Angelim
(PE) e Olindina (BA), em 1988, foram as principais realizações na tensão de
500 kV. A expansão da rede de transmissão da Chesf também decorreu da
implantação de diversas linhas de 230 kV que reforçaram o atendimento às
capitais do Ceará e do Rio Grande Norte e aos grandes consumidores indus-
triais, um dos principais segmentos do mercado da Companhia.
Outra importante iniciativa foi a conclusão, em 1990, da instalação do
esquema de alívio de carga por variação de frequência em 27 subestações,
reduzindo a carga desligada em grandes perturbações do sistema e permi-
tindo a recuperação mais rápida da frequência
A construção da Usina de Xingó, a maior da Chesf e do Nordeste, foi ini-
ciada em março de 1987 com grande atraso. O aproveitamento hidrelétrico,
situado no trecho final do cânion do rio São Francisco, foi incluído entre os
projetos de geração prioritários do Plano de Recuperação Setorial (PRS),
aprovado pelo governo Sarney em novembro de 1985. As obras foram re-
programadas em 1988 por insuficiência de recursos, prevendo-se então a
entrada em funcionamento da usina em julho de 1994. Os trabalhos foram
totalmente paralisados em 1989, sendo retomados apenas no ano seguinte
90 quando o governo federal garantiu os recursos necessários para a consecu-
ção do empreendimento.
A equipe dirigente da Chesf foi constantemente remanejada durante os
governos dos presidentes João Figueiredo e José Sarney. Em março de 1979,
o engenheiro Alberto Costa Guimarães deixou a presidência da empresa
que voltou a ser exercida pelo engenheiro Arnaldo Barbalho, mais uma vez
por um curto período. Em dezembro do mesmo ano, o engenheiro gaúcho
Luiz Carlos Menezes substituiu Barbalho no comando da Companhia. Após
a saída de Menezes em fevereiro de 1983, a Companhia foi presidida suces-
sivamente pelo economista pernambucano Rubens Vaz da Costa (até maio
de 1985), pelo advogado baiano e ex-ministro das Minas e Energia Antonio
Ferreira de Oliveira Brito (até fevereiro de 1987), pelo engenheiro baiano
José Carlos Aleluia Costa (até julho de 1989) e pelo engenheiro pernambu-
cano Genildo Nunes de Souza (até maio de 1990).
XINGÓ E AS MUDANÇAS NO SETOR ELÉTRICO

A Usina de Xingó fechou o ciclo das grandes obras da Chesf no rio São
Francisco, representando também o último grande empreendimento realiza-
do pela Companhia na vigência do modelo de organização do setor elétrico
comandado pela Eletrobras. Com efeito, o modelo institucional do setor foi
reformado na década de 1990, em conformidade com uma politica mais ampla
de redução da presença empresarial do Estado na economia e de estímulo à
competição em atividades virtualmente monopolizadas por empresas públi-
cas.
O debate sobre a reforma teve início no governo Sarney em meio ao agra-
vamento da crise fiscal do Estado e da situação financeira das empresas de
energia elétrica, praticamente sem recursos para promover a melhoria e ex-
pansão de seus sistemas. A Constituição de 1988 consagrou regras de inter-
venção do Estado na economia, mas também sinalizou importante mudança
Obras da casa de força da
Usina de Xingó (AL/(SE) no quadro institucional do setor elétrico, ao postular a obrigatoriedade das
Chesf licitações para a concessão dos serviços de utilidade pública.

91
A venda de empresas estatais e a privatização dos serviços públicos ga-
nharam força no governo Fernando Collor de Mello (1990-1992), tornando-se
marcas importantes do processo de liberalização da economia brasileira nos
anos 1990. O governo Collor instituiu o Programa Nacional de Desestatização
(PND) e tentou dar partida à privatização das empresas do grupo Eletrobras,
propugnando a venda das distribuidoras Light e Espírito Santo Centrais Elétri-
cas (Escelsa). O governo Itamar Franco (1992-1994) promoveu as primeiras
mudanças na legislação dos serviços de energia elétrica, promulgando a Lei
nº 8.631 que suprimiu o regime de remuneração garantida e a equalização
tarifária. Na sequência, o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002)
impulsionou a privatização e a transformação institucional do setor, tendo em
vista a implantação de um modelo predominantemente de mercado nas ativi-
dades de energia elétrica.
De todo modo, a expansão do sistema elétrico brasileiro nos anos 1990
continuou a depender basicamente dos investimentos públicos, não obstante
Construção da Usina de
a crescente presença do capital privado no setor em decorrência da venda das Xingó (SE/AL). [1992]
empresas estatais e também da licitação de concessões. Constran

92
No caso do Nordeste, o crescimento da capacidade geradora de energia
elétrica foi assegurado pelo aproveitamento de Xingó. Considerando a impor-
tância vital do empreendimento para o atendimento do mercado nordestino,
o governo Collor autorizou a retomada da obra em junho de 1990. Essa deci-
são foi tomada em meio à escalada da crise financeira do setor elétrico que
acarretou a paralisação ou o adiamento de vários projetos de geração e trans-
missão do grupo Eletrobras. Os escassos recursos financeiros da holding foram
canalizados quase integralmente para Xingó.
A usina está situada a montante das sedes municipais de Piranhas (AL) e
Canindé do São Francisco (SE), no trecho final do cânion do São Francisco, a
65 km a jusante de Paulo Afonso e a 179 km da foz do rio. O local do aprovei-
tamento já era conhecido da Chesf desde 1956. Na ocasião, a empresa norte-
-americana Kaiser Aluminium considerou a possibilidade de construção de
uma usina no local mais estreito do cânion, perto da foz do riacho Xingozinho,
Cidade de Piranhas tendo em vista o suprimento de energia para uma fábrica de alumínio a ser
(AL). Janeiro 2016
Klecia Cassemiro
instalada na região. A Kaiser entabulou entendimentos com a Chesf sobre o
Blog Fui Ser Viajante valor das tarifas, mas acabou desistindo do empreendimento.

93
Estudos desenvolvidos pela Chesf e pela Eletrobras confirmaram as privile-
giadas condições do aproveitamento do Xingó e o seu baixo custo de implan-
tação. O projeto da usina previu a instalação de seis unidades de 500 MW,
totalizando 3.000 MW, com possibilidade de acréscimo de quatro unidades
numa segunda etapa, perfazendo a capacidade de 5.000 MW.
A hidrelétrica conta com uma barragem com 145 metros de altura, ver-
tedouro na margem esquerda, quatro túneis escavados na margem direita,
onde também está localizada a casa de força. Em junho de 1991, no ano se-
guinte à retomada das obras, a Chesf realizou a operação de fechamento do
rio que passou a correr pelos túneis de desvio. Em junho de 1994, teve iní-
cio o enchimento do reservatório, inteiramente encaixado no cânion do São
Francisco, com 60 km2 de superfície e volume de acumulação de 3,8 bilhões
de metros cúbicos. Em contraste com Sobradinho e Itaparica, que exigiram o
remanejamento de numeroso contingente populacional, o aproveitamento de
Xingó atingiu um total de apenas 18 famílias, inundando áreas de pouca ou
nenhuma atividade agropecuária. Além de assegurar a navegabilidade do São
Francisco no trecho entre a usina e Paulo Afonso, o reservatório facilitou o uso
de sistemas de irrigação na região.

Projeto Massangano:
melão plantado em
94 área irrigada no vale do
São Francisco. 1981
Kim-Ir-Sen Pires Leal
Montagem de gerador da
Usina de Xingó (SE/AL)
Chesf

A primeira unidade geradora de Xingó entrou em operação em dezembro


de 1994, no fim do governo Itamar Franco. Mais duas unidades entraram em
serviço em 1995 e outras duas, no ano seguinte. Em setembro de 1997, o 95
presidente Fernando Henrique Cardoso acionou, por telecomando em Bra-
sília, a sexta e última unidade geradora da primeira etapa. Com 3.000 MW,
Xingó tornou-se a terceira maior usina do país, depois de Itaipu (perten-
cente ao Brasil e ao Paraguai) e Tucuruí. Graças à hidrelétrica, a capacida-
de geradora da Chesf atingiu a marca de 10.704 MW, posicionando-a como
maior agente de geração do setor elétrico em termos de potência instalada
de energia elétrica.
Com o apoio da Companhia, a Universidade Federal de Sergipe (UFSE)
desenvolveu um extenso trabalho de salvamento arqueológico na área que
seria inundada pelo reservatório de Xingó, reunindo milhares de peças que
compuseram o acervo do Museu de Arqueologia de Xingó (MAX), situado na
área da usina, em Canindé do São Francisco. Por sugestão da Chesf, foi criado
o Programa Xingó, coordenado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e envolvendo diversas instituições de ensino e
pesquisa, com o propósito de utilizar a infraestrutura física e social montada
para o empreendimento como apoio à criação de um centro de excelência
para o semiárido nordestino.
Durante a construção de Xingó, a expansão do sistema de transmissão da
Chesf limitou-se a um programa mínimo de investimentos. Entre 1990 e 1997,
foram acrescentados aproximadamente 900 km de linhas, com destaque para
o circuito duplo de 230 kV, transformável em 500 kV, ligando Paulo Afonso a
Xingó e à subestação Teotônio Vilela (antiga Messias), a linha de 230 kV entre
as subestações Rio Largo e Penedo, em Alagoas e os dois novos circuitos de
mesma tensão entre Banabuiú e Fortaleza, que beneficiaram diversos municí-
pios da região metropolitana da capital cearense.
Em parceria com a Eletrobras, Furnas e o Centro de Pesquisas de Energia
Elétrica (Cepel), a Chesf utilizou pioneiramente a tecnologia russa de Linha de
Potência Natural Elevada (LPNE) em projetos de linhas de transmissão e na
recapacitação de linhas existentes. Os primeiros ensaios foram feitos em 1994
numa linha piloto de 1,6 km em Aldeia, nos arredores de Recife. A parceria
com o Cepel permitiu o desenvolvimento de uma técnica mais simples e me-
nos onerosa para aumentar a potência natural de linhas de transmissão, co-
nhecida como feixe expandido ou LPNE-FEX. A primeira aplicação dessa nova
técnica ocorreu em 1997 nas linhas de circuito duplo entre Paulo Afonso e Linha de transmissão
da interligação Norte-
Fortaleza, aumentando em 25% sua capacidade de transmissão. O trabalho foi Nordeste, primeiro
circuito em 500 kV
realizado em caráter emergencial, devido às sérias dificuldades que a Compa-
Studio Objectivo
nhia vinha enfrentando na área norte de seu sistema de transmissão. Eletronorte

96
Torres de transmissão e Em março de 1999, as usinas e a rede básica de transmissão da Chesf pas-
subestação elevadora da
Usina Luiz Gonzaga (PE) saram a integrar o Sistema Interligado Nacional (SIN), em decorrência da im-
Chesf plantação da linha Norte-Sul em 500 kV que estabeleceu a conexão entre os 97
sistemas interligados Norte/Nordeste e Sul/Sudeste/Centro-Oeste, coroando
um longo processo de interligação dos sistemas elétricos do país.
Em maio do ano seguinte, a Chesf completou a instalação do sistema de
transmissão em 500 kV associado à Usina de Xingó, assegurando condições
satisfatórias para o escoamento de energia da hidrelétrica. Ainda em 2000,
a Companhia colocou em operação o circuito de 500 kV entre a subestação
Presidente Dutra (MA) e Fortaleza, com 700 km de extensão. Além de melho-
rar o atendimento à carga da capital cearense, o empreendimento elevou a
capacidade da interligação Norte/Nordeste em 1.000 MW. No ano seguinte,
foi concluída a mudança de 230 kV para 500 kV entre as subestações de Luiz
Gonzaga (PE) e Milagres (CE), possibilitando um novo eixo de transmissão em
500 kV para o atendimento dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí
e Paraíba.
A Chesf também investiu em projetos de pesquisa e de geração de energia
a partir de fontes não convencionais, como as energias solar e eólica, tendo
em conta a crescente preocupação com a questão ambiental e o uso racional
de recursos energéticos.
No campo da energia solar, a Companhia instalou uma rede de estações
solarimétricas no Nordeste, com o apoio da Universidade Federal de Pernam-
buco (UFPE), e colaborou na edição do primeiro Atlas Solarimétrico do Brasil,
publicado em 2000. O Atlas identificou o alto índice de radiação solar no Nor-
deste, notadamente no vale do São Francisco, com valores comparáveis às
melhores regiões do mundo.
Junto com a Coelce e com o apoio do projeto Eldorado do governo alemão,
a Chesf participou da construção do parque eólico de Mucuripe, em Fortaleza,
composto por quatro turbinas de 300 kW de potência cada uma. Inaugurado
em dezembro de 1996, o empreendimento tinha por finalidade avaliar o uso
da tecnologia de aerogeradores na região. Desativado em 2000, o parque foi
posteriormente repotenciado, passando a contar com quatro aerogeradores
de 600 kW.
Durante os anos 1990, a Chesf foi comandada sucessivamente por quatro
presidentes: o engenheiro pernambucano Marcos José Lopes, que ocupou o
posto de maio de 1990 a dezembro de 1992, e, na sequência, o engenheiro
maranhense José Antonio Muniz Lopes (até maio de 1993), o advogado ala-
goano Júlio Sérgio de Maya Pedrosa Moreira (até outubro de 1997) e o enge-
Parque eólico de
nheiro pernambucano Mozart de Siqueira Campos Araújo, que permaneceria Mucuripe (CE). [1996]
à frente da empresa até janeiro de 2003. Chesf

