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CONCORDIA Confissao cristd, reiterada e undnime da doutrina e fé dos abaixo men- cionados eleitores, principes e ordens da Confissdo de Augsburgo e de seus tedlogos. Com declaracao apensa, solidamente fundamentada na palavra de Deus como a unica norma, de alguns artigos em que surgiu discussdo e conflito depois da bem-aventurada morte do Dr. Martinho Lutero. Impressas' por undnime acordo e ordem dos eleitores, principes e ordens antes referidos, para ensino e admoestacao de seus territérios, igrejas, escolas e descendentes. 1580 PREFACIO# A todos e a cada um sob cujos olhos venha a estar este nosso escrito, nés, os abaixo mencionados eleitores, principes e ordens no Sacro Império da Nacao Germanica adeptos da Confissdo de Augsburgo, manifestamos, de acordo com 0 estado e a dignidade de cada qual, nosso devido préstimo, ami- zade, afavel saudacdo e vontade propensa? bem como os nossos mui humildes, submissivos e solicitos servigos, e, com isso, anunciamos: Visto que? nesses derradeiros tempos do mundo transitério Deus, 0 Todo-Poderoso, por incomensuravel amor, graga e misericérdia, fez que apa- recesse ¢ reluzisse ao género humano, pura, genuina e inadulterada, do supers- ticioso negrume papista da na¢do alem4, nossa patria amada, a luz de seu san- to evangelho e de sua palavra, tinica salvadora, e havendo-se compilado, de- pois disso, da Escritura divina, profética e apostdlica, uma breve confissao, que foi entregue, nas linguas alemd e latina, pelos nossos piedosos e crist4os maiores, por ocasiao da Dieta de Augsburgo, no ano de 1530, ao entao Impe- rador Carlos V, de laudatissima memoria, ¢ apresentada perante todas as or- dens do Império, e que foi difundida e ressoou publicamente, por toda a cris- tandade, no vasto mundo afora, posteriormente muitas igrejas e escolas abra- garam essa confisséo como simbolo contempordneo de sua fé nos principais artigos em controvérsia, contra o papado e toda sorte de faccdes. E para ela apelaram e se remeteram, em cristd e unanime interpretagdo, sem qualquer contenda ou diivida. E mantiveram, firmes e constantes, a doutrina nela conti- da, e que se fundamenta solidamente na divina Escritura, e que também esta 1. Este preficio sofreu reformulagdes de 1578 a 1580. Entre 25 de fevereiro 12 de marco de 1580, lacobus Andreae ¢ Martin Chemnitz deram-lhe a redacdo final, no mosteiro de Bergen. (Naquela época, perto de Magdeburgo. Atualmente situado na zona urbana. Fundado em 968, 0 mosteiro foi suprimido em 1809, existindo hoje no local o Friedrich Wilhelms Garten.) 2. Ou: favoravel. No orignal: Geneigren Willen. Texto lat.: officium. 3. Nachdem. Cf., p. ex., Formula de Concérdia, Epitome, Da Suma, 3% segao (Und nach- dem. Texto lat.: Et quia); Declaracao Solida VI, 1 (Nachdem — cum); da mesma forma em VI, 18: Epitome VIII, secao9; IX, secdo 2. 2 Prefécio brevemente sumariada nos aprovados simbolos antigos, e a reconheceram co- mo 0 tnico e antigo consenso, que a igreja universal e ortodoxa de Cristo creu ao qual assegurou mediante lutas e reiterou contra muitas heresias e erros. A todos sem divida, é conhecido, manifesto e desencoberto quao peri- gosos tempos’ e molestos distirbios sucederam em nossa querida patria alema logo depois do passamento cristaéo daquele mui iluminado e piedoso homem, o Dr. Martinho Lutero, e como naquela situagdo angustiosa e na ruptura‘ dos governos bem ordenados o inimigo do género humano envidou esforcos por espalhar sua semente de doutrina falsa ¢ dissensdo, para suscitar destrutiva e escandalosa divisiio em igrejas e escolas, a fim de com isso adulterar a doutrina pura da palavra de Deus, romper o vinculo do amor e da unanimidade cristaos por esse meio impedir e tolher notavelmente o curso do santo evangelho. Também € conhecido, manifesto ¢ desencoberto a todos como os adversarios da verdade divina tomaram ocasido para desacreditar a nds e a nossas escolas € igrejas, para disfarcar os erros deles e desviar as pobres consciéncias transvia- das do conhecimento da doutrina evangélica pura e manté-las tanto mais vo- luntariamente submissas ao jugo e coercdo papais, bem como a outros erros” que militam contra a palavra de Deus. Nada nos teria agradado mais e coisa nenhuma almejamos mais do Todo-Poderoso e a ele mais pedimos que isso de que nossas igrejas e escolas fossem preservadas na doutrina da palavra de Deus e em amavel concérdia crista, e que, tal como aconteceu em vida do Dr. Lutero, fossem regulamenta- das e propagadas correta e cristamente, sob a orientacdo da palavra de Deus. Todavia, da mesma forma como ainda em vida dos santos apéstolos® foram infiltradas, por falsos mestres, doutrinas erréneas nas igrejas em que os pré- prios apéstolos haviam plantado a pura ¢ inadulterada palavra de Deus, assim, por causa de impeniténcia e pecado, nossos ¢ do mundo ingrato, foi isso infli- gido também 4s nossas igrejas. Por isso nos lembramos do oficio a nés cometido por Deus € no qual es- tamos investidos, e ndo nos omitimes em aplicar 0 nosso zelo no sentido de que fossem barradas em nossas provincias e regides as falsas ¢ desencaminhan- tes doutrinas nelas introduzidas e que, com o passar do tempo, mais e mais se est4o insinuando, e nossos stiditos fossem conservados no curso certo da ver- dade divina, j4 uma vez por eles reconhecida e confessada, ¢ dele nao viessem a ser desviados. Assim os nossos louvaveis predecessores e também uma parte de nés combinamos, por isso e com tal finalidade, em resolugdo? tomada em 4, Manniglichen = Jedermann. 5. Ldufte. Texto lat.: tempora. Alfred Gétze, Frithneuhochdeutsches Glossar, traz Leufie, plural = Verhaltnisse (circunstancias, situac4o, condigdes). 6. Ou desmoronamento. No original, Zerriittung. 7. Especialmente sacramentérios, zwinglianos e calvinistas. 8. Cf. 2 Tm 4,3,4; 1 Jo 4.1; 2 Pe 2.1. 9. Abschied. Alguns textos contém a ligdo christlicher Abschied (resolucao crista). Segun- do Andreae, o adjetivo christlich, eliminado por ele, permaneceu devido a lapso. — No dia 18 de marco adotaram 0 Livro de Francforte (Frankforter Buch, Formula pacis Froncofordianae), ba- seado em parecer de Melanchthon. Cf. CR IX, 365-378. Prefacio 3 Francforte do Meno, no ano de 1558, por ocasido de um conclave dos eleitores}? que nos reuniriamos em assembléia geral e discutiriamos, na medida do necessario" e de maneira amigavel, sobre algumas questées que os nossos oponentes haviam interpretado da maneira pior para nds e as nossas igrejas e escolas. ., Posteriormente, os nossos bem-aventurados antecessores ¢ a mor parte de nds outros nos reunimos em Naumburgo}? na Turingia, tomamos entre as mios a repetidas vezes mencionada Confisséo de Augsburgo, que fora apre- sentada ao Imperador Carlos V, na grande assembiéia imperial de Augsburgo, no ano de 1530, e mais uma vez subscrevemos, unanimemente, essa confissdo crista, que se fundamenta no testemunho da imutavel verdade da palavra divi- na, a fim de com isso advertir e pér a salvo, no futuro, quanto estivesse em nés, a nossa posteridade, de doutrina impura, falsa e contraria 4 palavra de Deus. E dessa mancira testificamos e demonstramos a Sua Majestade Imperial Romana, nosso clementissimo Senhor, bem como a todos os demais, que de forma nenhuma foi disposi¢4o ¢ inten¢&o nossa adotar, defender ou difundir alguma doutrina diferente ou nova. Nossa intengao, ao contrario, foi perseve- rar e continuar firmemente, com a ajuda’de Deus, na verdade uma vez reco- nhecida ¢ confessada em Augsburgo, no ano de 1530, na confianca e esperanca de que com isso nao s6 os adversarios da pura doutrina evangélica haveriam de abster-se de suas inventadas calinias e denigracdes" contra nés, mas também" confiantes e esperangosos de que outras pessoas, de bom cora¢do, seriam lem- bradas e estimuladas por essa nossa reiterada e repetida confissdo a investigar com tanto maior seriedade a verdade da palavra divina, unica salvadora, a ela 10. Kurfiirsten. Fevereiro a marco de 1558, por ocasido da eleicdo para imperador de Fer- nando I, irm&o de Carlos,V, que abdicara em principios do ano. 11. Notdiirfliglichen. Como adv.: je nach Bediirfnis. Texto lat.: solide, cabalmente 12. A assembléia esteve reunida de 20 de janeiro a 12 de fevereiro de 1561. Os eleitores Fre- derico III do.Palatinado ¢ Augusto da SaxOnia querem subscrever a Confessio Augustana variata de 1540 (de Melanchthon), argumentando