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Chesf 70 Anos
Chesf 70 Anos
CHESF |
ção dos 70 anos da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
(Chesf), em parceria com o Centro da Memória da Eletricidade
no Brasil, entidade cultural sem fins lucrativos, voltada para a
preservação do patrimônio histórico e da memória do setor
elétrico brasileiro.
70 ANOS DE HISTÓRIA
Chesf 70 anos de história oferece uma visão abrangente
sobre a trajetória de uma das mais importantes empresas de
70 ANOS DE HISTÓRIA
energia elétrica do país que, com todos os méritos, tanto vem
contribuindo para o desenvolvimento do Nordeste e do Brasil,
desde seus primeiros passos em 1948.
CHESF
70 ANOS DE HISTÓRIA
COMPANHIA HIDRO ELÉTRICA DO SÃO FRANCISCO - CHESF
DIRETORIA EXECUTIVA
Diretor-Presidente | Sinval Zaidan Gama
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Wilson Ferreira Junior | Presidente
CONSELHO FISCAL
Titulares
C524c
CDD 338.7621312134
Índice onomástico.....................................................................................................................................145
Referências bibliográficas.......................................................................................................................147
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Na primeira década do século XXI, a trajetória da Chesf sofreu importante
inflexão, em virtude da abertura do mercado de energia elétrica brasileiro à
competição entre agentes públicos e privados, nacionais e estrangeiros, bem
como do virtual esgotamento do potencial hidrelétrico aproveitável no Nor-
deste, tradicional área de atuação da Companhia.
A Chesf continuou a desempenhar papel fundamental no abastecimento
de energia aos estados da região, mas não de forma quase exclusiva como na
segunda metade do século passado. Sem perda da sua identidade fortemente
associada ao Nordeste, a Companhia firmou parcerias para a consecução de
empreendimentos em outras regiões, entre os quais os aproveitamentos hi-
drelétricos de Jirau, no rio Madeira em Rondônia, e Belo Monte, no rio Xingu,
no Pará.
Além disso, contribuiu significativamente para a notável expansão da ener-
gia eólica no Nordeste assumindo participação em empreendimentos na Bahia,
Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte e investindo em projetos de transmis-
são para escoamento de energia de numerosos parques eólicos na região.
Entre as empresas da Eletrobras, a Chesf foi certamente a mais afetada
pelas mudanças no marco regulatório do setor elétrico propostas pela Medida
Provisória nº 579, de setembro de 2012, com o objetivo de viabilizar a redu-
ção do custo da energia elétrica para o consumidor brasileiro. A MP nº 579,
12 convertida na Lei nº 12.783, de janeiro de 2013, possibilitou a prorrogação da
concessão de grande parte dos ativos de geração e transmissão da Chesf que
venceriam em 2015. A Companhia aceitou alocar a energia das usinas renova-
das no regime de cotas com tarifas reguladas, o que ocasionou uma forte que-
da de receita e a necessidade de readequação dos seus negócios, com esforço
concentrado na redução de gastos.
Em janeiro de 2018, o presidente Michel Temer assinou projeto de lei com
proposta de privatização de Eletrobras, prevendo a desestatização da empre-
sa em operação de aumento do capital, com limitação de 10% do poder de
voto de qualquer acionista ou grupo de acionistas que participar da oferta
pública. O Projeto de Lei nº 9.463 sobre a desestatização da Eletrobras previu
a descotização das usinas da Chesf com o objetivo de garantir receitas para o
Programa de Revitalização do rio São Francisco.
Ao completar 70 anos de existência, a Chesf se encontra certamente no
limiar de uma nova etapa de sua história, de contornos ainda indefinidos, mas Na página ao lado, vista
certamente tão importante para o Nordeste e o país como as etapas anterio- do aproveitamento
hidrelétrico de
res, em que se projetou como uma das maiores e mais bem-sucedidas empre- Xingó (SE/AL)
sas de energia elétrica do Brasil. Constran
13
14
O rio São Francisco
e o potencial de Paulo Afonso
Na página ao lado,
cachoeira de Paulo
Afonso. Abril 1952
Chesf
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A primeira descrição detalhada de Paulo Afonso foi feita pelo engenheiro
e geógrafo alemão Henrique Guilherme Halfeld. Entre 1852 e 1854, comissio-
nado pelo governo imperial, Halfeld estudou o São Francisco e seus afluentes,
desde Pirapora até o Atlântico. Ele relatou cada légua percorrida no Atlas e
relatório concernente à exploração do rio São Francisco, publicado em 1860,
descrevendo em cores vivas o espetáculo das águas da cachoeira de Paulo
Afonso:
18
Henrique Guilherme
Fernando Halfeld,
engenheiro alemão
naturalizado brasileiro
Instituto Teuto-Brasileiro
William Dilly
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O próprio imperador D. Pedro II empreendeu penosa viagem para conhe-
cer a cachoeira em 1859. E não se arrependeu. Mandou afixar no local uma
placa de bronze como registro de sua passagem e anotou em seu diário: “É be-
líssimo o ponto de que se descobrem sete cachoeiras que se reúnem na grande
(...). Tentar descrever a cachoeiras em poucas páginas, e cabalmente, seria
impossível”. (Pedro II, 1959, p. 126)
Algumas das principais preocupações da época com relação ao São Francis-
co eram desobstruir a sua barra, facilitar a navegação, incrementar as viagens
a vapor, contornar a cachoeira de Paulo Afonso por via férrea ou canal, e deso-
bstruir as cachoeiras de Pirapora e Sobradinho (BA).
Em 1879 e 1880, a Comissão Hidráulica do Império realizou estudos para
melhoramento do tráfego a vapor em toda a extensão do grande rio. Na se-
quência, a Comissão de Melhoramentos do Rio São Francisco executou as
obras de desobstrução de Sobradinho e outros trechos que impediam a franca
navegação. O engenheiro e geógrafo baiano Theodoro Sampaio integrou as
duas comissões, conheceu Paulo Afonso e registrou em seu diário de viagem
o quanto ficara impressionado com o que vira: “Paulo Afonso vê-se, sente-se,
não se descreve”. (Santos, 2010, p. 129)
Acima, Theodoro
Fernandes Sampaio,
20 engenheiro, geógrafo,
historiador e
escritor baiano
Chesf
Placa comemorativa
da visita de D. Pedro
II à cachoeira de
Paulo Afonso
Chesf
Equipe da Comissão A primeira concessão para aproveitamento energético de Paulo Afonso 21
de Melhoramentos do
Rio São Francisco em remonta ao início do regime republicano. Em novembro de 1890, o governo
Sobradinho. 1886
federal autorizou o advogado João José do Monte a utilizar o potencial da ca-
Instituto Histórico
e Geográfico choeira com a finalidade de levar energia aos seus próprios estabelecimentos
Brasileiro (IHGB)
industriais ou a consumidores dos estados de Sergipe e Alagoas. Trabalhos
nesse sentido não foram sequer iniciados e a concessão caducou cinco anos
mais tarde.
Em 1910, o engenheiro inglês Richard George Reidy pleiteou o direito de
utilização da força hidráulica de Paulo Afonso e outras quedas menores no rio
São Francisco, mas seu requerimento foi indeferido pelo governo federal. Em
1911, um grupo concorrente, liderado pelos engenheiros Francisco de Paula
Ramos de Azevedo e Hans Hacker, obteve a concessão para exploração do
potencial da grande cachoeira. Contudo, nada de concreto resultou dessa ini-
ciativa, assim como da concessão outorgada ao engenheiro Francisco Pinto
Brandão que se comprometera a organizar a Empresa Hidro Elétrica Agrícola
Industrial do Brasil, com capital de um milhão de libras esterlinas, tendo em
vista o estabelecimento de fábricas de cimento, fornos elétricos, material de
construção, cerâmica, vidro, papel e outros fins.
O PIONEIRISMO DE DELMIRO GOUVEIA
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Em pouco tempo, Delmiro enriqueceu novamente com o comércio de pe-
les e couros. Disposto a empregar parte de seu capital no setor industrial,
projetou a construção de Angiquinho e a instalação de uma fábrica de fios e
linhas em Pedra. A concessão para o aproveitamento hidrelétrico foi outorga-
da pelo governo alagoano em 1911 e o projeto foi levado adiante com o apoio
de sócios estrangeiros. Consta que Delmiro almejava levar a energia de Paulo
Afonso até a capital pernambucana, tendo conversado sobre o assunto com o
general Emídio Dantas Barreto, governador do Estado. Desconfiado, o gene-
ral teria recusado a proposta, declarando: “O negócio que o senhor propõe é
tão vantajoso para o Estado, que deve envolver alguma velhacaria”. (Martins,
1963, p. 75)
Delmiro Gouveia. Em 1912, o empresário e seus sócios constituíram a Companhia Agro Fabril
[1917]. Acima, homens,
mulheres e crianças Mercantil, que assumiu a responsabilidade do empreendimento hidrelétrico.
operárias a caminho Paralelamente às obras da usina, Delmiro promoveu a construção de estradas
da fábrica de Delmiro
Gouveia na Vila da de rodagem, ligando a Vila da Pedra à cachoeira, aos centros urbanos mais
Pedra (AL). [191-?]
próximos de Água Grande e Mata Grande e às localidades mais distantes de
Fundação Joaquim
Nabuco Quebrangulo (AL) e Garanhuns (PE).
Em janeiro de 1913, a hidrelétrica de Angiquinho, a primeira do rio São
Francisco e uma das primeiras do Nordeste, entrou em operação, asseguran-
do o fornecimento de energia para a iluminação da Vila da Pedra e o funcio-
namento da fábrica da Companhia Agro Fabril Mercantil, inaugurada um ano
depois. A casa de força com duas unidades geradoras, totalizando 1.100 kW de
potência instalada, foi construída no paredão rochoso do cânion, em local de
difícil acesso, representando o maior desafio da obra.
Pioneira na produção de linhas de costura no Brasil, a fábrica de Delmiro en-
frentou a concorrência da poderosa companhia inglesa Machine Cotton, mas
conquistou uma posição importante no mercado nacional, tirando proveito da
redução da oferta das linhas estrangeiras durante a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918). A fábrica aumentou progressivamente sua produção, chegando a
empregar 800 operários, todos obrigados a cumprir rígidas normas de higiene,
segurança, educação e alimentação, estabelecidas por Delmiro.
A Companhia Agro Fabril Mercantil chegou a encomendar equipamentos
para instalação de uma segunda hidrelétrica, perto da Furna dos Morcegos,
uma grande caverna situada no início do cânion, mas o plano não foi levado
adiante por causa do assassinato do empresário em outubro de 1917.
Delmiro Gouveia tornou-se um dos símbolos mais fortes da luta pela in-
dustrialização e modernização do Nordeste. Também conquistou a reputação
24 de liderança nacionalista, em virtude de sua intensa disputa com a Machine
Cotton que acabou adquirindo o controle de sua fábrica. Em 1930, a fábrica
da Pedra foi desmantelada pela empresa inglesa e suas máquinas atiradas ao
Interior da fábrica da
fundo do rio São Francisco. A Usina de Angiquinho permaneceria em operação Companhia Agro Fabril
Mercantil. [191-?]
até março de 1960, quando uma forte enchente danificou geradores, excitatri-
Fundação Joaquim
zes e quadros de controle, obrigando a Chesf a retirá-la de serviço. Nabuco
Cascata da Princesa Vários estudos e prognósticos sobre o potencial hidrelétrico do São Fran-
na cachoeira de
Paulo Afonso cisco foram feitos nas décadas de 1920 e 1930, sem consequências de ordem
Chesf prática. Em 1921, uma equipe de engenheiros da Comissão de Estudos de
Forças Hidráulicas, órgão ligado ao Serviço Geológico e Mineralógico do Mi-
nistério da Agricultura, fez o primeiro levantamento topográfico da cachoeira
de Paulo Afonso. Entre os membros da equipe, estava o engenheiro carioca
Antônio José Alves de Souza, futuro presidente da Chesf.
Em 1925, uma comissão de engenheiros franceses percorreu o São Fran-
cisco e seus afluentes, apresentando um relatório em que preconizava o esta-
belecimento de grandes centrais hidrelétricas destinadas a fornecer energia
para a instalação de indústrias e a irrigação de áreas ribeirinhas. A vinda dessa 25
comissão ocorreu por iniciativa do engenheiro baiano Geraldo Rocha e contou
com o patrocínio de bancos franceses.
Em 1939, o engenheiro cearense José Antônio da Fonseca Rodrigues ela-
borou um anteprojeto de aproveitamento hidrelétrico em Paulo Afonso, com
capacidade inicial de 147 MW, em combinação com arrojado esquema de
transposição das águas do São Francisco para combate às secas e irrigação de
áreas de vários estados nordestinos. Professor da Escola Politécnica de São
Paulo, Fonseca Rodrigues estudou o assunto por iniciativa própria em parceria
com Sebastião Penteado Júnior, engenheiro eletricista de uma das concessio-
nárias do grupo American & Foreign Power Company (Amforp) atuante no in-
terior paulista e em diversas capitais nordestinas. O anteprojeto chegou a ser
apreciado por técnicos do Ministério da Agricultura, mas não foi tomado em
consideração pelo ministro Fernando Costa.
