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PORTUGUES 11° AND [Tee Ana Andrade Texto MENSAGENS Célia Cameira PORTUBUES 11 ANO laine ul Texto EY Indice geral Unidade 0 Diagnéstico e Projeto de Leitura : 10 Avaliacéo diagnéstica 16 Projeto de leitura Padre Antonio Vieira, Unidade 1 SermAo de Santo Anténio aos Peixes ve. Gtereeenay vo. CNC >. Co 20 Mensagens cruzadas 31 22 Contextualizacao histérico- Aiteraria 36 ss eae 39 29° Capitulo | ~ Exérdio 43 59 Capitulo I~ Louvores aos peixesem geral 50 Objetivos da eloguéncia | -(docere, delectaree movere) 59 40 Capitulo II! — Louvores aos peixesem particular aa 62 Linguagem e estilo Capitulo IV - Repreensdes em geral aos peixes. ‘Intengao persuasivae exemplaridade PP. Capitulo V—Repreensses em particular aos peixes 50 45 52 61 Capitulo VI - Despedida 62 66 Mensagens de hoje 67 Glossério Divisao e classificagao de oragdes Classes e subclasses de palavras Coeréncia e coesso textuais Coeréncia e coeséo textuais Coeréncia e coesao textuais Classes e subclasses de palavras Coeséo textual Coesdo textual Crs Pedro Abrunhosa (cangéo) Texto de opinido: Vieira, «|mperador da lingua Portuguesa» Discurso politico, Catarina Furtado,embabxadora dda Boa Vontade do Fundo das Nag6es Unidas para aPopulagao ‘Texto de opiniao: 36 0 «uso darazdo» por parte dos homens, Exposigao sobre um tema: 59 QDiscurso do Rei e Steve Jobs (trailers) fen Discurso politico: Catarina Furtado, embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nacoes Unidas para a Populago 65 op. GST eus 32 FI Critica social e alegoria FI2 Textoe textualidade: 57 coeréncia e coesto F13 Objetivos da eloquéncia, (docere, delectaree movere) 51 Fi4 Linguagem estilo 60 FIS Inten¢ao persuasiva eexemplaridade 63 FI6 Discurso politico 68 Sintesedaunidade 70 _Ficha formativa w Ao; ade 2 Almeida Garrett, Frei Luis de Sousa ve » EXE ve. 76 Mensagens ruzadas 90 Classificagéo de oragées Apreciagao critica 79 Contextualizagaohistirico- 96 Funcbes sintaticas eg eer st Bates sliteraria Be Cocséc tailed tos, Textode opinido: fay Answers, um congresso dedi- ‘ado 20 cinema nas escolas € 3 etiagio do. 45 ‘gosto cultural, bem como apresentagoes de livros © exposigies de artes plisticas, vitias artes estio assim presentes neste evento mul- Um fantasma, numa cidade em festa Cartaz do 36.*Festival Internacional de Cinema do Porto, 2015, els TO Pit} 03 tiftectado. Nomes grandes do cinema tém pasado pelo Porto, Sao anualmente cerca de 200 convidados ¢ para refcrie alguns desses nomes podemos falar de Max von Sydow, Guillermo del Toro, Wim Wenders, Jobn Hurt, Rosana Arquette, Danny Boyle, Ben Kingsley, Paul Schrader—tém vindoao Porto apresentarosscusfilmes,algunsdeles mesmo ‘em antestreia mundial. A programagio, que incorpora sempre produgies em antestreia mundial e europeia, faz virao Porto dezenas de jornalistas ¢ distribuidores estrangeiros, desejosos de af poderem ver em «primeira iio» os filmes que ainda vio entrar no cir- cuito comercial. Em paralelo, realiza-se tam- bbéim um mini mereado do filme, as industry sercenings, que sto um meio de ligagio & indistria docinema, © Festival Internacional de Cinema do Porto, vulgo Fantasporto, foi fundado em 1981. O Porto tem os bragos abertos para ja bem-vindo a0 mundo das artes, a0 mundo do cinema, ligponivel em www fantasporto com (consutado em juno de 2015). 1, Para responderes a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a opgao que te permite obter uma afirmagao correta. 