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Organizadores Jorge Ferreira e Daniel Aarao Reis Colegio As Esquerdas no Brasil Nacionalismo e reformismo radical (1945-1964) CIVILIZAGAO BRASILEIRA Rio de Janeiro 2007 As esquerdas e a descoberta do campo brasileiro: Ligas Camponesas, comunistas e catdlicos (1950-1964) Mario Grynszpan Doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); professor de Hist6ria da Universidade Federal Fluminense (UFF) ¢ pesquisador e professor do Centro de Pesquisa e Documentagio de Histéria Contemporanea do Brasil da Fundagio Getulio Vargas (CPDOC-FGV). Marcus Dezemone Mestre em Histéria Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF) € professor do Colégio Pedro Il e do Instituto Superior de Educagio do Rio de Janeiro (Iserj). No ano de 1984, o cineasta Eduardo Coutinho langou um filme que pro- duziu um impacto consideravel, gerando debates e comentarios, sendo premiado dentro ¢ fora do Brasil. Seu titulo: Cabra marcado para morrer. Tratava-se de dois filmes em um, produzidos com cerca de duas décadas de diferenga, com linguagens cinematograficas distintas, com narrativas e enredos diversos, que se cruzavam na trajetoria de sua personagem cen- tral, Elizabete Teixeira, vitiva de Joao Pedro Teixeira, Ifder camponés as- sassinado no estado da Paraiba, no ano de 1962. Cabra marcado para morrer falava de varias hist6rias, Falava da histéria do Brasil entre o inf- cio dos anos 1960 e meados da década de 1980, uma historia que conheceu um momento de forte mobilizagao popular, uma conjuntura autoritaria, de repressio politica, iniciada pelo golpe de 1964, e um quadro de aber- {ura que levou ao fim do regime militar, Falava da histéria do préprio filme, que teve que ser interrompido com o golpe e foi retomado apenas no inicio dos anos 1980, jé em meio a abertura. Falava da histéria da desestruturagao de uma familia das classes populares a partir do assassinato do pai e, em seguida, da fuga da mae durante o regime militar. Falava da historia da uestdo agrdria no Brasil, uma histéria que, mesmo muito antiga, ganhou forte evidéncia no momento em que o filme foi feito e, j4 apds o golpe, embora permanecesse gerando conflitos diversos, tendeu, com a repres- S40 que se seguiu,, a refluir da cena pablica, reemergindo de modo mais sistemdtico no contexto em que a pelicula também foi retomada. O momento em que foi langado o filme é importante para compreen- seu impacto, Tratava-se de uma fase decisiva do processo de abertura der 2 as ESQUERDAS No BRASIL vozes como a de Elizabete Teixey, fone = 4 que assistiu 4 emergéncia de Vigo Us 0505 que viu novamente a quest, Jema nacional. Em 1979 ¢ em ie 1, possivel que ir a publico, a cidade € 0 campo, politica, dessem novamente V movimentos = pe importante prob! ia se imp' = trabalhadores rurais ee nazona canaving vendo dezenas de sindicatos e milhares de traba como Rio Grande do Norte, Paraiba, i Rio de Janeiro € $40 Paulo, também presenciaram | eiros anos da década de 1980. Além disso, pas. mente no Sul do pafs, protestos de pequenos agricola e crediticia do governo, com blogueios as cidades com maquinas e tratores, fechamento seringueiros se opunham ao desmatamento lo violentas reagdes por parte de proprieté. rios. Em outras dreas, trabalhadores rurais deslocados de suas terras pela construgio de barragens de grandes hidrelétricas passaram a resistir, orga- nizando-se no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Ao mesmo tempo, ocupagées de terras, que ocorriam de forma reduzida e de modoa agrari duas grandes grev de Pernambuco, envol Ihadores. Outros estados, Minas Gerais, mentos grevistas nos prim saram a eclodir, principal produtores contra a politica de estradas, manifestagdes ni de agéncias bancérias. No Acre, que extinguia seringais, gerand nao chamar atencio, passaram a intensificar-se, realizando-se abertamente, de infcio em estados como o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e mesmo Sio Paulo, com a reivindicagio de desapropriacao das areas ocupadas' As ‘ocupagées se expandiram ainda mais a partir de 1984 — mesmo ano do langamento de Cabra marcado para morrer —, quando foi criado 0 Movi- mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Assim como o filme, que fazia uma ponte entre dois momentos, # grandes mobilizacées de trabalhadores rurais de fins dos anos 1970¢ ink ance A tona memérias das lutas anteriores a0 golP® i sas, ceneae ca lembrancas mais fortes era a das Ligas Camper? se expandiu pelo Not es fe nc cade eae Wa a pa ara ee eee ae re Ce assassinato ee cae onesas que se filiava Jodo Pedro Teixeira, va marcado para morrer. 212 | NACIONALISMO E REFORMISMO RADICAL pESCOBERTA DO CAMPO E DA QUESTAO AGRARIA rir dos anos 1940 ¢, sobretudo, na década de 1950 e inicio = 198 Houve antes disso, é claro, grandes conflitos e mobilizagées envolvendo populagoes rurais, que foram objeto de tomadas de decisao politica. Bas- ta lembrar 0 movimento de Canudos, nos primeiros anos da Repiblica, que envolveu r milhares de pessoas, repercutiu fortemente nas cidades ena capital federal e que, identificado como uma ameaga & nova ordem, foi) _exterminado pelo exército depois de sucessvas investidas em que nume- ¥ Fosos militares t mbém foram mortos. As agées do exército contra os articipantes de Canudos foram vistas de maneira geral, no momento em Q camps esinato tornou-se uma novidade na cena Politica bi v ; me ue ocorreram, como uma luta entre a civilizagao e a