You are on page 1of 18
ff aia [af 2 Cristina Broglia Feitosa de Lacerda Lara Ferreira dos Santos (Organizadoras) Tenho um aluno surdo, 2? e e agora Introdugao a Lipras € educacao de surdos rn anit A oeTRATEGIAS METODOLOGICAS para sO DE ALUNOS SURDOS : rroDUCAO ser professor de alunos surdos significa considerar suas singularidades de sasio ¢ construgao de sentidos quando comparados aos alunos ouvintes, Ducte-se muito que a sala de aula deve ser um lugar que permita que o alano sxabelecarelagbes com aquilo que é vivido fora dela deste modo interessacon- ‘etualizar socialmente os conteitdos a serem trabalhados, apoiando-os quando posivel em filmes, textos de literatura, manchetes de jornais, programas tlevisi- ‘ns,de modo a tornar a aprendizagem mais significativa. Seestas estratégias auxiliam os alunos ouvintes a uma melhor compreensio dostemas trabalhados, para alunos surdos elas so ainda mais imprescindiveis, ama vez que eles, em geral, tiveram poucos interlocutores em sua lingua e, con- ‘equentemente, poucas oportunidades de trocas ¢ de debates, além de nao terem x00 completo aos contetidos de filmes, programas de televisio e outras midias ‘Re prvilegiam a oralidade (e nem sempre contam com legenda), ou possuem ‘atos complexos de dificil acesso a alunos surdos com dificuldades no letramen- tvem lingua portuguesa. Deste modo, € frequente que estes alunos cheguem 20 ‘749 escolar com conhecimentos de mundo reduzidos quando comparados «am os apresentados pelos alunos que ouvem, ja que estes podem construir con~ ‘isa partir das informagoes trazidas pela midia, por exemplo Assim, este capitulo procura discutir alguns principios € estratégias que pos- cag reparagio de alas que faciitem o acesso i ese res sala de aula, Além disso, na perspectiva da e a ae eae ad ° Professor precisard ser parceiro do nna eet thao — as possibilidades de construgao de conhecim: "S aspectos que pretendemos tratar neste capitulo. 186 Teo uw ALNO SRDO,E ACARA? A PEDAGOGIA VISUAL A Pedagogia é uma drea do conhecimento que procura acompanharo, gos tecnoldgicos socias, ¢ entre eles esté atenta &s tendncias da chang Tiedade da Visualidade. Hoje, os recursos visuais sio amplos desde a mia” acessivel como a televisio (presente praticamente em todos os lares) até ras possbilidades de imagem e composigao de espagos vituas propicidas pr, mundo computadorizado. Esses avangos tem reflexos nas prticas educacons, se mostram presentes em diversas disciplinas. Na educaco artistic or exem ri com o desenvolvimento de propostas educacionais voltadas paraa arteeacat, ra visual, criando ferramentas e priticas préprias, visando 0 desenvolviment ctiatividade plastica e imagética; na comunicacao, com estudos einvestigacn de modos de ensino da expressio e comunicagio visual, com uma didatica especies, na informatica, com a criagao de programas pedagégicos que utiizam a tecnl gia da computagdo, sua compreensio e linguagem com finalidades educations na formagio e preparacao da graduagao de “professores artistas” para o Ensing Fundamental e Médio (além da formagao pedagégica, 0 professor ou aluno tei uma formagao que implica em aspectos visuais das artes: danca, teatro e outrasu- tes que envolvem imagens), ¢ ainda mais contemporaneamente com a perspecia da incluso, uma pedagogia para alunos cegos visando a elaboragao de curritn priticas, disciplinas e estratégias, culminando com a criago de jogos educativos para cegos/deficientes visuais, procurando explorar novas formas de apreensiodo mundo visual.’ Nessa mesma direcdo, é relevante pensar em uma pedagogia que atendass necessidades dos alunos surdos que se encontram imersos no mundo vist ¢ apreendem, a partir dele, a maior parte das informagoes para a construcio dese conhecimento. Para os surdos, os conceitos so organizados em lingua de sints que por ser uma lingua visuogestual pode ser comparada a um filme jt a¥° enunciador enuncia por meio de imagens, compondo cenas que exploramasimut taneidade e a consecutividade de eventos. Assim, para favorecer a aprendizagem do aluno surd! ee apresentar os contetidos em Lipras, é preciso explicar os contetidos de = aula utilizando toda a potencialidade visual que essa lingua tem. Autor Campello'defendem entao que se trata de uma semidtca images: 1 campo que explora a visualidade a partir do qual podem ser investiga°s tos da cultura surda, da constituigdo da imagem visual presente N05“! 10, nao basta apems 1 Campeto (2007) 2 lib Exrurtous sercoxcccs many o 0 a DOR ANCE nos 187 “olhares surdos’, que podem ser cultivado: mads i s também como Tecursos io strata do uso de gestos ou mimica, mas de un trabalho com ico. ‘ingua de sinais, explorando as caracteristicas Visuais dessa lingua: o ‘ ae dos corpos, 0s tragos visuais como expressieg Corporais e facias, jos, dedos, pes, Pernas com uma significacao mais ampla, na perspectiva de i emitica imagética.’ Esse tipo de recurso de linguagem comum entre uma . surdas precisa ser compreendido e incorporado pela Priticas pedagé. a 0 objetivo de favorecer a aprendizagem de alunos surdos, e Ocampo de estudo da semistica imageticaé a Parte da semictica geral, cién- cainteresada no estudo dos signos, contudo éno campo da semistic imagética guess questes visuals sdo mais exploradas, Nesse campo, fla-se da cults do star daguilo que pode ser apreendido, por exemplo, por meio de ume fotogra- in usando reflexdes acerca de temas sociais, aspectos econdmicose politicos gpe se entrelagam em um determinado periodo histérico, Uma imagem pode evocar a compreensao de varios elementos de um determinado tempo histérico éanese sentido, evocar significados sem a presenca de qualquer texto escrito, Fotografia: Jodo Tellaroli Terezani. Je, que, a0 ‘Uma imagem suscita o leitor a reflexdes de a beanies ee Tesmo tempo em que so captadas neste meio, sio tam eae aaa a revelando elementos de exclusio social, consumismo, a {tte outros da nossa sociedade. As imagens sio docines oasis “plorados pela midia televisiva e jornalistica, ee de reconfigurar a opi- ‘olaborando para a construcio de julgamentos cap 30 que as possibilidades de Ten Piblics © 8 conceitos dos suetos ie rads pel escola, na busca dt 'etura de imagens poderiam ser mais bem explora Construcao de sentidos. ee > Martins (2010) ¢ Campelio (2007) ound 188. Tow un ano so, A008? ‘Assim, um elemento imagetico (uma maquete, a ene UM mapa, up grifico, uma fotografia, um video, um pequeno trecl a le filme) podera tum material util 4 apresentagdo de um tema ou ae lo pelos professores tiencias fsica, quimica, biologi, historia, eografia, matemdtica, ingles, nes outros, Um elemento visual que provocasse debate, que trouxesse & tona con ceits, opinides, e que pudesse ser aprofundado na diregao dos abjtivos pr, tendidos pelo professor. A escola, em geral, esta presa ao texto didatico com ‘aminho tinico para a apresentagao de conceitos, ¢ este caminho tem se mos trado pouco produtivo quando se pensa na presenga de alunos surdos em sy de aula, Um segmento de filme, por exemplo, sobre 0 transporte de escrayos africanos para o Brasil pelos portugueses, pode favorecer a compreensio de uma série de elementos sociais, da natureza, politicos, econdmicos, entre oy, tos (vestuario, ipo de embarcaclo, condigdes de higiene, alimentacio, relacbes sociais, maus-tratos, cima, etc.) criando condigdes para uma discusséo amply ¢ para a