3 \Na frase «A European Consumers Choice considerou, de novo, a cidade do Porto 10 “Melhor Destino Turfstico da Europa» (I, 1-5), 0 elemento destacado desempenha a fungao sintética de (@) complement direto. (€) complemento obliquo. (C)_predicativo do complemento direto. (0) complemento agente da passiva, Na frase «Nao é surpreendente que a par de um filme de terror seja exibido um drama intimista» (i, 12-14), o elemento destacado desempenha a fungao sint tica de (A)_complemento do nome. (B)_modificadorrestritivo do nome. (C)_ modificador apositivo do nome. (0) complemento do adjetivo. Oselementos destacados no segmento «apresentagées de livros e exposicaes de artes plasticas» (II,22-23) desempenham a fung&o sintatica de (A)_modificador apositivo do nome. (8) moditicador restrtivo do nome: (©) complemento do nome (0) complemento do adjetivo. Na frase «al poderem ver em “primeira mao" os filmes que ainda vao entrar no ccircuito comercial» (||, 37-39), a oragao destacada é uma (A) subordinada adjetiva relativa restrtiva. (8) subordinada adjetiva relativa explicativa. (C) subordinada substantiva completiva. (0) subordinada adverbial temporal Na frase «2s industry screenings, que so um meio de ligagao a indéstria do ‘cinema> (Il. 40-42), 2 oragdo destacada ¢ uma oragao (A) subordinada adjetiva relativa restrtiva. (8) subordinada adjetiva relativa explicativa. (©) subordinada substantiva completiva. (©) subordinada adverbial causal. 2, Reescreve a seguinte frase, pronominalizando a expressao destacada, ] tém vindo ao Porto apresentar os seus filmes [...]. (!|. 31-32), 3, Classifica, quanto a subclasse, 0 verbo destacado na seguinte frase. «Seja bem-vindo ao mundo das artes, ao mundo do cinema.» (il. 46-47) 4, Constrdi um campo lexical, apresentando dois vocabulos do dominio de «artes» Avaliagdo daanéstica X13 J PROFESSOR Srupoit Gramitica mH ue 128) 1316 14) 1518) 2. Jté vind a0 Porto apesenti- tosib» .Verbacorlatin, 4.Porerempia teatro iteratura- COTACOES Grupo tt 40 pontos GrupolV 3D pontos PROFESSOR ‘Escrita Hemi rates, ‘Grupo ‘Sugestio deresposta: + Cinema ~ relacionado com @ vide € como uma totaidade que satetizavériasartes. Por exempta: a importancis do Uieratura, que serve de base 20 argumente do filme; 0 teatro, artederepresenta,essencial no desempentnods atures: asona- last ealurninatectia emtodo ‘filme, com especial destaque nos efeitos especisis:acaracte- ‘izaqdo das personagens:8 foto ‘rata, para captar os melhores planos; a importéncia da banda ‘sonora dos fsmes,eriando uma ‘stmosteraadequada’ a¢30.. "Opinio pessoal. Preenchimento de greiha de _valiagao da escrita (expos 0). Geupov ‘Sugestio de esposta: + Inerpretagao da frase de Ber- ‘nando Soaresmator quea pia ‘geagrca Portugal éalinguaa nossa verdadetaecasae = Aimportinciadoportugués na stualidadefalada por mihoes e distribulda por quase todos 0s ‘continents (6a 4" ingua mais {eladanomunde) * Bernardo Soares, Uo do DesassossegjedgzoéeRicard Zeit eg, Pato Astin ‘Alvin 204,728, Grupo III ‘Atenta nas palavras de Manoe! de Oliveira sobre cinema, «Nenhumaarte simulaa vida como cinema. Todavia, sma vida. Também ni € pro- priamente uma arte. Porque é uma acum 1a intese de todas as artes. O cincma mio cexistia sem a pintura, sem a literatura, sem a danga, sem a musica, sem 0 som, sem a imagem, ‘tudo isto é um conjunto de todas as artes, de todas sem excegio.» ‘Manos! de Oliveira, em entrevista a Ana Sousa Dias, revista Lina, tencarte do semanaio Expres, Lisboa, 23 de maio de 2004, p68 Num texto expositivo, de cento e vinte a cento e cinquenta palavras, reflete sobre esta detinigao de cinema. Segue a planificagdo apresentada. Introducao: Definicao de cinema apresentada por Manoel de Oliveira; Desenvolvimento: Importancia dos contributos de varias areas para a sétima arte, com os respetivos exemp! Conclusio: Apresentacao do teu ponto de vista, fundamentando-o. Nofinal, faz a revisdo do teu texto. Verifica a construgao das frases, a clareza do discurso, as repeticGes desnecessérias e a utilizagao dos conectores. Grupo IV Lo seguinte pensamento: « em vez de «quaisquer» (8) adificuldade em distinguir «2» de «ha» (C) uso de «hd des» em