barbarie, Nao era mponés o termo pelo qual eram chamados os participantes de Canudos, mas jagungos ou sertanejos, descritos como bandidos e fandticos.,Houve, portanto, entre 0 momento em que ocorreu o movimento de Canudos e as décadas de 1940 a 1960, uma mudanga fundamental nas formas de percepcao do campo e de suas populagées no Brasil. Tal mudanga fez com que o préprio movimento de Canudos passasse a ser interpretado de for- ma distinta, ganhando um sentido crescentemente positivo.? O campo continuou a ser visto como lugar por exceléncia do atraso, por oposi¢ao as cidades, desenvolvidas e industrializadas. Seu atraso, po- rém, foi deixando de ser atribufdo a elementos naturais, geograficos, cli- méticos, a doengas ov a composigao racial, genética, das populagéesrurais, para ser tomado como decorréncia de causas econdmicas esociais. Apon= |, ° sendo a princip: ‘a concentraco histérica da pro- | = hierarquia social, nas maos tava-se, como sendo a principal destas, priedade da terra no Brasil, que, no topo da de latifundidrios, gerava um acimulo {tico, ao mesmo tempo que, na de vida, de saide e de edu- | luta pela sua manutengao | dos grandes proprietérios, chamados enorme de poder econémico, social € pol base, distribufa miséria, fome, més condig6e cago, Esse actimulo de poder e de privilégio ea pane Cun 94 9d F 213 AS ESQUERDAS NO BRASIL profundas das condigées che ts 5 como causas mais ais como um todo, @ existentes nao somente no campo, mas no pi isd irmou, 0 atraso : Na verdade, na visdo que se afirmou, do campo, dng : ; > ‘ ldo latifindio, operava como uma Ancora que impedia o pleno i; Ss | yimento do pats, tornando-o vulnerdvel aos interesses imperializas5, tes, isso ocorria porque, relegand, “ e = - gundo andlises que Se tornaram corren pulagdes rlarais que, até a década de 195 H s . we ea pobreza ¢ a0 jsolamento as pO} : : ‘ eee (a? representavam cerca de 70% da populagao total do pais, o latifindio in. pedia 0 alargamento do mercado interno e 0 proceso de industrial gio. Além disso, mantendo sob controle essas populagées, as elites agriria, 0 latifundidrios, conservavam bases de poder que lhes garantiam uma grande influéncia nas tomadas de decisio e na implementagao de agées politicas. Por tudo isso, para uma | grande parte do espectro itico, 0 smicos € também politicose lo latiftindio. O instrumento nte defendida passaram a ser visto! Ovohs De ABest desenvolvimento nacional, em termos e sociais, passou a st st associado a eliminagao g eer kano “s a reforma agraria, que, inicialme ri aieeereea open ph ee ane a ‘ seu Sentide Tedistrgut Para cles em a melhoria das condicdes ere He tase ea ace Fenda ¢ © seu acesso a etn “ Eee oe! ae 8 16a ho openoneona reg da pro 7 ters, oque se vinha airmande eras arog istribuigao da propr 4 isio de que as populagdes rurais 125"? viviam f uma situacio ji vg 80, firmar co insustentavel, guy i i sairmara-s€ a convicgao | que deveria ser modificada. Além 48 do rural ws 5 de ¥ [rams nove da props ssmdansas necessérias no mundo 8 categori : one wf” | tidos distineos des a tlerncin soma essas vis6es, Le ® poucos cedendo lugar a ears Pe erencialm 0 rural, marcadas por si \Y | de uso corrente, alguns ¢ mp ente utilizadas. Sertao foi 9° | para camponés. E; pie Mn eo as 4 2 2 a 0. Sert: . . fanejo, ¢, mM Ver da j Olidados aa Turicola e outros rantos termes ismorancia, ds pet foram perdendo espse? 'Meenuidade, da irracionalidad aq NACIONALISMO E REFORMISMO RADICAL edo barbarismo atavicos, que, bi visGes anteriormente dominantes, ca- racterizavam as populagdes Turais, tidas como impermedveis ao Progres so ¢ acivilizagdo, era o ativismo, a luta politica contra uma situagio social considerada indigna, injusta, luta a cujo desfecho se atrelava o desenvol- yimento da nacao de maneira geral, que marcava as imagens que se impu- seram do camponés. A produgao e a generalizagio de novas categorias de Percepgao do mundo rural e de suas populagées tomaram a forma de uma verdadeira descoberta do campo e dos camponeses, que passaram a ocupar lugar pri- vilegiado na producio artistica e cultural de maneira geral, nas andlises sobre a realidade brasileira e nas ag6es politicas. Cabra marcado para morrer foi, em grande parte, resultado dessa descoberta. Envolvido com as atividades do CPC, Centro Popular de Cultura da Unido Nacional dos Estudantes (UNE), 0 entdo jovem cineasta Eduardo Coutinho participou, no inicio dos anos 1960, de um projeto itinerante, a UNE-Volante, cujo objetivo era documentar e divulgar a cultura popular no Brasil.§ Foi pas- sando pela localidade de Sapé, na Paratba, onde se realizava um protesto contra a morte de Jodo Pedro Teixeira, que o cineasta conheceu Elizabete uma dupla descoberta: a descoberta do campo pela cidade, mas também a daccidade pelo campo. E importante destacar que o latifindio ¢ o sistema de dominacio se- S cular por ele representado passaram a ser sistematicamente denunciados “k justamente num momento em que o mundo rural brasileiro vivia intensas transformagées. Tais transformagées, que tinham origens € assumiam for- sp mas ¢ ritmos diferentes nas varias regides do pafs, produziram impactos| “© Significativos sobre as préprias relagées tradicionais de dominagao, crian- do condicdes para a sua ilegitimacao, além de ocasionarem, como uma de Suas expressées mais evidentes, uma intensa e generalizada expulséo de cam- Poneses das terras onde viviam, sobretudo no interior das grandes Propries’ dades. No Nordeste, naquele