98
A REFORMA SETORIAL E A CRISE ENERGÉTICA DE 2001

O agravamento da crise econômica nacional nos primeiros anos da década


de 1990 repercutiu profundamente no setor elétrico, provocando as primeiras
mudanças no seu quadro legal. Durante o governo Collor, as concessionárias
estaduais atrasaram sistematicamente o pagamento da energia suprida pelas
empresas federais e pela Itaipu Binacional. No caso da Chesf, a inadimplência
das distribuidoras nordestinas gerou enormes dificuldades, em virtude dos
pesados compromissos da Companhia com o pagamento do serviço da dívida
externa e dos fornecedores de bens e serviços vinculados à obra de Xingó.
Marco inicial da reforma do modelo institucional, a Lei nº 8.631 permitiu o
encontro de contas entre devedores e credores com o objetivo de estancar a
inadimplência generalizada no setor elétrico e abriu a perspectiva de recupe-
ração financeira das concessionárias. Em cumprimento às exigências da nova
legislação, a Chesf firmou contratos de suprimento com as distribuidoras de
energia nos estados do Piauí (Cepisa), Ceará (Coelce), Rio Grande do Norte
(Cosern), Paraíba (Saelpa e Celb), Pernambuco (Celpe), Alagoas (Ceal), Sergipe
(Energipe e Sulgipe) e Bahia (Coelba).
Em 1994, algumas concessionárias voltaram a atrasar o pagamento da
energia suprida pela Chesf e o programa de recuperação tarifária foi proviso-
riamente interrompido pelo congelamento das tarifas determinado pelo Pla- 99
no Real. De todo modo, a Companhia quitou dívidas honradas pelo Tesouro
Nacional e repactuou todo o estoque da dívida com a Eletrobras, da ordem
de R$ 2,2 bilhões, alongando o seu perfil. Essas medidas contribuíram para a
significativa melhoria da situação patrimonial da Chesf.
A partir de 1995, o governo Fernando Henrique Cardoso adotou medidas
legislativas que alteraram profundamente o modelo tradicional de organiza-
ção do setor elétrico. As mudanças começaram pela nova legislação de con-
cessões. Em fevereiro de 1995, a Lei n.º 8.987 regulamentou o artigo 175 da
Constituição, estabelecendo princípios gerais para a prestação de serviços
públicos sob o regime de concessão, entre os quais a obrigatoriedade da li-
citação para a outorga da concessão. Em julho do mesmo ano, a Lei nº 9.074
Capa de relatório da fixou regras específicas para a concessão de serviços públicos de eletricidade,
firma Coopers & Lybrand,
elaborado no âmbito do reconhecendo a figura do Produtor Independente de Energia (PIE), liberando
Projeto de Reestruturação
do Setor Elétrico (RE-
os grandes consumidores do monopólio comercial das concessionárias e asse-
SEB) promovido pelo gurando o livre acesso aos sistemas de transmissão e distribuição.
governo Fernando
Henrique Cardoso Atendendo a reivindicação das empresas federais e estaduais, o governo
Memória da Eletricidade abriu a possibilidade de prorrogação das concessões vencidas e vincendas
pelo prazo de 20 anos. No caso das concessões de geração com obras parali-
sadas ou não iniciadas, a prorrogação foi condicionada à participação de pelo
menos 1/3 do capital privado nos investimentos projetados para o término do
empreendimento. Em virtude da nova legislação de concessões, a Chesf per-
deu as concessões de cinco aproveitamentos hidrelétricos na Bahia: Itapebi e
Salto da Divisa, no rio Jequitinhonha (outorgadas em 1981), e Pedra Branca,
Belém e Itamotinga, no rio São Francisco (outorgadas em 1945).
Em maio de 1995, com a promulgação do Decreto nº 1.503, o presidente
Fernando Henrique incluiu a Chesf no Programa Nacional de Desestatização
(PND), juntamente com a Eletrobras, Furnas, a Eletrosul e a Eletronorte. O Ban-
co Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), órgão gestor do
PND, assumiu a condução dos estudos para modelagem de venda das quatro
empresas subsidiárias da Eletrobras. O Conselho Nacional de Desestatização
(CND) chegou a aprovar a venda em separado de usinas do grupo Eletrobras,
como as hidrelétricas de Boa Esperança, Funil e Pedra e as termelétricas de
Usina de Boa
Camaçari e Bongi, mas reviu a decisão determinando que a venda de ativos de Esperança (PI/MA)
geração das empresas federais ocorresse em conjunto com a privatização das Chesf

suas controladoras.

100
Notícia sobre o leilão
de privatização
da Companhia de
Eletricidade do Estado da
Bahia (Coelba) publicada
pelo jornal paulista
Gazeta Mercantil em
1º de agosto de 1987
Infoener - Sistema de
Informações Energéticas

A privatização de concessionárias de energia elétrica, inaugurada em 1995


com o leilão da Escelsa, prosseguiu até 2000, modificando profundamente a
estrutura de propriedade do setor, em especial no segmento de distribuição.
O processo de privatização abrangeu todas as concessionárias estaduais nor-
destinas, com exceção da Cepisa e da Ceal que foram incorporadas pela Eletro- 101
bras, juntamente com as distribuidoras da região Norte.
A reforma do setor elétrico acarretou a montagem de uma nova estrutu-
ra institucional, composta por entidades como a Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), autarquia vinculada ao MME, e o Operador Nacional do Sis-
tema Elétrico (ONS), entidade de direito privado ligada aos concessionários.
Criada em dezembro de 1996, a Aneel assumiu o lugar do Dnaee como órgão
regulador e fiscalizador dos serviços de energia elétrica no país. O ONS foi
criado em maio de 1998 pela Lei nº 9.648 como organismo encarregado da
coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão
do Sistema Interligado Nacional, em substituição ao GCOI que foi extinto, da
mesma forma que o CCON.
Peça básica da reforma setorial, a Lei nº 9.648 também criou o Mercado
Atacadista de Energia (MAE) para livre negociação de energia no Sistema In-
terligado Nacional. A nova legislação determinou a assinatura dos contratos
iniciais entre geradoras e compradores de energia com nove anos de duração
e a abertura gradual da competição a partir de 2003 com a liberação progres-
siva dos volumes de energia definidos nos contratos iniciais. Além disso, foi
prevista a divisão da tarifa de suprimento em dois componentes, geração e
transporte. De acordo com a nova regulação dos serviços de transmissão, a
Chesf passaria a receber uma receita anual pré-definida como remuneração
de seus investimentos na construção de linhas, subestações e equipamentos
associados.
A Lei nº 9.648 também autorizou a reestruturação do grupo Eletrobras,
tendo como premissa básica o desmembramento dos seus ativos de geração
e transmissão. No caso da Chesf, a lei permitiu a cisão da Companhia em duas
empresas de geração e uma de transmissão, tendo em vista a venda em sepa-
rado de suas usinas.
O governo Fernando Henrique Cardoso promoveu a venda completa do
parque gerador da Eletrosul, mas não conseguiu levar adiante a privatização
da Chesf, Furnas e da Eletronorte. A controvérsia em torno da desestatização
dessas empresas envolveu inúmeras questões. No caso da Chesf, governado-
res, prefeitos e parlamentares nordestinos manifestaram preocupação em ga-
rantir a oferta de água do rio São Francisco para a irrigação e o abastecimento
das populações ribeirinhas. Em 1999, o MME admitiu a possibilidade de man-
ter as usinas de Sobradinho e Itaparica sob o controle da Chesf, considerando
a importância de seus reservatórios para o controle da vazão de água do São
Francisco. Os estudos sobre a privatização da Companhia prosseguiram, mas
102 sem consequências práticas.
Paralelamente à reforma setorial, o risco de crise no abastecimento de
energia elétrica no país aumentou significativamente em virtude dos inves-
timentos insuficientes em geração e transmissão e do uso excessivo da água
armazenada nos reservatórios das usinas das regiões Sudeste, Centro-Oeste e
Nordeste.
A partir de 1999, o MME e a Eletrobras estudaram diversas medidas emer-
genciais para evitar o agravamento da situação energética. Em fevereiro de
2000, o governo lançou o Programa Prioritário de Termelétricas (PPT) com
grande participação de grupos empresariais privados, prevendo a adição de
17.000 MW de potência instalada em três anos, mediante a implantação de
49 termelétricas em 18 estados brasileiros. Entre os empreendimentos en-
quadrados no PPT, destacavam-se os projetos de repotenciação e conversão
para gás natural das termelétricas de Bongi e Camaçari. O programa esbarrou
em vários obstáculos, entre os quais, a dificuldade de entendimento entre o
MME, a Aneel, a Petrobras e o Ministério da Fazenda com relação ao preço
e ao repasse aos consumidores finais da variação cambial incidente sobre o
preço do gás importado.
103
As condições hidrológicas bastante desfavoráveis nas regiões Sudeste e
Nordeste em 2001 acabaram precipitando a maior crise de energia elétrica
já ocorrida no Brasil. Em função da gravidade da situação, o governo criou,
em maio de 2001, a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (GCE) e
implantou um rigoroso programa de racionamento a partir do mês seguinte,
mediante o estabelecimento de metas de redução de consumo individual
para todas as classes de consumidores. O racionamento perdurou até feve-
reiro de 2002, atingindo todas as regiões do país, menos o Sul.
Responsável por 95% da energia elétrica gerada no Nordeste, o rio São
Francisco registrou em 2001 as piores vazões do histórico observado desde
1931. Sobradinho, o maior reservatório da região, enfrentou a pior seca da
série histórica. Em outubro, quando as vazões persistiam baixas, sem sinal de
recuperação, a GCE recorreu à primeira medida prevista no chamado Progra-
ma de Redução de Consumo por Corte de Carga, determinando a decretação
de três feriados no Nordeste. Também conhecido como Plano B, esse pro- Reservatório de
Sobradinho na
grama compreendia ainda medidas emergenciais mais severas, como cortes seca de 2001
diários nos fornecimentos de energia elétrica, que puderam ser evitados. Chesf

104
Grandes e pequenos consumidores realizaram um notável esforço para
cumprir as metas de redução de consumo, contribuindo decisivamente para
o êxito do programa de racionamento. A geração própria da Chesf em 2001
registrou queda de 25% em comparação com o ano anterior devido ao baixo
nível de armazenamento de seus reservatórios, atendendo 71,8% da deman-
da regional de energia, enquanto 28,2% vieram de compras a terceiros. A
hidrelétrica de Tucuruí foi essencial para manter em 20% o racionamento no
Nordeste, atendendo a cerca de um quinto do mercado regional.
Além da administração do racionamento, a GCE coordenou a elaboração
de plano de obras emergenciais para aumentar a oferta de energia elétrica no
país, revendo as restrições de investimentos das empresas estatais. A Chesf
obteve autorização para modernizar e ampliar a termelétrica de Camaçari e
construir o segundo circuito da linha Presidente Dutra-Teresina. Devido ao ca-
ráter emergencial da linha, o governo abriu mão da exigência legal de licitação
pública para a contratação do empreendimento.
Em setembro de 2002, a Chesf teve participação destacada no primeiro lei-
lão de venda da energia elétrica liberada dos contratos iniciais das geradoras
federais. Responsável por grande parte das transações do certame, a Compa-
nhia firmou, pela primeira vez, contratos de venda de energia com concessio-
nárias de fora da região Nordeste e ampliou sua clientela para um total de 38
agentes, entre empresas distribuidoras, consumidores industriais e agentes 105
comercializadores.
Ao final de 2002, a Chesf contava com 14 hidrelétricas e duas termelétri-
cas, perfazendo uma potência instalada de 10.703 MW. Seu sistema de trans-
missão era composto por 92 subestações e 18.023 km de linhas em tensões de
até 500 kV, abrangendo os estados do Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí.
A Companhia respondia por 84,6% da capacidade instalada de energia elé-
trica do Nordeste que totalizava 12.650 MW, incluindo 647 MW de autopro-
dutores. A região contava com 10.306 MW de origem hidráulica, dos quais
somente 37 MW não integravam o parque gerador da Chesf, e 2.344 MW de
origem térmica, dos quais 434 MW pertencentes à Companhia.
106
Novos desafios no século XXI

