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I.

1.1. O Homem é, segundo Aristóteles, um animal político (polis = cidade), ou seja, isto

significa que para o Homem assegurar a sua sobrevivência necessita de se integrar

numa comunidade. Daí se pode dizer que o Homem é um animal eminentemente social.

A razão da sua sociabilidade corresponde às suas tendências mais profundas, em que, por

instinto e necessidade, o Homem procurou sempre na sua vivência, conviver,

comunicar, trocar experiências, conjugar esforços para satisfazer as suas necessidades e

assegurar a sua subsistência e a da sua espécie de modo a atingir a plena realização.

1.2. Dado que toda e qualquer sociedade tem uma ordem, ela tem desde o início uma

ordem jurídica que vai reger a vida em sociedade, para que se evitem conflitos, sendo que

os conflitos mais frequentes são os conflitos de interesses, cujo motivo principal é a

escassez de bens. Para conseguir evitá-los, torna-se indispensável a existência de

regras que imponham condutas aos membros da sociedade, com vista a promover também

a solidariedade de interesses. As regras que se impõem têm de ser dotadas de eficácia, ou

seja, devem ser cumpridas independentemente da vontade dos seus destinatários,

constituindo, assim, o Direito.

1.3. Da vivência em sociedade resultam ou concorrem, várias categorias

de ordens:

I- Ordem religiosa

II- Ordem moral

III- Ordem de trato social

IV- Ordem jurídica

I- A ordem religiosa - Regula as relações que se estabelecem entre o crente e Deus. As

sanções, para quem viole as normas impostas, são de carácter extraterreno. Domina o

sentimento de transcendência.

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II- A Ordem moral - Tem como profundo objetivo o aperfeiçoamento individual e só

reflexamente a ordenação social. Caracteriza-se por um conjunto de imperativos que são

impostos ao homem pela sua própria consciência ética; a sua violação, importa um reflexo de

reprovação dimanado da sua própria consciência – remorso, culpa. Ordem intra-subjetiva.

Eventualmente, uma segunda reprovação – sociedade – marginalização.

Como separar DIREITO de MORAL? Critérios: 1) Coercibilidade – as normas jurídicas

são física e organicamente suscetíveis de aplicação coerciva, as normas morais não.

2) Exterioridade – o direito parte do lado externo da existência humana, enquanto que

a moral parte do lado interno.

Nota: o objetivo/finalidade do Direito é organizar/ordenar a vida da

sociedade, enquanto que a principal finalidade da moral é o aperfeiçoamento dos

indivíduos (através do qual certamente se alcançará uma melhor convivência social).

III- Ordem de trato social - Principal objetivo – tornar mais fácil o convívio social

(normas de cortesia…) a sua violação conduz essencialmente a juízos de reprovação social

por parte da comunidade.

IV-Ordem jurídica - Trata dos aspetos fundamentais da convivência social.

Valores que visa atingir = justiça e a segurança, usando para tal as normas jurídicas.

Norma jurídica:

Instrumento de ordenação jurídica que possui uma dada estrutura e determinadas

características necessárias à ordenação da vida social.

Estrutura:

Previsão – contém uma representação de situações jurídicas futuras

Estatuição – estabelece as consequências jurídicas, caso a situação prevista se venha a

verificar

Sanção – consequência desfavorável que recai sobre quem violou a norma

Características:

Imperatividade – obriga a adoção de uma conduta

Generalidade – visa uma pluralidade indefinida de pessoas (quem)

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Abstração – contempla um certo tipo de situações

Coercibilidade – é a suscetível de imposição coativa de sanções, uma vez que o lesado

pode recorrer a tribunais para obter a reparação do dano causado

1.4. O Direito como produto cultural

O Homem vive em 2 mundos – o da natureza (criado sem a intervenção

ou inteligência do Homem, mas posto à sua disposição) e o do espírito (é construído pelo

Homem e constituído por tudo o que ele faz como manifestação do seu espírito, em que

incorpora as suas aspirações, esperança e valores).

Estes 2 mundos completam-se, porquanto a vida cultural é condicionada pela

Natureza e projeta-se sobre ela.

A cultura apresenta-se-nos como a realização de valores. O Direito enquanto obra do

espírito humano é, com efeito, um fenómeno cultural e sensível a valores. Como realidade

cultural, o Direito varia consoante o espaço e o tempo, dado que vive da sociedade e

para a sociedade, refletindo assim as tradições, mentalidades, crenças e ideologias

dominantes.