contexto, essas transformagées assumiram dimensées particularmente draméticas, atingindo um enorme contingente 215 AS ESQUERDAS NO BRASIL lobramento desses processos, ao me "SMO t iS eacidade yoltava seu olhar para 0 campo, Os camponeses torn, te presenca cada vez mais freqiiente e numerosa nas cidades, Ny se dev segundo modalidades diversas, com sentidos e desdoh, te ntos. Uma dessas modalidades foi a do éxodo rural, ado oe lonava o campo em busca de emprego nas grandes cida tay periferias ¢ favelas.” Outra foi a do camponés que, a + em periferias € favelas, continuava a trabalhar para des das quais havia safdo, agora sob nova relacio, Oy. passou a se tornar freqiiente e numerosa, foi ady tra esses processos, que buscava permanecern soes ¢ o arbitrio dos grandes proprictiris, ‘onar autoridades e buscar 0 apoio das nifestagoes de protesto, exigindo d- pulacional. Como desd' qui uma senga tos disti < } que aband 9 | chando suas S3 | passando a vive! ™ | grandes proprieda tra ainda, que também camponés que reagia con! /’| terra lutando contra as expul: e vinha para as cidades pressi realizando mat forma agraria.® qu populagées urbanas, reitos, reivindicando uma re TA NO MUNDO RURAL: LIGAS EPCB ORGANIZACAO DO CAMPESINATO E DISPU 1 das elites agrarias, dos latifu- eas populagoes rurais, a5 expul- que passasse 4 ser um volum forma plem tanto 4 6 Se uma das bases fundamentais de pode diérios, era o controle que exerciam sobre soes destas das terras contribuiram para Q meio delas se foi criando, nas cidades e n gente sobre o qual o controle tradicional dei que passou a ser disputado por agentes ae quanto a direita, embora tenham sido as agoes da oa evidencia E esse um importante elemento de ae i os eee co inicio dos anos 1960, pela oe pundoniscomenen as la verdade, aquele contingent? Pee be entre diferentes grupos eee poor da ow a dircitas l0s- los no interior de cada um desses E a a minada. Por 10 campoO; ‘oso conti ixava de incidir de politicos diversos, saa) zs NACIONALISMO E REFORMISMO RADICAL ‘7 uma das formas pelas quais se deu essa disputa foi a criagio de orga- \ nizages que congregavam € lideravam os camponeses em suas lutas, fa- } Jando em seu nome, expressando seus interesses e suas reivindicagées, Disputando os camponeses, essas organizacées buscavam o monopélio de sua representagao, apresentando-se e sendo reconhecidas como suas por- || ta-vozes autorizadas, legitimas, |Z | | Que fe PrasentPus OS true ORGANIC Os camponeses nao eram exatamente uma novidade nos discursos e documentos produzidos pelos setores de esquerda no Brasil. O que se apre- | sentava como novo na conjuntura que se abria era que, em vez de continua- sentava COMO NOVO Na CONPMNINTE ANE Se abria era que, em vez de continua- | remasetmais um componente da retérica revolucionaria, os camponeses se transformaram em objeto de agées ¢ investimentos concretos. Foi a partir . dadécada de 1940, e sobretudo dos anos 1950, que os grupos de esquerda i) passaram a deslocar quadros para a atuagdo no campo, gerando apreen- [Sao entre os setores conservadores. Expressio desse temor foi Conosco, | 4 | | sem nds ou contra nés se fard a reforma rural, documento pastoral de 1950, 2 de dom Inocéncio Engelke (1977), bispo de Campanha, em Minas Gerais. | Segundo ele, agitadores estavam chegando a Area rural, aproveitando-se | | das mas condigdes que ali predominavam, para insuflar a revolta entre a || sua populacdo. Como resultado dessa aco, a Igreja poderia terminar afas- | tada dos camponeses, da mesma forma como, na visio do bispo, jé havia acontecido com os operdrios. Urgia que ela e os proprietarios se anteci- | | Passem a revolugado, promovendo a melhoria das condigées de vida das | Populagées rurais. SEM MO OAR jP/ MAD TENE OS OmPoursO TRA OS AGIA NES Gis cn CLeUs Pre conan Q | O argumento de dom Inocéncio — de que as condigées existentes no campo favoreciam a agao de agitadores € que, portanto, era preciso alter4- las de modo a evitar que ocorresse no Brasil uma revolugao — tornou-se Tecorrente numa extensa parte dos setores conservadores. O temor de que Pudesse ocorrer no Brasil uma transformagio radical da ordem social, deslanchada a partir do campo, encontrava seu fundamento nao somente ©M processos internos, mas também externos. Tratava-se da participagao imentos politicos recentes bem-sucedidos, luciondrio, que desembocariam na construgio de regimes 2 ste Pe Sucedinas decisiva do campesinato em m de carater rey ORAS SO a EM 217 ‘as ESQUERDAS NO BRASIL aN i ietnd e em Cuba, Além de s 7 NS gocialistas, comO 94 China, no Vi z ue consi $ 80 elemento de preocupasao para os setores conservadores, ae m como um reforgo da a¢ao dos pos de emum fort ie . s mel i jo_operava tambel ——— ~ articipag mp9 tomada como evidéncia de que revolucées, & dif. 5 i cm gel apontavam as teses classicas, podiam ocorrer tam. \ paises pit icc predominantemente agricolas, onde a maiorig | dos trabalhadores era formada pelo campesinato € nao Pelo operariado.9 Foi essa a visdo que, g70ss0 modo, aos poucos se impés entre os gru- pos que atuavam junto A organizagdo que mais ficou associada 4 meméria das mobilizagdes que antecederam o golpe de 1964 —as Ligas Campone- sas, As Ligas se originaram das lutas dos foreiros do Engenho Galiléia, Antdo, Zona da Mata de Pernambuco. Foi localizado em Vitéria de Santo no Engenho Galiléia que a primeira delas foi criada, em 1955, expandin- do-se rapidamente por varios municipios e chegando