ver de «has de» (0) aindistingdo entre «por que» e «porque» 5. Orefréo serve o propisito de (A) sublinhar tratamento dado a lingua portuguesa, (8) enfatizar 0 estado de espirito dos portugueses em relacao ao erro. (C)_desculpar os erros de gramatica. (0) alertar as mées para os problemas de gramética, DAMA, com Vasco Palmeirim, no esti da Radio Comercial, 2015, COTACOES Grupov 30 pontos PROFESSOR + Politieas de pramogeo de Ungua portuguesa ao nivel da educagao, romover oensina doPortugués em todas os paises cuja Ungua oficial soja essa, ov em lacs, como pot ‘exempla, Macau, em que, mesmo do sendo Ungua ofc, ha todo tuma cultura lingusticarelacionada com o portugal; organiza eventos calturasteréros, gastronéenicos, desportivas.) em que sefortateeam. as relagbes entre os paises lust + Relogto entrea frase do poeta ea imagem da lusofonia — elago de semelhanga: tanto a frase de Ber~ nar Soares eomo a imagem mos: tram como a nessa lingua é mals smpla da ue as nossas front geogrdtica. Preenchimento de gretha de observagie da apresentaciooral. Grupov 16) 2.0) 3.0) 4.0) 5.) OEE ‘aLiok “Asvezes Fscutoe observoerrosde portugués, VascoPalmeirimcomo ‘grupo musical DAMA ‘aFichaformativa Solugies para projeqia ‘mLettada conga «As vezeo> Que livros ler? A lista de livros apresenta varios titulos, dos quais terés de escolher um ou dois, de acordo com as indicag6es do teu professor, para desenvolveres um trabalho no ambito do Projeto de Leitura. LITERATURA PORTUGUESA ‘A, Ruben, A Torre da Barbela AAW, Antologia da Poesia do Século XVII (poemas escolhidos) BESSA-LUIS, Agustina, Fanny Owen BOCAGE, Manuel M, Barbosa du, Antolagia Podtica {poemas escothides) CARVALHO, Ruy Duarte de, Como Se 0 Mundo Nao Tivesse Leste CLAUDIO, Mario, Guilhermina ESPANCA, Florbela, Sonetos GARRETT, Almeida, Folhas Caidas FONSECA, Branquinho da, O Bardo MONTEIRO, Luis de Sttau, Felizmente Ha Luar! NOBRE, Antonio, So LITERATURA DE EXPRESSAO PORTUGUESA ALENCAR, José de, Iracema CARDOSO, Luis, Crénica de Uma Travessia COUTO, Mia, A Confissdo da Leoa CRAVEIRINHA, José, Antologia Poética (poemas escolhidos) PATRAQUI Outras Crénicas Carlos, Manual para Incendiarios e PEPETELA, Cronicas com Fundo de Guerra 'SCLIAR, Moacyr, 0 Centauro no Jardim VIEIRA, Luandino, Luanda ‘As einopses das obras esto dsponiveis em wwwemensapens]Lte pt. LITERATURA UNIVERSAL AUSTEN, Jane, Orgulhio e Preconceito BALZAC, Honoré de, Tio Goriot BAUDELAIRE, Charles, As Flores do Mal BELLOW, Saul, Jerusalém — Ida e Volta BRONTE, Emily, 0 Monte dos Vendavais, DICKENS, Charles, Grandes Esperancas DUMAS, Alesandre, Os rés Mosqueteiros FLAUBERT, Gustave, Madame Bovary GOETHE, Johann Wolfgang von, Fausto (excertos escolhidos) GONGORA, Luis de, Antofogia Poetica (poemas escolhides) HUGO, Victor, Nassa Senhora de Paris MAUPASSANT, Guy de, Contos MOLIERE, O Burgués Gentil-Homem RILKE, Rainer Maria, Cartas a Um Jovem Poeta ‘SHAKESPEARE, William, Romeu e Julieta STENDHAL, 0 Vermeltio e 0 Negro TCHEKOV, Anton, Trds Inmas TOLSTOI, Leso, Ana Karenina BALLESTER, Gonzalo Torrente, Cronica do Rei Pasmado TRANSTROMER, Tomas, 50 Poemas VOLTAIRE, Céndido ou o Otimismo WILDE, Oscar, O Retrato de Dorian Gray Prepara uma exposicao, escrita (130 a 170 palavras) ou oral (4 a 6 minutos), de acordo com os seguintes passos: Introdugso * informaco sobre o autor e a obra, Desenvolvimento * apresentacao do contetido global da obra (tema, organiza¢ao); + semelhiancas e diferencas em relacao ao que estudaste em determinada unidade, apoiadas em exemplos. Concluséo * sintese dos aspetos mais relevantes da obra. 2. Apreeiagiio critica Faz uma apreciagao critica, escrita ou oral (2 a 4 minutos), em que apresentes os seguintes aspetos: Introdugao * informagao sucinta sobre 0 autor e a obra, seguida de uma breve descrigéo do seu contetido. Desenvolvimento * comentério critico da obra, fundamentado em argumentos suportados por excertos ilustrativas; + semelhangas e diferengas em relacao ao que estudaste em determinada unidade, apoiadas em exemplcs. Concluséo * informacao sobre a importancia da divulgacgo e do conhecimento da obra; recomendagao da sua leitura. 