aprendizagem. Além disso, 0 trabalho do intérprete de Liens seri muito mais efetivo quando a informagao visual for acessivel, pois com e sobre ela o aluno surdo poder4 construir conceitos e coloca-los em tensio em relagio Aquilo que é apresentado pelo professor, dando oportunidades para uma apren- dizagem mais reflexiva e efetiva. ‘Ainda dentro da perspectiva de recursos de uma pedagogia visual, trazemos para a discussao 0 uso de mapas conceituais, A teoria sobre mapas conceituais ai desenvolvida por Joseph Novak,’ nos anos 1970,°e define o mapa conceitual como ‘uma ferramenta para organizar e representar conhecimento, ou sea, configur-se ‘como uma representagio grifica em duas dimensdes de um conjunto de conct- tos construidos de tal forma que as relages entre eles sejam evidentes. Assim, n0 ‘mapa conceitual, os conceitos aparecem dentro de caixas (quadrados, circulos, retangulos, entre outros), enquanto as relades entre os conceitos sio especifica das por meio de frases de ligagdo nos arcos (setas,flechas, linhas) que unem 0 conceitos. Nesse sentido, é possivel criar mapas conceituais para temas simples © complexos, jé que os mapas conceituais se apoiam na organizagio visuel dos conceitos, favorecendo a compreensio e elaboracéo de conhecimentos, A segue um exemplo de mapa conceitual, 4 Nowak 77), 5) Tavares (20. Esmartans NEPALI © Dene O08 ALN sue 189 [Arvore] AN pode hospedar quando af “ N Cortada até sere-[Crescer] | \ pode conduzir de maneira Madeira Tenha 5 wa » transforma-se em se \ — emum — [MTriturada 7 lan movido a transforma-se pode produzir _produz 7 | | | Polpa Papel Fibra ] | usado para ~ Escrita Livros Feurax Mapa conceitual drvore. Ft: adaptada de Tavares.* O recurso do mapa conceitual pode ser utilizado pelo professor para uma inera apresentacdo/abordagem de um conceito, favorecendo uma vis4o pa~ ‘ini daquilo que se pretende trabalhar ou, ainda, ser solicitado aos alunos ‘ao forma de sintetizar/avaliar os conhecimentos construidos acerca de um eminado conteido. Assim a pedagogia visual a ser usada na educagao de surdos consiste na 190 Tew un aro simon. AackA? exploragto de virias nuances, ices einexploradasd imagen signo, significado e semistica visual na prtica educciny cotiiana procurande oferecer subsidies para melhorare pliro leque dos olhares” aos suits surdos sua cepacia, de captare compreender 0 “saber” e a “abstracio" do peng, mento imagético dos surdos.” Contudlo, poucas sio as produgses tedrico-metodolégicas relacionadas pedagogia visual na drea da surdea, ¢ por iso se constitu como um novo canpy de estudos que pode colaborar para uma educagéo a beneficiar nio apenas sujeto surdo, mas para ampliar as possibilidades de aprendizagem para todos Essa centralidade da visualidade precisa, na educagio de surdos, perpassar pela elaboragio do curriculo, pelas estratégias didaticas, pela organizacao das dsc. plinas, com envolvimento de elementos da cultura artistica, da cultura visual, dp desenvolvimento da criatividade plastica e visual pertinente as artes visuais,além do aproveitamento dos recursos de informatica, fortemente visuais, favorecendo, assim, uma valorizagao da concepgio de mundo constituido por meio da subj vidade e da objetividade com as “experiéncias visuais" dos alunos surdos. ‘Nessa direcdo,a imagem (em sua perspectiva semidtica) é um objeto de estado ¢ de pesquisa que pode produzir conhecimentos, bem como formas de apropris- «Ao da cultura/conhecimento que nos permitam usufruir do mundo das imagens endo sermos passivos ao bombardeio de imagens ao qual estamos expostos diane de televisao, jornais, revistas, publicidade, internet, entre tantos outros. A escola pode colaborar para