A trajetória da Chesf sofreu importante inflexão na primeira década do


século XXI, em decorrência da abertura do mercado de energia elétrica bra-
sileiro à competição entre agentes públicos e privados, nacionais e estran-
geiros, bem como do virtual esgotamento do potencial hidrelétrico aprovei-
tável na região Nordeste, tradicional área de atuação da Companhia.
Responsável pela implantação da infraestrutura básica de eletricidade do
Nordeste, a Chesf continuou a desempenhar papel fundamental no abaste-
cimento de energia aos estados da região, mas não de forma quase exclusiva
como na segunda metade do século passado. Sem perda da sua identida-
de fortemente associada ao Nordeste, a Companhia firmou parcerias para 107
a consecução de empreendimentos em outras regiões, entre os quais os
aproveitamentos hidrelétricos de Dardanelos (MT), Jirau (RO) e Belo Monte
(PA) e o sistema de transmissão para escoamento da energia do Complexo
Hidrelétrico do rio Madeira, composto pelas usinas de Santo Antônio e Jirau.
A atuação da Chesf no período foi condicionada em ampla medida pelo
novo modelo institucional do setor elétrico implantado no governo Luís Iná-
cio Lula da Silva (2003-2010) com o objetivo de garantir a segurança do su-
primento energético, a modicidade tarifária e a universalização do acesso e
uso dos serviços de eletricidade no país. Embora tenha mantido princípios
básicos do modelo instituído nos anos 1990, a reforma revitalizou a presen-
ça do Estado nas atividades de planejamento do setor e o papel das empre-
sas públicas na expansão do sistema elétrico brasileiro.
As leis do novo modelo institucional do setor foram promulgadas em mar-
Ao lado, Usina de ço de 2004. A Lei nº 10.847 criou a Empresa de Pesquisa Energética (EPE),
Belo Monte: tomada
d’água e casa de força entidade vinculada ao MME, encarregada de elaborar os planos de expansão
principal no sítio Belo
Monte. Betto Silva do setor elétrico, incluindo os estudos de potencial energético e viabilidade
Norte Energia de novas usinas. A Lei nº 10.848 tratou das regras de comercialização de
energia, prevendo a realização em separado de leilões para contratação de
energia das usinas existentes (a chamada “energia velha”) e de novos em-
preendimentos (“energia nova”), a instituição de dois ambientes de contra-
tação de energia – um regulado para os consumidores cativos e outro para
os consumidores livres –, e de um pool de contratação regulada de energia
a ser comprada pelas concessionárias de distribuição que passaram a ter a
obrigação de contratar a previsão de consumo de seu mercado no horizonte
de cinco anos.
Na sequência, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE)
foi criada em substituição ao MAE, como entidade privada encarregada da
administração dos contratos de compra e venda de energia no Ambiente de
Contratação Regulada (ACR) e a contabilização e liquidação das diferenças
contratuais no Ambiente de Contratação Livre (ACR).

108
A Lei nº 10.848 também determinou a retirada da Eletrobras e suas em-
presas controladas Chesf, Furnas, Eletrosul e Eletronorte do Programa Na-
cional de Desestatização (PND), eliminando assim um dos principais óbices
para a retomada dos investimentos do grupo Eletrobras na expansão de
seus sistemas. De imediato, porém, as empresas federais foram impedidas
de participar como sócias majoritárias nos leilões de novas usinas e linhas
de transmissão.
Liderada pela ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff, a reforma foi
implantada num período de dificuldades para a maioria das empresas gera-
doras e distribuidoras, em função do racionamento de 2001 e seus reflexos
negativos no setor elétrico. No início do governo Lula, as geradoras da Ele-
trobras, notadamente a Chesf e Furnas, acumularam volumosas sobras de
energia, em virtude da retração da economia e da liberação dos contratos
iniciais firmados com as distribuidoras ao tempo do governo Fernando Hen-
rique Cardoso.
Em dezembro de 2004, a Chesf participou do primeiro leilão de energia
realizado sob a égide do novo marco regulatório do setor elétrico. Coorde-
nado pela CCEE, o leilão contou com a participação de 53 empresas – 35
compradoras e 18 vendedoras – e negociou 17 mil MW médios de energia
proveniente das usinas que entraram em operação antes de 2000. De acordo
com o modelo de pool adotado pelo governo federal, a energia foi adquirida 109
em conjunto por todas as distribuidoras e depois repartida proporcional-
mente entre essas empresas, conforme suas declarações de necessidade.
A Chesf vendeu um total de 3.962 MW médios, equivalentes a 21,7% do
montante negociado no certame, com preços considerados baixos pelo mer-
cado, fechando contratos de oito anos de duração para entrega de energia
nos três anos seguintes. Nomeado presidente da Companhia no início do go-
verno Lula, o engenheiro pernambucano Dílton da Conti Oliveira considerou
positivo o resultado do leilão, declarando que a venda de energia com preço
médio 6% abaixo dos contratos iniciais era preferível à descontratação.
Adicionalmente, a Chesf buscou aumentar sua atuação no mercado livre,
firmando contratos com consumidores de diversos segmentos industriais.
Em 2004, a Companhia teve participação em 16 leilões privados, com ne-
gócios efetivados em seis deles, onde vendeu 533 MW médios para comer-
cializadoras e consumidores livres, incluindo a exportação de até 350 MW
médios de energia para a Argentina por um período de três meses, consti-
tuindo-se este o primeiro negócio internacional feito pela Chesf.
EXPANSÃO DA ÁREA DE ATUAÇÃO

A capacidade geradora da Chesf permaneceu praticamente estacionária na


primeira década do século XXI, variando apenas em função da desativação
da Usina de Bongi e da repotenciação da Usina de Camaçari, inserida entre
os empreendimentos previstos no Programa Prioritário de Termeletricidade
(PPT). Entre 2002 e 2005, a Usina de Camaçari passou por uma reforma que
possibilitou sua operação em sistema bicombustível (gás natural e óleo diesel)
e a elevação de sua potência nominal de 290 MW para 346 MW. Igualmente
incluída no PPT, a repotenciação da Usina de Bongi acabou sendo deixada de
lado. Em vista dos problemas de ordem ambiental da termelétrica, a Chesf
optou por sua desativação.
Nas operações com a geração de energia, a Chesf continuou a contar es-
sencialmente com seu parque hidráulico, composto por 14 usinas, perfazendo
10.269 MW. A empresa manteve o primeiro lugar entre os agentes de maior
capacidade instalada de energia elétrica no país. Entretanto, sua participação
na capacidade instalada no Nordeste declinou paulatinamente, caindo para
60,3% em 2010 em decorrência da instalação de diversas centrais geradoras
por empreendedores privados, nacionais e estrangeiros. O aumento da potên-
cia instalada de energia elétrica no Nordeste ao longo do período decorreu ba-
110 sicamente da implantação de térmicas de fontes não renováveis, contratadas
nos leilões de energia nova.

Torre estaiada VX,


desenvolvida a partir
dos conceitos de Linha
de Potência Natural
Elevada (LPNE).
Chesf
UHE BELO MONTE (*)
15% CHESF 11.233,1 MW

UHE JIRAU
20% CHESF 3.750 MW

UHE DARDANELOS
24,5 CHESF 261 MW

UHE SINOP (*)


24,5% CHESF 408 MW
HIDRELÉTRICA
(*) EM CONSTRUÇÃO

Mapa de localização Entre 2001 e 2010, a Chesf implantou 750 km de linhas de transmissão em
das quatro hidrelétricas
construídas na região 500 kV e 230 kV no Nordeste, contribuindo diretamente para a expansão da
Amazônica com a malha de transmissão regional. A par dos investimentos em instalações de sua
participação da Chesf
Memória da Eletricidade propriedade exclusiva, a Companhia investiu em novos empreendimentos de
geração e transmissão, notadamente fora do Nordeste, ampliando de forma
significativa o seu raio de atuação e a sua estrutura de negócios, por meio de 111
participações em Sociedades de Propósito Específico (SPEs).
No segmento de transmissão, cumpre destacar primeiramente a duplica-
ção da segunda linha da interligação Norte-Nordeste em 500 kV entre Presi-
dente Dutra, Teresina e Fortaleza, com o emprego da tecnologia da Linha de
Potência Natural Elevada (LPNE) e significativa redução de custos. O segundo
circuito da linha Presidente Dutra-Teresina, com 208 km de extensão, foi insta-
lado em caráter emergencial pela Companhia e entregue à operação em 2003.
A linha Teresina-Fortaleza, com 546 km, foi duplicada pela empresa Sistema
de Transmissão do Nordeste (STN), composta pela Chesf e pela Companhia
Técnica de Energia Elétrica (Alusa). O consórcio entre a estatal federal e a Alu-
sa venceu a concorrência para construção e exploração da linha com o maior
deságio oferecido no leilão de transmissão de setembro de 2003. Constituída
com 49% de participação acionária da estatal federal, a STN levou a cabo o em-
preendimento em janeiro de 2006. Os novos circuitos de 500 kV nos trechos
Presidente Dutra-Teresina-Fortaleza reforçaram a interligação Norte-Nordes-
te, possibilitando maior transferência de excedentes de energia do Norte para
o mercado nordestino.
Em 2005, a Chesf integrou o consórcio de empresas que ofertou o lance Torre da linha
de transmissão
vencedor da concessão para explorar o conjunto de linhas e subestações do Milagres-Tauá (CE)

112 terceiro circuito de 500 kV da interligação Norte-Sul no trecho entre Colinas Chesf

(TO) e Serra da Mesa (GO). O empreendimento, concluído em 2008, exigiu


a construção de 620 km de linhas, a ampliação das subestações de Colinas,
Miracema e Gurupi e a implantação das subestações Peixe 2, todas elas locali-
zadas em Tocantins, e Serra da Mesa 2. A Interligação Transmissora de Energia
Elétrica (Intesa), concessionária do empreendimento, foi constituída pelo Fun-
do de Investimento Participações Brasil Energia, com 51% do capital acionário,
pela Eletronorte (37%) e pela Chesf (12%).
Em outros leilões de transmissão, a Chesf concorreu sozinha, assumindo a
responsabilidade pela instalação de diversas linhas e subestações. Em 2004, a
Companhia venceu a concorrência para construção das linhas de 230 kV ins-
taladas a partir da subestação de Milagres (CE) na direção das subestações de
Tauá (CE) e Coremas (PB). As linhas Milagres-Tauá, com 220 km, e Milagres-
-Coremas, com 110 km, entraram em operação em 2007 e 2009, reforçando
o suprimento de energia ao centro-oeste do Ceará e ao oeste da Paraíba, res-
pectivamente. O último empreendimento de transmissão concluído na década
de 2000 foi a linha de 230 kV Paraíso-Açu, no Rio Grande do Norte, leiloada em
2006 e entregue à operação em 2010.
A Hidrelétrica de Dardanelos

A partir de 2006, a Chesf voltou a investir em empreendimentos de geração


de energia, contribuindo para a realização de aproveitamentos hidrelétricos
na região Amazônica e a implantação de usinas eólicas no Nordeste.
Esse novo ciclo de investimentos em geração começou pela hidrelétrica
de Dardanelos, no rio Aripuanã, noroeste de Mato Grosso. Com potência de
261 MW, a usina foi negociada no leilão de energia nova de outubro de 2006.
O consórcio composto pela Neoenergia (46%), Chesf (24,5%), Eletronorte
(24,5%) e a Construtora Norberto Odebrecht (5%) apresentou o lance ven-
cedor, constituindo a empresa Energética Águas da Pedra, responsável pela
implantação e exploração do aproveitamento pelo prazo de 30 anos.
Dardanelos foi construída junto a uma queda d’água de 90 m de altura,
aproveitando essa queda como vertedouro natural. Composta por cinco uni-
dades geradoras, a usina começou a operar em agosto de 2011. Foi conectada
ao Sistema Interligado Nacional por uma linha de 230 kV de interesse exclusi-
vo, com 167 km de extensão, construída pela Empresa Brasileira de Transmis-
são de Energia (EBTE).
A Chesf manteve participação de 24,5% no capital social da Energética
Usina de Dardanelos (MT) Águas da Pedra, da mesma forma que a Eletronorte, ao passo que a Neoener-
Chesf gia assumiu a participação da Construtora Norberto Odebrecht. 113
A Usina de Jirau e a transmissão de energia
do Complexo do rio Madeira