que 0 artigo X da CA variata exclui a transubstancia- 80. Os outros (0 Duque Christoph de Wiirttemberg, o Duque Jodo Frederico da Saxdnia, o Land- grave Filipe de Hesse, o Conde palatino Wolfgang de Zweibriicken) querem agsinar a CA de 1530. Davi Chytraus, trazido ao conclave pelo Duque Ulrico, pleiteia a subscrico dos Artigos de Esmal- calde, além da Confessio Augustana invariata. O acordo a que sc chega €0 seguinte: 0 texto alemao da CA edicdo in-quarto de 1530-1531, Wittenberg, por insisténcia do Eleitor Frederico III, a edi- 40 latina in-octavo de 1531; um prefacio, esbogado pelos dois eleitores e enderecado ao impera- dor; rejeigéo da transubstanciagdo. O prefacio professa a Confissdo de Augsburgo de 1530, man: tem a edi¢do alterada de 1540 (pela qual, diz 0 prefacio, a Confissdo de Augsburgo inalterada “é repetida algo mais imponente ¢ minuciosamente, ¢ ¢ explicada e expandida com base na Sagrada Escritura””), ¢ repete a confiss4o da Apologia. Assinam o acordo: os dois eleitores, o Landgrave Filipe de Hesse, 0 Duque Christoph de Wirttemberg, o Margrave Carlos de Baden, ¢, através de seus conselheiros, os margraves Joao e Jorge Frederico, de Brandenburg, o Conde palatino Wolfgang, a Pomerania, Anhalt ¢ Henneberg. Os duques Joao Frederico da Sax6nia e Ulrico de Wiirttemberg negam sua assinatura. Seguem-thes 0 exemplo sobretudo a Baixa Sax6nia © as cidades maritimas. 13. Vorunglimpfung. 14, Nao s6... mas também. No original: Nich allein... und. Texto lat.: non solum... sed etiam. 4 Prefécio assentir ¢, para a salvacdo de suas almas e seu bem-estar eterno, nela ficar e perseverar cristamente, sem mais controvérsia e dissensdo. Mas apesar de tudo isso tivemos de inteirar-nos, ndo sem aflicao, do fato de que pouco se atentou entre os adversarios nessa declaracdo ¢ repeticaéo de nossa anterior confissdo crista, e que por elas nem nés nem as nossas igrejas fomos libertados das amargas difamagées disseminadas. Ao revés: também es- sa acdo bem-intencionada uma vez mais a entenderam e interpretaram os ou- tros, adeptos de opinides erréneas e opostos aos nossos e a nossa religiao crista!’ como se estivéssemos tdo incertos da confissdo de nossa fé religiao, e como se a houvéramos alterado tanto ¢ tao freqiientemente, que nem nds nem os nossos tedlogos poderiamos saber qual é a verdadeira Confissio de ‘Augsburgo, originalmente apresentada. Por essa alegacdo infundada muitos coragées piedosos so arredados e dissuadidos de nossas igrejas e escolas, de nossa doutrina, fé e confissdo. A isso juntou-se ainda o dano'‘ de haverem sido introduzidas em igrejas e escolas, de onde em onde, sob o nome da muitas ve- zes mencionada Confissdo de Augsburgo, a doutrina antag6nica sobre o santo sacramento do corpo ¢ do sangue de Cristo e outras opinides erréneas. Quando alguns tedlogos"” piedosos, irénicos e eruditos perceberam tal coisa, viram bem que nao havia melhor forma de enfrentar essas pérfidas calii- nias e as controvérsias religiosas que dia a dia mais se alastravam do que expli- car e decidir, cabal e apropriadamente, com fundamento na palavra de Deus, as desavencas ocorridas com respeito a todos os artigos controvertidos, expor e rejeitar a doutrina falsa e fazer confisso genuina da verdade divina, por que se reduzissem ao siléncio os adversarios mediante sdlida fundamentacao'* e se apresentasse aos coracées simples e piedosos explanago e orientacdo corretas, para que soubessem como situar-se em tal discérdia e futuramente ficassem preservados, pela graca de Neus, de doutrina falsa. Assim, a principio, os tedlogos supracitados comunicaram uns aos ou- tros, de maneira clara e correta, por escritos minuciosos, assentados na pala- vra de Deus, de que forma os diversas vezes mencionados ¢ ofensivos dissidios poderiam ser compostos ¢ resolvidos sem afastamento da verdade divina, e co- mo, por esse meio, poderiam ser interceptados"’ ¢ tirados aos adversarios todo pretexto e causa para difamar. Afinal também tomaram entre maos os artigos controvertidos, os examinaram, ponderaram e explanaram no temor de Deus, e definiram num escrito a maneira de decidir cristamente as desinteligéncias ocorridas. 15. Unsern und unserer christlichen Religion widerwartigen und irrigen Opinionsvorwand- ten. Texto lat.: ab adversariis verae religionis. 16. Original: Unrat. Cf. Alfred Gotze, Glossar: Widerwartigkeit, Schaden, Unheil, etc. No alemdo de hoje, 0 termo Unrat significa lixo, porcaria, esterco. 17. Andreae, Chemnitz ¢ outros. 18. Ou: sélido fundamento. No original: Grund, que pode significar também Begrindung. (Cf. A. Gétze, Glossar.) 19. Abstricken. Um dos sentidos: wegfangen. (Cf. A. Gotze, Glossar.) E quando alguns dentre nés revebemos informacdo respeito a essa obra crista, nao s6 dela nos agradamos, mas julgamos que nos cumpria promové-la também com seriedade e zelo crist&os, em raz&o do oficio que exercemos e de que nos incumbiu Deus. Conseqiientemente, nds, Eleitor da Saxénia, etc., com o conselho e a as- sisténcia de alguns eleitores e principes correligionarios® nossos, convocamos alguns tedlogos proeminentes, insuspeitos, experimentados e eruditos’a Tor- gau, no ano de 1576, para a promocdo da concérdia entre os mestres cristdos. Conferiram eles uns com os outros, de modo crist&o, sobre os artigos em con- trovérsia e o faz pouco citado acordo escrito, por causa disso redigido. E, afi- nal, com invocagao do Deus onipotente, para seu louvor e honra, e com madu- ra reflexao e cuidadosa diligéncia, juntaram, em boa ordem, por especial graca do Espirito Santo, tudo o que é pertinente e necessario a isso, e o puseram em livro “. Este, posteriormente, foi enviado a bom numero” de eleitores, princi- pes e ordens profitentes da Confissao de Augsburgo, acompanhado do pedido de que Suas Exceléncias® e eles fizessem que seus tedlogos proeminentes 0 les- sem com especial seriedade e zelo cristéo, o ponderassem diligentemente, em seguida fixassem por escrito suas sentencas e censuras” e a respeito de tudo nos inteirassem, com toda a franqueza, de seu refletido juizo. Depois que os juizos* solicitados tinham sido recebidos e verificado que neles havia toda sorte de adverténcias cristds, necessarias e proveitosas de co- mo a doutrina crista contida na explanacao enviada poderia ser resguardada com a palavra de Deus contra toda espécie de perigosos mal-entendidos, para que de futuro nao se viesse a esconder sob ela doutrina adulterada, porém se pudesse transmitir também a nossa posteridade uma declaracdo pura da verda- de, compés-se, afinal, desses juizos, na forma que depois segue, a Formula de Concordia crista acima aludida. Depois alguns dentre nés (pois em razdo de especiais causas impedientes?’ nesse tempo ainda n4o foi possivel a todos empreendé-lo), além disso, a fizemos ler, artigo por artigo, a todos e cada um dos tedlogos, minis- tros e mestres-escolas de nossas regides e territérios, e fizemos fossem lem- 20. Religionsvorwandten. 21. O Livro de Torgau. Andreae sumulou o livro, criando o Epitome. Esta condensagéo mais a Declaracdo Sélida recebeu 0 nome de Formula,concordiae bipartita. A assembléia esteve reunida no castelo de Hartenberg de 9 de abril a 7 de junho de 1576, sob a presidéncia de Andreae. Os outros convidados: Martin Chemnitz, Davi Chytraus, André Musculus, Nicolau Selnecker, Christopher Cornerus, Caspar Heyderich, Paulo Crell, Maximiliano Mérlin, Wolfgang Harder, Daniel Graser, Nicolau Jagenteufel, Joo Cornicaelius, Joao Schiitz (Sagittarius), Martin Mirus, Jorge Listenius e Pedro Glaser. 22. Etzlichen vielen. Texto lat.: nonnullis. 23. Ihre Liebden, forma arcaica de tratamento entre soberanos. 24. Ou: criticas, juizos, opinides. No original, censurae. 25. No original, iudicia, 26. Para deixar a porta aberta, os eleitores da Sax6nia e de Brandenburgo acrescentaram: “‘como também no caso de algumas outras ordens.”* (Cf. BSLK, p. 748, aparato critico.) 6 Prefécio brados ¢ exortados no sentido de meditarem com diligéncia e seriedade a dou- trina contida nela. E depois que tinham verificado estar a explanacdo das dissensdes ocorri- das em harmonia e conforme, primeiramente, com a palavra de Deus, e tam- bém com a Confissdo de Augsburgo, aqueles a quem fora apresentada, como acima se disse, aceitaram, aprovaram e subscreveram, de 4nimo contente ¢ cordial gratidao ao todo-poderoso Deus, de sua livre vontade e de espirito re- fletido, este Livro de Concérdia como a interpretacdo correta” ¢ crista da Confissao de Augsburgo, e o atestaram publicamente, com o cora¢ao, a bocae a méao. Esse acordo cristao, por isso, se chama e ¢ a concorde e unanime con- fissdo ndo s6 de alguns poucos dos nossos tedlogos, sendo em geral de todos e cada qual dos ministros e mestres-escolas em nossas provincias e territorios. Visto que as supracitadas e bem-intencionadas convencées?