a exploracio das varias nuances de imagem, signo, significado e semistica visual na pritica educacional cotidiana, oferecendo subsidios para am- pliar 0s “‘olhares” aos sujeitos surdos e a sua capacidade de captar e compreendero “saber” e a “abstracao” do pensamento imagético, Campello® traz essas reflexes também para o uso da lingua de sina, arg mentando que este tem sido um campo pouco explorado. A lingua de sinais, po" suas caracteristicas visuogestuais, possui uma diversidade de signos e de outros sistemas de significago por meio da velocidade, movimentagao ¢ da express vidade da leveza das maos; dos bragos, que podem configurar desenhos: ¢ os expressbes faciais, que muitas vezes sao ininteligiveis para a percepsio do oli hhumano menos treinado, mas que pode ser muito significativa para o“olha 4o'. Aproveitar as experiéncias visuais na e da lingua de sinais pode prom 7 Campell (3007 p. 30), 8 Petlin (2000) 9 Campello (2007) EE smarts Mooi ao, SSO DE AUN sus 191 de ensino eficientes, ja que esta lingua se inser jas eve no lugar da vi eta suali- corona na imagem uma grande aliada junto ae Propostas educacionais ee a | cos prtcas soca spricll PREPARAR AULAS PARA ALUNOS SURDOS? camo propésito de explorara preparacio de aulas para alunos surdos, con- dade Buns depoimentos de professores em fama (alunos de licenciatura em Ciencias Biolbgicas) ue foram desafiados ssizar aus para alunos surdos, pensando no uso da Linn também nos spestos metodol6gicos mais adequados para o ensino deste, Como se trata de s profesores, eles ainda nao haviam tido experitncasefetnns com alunos la Linas, mas as reflexes eestra- as do fazer docente. regente tarefa esta que seria reservada ao int sprofundamento em Lipras é de grande pr ‘Oveito para que 0 professor possa au- viliar o aluno surdo na compreensao dos contetidos, Contudo, nao basta apenas contribuir com 0 aprendizado dos boa apresentacao de slides, Para 0s alunos surdos. esse alunos, sejam eles surdos ou ouvintes; uma Por exemplo, é fundamental para alunos ouvintes, ¢ recurso pode se tornar essencial, OS futuros professores de Biologia @presentaram a uma professora sur Ml entrevistada sobre sua opiniao a resp Durante a entrevista, TeurS0s Visuais ndo “mlacdes neste quesit "Binizados, perfeito, Visuais boas se Nao se s; Hestava apresentado ee = Martins (2010), qe cohecme opi IE refere ao depoimento da profssoraP El ol entrevista para “4s aulas laboradas pelo futuros professres. Prepararam aulas para alunos surdos da, Posteriormente, esta professora (P) eito das aulas e dos recursos utilizados. a referida professora dé indicios de que a qualidade dos foi um problema, pois distribuiu elogios a todas as apre- o:"A apresentacdo dos slides, eu entendi que estavam bem Todavia, ela destaca que nao adianta ter apresentagoes abe aproveité-las:*Faltou explicagao, Somente copiou o que na imagem’. r 192. Two anno sen." Me ar é a necessidade de um bom play Assim, 0 Ee a realidade do aluno sudo Noon que busque Eas apenas tum grupo usou recursos Visuais para além go, das aula apreseriite das aulas se prendeu exclusivamente 20 recurso digit lore jects eas na auséncia desse material. Por outro lado, o projetor ey fares Po recurso fundamental para o trabalho com surdos, os futur, mee a defender, ¢ exigir, esse tipo de equipamento no espaco em desenvolve a educagio de surdos. As escolas, principalmente as piblicas, sen dade e falta desses recursos, mas eles existem,e ser dare guing, om a precarie 4 com a pre na hora de busca-los, lade dos mesmos pode fazer diferenca ae Seas sobre a nao disponibilidade de um projetor de g des, os faturos professores, gui nomeados como At, A2,A3, .. AB, aprsenian, rapidamente,algumas