Tantos estudos improfícuos e o tempo passando em vão levaram um es-
critor nordestino a lançar um repto que fez época: “Paulo Afonso está ficando
rouca de tanto clamar aos engenheiros do país para aproveitarem sua ener-
gia”. (Souza, 1950, p. 94)
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A criação da Chesf e
a construção da Usina de Paulo Afonso I
29
30 O anteprojeto previu a organização da Chesf com capital de Cr$ 400 mi- Esquema de
aproveitamento
lhões, subscritos em sua maioria pelo governo federal, e a instalação de 112 hidrelétrico do rio São
Francisco em Paulo
MW como meta inicial da empresa, tal como indicado em estudo dos enge- Afonso proposto pelos
nheiros José Leite Correa Leal e Leopoldo Schimmelpfeng. O esquema de apro- engenheiros José Leite
Correa Leal e Leopoldo
veitamento da cachoeira de Paulo Afonso proposto pelos engenheiros previa Schimmelpfeng
uma barragem de pequena altura no braço principal do rio São Francisco, a Memória da Eletricidade
31
Em novembro de 1944, entretanto, o Conselho Técnico de Economia e Fi- Alves de Souza nas
obras de Paulo Afonso
nanças (CTEF), órgão consultivo do Ministério da Fazenda, considerou inopor- com visitantes. Na
última fila, o engenheiro
tuna a constituição da Chesf, sugerindo antes a organização de um grupo de Hélio Gadelha (ao
trabalho para o estudo completo do projeto da usina e de seu sistema de trans- centro, de bigode),
responsável pelo setor
missão. Para dirimir a controvérsia, Vargas solicitou a audiência da Comissão de concreto das obras
de Planejamento Econômico, órgão complementar do Conselho de Segurança Chesf
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Os primeiros meses de atividade da Chesf foram dedicados à sua instalação, à
compra e ao transporte de alguns equipamentos e materiais para Paulo Afonso, à
melhoria das rodovias de acesso e aos estudos do projeto básico da usina. A cons-
tituição da empresa e a construção da hidrelétrica ainda suscitavam discussão e
críticas de especialistas, como relatou o engenheiro Alves de Souza em conferên-
cia na Escola de Minas de Ouro Preto (MG):
36
37
Marcondes Ferraz expõe O projeto definitivo da usina foi elaborado por Marcondes Ferraz. Base-
o projeto de Paulo Afonso
I ao presidente Dutra e ado em minucioso levantamento topográfico e em sondagens geológicas da
membros de sua comitiva
em visita às obras da
cachoeira de Paulo Afonso e da área vizinha, o diretor técnico concebeu uma
usina. Agosto 1950 solução original para o aproveitamento hidrelétrico, diferente das propostas
Chesf
até então esboçadas.
O arranjo geral do aproveitamento compreenderia duas barragens princi-
pais em forma de raiz quadrada, destinadas a elevar o nível d’água a montante
da cachoeira e a formar uma bacia de decantação do material sólido transpor-
tado pelo rio; a tomada d’água no vértice das barragens; um sistema de túneis
de adução; a casa de máquinas subterrânea, a 80 metros de profundidade;
e um túnel de descarga com 180 metros de comprimento, desaguando no
cânion do São Francisco. As barragens foram concebidas de modo a permitir
a futura ampliação do aproveitamento, efetivada com a instalação de mais
duas tomadas d’água e respectivas casas de máquinas (Paulo Afonso II e III),
também subterrâneas.
Paulo Afonso I e a Usina Nilo Peçanha, construída na mesma época no Rio
de Janeiro pela Light, foram as primeiras centrais geradoras subterrâneas do
Brasil. Além de mais vantajosa do ponto de vista econômico, a solução propos-
ta por Marcondes Ferraz permitia melhor aproveitamento da altura de queda,
em virtude da grande variação do nível de água no cânion do São Francisco (30
metros entre a estiagem e a cheia máxima). A compacidade da rocha e a quase
impermeabilidade do terreno também foram elementos determinantes para Início de escavação do
poço adutor interligando
a opção subterrânea, mediante a escavação de uma caverna de 60 metros de a tomada d’água à casa
máquinas da Usina Paulo
comprimento, 16 de largura e 32 de altura para abrigar a casa de força com Afonso I. Junho 1950
três unidades geradoras de 60 MW. Chesf
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Formas para a
concretagem do
vertedouro da hidrelétrica
de Marimbondo, em
dezembro de 1971. As
linhas que interligaram
a usina ao sistema
elétrico do sudeste foram
as primeiras em 500
quilovolts no país e no
continente
Acervo Memória
da Eletricidade
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Medição da velocidade A casa de comando foi localizada na superfície, na margem baiana, assim
das águas na região do
cânion com a utilização como a subestação elevadora, com os bancos de transformadores e o restante
de um pequeno molinete.
Os operários o chamavam
do equipamento de alta tensão. Dessa subestação partiriam as linhas-tronco
de zepelim. Julho 1950 de transmissão Norte e Sul, em direção, a Recife e Salvador, ambas de 220
Chesf
quilovolts (kV), com 405 e 456 quilômetros de extensão, respectivamente. As
linhas até as subestações abaixadoras nas capitais pernambucana e baiana
constituiriam o sistema primário de transmissão da Chesf. O sistema secundá-
rio contaria com ramais de 66 kV, derivados das subestações de Angelim (PE)
e Itabaiana (SE). Situada em ponto intermediário da linha Norte, a subestação
de Angelim foi projetada para o atendimento de Maceió e localidades per-
nambucanas, como Caruaru e Garanhuns. A subestação de Itabaiana, localiza-
da no trajeto da linha Sul, alimentaria Aracaju e zona circunvizinha.
40 O aproveitamento de Paulo Afonso tornou obrigatória uma resolução a Chegada de equipamento
importado em Paulo
respeito da questão da frequência na região. A maioria dos sistemas elétricos Afonso. Setembro 1951
nordestinos operava em 50 Hz, cabendo destacar como principal exceção o Chesf
41
A construção dos acampamentos teve início em outubro de 1948. O acam-
pamento da margem baiana, conhecido como “cidade Chesf”, reuniu a maioria
das instalações da empresa. Paulo Afonso, um lugarejo praticamente desabi-
tado, pertencente ao município de Glória, sofreu uma transformação radical
com as obras do grande aproveitamento hidrelétrico. O engenheiro Marcon-
des Ferraz conta que na sua primeira viagem a Paulo Afonso encontrou ape-
nas “um acampamento com meia dúzia de casas de sapê e um prédio de dois
andares construído pelo Ministério da Agricultura para fazerem uma pequena
usina piloto”. E acrescentou:
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Alojamento de
operários solteiros no
acampamento da Chesf
Chesf
Abaixo, cooperativa
de abastecimento
em Paulo Afonso
Chesf
43
44 Em 1950, Paulo Afonso já contava com população superior a seis mil habi- Escola primária
mantida pela Chesf
tantes, distribuídos em três bairros residenciais (Bairro General Eurico Dutra, Chesf
Vila Alves de Souza e Vila Operária) e na Vila Poty, núcleo informal composto
pelos trabalhadores conhecidos como “cassacos”, em sua maioria sem qua-
lificação, atraídos pela possibilidade de emprego e pelos serviços médicos e
educacionais da Companhia. Além da ajuda do Ministério da Educação para
a instalação de hotel, escolas e serviços de puericultura, a Chesf contou com
o apoio da Aeronáutica que cuidou da construção do aeroporto. Em 1953,
Paulo Afonso foi elevado à condição de distrito; cinco anos depois, tornou-se
município.
O escritório-sede no Rio de Janeiro, localizado à rua Visconde de Inhaúma,
centralizou os recursos técnicos de planejamento. Paulo Afonso, onde fun-
cionava a Diretoria Técnica, concentrou o pessoal básico da Companhia e a
maior administração regional, junto ao canteiro de obras da hidrelétrica. Ali,
como escreveu a socióloga Rezilda Rodrigues de Oliveira, “operários e enge-
nheiros da Chesf realizariam uma epopeia digna daquela descrita por Euclides
da Cunha quando se referia ao labor do forte homem sertanejo”. (Oliveira,
2001, p. 6)
A Chesf também recebeu razoável afluxo de estrangeiros que prestaram
importantes serviços para a empresa nos seus primeiros anos. Além do francês
André Jules Balança, responsável pelos cálculos hidráulicos de Paulo Afonso I e
pela construção de seu modelo reduzido, a Companhia recebeu imigrantes de
outros países europeus após a Segunda Guerra Mundial.
A Usina Piloto, projetada e construída em grande parte por engenheiros da
Divisão de Águas do Ministério da Agricultura, foi transferida para a Chesf em
fevereiro de 1949. Instalada a 500 metros da margem direita do São Francis-
co, com aproveitamento do braço do Capuxu, a pequena hidrelétrica entrou
em operação em outubro do mesmo ano, dispondo de uma unidade geradora
com 2 MW de potência. Antes disso, os canteiros de obras foram alimentados
por grupos termelétricos e pela Usina de Angiquinho.
As escavações para as fundações das barragens tiveram início em março
de 1949. O trabalho foi quase todo manual até o final do ano, quando a Chesf
Usina hidrelétrica
Paulo Afonso Auxiliar, passou a dispor de equipamentos pesados adquiridos no exterior. Construídas
conhecida como
Usina Piloto. 1950 em concreto ciclópico e armado, as duas barragens têm extensão superior a
Chesf quatro quilômetros e altura média de dez metros.
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A construção da barragem no braço principal do São Francisco representou
o grande desafio das obras do aproveitamento hidrelétrico. O trecho a ser
vencido era relativamente estreito (130 metros no período de estiagem), mas
profundo e impetuoso. O barramento foi realizado em duas etapas por meio
de ensecadeiras celulares, seguindo um processo original concebido pelo en-
genheiro Marcondes Ferraz. A primeira compreendeu a montagem de uma
ensecadeira em torno da margem esquerda e a construção da barragem até o
meio do rio. Na segunda etapa, a Chesf isolou a outra metade do braço prin-
cipal, tendo em vista seu completo fechamento e o término da construção da
barragem.
A montagem da primeira ensecadeira foi feita com o auxílio de um cai-
xão metálico flutuante, utilizado como anteparo móvel contra a correnteza.
O caixão tinha a forma aproximada de um navio e funcionou como elemento
tranquilizador do caudal, facilitando a cravação das estacas da ensecadeira.
Escavação e concretagem
de barragem. Junho 1950
Chesf
46
47
48
49
O presidente João Foi uma aclamação imensa, aquele foguetório, alegria, todo mundo rin-
Café Filho discursa na
inauguração da Usina do, uma coisa extraordinária. Aquela gente toda que estava ali, gente
de Paulo Afonso I.
Janeiro 1955
pobre, gente modesta, entrou na parte seca (...) o povo desceu e apa-
Chesf nhou os peixes com a mão (...) um daqueles cassacos, daqueles ope-
rários que trabalhavam descalços e praticamente nus, só com calção,
subiu no mastro, pegou a bandeira brasileira e atravessou a pé o rio
com as cores do Brasil. (Jucá, 1982, p. 86-88)
53
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55
Operários na escavação As obras de Paulo Afonso II e das linhas de transmissão do primeiro plano
da caverna da casa
de máquinas da Usina de expansão da Chesf contaram com recursos do Fundo Nacional de Eletrifica-
de Paulo Afonso II.
ção, empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE)
Chesf
e financiamento de 15 milhões de dólares do Export and Import Bank (Exim-
bank). Diversos convênios para construção de linhas e subestações foram fir-
mados com governos estaduais, prefeituras municipais e organismos federais,
como a Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), criada em 1948, e a Supe-
rintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), fundada em 1959,
importante aliada da Companhia na missão de promover a industrialização da
região.
O empreendimento de Paulo Afonso II exigiu basicamente a construção da
tomada d’água e da casa de força da usina projetada para abrigar seis unida-
des geradoras. A primeira unidade de 75 MW entrou em operação em dezem-
bro de 1961, quando o sistema elétrico da Companhia já enfrentava uma séria
sobrecarga.
A REORDENAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO E A CRIAÇÃO DA ELETROBRAS
Montagem de torre de
linha de transmissão de
220 kV. Agosto 1952
Chesf
60
Tomada d’água Em agosto de 1964, no primeiro ano do governo chefiado pelo general
da Usina de Boa
Esperança (PI/MA) Humberto Castello Branco (1964-1967), a área de atuação da Chesf foi am-
Chesf pliada pelo Decreto nº 54.160, passando a ser delimitada por um círculo de
700 km de raio com centro em Paulo Afonso. Com esse redimensionamento,
todos os municípios do Rio Grande do Norte e da Paraíba e a grande maioria
dos municípios do Ceará (entre os quais, Fortaleza), Piauí (inclusive Teresina)
e Bahia (notadamente Vitória da Conquista e Ilhéus) foram incorporados à sua 61
área de atuação.