a estabelecer niicleos P) Pp iP! em outros estados."" Sua atuacao mais intensa, porém, se deu no Nordes- , Pi y te, sobretudo em Pernambuco e na Parafba, onde se localizava a maior das Ligas, a de Sapé, a frente da qual esteve Jodo Pedro Teixeira. ; E importante, para entender a projecao nacional das Ligas e de seu der mai A . - - ider ee conhecido, Francisco Julido, levar em conta as representacoes ue se impuser anci : ae fa B ; a ae oNordeste, principalmente a partir dos anos 1950. ssa década, em ; Pan eoblems larga medida, que o Nordeste se afirmou como grande Ee =] a, Caracteri; . eo ges. i 2 secas, pela aaa i aes Por calamidades climéticas tais quais a —7 k= eee ‘a fome, indi . ‘ | de satide e educacio — *» Por indices altos de mortalidade e baixos vor das clits loene peeP HO se difundiu pelo trabalho de um lectuais, que passaraim ¢ mon gn? Wo cmPresaios, de religiosos e de inte » que passaram a mobilizar recur. 7 que fossem implementadas politicns een a Pressionar © governo para do seus problemas, o que era — ae beneficiassem a regiao, corrigin- entado ; aprumar 0 curso do desenvolvimento 7 como um passo importante par trabalho resultou, em dezembro de ise ‘4 Nagao como um todo.” Dessé a criagdo i A 5 . sete de Superintendéncia para g Devers seeing Kubitschek lene). is : ¢). De maneira geral, eram Ch ¢senvolvimento do Nordeste cai ™Poneses e suas familias 35 ze Lm NACIONALISMO E REFORMISMO RADICAL presenigas mais constantes nas Fepresentacoes visuais, nas imagens que ex- pressavam oS grandes problemas da regiao. A vinda em massa de nordes= tinos de origem rural para as cidades do Sudeste tornava os problemas ainda mais perceptiveis ¢ proximos. Por essa via, fortaleceu-se também a nogdo de que, na base de todos os problemas, estava o latiftindi Assim, a mobilizag: io camponesa € a ago das Ligas foram vistas como. decorrén- rais, conseqiiéncias inevitaveis e legitimas da situagao existente io, gerada pelo latiftindio. — aaa ~ Foi também bastante propicia para a afirmagao das Ligas a conjuntura em Pernambuco, naquele momento, quando foram deslocados do poder 0s grupos que tradicionalmente controlavam a politica local, identifica- dos com 0 Partido Social Democratico (PSD). Isso tornou possivel a elei- cio para a prefeitura de Recife, em 1955, de Pelépidas Silveira, do Partido Socialista Brasileiro (PSB). E depois, j4 em 1958, de Cid Sampaio parao os. governo do estado, por uma aalianga d de centro-esquerda que reunia a Unido Te Democratica Nacional (UDN), o Partido Social Progressista (PSP), 0 Par- mp9, tidoT Trabalhista Brasileiro (PTB), o PSB e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que, _mesmo_na ilegalidade, atuou fortemente. Mais adiante, em 1962, também para o governo do estado, foi eleito Miguel Arraes, que, identificado com uma linha de esquerda, abriu maior espago para os mo- vimentos sociais.3 As Ligas nao eram representacGes sindicais,-mas-sim-entidades civis, tegistradas em cartério. Uma vez que, & diferenga dos sindicatos, nao ne- Cessitavam de reconhecimento oficial, mantinham margem de autonomia 5 (Ak Giu?!) cond Farce votes DAS Utes Cag DuEvas. MH MAGS 40 etADo em relagio ao Estado. Um dos principais focos de sua ago foi a luta con- tta 0 cambdo, trabalho nao remunerado que, durante um determinado ndmero de dias Por ano, o camponés prestava a0 senhor. P havia Muitos anos, ele le passou a ser visto como u , um problema quanda-os Proprietérios comegaram a cobrar mais dias, intensificando a exploragio sobre os 05 trabalhadores, ao mesmo tempo que se generalizavam as expul S6es, De fato, o aumento do cambio agia como uma forma de pressio Sobre os camponeses para que safssem das grandes propriedades. A safda, Aylonomun DAS Uoas 219 AS ESQUERDAS NO BRASIL foram também um alvo fundamental das lutas das Liga, Diy a) a resisténcia, a recusa a abandonar a terra, a reivng 4o de sua desapropriacao, 4 realizagao de manifestacdes e Prot, fuses de apoio e de solidariedade. Uma importante dimensio 180 recy, | 0 a0 Judiciério, quando advogados, como © Proprio Francisco jy;, | procuravam estender legalmente a aaa nas Propriedades oy, ¢ | caso de impossibilidade, forgar 0 proprietario ao pagamento de uma in, Como as expulsdes vinham se dando em massa, as indeniza. «| denizagao. 7 . ee oderiam alcancar tal monta que comegariam a agir como um frig as expulsdes, lutas envolviam as investidas dos proprietarios. Mais do que a possibilidade de obter uma indenizagao, que dificilmente se efetivava, o principal efeito do recurso ao Judicidrio era minar a auto. §* ridade dos proprietdrios. Tratava-se de mostrar ao camponés que ele era detentor de direitos, nao precisando curvar-se e aceitar a imposigio da vontade arbitrdria dos grandes proprietarios. Levar os grandes proprieti- tios Justica, um poder maior, implicava enfraquecer a dominagio que eram capazes de exercer, relativizando como senhores absolutos."