* estabeleci- das pelos nossos louvaveis predecessores e por nds, em Francforte do Meno e em Naumburgo, nao sé deixaram de alcangar 0 desejado alvo da concérdia crista, senado que alguns ainda quiseram para elas apelar em confirmacao de sua doutrina err6énea, sem embargo de jamais nos haver entrado na mente e coracdo querermos, por aqueles acordos, introduzir, embelezar ou confirmar qualquer doutrina nova, falsa ou err6nea, ou desviar-nos, um minimo que fos- se, da Confissio de Augsburgo apresentada em 1530; e, visto ainda que quan- tos de nds estivemos presentes nos trabalhos de Naumburgo mencionados aci- ma, na ocasiao nos reservamos 0 direito e fizemos a oferta de dar mais expla- nagées sobre a nossa confissdo caso futuramente chegasse a ser atacada por al- guém ou a qualquer tempo que se tornasse necessario fazé-lo, por isso, como declaragaio final de nosso sentir?’ elaboramos cristéo consenso e acordo neste Livro de Concordia e repeticao de nossa fé e confissao cristas. E para ninguém ser enganado pela infundada caliinia de nossos adversarios de que nem mesmo nds sabemos qual é a genuina Confissao de Augsburgo, e, ao contrario, os que agora vivem, bem como os nossos diletos pdsteros, possam ser devida e cabal- mente informados e ter certeza definitiva sobre qual é esta Confissdo crista a que nés e as igrejas e escolas de nossos territorios até agora sempre aderimos € temos apelado, deliberamos professar nele#’ depois da pura, infalivel e inalte- ravel palavra de Deus, tinica e exclusivamente aquela*! Confissao de Augsbur- 27. Alguns consideraram isso duvidoso. Os eleitores da Saxénia e de Brandenbutgo acres- centaram que nem no prefacio nem na propria Formula de Concérdia essa aparece como norma para a Confissdo de Augsburgo. 28. Ou: acordos. No original, Abschiede. Texto lat-: conventiones. 29. Ou: “vontade””. No original: unsers Gemiits. Cf. A. Gétze, Glossar: Sinn, Absicht, Verlangen, Wille, Gedankenrichtung. Texto lat.: voluntatis nostrae. 30. I. ¢., no Livro de Concérdia. 31. Um formulagao de 1576 acrescenta, depois de “aquela’’, as palavras: ‘primeira c inal- terada"’, que também estao no Livro de Torgau. A restric4o gerou muitos protestos ¢ acabou sen- do climinada. Temia-se que as palavras poderiam ser interpretadas como rejeicdio da Contissao de Augsburgo alterada de 1540, ou como desaprovacao do acordo de Naumburgo de 1561, 0 que criaria uma situacdo de constrangimento para os signatarios da Formula de Concordia que haviam assinado aquele acordo ou cujos predecessores o haviam subscrito. Cf. pardgrafo seguinte deste prefacio. Cf. Formula de Concérdia, Declaracao Sélida, Da Suma, 5. baa alae = go que foi entregue ao Imperador Carlos V, em 1530, por ocasiao da grande dieta imperial de Augsburgo, e que esteve nos arquivos dos nossos bem- aventurados maiores, os quais, na dieta que acabamos de mencionar, a subme- teram ao proprio Imperador Carlos V, e a qual, posteriormente, foi compara- da, com grande diligéncia, por pessoas mui fidedignas, com o verdadeiro origi- nal submetido ao Imperador e que ficou sob a custédia do Sacro Império? e com o qual — verificou-se posteriormente — o exemplar latino e o germanico em toda a parte so idénticos em sentido. Por essa razao também incorpora- mos a Confissdo naquele tempo entregue em nossa declaracao e Livro de, Con- cérdia que segue, a fim de todos poderem ver que foi nosso pensamento néo tolerar, em nossos territorios, igrejas e escolas, qualquer doutrina de forma di- versa da em que uma vez foi confessada em Augsburgo, no ano de 1530, pelos repetidas vezes citados eleitores}’ principes ¢ ordens** Tencionamos, outros- sim, perseverar, com a graca de Deus, nessa Confissdo até o nosso bem- aventurado fim, e comparecer, de cora¢ao e consciéncia alegres e impavidos, perante o tribunal de nosso Senhor Jesus Cristo. E temos a esperanca de que doravante os nossos adversarios poupem a nds, bem como as nossas igrejas e a seus ministros, da onerosa carga de alegarem nao termos certeza de nossa fé e que em vista disso estariamos fazendo nova confissao quase que a cada ano ou més No que diz respeito 4 segunda edigdo da Confissao de Augsburgo, que também foi mencionada nas negociagdes de Naumburgo}’ notamos — e a to- dos é manifesto e incoberto — que alguns se atreveram a disfarcar e esconder, sob as palavras dessa outra edi¢do, os erros concernentes a santa ceia, bem co- mo outras doutrinas adulteradas, e a incuti-los as pessoas simples, em escritos publicos e impressos franqueados, n4o obstante o fato de na Confisso entre- gue em Augsburgo essa doutrina err6nea ser rejeitada em linguagem explicita e de se poder, com base nela, provar doutrina mui diversa. Por isso também qui- semos testificar e mostrar, publicamente, com este escrito}* que entéo, como ainda agora, de modo nenhum foi nossa vontade e inten¢do por meio disso pa- liar, dissimular, ou ratificar como acordante com a doutrina evangélica, ensi no falso e adulterado que pudesse estar aioculto.>7 Como, alids, nunca entende- mos nem recebemos a outra edigéo como contraria a primeira Confissao de 32. A copia dos arquivos de Mogiincia (Mainz, Maienca) com a qual as ordens luteranas compararam suas c6pias nao foi o original. 33, Esse plural é modo de dizer, formula geral. Apenas um eleitor, o Duque Joao da Sax6- nia (Jodo 0 Constante, irmao de Frederico o Sabio), assinou a Confissdo de Augsburgo. Cf. signa- trios da Confisso de Augsburgo e Formula de Concérdia, Declaracao Solida, introdugdo, 3. 34, Stiinde. Ordines Imperii. 35. A edicdo alterada de 1540. 36. Hiemit, com isto. Texto lat.: hisce litteris 37. Texto lat.: quae sub integumentis aliquibus verborum latere possent, isto é, (‘‘falsas € impias doutrinas e opinides"’) “que pudessem estar escondidas sob certas coberturas de palavras’”. 8 Prefacio Augsburgo, que foi entregue}* Também nao queremos sejam rejeitados ou condenados outros escritos proveitosos do Senhor Filipe Melanchthon? como também de Brenz{? Urbano Régio, do Pomerano}! etc., em quanto” concor- dam com a Norma incorporada a Concordia! Da mesma forma, conquanto alguns tedlogos, como também o préprio Lutero, foram levados (bem que contra a vontade deles), pelos adversarios, da discussao da santa ceia ao debate sobre a unido pessoal das duas naturezas em Cristo# os nossos tedlogos afirmam claramente, na Formula de Concérdia e na Norma nela compreendida, que os cristaéos, segundo o constante pensamen- to nosso e desse livro, a nenhuma outra base e fundamento devem ser envia- dos, quando se trata da ceia do Senhor, sen4o unicamente as palavras da insti- tui¢do do testamento de Cristo, que é onipotente e veraz, podendo, conseguin- temente, fazer o que ordenou e prometeu em sua palavra. E quando permane- cem inatacados nesse fundamento, nao discutam sobre outros fundamentos, porém com fé singela persistam nas palavras simples de Cristo, o que € 0 mais seguro e também edifica o leigo comum, que nao pode compreender essa dis- cusséio. Quando, porém, os adversarios atacam essa nossa simples fé e inter- pretac¢do das palavras do testamento de Cristo e as censuram e rejeitam como sendo incredulidade, como se nossa simples interpretacao e fé contradissessem os artigos de nosso Credo cristao* e fossem, portanto, falsas e incorretas, deve indicar e demonstrar-se, mediante explicagao verdadeira dos artigos de nosso Credo cristéo, que nossa supracitada simples interpretagdo das palavras de Cristo n4o contradiz esses artigos. 18. Texto lat.: Nos sane nunquam posteriorem editionem in ea sententia accepimus, quae a priori illa, quae exhibita fuit, ulla ex parte dissideret. (‘Na verdade, jamais recebemos a edi¢do posterior em sentido que diferisse, em qualquer parte, da anterior, que foi apresentada””.) Contra essa abonacdo da Confisso de Augsburgo alterada e do acordo de Naumburgo volta-se sobretudo © Duque Jiilio, a consetho da Faculdade de Helmstedt ¢ de Tilemann Hesshusius. 