Em janeiro de 1965, a energia de Paulo Afonso chegou a Fortaleza com a
entrada em funcionamento da linha Milagres-Fortaleza em 230 kV, com quase
400 km de extensão. No início de 1969, o sistema da Chesf alcançou o Piauí:
a cidade de Parnaíba, a segunda maior do estado, passou a ser atendida com
energia de Paulo Afonso, gerada a 1.091 km de distância. Em 1970, as linhas
de transmissão da Companhia ultrapassaram a marca dos 10 mil quilômetros
de extensão.
A área de atuação da Chesf foi novamente ampliada em maio de 1973. Por
determinação da Eletrobras, a empresa encampou a Companhia Hidro Elétrica
de Boa Esperança (Cohebe), subsidiária da holding federal, responsável pela
construção da Usina de Boa Esperança no rio Parnaíba, no sudoeste do Piauí,
e do sistema de transmissão associado à hidrelétrica. Inaugurada em abril de
1970, com duas unidades geradoras com 54 MW, Boa Esperança supria diver-
sas cidades do Maranhão e Piauí, incluindo as capitais São Luís e Teresina. Em
1974, a energia da Chesf beneficiava 2.134 localidades nordestinas, entre as
quais 1.046 das 1.375 sedes municipais existentes na região.
A capacidade geradora da empresa teve um crescimento bastante signi-
ficativo, atingindo o patamar de 1.839 MW em 1974. Esse crescimento foi
assegurado fundamentalmente pela ampliação do Complexo Hidrelétrico de
Paulo Afonso, com a conclusão das usinas de Paulo Afonso II e Paulo Afonso III.
A instalação das seis unidades geradoras de Paulo Afonso II, totalizando
480 MW, foi concluída em 1967. O pleno aproveitamento de suas máquinas foi
garantido pelo reservatório da barragem de Três Marias (MG), construída no
curso superior do São Francisco pela Cemig. Formado em 1961, o reservatório Caminhões da Chesf
transportam peças
de Três Marias elevou a descarga mínima do rio no período de estiagem, con- da terceira unidade
geradora da Usina de
tribuindo decisivamente para o atendimento das necessidades energéticas da Paulo Afonso II. [1964]
Chesf até a inauguração da barragem de Sobradinho, em 1978. Chesf
62
63
Casa de força da
Usina de Paulo Afonso
A construção da terceira usina do complexo hidrelétrico teve início em
III. Severino Silva 1966. O projeto original foi aprimorado com o avanço da tomada d’água em
Chesf
relação às demais, o que permitiu melhor rendimento de altura e queda. A
Usina de Paulo Afonso III foi dimensionada para operar com quatro unidades
de 216 MW. Duas entraram em funcionamento em 1971, colocando a Chesf
no seleto grupo de empresas geradoras brasileiras com mais de um milhão de
quilowatts de potência instalada. Em 1974, a Companhia concluiu a monta-
gem do conjunto de máquinas da hidrelétrica, que atingiu assim a capacidade
de 864 MW. Na época, as três usinas de Paulo Afonso, totalizando 1.524 MW
de capacidade instalada, constituíam o maior conjunto energético do país.
Em escala mais modesta, a incorporação de usinas de outras empresas
também contribuiu para o aumento do parque gerador da empresa. A mais
importante, sem dúvida, foi a hidrelétrica de Boa Esperança, da Cohebe, que
permitiu à Companhia assumir o suprimento de energia aos estados do Ma-
ranhão e Piauí.
Também foram incorporadas as hidrelétricas de Bananeiras (9 MW), Funil
(30 MW), Curemas (4 MW) e Araras (4 MW). As usinas de Bananeiras e Funil
passaram ao controle da Chesf mediante entendimento com a Companhia de
Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), ao passo que as pequenas centrais
de Araras e Coremas foram recebidas do Departamento Nacional de Obras
Contra Secas (DNOCS).
Bananeiras era uma das mais antigas hidrelétricas em operação na região
Nordeste. Inaugurada em 1920 pela Companhia Brasileira de Energia Elétrica
(CBEE) e posteriormente transferida para a Coelba, a usina foi instalada no rio
Paraguaçu, no Recôncavo Baiano. Adquirida pela Chesf em 1967, integraria o
sistema elétrico da empresa até 1981, quando foi desativada em virtude da
construção da barragem de Pedra de Cavalo.
A Usina de Funil foi construída no rio das Contas, em Ubaitaba (BA) pela
Centrais Elétricas do Rio das Contas (CERC), empresa constituída em 1954 sob
o controle do governo baiano. Inaugurada em 1962, a hidrelétrica foi trans-
ferida para a Coelba seis anos depois. Adquirida pela Chesf em 1970, integra Usina de Funil (BA)
desde então o seu parque gerador. Chesf
64
A Usina de Curemas, localizada às margens do rio Piancó, em Coremas
(PB), teve suas obras iniciadas em 1939 pelo DNOCS. Concluída apenas em
1957, foi incorporada pela Chesf em 1969. A usina é suprida pelos açudes
públicos de Coremas (Estevam Marinho e Mãe D’Água), no rio Piancó, e o de
Mãe D’Água, no rio Aguiar, interligados por um canal.
A Usina de Araras está localizada em Varjota (CE), distante 60 km da cida-
de de Sobral. Sua construção, iniciada em 1956 pelo DNOCS, chegou ao fim
somente em 1967. Dois anos depois, a pequena central foi incorporada pela
Chesf. A hidrelétrica é suprida pelo açude público Paulo Sarasate, que por
sua vez é abastecido pelo rio Acaraú de regime não perene.
A termeletricidade desempenhou um papel secundário na expansão do
sistema gerador e na estratégia operacional da Chesf. Mesmo assim, o parque
térmico da empresa cresceu, embora várias usinas tenham sido desativadas.
Em 1967, a Companhia incorporou as 16 unidades geradoras a diesel da
termelétrica da Conefor em Fortaleza, somando 23 MW. Seis unidades da
usina foram cedidas ao governo do território do Amapá em 1968 e as dez
restantes foram transferidas para São Luís em 1978 e, em seguida para Im-
peratriz (MA).
Em 1973, uma usina térmica flutuante adquirida nos Estados Unidos pela
Eletrobras foi cedida à Chesf para reforço do atendimento de ponta de Sal-
vador. Tratava-se de uma usina a gás com 120 MW de potência. Atracada no 65
porto de Aratu, esta usina serviu à capital baiana até a entrada em funcio-
namento da primeira máquina da termelétrica de Camaçari em 1979, sendo
transferida, em seguida, para Manaus.
A par das grandes obras em geração e transmissão, a Chesf promoveu a
instalação de centenas de subestações para atendimento de pequenas con-
cessionárias e prefeituras com energia de Paulo Afonso.
Na verdade, a grande maioria das pequenas concessionárias municipais
nordestinas foi absorvida pelas companhias estaduais, seguindo uma ten-
dência dominante em todo o país. Além disso, a presença do poder público
nos serviços de energia elétrica do Nordeste tornou-se ainda mais acentua-
da com a compra das concessionárias do grupo Amforp pela Eletrobras em
novembro de 1964. A transação incluiu a Companhia Força e Luz do Nor-
deste do Brasil, a Pernambuco Tramways and Power Ltd., e a Companhia de
Energia Elétrica da Bahia, posteriormente incorporadas ao domínio estadu-
al. A participação do capital privado nos serviços públicos de eletricidade da
região ficou praticamente limitada à Companhia Sul Sergipana de Eletricida-
de (Sulgipe), atuante no sul de Sergipe.
No Nordeste, o processo de organização de concessionárias públicas es-
taduais prosseguiu com a criação de três empresas: a Sociedade Anônima de
Eletrificação da Paraíba (Saelpa), em 1964, a Companhia de Eletricidade de
Pernambuco (Celpe), em 1965, e a Companhia de Eletricidade do Ceará (Co-
elce), em 1971.
Embora modesta, a atuação da Companhia de Eletrificação Rural do Nor-
deste (Cerne) merece registro. Criada em 1962 pela Sudene, a Cerne instalou
pequenas unidades diesel (com menos de 400 quilowatts) em 66 localidades
do Maranhão, Piauí, Ceará e Bahia. Em janeiro de 1964, a Chesf chegou a criar
uma subsidiária para incrementar a eletrificação rural por meio da organiza-
ção de cooperativas. Apesar do empenho pessoal do presidente Apolonio Sa-
les na constituição da Eletrificação Rural de Paulo Afonso (Erpasa), a iniciativa
não vingou, esbarrando na oposição de Mauro Thibau, ministro das Minas e
Energia do governo Castello Branco.
66
SOBRADINHO, PAULO AFONSO IV
E A INTERLIGAÇÃO NORTE-NORDESTE
68
69
72
Usina de Sobradinho Sobradinho representou um desafio à parte na história da Chesf pela com- 73
(BA). Casa de força, muro
divisor e vertedouro de plexidade e pelo grande impacto socioambiental do empreendimento. Por
superfície. Ao fundo, determinação da Eletrobras, a Companhia criou uma superintendência com
o grande lago. 1983
Chesf plenos poderes e o único objetivo de construir o enorme reservatório. Para
chefiá-la, foi escolhido o engenheiro Eunápio Peltier de Queiroz, ex-deputado
federal pela Bahia, responsável pela implantação da Usina de Funil.
As obras começaram em junho de 1973. A construção da casa de força da
barragem foi decidida no início do governo Geisel, tendo em conta as metas
do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) e as diretrizes de política
energética adotadas em função da crise mundial do petróleo. O Departamen-
to Nacional de Portos e Vias Navegáveis assumiu os custos de implantação de
uma grande eclusa de navegação.
A barragem e os diques ficaram prontos em novembro de 1977. No local,
segundo o engenheiro Flavio Miguez de Mello, o rio São Francisco apresentava
margens abatidas em vale muito aberto, o que, mesmo limitando a altura da
barragem e definindo a usina como de baixa queda, gerou um reservatório de
grandes dimensões com volume acumulado de 34,1 bilhões de metros cúbicos
e extensa área alagada de 4.214 km2.
74 Em maio de 1978, a barragem foi oficialmente inaugurada pelo presidente Remoção de famílias
atingidas pela barragem
Geisel. A primeira das seis unidades de 175 MW da usina entrou em operação de Sobradinho. Abril 1976
em outubro do ano seguinte. Em 1980, a inauguração da eclusa permitiu o rei- Margarida Dantas
75
Instalada no rio das Contas, a 18 km da cidade de Jequié, a Usina de Pedra
começou a ser construída em 1971 pela Coelba em comum acordo com o
DNOCS, responsável pelas obras do reservatório. Além da geração de ener-
gia, a barragem de Pedra possibilitou a regularização do rio para controle
de enchentes, abastecimento d’água e irrigação agrícola. A construção da
usina passou à responsabilidade da Chesf em 1975. Pedra foi inaugurada em
novembro de 1978 e possui apenas uma unidade geradora de 20 MW. Não
obstante sua pequena capacidade, a hidrelétrica é importante para o supri-
mento energético da região em que se situa, pois, além de contribuir com
geração para o sistema, propicia o alívio de carga das linhas que alimentam Usina de Pedra (BA)
o estado da Bahia. Chesf
76
A Usina Termelétrica de Camaçari foi instalada no município de Dias d’Ávila,
na Região Metropolitana de Salvador, com o objetivo de atender às neces-
sidades energéticas do Polo Petroquímico de Camaçari, primeiro complexo
petroquímico planejado do pais. Foi originalmente composta por cinco tur-
bogeradores a gás, alimentados por óleo diesel, cada um com 58 MW de po-
tência. Começou a operar em 1979 e foi concluída em 1981, quando atingiu a
capacidade de 290 MW.
A Usina Termelétrica de Bongi foi instalada ao lado da subestação de mesmo
nome, em Recife, com o objetivo de atender à demanda da capital pernambu-
cana em momentos de pico e em situações de emergência. Suas cinco unidades
geradoras a gás, totalizando 142,5 MW de potência, foram instaladas em 1977.
Subestação de
Bongi. Recife
Memória da Eletricidade
77
A expansão dos sistemas de transmissão e transformação da Chesf na
década de 1970 foi igualmente expressiva. A Companhia construiu sete mil
quilômetros de linhas de transmissão, incluindo as primeiras linhas de 500
kV, implantadas a partir de Paulo Afonso em direção ao Polo Petroquími-
co de Camaçari e ao Recife. Novas subestações foram construídas e as já
existentes foram ampliadas, notadamente as próximas a grandes centros
consumidores e indústrias eletrointensivas. Em 1976, entraram em opera-
ção as subestações de Rio Largo, que abasteceria a indústria Salgema em
Alagoas, e a de Camaçari, para alimentar a Copene e a Dow Química. A linha
Paulo Afonso-Camaçari, energizada provisoriamente em 230 kV, começou a
operar em 500 kV, reforçando o abastecimento às indústrias do polo petro-
químico e à área de Salvador. Em 1978, a área do Recife também passou a
ser atendida em 500 kV.