§ ) [Ao longo de sua trajetoria, as Ligas experimentaram um proceso de . \Tadicalizagao, incluindo agées de forga em suas taticas, ocupagées de ter- : ras e enfrentamentos diretos com prepostos dos grandes proprietitios. Associaram seu nome & proposta de uma reforma agraria radical, que se faria na lei is : : #04 na marra, isto €, com ou sem apoio legal, pela acao direta los camponeses. Essa associ: entao primeiro-ministro Ty, Presidente Joo Goulart (PTB), ‘¢s (PSD) ¢ 0 governador de Minas f . nn as Ligas que deram o tom do Con- Unite a4 TesPonsavel pela realizacio 98 Lavradores e Trabalhadores Gerais, Magalhdes Pinto (UDN), Fo Bresso, ainda que estivessem ali em do evento foi outra organizacag a 220 NACIONALISMO E REFORMISMO RADICAL Agricolas do Brasil (Ultab), de presenga nacional mais efetiva eA qual se yinculava a maioria dos Presentes, O Congresso de Belo Horizonte foi palco de disputas entre as Ligas ¢ a Ultab, forcas Politicas que buscavam consolidar seu controle, afirmar seu monopélio sobre a Tepresentagio do campesinato. A Ultab foi criada em 1954, sob influéncia do PCB. Um de seus prin- cipais dirigentes foi Lyndolpho Silva, alfaiate membro do Partido que, desde a segunda metade da década de 1940, passou a trabalhar junto aos camponeses do entéo chamado Sertao Carioca, zona rural da cidade do Rio de Janeiro. A trajet6ria de Lyndolpho Silva guarda semelhanga com as de outros militantes do PCB que, atuando junto ao operariado urbano, comegaram a ser deslocados para o trabalho politico no campo naquele mesmo perfodo. Em seu Pleno de janeiro de 1946, o partido acentuava a importancia daquele deslocamento para a organizagao dos camponeses em torno da luta politica por seus direitos. De fato, foram criadas algumas organizacdes camponesas ainda e meados dos anos 1940, com a presenga de militantes comunistas. Su: atuagdo, contudo, foi superficial e descontfnua. Foi apenas a partir da dé} cada de 1950 que o trabalho de organizagao se tornou mais efetivo, sen do observado em varios estados. Diversas organizacoes camponesas,|.5 sobretudo associagées de lavradores e trabalhadores agricolas, foram cria- das nesse processo, tendo, assim como as Ligas, o estatuto de entidades civis. Uma das justificativas apresentadas para isso era que a legislagao e as normas vigentes impunham uma série de obstdculos a criagao ¢ ao re- conhecimento de sindicatos camponeses. Efetivamente, até fi 1950, havia apenas cinco sindicatos reconhecidos na area rural no pats, 0 Que era atribufdo, em encontros de trabalhadores, a dificuldades sistema- ticamente interpostas pelo Ministério do Trabalho visando a dificultar a stlagio e o funcionamento dessas entidades., Ainda que dificuldades pudessem realmente existir, hd que se ial em Conta que a legislacao vigente facultava a organizagéo em sindicatos aqueles {ue eram considerados empregados rurais, isto é, aos que s¢ empregavam Sivtenatae DO WB Mo Une. [AS ESQUERDAS NO BRASIL nas terras de alguém em troca de uma remunerag toda uma série de categorias que nao se oa , como empregados, nao dependendo para a sua reproducio de = dio em troca de trabalho, como foreiros, arrendatitos a os e mesmo pequenos proprictarios. Tais eram as cee in mobilizando e lutando de modo mais intenso a ‘Além disso, deve ser destacado que, na avg, s 1950, os sindicatos eram a forma de organiza iados e semi-assalariados rurais, cabendo munera ros, posseir Q) que vinham se "grandes proprietarios. do PCB, até fins dos ano: Gao mais indicada para assalari aos demais setores do campesinato as associagGes e entidades civis, nig ou dependentes do Estado. A autonomia era importante paraas {fatreladas na visio dos comunistas, esses setores deveriam travar. Para o | lutas que, we A \ PCB, naquele momento, 0 que buscavam os camponeses, prioritariamente, nao eram melhores salarios ou direitos trabalhistas, mas a garantia do ~ | acesso & terra. Era fundamentalmente por terra, portanto, que eles luta- : yam, e deveriam fazé-lo, inclusive, pelo recurso as armas, enfrentando os es _latifundiatios, suas milfcias e mesmo a policia e tropas do governo. Alguns enfrentamentos chegaram a ocorrer no campo, naquele mo- mento, com a presenga de militantes do PCB, alcangando forte repercus- 16 Outro, em Goids, sao. Um deles foi se tornou conhecido como a Revolta de Formoso e Trombas. Jé no final {2 da década de 1950, porém, o PCB passou a rever suas posicdes e a privi- legiar formas legais e pacificas de luta. A propria organizacao sindical fo sendo vista como uma meta a ser buscada nao somente por assalariadose semi-assalariados, mas pelo conjunto do campesinato. —=~S~S dcop ree en a re fortemente daquelas dos dirigentes das Li s. Também indi @® sa Para estes, os sindicatos se ajustavam A rganizagao dos as salariados que, por sua insercao nas rela, a regido paranaense de Porecatu NACIONALISMO E REFORMISMO RADICAL eram vistas Como as tinicas Capazes de sustentar uma luta efetiva pela ter- ra, uma vez que, tendo acesso ainda que precario aos meios de Producio, podiam garantir de forma auténoma sua reproducao, em meio ao enfren- tamento com os grandes proprietarios. Além do mais, ao lutar Por terra, opondo-se diretamente ao latiftindio, essas categorias é que poderiam li- bertar 0 campesinato como um todo. Enquanto as Ligas mantiveram essa visio, contudo, o PCB a foi reven- do. Segundo a anilise politica que passou a prevalecer no partido, princi- palmente a partir de fins dos anos 1950, a influéncia dos lati fundidrios yinha declinando, cedendo espaco a forgas mais dinamicas, identificadas com o proletariado e a burguesia. Assistia-se assim no Congresso, a cada legislatura, ao crescimento do ntimero de parlamentares comprometidos \ A com propostas nacionalistas e democraticas, o que indicava haver condi- 2eve** fon xO 2 Gs Fw gées para que fosse conduzida por meios pacificos o que se chamava de uma revolugao antiimperialista e antifeudal. Nesse quadro, a reforma agréria era vista como um meio para se eliminar a estrutura feudal que, na anélise dos