39. Com excegao deste passo do Prefacio, a Formula de Concérdia nao nienciona o nome de Melanchthon. 40. Brentii: Joao Brenz. 41. Pomerani: Joio Bugenhagen, 42, Em quanto: ou enquanto, no sentido de até onde. No original germanico: Wofern. Tex- to lat.: quatenus. 43. A norma expressa no Livro de Concérdia. Texto lat.: cum ea norma, quae Concordiae Libro expressa est. Cf. Férmula de Concérdia, Declaragao Sélida, Da Suma, 10. 44, Hessen, Anhalt, o Palatinado e outros combatem o recurso — por eles encontrado na FC — ubigiticade como fundamento adicional da presenea real. Os tedlogos da Saxdnia Eleito- ral e do Brandenburgo Eleitoral declaram, ao contrario, que a FC expressamente considera como fundamento as palavras da instituig4o ¢ que tdo-s6 foi compelida a falar da pessoa de Cristo a vis- ta da interpretacao err6nea das palavras da instituicao da parte de zwinglianos e calvinistas. 45. I. €., 08 artigos do Simbolo Apostélico. Cf. texto lat.: articulis Symboli Apostolici. 0 Duque Jiilio pediu o seguinte acréscimo depois de “Credo cristao”’: “especialmente os da encarna- 40 do Filho de Deus, de sua ascensdo e de seu assentar-se a destra da onipotente forca e majestade de Deus." Cf. BSLK, p. 754, aparato critico. O acréscimo aparece no texto latino da edigdo critica alemé, ibidem. Prefécio 9 No que concerne as frases.e maneiras“ de falar a respeito da majestade da natureza humana na pessoa de Cristo, em que esta posta e exaltada a destra de Deus, onde se diz: A natureza humana de Cristo é onipotente, onisciente, oni- presente, etc., a fim de ser removido, também quanto a isso, todo mal- entendido e escAndalo, j4 que o termo abstractus” nao é usado univocamente pelos mestres das escolas ¢ igrejas, os nossos tedlogos declaram, com palavras limpidas ¢ claras, que a mencionada majestade divina no ¢ atribuida 4 nature- za humana de Cristo fora da unido pessoal, nem se deve conceder que“*a tenha em si e de si mesma®, essentialiter, formaliter, habitualiter, subiective, na lin- guagem escolastica. Pois onde se ensinasse dessa forma, comisturar-se-iam a natureza divina e a humana, juntamente com suas propriedades, e a natureza humana seria igualada, segundo a sua esséncia e propriedades, com a natureza divina, ¢ destarte negada. Dé-se isso, ao contrario, conforme se expressaram os antigos mestres da igreja, ratione et dispensatione hypostaticae unionis, isto é, em razdo da unio pessoal,*! que é mistério inescrutavel.* Com referéncia 4s condenacdes censura e rejeigdo de doutrina falsa, adulterada, especialmente no artigo da ceia do Senhor# que devem ser propos- tas expressa e distintamente nessa explanagao e resolucdo sélida dos artigos em controvérsia, a fim de que todos saibam acautelar-se delas** — e por muitas outras razGes de modo nenhum podem ser contornadas essas condenagdes —, igualmente nao é vontade e inteng&o nossa mirar com isso as pessoas que er- tam por ingenuidade* e que ndo blasfemam a verdade do verbo divino. E mui- 46. No original: phrases und modi loquendi. BSLK, p. 754, aparato critico, depois de “‘lo- quendi””: das ist, die Art und Weise zu reden, welche im Buch der Concordien gebraucht. Texto lat.: qui in hoc Concordiae Libro usurpantur. 47. Abstrato. Vid. Catalogus Testimoniorum, BSLK, p. 1106 ¢ nota 2; p. 1107. 48, No original germAnico: oder dass sie dieselbige.... habe. Para tornar o periodo mais ta- cilmente inteligivel, introduzimos palavras do texto latino: nec etiam concedendum. 49. Na revisao final Andreae e Chemnitz acrescentaram, depois de “mesma”: “mesmo na unido pessoal.” (auch in der persinlichen Vereinigung.) Cf. BSLK, p. 754, aparato critico. 50. Essencialmente, formalmente, habitualmente, subjetivamente. Tilemann Hesshusius quer @ eliminagio dos “‘voctbulos sérdidos e obscuros, além de desnecessérios e obsoletos, dos teblogos escolésticos”, que nem um em cem pérocos entende. Diz que a doutrina e confissto po- dem ser dadas e explicadas suficientemente ‘com boas ¢ inteligiveis palavras alemas.”” Os duques Jilio e Ulrico expressam o desejo de que haja emenda neste sentido. 51. Como sempre, tornamos em verndculo ndo as palavras latinas citadas, mas as palavras com que o texto alemdo as traslada ou parafraseia. No caso: vonwegen der persénlichen Voreini- gung. Vertidas literalmente, as palavras latinas citadas dizem: “segundo 0 modo ¢ a economia da unido hipostatica.”” Vid. a respeito da questdo Formula de Concordia, Declaragao Sélida, VIII, 73. 52. Cf. Catalogus Testimoniorum, IX, 29 paragrafo. 53. No original, condemnationes. 54. Vid. Formula de Concérdia, Declaracao Sélida, VIL, 112-127. 55. Vor denselben, isto é, das doutrinas condenadas. Texto lat.: uf universi sibi ab his dam- natis dogmatibus caverent. 56, Os tedlogos da Universidade de Helmstedt haviam opinado que a condenacao de pes- soas era inevitavel porque doutrina errdnea e falsos mestres eram inseparaveis. Tilemann Hesshu- 10 Prefécio to menos ainda queremos visar com isso a igrejas inteiras, dentro ou fora do Sacro Império da Nacéo Germanica‘’ Nosso propésito, ao contrario, é que com isso fiquem condenadas propriamente apenas as falsas e desencaminha- doras doutrinas, bem como os obstinados mestres ¢ blasfemadores que as pro- pdem, que de forma nenhuma pensamos em tolerar em nossos territérios, igre- jas e escolas, visto que essas doutrinas sao contrarias 4 expressa palavra de Deus e com ela nao podem coexistir. Também procedemos assim para que co- rag6es piedosos sejam advertidos contra elas. Pois para nds ndo ha sombra de davida que se podem encontrar muitas pessoas piedosas e inocentes também nas igrejas que até agora nao chegaram a acordo conosco em tudo% Essas pes- soas seguem na simplicidade de seus coragdes, nao entendem bem a questao € nenhum agrado tém nas blasfémias contra a santa ceia tal como é celebrada em nossas igrejas, de acordo com a instituigao de Cristo, ¢ como a respeito dela ensinamos unanimemente, em conson4ncia com® as palavras de seu testamen- to. E temas, quanto a essas pessoas, a esperanca de que, quando corretamente instruidas na doutrina, virdo e se tornarao, conosco e com nossas igrejas € es- colas, pela orientacdo do Espirito Santo, a infalivel verdade da palavra divina? Por isso também testificamos, por este escrito$! diante da face do Deus onipo- tente e de toda a cristandade, que de modo nenhum é disposicao ¢ propésito nosso dar, através desse acordo cristao, ocasiao a qualquer molestamento e perseguicdo dos pobres cristéos oprimidos. Pois, assim como, por caridade crista, temos especial compaixdo deles, assim sentimos aversao e cordial desa- grado relativamente ao raivar dos perseguidores, e absolutamente nao quere- mos tornar-nos corresponsaveis por este sangue, que, fora de duvida, sera re- querido das maos dos perseguidores no grande dia do Senhor, diante do solene e severo tribunal de Deus, e ld eles terao de prestar pesada conta por ele. E, porquanto nosso sentir e propdsito, conforme mencionamos acima, sempre esteve orientado no sentido de que em nossas terras, regidies, escolas € igrejas nenhuma outra doutrina fosse tratada e inculcada senao unicamente a sius afirma que Mateus 7 também se aplica aos que so desencaminhados, nao obstante a diferen- ga entre “obstinados enganadores”” e “‘ingénuos” desencaminhados. Chega a dizer que amor @ “pessoas enganadas” é intempestivo em questdes de fé. $7. Os tedlogos pomeranos haviam dito em seu parecer sobre o prefacio que era preciso considerar 0 fato ‘de que a rainha da Inglaterra [Elizabete I] ¢ o rei de Navarra [mais tarde Henri- que IV, rei de Franca] buscaram pediram, com laboriosa diligéncia, em seu nome e no das igrejas de seus correligiondrios na Franca, na Espanha, na Inglaterra, nos Paises Baixos ¢ na Suia, nao se condenasse a eles e aos seus’, mas que primeiro fosssem ouvidos, na medida do necessério (ou: ca~ balmente), numa conferéncia geral na Alemanha. Cf. BSLK, p. 756, nota 2. | 58. Allerdings. Texto lat.: per omnia. 59, Em consondncia com: vormdge. Texto lat.: iuxta. 60. Acréscimo de Andreae, a pedido do Duque Jiilio: ‘*Cumprira, por conseguinte, aos teo- logos e ministros eclesidsticos lembrar devidamente, com base na palavra de Deus, também os que erram por ingenuidade e ignordncia, do perigo de suas almas e disso adverti-los. a fim de nao acon- tecer que um cego se deixe transviar por outro.” Cf. BLK, p. 757, aparato critico. Vid. também o acréscimo no texto lat. da edigo critica alema, ibidem. 