Por outro lado, seguindo recomendação da Eletrobras, a Chesf transferiu
para as concessionárias estaduais a quase totalidade de seu sistema de sub-
transmissão em 69 kV, constituindo com essas empresas o Comitê Coorde-
nador da Operação do Nordeste (CCON). Sediado em Recife e unindo uma
grande empresa supridora às nove distribuidoras regionais, o CCON realizou
uma integração que ia da geração à distribuição de energia. Assim, o Comitê
impulsionou a grande transformação, iniciada com a transferência do sis-
78 tema de subtransmissão da Chesf para as concessionárias de distribuição.
O engenheiro Mario Fernando de Melo Santos lembra que a transferên-
cia do sistema de subtransmissão da Chesf exigiu um amplo trabalho de
treinamento e capacitação profissional:
79
CH GOVERNADOR CATU - CH
MANGABEIRA - CH
2 CH
GOIANINHA - CH
2 CH
CH
2 CH
2 CH
JACARACANGA - CH
CAMAÇARI - CH
MIRUEIRA - CH CH
5 X 60.0 MW
3 CH CA
Mapa geoelétrico do 2 CH
CH CH
3 CH
Sistema Interligado COTEGIPE - CH
Norte/Nordeste em BONGI - CH
5 X 28.0 MW
CH
Grupo Coordenador 2 CH
CH PITUAÇU - CH
para Operação 3 CH
Memória da Eletricidade
A interligação Norte-Nordeste foi concebida em 1974, tendo em conta
a possibilidade do intercâmbio permanente de energia entre os sistemas
Chesf e Eletronorte a partir da entrada em operação da Usina de Tucuruí,
primeira grande hidrelétrica da região Norte, localizada no rio Tocantins.
De fato, a construção de Tucuruí pela Eletronorte, aprovada no início do go-
verno Geisel, abriu a perspectiva de integração da Amazônia Oriental com
o sistema da Chesf.
O grande empreendimento foi composto por 1.800 km de linhas implan-
tadas desde a Sobradinho até as proximidades de Belém. Coube a Chesf a
instalação de 1.035 km de linhas de 500 kV, desde a sua usina no rio São
Francisco até Imperatriz, passando pelas subestações de São João do Piauí
e Boa Esperança, no Piauí, e Presidente Dutra, no Maranhão. A Eletronorte
cuidou da construção do restante do sistema de 500 kV nos trechos entre
Imperatriz, Marabá, Tucuruí e Vila do Conde, complementado por um siste-
ma de 230 kV para o atendimento de Belém.
80
Em outubro de 1981, a interligação entrou em operação, beneficiando
a região Norte, em especial a cidade de Belém. A Chesf passou a fornecer
energia elétrica não apenas à capital paraense, mas também ao canteiro
de obras da hidrelétrica de Tucuruí e à Vila do Conde, onde a multinacional
Albrás instalava sua fábrica de alumínio, contribuindo assim para uma subs-
tancial economia de geração térmica a óleo combustível.
O estado do Maranhão foi formalmente transferido para a área de atu-
ação da Eletronorte em 1980. A partir de janeiro de 1983, todos os compo-
nentes do sistema Chesf instalados no Maranhão foram transferidos para
a Eletronorte. Entretanto, até a entrada em operação da Usina de Tucuruí
em outubro de 1984, o Maranhão e grande parte do Pará continuaram a
receber energia da Chesf.
A expansão do parque gerador e da malha de transmissão da Chesf
acompanhou o crescimento e a diferenciação do seu mercado consumidor.
A implantação de indústrias eletrointensivas no Nordeste promoveu o cres-
cimento da participação dos consumidores industriais no total da energia
elétrica consumida de 53% em 1975 para 59% em 1981. A participação dos
consumidores industriais atendidos diretamente pela Chesf em 230 kV na
energia comercializada pela Companhia aumentou de 13,5% para 22,8% no
mesmo período. A Bahia respondia por 44% do consumo de energia elétrica
da região, vindo a seguir os estados de Pernambuco (20%), Alagoas (9,1%) 81
e Ceará (8,9%).
82
Tempos de crise e reforma
84
Obras da Usina Luiz Mesmo com atrasos no cronograma, a construção de Itaparica andou em
Gonzaga (PE). Abril 1986
Eletrobras
ritmo mais rápido que as negociações entre o MME, a Chesf, órgãos governa-
mentais e o movimento dos pequenos agricultores e trabalhadores atingidos
pela barragem. Eles lutaram pela distribuição de terras nas margens do reser-
vatório e por outros direitos, como a remuneração de 2,5 salários mínimos, 85
desde a transferência até a comercialização da primeira colheita em suas no-
vas terras. Liderado pelo Polo Sindical dos Trabalhadores Rurais do Submédio
São Francisco, o movimento ganhou amplitude, ao mesmo tempo em que o
país caminhava rumo ao restabelecimento da democracia e o setor elétrico
era instado a reformular conceitos e práticas para minimizar os impactos e
custos sociais de seus empreendimentos.
No primeiro ano do governo José Sarney (1985-1990), a Chesf iniciou a
construção dos novos centros urbanos de Petrolândia, Itacuruba, Rodelas e
Barra do Tarrachil, com infraestrutura e padrão de urbanização superior ao das
antigas cidades. Todavia, a liberação da área para a formação do reservató-
rio ainda aguardava uma solução. O impasse persistiu até dezembro de 1986,
quando mais de 200 agricultores ocuparam o canteiro de obras da usina. Após
exaustivas negociações, a Chesf apresentou a concepção definitiva do projeto
de reassentamento, entrando em acordo com as comunidades atingidas. A
Companhia assinou contrato com o Banco Mundial para o financiamento do
reassentamento da população rural e a implantação de projetos de irrigação
em convênio com a Codevasf.
86
A Usina de Itaparica entrou em operação em junho de 1988, sendo inau- Rodelas (BA), cidade
alagada pelo reservatório
gurada oficialmente em outubro do mesmo ano pelo presidente Sarney. O de Itaparica
processo de motorização foi concluído apenas no início de 1990, quando a Chesf
Notícia sobre o
racionamento no
Nordeste, publicada 87
no jornal carioca
Jornal do Brasil em 27
de janeiro de 1987
Cpdoc/JB
A Chesf participou da comissão coordenadora do racionamento, procuran-
do manter a geração hidrelétrica tão eficiente quanto possível, explorando ao
máximo os limites de transmissão e a geração térmica das usinas de Camaçari
e Bongi. Em julho de 1987, o governo federal instituiu o Programa de Emer-
gência para Suprimento de Energia Elétrica do Nordeste, assegurando recur-
sos para a motorização das quatro primeiras unidades geradoras de Itaparica,
a implantação da linha de transmissão Sobradinho-Itaparica e a conclusão do
segundo circuito da linha Tucuruí-Presidente Dutra, ambas em 500 kV, além
da instalação da termelétrica de Camaçari II e a ampliação da Usina de Boa
Esperança.
Encerrado em janeiro de 1988, o racionamento possibilitou uma redução
média do consumo de energia de 10,2% com reflexos negativos para a região e
a própria Chesf, não apenas pelo impacto em sua receita, como também pelo
aumento das despesas operacionais, decorrentes do aumento da compra de
energia da Eletronorte e de autoprodutores.
88
89
Polo Petroquímico de No final de 1988, a Chesf colocou em operação a primeira unidade da Ter-
Camaçari (BA). 1992
Braskem
melétrica de Camaçari II, vinculada ao programa emergencial criado durante
o racionamento. No ano seguinte, a usina atingiu a capacidade de 112,2 MW
com a instalação de mais cinco turbinas a gás. Camaçari II integrou o parque
gerador da Companhia durante curto período. A usina foi desativada em agos-
to de 1992 e suas máquinas foram transferidas para a Eletronorte, por orien-
tação da Eletrobras.
A ampliação da Usina de Boa Esperança foi efetivada com a instalação de
duas unidades de 63 MW, que entraram em operação em 1990 e 1991, elevan-
do a potência geradora da hidrelétrica para 237 MW.
A expansão do sistema de transmissão da Chesf entre 1984 e 1990 foi limi-
tada às obras consideradas absolutamente prioritárias, em virtude da escassez
de recursos para investimentos. A rede de transmissão alcançou a marca de
15 mil km de extensão no final do período, cabendo ressaltar que as linhas de
500 kV e 230 kV implantadas pela empresa no Maranhão foram transferidas
para a Eletronorte.
A energização do segundo circuito das linhas entre Paulo Afonso e os
centros consumidores de Recife e Salvador, em 1983, bem como das linhas
que ligavam Itaparica à Usina de Sobradinho e às subestações de Angelim
(PE) e Olindina (BA), em 1988, foram as principais realizações na tensão de
500 kV. A expansão da rede de transmissão da Chesf também decorreu da
implantação de diversas linhas de 230 kV que reforçaram o atendimento às
capitais do Ceará e do Rio Grande Norte e aos grandes consumidores indus-
triais, um dos principais segmentos do mercado da Companhia.
Outra importante iniciativa foi a conclusão, em 1990, da instalação do
esquema de alívio de carga por variação de frequência em 27 subestações,
reduzindo a carga desligada em grandes perturbações do sistema e permi-
tindo a recuperação mais rápida da frequência
A construção da Usina de Xingó, a maior da Chesf e do Nordeste, foi ini-
ciada em março de 1987 com grande atraso. O aproveitamento hidrelétrico,
situado no trecho final do cânion do rio São Francisco, foi incluído entre os
projetos de geração prioritários do Plano de Recuperação Setorial (PRS),
aprovado pelo governo Sarney em novembro de 1985. As obras foram re-
programadas em 1988 por insuficiência de recursos, prevendo-se então a
entrada em funcionamento da usina em julho de 1994. Os trabalhos foram
totalmente paralisados em 1989, sendo retomados apenas no ano seguinte
90 quando o governo federal garantiu os recursos necessários para a consecu-
ção do empreendimento.
A equipe dirigente da Chesf foi constantemente remanejada durante os
governos dos presidentes João Figueiredo e José Sarney. Em março de 1979,
o engenheiro Alberto Costa Guimarães deixou a presidência da empresa
que voltou a ser exercida pelo engenheiro Arnaldo Barbalho, mais uma vez
por um curto período. Em dezembro do mesmo ano, o engenheiro gaúcho
Luiz Carlos Menezes substituiu Barbalho no comando da Companhia. Após
a saída de Menezes em fevereiro de 1983, a Companhia foi presidida suces-
sivamente pelo economista pernambucano Rubens Vaz da Costa (até maio
de 1985), pelo advogado baiano e ex-ministro das Minas e Energia Antonio
Ferreira de Oliveira Brito (até fevereiro de 1987), pelo engenheiro baiano
José Carlos Aleluia Costa (até julho de 1989) e pelo engenheiro pernambu-
cano Genildo Nunes de Souza (até maio de 1990).
XINGÓ E AS MUDANÇAS NO SETOR ELÉTRICO
A Usina de Xingó fechou o ciclo das grandes obras da Chesf no rio São
Francisco, representando também o último grande empreendimento realiza-
do pela Companhia na vigência do modelo de organização do setor elétrico
comandado pela Eletrobras. Com efeito, o modelo institucional do setor foi
reformado na década de 1990, em conformidade com uma politica mais ampla
de redução da presença empresarial do Estado na economia e de estímulo à
competição em atividades virtualmente monopolizadas por empresas públi-
cas.
O debate sobre a reforma teve início no governo Sarney em meio ao agra-
vamento da crise fiscal do Estado e da situação financeira das empresas de
energia elétrica, praticamente sem recursos para promover a melhoria e ex-
pansão de seus sistemas. A Constituição de 1988 consagrou regras de inter-
venção do Estado na economia, mas também sinalizou importante mudança
Obras da casa de força da
Usina de Xingó (AL/(SE) no quadro institucional do setor elétrico, ao postular a obrigatoriedade das
Chesf licitações para a concessão dos serviços de utilidade pública.
91
A venda de empresas estatais e a privatização dos serviços públicos ga-
nharam força no governo Fernando Collor de Mello (1990-1992), tornando-se
marcas importantes do processo de liberalização da economia brasileira nos
anos 1990. O governo Collor instituiu o Programa Nacional de Desestatização
(PND) e tentou dar partida à privatização das empresas do grupo Eletrobras,
propugnando a venda das distribuidoras Light e Espírito Santo Centrais Elétri-
cas (Escelsa). O governo Itamar Franco (1992-1994) promoveu as primeiras
mudanças na legislação dos serviços de energia elétrica, promulgando a Lei
nº 8.631 que suprimiu o regime de remuneração garantida e a equalização
tarifária. Na sequência, o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002)
impulsionou a privatização e a transformação institucional do setor, tendo em
vista a implantação de um modelo predominantemente de mercado nas ativi-
dades de energia elétrica.