comunistas, prevalecia no campo, impedindo a plena in- dustrializagao do pafs, favorecendo os interesses imperialistas. O desen- volvimento econémico e social era visto como uma etapa fundamental, prévia, para que, af sim, o Brasil pudesse tomar o curso de uma revolucéo efetiva, de cardter socialista. O que cabia naquele momento, até como forma de possibilitar e consolidar conquistas, era atuar nos marcos da le- galidade democratica e constitucional, promovendo formas legais de luta ede organizagao de massas. Em vez de palavras de ordem radicais, amplas, deveriam ser privilegiadas as lutas especificas, imediatas, por meio de or- Banizagées legais, entre as quais se destacavam os sindicatos.”” As disputas entre os comunistas e os dirigentes das Ligas em torno do campesinato assumiam, portanto, ainda que nao para o publico mais amplo, a forma de uma tomada de posicdo e da realizacao de agdes coe- Tentes com o que cada um dos grupos considerava ser 0 estdgio de desen- Volvimento do Brasi I, o curso que nele teria 0 processo revolucionédrio eo Papel que neste seria desempenhado pelas diferentes classes sociais, os 223 10 qs ESQUERDAS NO BRASIL nto o PCB tendeu a adotar POSigbe5 ms: 0 argumento de que se tratava, ties mo no pais, etapa fundamentlepat ista, que deveria ter a frente ie icaram-se a posturas radicais, com scar mudangas mais profundss as a partir, sobretudo, das htas is Ligas destino de dissidents Cubana ou 1 identificados com Mao Tsé-tung, além de mi- m como ocorreu em Cuba, 1, foi reforgada com no- v ; Ir camponeses em particular. Enqua' | ists, fundadas n formistas; legalii \ re an nvolver 0 capitalis! | momento, de dese! n ma transformaca0 de carater social rariado, OS dirigentes das Ligas identifi | a visio de que havia condig6es para se b Lona estrutura social brasileira, deslanchando- ‘camponesas. Nao por acaso, tornaram-se a do PCB mais préximos 4 linha da Revolugao © pensamento do lider da Revolugao Chinesa, litantes trotskistas. A visio de que as Ligas, assil uscavam estabelecer focos de guerrilha no Brasil ticias, em 1962, da prisao de alguns de seus militantes que transportavan tado de Goids. E mais adiante, quando Juliao investiana sformagdo em um movimento criando o Movimento um avido no Peru, qe de documer WW vaaules Moin is Do 1B As Ke, hens, SRidwun armamento no es nacionalizagao da organizagao € na sua tran: politico mais amplo, nao restrito a 4rea rural, Revoluciondrio Tiradentes (MRT). A queda de conduzia diplomatas cubanos, teria permitido a descoberta tos sobre a existéncia de vinculos entre aquele movimento ¢ co governode Fidel Castro. Ainda que tenham sido essas as visGes que se afirmaram, creas hn duas fenaeneias nao seguiam um padrao rigido, politica acionados pelos a rea de acusagao € de estigmatoae® Ligas também Fear cee eee disputas. Como jase 4 > | des proprietéi ages de cardter legal, procurando levar gar gh | despropriettios perant o Jucir ? ¢ o 3 <7 | importante recurso de enfra ldrio, até porque as percebiam a ee | terra. Francisco Juliao sane ee a Suto ee senhor . uma arma poderosa ns lias tots divers vezes, que © Cédigo Civil zagdes camponesas préximas ao PCBienbémy ‘Ao mesmo tempo a rea parti'doinkciodosanos1960, «ee principale? , ocupacses de terras em varias 8 a a as agdes com” unicamente NACIONALISMO E REFORMISMO RADICAL buscando forgar a sua desapropriagao. Isso Ocorreu, por exemplo, no es- rado do Rio de Janeiro, com particular intensidade na regio conhecida ‘como Baixada Fluminense, onde varias fazendas tiveram sua desapro- priagio decretada pelo Governo federal. Na verdade, a concorréncia entre aqueles que procuravam se apresentar como legitimos representantes dos camponeses terminou Por produzir uma radicalizagao das agGes de grande parte deles. Por outro lado, deve-se notar que até acoes mais radicais tinham por referéncia a legislacao existente. As ocupagées de terras tornaram-se mais intensas e abertas a partir do momento em que o mecanismo da desapropriagao por interesse social, previsto na Constituicéo vigente — a de 1946 — foi regulamentado por iniciativa do Governo federal, j4 em 1962, tendo a frente Jodo Goulart. Desapropriagdes haviam sido feitas antes disso, por governos estaduais. Elas ocorreram em Pernambuco, em 1959, durante o governo Cid Sam- paio, com o Engelho Galiléia, bergo das Ligas. Também no estado do Rio de Janeiro, onde foi criado, no governo do petebista Roberto Silveira (1959-61), um Plano Piloto de Agdo Agrdria, a desapropriagao de algu- mas fazendas chegou a ser decretada. Iniciativa semelhante teve Leonel Brizola, quando ainda governador do Rio Grande do Sul, em 1962, desa- propriou as fazendas Sarandi e Camaqua. As terras que tiveram a sua de-], sapropriacdo decretada, o que foi feito por governos mais atentos aos setores populares ou nos quais as esquerdas tinham alguma presenga, eram so € Us Lots, 5 POR Goy Dash areas onde camponeses vinham resistindo contra tentativas de ex foram consideradas de utilidade pablica..Com a regulamentagio do dis- Positivo da desapropriagao por interesse social, nao somente se firmou 0 principio de que a propriedade deveria cumprir uma fungdo social, sendo explorada para tanto e podendo ser tomada se nao © fizesse, como 0 g0- verno federal chamou para si o papel de intervir nos confflitos agrarios, Podendo fazé-lo em qualquer estado, independentemente da filiagdo po- litica do governador. Esse papel foi reforgado ainda no final do ano de 1962, pouco