61. Hiemit. Texto lat.: hoc nostro scripto. Prefacio 11 que esta fundamentada na Sagrada Escritura de Deus ¢ incorporada na Con- fissao de Augsburgo e na Apologia em sua compreensao auténtica, bem como no sentido de nao permitir a entrada de qualquer coisa a ela contraria, finali- dade para a qual também o presente acordo foi instituido, intentado e realiza- do queremos fique mais uma vez testificado com isso publicamente, diante de Deus e de todos os homens, que, com a presente e muitas vezes referida expla- nacdo dos artigos em controversia, nao fizemos confissdo nova ou diferente da que uma vez foi entregue em Augsburgo, no ano de 1530, ao Imperador Carlos V, de grata memoria® Remetemos, ao contrario, as nossas igrejas ¢ escolas, acima de tudo, a Sagrada Escritura e aos Simbolos‘ e, em seguida, 4 Confis- so de Augsburgo, ha pouco citada. E com isso queremos deixar registrada nossa séria exortacdo de que especialmente a juventude que é treinada para o servico eclesial e o santo ministério seja instruida nisso fiel e diligentemente, a fim de que também entre a nossa posteridade seja preservada e propagada, pe- lo auxilio € a assisténcia do Espirito Santo, a pura doutrina e confissao da fé, até a gloriosa vinda de nosso tinico Redentor ¢ Salvador Jesus Cristo. Visto, pois, que assim é, e ja que estamos certos de nossa confissdo e fé crista, com base na Escritura divina, profética e apostdlica, disso havendo sido suficientemente certificados em nossos coracdes e consciéncias cristas pela gra- ca do Espirito Santo, a mais aguda e extrema necessidade exige que em presen- ¢a de tantos erros irrompidos, escandalos, dissensdes ¢ prolongadas divisdes haja uma explanacio e reconciliacao crista de todas as discussdes surgidas que esteja bem fundamentada na palavra de Deus, € a luz da qual se reconhega qual a doutrina pura e qual a adulterada, e se diferencie entre as duas, de sorte que nao fique tudo livre e aberto para gente irrequieta e contenciosa, que nao quer estar presa a nenhuma forma certa da doutrina pura, provocar, a seu bel- prazer, escandalosas controvérsias e introduzir e defender erros disparatados, de onde ndo se pode seguir outra coisa sendo isso de que a doutrina correta fi- nalmente sera inteiramente obscurecida e perdida, sendo transmitido 4 posteri- dade nada além de opiniées incertas e imaginagOes e pareceres duvidosos ¢ di: cutiveis. E nés nos reconhecemos obrigados, de preceito divino, em raz&o do oficio em que estamos investidos, a fazer e a continuar fazendo, com vistas a0 nosso proprio bem-estar temporal e eterno, bem como ao dos stiditos a nds pertencentes, tudo quanto possa ser util e proveitoso para a multiplicagao e a difusdo do louvor e da honra de Deus, a propagacdo de sua palavra, unica sal- vadora, a tranqililidade e a paz das escolas e igrejas crist@s, bem como para 0 necessario consolo e instrucao das pobres consciéncias em erro. E nos é mani- festo, ademais, que muitas pessoas cristas de bom coracdo, de elevado e de hu- milde estado, suspiram ansiosas por essa obra salutar da concordia crista e por ela trazem particular anelo. Visto, pois, que desde o inicio deste nosso acordo cristao nunca foi disposicdo e propdsito nosso, e n4o é agora, manter esta salu- 62. Realizado: ins Werk gerichiet. Texto lat.: absoluta fuit (foi rematada, completada) 63. Cristlicher Gedachtnis. Literalmente: cristé memoria. Texto lat.: felicis recordationis. 64. Symbola, isto &, aos trés Credos. 12 Prefécio tar e mui necessaria obra de concérdia em segredo e velada no escuro, afastada dos olhos de todos, ou pér a luz da verdade divina debaixo do alqueire e da mesa, por isso cumpre nao suspendamos nem adiemos por mais tempo a edi- Ao e publicagao da obra. Endo temos nenhuma diwvida de que todos os cora- Ses piedosos que tém verdadeiro amor a verdade divina e a concérdia crista e agradavel a Deus aprovardo, de maneira crista, juntamente conosco, esta obra salutar, mui necessaria e cristd, e ndo permitirao, quanto a isso, que haja falta neles em matéria de promover a gloria de Deus ¢ o bem-estar comum, eterno € temporal. Porque — repetimo-lo uma vez mais em concluséo — nada de novo in- tentamos fazer com essa obra de concardia, e de forma nenhuma é intengdo nossa afastar-nos, quer no contetido$’ quer nas expressdes‘ da verdade divina uma vez reconhecida ¢ confessada por nossos piedosos maiores e por nds, con- forme fundamentada na Escritura profética e apostdlica e compreendida nos trés Simbolos, e, além disso, na Confissao de Augsburgo, entregue, no ano de 1530, ao Imperador Carlos V, de mui suave memoria, na Apologia que seguiu A Confissao, nos Artigos de Esmalcalde e nos Catecismos Maior ¢ Menor da- quele altamente iluminado homem, o Dr. Lutero. Tencionamos, ao contrario, perseverar e permanecer, unanimemente, pela graca do Espirito Santo, nessa verdade divina, e segundo ela regular todas as controvérsias religiosas e suas explanacdes. Além do que é nossa determinacdo e propésito viver em boa paz € concérdia com os nossos membros, os eleitores, principes.e ordens no Sacro Império Romano, também com outros potentados cristaos, segundo as orde- nagdes do Sacro Império e os pactos especiais que com eles temos, ¢ demons- trar a cada qual, de acordo com a sua ordem, todo amor, servigo e amizade. Queremos, ademais, conferir amigavelmente sobre a maneira de zelar com seriedade por essa obra de concérdia em nossas terras, de acorde com as nossas circunstancias e as de cada lugar, através de diligente visitacao das igre- jas e escolas, inspecdo das tipografias e outros meios salutares. E caso volta- rem a agitar-se as controvérsias correntes ou surgirem novas dissens6es sobre a nossa religido cristé, cuidaremos da maneira como possam ser resolvidas e compostas em tempo, sem perigosas delongas, para obviar a toda sorte de es- c&ndalos. Em testemunho$’ subscrevemos com unanimidade de coragdes e manda- mos carimbar com nossos sinetes particulares®* Luis, Conde palatino no Reno, eleitor Augusto, Duque da Saxénia, eleitor Joao Jorge, Margrave de Brandenburg, eleitor 66. No original: in phrasibus. 61. Zu Urkund. Texto lat.: In cuius rei evidens testimonium (em manifesto testemunho dis- so). 68. Secret = Geheimsiegel. Correspondéncia particular ¢ escritos de cardter mais pessoal via de regra eram carimbados com o sinete particular. Joaquim Frederico, Margrave de Brandenburgo, administrador do arce- bispado de Magdeburgo Joao, Bispo de Meissen Eberhard, Bispo de Liibeck, administrador do bispado de Verden Filipe Luis, Conde palatino Tutor de Frederico Guilherme e de Jodo, duques da Saxénia Tutores de Joao Casimiro e de Joao Ernesto, duques da Sax6nia: Jorge Frederico, Margrave de Brandenburg Julio, Duque de Braunschweig e Liineburg Oto, Duque de Braunschweig e Liineburg Henrique Junior, Duque de Braunschweig e Liineburg Guilherme Junior, Duque de Braunschweig e Liineburg Wolf, Duque de Braunschweig e Liineburg Ulrico, Duque de Mecklenburg Curadores de Jodo e de Sigismundo Augusto, duques de Mecklenburg Luis, Duque de Wiirttemberg® Curadores de Ernesto e de Jacé, margraves de Baden Jorge Ernesto, Conde e Senhor de Hennenberg Frederico, Conde de Wiirttemberg e Mémpelgard Joao Giinther, Conde de Schwarzburg Guilherme, Conde de Schwarzburg Alberto, Conde de Schwarzburg Emich, Conde de Leiningen Filipe, Conde de Hanau Godofredo, Conde de Ottingen Jorge, Conde e Senhor de Castell Henrique, Conde e Senhor de Castell Joao Hoier, Conde de Mansfeld Bruno, Conde de Mansfeld Hoier Christoph, Conde de Mansfeld Pedro Ernesto Junior, Conde de Mansfeld Cristoph, Conde de Mansfeld Oto, Conde de Hoya e Burghausen Joao, Conde de Oldenburg e Delmenhorst Alberto Jorge, Conde de Stolberg Wolf Ernst, Conde de Stolberg Luis, Conde de Gleichen Carlos, Conde de Gleichen Ernesto, Conde de Reinstein Luis, Conde de Léwenstein Henrique, Barao de Limpurg, Semperfrei Jorge, Bardo de Schénburg Wolf, Baréo de Schénburg 69. Grafias aportuguesadas: Vurtembergue ou Vurtemberga. 