1.5. O Direito e a evolução social

O Direito é um conceito que é socialmente construído, só é compreensível num espaço e

tempo determinados, motivo pelo qual está em permanente mutação. Por isso é que o legal

ou ilegal, o lícito ou ilícito variam no tempo e no espaço, independentemente da alteração

dos termos da lei, até porque o direito existe com ou sem lei.

O direito é uma realidade histórica que evolui com os valores ideológicos dominantes de

cada sociedade, concluindo assim que as ideologias são uma das forças criadoras do direito.

As ideologias orientam a evolução das sociedades ao refletirem uma certa visão prospetiva

das mesmas. O direito incorpora os princípios ideológicos nas normas da ordem jurídica.

As grandes transformações sociais e ideológicas têm se refletido em mudanças da

estrutura jurídica dessas sociedades. A ordem jurídica de cada estado é o reflexo da

ideologia dominante, na medida em que os sistemas jurídicos são constituídos de acordo

com os valores que essa ideologia elege como os mais importantes.

O direito não pode voltar as costas à evolução da realidade social. A mudança, é nos dias

de hoje, um fator dinâmico que contribui para a evolução e o desenvolvimento das

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sociedades, sendo que o direito, como produto cultural, é influenciado pela realidade social

envolvente que lhe compete ordenar e sancionar.

A mudança social exige do Direito uma permanente adaptação face à evolução e ao

progresso nos mais variados domínios sociais, culturais e científicos. O Direito, na sua

tarefa de ordenação da sociedade, deve incorporar os fatores de inovação, de progresso e

de mudança na ordem jurídica.

É também influenciado pelas realidades económica, política e cultural da sociedade que

ordena e, por isso, tem de ser um sistema aberto que se adapte às alterações que surgem

nessas realidades.

Do ponto de vista do quotidiano do cidadão comum, a mudança social mede-se pela

qualidade de vida e pelo bem-estar que a sociedade lhe proporciona como contrapartida do

seu esforço laboral. Assim, hoje em dia, o Direito, embora se mantenha ligado aos valores

que comandam a consciência ético-jurídica da sociedade em que se insere, também se

encontra intimamente ligado a fatores de oportunidade e de progresso; daí que as leis,

surjam, atualmente, como fatores de progresso e de dinamismo da sociedade ao

regularem um conjunto de domínios da vida social que hoje podem ser considerados

como novos ramos de Direito, nomeadamente, o Direito do Ambiente, o Direito do

Consumo e o Direito da Informação.

Além disso, há um conjunto de interesses que não são individuais, mas que interferem

com a vida de todos em sociedade e que, face aos desequilíbrios provocados pelo

desenvolvimento económico e social, merecem a tutela da ordem jurídica, como são os

problemas ambientais que acima referimos. São os chamados interesses difusos (são

aqueles cuja titularidade pertence a todos os membros da sociedade, de um grupo ou de

uma classe, sem que sejam suscetíveis de apropriação individual por qualquer um daqueles

sujeitos. Estes interesses não são interesses individuais, porque o bem jurídico a que se

referem - ambiente, qualidade de vida - não é suscetível de apropriação individual, nem é

exclusivo de determinado sujeito).

2.1. O que é a personalidade jurídica?

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A personalidade jurídica consiste na suscetibilidade de uma pessoa individual ou coletiva

ser sujeito de direitos ou obrigações jurídicas. Todo o ser humano singular, por força do

princípio da dignidade da pessoa humana, que fundamenta a razão de ser da Constituição da

República Portuguesa (CRP), tem personalidade jurídica.

A personalidade jurídica das pessoas singulares adquire-se, nos termos do n.º 1 do art.º

66.º do Código Civil (CC), no momento do nascimento completo e com vida, cessando a

mesma personalidade com a morte (n.º 1 do art.º 68.º do CC), sem prejuízo da tutela de

direitos de personalidade de pessoa falecida, ofendida no seu bom nome (art.º 71.º do CC).