3. Texto de opiniaio Elabora um texto de opinido, escrito ou oral (4 a 6 minutos), em que apresentes os seguintes aspetos: Introducéo * informacgo sucinta sobre o autor e a obra Desenvolvimento * explicitacao do teu ponto de vista sobre a obra, adotando uma perspetiva clara e pertinente, fundamentada em argumentos, suportades por excertos ilustratives; + utllizagao de um discurso valorativo (juz0 de valor explicito ou implicito) sobre a obra; = semelhancas e diferencas em relaco ao que estudaste em determinada unidade, apoiadas em exemplos. Concluséo + informagao sobre a importancia da divulgago e do conhecimento da obra; recomendagao da sua leitura. Como divulgar? Partilha o teu texto escrito Partilha o teu texto oral ‘* no jornal da escola; '* sob a forma de apresentagao oral 2 turma; ‘* no blogue mensagens. blogspot. pt; '* num programa da radio da tua escola (acampanhando-o ‘= no blogue da biblioteca da tua escola; de muisicas sugestivas); Contextualizacao hist6rico-literaria Padre Antonio Vieira, Sermao de Santo Anténio aos Peixes Pregado na cidade de So Luts do Maranhio, no ano de 1654 capitulos |e V (versao integral) excertos dos restantes capitulos Critica social e alegoria Objetivos da eloquéncia (docere, delectare e movere) Linguagem e estilo: visdo global do Sermao e estrutura argumentativa ‘ discurso figurativo: a alegoria, a comparagao, outros recursos expressivos: a andfora, a antitese, a apéstrote, a enumeracio e a gradagao Intencao p ssuasiva e exemplaridade Textos informativ Discurso politico Discurso politico Registos audio e audiovisuais Apreciagao eritica Texto de opiniao Apresentagao oral Texto de opiniao Exposicao sobre um tema Sintaxe: Classificagao de oragoes Discurso, pragmética e linguistica textual: texto e textualidade: coeréncia e coesdo textual PADRE ANTONIO VIEIRA © SERMAO DE SANTO ANTONIO AOS PEIXES % scam TBEuA = “Gee Dna eee tetra da familia materna, onde frequentou o ensi eee ae Canes jicenciou em Filologia Romanica. F 2002, tirou o mestrado em eer iy sou a inféncia e a juventude em Mafra, primério eliceal. Terminou Bie ce Peek nies Sree EU cee cn ee ceed Per Cee ts cau) Eg ea eS ee ay (0 poder de criagdo de personagens e o invulgar modo de trabalhar a lingua portuguesa que Hélia Correia tem revelado, Entremos numa igreja daquele século Opr piilpito, percorre os varios tons de vor, grita ¢ mur- mura, Numa das maos exibe o crucifixo com 0 Cristo palestino massacrado. Na outra, uma caveira. O que ele pretende é clevar a0 méximo © terror. Mulheres 4 luto desespero de quem vé o que € feito de carne € maiam, mas nada hé de sensual naquilo. F 0 abso- ferno a sua frente por came peca, a nao ser que Ihe demos tormentos com cilicios. Neste ambiente assustador houve um milagre A festa da linguagem fez-se ouvir onde a festa nao era consentida. A mestria, a alegria da palavra banhou de luz ses cendrios deploriveis. E hoje, ao lermos os Sermécs do Jesuita Padre Anténio Vieira, vemos como a beleza atravessou regimes, guerras, fanatismos de ordem varia para chegar,intacta, aos n0ss0s olhos. Notem que este homem defendeu natives das ras conquistadas, defendeu os judeus ¢ irritou, assim, a Inquisigao. Nao era um humanitirio: nao havia huma nitérios naquele tempo. Simplesmente, no achava que fosse inteligente nem sequer proveitosa a forga bru Em Roma, 0 papa ouviu-0 ¢ fascinow-se, O fade entio pediur the que desse ordens para que a Inquisigio fosse suspensa, Um pedido impensivel. Foi aceite Este Sermao reveki-se um prodigio, um