De todo modo, a expansão do sistema elétrico brasileiro nos anos 1990
continuou a depender basicamente dos investimentos públicos, não obstante
Construção da Usina de
a crescente presença do capital privado no setor em decorrência da venda das Xingó (SE/AL). [1992]
empresas estatais e também da licitação de concessões. Constran
92
No caso do Nordeste, o crescimento da capacidade geradora de energia
elétrica foi assegurado pelo aproveitamento de Xingó. Considerando a impor-
tância vital do empreendimento para o atendimento do mercado nordestino,
o governo Collor autorizou a retomada da obra em junho de 1990. Essa deci-
são foi tomada em meio à escalada da crise financeira do setor elétrico que
acarretou a paralisação ou o adiamento de vários projetos de geração e trans-
missão do grupo Eletrobras. Os escassos recursos financeiros da holding foram
canalizados quase integralmente para Xingó.
A usina está situada a montante das sedes municipais de Piranhas (AL) e
Canindé do São Francisco (SE), no trecho final do cânion do São Francisco, a
65 km a jusante de Paulo Afonso e a 179 km da foz do rio. O local do aprovei-
tamento já era conhecido da Chesf desde 1956. Na ocasião, a empresa norte-
-americana Kaiser Aluminium considerou a possibilidade de construção de
uma usina no local mais estreito do cânion, perto da foz do riacho Xingozinho,
Cidade de Piranhas tendo em vista o suprimento de energia para uma fábrica de alumínio a ser
(AL). Janeiro 2016
Klecia Cassemiro
instalada na região. A Kaiser entabulou entendimentos com a Chesf sobre o
Blog Fui Ser Viajante valor das tarifas, mas acabou desistindo do empreendimento.
93
Estudos desenvolvidos pela Chesf e pela Eletrobras confirmaram as privile-
giadas condições do aproveitamento do Xingó e o seu baixo custo de implan-
tação. O projeto da usina previu a instalação de seis unidades de 500 MW,
totalizando 3.000 MW, com possibilidade de acréscimo de quatro unidades
numa segunda etapa, perfazendo a capacidade de 5.000 MW.
A hidrelétrica conta com uma barragem com 145 metros de altura, ver-
tedouro na margem esquerda, quatro túneis escavados na margem direita,
onde também está localizada a casa de força. Em junho de 1991, no ano se-
guinte à retomada das obras, a Chesf realizou a operação de fechamento do
rio que passou a correr pelos túneis de desvio. Em junho de 1994, teve iní-
cio o enchimento do reservatório, inteiramente encaixado no cânion do São
Francisco, com 60 km2 de superfície e volume de acumulação de 3,8 bilhões
de metros cúbicos. Em contraste com Sobradinho e Itaparica, que exigiram o
remanejamento de numeroso contingente populacional, o aproveitamento de
Xingó atingiu um total de apenas 18 famílias, inundando áreas de pouca ou
nenhuma atividade agropecuária. Além de assegurar a navegabilidade do São
Francisco no trecho entre a usina e Paulo Afonso, o reservatório facilitou o uso
de sistemas de irrigação na região.
Projeto Massangano:
melão plantado em
94 área irrigada no vale do
São Francisco. 1981
Kim-Ir-Sen Pires Leal
Montagem de gerador da
Usina de Xingó (SE/AL)
Chesf
96
Torres de transmissão e Em março de 1999, as usinas e a rede básica de transmissão da Chesf pas-
subestação elevadora da
Usina Luiz Gonzaga (PE) saram a integrar o Sistema Interligado Nacional (SIN), em decorrência da im-
Chesf plantação da linha Norte-Sul em 500 kV que estabeleceu a conexão entre os 97
sistemas interligados Norte/Nordeste e Sul/Sudeste/Centro-Oeste, coroando
um longo processo de interligação dos sistemas elétricos do país.
Em maio do ano seguinte, a Chesf completou a instalação do sistema de
transmissão em 500 kV associado à Usina de Xingó, assegurando condições
satisfatórias para o escoamento de energia da hidrelétrica. Ainda em 2000,
a Companhia colocou em operação o circuito de 500 kV entre a subestação
Presidente Dutra (MA) e Fortaleza, com 700 km de extensão. Além de melho-
rar o atendimento à carga da capital cearense, o empreendimento elevou a
capacidade da interligação Norte/Nordeste em 1.000 MW. No ano seguinte,
foi concluída a mudança de 230 kV para 500 kV entre as subestações de Luiz
Gonzaga (PE) e Milagres (CE), possibilitando um novo eixo de transmissão em
500 kV para o atendimento dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí
e Paraíba.
A Chesf também investiu em projetos de pesquisa e de geração de energia
a partir de fontes não convencionais, como as energias solar e eólica, tendo
em conta a crescente preocupação com a questão ambiental e o uso racional
de recursos energéticos.
No campo da energia solar, a Companhia instalou uma rede de estações
solarimétricas no Nordeste, com o apoio da Universidade Federal de Pernam-
buco (UFPE), e colaborou na edição do primeiro Atlas Solarimétrico do Brasil,
publicado em 2000. O Atlas identificou o alto índice de radiação solar no Nor-
deste, notadamente no vale do São Francisco, com valores comparáveis às
melhores regiões do mundo.
Junto com a Coelce e com o apoio do projeto Eldorado do governo alemão,
a Chesf participou da construção do parque eólico de Mucuripe, em Fortaleza,
composto por quatro turbinas de 300 kW de potência cada uma. Inaugurado
em dezembro de 1996, o empreendimento tinha por finalidade avaliar o uso
da tecnologia de aerogeradores na região. Desativado em 2000, o parque foi
posteriormente repotenciado, passando a contar com quatro aerogeradores
de 600 kW.
Durante os anos 1990, a Chesf foi comandada sucessivamente por quatro
presidentes: o engenheiro pernambucano Marcos José Lopes, que ocupou o
posto de maio de 1990 a dezembro de 1992, e, na sequência, o engenheiro
maranhense José Antonio Muniz Lopes (até maio de 1993), o advogado ala-
goano Júlio Sérgio de Maya Pedrosa Moreira (até outubro de 1997) e o enge-
Parque eólico de
nheiro pernambucano Mozart de Siqueira Campos Araújo, que permaneceria Mucuripe (CE). [1996]
à frente da empresa até janeiro de 2003. Chesf
98
A REFORMA SETORIAL E A CRISE ENERGÉTICA DE 2001
suas controladoras.
100
Notícia sobre o leilão
de privatização
da Companhia de
Eletricidade do Estado da
Bahia (Coelba) publicada
pelo jornal paulista
Gazeta Mercantil em
1º de agosto de 1987
Infoener - Sistema de
Informações Energéticas
104
Grandes e pequenos consumidores realizaram um notável esforço para
cumprir as metas de redução de consumo, contribuindo decisivamente para
o êxito do programa de racionamento. A geração própria da Chesf em 2001
registrou queda de 25% em comparação com o ano anterior devido ao baixo
nível de armazenamento de seus reservatórios, atendendo 71,8% da deman-
da regional de energia, enquanto 28,2% vieram de compras a terceiros. A
hidrelétrica de Tucuruí foi essencial para manter em 20% o racionamento no
Nordeste, atendendo a cerca de um quinto do mercado regional.
Além da administração do racionamento, a GCE coordenou a elaboração
de plano de obras emergenciais para aumentar a oferta de energia elétrica no
país, revendo as restrições de investimentos das empresas estatais. A Chesf
obteve autorização para modernizar e ampliar a termelétrica de Camaçari e
construir o segundo circuito da linha Presidente Dutra-Teresina. Devido ao ca-
ráter emergencial da linha, o governo abriu mão da exigência legal de licitação
pública para a contratação do empreendimento.
Em setembro de 2002, a Chesf teve participação destacada no primeiro lei-
lão de venda da energia elétrica liberada dos contratos iniciais das geradoras
federais. Responsável por grande parte das transações do certame, a Compa-
nhia firmou, pela primeira vez, contratos de venda de energia com concessio-
nárias de fora da região Nordeste e ampliou sua clientela para um total de 38
agentes, entre empresas distribuidoras, consumidores industriais e agentes 105
comercializadores.
Ao final de 2002, a Chesf contava com 14 hidrelétricas e duas termelétri-
cas, perfazendo uma potência instalada de 10.703 MW. Seu sistema de trans-
missão era composto por 92 subestações e 18.023 km de linhas em tensões de
até 500 kV, abrangendo os estados do Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí.
A Companhia respondia por 84,6% da capacidade instalada de energia elé-
trica do Nordeste que totalizava 12.650 MW, incluindo 647 MW de autopro-
dutores. A região contava com 10.306 MW de origem hidráulica, dos quais
somente 37 MW não integravam o parque gerador da Chesf, e 2.344 MW de
origem térmica, dos quais 434 MW pertencentes à Companhia.
106
Novos desafios no século XXI
108
A Lei nº 10.848 também determinou a retirada da Eletrobras e suas em-
presas controladas Chesf, Furnas, Eletrosul e Eletronorte do Programa Na-
cional de Desestatização (PND), eliminando assim um dos principais óbices
para a retomada dos investimentos do grupo Eletrobras na expansão de
seus sistemas. De imediato, porém, as empresas federais foram impedidas
de participar como sócias majoritárias nos leilões de novas usinas e linhas
de transmissão.
Liderada pela ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff, a reforma foi
implantada num período de dificuldades para a maioria das empresas gera-
doras e distribuidoras, em função do racionamento de 2001 e seus reflexos
negativos no setor elétrico. No início do governo Lula, as geradoras da Ele-
trobras, notadamente a Chesf e Furnas, acumularam volumosas sobras de
energia, em virtude da retração da economia e da liberação dos contratos
iniciais firmados com as distribuidoras ao tempo do governo Fernando Hen-
rique Cardoso.
Em dezembro de 2004, a Chesf participou do primeiro leilão de energia
realizado sob a égide do novo marco regulatório do setor elétrico. Coorde-
nado pela CCEE, o leilão contou com a participação de 53 empresas – 35
compradoras e 18 vendedoras – e negociou 17 mil MW médios de energia
proveniente das usinas que entraram em operação antes de 2000. De acordo
com o modelo de pool adotado pelo governo federal, a energia foi adquirida 109
em conjunto por todas as distribuidoras e depois repartida proporcional-
mente entre essas empresas, conforme suas declarações de necessidade.
A Chesf vendeu um total de 3.962 MW médios, equivalentes a 21,7% do
montante negociado no certame, com preços considerados baixos pelo mer-
cado, fechando contratos de oito anos de duração para entrega de energia
nos três anos seguintes. Nomeado presidente da Companhia no início do go-
verno Lula, o engenheiro pernambucano Dílton da Conti Oliveira considerou
positivo o resultado do leilão, declarando que a venda de energia com preço
médio 6% abaixo dos contratos iniciais era preferível à descontratação.
Adicionalmente, a Chesf buscou aumentar sua atuação no mercado livre,
firmando contratos com consumidores de diversos segmentos industriais.
Em 2004, a Companhia teve participação em 16 leilões privados, com ne-
gócios efetivados em seis deles, onde vendeu 533 MW médios para comer-
cializadoras e consumidores livres, incluindo a exportação de até 350 MW
médios de energia para a Argentina por um período de três meses, consti-
tuindo-se este o primeiro negócio internacional feito pela Chesf.
EXPANSÃO DA ÁREA DE ATUAÇÃO
UHE JIRAU
20% CHESF 3.750 MW
UHE DARDANELOS
24,5 CHESF 261 MW
Mapa de localização Entre 2001 e 2010, a Chesf implantou 750 km de linhas de transmissão em
das quatro hidrelétricas
construídas na região 500 kV e 230 kV no Nordeste, contribuindo diretamente para a expansão da
Amazônica com a malha de transmissão regional. A par dos investimentos em instalações de sua
participação da Chesf
Memória da Eletricidade propriedade exclusiva, a Companhia investiu em novos empreendimentos de
geração e transmissão, notadamente fora do Nordeste, ampliando de forma
significativa o seu raio de atuação e a sua estrutura de negócios, por meio de 111
participações em Sociedades de Propósito Específico (SPEs).
No segmento de transmissão, cumpre destacar primeiramente a duplica-
ção da segunda linha da interligação Norte-Nordeste em 500 kV entre Presi-
dente Dutra, Teresina e Fortaleza, com o emprego da tecnologia da Linha de
Potência Natural Elevada (LPNE) e significativa redução de custos. O segundo
circuito da linha Presidente Dutra-Teresina, com 208 km de extensão, foi insta-
lado em caráter emergencial pela Companhia e entregue à operação em 2003.