A Chesf entrou na disputa pela concessão das usinas do Complexo Hidre-


létrico do Rio Madeira, em Rondônia, participando dos leilões dos aprovei-
tamentos de Santo Antônio e Jirau, realizados em dezembro de 2007 e maio
de 2008, respectivamente. Somando mais de 7.000 MW de potência, as duas
usinas foram consideradas de importância estratégica pelo Conselho Nacio-
nal de Política Energética (CNPE), órgão de assessoramento da Presidência da
República para a formulação das diretrizes de política energética do país. Os
resultados dos leilões surpreenderam positivamente o mercado e o governo,
com lances vencedores bem abaixo do preço-teto fixado pelo Ministério de Usina de Jirau (RO)
Minas e Energia. ESBR

114
No primeiro leilão, a Chesf integrou o grupo liderado pela construtora Ca-
margo Corrêa, perdendo a disputa para o consórcio formado por Furnas, Ce-
mig, Odebrecht, Andrade Gutierrez e um fundo de investimentos. No leilão de
Jirau, a Companhia participou do consórcio vencedor. O direito de exploração
da usina, com capacidade instalada de 3.300 MW, foi arrematado pelo Con-
sórcio Energia Sustentável do Brasil, liderado pela empresa franco-belga GDF
Suez (50,1%), com a participação da Chesf (20%), Eletrosul (20%) e Camargo
Corrêa (9,9%). O lance vencedor de R$ 71,40 por megawatt-hora de Jirau foi
menor que o de Santo Antônio, não obstante a maior complexidade logística
do empreendimento (localizado a 120 km de Porto Velho, enquanto Santo An-
tônio está a apenas cinco quilômetros da capital estadual) e a necessidade de
construção de uma linha para conexão com a rede básica de transmissão. Da
energia gerada pela usina, 70% no mínimo foram destinados ao mercado cati-
vo das distribuidoras, sendo o restante destinado ao mercado livre com tarifa
a ser negociada com o consórcio.
Jirau foi concebida como usina a fio d’água, com reservatório de área pou-
co maior que a inundada naturalmente nas cheias do rio Madeira. As obras
começaram em junho de 2009, quando a licença de instalação foi concedida
pelo Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Em abril de 2012, a Aneel aprovou a ampliação de sua capacidade instalada
para 3.750 MW com o acréscimo de seis unidades geradoras às 44 inicialmen- 115
te previstas, todas do tipo bulbo com 75 MW de potência unitária. O projeto
com duas casas de força, uma em cada margem, tirou partido da existência
de duas ilhas localizadas em meio ao trecho do rio Madeira onde a usina foi
implantada.
A hidrelétrica entrou em operação comercial em setembro de 2013, com-
pletando três anos depois a instalação de suas 50 turbinas. A Chesf e a Ele-
trosul permaneceram com 20% de participação no capital social da Energia
Sustentável do Brasil (ESBR). Já a participação da GDF Suez, atual Engie, foi
ampliada para 60% com a compra da fatia da Camargo Correa em 2012, sendo
reduzida em seguida para 40% em decorrência da venda de 20% de ações para
a Mizha Participações, subsidiária da empresa japonesa Mitsui.
A Chesf também assegurou participação no sistema de transmissão para
escoamento da energia gerada no Complexo do Rio Madeira, integrando um
dos consórcios vencedores do leilão realizado em novembro de 2008. A dis-
puta foi marcada pela escolha da corrente contínua como opção tecnológica
para o tronco de transmissão entre Porto Velho e Araraquara (SP), composto
por duas linhas com aproximadamente 2.350 km de extensão. Um dos circui-
tos ficou com o consórcio formado por Chesf e Furnas em associação com a
Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP), enquanto o
outro foi arrematado pelo consórcio composto pela Eletronorte e pela Eletro-
sul, juntamente com a Andrade Gutierrez e a empresa espanhola Abengoa.
A Companhia integralizou 24,5% do capital da empresa Interligação Elé-
trica do Madeira (IE Madeira), responsável pela construção e exploração da
linha de corrente contínua em 600 kV com origem em Porto Velho e término
em Araraquara e de duas subestações, compostas pela estação retificadora de
corrente alternada para corrente contínua 500/600 kV, localizada na subes-
tação coletora de Porto Velho, e da estação inversora de corrente contínua
para corrente alternada 600/500 kV, localizada na subestação Araraquara 2.
A CTEEP integralizou 51% do capital da IE Madeira e Furnas a parcela restante
Instalação da estação
de 24,5%. inversora de Araraquara
Mais extensa linha de transmissão em corrente contínua do mundo, a linha (SP), integrante do
sistema de transmissão
da IE Madeira entrou em operação em agosto de 2013, assegurando o início de energia do Complexo
do Rio Madeira. 2012
do escoamento de energia das hidrelétricas do Complexo do Rio Madeira para Araraquara Transmissora
a região Sudeste. de Energia

116
Trecho da linha de Interligação Tucuruí-Macapá-Manaus
transmissão Oriximiná-
Itacoatiara, integrante da
Interligação Tucuruí-
Macapá-Manaus. Em 2008, a Chesf, a Eletronorte e a Abengoa constituíram a empresa Ma-
Programa de Aceleração naus Transmissora de Energia, concessionária responsável pela implantação
do Crescimento (PAC)
de parte das linhas e instalações da Interligação Tucuruí-Macapá-Manaus, lei-
loadas em junho do mesmo ano. Também conhecida como Linhão de Tucuruí,
a interligação foi composta por sete linhas de transmissão com extensão total
aproximada de 1.800 km e por oito subestações, responsáveis pela integração
dos sistemas elétricos de Manaus, Macapá e diversos municípios situados à
margem esquerda do rio Amazonas ao Sistema Interligado Nacional (SIN)
A interligação de Manaus com o SIN foi estabelecida por uma linha de
transmissão em circuito duplo, em 500 kV, construída a partir da hidrelétrica
de Tucuruí até a subestação Cariri, na capital amazonense, passando por 117
subestações intermediárias em Xingu (PA), Jurupari (PA), Oriximiná (PA) e
Itacoatiara (AM). O Amapá foi interligado por uma linha em circuito duplo,
em 230 kV, a partir da subestação de Jurupari.
A Manaus Transmissora de Energia, composta pela Abengoa (50,5%), Ele-
tronorte (30%) e Chesf (19,5%), cuidou da implantação das linhas entre Ori-
ximiná, Itacoatiara e Cariri, com 586 km de extensão, e das subestações de
Itacoatiara e Cariri. As demais instalações do Linhão de Tucuruí ficaram sob a
responsabilidade do grupo espanhol Isolux.
As obras da interligação só começaram em 2011 em virtude da demora na
obtenção das licenças ambientais Além de superar os desafios de engenharia
relacionados à travessia de extensas áreas alagadas e de rios de grande porte
e à ausência de infraestrutura logística, foi preciso também minimizar as inter-
ferências em áreas de vegetação nativa, unidades de conservação, terras in-
dígenas e áreas de proteção permanente. Em julho de 2013, Manaus e outros
municípios do estado do Amazonas foram integrados à rede básica de energia
do país. A conexão do Amapá com o Sistema Interligado Nacional foi concluída
em setembro de 2015.
A Hidrelétrica de Belo Monte

Em abril de 2010, a Chesf liderou o consórcio vitorioso no leilão de outorga


da concessão da Usina de Belo Monte, no rio Xingu, o maior e mais polêmico
aproveitamento hidrelétrico da Amazônia. Localizado nos municípios de Altami-
ra e Vitória do Xingu, na região conhecida como Volta Grande do Xingu, no sudo-
este do Pará, o aproveitamento foi classificado como de “absoluta importância
estratégica” pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e leiloado em
meio a discussões acaloradas sobre os seus impactos econômicos, sociais e am-
bientais.
A potência instalada de 11.233 MW projetou Belo Monte como a terceira
maior hidrelétrica do mundo, superada apenas por Três Gargantas (na China) e
Itaipu. Por restrições ambientais, a usina será o único empreendimento hidre-
létrico do Xingu, conforme determinação do CNPE. A barragem de Babaquara
que regularizaria o rio a montante de Belo Monte teve seu projeto abandonado
e a área inundada do empreendimento foi reduzida de 1.225 km² para 516 km².
A hidrelétrica seguiu o modelo a fio d’água, com produção média estimada
em 40% da capacidade instalada, em virtude da grande variação do regime hi-
drológico do Xingu e da ausência de um reservatório de regularização. O arranjo
geral do aproveitamento previu a construção de duas barragens, dois reservató-
118 rios interligados por um canal de derivação com 20 km de extensão e duas casas Obras da Usina de Belo
Monte. Junho 2015
de força: a principal no sítio Belo Monte, com 18 unidades geradoras de 611,1
Secretaria-Geral da
MW, e a complementar no Sítio Pimental, com seis unidades de 38,8 MW. Presidência da República
Descida do rotor de O Consórcio Norte Energia, formado pela Chesf (49,98%) e sete empresas
gerador da Usina de
Belo Monte. Betto Silva de construção civil, arrematou o direito de exploração da usina, vencendo a
Norte Energia disputa com o consórcio composto por Furnas, Eletrosul e quatro empresas
privadas. O edital do leilão de Belo Monte admitiu o ingresso de sócios estra-
tégicos após o certame, possibilitando a associação do consórcio vencedor
com estatais ou entidades de previdência complementar. As mudanças não 119
demoraram a acontecer. Por cessão da Chesf, a Eletrobras e a Eletronorte as-
sumiram uma participação na Sociedade de Propósito Específico, constituída
para levar adiante o empreendimento. Em agosto de 2010, por ocasião da
assinatura do contrato de concessão da usina, o capital acionário da Norte
Energia estava distribuído entre a Eletrobras (15%), Chesf (15%), Eletronorte
(19,98%), Fundação Petrobras de Seguridade Social (10%) e Bolzano Participa-
ções (10%), entre outros acionistas.
Iniciada em junho de 2011, a construção de Belo Monte foi interrompida
seguidamente por ações judiciais, invasões e protestos de grupos de índios e
ribeirinhos nos canteiros de obras. O empreendimento exigiu a relocação de
4.300 famílias urbanas e 800 famílias rurais, atingindo indiretamente a po-
pulação ribeirinha de numerosas localidades e os povos indígenas Juruna do
Paquiçamba e Arara da Volta Grande. As ações propostas no Estudo e Rela-
tório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) foram consolidadas em 14 planos, 54
programas e 86 projetos que integraram o Projeto Básico Ambiental da usina,
abrangendo as áreas de gestão ambiental e institucional, meio físico, meio
biótico e meio socioeconômico.
Em abril de 2016, a Usina de Belo Monte começou a fornecer energia para
o Sistema Interligado Nacional, colocando em operação comercial duas unida-
des geradoras: a primeira das seis da casa de força complementar, construída
junto à barragem no rio Xingu, e a primeira das 18 da casa de força principal
do empreendimento. As obras civis do aproveitamento foram praticamente
concluídas no mesmo ano. Em 2017, Belo Monte atingiu a capacidade ins-
talada de 4.510 MW, tornando-se a terceira maior usina do país. No final do
ano, sua energia passou a ser escoada diretamente para a região Sudeste por
meio do primeiro bipolo do sistema de transmissão em corrente contínua em
ultra-alta-tensão de 800 kV, com 2.092 km de extensão, construída entre as
subestações Xingu (PA) e Estreito (MG) pelo consórcio Belo Monte Transmis-
sora de Energia, constituído pela empresa chinesa State Grid em associação
com Furnas e a Eletronorte.
Em dezembro de 2017, a Chesf mantinha participação de 15% no capital
acionário da Norte Energia. A Eletronorte permanecia como maior acionista
(19,98%), vindo a seguir a Chesf e a holding Eletrobras (15%), os fundos de
pensão Petros (10%) e Funcef (10%), da Petrobras e da Caixa Econômica Fede-
Usina de Belo Monte:
ral, respectivamente, a Neoenergia (10%), a Amazônia Energia (joint venture vista geral do sítio
Belo Monte. Osvaldo
entre a Cemig e a Light, com 9,77%), a Aliança Norte Energia (9%), a Siderúrgi- de Lima. Maio 2016
ca Norte Brasil - Sinobras (1%) e a J. Malucelli Energia (0,25%). Norte Energia