alternativas, como uso de recortes de jornais revs, painés, desenhos em lous, videos ¢ textos. Mas logo em seguida emerge ung importante discussio quanto a qualidade desses materiais, como se observa y, didlogo abaixo: “Desenhar na lousa, usar texto.” (A6) “Mas ese eles ndo tiverem tanta fluéncia em portugués esris* (As) “Mas poderia pensar numa aula em Linas e trazer um tea escrito na estrutura que eles conseguiriam entender, Porque ainda acho mais facil vocé usar o texto do que a lingua de snis porque alguma coisa eles vido conseguir pegar.” (A6) “Eu ainda acho complicado, porque imagina um alumo gue ne a viu aquela palavra, Nao tem sentido, Ai eu acho legal tambon assar video. Voce passa 0 video e vai parando, vai explisns” (A2) “Poe legendado, alguma palavra ele vai entender.” (A8) “Mas ai vocé pode ir explicando em Lusras pra ele. Di oP se, explica.” (A2) Esai wrropo.sacas aay SSNODE ALUNGS soos 193 I suma coisa eles aves Pegare alguna palavra ele vai entender pos realmente nem todos aiunos surdos incluidos possuem fluéncia no ® Tugués escrito, ¢ 0 fato de entender uma ou outra palavra nao remete ao entendimento do conceito como umtodo, principalmente quando se esta abordando temas abstratos da biologia, orexemplo. | exedlogo evoca preocupagao se considerarmos a fla i | port “E que nem falar de DNA, RNA e coi A gente ainda até usa 0 microscé tem que imaginar, isas que a gente nunca viu pio, tal, mas é uma cosa que ir além. Imagina pra eles (surdos)” (As) Estamos diante de mais um argumento esratigias para a explicagao de contetidos, bemalcancadas com a ajuda do intérprete, {uado tanto do surdo como também do aluno ouvinte, suprindo as difuldades “wontradas no processo de ensino, como foi apontado pelo discurso do profes. ‘orem formagao As. Contudo,a fala desses futuros professores também nos leva ireltir sobre a clareza deles quanto & existéncia do intérpete, pos, aparente- Tetle eles se imaginam tendo de lecionar sozinhos para surdos,ignorando a Possiblidade de um apoio deste profissional. que destaca a importancia de boas retomando que estas podem ser mais Este s6 tem a contribuir com o apren- Com isso, fica clara a dificuldade em se lecionar contedos das Ciéncias Fiologicas para alunos surdos, 0 que nao significa, entretanto, que esses nao pos- fstt ensinados de modo eficiente, Um dos grupos, por exemplo, ene ha de papel para representar 0 trajeto € 0 que acontece com bolo aliment longo do sistema digestério (Figura 2)." dagee digestrio. Figura a Representagio do funcionamento do sistema de 1 do alunos ena Pr reservar a a op 5 y autora do texto, visa 'magem aqui foi reproduzida pela 2 autora d 194 Ten ww AUNO S00, £1000? Outta estratégia de ensino utiizada pelos alunos foi o teatro,no qual sentavam uma situacao problema de forma gestual e procuravam pela mimics sncenagdo construir sentidos pertinentes. Esses recursos $40 muito ricos¢ ial rreensio dos alunos, porém a professora surda aponta que, mes ‘quando se utiliza esse tipo de estratégia, € necessario que exist a Lingas; “Ela mostrou através de teatro, mas ai usar a mimica, nit § diferente. Lipnas sim! Agora se usa s6 a mimica, teatro, gets do, af nao! Agora, 0 teatro bom, tudo bem, pode usar, é ea, ‘mas precisa utilizar LIBRAS nesse teatro.” (P) Com isso, retomamos a questao do planejamento prévio das aulas, agora partir da visio de que ¢ fundamental a busca por estratégias: “Entao eu penso num futuro professor, dentro da inclusto, tem que pensar em estratégias pra ensinar. Se ndo for pensado...ese é0 problema. O problema foi o grupo, que ndo pensow em estratégias, nao per sou numa forma de explicagao (...). A estratégia nao