apés a regulamentagao da desapropriagao por interesse $0" Cial, quando foi criada a Superintendéncia de Politica de Reforma Agraria ESA PA poe? As ESQUERDAS NO BRASIL (Supra), que tinha como ul tagio daquela medida. Como a outros aspects pela existe! assumindo uma expresso P' mento mais claro, com resistén ocupagdes de terras. Explicitav: desapropriaga0- ‘As ocupagoes foram, s de um grupo- Se oco' partir de organizago arte delas terminava de rras em disputa, portanto, sé tornando mais do exclusiva mo se dava a medida em que ao menos Pi decretagao da desapropriagao das te! saram também a promover ocupagée: Gerou-se assim, em algumas 4reas, uma volveu mesmo liderangas politicas de perfil conser ampliar suas clientelas eleitorais. Foi esse © caso, por tado federal fluminense Tendrio (PST), com atuacao na Baixada F de varias ocupagées."* OUTROS AGENTES PRESENTES NO CAMPO Nem todos os agentes que atuavam no campo, entret suas ee promoveram ocupagées. Um deles, de im, i a Igreja Cat6lica. Na verdade, a presenga da Igreja ro era j4 muito anti pate nantes. Apanie ae mas principalmente associada aos 8°UP' eojé mmencionndo doce 1950, mudangas significativas passaram ¢ locumento pastoral de dom Inocéncio Engelke grupos de esqui erda. Na da. Nao por acaso, como relatou Francisco Ju sinato, promov. 7 | endo sua organizagao, de modo a se contrap 226 Cavalcanti, do Partido Social Juminense, onde seu grupo est ma de suas atribuigdes principais a imp) 5 desapropriagées eram justifica i ncia de litigios, as agées dos lavradores a iblica mais aberta, um carter de aes cias muitas vezes armadas e, principalnens a-se 0 litigio social para que se obtivese, freqiientes, nio sen. rriam sob a lideranga das Ligas,o mes. es proximas a0 PCB. Além disso, na fato por conduzir’ outros agentes pas- .s de modo a obter ganhos politicos. disputa por ocupagées que en- yvador em busca de exemplo, do depu- Trabalhista reve A frente ant, radicalizaram portante presen no campo brasilei- os domi" corte foivm ¢ junto-a0-campe ora agio.des o algum® id NACIONALISMO E REFORMISMO RADICAL yezes, além do Cédigo Civil, a Biblia era sempre levada Por ele em suas surses NO CAMPO, sendo_um importante elem: ears inc! 3 D presenga. Julio procurava mostrar aos camponese: sua que, a0 contratio cipios do cristianismo. Além disso, se a Igreja Catélica Procurava obstar a agio das Ligas, tecendo ameagas aos que as seguissem, a Presenga de lide- rangas protestantes na organizagao agia de modo a neutralizé-las. Joao Pedro Teixeira foi uma dessas liderangas. Era particularmente no Nordeste que se davam as disputas entre as Ligas ¢ a Igreja Catélica, Nacionalmente, o grande contendor da Igreja pela representagao do campesinato foi o PCB. Na verdade, a partir de 1962, as Ligas foram sendo deslocadas do centro das disputas em torno da re- presentagao dos camponeses, disputas que passaram a se dar, fundamen- talmente, em torno da criagao de entidades sindicais. Assim como os ditigentes das Ligas e o Partido Comunista, a Igreja também criou asso- ciagées de cardter civil no campo, mais cl ya ca 1950. Essa atuagao se dava, em larga medida, por intermédio de grupos leigos a ela ligados, como os Circulos Operdrios Catélicos. Eles surgiram no Rio Grande do Sul, em 1932, com o objetivo de promover a doutrina catlica e reforgar os vinculos da Igreja com os trabalhadores, influindo diretamente junto aos sindicatos, buscando conter a influéncia dos grupos de esquerda. Os Circulos se expandiram nacionalmente durante o Estado Novo, com o apoio ¢ 0 incentivo abertos do governo, € tiveram, ji nos anos 1950, um papel importante na formagao de entidades camponesas.'? No inicio da década de 1960, assim como o PCB, a Igreja passou a investir pesadamente na criagao de sindicatos. Essa mudanga guarda es- tteita relagdo com as agdes do governo Joao Goulart em relagao ao cam- Po, estendendo direitos trabalhistas ¢ regulamentando a sindicalizagao. ‘Ao mesmo tempo que buscou abrir caminho para a realizagio de uma recursos institucionais para Teforma agraria, ao criar mecanismos legais € par estendendo direi- tanto, o governo Jango procurou atrair o campesinato, 05 ¢ expandindo a sindicalizagio rural. Assim como no caso da reforma 227 doque diziam os agentes da Igreja, a ago das Ligas nao afrontava os prin-| Fieseuca De Pustertautey ens NAS As ESQUERDAS NO BRASIL deu de maneira mais sistemdtica a partir de 196 no Congress0; © PTB veio ase tornar a segunda maior bancad, 20 gy mbém compunhaa alianga governamental, inters mo retorno do pafs a0 sistema presidencialista, mn quele momento, em meio a uma crescente — alguns setores conservadores se tornavam - 10 doy dessem refrear a radicalizacao, Lis agraria, isso S€ que, do PSD, que 1 se em 1963, CO se ainda que; a movimentos sociais, a aprovat medidas que pu A partir de 1962, portanto, diversos projetos, decretos e por 4o rural foram aprovados, juntamente aan plicitas para que fossem desobstruidos os cans idades pelo Ministério do Trabalho. Criatan. relativos a sindicalizac sao de recomendagoes ex! de reconhecimento das enti se, além disso, instituigdes de: eoreconhecimento de sindicatos. A Supra, de Promogio e Organizagao Rural (Depror), teve forte presenga nese processo. Sua fungao era, a0 lado do Ministério do Trabalho, dar apio institucional & criagao de sindicatos, propiciar-lhes condigées de funcio | namento e facilitar seu reconhecimento. Outra importante medida fois | criagio da Comissao Nacional de