A personalidade jurídica de uma pessoa singular envolve a sujeição a deveres e a

titularidade de direitos, destacando-se de entre estes, os direitos de personalidade (art.º

70.º e seguintes do CC), alguns dos quais foram elevados à categoria de direitos

fundamentais pelo facto de constarem da Constituição da República: é, a título de exemplo,

o caso dos direitos à identidade pessoal, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e

reputação, à imagem, à palavra, à reserva de intimidade da vida privada e familiar,

dignidade pessoal e identidade genética (art.º 26.º da CRP).

As pessoas individuais podem ser sujeitos de quaisquer relações jurídicas, salvo

disposição legal em contrário e, por isso mesmo, dispõem de capacidade jurídica (art.º 67.º

do CC).

É também reconhecida personalidade jurídica às pessoas coletivas, ou seja, entidades ou

organizações humanas, privadas ou públicas, criadas por decisão tomada, direta ou

indiretamente, por pessoas individuais, que visam a prossecução de fins próprios ou

institucionalizados, dispondo para o efeito de capacidade de exercício, sendo titulares de

direitos ou de garantias institucionais e sujeitando-se ao cumprimento de obrigações.

As pessoas coletivas privadas organizam-se sob a forma de fundações, associações e

sociedades (art.º 157.º do CC).

As pessoas coletivas públicas gozam, igualmente, de personalidade jurídica e são

titulares de garantias institucionais. O Estado, as Regiões Autónomas, as autarquias locais,

as associações e fundações públicas, os institutos públicos e as empresas públicas são

exemplos de entidades públicas com personalidade jurídica.

2.2. Dispondo de um conjunto de regras e princípios fundamentais, que regem a

estrutura política do Estado, o direito constitucional é um ramo do direito público

estreitamente ligado à sua organização política.

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Este direito rege a atividade dos poderes públicos, contendo regras sobre a organização

da comunidade política, e estabelecendo também o sistema de governo em vigor numa

sociedade. Para além disso, prevê ainda um conjunto de regras que identificam os órgãos

políticos da sociedade, as suas competências e relações mútuas, fixando os fins coletivos

que presidem à atividade de todos os poderes e órgãos públicos.

A Constituição é o texto com carácter jurídico fundamental e onde encontramos

apresentadas essas regras e princípios que configuram o estatuto jurídico básico do

sistema político de um país.

Historicamente, o sentido que se atribui hoje à Constituição tem as suas raízes no

século XVIII com o chamado movimento constitucional, de carácter liberal, em que se lhe

atribuía um objetivo de defesa dos cidadãos face ao Estado, através da organização e

delimitação dos órgãos do poder e segundo o princípio da divisão de poderes (princípio

fundamental no Estado moderno e que estabelece uma separação do poder em poder

legislativo, executivo e judicial, atribuindo-os a órgãos distintos).

No entanto, esta conceção liberal de Constituição (protecionista) foi ultrapassada com o

decorrer do tempo e o surgimento de uma sociedade técnica de massas, em que a

competição e a diferença de interesses entre os cidadãos (por contraponto à visão liberal

da sociedade, em que os cidadãos tinham interesses homogéneos) veio a repercutir-se num

novo entendimento do conceito de Estado e de Constituição.

Assim, o Estado deixa de ser visto como máquina de poder distante da sociedade e

regida por uma lógica própria, sendo-lhe atribuídas então novas tarefas e preocupações

sociais e alargando-se desta forma o seu âmbito de atuação.

No que concerne à Constituição, esta é concebida como um compromisso e uma tentativa

de equilíbrio entre forças políticas opostas (com uma pluralidade de pontos de vista

distintos sobre o bem comum da sociedade), não se limitando a constituir o estatuto de

organização e de delimitação do poder.

Este novo sentido dado à Constituição traz consigo o elencar de um conjunto de novos

direitos sociais e de ações específicas a adotar por parte do Estado, bem como ainda um

conjunto de princípios que norteiam a vida em sociedade.

Desta forma, a Constituição é hoje vista como um instrumento conciliador, com uma

tarefa de promoção da construção da unidade política em face de uma realidade composta

por grupos sociais com interesses antagónicos.

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As regras e princípios que se inscrevem neste documento são assim o resultado de um

jogo de equilíbrio, podendo estas revestir um carácter obrigatório para a atuação dos

órgãos do poder político (normas imperativas) ou então meramente indicativo (normas

programáticas).