ficou bem aplicada, nao teve, nao se preparou antes.” (P) No entanto, em relagao a0 uso de estratégias, as opinides dos futuros profes sores ainda refletem inseguranca, pois eles nao se sentem suficientemente prep rados para intervir em uma sala de aula com aluno surdo: a coer No geral, um ponto que ndo gerou discordancia & que s6 «prtca*° vivio com a necessidade de se elaborar aulas para surdos poder#e “Voce vai receber um aluno surdo, e? O que a gente poderia facet com esse aluno? A gente ndo aprendeu isso. Po isso que oat do, foi s6 pra gente ndo se assustar. Porque se chegar limba fiver um aluno surdo, ou um aluno cego ou alguma define vai ter que sair da gente, da nossa cabega. Porque des ml sentaram pra gente ‘Oh, voce pode tentar trabalhar or iso aquilo’. Vai ter que ser tudo da nossa cabega.” (as) a aperfei¢oamento e & qualificacao das metodologias utilizadas: be wes 4 «ia acabar ve? (...) se a gente tivesse mais nesse meio, ia aacabar com mais facilidades. Tem que ter contato.” (a3) Esmartous ueToeo.occ3 PRA © ENO Oe LNG sunves, “Ea mesma coisa comparar nossos semin, idrios do primeiro ano da faculdade com agora,” (A) Asim, apesar de toda inseguranga e medo apresentados pelos profescores cnfmagio,ndo se pode negar que eles reconhecem a legitimidade da Lipnas cano lingua e sabem das dificuldades e complexidades em usé-la. Podemos, com isa esperar que esses futuros professores, em sala de aula com alunos surdos que usam Ltpras, reconhegam suas necessidades, e com isso nao tentem se fa- rrentender por meio de alternativas como a mimica. Esses futuros professores sbem que 0 aluno surdo possui uma lingua que deve ser valorizada em sala de aa.que € fundamental 0 uso de recursos visuais e que o trabalho conjunto com ointérprete 96 tem a agregar nesse processo educacional. OINTERPRETE DE LIBRAS E 0 PROFESSOR: PARCERIA NECESSARIA Conforme discutimos anteriormente, um dos receios dos futuros professores (dos professores em exercicio também) é a responsabilidade de terem de atuar Autos com alunos surdos, sendo necessério para isso o dominio da Lisras, Nesmo com amparo legal que assegura a presenca do intérprete de Linas em ‘tide aula.» muitos dos licenciandos se esquecem da, ou desconhecem a,impor- “inca desse profissional no espaco escolar. Mais que reconhecer eee € preciso que o professor/futuro es Adquira uma postura favordvel & sua atuagio. Mas de que modo 0 ae favorecer 0 bom desempenho profissional do intérprete de — (US)? E como o ILS Pode contribuir para 0 trabalho do professor? Professor se sente como tinico responsivel por seus alunos; é tarefa onsabil jormalmente, néo sbilidade com outro profissional, a eg caim, Ose devemos nos lembrar de que Sor dividir essa ficil e, MUitas vezes, Professor acredita estar sendo aval “timos sobre a Presenca do ILS em sala de aula, tedidos ministrados Fax Ptofisional possbilitard o acesso as informagOes © jo da lingua de sinais pao Pofesor ao alun surdo, traduzindo e ie PE ne irae lingua portuguesa e vice-versa, ou Seja, sua atuac faz-se necessaria uma Parceria estabelecida com o professor. Nesse ous como waetGa de postura por parte do professor que tam ed ics NSsdor, de auxiliar ILS em suas prticas. pe cele Bast Gon, n tem o dever, 195 c=! 