A linha Teresina-Fortaleza, com 546 km, foi duplicada pela empresa Sistema
de Transmissão do Nordeste (STN), composta pela Chesf e pela Companhia
Técnica de Energia Elétrica (Alusa). O consórcio entre a estatal federal e a Alu-
sa venceu a concorrência para construção e exploração da linha com o maior
deságio oferecido no leilão de transmissão de setembro de 2003. Constituída
com 49% de participação acionária da estatal federal, a STN levou a cabo o em-
preendimento em janeiro de 2006. Os novos circuitos de 500 kV nos trechos
Presidente Dutra-Teresina-Fortaleza reforçaram a interligação Norte-Nordes-
te, possibilitando maior transferência de excedentes de energia do Norte para
o mercado nordestino.
Em 2005, a Chesf integrou o consórcio de empresas que ofertou o lance Torre da linha
de transmissão
vencedor da concessão para explorar o conjunto de linhas e subestações do Milagres-Tauá (CE)
112 terceiro circuito de 500 kV da interligação Norte-Sul no trecho entre Colinas Chesf
114
No primeiro leilão, a Chesf integrou o grupo liderado pela construtora Ca-
margo Corrêa, perdendo a disputa para o consórcio formado por Furnas, Ce-
mig, Odebrecht, Andrade Gutierrez e um fundo de investimentos. No leilão de
Jirau, a Companhia participou do consórcio vencedor. O direito de exploração
da usina, com capacidade instalada de 3.300 MW, foi arrematado pelo Con-
sórcio Energia Sustentável do Brasil, liderado pela empresa franco-belga GDF
Suez (50,1%), com a participação da Chesf (20%), Eletrosul (20%) e Camargo
Corrêa (9,9%). O lance vencedor de R$ 71,40 por megawatt-hora de Jirau foi
menor que o de Santo Antônio, não obstante a maior complexidade logística
do empreendimento (localizado a 120 km de Porto Velho, enquanto Santo An-
tônio está a apenas cinco quilômetros da capital estadual) e a necessidade de
construção de uma linha para conexão com a rede básica de transmissão. Da
energia gerada pela usina, 70% no mínimo foram destinados ao mercado cati-
vo das distribuidoras, sendo o restante destinado ao mercado livre com tarifa
a ser negociada com o consórcio.
Jirau foi concebida como usina a fio d’água, com reservatório de área pou-
co maior que a inundada naturalmente nas cheias do rio Madeira. As obras
começaram em junho de 2009, quando a licença de instalação foi concedida
pelo Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Em abril de 2012, a Aneel aprovou a ampliação de sua capacidade instalada
para 3.750 MW com o acréscimo de seis unidades geradoras às 44 inicialmen- 115
te previstas, todas do tipo bulbo com 75 MW de potência unitária. O projeto
com duas casas de força, uma em cada margem, tirou partido da existência
de duas ilhas localizadas em meio ao trecho do rio Madeira onde a usina foi
implantada.
A hidrelétrica entrou em operação comercial em setembro de 2013, com-
pletando três anos depois a instalação de suas 50 turbinas. A Chesf e a Ele-
trosul permaneceram com 20% de participação no capital social da Energia
Sustentável do Brasil (ESBR). Já a participação da GDF Suez, atual Engie, foi
ampliada para 60% com a compra da fatia da Camargo Correa em 2012, sendo
reduzida em seguida para 40% em decorrência da venda de 20% de ações para
a Mizha Participações, subsidiária da empresa japonesa Mitsui.
A Chesf também assegurou participação no sistema de transmissão para
escoamento da energia gerada no Complexo do Rio Madeira, integrando um
dos consórcios vencedores do leilão realizado em novembro de 2008. A dis-
puta foi marcada pela escolha da corrente contínua como opção tecnológica
para o tronco de transmissão entre Porto Velho e Araraquara (SP), composto
por duas linhas com aproximadamente 2.350 km de extensão. Um dos circui-
tos ficou com o consórcio formado por Chesf e Furnas em associação com a
Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP), enquanto o
outro foi arrematado pelo consórcio composto pela Eletronorte e pela Eletro-
sul, juntamente com a Andrade Gutierrez e a empresa espanhola Abengoa.
A Companhia integralizou 24,5% do capital da empresa Interligação Elé-
trica do Madeira (IE Madeira), responsável pela construção e exploração da
linha de corrente contínua em 600 kV com origem em Porto Velho e término
em Araraquara e de duas subestações, compostas pela estação retificadora de
corrente alternada para corrente contínua 500/600 kV, localizada na subes-
tação coletora de Porto Velho, e da estação inversora de corrente contínua
para corrente alternada 600/500 kV, localizada na subestação Araraquara 2.
A CTEEP integralizou 51% do capital da IE Madeira e Furnas a parcela restante
Instalação da estação
de 24,5%. inversora de Araraquara
Mais extensa linha de transmissão em corrente contínua do mundo, a linha (SP), integrante do
sistema de transmissão
da IE Madeira entrou em operação em agosto de 2013, assegurando o início de energia do Complexo
do Rio Madeira. 2012
do escoamento de energia das hidrelétricas do Complexo do Rio Madeira para Araraquara Transmissora
a região Sudeste. de Energia
116
Trecho da linha de Interligação Tucuruí-Macapá-Manaus
transmissão Oriximiná-
Itacoatiara, integrante da
Interligação Tucuruí-
Macapá-Manaus. Em 2008, a Chesf, a Eletronorte e a Abengoa constituíram a empresa Ma-
Programa de Aceleração naus Transmissora de Energia, concessionária responsável pela implantação
do Crescimento (PAC)
de parte das linhas e instalações da Interligação Tucuruí-Macapá-Manaus, lei-
loadas em junho do mesmo ano. Também conhecida como Linhão de Tucuruí,
a interligação foi composta por sete linhas de transmissão com extensão total
aproximada de 1.800 km e por oito subestações, responsáveis pela integração
dos sistemas elétricos de Manaus, Macapá e diversos municípios situados à
margem esquerda do rio Amazonas ao Sistema Interligado Nacional (SIN)
A interligação de Manaus com o SIN foi estabelecida por uma linha de
transmissão em circuito duplo, em 500 kV, construída a partir da hidrelétrica
de Tucuruí até a subestação Cariri, na capital amazonense, passando por 117
subestações intermediárias em Xingu (PA), Jurupari (PA), Oriximiná (PA) e
Itacoatiara (AM). O Amapá foi interligado por uma linha em circuito duplo,
em 230 kV, a partir da subestação de Jurupari.
A Manaus Transmissora de Energia, composta pela Abengoa (50,5%), Ele-
tronorte (30%) e Chesf (19,5%), cuidou da implantação das linhas entre Ori-
ximiná, Itacoatiara e Cariri, com 586 km de extensão, e das subestações de
Itacoatiara e Cariri. As demais instalações do Linhão de Tucuruí ficaram sob a
responsabilidade do grupo espanhol Isolux.
As obras da interligação só começaram em 2011 em virtude da demora na
obtenção das licenças ambientais Além de superar os desafios de engenharia
relacionados à travessia de extensas áreas alagadas e de rios de grande porte
e à ausência de infraestrutura logística, foi preciso também minimizar as inter-
ferências em áreas de vegetação nativa, unidades de conservação, terras in-
dígenas e áreas de proteção permanente. Em julho de 2013, Manaus e outros
municípios do estado do Amazonas foram integrados à rede básica de energia
do país. A conexão do Amapá com o Sistema Interligado Nacional foi concluída
em setembro de 2015.
A Hidrelétrica de Belo Monte
120
Parque eólico em Usinas Eólicas
Marcolândia (PI)
Ricardo Stuckert
Em 2002, o Brasil contava com apenas seis centrais eólicas em operação,
perfazendo a capacidade instalada de 22 MW. Os maiores parques eólicos do 121
país estavam localizados no Ceará, entre eles, o de Mucuripe, em Fortaleza,
cuja implantação foi viabilizada por um convênio de cooperação entre a Chesf
e a Companhia Energética do Ceará (Coelce).
A participação da energia eólica no mercado elétrico brasileiro cresceu sig-
nificativamente com o apoio do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas
(Proinfa), instituído em 2002, e a contratação de numerosos empreendimen-
tos eólicos em leilões realizados a partir de 2008. Centenas de parques e mais
de seis mil aerogeradores entraram em operação, notadamente no Nordeste
que se tornou o principal polo de energia eólica do país. Em dezembro de
2017, as usinas eólicas somavam 12.640 MW de capacidade instalada, colo-
cando o Brasil em nono lugar no ranking mundial dos países geradores de
energia eólica.
A Chesf contribuiu para essa notável expansão, investindo em projetos
de geração eólica e de transmissão e estações coletoras de energia eólica no
Nordeste. A partir de 2010, a Companhia assumiu participação em empre-
endimentos na Bahia, no Piauí, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte,
totalizando 884 MW de capacidade instalada.
Parque eólico de
São Pedro do Lago
em Sento Sé (BA)
Odair Oliveira
125
A Extremoz Transmissora do Nordeste (ETN) foi constituída em julho de Complexo Industrial
Portuário de Suape (PE)
2011 em associação com a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Pau- Ascom Suape
lista (CTEEP), tendo em vista a implantação de três subestações e quatro linhas
de transmissão adjacentes nos estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba.
As subestações João Câmara III (RN), Ceará Mirim II (RN) e Campina Grande III
(PB) e as linhas com quase 300 km de extensão entraram em operação com-
126 pleta em maio de 2015, favorecendo o escoamento de energia proveniente
de diversas usinas eólicas, e reforçando a interligação regional de Natal e João
Pessoa às demais áreas do país. Desde a sua constituição, a ETN foi adminis-
trada e financiada pela Chesf com recursos próprios, com a concordância da
CTEEP, que manifestou o desejo de se retirar da sociedade, alienando a sua
participação à companhia federal. Em outubro de 2017, a retirada da CTEEP
foi autorizada pela Aneel.
A Interligação Elétrica Garanhuns (IE Garanhuns) foi constituída em setem-
bro de 2011 com a participação acionária da CTEEP, objetivando a implanta-
ção e exploração da subestação Garanhuns e de um novo setor de 500 kV na
subestação Pau Ferro, localizadas em Pernambuco, assim como de oito linhas
de transmissão nos estados de Pernambuco, Alagoas e Paraíba. O empreendi-
mento levou em conta a perspectiva de substancial acréscimo na demanda da
área do Complexo Industrial e Portuário de Suape, no litoral pernambucano, e
de geração de energia eólica no Rio Grande do Norte. A IE Garanhuns iniciou
suas operações em novembro de 2015. Quatro linhas implantadas pela em-
presa com extensão de 170 km foram transferidas para a Chesf por obrigação
do contrato de concessão.
A Hidrelétrica de Sinop
129
Tal como as demais empresas geradoras do sistema Eletrobras, a Chesf par-
ticipou da gestão do Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da
Energia Elétrica – Luz para Todos (LPT), criado pelo governo Lula em 2003 com
o objetivo de universalizar o serviço público de energia elétrica no meio rural
brasileiro no prazo de cinco anos. A Chesf integrou o Comitê Gestor Nacional
do LPT e ficou responsável pela coordenação regional do programa em oito
dos nove estados nordestinos, da Bahia ao Piauí.
Coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, o programa Luz para To-
dos foi operacionalizado pela Eletrobras e executado pelas empresas distribui-
doras e cooperativas de eletrificação rural, com recursos do governo federal,
das próprias distribuidoras e dos governos estaduais, tendo como meta inicial
o atendimento de 2,1 milhões de domicílios rurais sem iluminação elétrica,
segundo o Censo Demográfico de 2000. No Nordeste, os estados com maior Crianças da comunidade
quilombola Belmonte
demanda de ligações eram a Bahia, Maranhão, Ceará e Piauí. A Chesf financiou (PI), beneficiada pelo
Programa Luz para Todos
parte dos projetos no Piauí, em virtude das dificuldades financeiras da conces-
Programa de Aceleração
sionária estadual. do Crescimento (PAC)
130
Reconhecido internacionalmente, o programa Luz para Todos ainda está
em andamento, mas já cumpriu quase integralmente a meta da universaliza-
ção da energia elétrica no meio rural brasileiro. Em 2016, alcançou a marca de
3,3 milhões de atendimentos, cabendo destacar que o Nordeste foi a região
mais beneficiada em número de ligações, com a eletrificação de 1,6 milhão de
domicílios.
O governo Lula também adotou uma série de medidas legais e administrati-
vas com o objetivo de fortalecer a holding Eletrobras e transformá-la numa su-
perestatal do setor elétrico. As mudanças foram delineadas no Plano de Trans-
formação e Fortalecimento do Sistema Eletrobras (PSTE), lançado em 2008.
No mesmo ano, os estatutos da Chesf e das empresas do grupo federal foram
alterados de modo a fortalecer a Eletrobras na relação com suas controladas,
centralizando na holding o poder de decisão quanto aos investimentos e à
composição dos consórcios nos leilões de energia. Em 2010, foi lançado o pri-
meiro Plano Estratégico Integrado do Sistema Eletrobras, unificando missão,
visão e valores das empresas do sistema. Ademais, as subsidiárias da holding
federal adotaram uma identidade visual única e nova logomarca, adicionando
o nome Eletrobras às suas denominações.