120
Parque eólico em Usinas Eólicas
Marcolândia (PI)
Ricardo Stuckert
Em 2002, o Brasil contava com apenas seis centrais eólicas em operação,
perfazendo a capacidade instalada de 22 MW. Os maiores parques eólicos do 121
país estavam localizados no Ceará, entre eles, o de Mucuripe, em Fortaleza,
cuja implantação foi viabilizada por um convênio de cooperação entre a Chesf
e a Companhia Energética do Ceará (Coelce).
A participação da energia eólica no mercado elétrico brasileiro cresceu sig-
nificativamente com o apoio do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas
(Proinfa), instituído em 2002, e a contratação de numerosos empreendimen-
tos eólicos em leilões realizados a partir de 2008. Centenas de parques e mais
de seis mil aerogeradores entraram em operação, notadamente no Nordeste
que se tornou o principal polo de energia eólica do país. Em dezembro de
2017, as usinas eólicas somavam 12.640 MW de capacidade instalada, colo-
cando o Brasil em nono lugar no ranking mundial dos países geradores de
energia eólica.
A Chesf contribuiu para essa notável expansão, investindo em projetos
de geração eólica e de transmissão e estações coletoras de energia eólica no
Nordeste. A partir de 2010, a Companhia assumiu participação em empre-
endimentos na Bahia, no Piauí, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte,
totalizando 884 MW de capacidade instalada.
Parque eólico de
São Pedro do Lago
em Sento Sé (BA)
Odair Oliveira

122 Os primeiros investimentos foram realizados na Bahia, em parceria com


o grupo Brennand Energia, objetivando a implantação dos parques de Pedra
Branca, Sete Gameleiras e São Pedro do Lago, situados no município de Sento
Sé. Integrantes do Complexo Eólico Sento Sé I, os empreendimentos foram
leiloados em agosto de 2010, tendo a Companhia uma participação de 49%
em cada um. Dispondo de 45 aerogeradores com capacidade instalada total
de 90 MW, os três parques eólicos entraram em operação em março de 2013,
juntamente com a linha de 230 kV construída para ligação do complexo com a
subestação de Sobradinho.
A Chesf e a Brennand Energia investiram na construção de mais cinco par-
ques em Sento Sé, licitados em agosto e dezembro de 2013. Os parques Ba-
raúna I, Morro Branco e Mussambê foram compostos por 14 aerogeradores
cada um, somando ao todo 98,7 MW de potência instalada. Esses três parques
integram o complexo Sento Sé II, inaugurado em novembro de 2015. Os par-
ques Banda de Couro e Baraúna II, com 24 aerogeradores no total e 58,7 MW
de potência instalada, entraram em operação em março de 2016, formando o
complexo Sento Sé III. Cada empreendimento contou com 49% de participa-
ção da empresa federal.
No Piauí, a Chesf implantou dois complexos eólicos na região da Chapada
do Araripe, no sudeste do estado, em parceria com a firma multinacional Con-
tourGlobal e a Salus Fundo de Investimento em Participações. Localizado em
área limítrofe dos municípios de Marcolândia, Simões e Padre Marcos, o com-
plexo Chapada do Piauí I foi composto por sete parques com 115 aerogerado-
res, totalizando 205 MW de potência instalada. O complexo Chapada do Piauí
II conta com 100 aerogeradores em seis parques instalados em Marcolândia
e Caldeirão Grande do Piauí, somando 172,4 MW. Leiloados em 2013, os em-
preendimentos entraram em operação entre julho de 2015 e janeiro de 2016.
A Chesf teve participação de 49% nos empreendimentos.
Os complexos VamCruz e Serra das Vacas, inaugurados em dezembro de
2015, também contaram com 49% de participação da Chesf. O complexo
VamCruz, situado no município de Serra do Mel, no Rio Grande do Norte, possui
31 aerogeradores nos parques Junco I e II, Caiçara I e II, somando 93 MW de
potência instalada. Foi implantado em sociedade com a Envolver Participações,
formada pelas empresas Voltalia Energia do Brasil e Encalço Construções, que
juntas detém 51% do empreendimento, leiloado em 2011. O complexo Serra
das Vacas, localizado em Paranatama, no Agreste pernambucano, conta com
Parque eólico no
Complexo Serra 53 aerogeradores nos parques Serra das Vacas I, II, III e IV, totalizando 120 MW
das Vacas (PE)
de potência instalada. Leiloado em 2013, o empreendimento foi implantado
Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) em associação com a empresa PEC Energia. 123
124 Parque eólico no
Complexo VamCruz (RN)
Chesf

A Chesf também investiu nos complexos de Casa Nova, os únicos de sua


propriedade exclusiva, e de Pindaí, com 99,9% de participação da Companhia,
situados nos municípios de mesmo nome, no norte e no sudoeste da Bahia,
respectivamente. Incluído no leilão de fontes alternativas realizado em agos-
to de 2010, o empreendimento de Casa Nova I, projetado com 180 MW de
capacidade instalada, sofreu uma série de percalços e teve sua construção
paralisada. Casa Nova II, com 28 MW, e Casa Nova III, com 24 MW, leiloados
em dezembro de 2013, entraram em operação em dezembro de 2017. São os
únicos parques eólicos corporativos da Chesf. Os empreendimentos de Pindaí
foram licitados em agosto de 2013. O complexo Pindaí I terá 34 aerogeradores
instalados em oito parques, totalizando 68 MW de capacidade; Pindaí II será
composto por dois parques com 13 aerogeradores, somando 26 MW e Pindaí
III por um único parque com oito aerogeradores com 16 MW de potência ins-
talada.
Parcerias em transmissão no Nordeste

A Chesf se associou a agentes privados em importantes empreendimentos


de transmissão na região Nordeste, por meio de quatro Sociedades de Propó-
sito Específico (SPEs), organizadas para a construção, operação e manutenção
de linhas e subestações integrantes do Sistema Interligado Nacional. Todas
foram formadas com 49% de participação acionária da empresa federal.
A primeira SPE no segmento de transmissão foi a já mencionada empresa
Sistema de Transmissão do Nordeste (STN), constituída em outubro de 2003
em parceria com a Alusa. A STN obteve a concessão para a implantação e ex-
ploração do segundo circuito de 500 kV da linha Teresina-Fortaleza, colocan-
do-o em operação comercial em janeiro de 2006.
A Transmissora Delmiro Gouveia (TDG), foi formada com a ATP Engenharia
em janeiro de 2010 e já concluiu praticamente todos os investimentos pre-
vistos em seu contrato de concessão. Em 2013, a empresa iniciou a operação
Porto de Pecém (CE) da linha de 230 kV com 36 km de extensão entre as subestações São Luís II e
Governo do Ceará III, no Maranhão, e as subestações Pecém II e Aquiraz II, localizadas no Ceará.

125
A Extremoz Transmissora do Nordeste (ETN) foi constituída em julho de Complexo Industrial
Portuário de Suape (PE)
2011 em associação com a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Pau- Ascom Suape
lista (CTEEP), tendo em vista a implantação de três subestações e quatro linhas
de transmissão adjacentes nos estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba.
As subestações João Câmara III (RN), Ceará Mirim II (RN) e Campina Grande III
(PB) e as linhas com quase 300 km de extensão entraram em operação com-
126 pleta em maio de 2015, favorecendo o escoamento de energia proveniente
de diversas usinas eólicas, e reforçando a interligação regional de Natal e João
Pessoa às demais áreas do país. Desde a sua constituição, a ETN foi adminis-
trada e financiada pela Chesf com recursos próprios, com a concordância da
CTEEP, que manifestou o desejo de se retirar da sociedade, alienando a sua
participação à companhia federal. Em outubro de 2017, a retirada da CTEEP
foi autorizada pela Aneel.
A Interligação Elétrica Garanhuns (IE Garanhuns) foi constituída em setem-
bro de 2011 com a participação acionária da CTEEP, objetivando a implanta-
ção e exploração da subestação Garanhuns e de um novo setor de 500 kV na
subestação Pau Ferro, localizadas em Pernambuco, assim como de oito linhas
de transmissão nos estados de Pernambuco, Alagoas e Paraíba. O empreendi-
mento levou em conta a perspectiva de substancial acréscimo na demanda da
área do Complexo Industrial e Portuário de Suape, no litoral pernambucano, e
de geração de energia eólica no Rio Grande do Norte. A IE Garanhuns iniciou
suas operações em novembro de 2015. Quatro linhas implantadas pela em-
presa com extensão de 170 km foram transferidas para a Chesf por obrigação
do contrato de concessão.
A Hidrelétrica de Sinop

A hidrelétrica de Sinop está sendo construída no rio Teles Pires, um dos


formadores do rio Tapajós, em área dos municípios de Itaúba e Cláudia, a 70
km da cidade de Sinop, no norte de Mato Grosso. O leilão de outorga da con-
cessão da usina foi realizado em agosto de 2013, saindo vencedor o consórcio
composto pela empresa privada nacional Alupar, com 51% de participação, em
associação com a Chesf e a Eletronorte, com 24,5% de participação cada uma.
Em dezembro de 2014, o grupo francês Electricité de France (EDF) adquiriu a
fatia da Alupar, tornando-se sócio majoritário da Companhia Energética Sinop
(CES), responsável pelo empreendimento.
Sinop foi um dos projetos selecionados no estudo de inventário da bacia
do rio Teles Pires aprovado pela Aneel em 2006, que identificou um potencial
de geração de 3.967 MW em seis aproveitamentos hidrelétricos. A usina ficou
de fora dos leilões de 2010 e 2011, por questões relativas ao licenciamento
ambiental, e não atraiu interessados em certame realizado em 2012.
A hidrelétrica contará com duas unidades geradoras, somando 408 MW
de potência instalada, e seu reservatório inundará uma área de 308 km2 em
Obras da Usina de Sinop cinco municípios mato-grossenses. A construção sofreu atraso de um ano, por
(MT). Junho 2016
demora na emissão das autorizações para retirada de vegetação. Sua entrada
Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) em operação está prevista para dezembro de 2018. 127
DESESTABILIZAÇÃO FINANCEIRA
E CRISE HÍDRICA NO SÃO FRANCISCO

A trajetória da Chesf e das empresas do setor elétrico no período do gover-


no Lula foi influenciada pelo desempenho satisfatório da economia brasileira
e pelo relativo sucesso da reforma setorial de 2004, com o cumprimento ou o
bom encaminhamento das metas propostas, como, por exemplo, a universali-
zação do acesso à energia elétrica no país. A instituição de contratos de longo
prazo negociados nos leilões de energia facilitou a concessão de financiamen-
tos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para
inúmeros empreendimentos de geração e transmissão. Dessa forma, o setor
elétrico iniciou um novo ciclo de investimentos, com a importante participa-
ção da Chesf e demais geradoras do grupo Eletrobras.
Entre 2003 e 2010, os investimentos em ativos fixos para a expansão e a
modernização da capacidade produtiva da Chesf somaram aproximadamente
R$ 4,9 bilhões, assim distribuídos: R$ 800 milhões em geração de energia; R$
2.750 milhões em obras de transmissão; R$ 950 milhões no reassentamento
de Itaparica; e R$ 400 milhões em infraestrutura.
No segmento de geração, além da reforma da termelétrica de Camaçari,
os investimentos da Chesf compreenderam os trabalhos de recuperação de
128 unidades geradoras de várias usinas e a modernização dos sistemas de con-
trole e proteção das hidrelétricas do complexo de Paulo Afonso. Outra frente
importante foram os estudos de viabilidade dos aproveitamentos de Ribeiro
Gonçalves (113 MW), Uruçuí (134 MW), Cachoeira (63 MW), Estreito (56 MW)
e Castelhano (64 MW), situados nesta sequência no rio Parnaíba, e de dois
aproveitamentos no submédio São Francisco, denominados Riacho Seco (276
MW) e Pedra Branca (320 MW).
Os aproveitamentos do Parnaíba foram selecionados a partir de estudo de
inventário hidrelétrico elaborado entre 2001 e 2003 pela Chesf em parceria
com uma empresa privada. Os empreendimentos de Cachoeira, Estreito, Cas-
telhano e Ribeiro Gonçalves participaram de leilões de energia promovidos
pela Aneel em 2010 e 2012, mas não atraíram interessados, por causa do bai-
xo preço-teto da tarifa fixado pela agência. O aproveitamento de Uruçuí foi
considerado ambientalmente inviável pelo Ibama.
Riacho Seco e Pedra Branca foram identificados no estudo de inventário
hidrelétrico do trecho do São Francisco entre Sobradinho e Itaparica, apro-
vado pela Aneel em 2003. A Chesf chegou a concluir o estudo de viabilidade
técnica e econômica de Riacho Seco, mas não obteve a aprovação do Estudo
de Impacto Ambiental (EIA/Rima). Os estudos do aproveitamento de Pedra
Branca foram paralisados em virtude da complexidade dos problemas socio-
ambientais envolvidos.
Encerrado o ciclo da construção de grandes hidrelétricas no Nordeste, o
segmento de transmissão ganhou primazia nos investimentos da Chesf. Mais
da metade das inversões no período em questão foram aplicados na implanta-
ção e ampliação de linhas e subestações próprias da Companhia.
Importa destacar também o expressivo montante de recursos destinados
ao programa de reassentamento de Itaparica, gerido pela Companhia de De-
senvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) com o suporte
financeiro da Chesf. Com base em convênio firmado com a Codevasf em 1990,
foram implantados nove perímetros de irrigação nos estados de Pernambuco
e da Bahia que receberam a população rural deslocada pelo empreendimento
de Itaparica. Um novo convênio foi celebrado em 2007, tendo como principal
desafio o desenvolvimento de um modelo de gestão que permitisse a sus-
Perímetro Irrigado tentabilidade das famílias dos irrigantes. O programa de reassentamento de
Fulgêncio (PE), integrante
do Sistema Itaparica Itaparica continuou a representar um alto dispêndio para a Chesf, em razão da
Codevasf delonga da transferência dos encargos para a Codevasf.