14 Prefécio Anarck Frederico, Bardo de Wildentels Burgomestre e Conselho da cidade de Liibeck Burgomestre (Hans Hitschler) e Conselho da cidade de Landau (20 de no- vembro de 1579) Burgomestre (Friedrich Zeringer) e Conselho da cidade de Miinster em S. Georgental O Conselho da cidade de Goslar (/3 de abril de 1580) Burgomestre (Hans Ehinger von und zu Baltzheim) eConselho da cidade de Ulm Burgomestre (Matthis Herwart) e Conselho da cidade de Esslingen (3 de no- vembro de 1579) O Conselho (escrivao municipal Lorenz Zysar) da cidade de Reutlingem (4 de novembro de 1579) Burgomestre (Peter Seng Sénior) e Conselho da cidade de Nérdlingen (18 de dezembro de 1579) Burgomestre e Conselho de Rothenburg no Tauber (/0 de dezembro de 1579) Burgomestre (Johann Christop Adler) ¢ Conselho da cidade de Schwabisch Hall Burgomestre (Johann Spélin) e Conselho da cidade de Heilbronn Burgomestre (Melchior Stebenhaber zu Hezlinshofen) e Conselho da cidade de Memmingen (3 de novembro de 1579) Burgomestre (Michael Buchschar) e Conselho da cidade de Lindau Burgomestre e Conselho (Syndicus Adam Alberti) da cidade de Schweinfurt (8 de dezembro de 1579) O Conselho da cidade de Donauwérth: Tesoureiro (Stephan Fugger) e Conselho da cidade de Ratisbona” Burgomestre (Hans Aff) e Conselho da cidade de Wimpfen Burgomestre (Jérg Vetter) e Conselho da cidade de Giengen Burgomestre e Conselho de Bopfingen Burgomestre (Kaspar Voss) ¢ Conselho da cidade de Aalen (30 de nover- bro de 1579) Burgomestre (Ludwig Bonrieder) e Conselho da cidade de Kaufbeuren (8 de novembro de 1579) Burgomestre (Crispinus Riedlein) e Conselho da cidade de Isny (18 de no- vembro de 1579) Burgomestre (Paulus Rohr) e Conselho da cidade de Kempten (J0 de no- vembro de 1579) O Conselho da cidade de Hamburgo O Conselho da cidade de Gottingen” O Conselho da cidade de Braunschweig (28 de marco de 1580) Burgomestre e Conselho da cidade de Liineburg (10 de abril de 1580) 70. Grafia alema: Regensburg. 71. Grafia aportuguesada: Gotinga. Prefacio 15 Burgomestre (Georg Bock) e Conselho da cidade de Leutkirch Todo o governo da cidade de Hildesheim (10 de abril de 1580) Burgomestre e Conselho da cidade de Hameln (10 de abril de 1580) Burgomestre e Conselho da cidade de Hannover” (10 de abril de 1580) O Conselho de Miihlhausen O Conselho de Erfurt O Conselho da cidade de Einbeck (15/20 de abril de 1580) O Conselho da cidade de Northeim. 72. Grafia aportuguesada: Hanéver. OS TRES SIMBOLOS CATOLICOS OU ECUMENICOS Introdugao* Um ou mais dos trés antigos Credos (intitulados “‘os Trés Simbolos Ecuménicos ou Catélicos” no texto latino do Livro de Concérdia) sao citados ‘ou mencionados em cada uma das confissdes luteranas. Muitas vezes sao cita- dos para afirmar a identidade do ensino luterano com o ensino da Igreja Anti- ga, refutando, assim, a acusaco de inovacdo de doutrina. B, por isso, natural que, quando o Livro de Concérdia foi publicado em 1580, estes simbolos da Igre- ja fossem incorporados no inicio. Também € natural que fossem reproduzidos em sua forma de uso corrente no Ocidente. © texto do Credo Apostélico, como o temos agora, data do século VIII. ‘Trata-se, porém, de uma reviséo do assim chamado Credo Romano, que esta- va em uso no Ocidente no século III. Por trés do antigo Credo Romano, por sua vez, esto varias formulagées doutrindrias que revelam sua rclacio com for- mas — raizes encontradas no préprio Novo Testamento. O Credo Apostdlico, como o temos agora, nao vem dos apéstolos, mas as suas raizes séo apostdlicas. No Oriente apareceu uma variedade maior de formulagdes doutrindrias do que no Ocidente. Quando o Concilio de Nictia (325 d. C.) rejeitou os ensina- mentos de Ario, expressou sua posicéo, adotando um dos simbolos orientais em uso, inserindo nele algumas frases anti-arianas. No Concilio de Constantino- pla (381 d. C.), algumas alteracSes menores foram feitas nesse Credo Niceno, como ainda o chamamos, sendo também reafirmado no Concilio de Calced6nia (451 d. C.). No século IX, o Ocidente inseriu 0 filioque (“‘e do Filho’’, no ter- ceiro artigo) o que se tornou um ponto de divergéncia entre o Ocidente e o Orien- te, especialmente no século XI. O Credo Atanasiano é de origem incerta. Certo é que nao foi composto por Atandsio, 0 grande tedlogo do século IV. Muitos supdem que tenha sido preparado em seu tempo, ainda que pareca mais provavel que seja do século V ou VI e seja de procedéncia ocidental © As introdugdes que seguem sio adotadas de The Book of Concord, The confessions of the Evangelical Luthe- ran Church, traduzidas e editadas por Theodore G. Tappert, Fortress Press, Philadelphia/USA, 1959. OS TRES SIMBOLOS ECUMENICOS O SIMBOLO APOSTOLICO' Creio em Deus, o Pai onipotente, criador do céu e da terra. Eem Jesus Cristo, seu unico Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido do Espirito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Péncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu aos infernos, no terceiro dia ressusci- tou dos mortos, subiu aos céus, esta sentado a destra de Deus, o Pai onipoten- te, donde ha de vir para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espirito Santo, a santa igreja catdlica’, a comunhao dos santos} a remissao dos pecados, a ressurreigdo da carne ea vida eterna. Amém* O SIMBOLO NICENO: Creio® em tim sé Deus, o Pai onipotente, criador do céu e da terra, de to- das as coisas, visiveis ¢ invisiveis. E em um s6 Senhor Jesus Cristo, Filho unigénito de Deus e nascido do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, ndo feito, consubstancial ao Pai, por quem foram 1. Titulo alemao: “A primeira confissdo ou simbolo é a confissdio comum dos apéstolos, na qual sc deita o fundamento da fé cristd, © reza assim’. 2. Texto alemdo: cristd. J4 desde 0 século XV era costumeiro traduzir ecclesia catholica com “igreja crista””. Vid. também nota em Catecismo Maior, Prefacio IT, secdo 13. 3. Sobre sanctorum communio vid. Catecismo Menor, O Credo, 5, nota em “uma”. 4. A forma primitiva do Credo Apostélico é antigo simbolo batismal romano. Damos em seguida 0 texto latino deste simbolo conforme estampado em BSLK, p. 21, e nossa tradugao: Cre- do in deum patrem omnipotentem. Et in Christum Jesum filium eius unicum, dominim nostrum, qui natus est de spiritu sancto et Maria virgine, qui sub Pontio Pilato crucifixus est et sepultus, ter tia die resurrexit e mortuis, ascendit in coelos, sedet ad dexteram patris, unde venturus est iudicare vivos et mortuos. Et in spiritum sanctum, sanctam ecclesiam, remissionem peccatorum, carnis re- surrectionem. (“*Creio em Deus Pai onipotente. E em Cristo Jesus, seu tinico filho, nosso Senhor, que nasceu do Espirito Santo e da Virgem Maria, que sob Péncio Pilatos foi crucificado e sepulta- do, no terceiro dia ressurgiu dos mortos, subiu aos céus, esta sentado a destra do Pai, de onde vira para julgar 0s vivos e os mortos. E no Espirito Santo, a santa igreja, a remissdo dos pecados, a res- surreigdio da carne.) Sobre unicum, tradugio do grego monogené, observa Hans Lietzmann (‘Symbolstudien”, in: Zeitschrift fiir die neutestamentliche Wissenschaft, vol. 21, 1922, p. 5) que unigenitum seria mais exato. Sobre de spiritu, traduc&o do grego ek preumatos, diz o mesmo au- tor (ibidem) que “‘e”” seria mais literal, e que também ‘ seria possivel. — A distingao “foi con- cebido pelo Espirito Santo” ¢ “‘nasceu da Virgem Maria’? é do IV século_ 5. Trata-se de uma reviséo do Credo Niceno. 6. Original grego: pistetiomen, cremos. ye Auaw 20 Os trés simbolos ecuménicos feitas todas as coisas; 0 qual, por amor de nés homens e por nossa salvacao, desceu dos céus, e encarnou, pelo Espirito Santo, na Virgem Maria, e se fez homem; foi também crucificado em nosso favor sob Péncio Pilatos; padeceu ¢ foi sepultado; e ao terceiro dia ressuscitou, segundo as Escrituras; e subiu aos céus; esta sentado a destra do Pai, e vira pela segunda vez, em gloria, para jul- Bar os vivos e 0s mortos; e seu reino nao tera fim. Eno Espirito Santo, Senhor e vivificador, o qual procede do Pai e do Fi- Tho; que juntamente com o Pai e o Filho ¢ adorado e glorificado; que falou pe- los profetas. E a igreja, una, santa, catélica’ e apostdlica. Confesso um sé batismo, para remissAo dos pecados, e espero a ressur- reic¢do dos mortos e a vida do século vindouro$ Amém. O SIMBOLO DE ATANASIO Escrito contra os arianos? Todo aquele que quer ser salvo,-antes de tudo deve professar a fé catoli- ca!® Quem quer que nao a conservar integra e inviolada, sem duvida pereceré eternamente. Ea fé catdlica consiste’em venerar um s6-Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substancia. Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espirito Santo; mas uma sé é a divindade do Pai ¢ do Filho e do Espirito Santo, igual a gloria, coeterna a majestade. Qual o Pai, tal o Filho, tal também o Espirito Santo. Incriado é 0 Pai, incriado o Filho, incriado o Espirito Santo. Imenso é 0 Pai, imenso o Filho, imenso o Espirito Santo. Eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o Espirito Sant contudo, no sao trés eternos, mas um unico eterno; como ndo ha trés incriados, nem trés imensos, porém um sé incriado e um sé imenso. 7. Texto alemao: crista. 8. As tradugdes portugueas que conhecemos tém ‘“‘mundo vindouro”’. Por causa das dis- cussdes em torno do acerto ou néo de falar em “outro mundo” em vez de “transformagéo do mundo”, parece-nos mais indicada a traducdo literal do venturi saeculi do texto latino. O texto grego, que é 0 original, tem tou méllontos aidnos. 9. Titulo alemao: “‘A terceira confiss4o ou simbolo chama-se Sancti Athanasii, que ele fez contra os hereges chamados ariahos, ¢ reza assim:...?” E incerta a origem do Credo Atanasiano. O que se sabe é que nao foi escrito por Atanisio. 10. Texto alemdo: cristd. Aqui e em todos os lugares onde o texto latino tem catdlico, 0 tex- to germ&nico tem cristo. O Simbolo de Atanasio 21 Da mesma forma, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espirito Santo é onipotente; contudo, nao ha trés onipotentes, mas um s6 onipotente. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espirito Santo é Deus; e todavia nao ha trés Deuses, porém um unico Deus. Como 0 Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espirito Santo é Senhor; entretanto, nao sfo trés Senhores, porém um s6 Senhor. Porque, assim como pela verdade cristé somos obrigados a confessar que cada pessoa, tomada em separado, é Deus ¢ Senhor, assim também estamos proibidos pela religiao catélica de dizer que sfo trés Deuses ou trés Senhores. O Pai por ninguém foi feito, nem criado, nem gerado!! O Filho é sé do Pai; no feito, nem criado, mas gerado. O Espirito Santo é do Pai e do Filho; nao feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. Ha, portanto, um tnico Pai, nao trés Pais; um dnico Filho, no trés Fi- lhos; um unico Espirito Santo, nao trés Espiritos Santos. E nesta Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou menor; porém todas as trés pessoas sdo coeternas ¢ iguais entre si de modo que em tudo, conforme ja ficou dito acima, deve ser venerada a Trindade na unidade ¢ a unidade na Trindade. Portanto, quem quer salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trinda- de. Mas para a salvacdo eterna também é necessario crer fielmente na encar- nagdo de nosso Senhor Jesus Cristo. A fé verdadeira, por conseguinte, é crermos e confessarmos que nosso Scnhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus ¢ homem. E Deus, gerado da substncia do Pai antes dos séculos, e é homem, nas- cido, no mundo, da substancia da mae. Deus perfeito, homem perfeito, subsistindo de alma racional e carne hu- mana. Igual ao Pai segundo a divindade, menor que o Pai segundo a humanida- de. Ainda que é Deus ¢ homem, todavia nao ha dois, porém um so Cristo. Um s6, entretanto, néo por conversdo da divindade em carne, mas pela assunc&o da humanidade em Deus. De todo um s6, nao por confusdo de substancia, mas por unidade de pes- soa. = Pois, assim como a alma racional e a carne é um s6 homem, assim Deus € homem é um s6 Cristo; 11, Genitus. Texto alemao: geborn. 13 14 15; 16 17 18 19 21 22 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 22 Os trés simbolos ecuménicos © qual padeceis pela nossa salvagao, desceu aos infernos}? ressuscitou dos mortos}? subiu aos céus, esta sentado a destra do Pai, donde ha de vir para julgar ‘os vivos € os mortos. A sua chegada todos os homiens devem ressuscitar com os seus corpos € vo prestar contas de seus prdprios atos; ¢ aqueles que tiverem praticado o bem irdo para a vida eterna; aqueles que tiverem praticado o mal irao para o fogo eterno. Esta é a fé catdlica. Quem nao a crer com fidelidade e firmeza, nado pode- ra salvar-se. 12. Ad inferos. 13, Texto alemao: ao terceiro dia ressuscitou dos mortos. Concordia Triglotta (p. 34) tem tertia die. Assim também reza 0 texto (textus liturgicus) inserido na edigao brasileira do Catecismo Romano (Vozes, 1951, p. 70). CONFISSAO DE AUGSBURGO Confissao de Fé' Apresentada ao Invictissimo Imperador Carlos V, César Augusto, na Dieta de Augsburgo, no Ano de 1530 SALMO 119° “Também falarei dos teus testemunhos na presenca dos reis, e nado me envergonharei.”” 1. O titulo alemao acrescenta: de alguns principes e cidades. 2, SI 119.46. Introducio No dia 21 de janeiro de 1530, o Imperador Carlos V convocou uma die- ta imperial a reunir-se em abril seguinte, em Augsburgo, Alemanha. Ble deseja- va ter uma frente unida nas suas operacdes militares contra os turcos, e isso pa- recia exigir um fim na desunido religiosa que tinha sido introduzida como resul- tado da Reforma. Conseqiientemente, convidou os principes e representantes das cidades livres do Império para discutir as diferencas religiosas na futura die- ta, ma esperanca de superd-las e restaurar a unidade. De acordo com o convite, © Eleitor da Sax6nia pediu aos seus tedlogos em Wittenberg que preparassem ‘untuviato sobre as Crengas € praticas nas igrejas dasua terra. Uma vez que uma exposigao de doutrinas, conhecida com o nome de Artigos de Schwabach, tinha sido preparada no verao de 1529, tudo o que parecia ser necessrio agora era uma exposicao adicional a respeito das mudangas prdticas introduzidas nas igre- jas da Saxénia. Tal exposicao foi, por isso, preparada por tedlogos de Witten- berg e, visto que foi aprovada num encontro em Torgau, no fim de marco de 1530, é chamada comumente de Artigos de Torgau. Juntamente com outros documentos, os Artigos de Schwabach e Torgau foram levados para Augsburgo. ba foi decidido fazer uma declaracao!luterana conjunta em vez de uma simples declaracao sax6nica, a explanacdo a ser apre- sentada aovimperador. Circunstancias também exigiram que se deixasse claro na declaracéo que os Iuteranos nao fossem reunidos ao acaso com os demais ‘oponéntes delRoittia. Outras consideracées indicaram que seria desejavel enfati- zar ‘Thais’aharmonia;com/Roma do que a8 diferengas. Todos estes fatores con- tribuiram para determinar as caracteristicas do documento que estava sendo pre- parado por Filipe Melanchthon. (Os Artigos de Schwabach tornaram=seva base para a primeira parte do que veio a ser chamado de Confiss4o de Augsburgo, e os Artigos de Torgaii tormaraii-se a sua segunda parte. Lutero, que nao esta- va presente em Augsburgo, foi consultado por correspondéncia,-fnlasiasyemen- das e revisGes continuaram sendo feitas até a véspera da apresentacdo formal a0 imperador, em 25 de junho de 1530: Assinada por sete principes e pelos re- presentantes de duas cidades livres, “@jConfissaovimediatamente\adquiriujimpor- tAncia peculiar como uma declarag&io publica de fé. De acordo com as instrucées do imperador,“OsitextosidasiconfissGesiforam apresentados'empalemao'ellatim: A leitura diante da Dieta foi feita do texto ale- mo, que é, por isso, tido como mais oficial “Infelizmenteyinem oltextojalemao nem © latino existem nas formas exatas em que foram apresentados. De qual- quer maneira, mais de cingiienta copias que datam de 1530 foram encontradas, incluindo esbogos que representam varios estagios no preparo antes de 25 de ju- nho, bem como cépias com uma variedade de novas mudancas no vocabulério feitas apds 25 de junho. Bstas'vers6es tém Sidolobjetordevextensos estudosicriti- cos da parte de muitos estudiosos, ¢ um texto latino ¢ outro alemAo foram re- construidos e podem ser considerados préximos, embora nao idénticos, aos do- ctimientosvapresentadosaollmperador. Existem diferengas entre os dois textos, raz4o por que ambos esto reproduzidos nesta obra. PREFACIO: (TRAD. DO TEXTO LATINO DO PREFACIO) Invictissimo Imperador$ César Augusto, Senhor clementissimo. Porquanto Vossa Majestade Imperial convocou uma dieta imperial para Augsburgo, destinada a deliberar sobre esforcos bélicos contra o turco, adversario atrocissimo, hereditario e antigo do nome e da religiao cristaos, isto é, sobre como se possa resistir ao seu furor e ataques com preparagao bélica duravel e permanente; e depois também quanto As dissensSes com respeito a nossa santa religido e, fé crista, e a fim de que neste assunto da religiao as opinides e sentengas das partes, presentes umas as outras, possam ser ouvidas, entendidas e ponderadas entre nés, com miutua