alto jogo de prestidigitagto. Alegoria bem engendrada, sim, porém h4 muitas alegorias jgualmente capazes. Todas servem para que se diga 0 que se quer dizer sem que se arrisque fronta xes poderia ter ovorrido a outro, sobretudo em épocas mente © autor. Esta ideia dos pei que obriguem a disfarces. Ninguém conseguiria, no entanto, manejar deste modo o material que ele tinha dispontvel, a mesma lingua portuguesa com que os outros fiziam textos «violentos € tirinicos». Ele trabatha como um artista plistico, um arqui tet, um fisico. Com as frases faz volumes, luz e som bra, organiza uma rede muito viva, muito eléstica, muito preenchida, Oxalé outros sejam tio felizes ao lerem esta obra quanto eu fui, sou e serei, revisicando-a sempre. Heélia Correia (esto inédito, 2016) POOLE eager d See erty Ges re ee ay rea) Cee a) mésica torna-se realidad Magazine, on: rer E ainda cronist nT a ime mer ae ier er Caer) Coen arn arr Houve um peixe que ouviu A figura do pregador que fala dos desfavorecidos ¢ pelos desfavorecidos, dando-thes voz. e, com isso, um poder que antes nao tinham, nao ficou no passado das igrejas ¢ dos seus altares (Os altifalantes que cospem a batida por ci da qual nos filam os rappers, que apontam dedo as maleitas de uma sociedade que ainda tem um longo caminho a percorrer para se poder considerar justa¢ j itdria, Slo os pregadores de agora HA cinquenta anos, Martin Luther King pregava a igualdade ¢ fazia a comunidade afro-americana lutar por um futuro no qual a cor da pele no fosse objeto de distingio, Num tempo em que nao havia tecnologia para regis tar os seus sermoes para a posteridade, Padre Ant6nio Vieira era a vor da consciéncia de toda uma sociedade O que dizia era tio urgente e incisivo que 0 impacto ¢ a per as palavras perduram ainda, tantos anos aps a sua morte. Nad tinente durante centenas de anos. Para que isso acon deve ser mais dificil do que conseguir ser per tega é preciso que a mensagem seja clara, para chegar a todas as pessoas; rica, para captar a sua atengi0o 3 fim; ¢ intemporal, para que possa ter relevincia durante muitos anes. No Sermao de Santo Anténio aos Peixes, Padre Ant6nio Vieira designa os peixes como seus ouvinte Na verdade pede que ougamos atentamente ¢ em conscién Padre Anténio Vieira condena a exploragio pre dat dos colonos portugues dentos de riqueza, feita 4 custa da vida dos {ndios. Hoje, a luta entre 08 mais fiacos € 08 mais fortes assume outras fo perpetua-se. Parece que, afinal, 2 nas, mas guns peixes nao ouvi » sermao atentamente, E que o sal da terra, em ver de Ihe fertiizar as colheitas, Ihe mata a vida Eu ou, peixe salgado que sou, E.a sua mensagem ficou: nunea nos devemos calar perante uma injustiga. Ougam também, que quantos mais peixes houver no cardume, mais dificil ser calar a voz. dos justos. Ana Bacalhau (texo inédlito, 2016) aa Contextualizagao histérico-literaria 1608 Nascimento do Padre Anténio Vieira, Lisboa. 1614 Partida do Padre Antonio Vieira para o Brasil. 1624 Inicio das investidas holandesas em pracas importantes do Império, inclusivamente no Brasil 1633 Casamento de D. Jogo IV com D. Lusa de Gusmao. 1640 Restaurao portuguesa, que pe fim a0 reinado filipino, Coroagao de D. Joao IV. 1641 Regresso do Padre Anténio Vieira a Portugal. 1654 Expulsdo definitiva dos holandeses do Brasil. 1656 Morte do rei D. Jo80 IV. D. Luisa de Gusmao assume a regéncia do reino, 1662 D. Afonso VI assume o trono apos atingir a maioridade. 1665-1669 ‘Sem a protego de D. Jodo IV, Vieira cai nas méos do Tribunal da Inquisicao, Acaba por ser amnistiado e parte para Roma, onde obtém bastante éxito. 1668 Fim da Guerra da Restauracao, com a assinatura, em Lisboa, de um tratado de paz, entre Portugal e Espanha, 1683 Morte de D. Afonso V1 e consequente subida ao trono de D. Pedro It 1697 Morte do Padre Antonio Vieira, aos 89 anos, na Baia, deixando 13 volumes dos Sermées preparados. 