129
Tal como as demais empresas geradoras do sistema Eletrobras, a Chesf par-
ticipou da gestão do Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da
Energia Elétrica – Luz para Todos (LPT), criado pelo governo Lula em 2003 com
o objetivo de universalizar o serviço público de energia elétrica no meio rural
brasileiro no prazo de cinco anos. A Chesf integrou o Comitê Gestor Nacional
do LPT e ficou responsável pela coordenação regional do programa em oito
dos nove estados nordestinos, da Bahia ao Piauí.
Coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, o programa Luz para To-
dos foi operacionalizado pela Eletrobras e executado pelas empresas distribui-
doras e cooperativas de eletrificação rural, com recursos do governo federal,
das próprias distribuidoras e dos governos estaduais, tendo como meta inicial
o atendimento de 2,1 milhões de domicílios rurais sem iluminação elétrica,
segundo o Censo Demográfico de 2000. No Nordeste, os estados com maior Crianças da comunidade
quilombola Belmonte
demanda de ligações eram a Bahia, Maranhão, Ceará e Piauí. A Chesf financiou (PI), beneficiada pelo
Programa Luz para Todos
parte dos projetos no Piauí, em virtude das dificuldades financeiras da conces-
Programa de Aceleração
sionária estadual. do Crescimento (PAC)

130
Reconhecido internacionalmente, o programa Luz para Todos ainda está
em andamento, mas já cumpriu quase integralmente a meta da universaliza-
ção da energia elétrica no meio rural brasileiro. Em 2016, alcançou a marca de
3,3 milhões de atendimentos, cabendo destacar que o Nordeste foi a região
mais beneficiada em número de ligações, com a eletrificação de 1,6 milhão de
domicílios.
O governo Lula também adotou uma série de medidas legais e administrati-
vas com o objetivo de fortalecer a holding Eletrobras e transformá-la numa su-
perestatal do setor elétrico. As mudanças foram delineadas no Plano de Trans-
formação e Fortalecimento do Sistema Eletrobras (PSTE), lançado em 2008.
No mesmo ano, os estatutos da Chesf e das empresas do grupo federal foram
alterados de modo a fortalecer a Eletrobras na relação com suas controladas,
centralizando na holding o poder de decisão quanto aos investimentos e à
composição dos consórcios nos leilões de energia. Em 2010, foi lançado o pri-
meiro Plano Estratégico Integrado do Sistema Eletrobras, unificando missão,
visão e valores das empresas do sistema. Ademais, as subsidiárias da holding
federal adotaram uma identidade visual única e nova logomarca, adicionando
o nome Eletrobras às suas denominações.
A presidente Dilma Rousseff (2011-2016) deu continuidade à política social
do governo Lula e tentou manter, sem sucesso, o ritmo de crescimento da
economia brasileira. Reeleita em 2014, a presidente iniciou o segundo man- 131
dato imersa em grave crise econômica e política que culminou com seu afas-
tamento do cargo em maio de 2016, quando o Senado autorizou a abertura
de processo de impeachment. O vice-presidente Michel Temer tomou posse
como presidente interino, sendo efetivado no cargo em agosto do mesmo ano.
Entre as empresas da Eletrobras, a Chesf foi certamente a mais atingida
pelo impacto das mudanças estruturais no setor elétrico promovidas pelo go-
verno Dilma Rousseff com base na Medida Provisória nº 579, de setembro de
2012, convertida na Lei nº 12.783, em janeiro de 2013.
A edição da MP nº 579 alterou significativamente as tarifas dos ativos mais
antigos de geração e transmissão e o funcionamento do mercado de energia
elétrica brasileiro. Seu objetivo era promover a modicidade tarifária, reduzin-
do as contas de energia do consumidor brasileiro em até 20% por meio de três
medidas: a desoneração de encargos setoriais, a antecipação da renovação
das concessões de geração e transmissão anteriores à Lei nº 8.987 de 1995
(conhecida como Lei Geral das Concessões) e o aporte de recursos da União à
Conta do Desenvolvimento Energético (CDE) para indenizar os investimentos
não amortizados das concessionárias.
Há tempos, a discussão sobre a renovação das concessões estava na pau-
ta do setor e havia grande questionamento sobre o que aconteceria com as
concessões próximas do vencimento e com a energia existente que seria des-
contratada. Basicamente, havia duas opções: licitar os ativos ou renovar a con-
cessão de forma onerosa. A presidente Dilma adotou a segunda alternativa,
anunciando a MP nº 579 como uma das iniciativas mais arrojadas de seu go-
verno para garantir a modicidade tarifária e impulsionar o desenvolvimento
do país.
A MP nº 579 estabeleceu regras para a renovação das concessões de usi-
nas e linhas de transmissão vincendas entre 2015 e 2017 que representavam
20% da capacidade instalada nacional e 80% da rede básica de transmissão,
pertencentes majoritariamente a empresas estatais. Chesf, Furnas, Cesp e Ce-
mig detinham as principais concessões de geração que expiravam no período.
As empresas puderam optar entre antecipar a renovação das concessões por
30 anos, em condições menos favoráveis, ou mantê-las com a mesma tarifa
até o fim do prazo original e a licitação para escolha do novo concessionário.
Em caso de renovação, as geradoras começariam a ser remuneradas apenas
pelas atividades de operação e manutenção (O&M), ficando isentas do risco
hidrológico, assumido doravante pelas empresas de distribuição de energia.
A remuneração dos ativos já amortizados seria excluída da tarifa, permitindo
132 assim a almejada redução dos preços da energia elétrica.
Em 3 de dezembro de 2012, a Chesf aderiu à proposta do governo. Apro-
vada em Assembleia Geral Extraordinária, essa decisão possibilitou a prorro-
gação da concessão de 87% dos ativos de geração e de 97% dos ativos de
transmissão da Companhia que venceriam em 2015. Furnas seguiu o mesmo
caminho, mas Cemig e Cesp preferiram recusar a antecipação e continuar com
as concessões de geração até a data de vencimento nas condições comerciais
originais. A adesão na geração ficou em torno de 60% do volume previsto pelo
governo. Desta forma, a energia proveniente de empreendimentos hidrelé-
tricos com concessões prorrogadas passou a ser comercializada com preços
regulados pela Aneel e montantes contratados pelo regime de cotas nas dis-
tribuidoras. A renovação das concessões de transmissão foi aceita de forma
quase unânime após importante alteração dos termos para o pagamento das
indenizações, ficando pendente a definição dos valores a serem ressarcidos.
Segundo a Chesf, os estudos que embasaram a adesão à MP nº 579 consi-
deraram a meta global de redução de custos e o impacto em investimentos e
receitas, assim como o recebimento à vista da indenização estimada em R$ 6,7
bilhões. Em princípio, as indenizações às empresas seriam pagas pelo Tesouro
ou reconhecidas na tarifa a partir de 2013, mas o governo voltou atrás, em
virtude do agravamento da crise fiscal. Os valores e a forma de pagamento da
indenização das transmissoras só foram definidos em 2016.
A Chesf renovou as concessões das hidrelétricas de Boa Esperança, do
Complexo de Paulo Afonso, de Funil, Itaparica (Luiz Gonzaga), Pedra e Xingó,
aceitando alocar toda a energia dessas usinas no regime de tarifas reguladas.
Ficaram fora desse regime apenas os ativos de geração de Sobradinho, Cure-
mas e Camaçari. A empresa não renovou as concessões das usinas Piloto e de
Araras, vincendas em julho de 2015, preferindo devolvê-las ao poder conce-
dente. Uma parcela da energia do regime de cotas foi reservada para atendi-
mento aos grandes consumidores industriais do Nordeste.
A reação negativa do mercado de capitais à MP nº 579 ocasionou forte
desvalorização das ações das empresas de energia elétrica, em especial as da
Eletrobras, que perderam metade do valor em menos de um ano. A não ade-
são das geradoras estaduais à prorrogação das concessões teve sérias conse-
quências para as empresas distribuidoras de energia elétrica que ficaram invo-
luntariamente descontratadas. Tais empresas precisaram recorrer ao mercado
de curto prazo para atender sua demanda, com preços bem mais altos. Além
disso, o governo precisou aportar mais recursos para garantir a redução das
tarifas ao consumidor. Para piorar a situação, a falta de chuvas deteriorou o
nível dos principais reservatórios do Sistema Interligado Nacional, obrigando 133
o uso intensivo das termelétricas com a consequente elevação dos preços da
energia elétrica. O governo viu-se obrigado a negociar empréstimos com ban-
cos públicos e privados para a cobertura dos custos adicionais das distribuido-
ras com compra de energia.
A Chesf, uma das empresas mais lucrativas do sistema Eletrobras, amargou
sucessivos prejuízos a partir da vigência da MP nº 579. O balanço de 2012 re-
gistrou prejuízo de R$ 5,34 bilhões, o maior da história da concessionária, re-
fletindo os ajustes contábeis decorrentes da renovação das concessões. Cum-
pre notar que a receita operacional bruta também foi recorde, da ordem de
R$ 7,6 bilhões, evidenciando que o prejuízo não decorreu de um desempenho
operacional insatisfatório.
Em 2013, o prejuízo foi de R$ 466 milhões, a despeito das medidas ado-
tadas pela empresa para adequação dos custos e despesas ao novo nível de
receitas. Para redução dos custos operacionais, a empresa lançou um plano
de incentivo ao desligamento voluntário de empregados com mais de 20 anos
de serviço. O plano recebeu a adesão de 1.354 funcionários que compunham
15% do quadro de pessoal.
O esforço de adequar a estrutura da empresa à nova realidade orçamentá-
ria prosseguiu em 2014. Um passo importante nesse sentido foi a transferên-
cia de encargos do Programa de Reassentamento de Itaparica para a Codevasf.
Além disso, a Chesf iniciou o processo de distrato da concessão da Termelétri-
ca de Camaçari, levando em conta a deterioração e saída de operação comer-
cial de quatro das cinco unidades geradoras e os elevados custos de operação
e encargos da usina. Mesmo assim, o balanço anual fechou com prejuízo de R$
1,1 bilhão. O fator decisivo para esse prejuízo foi a reversão para o resultado
dos créditos fiscais diferidos relativos ao Imposto de Renda e à Contribuição
Social em razão da ocorrência de três anos de prejuízos fiscais consecutivos.
Em 2015, o prejuízo foi da ordem de R$ 476 milhões, resultado influencia-
do pelo quadro geral de dificuldades que tomou conta da economia do país.
Entretanto, a Companhia encerrou o ano com expectativa de obtenção de
mais recursos para investimentos, em virtude da renovação dos contratos de

