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literário
Prof. Mário Bruno
Descrição
Propósito
Preparação
Objetivos
Módulo 1
Módulo 2
Módulo 3
Introdução
Em Ensaios críticos, Roland Barthes comparou a prática do escritor
à atividade de um argonauta. De certo modo, influenciado pelo
estruturalismo, ele via o crítico literário também assim (BRUNO, s.
d.).
O estruturalismo
O que define um pensador como
estruturalista?
Saiba mais
O estruturalismo pode ser caracterizado como um método aplicado ao
estudo do texto literário com base na estrutura desse texto, ou seja, a
partir dos elementos que constituem o texto e se relacionam entre si
desde um sistema único de significação. Assim, a estrutura
corresponde ao sistema de relações entre os elementos do texto, sendo
que cada elemento tem seu sentido a partir da relação com os demais
elementos do texto.
A antropologia estrutural
Processo suave, por Wassily Kandinsky, 1923.
Um capítulo da obra Tristes trópicos, de Claude Lévi-Strauss, afirma que
compreender consiste em reduzir um tipo de realidade a outra, uma vez
que a verdadeira realidade jamais se manifesta. A estratégia de Lévi-
Strauss foi voltar-se para a obra de Saussure. De acordo com Lévi-
Strauss, a língua é menos que o todo social, contudo, esse não todo é
objetivamente universal: a língua é um predicado humano inerente a
todas as sociedades (BRUNO, s. d.).
Saiba mais
A antropologia estrutural está voltada para o modo como se combinam
os elementos de um sistema, em vez de se voltar para o valor inerente
desses elementos. Assim, as relações ou combinações entre esses
elementos, a partir de suas diferenças, apresentam tensões que tornam
a vida social dinâmica. Assim como os textos literários são analisados
como estruturas, por exemplo, a cultura seria considerada um sistema
de comunicação por símbolos que também deveria ser analisada.
Introdução ao pós-
estruturalismo
Pós-estruturalismo pode ser entendido como um movimento na filosofia
que teve início na década de 1960. O seu leque de campos temáticos
inclui literatura, política, arte, críticas culturais, história e sociologia.
Dentre os pensadores que compõem esse movimento, podemos
destacar Jacques Derrida (1930-2004), Gilles Deleuze (1925-1995),
Jean-François Lyotard (1924-1998), Michel Foucault (1926-1984) e Julia
Kristeva (1941-2006).
Saiba mais
É comum atribuir o ponto de partida do pós-estruturalismo à conferência
proferida por Derrida, em 1966, na Johns Hopkins University, intitulada
La structure, le sign et le jeu dans le discours des sciences humaines. A
conferência foi uma crítica ao estruturalismo, tanto literário quanto
cultural. Além dessa conferência, podemos destacar o ensaio de Derrida
Força e significação. Tanto o ensaio quanto a conferência foram
publicados em 1967, na obra A escritura e a diferença.
Roland Barthes
Capricious, por Wassily Kandinsky, 1930.
Saiba mais
A desconstrução de Derrida é, inicialmente, uma crítica ao
estruturalismo. Entretanto, podemos conceituar a desconstrução como
uma crítica ao logocentrismo da metafísica ocidental, especialmente a
crítica a conceitos como “o significado e o significante; o sensível e o
inteligível; a origem do ser; a presença do centro; o logos, etc.” (CEIA,
2009, não paginado), conceitos tidos como estáveis pela tradição
filosófica ocidental. A desconstrução, numa perspectiva da análise
textual, acabou sendo entendida como leitura fechada de um texto, de
modo a revelar as incompatibilidades e ambiguidades retóricas do texto
(CEIA, 2009).
Frayage
Frayage é palavra francesa que tem o sentido de traçar ou abrir um
caminho, uma trilha. Na versão em francês das obras de Freud, frayage é o
termo usado para traduzir a palavra alemã Bahnung, utilizada por Freud em
sua obra Projeto para uma psicologia científica, de 1950. Bahnung ou
frayage designam um “certo tipo de marca ou memória produzida nas
barreiras de contato neuronais devido à passagem recorrente da excitação
sensorial” (ASKOFARÉ, 2019, p. 7).