2.3. Os direitos fundamentais são as posições jurídicas básicas reconhecidas pelo

direito português, europeu e internacional com vista à defesa dos valores e interesses

mais relevantes que assistem às pessoas singulares e coletivas em Portugal,

independentemente da nacionalidade que tenham (ou até, no caso dos apátridas, de não

terem qualquer nacionalidade).

O Estado tem a obrigação de respeitar os direitos fundamentais e de tomar medidas

para os concretizar, quer através de leis, quer nos domínios administrativo e judicial.

Estão obrigadas a respeitá-los tanto as entidades privadas quanto as públicas, e tanto

os indivíduos quanto as pessoas coletivas.

Mesmo os cidadãos portugueses que residam no estrangeiro gozam da proteção do

Estado para o exercício dos direitos fundamentais, desde que isso não seja incompatível

com a ausência do país.

À luz da nossa Constituição, existem duas grandes categorias de direitos

fundamentais: os “direitos, liberdades e garantias”, por um lado, e os “direitos e

deveres económicos, sociais e culturais”, por outro.

Os primeiros — por ex., o direito à liberdade e à segurança, à integridade física e moral,

à propriedade privada, à participação política e à liberdade de expressão, a participar na

administração da justiça — correspondem ao núcleo fundamental da vivência numa

sociedade democrática. Independentemente da existência de leis que os protejam, são

sempre invocáveis, beneficiando de um regime constitucional específico que dificulta a sua

restrição ou suspensão.

Em contraste, os direitos económicos, sociais e culturais — por exemplo, o direito ao

trabalho, à habitação, à segurança social, ao ambiente e à qualidade de vida — são, muitas

vezes, de aplicação diferida. Dependem da existência de condições sociais, económicas ou

até políticas para os efetivar. A sua não concretização não atribui a um cidadão, em

princípio, o poder de obrigar o Estado ou terceiros a agir, nem o direito de ser

indemnizado.

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2.4. Os direitos humanos são normas que reconhecem e protegem a dignidade de todos

os seres humanos. Os direitos humanos regem o modo como os seres humanos

individualmente vivem em sociedade e entre si, bem como sua relação com o Estado e

as obrigações que o Estado tem em relação a eles.

A lei dos direitos humanos obriga os governos a fazer algumas coisas e impede-os de

fazer outras. Os indivíduos também têm responsabilidades: usufruindo dos seus direitos

humanos, devem respeitar os direitos dos outros. Nenhum governo, grupo ou indivíduo tem

o direito de fazer qualquer coisa que viole os direitos de outra pessoa.

Os direitos humanos são universais e inalienáveis. Todas as pessoas em todo o mundo

têm direito a eles. Ninguém pode voluntariamente desistir deles. Nem outros podem tirá-

los dele ou dela.

Os direitos humanos são indivisíveis. Sejam de natureza civil, política, económica,

social ou cultural, eles são todos inerentes à dignidade de toda a pessoa humana.

Consequentemente, todos eles têm o mesmo valor como direitos. Não existe um direito

"menor". Não há hierarquia de direitos humanos.

Interdependência e inter-relação - A realização de um direito muitas vezes depende,

no todo ou em parte, da realização de outros. Por exemplo, a realização do direito à saúde

pode depender da realização do direito à educação ou do direito à informação.

Igualdade e não discriminação - Todos os indivíduos são iguais como seres humanos e

em virtude da inerente dignidade de cada pessoa humana. Todos os seres humanos têm

direito aos seus direitos humanos sem discriminação de qualquer tipo, como raça, cor, sexo,

etnia, idade, idioma, religião, opinião política ou outra, origem nacional ou social, deficiência,

propriedade, nascimento ou outro status como explicado pelos órgãos dos tratados de

direitos humanos.

Participação e inclusão - Cada pessoa e todos os povos têm direito à participação ativa,

livre e significativa no desenvolvimento civil, político, económico, social e cultural, por meio

do qual os direitos humanos e as liberdades fundamentais podem ser realizados. Têm

também direito a contribuir para esse desenvolvimento e a desfrutar do mesmo.

Responsabilização e Estado de Direito - Os Estados e outros detentores de deveres

têm de cumprir as normas e padrões legais consagrados nos instrumentos de direitos

humanos. Quando não o fizerem, os titulares de direitos lesados têm o direito de instaurar

procedimentos para uma reparação adequada perante um tribunal competente ou outro

adjudicador, de acordo com as regras e procedimentos previstos na lei.

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