A presidente Dilma Rousseff (2011-2016) deu continuidade à política social
do governo Lula e tentou manter, sem sucesso, o ritmo de crescimento da
economia brasileira. Reeleita em 2014, a presidente iniciou o segundo man- 131
dato imersa em grave crise econômica e política que culminou com seu afas-
tamento do cargo em maio de 2016, quando o Senado autorizou a abertura
de processo de impeachment. O vice-presidente Michel Temer tomou posse
como presidente interino, sendo efetivado no cargo em agosto do mesmo ano.
Entre as empresas da Eletrobras, a Chesf foi certamente a mais atingida
pelo impacto das mudanças estruturais no setor elétrico promovidas pelo go-
verno Dilma Rousseff com base na Medida Provisória nº 579, de setembro de
2012, convertida na Lei nº 12.783, em janeiro de 2013.
A edição da MP nº 579 alterou significativamente as tarifas dos ativos mais
antigos de geração e transmissão e o funcionamento do mercado de energia
elétrica brasileiro. Seu objetivo era promover a modicidade tarifária, reduzin-
do as contas de energia do consumidor brasileiro em até 20% por meio de três
medidas: a desoneração de encargos setoriais, a antecipação da renovação
das concessões de geração e transmissão anteriores à Lei nº 8.987 de 1995
(conhecida como Lei Geral das Concessões) e o aporte de recursos da União à
Conta do Desenvolvimento Energético (CDE) para indenizar os investimentos
não amortizados das concessionárias.
Há tempos, a discussão sobre a renovação das concessões estava na pau-
ta do setor e havia grande questionamento sobre o que aconteceria com as
concessões próximas do vencimento e com a energia existente que seria des-
contratada. Basicamente, havia duas opções: licitar os ativos ou renovar a con-
cessão de forma onerosa. A presidente Dilma adotou a segunda alternativa,
anunciando a MP nº 579 como uma das iniciativas mais arrojadas de seu go-
verno para garantir a modicidade tarifária e impulsionar o desenvolvimento
do país.
A MP nº 579 estabeleceu regras para a renovação das concessões de usi-
nas e linhas de transmissão vincendas entre 2015 e 2017 que representavam
20% da capacidade instalada nacional e 80% da rede básica de transmissão,
pertencentes majoritariamente a empresas estatais. Chesf, Furnas, Cesp e Ce-
mig detinham as principais concessões de geração que expiravam no período.
As empresas puderam optar entre antecipar a renovação das concessões por
30 anos, em condições menos favoráveis, ou mantê-las com a mesma tarifa
até o fim do prazo original e a licitação para escolha do novo concessionário.
Em caso de renovação, as geradoras começariam a ser remuneradas apenas
pelas atividades de operação e manutenção (O&M), ficando isentas do risco
hidrológico, assumido doravante pelas empresas de distribuição de energia.
A remuneração dos ativos já amortizados seria excluída da tarifa, permitindo
132 assim a almejada redução dos preços da energia elétrica.
Em 3 de dezembro de 2012, a Chesf aderiu à proposta do governo. Apro-
vada em Assembleia Geral Extraordinária, essa decisão possibilitou a prorro-
gação da concessão de 87% dos ativos de geração e de 97% dos ativos de
transmissão da Companhia que venceriam em 2015. Furnas seguiu o mesmo
caminho, mas Cemig e Cesp preferiram recusar a antecipação e continuar com
as concessões de geração até a data de vencimento nas condições comerciais
originais. A adesão na geração ficou em torno de 60% do volume previsto pelo
governo. Desta forma, a energia proveniente de empreendimentos hidrelé-
tricos com concessões prorrogadas passou a ser comercializada com preços
regulados pela Aneel e montantes contratados pelo regime de cotas nas dis-
tribuidoras. A renovação das concessões de transmissão foi aceita de forma
quase unânime após importante alteração dos termos para o pagamento das
indenizações, ficando pendente a definição dos valores a serem ressarcidos.
Segundo a Chesf, os estudos que embasaram a adesão à MP nº 579 consi-
deraram a meta global de redução de custos e o impacto em investimentos e
receitas, assim como o recebimento à vista da indenização estimada em R$ 6,7
bilhões. Em princípio, as indenizações às empresas seriam pagas pelo Tesouro
ou reconhecidas na tarifa a partir de 2013, mas o governo voltou atrás, em
virtude do agravamento da crise fiscal. Os valores e a forma de pagamento da
indenização das transmissoras só foram definidos em 2016.
A Chesf renovou as concessões das hidrelétricas de Boa Esperança, do
Complexo de Paulo Afonso, de Funil, Itaparica (Luiz Gonzaga), Pedra e Xingó,
aceitando alocar toda a energia dessas usinas no regime de tarifas reguladas.
Ficaram fora desse regime apenas os ativos de geração de Sobradinho, Cure-
mas e Camaçari. A empresa não renovou as concessões das usinas Piloto e de
Araras, vincendas em julho de 2015, preferindo devolvê-las ao poder conce-
dente. Uma parcela da energia do regime de cotas foi reservada para atendi-
mento aos grandes consumidores industriais do Nordeste.
A reação negativa do mercado de capitais à MP nº 579 ocasionou forte
desvalorização das ações das empresas de energia elétrica, em especial as da
Eletrobras, que perderam metade do valor em menos de um ano. A não ade-
são das geradoras estaduais à prorrogação das concessões teve sérias conse-
quências para as empresas distribuidoras de energia elétrica que ficaram invo-
luntariamente descontratadas. Tais empresas precisaram recorrer ao mercado
de curto prazo para atender sua demanda, com preços bem mais altos. Além
disso, o governo precisou aportar mais recursos para garantir a redução das
tarifas ao consumidor. Para piorar a situação, a falta de chuvas deteriorou o
nível dos principais reservatórios do Sistema Interligado Nacional, obrigando 133
o uso intensivo das termelétricas com a consequente elevação dos preços da
energia elétrica. O governo viu-se obrigado a negociar empréstimos com ban-
cos públicos e privados para a cobertura dos custos adicionais das distribuido-
ras com compra de energia.
A Chesf, uma das empresas mais lucrativas do sistema Eletrobras, amargou
sucessivos prejuízos a partir da vigência da MP nº 579. O balanço de 2012 re-
gistrou prejuízo de R$ 5,34 bilhões, o maior da história da concessionária, re-
fletindo os ajustes contábeis decorrentes da renovação das concessões. Cum-
pre notar que a receita operacional bruta também foi recorde, da ordem de
R$ 7,6 bilhões, evidenciando que o prejuízo não decorreu de um desempenho
operacional insatisfatório.
Em 2013, o prejuízo foi de R$ 466 milhões, a despeito das medidas ado-
tadas pela empresa para adequação dos custos e despesas ao novo nível de
receitas. Para redução dos custos operacionais, a empresa lançou um plano
de incentivo ao desligamento voluntário de empregados com mais de 20 anos
de serviço. O plano recebeu a adesão de 1.354 funcionários que compunham
15% do quadro de pessoal.
O esforço de adequar a estrutura da empresa à nova realidade orçamentá-
ria prosseguiu em 2014. Um passo importante nesse sentido foi a transferên-
cia de encargos do Programa de Reassentamento de Itaparica para a Codevasf.
Além disso, a Chesf iniciou o processo de distrato da concessão da Termelétri-
ca de Camaçari, levando em conta a deterioração e saída de operação comer-
cial de quatro das cinco unidades geradoras e os elevados custos de operação
e encargos da usina. Mesmo assim, o balanço anual fechou com prejuízo de R$
1,1 bilhão. O fator decisivo para esse prejuízo foi a reversão para o resultado
dos créditos fiscais diferidos relativos ao Imposto de Renda e à Contribuição
Social em razão da ocorrência de três anos de prejuízos fiscais consecutivos.
Em 2015, o prejuízo foi da ordem de R$ 476 milhões, resultado influencia-
do pelo quadro geral de dificuldades que tomou conta da economia do país.
Entretanto, a Companhia encerrou o ano com expectativa de obtenção de
mais recursos para investimentos, em virtude da renovação dos contratos de
134
fornecimento de energia com grandes consumidores industriais celebrados na
década de 1970. Às vésperas do encerramento dos contratos, o governo fede-
ral baixou a Medida Provisória nº 677, permitindo a prorrogação dos contratos
até 2037 e criando o Fundo de Energia do Nordeste (FEN) para o financiamen-
to de empreendimentos de energia com fontes renováveis. A edição da MP em
junho de 2015 evitou que os grandes consumidores atendidos pela empresa
federal fossem obrigados a comprar energia mais cara no mercado livre. A
Chesf, por sua vez, garantiu a continuidade da concessão da Usina de Sobra-
dinho por um período adicional de 30 anos (a partir de fevereiro de 2022) e
o recebimento de recursos do FEN. Oriunda da referida MP, a Lei nº 13.182,
promulgada em 3 de novembro, previu a redução progressiva do volume de
energia fornecido aos consumidores eletrointensivos a partir de 2032, à razão
de um sexto da garantia física contratada a cada ano.
Ao longo do governo Dilma Rousseff, o posto de presidente da Chesf foi
ocupado sucessivamente por cinco engenheiros. A primeira mudança ocor-
reu em dezembro de 2011, quando Dilton da Conti deixou a presidência após
quase nove anos no exercício do cargo. Seu substituto, João Bosco de Almei-
da, comandou a empresa até outubro de 2013. Marcos Aurélio Madureira
da Silva foi presidente interino nos sete meses seguintes. Antônio Varejão
de Godoy dirigiu a Companhia entre abril de 2014 e junho de 2015. José Car-
los de Miranda Farias ocupou o cargo durante o restante do governo Dilma 135
Rousseff e nos primeiros meses do governo Michel Temer até ser substituído
pelo engenheiro Sinval Zaidan Gama em janeiro de 2017. Cumpre destacar o
mineiro Marcos Aurélio Madureira da Silva como único não pernambucano
entre os dirigentes citados.
A Chesf sustentou níveis elevados de investimento em obras de geração
e transmissão entre 2011 e 2015. Os investimentos cresceram anualmente
(declinaram apenas no último ano do período), totalizando R$ 11,4 bilhões,
dos quais R$ 6 bilhões na expansão e modernização da sua capacidade pro-
dutiva, e R$ 5,4 bilhões em aportes de recursos para Sociedades de Propó-
sito Específico (SPEs).
Os investimentos em ativos próprios tiveram a seguinte composição: R$
3,9 bilhões em obras de transmissão; R$ 1,2 bilhão em geração de energia;
R$ 460 milhões em obras de infraestrutura; e R$ 422 milhões no reassenta-
mento de Itaparica. Os investimentos em SPEs tiveram forte crescimento no
período, em função principalmente dos projetos de grande porte na região
Amazônica, chegando a ultrapassar o patamar dos investimentos em ativos
próprios em 2014.
A Companhia assumiu a responsabilidade pela execução da maioria das
obras de transmissão para o escoamento da produção dos parques eólicos
no Nordeste, notadamente dos empreendimentos leiloados em 2009 e 2010.
Grande vencedora dos leilões de transmissão para o atendimento de novos
parques eólicos, a Chesf arrematou o direito de construção e operação de 950
km de linhas e de dez subestações nos estados do Rio Grande Norte, Paraíba,
Ceará e Bahia, incluindo as Instalações de Interesse Exclusivo de Centrais de
Geração para Conexão Compartilhada (ICG). Essa modalidade de instalação
de transmissão havia sido instituída em 2008 com o objetivo de viabilizar a
expansão da geração a partir de fontes alternativas em áreas com pouca ou
nenhuma capilaridade de redes de transmissão e de subtransmissão.
A construção das linhas e subestações demorou mais que o previsto, em
virtude de dificuldades financeiras da Chesf, da morosidade dos processos de
licenciamento ambiental e do baixo desempenho de empresas contratadas.
As primeiras instalações só ficaram prontas, em notório descompasso com as
obras de geração, a partir de 2014. Neste ano, a inauguração das subestações
João Câmara II (RN), Extremoz II (RN), Igaporã II (BA), com as linhas de trans-
missão associadas, e da subestação Acaraú II (CE) viabilizou a transmissão de
energia de diversos parques eólicos no Rio Grande Norte, Bahia e Ceará. No
ano seguinte, a entrada em operação das subestações Pindaí II (BA), Igaporã III
136 (BA) e Lagoa Nova II (RN) e das linhas de transmissão associadas proporcionou
a conexão de usinas eólicas no centro-sul da Bahia e na região central do Rio
Grande do Norte.
Não obstante os problemas no segmento de transmissão, as usinas eólicas
aumentaram rapidamente sua participação na composição do parque elétrico
do Nordeste. Lá estão localizadas as “jazidas” de vento com melhores condi-
ções de aproveitamento e, por esta razão, a maioria dos projetos que partici-
param dos leilões de energia da Aneel estava situada na região. Em 2015, os
parques eólicos nordestinos atingiram a marca de 6.888 MW de potência ins-
talada, correspondente a 79% da capacidade geradora eólica nacional. O Rio
Grande do Norte liderava o ranking dos estados produtores de energia eólica,
seguido pela Bahia, Rio Grande do Sul e Ceará.