1600 CrOnicas dos Reis de Portugal, Duarte Nunes de Les. 1619 Corte na Aldeia, Francisco Rodrigues Lobo. Vida de Frei Bartolomeu dos Mértires, Frei Luts de Sousa, 1649 Histéria do Futuro (inicio da sua redagao que ficou inacabadae s6 foi publicadanoséculo x0, Padre Antonio Vieira. 1651 Carta de Guia de Casados, D. Francisco Manuel de Melo, 1665 O Fidalgo Aprendiz, D. Francisco Manuel de Melo. 1675 Inicio da preparagdo da publicagao dos Sermoes. 1679 Publicagao do 1,° volume de Sermées, do Padre Antonio Vieira. Frans Post, Engenbo na Paraiba (pormenon), VAS. Contextualizagdo hist6rico- liters 1. A época de Vi A situagto de instabilidade de um Portugal pés-Restauragto (independente mas em crise, pressionado pela constante ameaga estrangeira aos nossos dominios ultrama rinos), € a defesa dos direitos humanos, nomeadamente dos indios do Brasil eseravi- ra zados pelos colonos, bem como dos cristios-novos perseguidos pela Inquisi¢io, si0 preocupagdes a que Vieira s até ao fim da sua vida. Ao assumir o poder, D. Joao IV teve de enfrentar um pais moralmente exaust ¢ financeiramente decadente, em consequéncia da longa luta travada com Castela. [. A Restauragio $6 poderia subsistir se fosse financiada pelos «homens de negécior que orientavam em Portugal as grandes wansagdes. Foi, com efeito, sobre manteve sempre fi 6s recursos econémicos dos cristios-novos que © pais se apoio nas horas liffceis do recomeyo, mediante a isengao do confisco inquisitor! foi concedida pelo monarca a conselho [de Vieira]. [...] , que lhes A causa los cristios-novos advogada por Vieira, para alm do incontesté- vel cariter humanitirio, do patriotismo e da solidariedade para com a Com- panhia de Jesus [...}, tinha também uma f mitigar a miséria nacional através dos largos proventos dos hebreus. [...] Supremo esteio de um Estado financeiramente dependente, este grupo soc viu ser contra si movida uma feroz, perseguigao levada a efeito pelo § Officio, mas instigada pela nobreza em dependéneia direta da Coroa. [...] Era, pois, angustioso o clima que se vivia em Portugal, tanto no aspeto alidade econdmica, pois visava anto, econémico, como politico, como social ‘Maria das Gracas Moreira de Sé, Seomacs Ecllies, Pair Antinio Viet, Lisboa, Editora Uliscia, 1984, pp. 15-18) 2. A literatura Em consequéncia de um tal clima repressivo, a nivel politico ¢ religioso, a literatura [...] torna-se «arte de diversto» (funeao ltidica), com predominio da forma sobre o contetido, as idcias. Dai, a profusio de jagos de palavras, de conccitos, de metdforas ousadas, de sinestesias.(...] Por outro lado, € como resposta a uma situagio de crise (politica e religiosa), desenvolve-se toda uma prosa diddtica, moralizadora, pedagdgica, de que sto cxemplo Rodrigues Lobo, possivelmente um cristio-novo (Corte na Aldeia), D. Francisco Manuel de Melo (Carta de Guia de Casndos), Padre Manuel Bernar ddes (Ls. ¢ Calor) ¢, sobretudo, Padre Antonio Vieira (Sermées, Cartas, Histiria do Futuro), de quem Fernando Pessoa afirmou ser 0 «Imperador da Lingua Portuguesa». Um aspeto interessante foi o desenvolvimento de uma grande produgio épica, [...] foi também muito comum a teorizagio poética, nomeadamente com Faria ¢ Sousa, Manuel Pires de Almeida, D. Francisco Manuel de Melo ¢ Padre Antonio Vieira. A oratéria ¢ a arte de pregar assumiram igualmente grande importancia literdria. Amiélia Pinto Pais, Hiséria da Literatura om Portugat— Uma perspesiva didistca, vol. L, Porto, Areal Editores, 2004, pp. 181-182. PROFESSOR Oralidade a Leftura 81 EtucagSo Literaria 161. ‘mPonerPoint Contextualizacso historic teria Francisco Goya, Cana de Inquisicao (eemenor, 1808-12. CORTE NA ALDEA, ENOQITESDE | INVERNO, DE FRANCISCO "RODRIGUEZ LO%O. Lisbon. | a Aoi ars Linen: | ioe Frontispeio de uma edigaoselscentista de Corte ma Aldea, 1570. { 24 y Unidade 1 // PADRE ANTONIO VIEIRA PROFESSOR Consotida LalV.biFoF 1) Peo contri, exe exesso, en burinciae dinars ©) Ocutsmo 6 cuto da forma, eo cancetismoocalto dasieias ‘mPowesPoint| OBarrec0 Pietro da Cortona, A Divina Frovdéne'a, 1633-39, absada ‘do sala principal do Patio Barbern, Roma, 3. O Barroco © Barroco [é definido como] arte de impressionantes oposigdes dualistas, de anti- teses violentas ¢ exaltadas. [...] A beleza natural, segundo a estética barroca, necessita de ser corrigida, comple ‘mentada ¢ sublimada pelos primores ¢ artificios da arte. [...] Através de um léxico ‘opulento ¢ raro, através de uma profusa e audaciosa utilizagao de hipérboles, acu mulagdes, aluses e metiforas, a literatura barroca compraz-se na representagio de tudo quanto ¢ peregrinamente belo na figura humana, nas coisas, nas paisagens, nas criagBes artisticas devidas a0 engenho dos homens. [. Por outro lado, porém, a literatura barroca cultivou com frequéncia ¢ aprazimento uma estética do feio ¢ do grotesco, do horrivel e do macabro, Em vez. de com a arte [.--] conferir& realidade a perfeigio e a beleza de que ela carece, 0 escritor barroco pode buscar, através da notagio humoristica ou sarcistica do real, através da carica tur e da sitira, tornar mais norris, mais cémicas ou mais repulsivas, a imperfei 20 € a disformidade existentes na natureza ¢, sobretudo, na natureza humana. [...] Alliteratura barroca caracteriza-se pela fuga 4 expressio singela ¢ imediata, as estru- turas formais simples ¢ lineares. [...] [O] Barroco é necessariamente uma literatura de fortes tensdes vocabulares, de polivaléncias significativas, de estruturas complexas € surpreendentemente inéditas. [...] Também na literatura as formas simples ¢ lineares sao substitufdas pelas formas complicadas e multivalentes que nascem do artificio da arte—artificio que nto deve ser entendido como um ornamento, mas como uma condigio fundamental da beleza artistica, ‘Vitor Manuel de Aguiar Silva, Teria da Literatura, 6: edisio, Coimbra, Lara Almedina, 1984, pp. 486-497, 4. O cultismo e 0 concetismo: estéticas dominantes no Barroco © cultismo corresponde, de um modo global, a sobrecarga de ornamentos ret6ricos, formals [...], predominando 0s jogos de palavras, de imagens, de construgies; quanto a0 coneetismo, consiste na «agudezar, ou seja, nos jogos de conccitos, enten- 5 didos como prova de engenho. No seu conjunte, [...] s30 [...] dduas faces intimamente ligadas, na arte barroca. ‘Amma Pinto Pais, Histdria da Lteracwra em Portagal Uma persetinn dddsica, vol 1, Vor ores, 2004, p- 182. (CONSOLIDA 1, Com base nos textos, classifica as afirmagdes como verdadeiras (V) ou falsas (F), corrigindo as falsas. a) A literatura, na época de Vieira, desenvolveu-se em varios .géneros e com diferentes finalidades. b) 0 Barroco apresenta uma concegao estatica e equilibrada de arte. ©) Ocultismo éocultodas ideias, e oconcetismo oculto da forma, Contextualizagao histérice litera vy 5. Vieira - 0 homem PROFESSOR Visiona 0 documentirio de Nunes Forte, OEE Padre Antonio Vieira, 0 Imperador da Lingua tink Portuguesa (RIP, 1991), sobre este vulto da cul- Pate Anti Vera, rnperador tura portuguesa, a sua obra ¢ os contextos hist6: a rico, politico ¢ social da sua época, Completa a > 5 Vnia-ohomem seguiinte tabela no teu caderno. i eelge accan eee ever. 1. Principals atividades 2. Dato 3. ston 2. Reinado: 4. Brasil, Bala, +, Local de naseimento: 5. Comganhade Jas Jest. 6.15 4. Pais epi onde se fxou onda estudou: 766 8.164 5. Ordem a que pertenceu is 9. aMinistroda propagandadoreb> 6. ldadocom que se tornou novgo: 10, opuiadeeinmiads. 11. Eoareramentoe cast. 7. Data da sua ordenagto Tee 8. Data do seu rgrossoa Portugal 13. Baraca 14, Relist etteratura. 