Sindicalizagao Rural (Consir), em 1963, | com 0 objetivo de estimular a sindicalizagao €, também, atender revidk stinadas a estimular e a intensificar a abertua por meio do seu Departamento cacées no ambito, sobretudo, dos direitos civis € trabalhistas. Todo es movimento de produgao legal e de invengao institucional se dew pari past coma definicao juridica daquela que seria a categoria representada pelos sindicatos, o trabalhador rural. A diferenga do que anterior, que destinava aos empregados rurais a sin Preferéncia agora ao termo mais amplo de trabalhado es igualmente todo 0 conjunto de atores em process de rene meeiros, colonos, posseiros, ent eae a ‘ : modo predominante pelo cg dor rural, ne rdicamente uma ae Sone - tivas, os sindicatos, a pues es “ a Se 5 dess4 cal aie ne nr joyemo também. definiu os direito: evel! 96 € os sindicatos deveriam lutar: Iss Se ocorria na leis dicalizagio, x rural, que sa mobilizio™ e outros ae } campon® ' le al, i NACIONALISMO E REFORMISMO RADICAL com a aprovagao pelo Congresso Nacional do Estatuto do Trabalhador Rural (ETR), que estendia ao campo direitos trabalhistas. Mais do que estender direitos ao campo, contudo, o Estatuto do Trabalhador Rural contemplava também a criagao de entidades sindicais de jsto é, federagdes estaduais e uma confederacao nacional. Ou seja, defi- niam-se as organizagdes que, do nivel municipal ao nacional, deteriam le- galmente o monopélio da representagao dos trabalhadores rurais, aquelas que seriam reconhecidas pelo Estado. Com isso, o governo impés aquele que seria o principal espaco de concorréncia entre as forgas em presenga no campo, que se engajaram fortemente na disputa, rizacée sindicais, transformando em organizagées sindic: vis, Saltou-se, assim, dos apenas cinco sindicat rau superior, criando organizacdes antigas entidades ci © sindicatos reconhecidos em todo o pais, no final dos anos 1950, para mais de mil no inicio de 1964. Obter ocontrole, poder falar em nome dos trabalhadores rurais, ser reconheci- do como seu porta-voz autorizado, passava a estar diretamente associado A capacidade de formar o maior ntimero de sindicatos e de federagdes, condi¢ao fundamental para se conquistar a diregio da Confederacao Na- cional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Ela foi criada em fins de 1963 e reconhecida em janeiro de 1964, disputada intensamente pelas organizagées ligadas ao PCB e por aquelas préximas a Igreja Catélica. As Ligas, embora tivessem colaborado na formagao de alguns sindicatos, mantiveram-se como entidades civis, procurando resguardar sua autono- mia e, dessa forma, terminaram por se ver isoladas e circunscritas no pro- cesso de concorréncia para a formaco dos sindicatos. Parte importante nas disputas pela criagdo de sindicatos ¢ pelo on trole da Contag foi a chamada esquerda catdlica. Resultado da tentativa de implementar a doutrina social da Igreja no campo, ela acabou por se afastar desta, opondo-se A aco dos Circulos Operarios e aproximando-se do PCB. Foi formada, em parte, por jovens catdlicos que haviam taba thado na Promogio da sindicalizacao rural por meio de um Carma - tado para a educagao pelo radio, o Movimento ae) Educagio de i ese (MEB), criado em fins da década de 1950 na arquidiocese de Natal, no 229 ® AS ESQUERDAS NO BRASIL nos 1960, o programa se expandiy te. No infcio dos a! m convénio com 0 Ministétio dy impulsionado por ul no trabalho desenvolvido pelo MEB, a presen, ica, outra entidade leiga criada nos anos 1939, élica era formada por grupos de jovens como Catélica (UC), da Juventude Estudantil Aria Catélica (JOC). Esses grupos aca- querda e criaram uma organizagio reja, e de carater claramente polt- alianga com a AB, que terminou ntag, sendo o primeiro presi- Rio Grande do Nor! para outros estados, Educagio. Foi importante, de quadros da Acao Catéli no Rio de Janeiro. AAgio Cat os da Juventude Universitaria Catélica (JEC) e da Juventude Oper: baram por adotar posturas mais a es noma em relagao a hierarquia da Ig) tico, a Ago Popular (AP). Foi o PCB, em por controlar 0 processo de criagio da Co! dente Lyndolpho Silva, da Ultab.?° Reconhecida jé no inicio de 1964, foi curto 0 perfodo em que a Contag teve a frente liderangas ligadas ao PCB e a esquerda catélica. Como gol- pe, excluindo-se do jogo politico os grupos e as liderangas de esquerda, tomou a frente do movimento sindical de trabalhadores rurais 0 sin- dicalismo cristo, mais préximo & hierarquia da Igreja. A presidéncia da Contag passou a ser ocupada por um dirigente vinculado aos Circulos Operatios Catdlicos. A repressio politica que se seguiu ao golpe impos desmobilizagao, mas nao foi capaz de extinguir os conflitos no campo. Eles assumiram formas menos espetaculares, ficaram mais isolados, mas persistiram, especialmente nas dreas que haviam experimentado mobili- zagdes mais intensas no perfodo anterior ao golpe. Com isso, as lideran- autét ¢as sindicais foram igualmente assumindo atitudes mais combativas, 0 que tornou possfvel a reversio da intervencaio na Contag jé em fins da década de 1960 ¢ a progressiva retomada da luta pela reforma agréria a0 longo do decénio seguinte. Fundamentais nesse processo, emprestando-lhe legi- ed foram também as mudangas observadas durante a segunda me- ea ee de 1960 na Iereja Catélica, vendo-se ganhar forga a Teologia da Libertagio, que inaugurou a defesa de uma op¢a preferencial pelos pobres. pase 230

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