A produção eólica foi fundamental para o abastecimento de energia elétri-
ca do Nordeste no contexto da severa crise hídrica que atingiu a região a partir
de 2013. As condições hidroenergéticas do Nordeste pioraram sensivelmente
de ano para ano em decorrência das baixas afluências na bacia do rio São Fran-
cisco. O ano de 2015 registrou afluências de apenas 38% da Média de Longo
Termo (MLT) no São Francisco, sendo classificado como o mais seco da série
de 85 anos de observações. Com autorização da Agência Nacional de Águas
(ANA) e do Ibama, a Chesf reduziu a vazão mínima do reservatório de Sobra-
dinho para 900 metros cúbicos por segundo (m³/s) ante 1.300 m³/s originais, a
fim de evitar o esgotamento do principal reservatório do Nordeste e garantir o
uso múltiplo da água, principalmente o abastecimento e a irrigação.
Apesar da crise hidrológica, o Nordeste não correu risco de racionamento.
Em novembro, quando Sobradinho estava prestes a interromper toda a sua
produção, o engenheiro José Carlos de Miranda esclareceu:
Efeito da escassez de
água no entorno da
usina de Sobradinho: A geração de energia elétrica não é a maior prioridade na bacia do
formação de bancos
de areia e aumento
rio São Francisco neste momento, pois temos o Sistema Interligado
das margens do rio Nacional que nos permite fazer o intercâmbio de energia entre regi-
São Francisco. Outubro
2017. Emerson Leite ões, além da forte participação da energia eólica na matriz energé-
Tanto Expresso/Comitê tica nordestina e, também, a produção das termelétricas. (Usina de
da Bacia Hidrográfica do
São Francisco (CBHSF) Sobradinho, 2015)
137
O gráfico 1 mostra a geração de energia elétrica da Chesf entre 2004 e
2015, evidenciando a forte queda nos últimos três anos do período. Em 2015,
o volume de energia gerado pela Companhia contribuiu com apenas 28,3%
do atendimento ao submercado Nordeste, formado por todos os estados da
região, menos o Maranhão, integrante do submercado Norte. O reservatório
de Sobradinho encerrou o ano com somente 2,2% de seu volume útil.
70.000
60.000
50.000
Energia produzida (GWh)
40.000
30.000
138
20.000
10.000
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Fontes: Chesf. Relatório anual da administração, 2004-2012; Chesf. Relatório anual e de sustentabilidade, 2013-2015
Leilão de privatização
da Celg Distribuição. São
Paulo. Novembro 2016
Enel
Ainda em novembro, a Eletrobras anunciou o Plano Diretor de Negócios e
Gestão (PDNG) do período 2017/2021, contemplando investimentos de R$ 35,8
bilhões, majoritariamente direcionados para a conclusão de empreendimentos
de geração e transmissão já contratados pelas empresas do grupo. Tendo em
vista a redução do endividamento da Companhia, o plano previu a venda de
participações em SPEs não estratégicas e a privatização das seis distribuidoras
sob a gestão da Eletrobras, atuantes nas regiões Norte e Nordeste.
Em julho de 2017, a Eletrobras aprovou a transferência para a holding das
participações acionárias da Chesf, Furnas, Eletrosul e Eletronorte em 41 SPEs
com o objetivo de promover a quitação das dívidas das subsidiárias com a
holding e diminuir sua alavancagem financeira. No caso da Chesf, a decisão
envolveu as participações da Companhia nas SPEs de transmissão Integração
Transmissora de Energia (Intesa), Interligação Elétrica do Madeira (IE Madeira)
e Manaus Transmissora de Energia e nas SPE de geração eólica Pedra Branca,
São Pedro do Lago, Sete Gameleiras, Baraúnas I Energética, Mussambê Ener-
gética, Morro Branco I Energética, Vamcruz I Participações, Chapada do Piauí I
Holding, Chapada do Piauí II Holding e Eólica Serra das Vacas Holding.
O processo de reestruturação da Eletrobras e de suas empresas controla-
das considerou diversas medidas de redução de custos operacionais, inclusive
do quadro de pessoal por meio de planos de incentivo à aposentadoria. Com a
142 saída de 439 funcionários que aderiram ao Plano de Aposentadoria Extraordi-
nária (PAE), a Chesf encerrou o ano com 4.100 empregados.
O MME, por seu turno, esboçou uma proposta de reforma do marco legal
do setor elétrico brasileiro, em extenso documento apresentado para consulta
pública em julho de 2017. Entre as principais mudanças propostas, destaca-
vam-se a redução dos limites para acesso ao mercado livre; a separação entre
os produtos energia e lastro; a implementação de tarifas de eletricidade com
diferenciação binômia e horária para todos consumidores até 2021; e o fim do
regime de cotas das hidrelétricas já amortizadas e posterior venda das conces-
sões. Numa eventual privatização das usinas no regime de cotas, as empresas
do sistema Eletrobras perderiam um terço da sua potência total.
Em agosto, o governo federal tornou público o propósito de promover a
privatização da Eletrobras. A decisão foi anunciada pelo ministro Fernando
Coelho Filho, titular da pasta de Minas e Energia, sendo imediatamente refe-
rendada pelo Conselho Executivo do Programa de Parcerias de Investimentos
(PPI). Em 29 de dezembro, o governo editou a Medida Provisória nº 814, al-
terando a legislação do setor elétrico com o objetivo de facilitar tanto a pri-
vatização da Eletrobras como a venda das distribuidoras do Norte e Nordeste
administradas pela holding federal. Em decorrência da revogação de disposi-
tivo de lei aprovado no governo Lula, Eletrobras, Chesf, Furnas, Eletronorte e
Eletrosul voltaram ao Programa Nacional de Desestatização (PND).
Em 19 de janeiro de 2018, o presidente Michel Temer assinou projeto de
lei com proposta de privatização de Eletrobras, prevendo a desestatização da
empresa em operação de aumento do capital, com limitação de 10% do poder
de voto de qualquer acionista ou grupo de acionistas que participar da oferta
pública. O Projeto de Lei nº 9.463 sobre a desestatização da Eletrobras tam-
bém previu que parte dos recursos provenientes da descotização das usinas da
Chesf seja utilizado no programa de revitalização do rio São Francisco.
Ao completar 70 anos de existência, a Chesf se encontra certamente no
limiar de uma nova etapa de sua história, de contornos ainda indefinidos, mas
certamente tão importante para o Nordeste e o país como as etapas anterio-
res, em que se projetou como uma das maiores e mais bem-sucedidas empre-
sas de energia elétrica do Brasil.
Parque eólico no
Complexo VamCruz (RN)
Chesf
143
144
Índice onomástico
A
ACKERMAN, Adolph John 47 COSTA, José Ribamar Ferreira de Araújo 85, 86, 90
ALMEIDA, João Bosco de 135 COSTA, Rubens Vaz da 90
ARAÚJO, Mozart de Siqueira Campos 98 CUNHA, Euclides Rodrigues Pimenta da 44
AZEVEDO, Francisco de Paula Ramos de 21
D
B D. PEDRO II
BALANÇA, André Jules 45 ver BOURBON, Pedro de Alcântara João Carlos Leopol-
BARBALHO, Arnaldo Rodrigues 69, 90 do Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio
BARRETO, Emídio Dantas 23 Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e
BERENHAUSER JÚNIOR, Carlos 35 DANTAS, Margarida 74
BERNARDES, Nilo 52, 53 DUTRA, Eurico Gaspar 10, 34, 37
BORELLA, Luigi 22
BOURBON, Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador F 145
Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Ga- FALCÃO FILHO, André Dias de Arruda 69
briel Rafael Gonzaga de Bragança e 20 FARIAS, José Carlos de Miranda 135, 137
BRANCO, Castello (governo) 66 FERRAZ, Octávio Marcondes 9, 35, 37, 38, 42, 46, 47, 49, 54,
BRANDÃO, Francisco Pinto 21 59
BRITO, Antonio Ferreira de Oliveira 90 FIGUEIREDO, João Baptista de Oliveira 72, 90
FRANCO, Itamar (governo) 92, 95
C
CAFÉ FILHO, João Fernandes Campos 49 G
CARDOSO, Fernando Henrique (governo) 92, 99, 102, 109 GADELHA, Hélio 32
CARDOSO, Fernando Henrique 95, 100 GAMA, Sinval Zaidan 135
CARVALHO, Afrânio de 34 GEISEL, Ernesto (governo) 69, 74, 80
CARVALHO, Daniel Serapião de 35 GODOY, Antônio Varejão de 135
CASSEMIRO, Klecia 93 GONZAGA, Luiz
CASTELLO BRANCO, Humberto de Alencar 61 ver NASCIMENTO, Luiz Gonzaga
COELHO FILHO, Fernando 142 GOODLAND, Robert James Appleby 74
COLLOR GOULART, João (governo) 59
ver MELLO, Fernando Collor de (governo) GOULART, João Belchior Marques 59
CONTI, Dílton da GOUVEIA, Delmiro Augusto da Cruz 9, 22, 23, 24
ver OLIVEIRA, Dílton da Conti GUDIN FILHO, Eugênio 32
COSTA, Artur de Souza 31 GUIMARÃES, Alberto Costa 69, 90
COSTA, Fernando de Sousa 25
COSTA, José Carlos Aleluia 90
H
HACKER, Hans 21, Q
HALFELD, Henrique Guilherme Fernando 15, 18, 19 QUADROS, Jânio da Silva 59
QUEIROZ, Eunápio Peltier de 73
J
JABLONSKY, Tibor 52, 53, 57, 58 R
REED, Oren 34
K REIDY, Richard George 21
KUBITSCHEK, Juscelino (governo) 57 ROCHA, Antônio Geraldo 25
KUBITSCHEK, Juscelino RODRIGUES, José Antônio da Fonseca 25
ver OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de ROUSSEFF, Dilma (governo) 135
ROUSSEFF, Dilma Vana 109, 131, 141
L
LEAL, José Leite Correa 30, 34 S
LEAL, Kim-Ir-Sen Pires 94 SALES, Apolonio Jorge de Faria 9, 10, 28, 30, 31, 34, 59, 66,
LEÃO, Luiz Antônio de Souza 34 69, 70, 71
LEITE, Emerson 137 SAMPAIO, Theodoro Fernandes 20
LOPES, José Antonio Muniz 98 SANTOS, Mario Fernando de Melo 78
LOPES, Marcos José 98 SARNEY (governo) 91
LULA (governo) 107, 109, 131 SARNEY
LULIA, Michel Miguel Elias Temer 12, 131, 141, 142 ver COSTA, José Ribamar Ferreira de Araújo
SCHIMMELPFENG, Leopoldo 30, 34
M SILVA, Betto 107
MÉDICI, Emílio (governo) 68 SILVA, Hélio de Macedo Soares e 32
MELLO, Fernando Collor de (governo) 92, 93, 99 SILVA, Marcos Aurélio Madureira da 135
MELLO, Flavio Miguez de 73 SILVA, Severino 72
MELO, José Antonio Feijó de 68 SOUZA, Antônio José Alves de 10, 25, 28, 29, 33, 34, 35, 36,
146
MENEZES, Amaury Alves de 59 47, 59
MENEZES, Luís Carlos 90 SOUZA, Genildo Nunes de 90
MIRANDA, José Carlos de STAHL, Theophile Auguste 18
ver FARIAS, José Carlos de Miranda STUCKERT, Ricardo 121
MONTE, João José do 21
MOREIRA, Júlio Sérgio de Maya Pedrosa 98 T
TEMER (governo) 135, 141
N TEMER, Michel
NASCIMENTO, Luiz Gonzaga 10, 86 ver LULIA, Michel Miguel Elias Temer
NEVES, Tancredo de Almeida 59 THIBAU, Mauro 66
NOVAIS, Henrique de 34
V
O VARGAS, Getúlio (governo) 9, 28
OLIVEIRA, Adozindo Magalhães de 35 VARGAS, Getúlio Dornelles 10, 29, 33, 34, 56, 59
OLIVEIRA, Dílton da Conti 109, 135 VICENZI, Paavo Nurmi de 48
OLIVEIRA, Odair 122
OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de 59
OLIVEIRA, Rezilda Rodrigues de 44
P
PENTEADO JÚNIOR, Sebastião 25
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CHESF |
ção dos 70 anos da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
(Chesf), em parceria com o Centro da Memória da Eletricidade
no Brasil, entidade cultural sem fins lucrativos, voltada para a
preservação do patrimônio histórico e da memória do setor
elétrico brasileiro.
70 ANOS DE HISTÓRIA
Chesf 70 anos de história oferece uma visão abrangente
sobre a trajetória de uma das mais importantes empresas de
70 ANOS DE HISTÓRIA
energia elétrica do país que, com todos os méritos, tanto vem
contribuindo para o desenvolvimento do Nordeste e do Brasil,
desde seus primeiros passos em 1948.