134
fornecimento de energia com grandes consumidores industriais celebrados na
década de 1970. Às vésperas do encerramento dos contratos, o governo fede-
ral baixou a Medida Provisória nº 677, permitindo a prorrogação dos contratos
até 2037 e criando o Fundo de Energia do Nordeste (FEN) para o financiamen-
to de empreendimentos de energia com fontes renováveis. A edição da MP em
junho de 2015 evitou que os grandes consumidores atendidos pela empresa
federal fossem obrigados a comprar energia mais cara no mercado livre. A
Chesf, por sua vez, garantiu a continuidade da concessão da Usina de Sobra-
dinho por um período adicional de 30 anos (a partir de fevereiro de 2022) e
o recebimento de recursos do FEN. Oriunda da referida MP, a Lei nº 13.182,
promulgada em 3 de novembro, previu a redução progressiva do volume de
energia fornecido aos consumidores eletrointensivos a partir de 2032, à razão
de um sexto da garantia física contratada a cada ano.
Ao longo do governo Dilma Rousseff, o posto de presidente da Chesf foi
ocupado sucessivamente por cinco engenheiros. A primeira mudança ocor-
reu em dezembro de 2011, quando Dilton da Conti deixou a presidência após
quase nove anos no exercício do cargo. Seu substituto, João Bosco de Almei-
da, comandou a empresa até outubro de 2013. Marcos Aurélio Madureira
da Silva foi presidente interino nos sete meses seguintes. Antônio Varejão
de Godoy dirigiu a Companhia entre abril de 2014 e junho de 2015. José Car-
los de Miranda Farias ocupou o cargo durante o restante do governo Dilma 135
Rousseff e nos primeiros meses do governo Michel Temer até ser substituído
pelo engenheiro Sinval Zaidan Gama em janeiro de 2017. Cumpre destacar o
mineiro Marcos Aurélio Madureira da Silva como único não pernambucano
entre os dirigentes citados.
A Chesf sustentou níveis elevados de investimento em obras de geração
e transmissão entre 2011 e 2015. Os investimentos cresceram anualmente
(declinaram apenas no último ano do período), totalizando R$ 11,4 bilhões,
dos quais R$ 6 bilhões na expansão e modernização da sua capacidade pro-
dutiva, e R$ 5,4 bilhões em aportes de recursos para Sociedades de Propó-
sito Específico (SPEs).
Os investimentos em ativos próprios tiveram a seguinte composição: R$
3,9 bilhões em obras de transmissão; R$ 1,2 bilhão em geração de energia;
R$ 460 milhões em obras de infraestrutura; e R$ 422 milhões no reassenta-
mento de Itaparica. Os investimentos em SPEs tiveram forte crescimento no
período, em função principalmente dos projetos de grande porte na região
Amazônica, chegando a ultrapassar o patamar dos investimentos em ativos
próprios em 2014.
A Companhia assumiu a responsabilidade pela execução da maioria das
obras de transmissão para o escoamento da produção dos parques eólicos
no Nordeste, notadamente dos empreendimentos leiloados em 2009 e 2010.
Grande vencedora dos leilões de transmissão para o atendimento de novos
parques eólicos, a Chesf arrematou o direito de construção e operação de 950
km de linhas e de dez subestações nos estados do Rio Grande Norte, Paraíba,
Ceará e Bahia, incluindo as Instalações de Interesse Exclusivo de Centrais de
Geração para Conexão Compartilhada (ICG). Essa modalidade de instalação
de transmissão havia sido instituída em 2008 com o objetivo de viabilizar a
expansão da geração a partir de fontes alternativas em áreas com pouca ou
nenhuma capilaridade de redes de transmissão e de subtransmissão.
A construção das linhas e subestações demorou mais que o previsto, em
virtude de dificuldades financeiras da Chesf, da morosidade dos processos de
licenciamento ambiental e do baixo desempenho de empresas contratadas.
As primeiras instalações só ficaram prontas, em notório descompasso com as
obras de geração, a partir de 2014. Neste ano, a inauguração das subestações
João Câmara II (RN), Extremoz II (RN), Igaporã II (BA), com as linhas de trans-
missão associadas, e da subestação Acaraú II (CE) viabilizou a transmissão de
energia de diversos parques eólicos no Rio Grande Norte, Bahia e Ceará. No
ano seguinte, a entrada em operação das subestações Pindaí II (BA), Igaporã III
136 (BA) e Lagoa Nova II (RN) e das linhas de transmissão associadas proporcionou
a conexão de usinas eólicas no centro-sul da Bahia e na região central do Rio
Grande do Norte.
Não obstante os problemas no segmento de transmissão, as usinas eólicas
aumentaram rapidamente sua participação na composição do parque elétrico
do Nordeste. Lá estão localizadas as “jazidas” de vento com melhores condi-
ções de aproveitamento e, por esta razão, a maioria dos projetos que partici-
param dos leilões de energia da Aneel estava situada na região. Em 2015, os
parques eólicos nordestinos atingiram a marca de 6.888 MW de potência ins-
talada, correspondente a 79% da capacidade geradora eólica nacional. O Rio
Grande do Norte liderava o ranking dos estados produtores de energia eólica,
seguido pela Bahia, Rio Grande do Sul e Ceará.
A produção eólica foi fundamental para o abastecimento de energia elétri-
ca do Nordeste no contexto da severa crise hídrica que atingiu a região a partir
de 2013. As condições hidroenergéticas do Nordeste pioraram sensivelmente
de ano para ano em decorrência das baixas afluências na bacia do rio São Fran-
cisco. O ano de 2015 registrou afluências de apenas 38% da Média de Longo
Termo (MLT) no São Francisco, sendo classificado como o mais seco da série
de 85 anos de observações. Com autorização da Agência Nacional de Águas
(ANA) e do Ibama, a Chesf reduziu a vazão mínima do reservatório de Sobra-
dinho para 900 metros cúbicos por segundo (m³/s) ante 1.300 m³/s originais, a
fim de evitar o esgotamento do principal reservatório do Nordeste e garantir o
uso múltiplo da água, principalmente o abastecimento e a irrigação.
Apesar da crise hidrológica, o Nordeste não correu risco de racionamento.
Em novembro, quando Sobradinho estava prestes a interromper toda a sua
produção, o engenheiro José Carlos de Miranda esclareceu:
Efeito da escassez de
água no entorno da
usina de Sobradinho: A geração de energia elétrica não é a maior prioridade na bacia do
formação de bancos
de areia e aumento
rio São Francisco neste momento, pois temos o Sistema Interligado
das margens do rio Nacional que nos permite fazer o intercâmbio de energia entre regi-
São Francisco. Outubro
2017. Emerson Leite ões, além da forte participação da energia eólica na matriz energé-
Tanto Expresso/Comitê tica nordestina e, também, a produção das termelétricas. (Usina de
da Bacia Hidrográfica do
São Francisco (CBHSF) Sobradinho, 2015)

137
O gráfico 1 mostra a geração de energia elétrica da Chesf entre 2004 e
2015, evidenciando a forte queda nos últimos três anos do período. Em 2015,
o volume de energia gerado pela Companhia contribuiu com apenas 28,3%
do atendimento ao submercado Nordeste, formado por todos os estados da
região, menos o Maranhão, integrante do submercado Norte. O reservatório
de Sobradinho encerrou o ano com somente 2,2% de seu volume útil.

Gráfico 1: Produção de energia da Chesf (2004-2015)

70.000

60.000

50.000
Energia produzida (GWh)

40.000

30.000

138
20.000

10.000

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Fontes: Chesf. Relatório anual da administração, 2004-2012; Chesf. Relatório anual e de sustentabilidade, 2013-2015

Em 2016, as usinas da Chesf geraram ainda menos energia em razão da


persistente crise hídrica na bacia do São Francisco. A Companhia gerou 20.831
GWh, o que representou uma redução de 16,9% em comparação com o ano
anterior. Para garantir o atendimento da demanda de energia, foi necessário
maximizar a geração térmica e eólica no Nordeste e o recebimento de energia
de outras regiões. O baixo volume de água nas barragens da Chesf foi monito-
rado diariamente para reduzir danos às comunidades ribeirinhas e assegurar
principalmente o abastecimento humano e a produção de alimentos. No final
do ano, a Companhia foi autorizada a reduzir a vazão mínima do reservatório
de Sobradinho para 700 m³/s.
Usina de Xingó (SE/AL)
Chesf

Ao longo do ano, o sistema elétrico da Chesf foi incrementado com a ener-


gização de 429 km de linhas de transmissão e três novas subestações próprias.
Entretanto, mais de 30 empreendimentos continuaram paralisados por falta
de recursos financeiros e pela significativa redução da disponibilidade de caixa
em razão de bloqueios judiciais nas contas da Companhia relativos ao proces-
so sobre o contrato de empreitada das obras civis da Usina de Xingó. 139
A Chesf registrou lucro de R$ 3,9 bilhões no exercício de 2016, resultado
decorrente da contabilização dos valores reconhecidos pela Aneel para indeni-
zação dos ativos de transmissão não amortizados com concessões renovadas
de acordo com a Lei n° 12.783. O valor global da indenização foi calculado em
R$ 5,09 bilhões, recebíveis em oito anos na forma de receitas mensais.
Em 2017, a Chesf concluiu 24 empreendimentos no Nordeste, acrescen-
tando um total de 433 km de linhas transmissão, cinco novas subestações e
dois parques eólicos ao Sistema Interligado Nacional. Construídos na região
do Lago de Sobradinho, conhecida pela excelente qualidade dos ventos, os
parques eólicos de Casa Nova II e III (BA), com capacidade total de 61,1 MW,
foram os primeiros empreendimentos próprios de geração inaugurados pela
Companhia desde a conclusão da hidrelétrica de Xingó. Entre as demais obras
finalizadas, merecem destaque a subestações de Igaporã III (BA) e Touros (RN)
e linhas de transmissão associadas para escoamento de energia de parques
eólicos no centro-sul da Bahia e no litoral do Rio Grande do Norte. Os inves-
timentos em ativos próprios de geração e transmissão somaram R$ 860,7 mi-
lhões, garantindo à Chesf uma receita anual de R$ 77,3 milhões.
As condições hidrológicas na bacia do rio São Francisco permaneceram
adversas, com vazões e precipitações abaixo da média. O volume de chuvas
140 melhorou em comparação com o ano anterior, mas ficou abaixo da média his-
tórica e da quantidade necessária para a recuperação dos reservatórios de
abastecimento de água e energia. Foi necessário reduzir a defluência mínima
média diária em Sobradinho e Xingó para 600 m³/s. A garantia de suprimento
energético do Nordeste continuou a depender das usinas eólicas e térmicas e
do recebimento de energia de outras regiões. Em dezembro de 2017, das seis
turbinas de Sobradinho, apenas duas operavam, enquanto em Xingó, apenas
uma estava em operação. O reservatório de Sobradinho encerrou o ano com
9,4% de seu volume útil.
A importância do São Francisco para a segurança hídrica da região Nordeste
extrapolou os limites da própria bacia hidrográfica em decorrência do projeto
de transposição das águas do rio para o abastecimento de 390 municípios nos
estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. O projeto previu
a construção de mais de 700 km de canais de concreto em dois grandes eixos
(norte e leste) ao longo do território dos quatro estados beneficiados. A primei-
ra etapa do empreendimento foi concluída em março de 2017 com a entrada em
operação do eixo leste, que passa pelos municípios pernambucanos de Floresta,
Betânia, Custódia e Sertânia, e chega a Monteiro, na Paraíba.
MUDANÇAS RECENTES NO SETOR ELÉTRICO

A mudança de governo no Brasil em 2016, em virtude do impeachment


da presidente Dilma Rousseff, representou uma viragem na política nacional,
acarretando uma série de modificações no quadro institucional do setor elétri-
co e na gestão das empresas integrantes do sistema Eletrobras.
Empossado em 12 de maio de 2016, o presidente Michel Temer iniciou um
programa de ajuste fiscal e de reformas liberalizantes com o objetivo declara-
do de reduzir o deficit público e reverter a grave crise econômica do país. Na
área energética, as reformas visaram reduzir o “intervencionismo estatal” que
teria contribuído para a desestabilização da Petrobras e da Eletrobras, com
sérias consequências para a Chesf e a demais geradoras federais.
Já no segundo mês do novo governo, a Medida Provisória nº 735 alterou
a legislação do setor elétrico para diminuir os custos com subsídios para a ge-
ração de energia e facilitar a privatização e a transferência de controle de em-
presas de energia. A MP nº 735, convertida em novembro na Lei nº 13.360, de-
terminou ainda que a gestão da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE)
e da Reserva Global de Reversão (RGR) fosse transferida da Eletrobras para a
Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
A primeira empresa privatizada no governo Temer foi a Celg Distribuição,
concessionária controlada pela Eletrobras, atuante em Goiás, vendida em no- 141
vembro para a empresa italiana Enel. O leilão da concessionária goiana foi
considerado o primeiro teste exitoso do Programa de Parcerias de Investimen-
to (PPI), lançado por Temer com o objetivo de atrair potenciais investidores
em concessões e projetos de infraestrutura prioritários.