9. Cargo por que ficou conhecid 10. Consequéncias pessoais dos seus sermdes: 11. Ages da Inquisicdo sobre Vieira: 12, Ano da morte: 13. Corrente atistica da sua época: 14, reas em que se destacou ———_ Es Padre Anténio Vieira destacou-se nos escritos profétices, nomeadamente sobre o des- tino messidnico de Portugal, fundador do V império, um império espiritual, pioneiro da elobalizacao; uma viséo futurist, muito inovadora para o seu tempo. Fernando Pessoa, ‘entre outros, iréretomar esta concecdo de designio privilegiado da nossa nacao. Eu, Portugal, (com, quem s6 falo agora), rem espero o teu agradecimento nem temo a tua ingratido. (..F tala tua estrela (benignidade de Deus contigo [...1), que tudo.o que lejo de ti séo grandezas 1» Anta Viera, Mistrial Futuro (Lio anteprimer) ed critica de ost vn den Besslaar, Lisboa, Biotec Nacional, 1983, . 28. Unidade 1 PADRE ANTONIO VIEIRA PROFESSOR 6. Vieira - uma personalidade multifacetada Leitura 7281 Experiéncia e aséio Semen snneete A obra literfria de Vieira ¢ [...] a resultante de uma vida 1518261 por de mais trabalhada, para que se Ihe pudesse conservar alheia, ¢ de um temperamento de artista por de mais original, Console eer oe 25 para que no a vincasse de forte expressio inconfundivel lcategode se necnlamasane, 5 A vida de Vieira comeca no claustro do Golégio da Baia, ~inicas, as seates europeas,0_decorre na atividade de missiondrio nas plagas! amazénicas ou eee vee Ls de diplomata nas cortes europeias, para acabar carregada de ‘jhovansessaromente dati cultura e experiéncia; utopista? a cada passo desmentido pela rarapalaafalade ouescitacome —_realidade, homem de ago apost6lica* ¢ politica ~ uiunfos ¢ Instrumentode arto. (1419) ae eee op 2 dcegOes, vitirias e derrots.[.] seu topo, piso sus sermes Desde ja se compreende que a sua obra emergiri de reali- cram is, mitados 89 F810, dads fortemente vividas. [..] Homemt de agiio por imperativo conndor Lhoauentesupicums : ae See ae eae da propria natureza ¢ por orientagao educativa, como orador porportedopibticaedeostosers ou epistol6grafo', havia necessariamente de utilizar a palavra on 15 falada ou escrita como instrumento de acio. 5! Vans Neil pf A Vide Artsy in Fla RLY tt Coben da Lseatara Porque (coord de Mara Lala Pcs clot eer ‘Adriano de Carvalho), wh 3, Lisboa, Hditoral Verbo, 2001, p. 273, Um homem marcante Ouvidos, lidos, imitados e, mio raro, copiados, os sermes do combativo jesufta tiveram 0 condio de atingir todos os estratos da socicdade sua contemporinea, em ramen teelasastattudes por onde se desdobrou a forgaindmita da sua atvidade de misio- Sumas eee nirio ¢ de agente politico, em movimento continuo: calaram fundo no coragio sim: | toate’. _® lesdasescravos do Maranhao, animaram os defensores da Bafa contra os holandeses, cee eencihe como desencadearam a ira orgulhosa ¢ interesscira dos senhores de engenho, deleitaram 0 Sito auditério da Capela Real [...}, para depois, fixados na tinta negra dos prelos®, pro 4 Fpialdgrafc aor de arcs. S ihimttaindcmasa, aaa porcionarem 20s leitores horas de recolhida meditagao, de saboreado prazer estético, CR via de vpmerta _ PETINKE 0 calor pujante do verbo feito estilo, ou de laborioso aprendizado na arte paainpinircies. 10 dificil de pregar. Anibal Pinto de Castro, Retéreae teorizago litera em Portugal» ~ Sermies Excloids, in Hiria Critica da Laterasura Pertugucea (coord. de Maria Laciia Pies ¢ Jose Adeiano ‘de Carvalho), vl 3, Lisbon, Flitoral Veo, 2001, p, 283. =) ——_—_—__—\ 1, Tendo em conta os dois textos acima, enumera os locais onde Vieira exerceu a sua atividade. 2, Transcreve do primeio texto uma prova de que a palavta fol o veiculo de agao de Vieira 3. Explicita o estatuto de Vieira quanto & sua popularidade, tendo em conta 0 segundo texto,

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