Hipostatização
Atribuição de realidade àquilo que é abstração ou conceito.
Por outro lado, Foucault (ECO, 1976), no seu caminhar “com e para além”
da estrutura, nos mostra que a “morte do homem” implica a renúncia à
fundação transcendental do sujeito. Curiosamente, em sua opção de
demolir o estruturalismo a partir do filão Nietzsche-Heidegger, em As
palavras e as coisas, por exemplo, parece elaborar grades estruturais.
Episteme
Conforme o próprio Foucault (2002, p. 218), episteme é o “conjunto das
relações que podem ser descobertas para uma época dada, entre as
ciências, quando estas são analisadas no nível das regularidades
discursivas”. Ou seja, em vez de ser um modo particular de conhecimento,
para Foucault se trata das relações epistemológicas entre as ciências
humanas.
Desconstrução e literatura
Acerca do círculo, por Wassily Kandinsky, 1940.
A institucionalização do desconstrucionismo na
América do Norte se deu a partir dos estudos literários,
concebendo uma teoria do texto, rompendo com a
crítica e a teoria anteriores.
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A desconstrução de Derrida
e a literatura
Assista agora a um vídeo que aborda os pressupostos teóricos da
desconstrução de Derrida e suas implicações sobre o fazer literário.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Questão 1
A I, IV e V.
B III, II e VI.
C I, II e III.
D I, III e V.
E I, II e VI.
Questão 2
A I, II e III.
C II, III e V.
D III e V.
E IV e V.
O grau zero da escritura é, acima de tudo, uma reflexão sobre “uma certa
dificuldade da literatura”, por significar sempre a si própria, por meio da
escrita. Por outro lado, dois elementos germinais já estavam aí
presentes, o problema da “significação”, que será, posteriormente,
desdobrado em sua obra Mitologias, e o conceito de “conotação”, que,
ulteriormente, será desenvolvido em seu livro Elementos de semiologia
(SEABRA, 1980).
A literariedade da escritura
Em artigos como Literatura objetiva e Literatura literal, de 1954 e 1955,
respectivamente, Barthes se dedicou a analisar o surgimento do “novo
romance”.
Da distância brechtiana à
análise dos mitos
Apesar do seu radicalismo formalista, Barthes admitia uma dimensão
ideológica e política da literatura. Os estudos sobre a obra do
dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956) demonstram
claramente isso.
Crítica, psicanálise e
semiologia
O estruturalismo barthesiano foi se delineando por meio de diversos
textos, nos quais sua consciência teórica foi sendo colocada à prova,
aplicando-se a diferentes objetos semiológicos. Seus trabalhos em
Ensaios críticos e Sobre Racine caracterizam essa época.
Em Sobre Racine, o primeiro dos três ensaios que compõem o livro,
parte de uma análise antropológica estrutural do universo raciniano.
Partindo do pressuposto “a tragédia reside exclusivamente na
linguagem”, a tragédia em Racine, nos mostra Barthes, é antes de tudo
uma linguagem da linguagem, uma metalinguagem. Barthes vê nessa
tautologia a razão poética dos escritos de Racine. O logos raciniano
permanece numa espécie de clausura ou imanência circular (SEABRA,
1980).
Raciniano
Referente à obra do dramaturgo e poeta francês Jean-Baptiste Racine
(1639-1699), importante representante da dramaturgia clássica na França.
A circularidade da
linguagem
Dois dos aspectos muito criticados na obra de Barthes, conforme
Seabra (1980), são:
Comentário
Nessa circularidade infinita, Barthes, constantemente, afirma ambas as
vocações (a de crítico e de escritor) no plano ontológico (do ser) e não
axiológico (do valor, da ética). Como todo escritor, furta-se à última
palavra sobre a sua própria escrita, oferecendo, desde sempre, a última
réplica ao seu leitor.