caridade, brandura e mansidao, para que, corrigido o que tem sido tratado incorretamente’ nos escritos de um e outro lado, possam essas coisas ser compostas e reduzidas a uma s6 verdade simples e concordia crista, de forma tal, que, quanto ao mais$ seja praticada e mantida por nds uma sO religido pura e verdadeira; ¢ para que assim como estamos e militamos sob um mesmo Cristo, possamos da mesma forma viver em uma so igreja crista, em unidade e concérdia; e porque nds, os abaixo assinados, assim como os outros eleitores, principes e ordens, fomos chamados a supramencionada dieta, prontamente viemos a Augsburgo, a fim de nos sujeitarmos obedientes ao mandado imperial, e, queremos dizé-lo sem intuito de jactancia, estivemos entre os primeiros a chegar. Como, entretanto, Vossa Majestade Imperial também aqui em Augsburgo, no proprio inicio desta dieta} fez que, entre outras coisas, se indicasse aos eleitores, aos principes e a outras ordens do Império que as 3. O texto alemio do prefacio é da pena de Gregor Briick, chanceler do Eleitorado Saxénio. Justus Jonas é 0 autor da traducdo latina do prefacio. E essa traducdo latina que vertemos em por- tugués. Enquanto diminui o nimero de pessoas capazes de ler, com inteiro proveito, os originais alemao ¢ latino das Confissées Luteranas, cresce o mimero daqueles que entendem inglés. A edi- fo inglesa de T. G. Fappert (The Book of Concord, Fortress Press, Philadelphia, 1959), que traza traducao do prefacio germanico, é livro de facil aquisicdio. Favorecer4, por isso, a mtimero crescen- te de leitores o fato de havermos traduzido o prefécio latino para a edicdo portuguesa. 4. Carlos V, 1500 — 1558. 5. No original, secus. Texto alemao: nicht recht. Na Concordia Trigiotta, em que a tradu- sfo do prefacio da Confissdo de Augsburgo se baseia no texto latino, Ié-se: ‘“in a different man- ner.” © advérbio secus tem ambas as acepgdes, mas jé que 0 prefacio latino ¢ tradugdo do prefacio germénico, damos preferéncia ao nicht recht. 6. No original, de cetero. Concordia Triglotta traduz ‘‘for the future’. Assim também Leif Grane ¢ Bernd Moeller (Die Confessio Augustana, p. 13): ‘in Zukunft" Cremos que Justus Jo- nas teria escrito in ceferum houvesse suia inten¢do sido a de dizer “para o futuro”, se bem que 0 contexto parece sugerir a traduco “para 0 futuro” como a melhor. 7. No dia 20 de junho de 1530. 10 11 12 13 14 15 16 26 Contisso de Augsburga diversas ordens do Império, por forca do edito imperial, deveriam propor e submeter suas opinides e juizos nas linguas alemé e latina, e como quarta-feira passada$ apés deliberacao, se respondeu, em seguida, a Vossa Majestade Imperial que de nossa parte submeteriamos os artigos de nossa Confissio sexta-feira proxima} por isso, em obediéncia 4 vontade de Vossa Majestade Imperial, oferecemos, nesta matéria da religido, a Confissio de nossos pregadores ¢ de nds mesmos, tal qual eles, haurindo da Sagrada Escritura e da pura palavra de Deus, ensinaram!? essa doutrina até hoje entre nés. Agora, se os demais eleitores, principes e ordens do Império igualmente apresentarem, de conformidade com a precitada indicagéo da Majestade Im- perial, em escritos latinos e germanicos, suas opinides na questo religiosa, es- tamos dispostos, com a devida obediéncia a Vossa Majestade Imperial, como nosso Senhor clementissimo, a conferir, amigavelmente, com os precitados principes, nossos amigos, e com as ordens, sobre vias idéneas e toleraveis, a fim de que cheguemos a um acordo, até onde tal se possa fazer honestamente, ¢, discutida a questdo entre nés, dessa maneira, com base nos propostos escri- tos de ambas as partes, pacificamente, sem contenda odiosa, possa a dissen- sao, com a ajuda de Deus, ser dirimida e haja retorno a uma sO verdadeira e concorde religiéo. Assim como todos estamos e militamos'! sob 0 mesmo Cris- to, devemos outrossim confessar um s6 Cristo, segundo o teor do edito de Vossa Majestade Imperial, ¢ todas as coisas devem ser conduzidas em acordo com a verdade de Deus, e pedimos a Deus com ardentissimas preces que auxilie esta causa e dé a paz. Se, porém, no que diz respeito aos demais eleitores, principes e ordens, que constituem a outra parte, esse tratamento da causa nao se processar segun- do 0 teor do edito de Vossa Majestade Imperial, e ficar sem fruto, nés outros em todo o caso deixamos o testemunho de que nada retemos que de algum modo possa conduzir a que se efetue uma concérdia crista possivel de fazer-se com Deus ¢ de boa consciéncia, como também Vossa Majestade Imperial, e bem assim os demais eleitores e ordens do Império, e quantos forem movidos Por sincero amor e zelo pela religido, quantos derem ouvidos a essa causa com equanimidade, dignar-se-Ao, bondosamente, a reconhecer e entender dessa Confiss4o nossa ¢ dos nossos. Como Vossa Majestade Imperial também bondosamente significou, nao uma, senaéo muitas vezes, aos eleitores, principes e ordens do Império, e na Dieta de Espira, celebrada em 1526 A.D., fez que fosse lido e proclamado, de acordo com a forma dada e prescrita de Vossa imperial instrugdo, que Vossa Majestade Imperial, nesse assunto de religido, por certas razdes, que entdo fo- ram alegadas, ndo queria decidir, mas queria empenhar-se junto ao Romano 8. No dia 22 de junho. 9. Dia 24 de junho. Concordia Triglotta (p. 40), por engano, traduz proxima sexta feria com “‘on next Wednesday". A apresentagao foi transferida para sabado, 25 de junho. 10. Ou transmitiram. No original: tradiderint. inte sumus et militamus. Cf. BSLK. Artigo 27 Pontifice a favor da reunido de um concilio, conforme também essa questdo foi mais amplamente exposta, faz um ano, na proxima-passada Dieta de Espira, onde Vossa Majestade Imperial, por intermédio do Governante Fernando? rei da Boémia e da Hungria, clemente amigo e senhor nosso, ¢ além disso através do embaixador e dos comissarios imperiais, fez que, entre outras coisas, fosse apresentado, segundo a instru¢do, 0 seguinte: que Vossa Majestade Imperial notara e ponderara a resolugdo do representante de Vossa Majestade Imperial no Império, bem como do presidente e dos conselheiros do regime imperial, € dos legados de outras ordens que se reuniram em Ratisbona} concernente 4 reunido de um concilio geral, e que Vossa Majestade Imperial, outrossim, jul- gara que seria util reunir um concilio, e que Vossa Majestade Imperial nao du- vidou de que seria possivel induzir o Pontifice Romano a celebrar um concilio geral, porquanto as quest6es que entao eram tratadas entre Vossa Majestade Imperial e o Romano Pontifice avizinhavam-se de uma concérdia € reconcilia- ¢4o cristd. Por isso Vossa Majestade Imperial bondosamente significava que se empenharia no sentido de que o Romano Pontifice consentisse, 0 quanto antes possivel, em congregar tal concilio, através da emissdo de cartas. Se, pois; o resultado for tal, que essas dissensdes nao sejam compostas amigavelmente entre nds e a outra parte, oferecemos aqui, de superabundancia, em toda obediéncia perante Vossa Majestade Imperial, que haveremos de comparecer e defender a causa em tal concilio geral, cristao e livre, para cuja reunido sempre tem havido, em razdo de gravissimas deliberac6es, em todas as convengées imperiais celebradas durante os anos de reinado de Vossa Majesta- de Imperial, magno consenso da parte dos eleitores, principes ¢ ordens do Im- pério. Para esse concilio e para Vossa Majestade Imperial mesmo ja anterior- mente apelamos da maneira devida e na forma da lei, nessa questao, incontes- tavelmente a maior e mais grave. A esse apelo continuamos a aderir. E nao in- tentamos nem podemos abandona-lo, por este ou outro documento, a menos que a causa fosse amigavelmente ouvida ¢ levada a uma concérdia crista, de acordo com 0 teor da citacdo imperial. Quanto a isso, também aqui testifica- mos publicamente. Artigos da Fé e da Doutrina (TRAD. DO TEXTO ALEMAQ) ARTIGO I: DE DEUS Em primeiro lugar, ensina-se e mantém-se, unanimemente, de acordo com 0 decreto do Concilio de Nicéia!4 que ha uma s6 esséncia'’ divina, que é 12. A Arquiduque Fernando da Austria, desde 1526 rei da Hungria e da Boémia, irmao do imperador. 13. Regensburg. 1527. Compareceu mimero muito reduzido de pessoas, ¢ a dieta terminou sem resultados. 14, Vid. nota em I, Simbolo Niceno. 15, No original alem&o: Wesen. Texto latino: essentia. 7 18 19 20 21 22 23 24

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