Leilão de privatização
da Celg Distribuição. São
Paulo. Novembro 2016
Enel
Ainda em novembro, a Eletrobras anunciou o Plano Diretor de Negócios e
Gestão (PDNG) do período 2017/2021, contemplando investimentos de R$ 35,8
bilhões, majoritariamente direcionados para a conclusão de empreendimentos
de geração e transmissão já contratados pelas empresas do grupo. Tendo em
vista a redução do endividamento da Companhia, o plano previu a venda de
participações em SPEs não estratégicas e a privatização das seis distribuidoras
sob a gestão da Eletrobras, atuantes nas regiões Norte e Nordeste.
Em julho de 2017, a Eletrobras aprovou a transferência para a holding das
participações acionárias da Chesf, Furnas, Eletrosul e Eletronorte em 41 SPEs
com o objetivo de promover a quitação das dívidas das subsidiárias com a
holding e diminuir sua alavancagem financeira. No caso da Chesf, a decisão
envolveu as participações da Companhia nas SPEs de transmissão Integração
Transmissora de Energia (Intesa), Interligação Elétrica do Madeira (IE Madeira)
e Manaus Transmissora de Energia e nas SPE de geração eólica Pedra Branca,
São Pedro do Lago, Sete Gameleiras, Baraúnas I Energética, Mussambê Ener-
gética, Morro Branco I Energética, Vamcruz I Participações, Chapada do Piauí I
Holding, Chapada do Piauí II Holding e Eólica Serra das Vacas Holding.
O processo de reestruturação da Eletrobras e de suas empresas controla-
das considerou diversas medidas de redução de custos operacionais, inclusive
do quadro de pessoal por meio de planos de incentivo à aposentadoria. Com a
142 saída de 439 funcionários que aderiram ao Plano de Aposentadoria Extraordi-
nária (PAE), a Chesf encerrou o ano com 4.100 empregados.
O MME, por seu turno, esboçou uma proposta de reforma do marco legal
do setor elétrico brasileiro, em extenso documento apresentado para consulta
pública em julho de 2017. Entre as principais mudanças propostas, destaca-
vam-se a redução dos limites para acesso ao mercado livre; a separação entre
os produtos energia e lastro; a implementação de tarifas de eletricidade com
diferenciação binômia e horária para todos consumidores até 2021; e o fim do
regime de cotas das hidrelétricas já amortizadas e posterior venda das conces-
sões. Numa eventual privatização das usinas no regime de cotas, as empresas
do sistema Eletrobras perderiam um terço da sua potência total.
Em agosto, o governo federal tornou público o propósito de promover a
privatização da Eletrobras. A decisão foi anunciada pelo ministro Fernando
Coelho Filho, titular da pasta de Minas e Energia, sendo imediatamente refe-
rendada pelo Conselho Executivo do Programa de Parcerias de Investimentos
(PPI). Em 29 de dezembro, o governo editou a Medida Provisória nº 814, al-
terando a legislação do setor elétrico com o objetivo de facilitar tanto a pri-
vatização da Eletrobras como a venda das distribuidoras do Norte e Nordeste
administradas pela holding federal. Em decorrência da revogação de disposi-
tivo de lei aprovado no governo Lula, Eletrobras, Chesf, Furnas, Eletronorte e
Eletrosul voltaram ao Programa Nacional de Desestatização (PND).
Em 19 de janeiro de 2018, o presidente Michel Temer assinou projeto de
lei com proposta de privatização de Eletrobras, prevendo a desestatização da
empresa em operação de aumento do capital, com limitação de 10% do poder
de voto de qualquer acionista ou grupo de acionistas que participar da oferta
pública. O Projeto de Lei nº 9.463 sobre a desestatização da Eletrobras tam-
bém previu que parte dos recursos provenientes da descotização das usinas da
Chesf seja utilizado no programa de revitalização do rio São Francisco.
Ao completar 70 anos de existência, a Chesf se encontra certamente no
limiar de uma nova etapa de sua história, de contornos ainda indefinidos, mas
certamente tão importante para o Nordeste e o país como as etapas anterio-
res, em que se projetou como uma das maiores e mais bem-sucedidas empre-
sas de energia elétrica do Brasil.

Parque eólico no
Complexo VamCruz (RN)
Chesf

143
144
Índice onomástico

A
ACKERMAN, Adolph John 47 COSTA, José Ribamar Ferreira de Araújo 85, 86, 90
ALMEIDA, João Bosco de 135 COSTA, Rubens Vaz da 90
ARAÚJO, Mozart de Siqueira Campos 98 CUNHA, Euclides Rodrigues Pimenta da 44
AZEVEDO, Francisco de Paula Ramos de 21
D
B D. PEDRO II
BALANÇA, André Jules 45 ver BOURBON, Pedro de Alcântara João Carlos Leopol-
BARBALHO, Arnaldo Rodrigues 69, 90 do Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio
BARRETO, Emídio Dantas 23 Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e
BERENHAUSER JÚNIOR, Carlos 35 DANTAS, Margarida 74
BERNARDES, Nilo 52, 53 DUTRA, Eurico Gaspar 10, 34, 37
BORELLA, Luigi 22
BOURBON, Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador F 145
Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Ga- FALCÃO FILHO, André Dias de Arruda 69
briel Rafael Gonzaga de Bragança e 20 FARIAS, José Carlos de Miranda 135, 137
BRANCO, Castello (governo) 66 FERRAZ, Octávio Marcondes 9, 35, 37, 38, 42, 46, 47, 49, 54,
BRANDÃO, Francisco Pinto 21 59
BRITO, Antonio Ferreira de Oliveira 90 FIGUEIREDO, João Baptista de Oliveira 72, 90
FRANCO, Itamar (governo) 92, 95
C
CAFÉ FILHO, João Fernandes Campos 49 G
CARDOSO, Fernando Henrique (governo) 92, 99, 102, 109 GADELHA, Hélio 32
CARDOSO, Fernando Henrique 95, 100 GAMA, Sinval Zaidan 135
CARVALHO, Afrânio de 34 GEISEL, Ernesto (governo) 69, 74, 80
CARVALHO, Daniel Serapião de 35 GODOY, Antônio Varejão de 135
CASSEMIRO, Klecia 93 GONZAGA, Luiz
CASTELLO BRANCO, Humberto de Alencar 61 ver NASCIMENTO, Luiz Gonzaga
COELHO FILHO, Fernando 142 GOODLAND, Robert James Appleby 74
COLLOR GOULART, João (governo) 59
ver MELLO, Fernando Collor de (governo) GOULART, João Belchior Marques 59
CONTI, Dílton da GOUVEIA, Delmiro Augusto da Cruz 9, 22, 23, 24
ver OLIVEIRA, Dílton da Conti GUDIN FILHO, Eugênio 32
COSTA, Artur de Souza 31 GUIMARÃES, Alberto Costa 69, 90
COSTA, Fernando de Sousa 25
COSTA, José Carlos Aleluia 90
H
HACKER, Hans 21, Q
HALFELD, Henrique Guilherme Fernando 15, 18, 19 QUADROS, Jânio da Silva 59
QUEIROZ, Eunápio Peltier de 73
J
JABLONSKY, Tibor 52, 53, 57, 58 R
REED, Oren 34
K REIDY, Richard George 21
KUBITSCHEK, Juscelino (governo) 57 ROCHA, Antônio Geraldo 25
KUBITSCHEK, Juscelino RODRIGUES, José Antônio da Fonseca 25
ver OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de ROUSSEFF, Dilma (governo) 135
ROUSSEFF, Dilma Vana 109, 131, 141
L
LEAL, José Leite Correa 30, 34 S
LEAL, Kim-Ir-Sen Pires 94 SALES, Apolonio Jorge de Faria 9, 10, 28, 30, 31, 34, 59, 66,
LEÃO, Luiz Antônio de Souza 34 69, 70, 71
LEITE, Emerson 137 SAMPAIO, Theodoro Fernandes 20
LOPES, José Antonio Muniz 98 SANTOS, Mario Fernando de Melo 78
LOPES, Marcos José 98 SARNEY (governo) 91
LULA (governo) 107, 109, 131 SARNEY
LULIA, Michel Miguel Elias Temer 12, 131, 141, 142 ver COSTA, José Ribamar Ferreira de Araújo
SCHIMMELPFENG, Leopoldo 30, 34
M SILVA, Betto 107
MÉDICI, Emílio (governo) 68 SILVA, Hélio de Macedo Soares e 32
MELLO, Fernando Collor de (governo) 92, 93, 99 SILVA, Marcos Aurélio Madureira da 135
MELLO, Flavio Miguez de 73 SILVA, Severino 72
MELO, José Antonio Feijó de 68 SOUZA, Antônio José Alves de 10, 25, 28, 29, 33, 34, 35, 36,
146
MENEZES, Amaury Alves de 59 47, 59
MENEZES, Luís Carlos 90 SOUZA, Genildo Nunes de 90
MIRANDA, José Carlos de STAHL, Theophile Auguste 18
ver FARIAS, José Carlos de Miranda STUCKERT, Ricardo 121
MONTE, João José do 21
MOREIRA, Júlio Sérgio de Maya Pedrosa 98 T
TEMER (governo) 135, 141
N TEMER, Michel
NASCIMENTO, Luiz Gonzaga 10, 86 ver LULIA, Michel Miguel Elias Temer
NEVES, Tancredo de Almeida 59 THIBAU, Mauro 66
NOVAIS, Henrique de 34
V
O VARGAS, Getúlio (governo) 9, 28
OLIVEIRA, Adozindo Magalhães de 35 VARGAS, Getúlio Dornelles 10, 29, 33, 34, 56, 59
OLIVEIRA, Dílton da Conti 109, 135 VICENZI, Paavo Nurmi de 48
OLIVEIRA, Odair 122
OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de 59
OLIVEIRA, Rezilda Rodrigues de 44

P
PENTEADO JÚNIOR, Sebastião 25
Referências bibliográficas

Livros, Capítulos de Livros,


Monografias e Artigos

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Notas sobre as ilustrações

As xilogravuras que ilustram o livro são de autoria de quatro artistas nor-


destinos.
José Francisco Borges, conhecido como J. Borges, é considerado o maior 153
gravador popular em atividade no Brasil. Nasceu em Bezerros (PE) em 1935
numa família de agricultores pobres. Poeta cordelista autodidata com mais de
duzentos títulos publicados, ganhou projeção nacional e internacional como
xilogravador. Seu trabalho foi descoberto por colecionadores e marchands na
década de 1970, quando passou a gravar matrizes de maior tamanho dissocia-
das dos cordéis. Conta com obras nos acervos de importantes museus, como o
Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMa) e o Museu de Arte Moderna
do Rio de Janeiro (MAM-Rio).
Givanildo Francisco da Silva, nascido em 1962, aprendeu a técnica da xilo-
gravura com seu tio, J. Borges. O Museu do Homem do Nordeste, da Fundação
Joaquim Nabuco em Recife, possui uma coleção de matrizes de sua autoria.
Suas obras também podem ser encontradas em estampas de camisetas, cane-
cas, porta-copos, imãs de geladeira e outros objetos.
Perron Ramos é um jovem artista de Recife que ilustra contos e cordéis
com inspirações e elementos nordestinos através da estética da xilogravura.
Silas Silva, nascido em Campina Grande (PB) em 1962, conhecido como
Silas Silva da Paraíba, é poeta cordelista e xilogravador.
A SOL Gráfica e Editora Ltda. imprimiu,
em maio de 2018, 1.000 exemplares deste livro
em papel Couchê Matte 150 g/m2.
Capa forrada em papel Couchê Matte laminado
e guardas em papel Color Plus 120 g/m2.
CHESF
Este livro foi produzido especialmente para a comemora-

CHESF |
ção dos 70 anos da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
(Chesf), em parceria com o Centro da Memória da Eletricidade
no Brasil, entidade cultural sem fins lucrativos, voltada para a
preservação do patrimônio histórico e da memória do setor
elétrico brasileiro.
70 ANOS DE HISTÓRIA
Chesf 70 anos de história oferece uma visão abrangente
sobre a trajetória de uma das mais importantes empresas de

70 ANOS DE HISTÓRIA
energia elétrica do país que, com todos os méritos, tanto vem
contribuindo para o desenvolvimento do Nordeste e do Brasil,
desde seus primeiros passos em 1948.

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