Eros
O termo nos remete ao mito de Eros e, também, à teoria psicanalítica. Mas
nos interessa aqui o fato de que Eros é utilizado para fazer referência ao
aspecto erótico da literatura, que pode ser entendido a partir do desejo de
escrever, ou da relação do escritor com a escritura — uma relação amorosa.
Eros nos remete ao mito.
Rastro sinalético
Relativo à ideia de registrar os sinais específicos que permitem identificar
alguém ou alguma coisa.
Reflexão
O escrever é um trabalho que constitui um fim em si mesmo (daí sua
intransitividade). O “como escrever” é sempre mais importante para o
escritor do que “para que” ou “para quem” escreve. Para o escritor, a
escrita é um fim, mas o mundo lhe reenvia como meio.
O homo significans
Mulher invisível adormecida, por Salvador Dalí, 1930.
Para Barthes, Saussure desbordou para a escrita uma força que fez a
ciência ser “uma outra coisa”. É incalculável o papel que o linguista
francês Émile Benveniste (1902-1976) exerceu na obra barthesiana.
Barthes também incorporou com uma intuição fina a semântica
estrutural do linguista lituano Algirdas Greimas (1917-1992).
A análise de Sarrasine
Podemos considerar o texto S/Z como um momento importante da obra
de Barthes. Trata-se de uma proposta de análise estrutural na qual já
encontraremos vários traços do ultrapassamento do estruturalismo.
Um casal cujas cabeças estão cheias de nuvens, por Salvador Dalí, 1936.
Eléments de
sémiologie
Saussure Semiologia
Système de la
mode
S/Z
Sollers
Sade, Fourier,
Julia Kristeva Textualidade
Loyola
Derrida Lacan
L’Empire des sign
Le plaisir du Tex
(Nietzsche) Moralidade
R.b. par lui-mêm
“escrevíveis”
Textos absolutamente plurais.
“legíveis”
Textos cuja abertura para a pluralidade era menor.
No caso da novela de Balzac, era um texto “legível”, cujo desafio para
estabelecer as lexias de análise era muito maior. Barthes parecia querer
provar que mesmo um texto legível (clássico) comporta um potencial de
abertura à diferença quase infinito.
Do significante ao satori
zen
Relatividade, por Toko Shinoda.
Comentário
O império dos signos é um texto apaixonado em que Barthes mergulha
na circulação dos signos e na troca de significantes. Nessa obra,
Barthes se distancia da preocupação científica em constituir uma
semiologia e se deixa tomar pela significância num estilo vacilante,
sugestivo, cheio de interstícios e desembaraçado de qualquer busca de
sentido pleno.
Do desejo ao prazer
Ao estudar, na obra Sade, Fourrier, Loyola, os papéis do libertino, do
utopista e do santo, Barthes encontrou uma nova ordenação ritual do
texto. Talvez já viesse daí a preocupação com o texto como objeto de
prazer. Isso o conduziria a um dos seus principais trabalhos – O prazer
do texto.
Barthes escolheu amar a linguagem, o que não era
possível sem odiar as suas formas alienadas. De certo
modo, isso está implícito em O prazer do texto. Num
trabalho extremamente original, e fazendo valer a
distinção “lacaniana” de prazer e gozo (jouissance),
Barthes procura se mover num espaço de ambiguidade
e duplicidades significantes. O texto se constrói na
falha ou no interstício que se abre entre esses dois
significantes: prazer e gozo (SEABRA, 1980).
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A semiologia de Barthes
Assista agora a um vídeo que aborda os pressupostos teóricos da
semiologia de Barthes a partir de suas obras.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A I, II e III.
B II, IV e VI.
C I, III e IV.
D I, II e IV.
Questão 2
A II, III e V.
B III, IV e V.
C II e V.
D III e IV.
E IV e V.
Parabéns! A alternativa A está correta.
As afirmativas II, III e V estão corretas porque Roland Barthes
dedicou uma boa parte de sua obra aos estudos sobre a escrita,
tendo como ponto de partida conceitos como “conotação” e
“significação”. Fora isso, Barthes viu no teatro de Brecht uma nítida
crítica ao conceito burguês de natureza.
A morte do autor em
Barthes
Em A morte do autor, Barthes (1988, p. 65) indaga sobre de quem seria a
seguinte fala em Sarrasine, novela de Balzac: “Era a mulher, com seus
medos repentinos, seus caprichos sem razão, suas perturbações
instintivas, suas audácias sem causa, suas bravatas e sua deliciosa
fissura de sentimento”.
Após indagar sobre a autoria, Barthes (1988, p. 65) conclui que seria
impossível saber, pela simples razão de que “a escritura é a destruição
de toda voz, de toda origem”. A escritura, então, seria “esse neutro, esse
composto, esse oblíquo onde foge o nosso sujeito, o branco-e-preto
onde vem se perder toda identidade, a começar pela do corpo que
escreve”.
Para Barthes (1988), sempre foi assim, desde que a escritura foi usada
para fins intransitivos. Quando a escrita sai da sua função simbólica,
nesse desligamento, o autor entra na sua própria morte e a escritura
começa.
Mesmo com a sua “dita morte”, o autor reina nos manuais de história,
nas biografias de escritores e na própria consciência dos literatos que
desejam juntar autor e obra em seus diários pessoais.
A explicação da obra é buscada do lado de quem a produziu: “a obra de
Baudelaire é o fracasso do homem Baudelaire, a de Van Gogh é a
loucura, a de Tchaikovsky é o seu vício” (BARTHES, 1988, p. 66). É como
se a voz fosse de uma só pessoa, o autor entrega a sua confidência.
O texto é um tecido de citações que não têm origem, porque são saídas
de mil focos de cultura. As imagens de Bouvard e Pécuchet, dois
personagens do romance de Flaubert que são eternos copistas e
cômicos, servem para a ausência de verdade da escritura.
Fora isso, Barthes (1988) nos diz que, uma vez afastada a figura do
autor, a pretensão de decifrar um texto torna-se inútil. Dar ao texto um
autor é impor uma trava para prover-lhe de significado último. Cria-se a
ilusão de que, ao encontrar o autor, o texto estará explicado.
Na compreensão barthesiana de escritura múltipla, tudo está para ser
deslindado, mas não para ser decifrado. Por isso, a proposta de
substituir literatura por escritura.
Bouvard e Pécuchet
Bouvard e Pécuchet são os personagens principais do romance que tem o
mesmo nome. Trata-se de um romance inacabado, publicado em 1881, um
ano após a morte de Flaubert. Os dois personagens são copistas que
acabam se conhecendo por acaso e resolvem se mudar para o interior, a
fim de estudar e até fazer experiências sobre tudo que existe. Devido à
mediocridade e ao simplismo desses dois personagens, essa empreitada
acaba fracassando e o tom da narrativa é fortemente cômico.
Em outras palavras, quem escreve hoje sabe que sua voz é atravessada
por uma multiplicidade de vozes. Cada um de nós é uma polifonia. No
que dizemos, somos atravessados pelas vozes dos nossos parentes,
amigos, professores, as falas das redes sociais, os discursos políticos
que ouvimos, os “autores” que lemos etc.
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A função autor e a morte
do autor
Assista agora a um vídeo que apresenta as concepções sobre a função
autor de Foucault e a morte do autor de Barthes.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A I, II e IV.
B I, III e V.
C I, III e IV.
D I, IV e V.
E II, IV e VI.
Questão 2
B II, III e V.
C III, IV e V.
D II, IV e VI.
E III, IV e VI.
Considerações finais
O pós-estruturalismo, que foi aclamado e atacado por posições
extremas do espectro político, é, ao mesmo tempo, uma ruptura e, sob
certos aspectos, uma continuidade do pensamento “dito” estruturalista.
headset
Podcast
Ouça agora a um podcast que apresenta uma síntese dos principais
conceitos relacionados com o pós-estruturalismo, o
desconstrucionismo, a função autor e a morte do autor.
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Referências
ASKOFARÉ, S. Com Lacam... Ou ser seu contemporâneo. Revista
Lacuna, 8 dez. 2019.
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