196 Tow ano sin. 400A? Desde a publicagio do Decreto 5.626/2005, a demanda por IL ‘vem crescendo; entretanto, é preciso atentar para 0 fato de que HS nas escoys 4 presenga do intérprete em sala de aula © 0 uso da nga sinais ni garantem que as condigdes especiicas da sundry. Jam contempladas ¢ respeitadas nas atividades pedagoca s 4 escola nio atentar para a metodologia utilizadae cuttup Proposto, as priticas académicas podem ser bastante inaces. veis a0 aluno surdo, apesar da presenca do intérprete Seo professor nao assumir priticas que favoregam a atuagio do ILS, conse. uentemente a compreensio do aluno surdo ficaré comprometida, Para desenvolver priticas académicas acessiveis, & necessdrio, antes de qual: quer adaptagio curricular, que haja parceria entre professor e ILS. Zampieti,'em sus pesquisa em uma escola inclusiva, com a presenga de ILS, destaca que, peri jum ensino adequado a alunos surdos e ouvintes, a parceria nao é somente una necessidade, mas algo fundamental, Concordamos com a autora quando comen {2 que o ILS, devido ao maior contato com a comunidade surda e conheciments Sobre as especiicidades do aluno surdo, pode trazer contribuigdes vais 0 Professor,com relagdo ao processo de aprendizagem, ‘Uma das formas de promover a Parceria entre profissionais, e desenvolvet Praticas que beneficiem o aprendizado do aluno surdo, ¢ envolver 0 ILS 9° Planejamento das atividades, O ILS precisa ter acesso aos contetidos que seti0 mutados para se preparar com antecedéncia e, assim, oferecet uma bt interpretacao. = cates Planejamento no contexto escolar? Para ene ica ns estabelecer uma lista dos contetidos a serem ensina es a Gikc aoe ‘Para outros, seguir a ordem dos contetidos imposta es tua 0 ato de forma ne “efinigdes de planejamento, mas Vasconcellos ne ma bastante clara ao relatar que “planejar é antecipar mental te 4 . * aon, Pio um Conjunto de agées a ser realizadas e agit de acordo bm 0. Planejar nao é, pois, i, mas € tam Agirem fungdo day ne algo que se faz ants de agi sane? €uma co Aue se pensa’* Ainda, segundo o autor, 0 Seat fnldade de tao nit pata a mediagao tedrea «deve sr peas? ot le fazer algo acontecer, de concretizar ideias e, para tal ¢imPo Esteartcias POG PAO DmODE ANSI 197 ja a previsio do desenvolvimento da acao, considerando-se fundamen- ulmente aS condigdes opiuree e subjetivas envolvidas nesse Processo. Assim, ais que apresentar 0S contetidos ao ILS, acreditamos na importancia de uma sdesio, que envolva professor e ILS, acerca das estratéyias de ensino a serem stizada, pois € nesse momento que o ILS pode dar ideias, suger eauxiliar na unfeegio de materiais visuais — préticas que favorecerao todos 0s alunos, ¢ nao geass surdos. Ainda sobre a questo do planejamento, é importante ressaltar que esse ‘eso anterior aos contetidos pode ser determinante de todo o processo tra- duério. Grande parte dos ILS nao tem formacdo académica, e, quando tem, somalmente é generalista, no havendo conhecimentos especificos para cada ‘weade atuacao. Portanto, ocasionalmente, o ILS pode desconhecer um ou outro ‘ema abordado em sala de aula, 0 que prejudicaria nio apenas seu desempe tho profissional, mas © desempenho académico do aluno também. Todavia, por ‘io do planejamento anterior, 0 ILS pode sanar suas diividas junto a0 pro- ‘ore buscar meios para se aprofundar na temitica, de forma a gurantir uma 'Merpretagao de qualidade ao aluno surdo. Entao, mais que parcetoso professor Pa nesses casos a postura de formador, responsivel também pela formacie ‘servico” do ILS. : © professor, durante as aulasexpositivas pode utilizar lsumss TE es © ILS. Conforme exposto 211 aoe res Visulizar as informagdes mais importantes 9 80 lca ar 0 trabalho do intérprete, Muitas vezes, to, fard uso da Wo que ainda no tem um sinal convencionsi © POT meno we Bt ~ ato que demanda tempo ¢, s€ 0 ano MO TTT a apenas in ‘ermo, de nada adiantard, pois o conceit i ritofrepresen lng, | datilologia, Se o termo em questto est¥°" T° «io pe LS pode apontar, poupando 0 tempo da dat f on ificado de tal ™asdes posteriores, e explicar 0 significa’ prom fac ; 'e, ay 1 en ‘ang «POS @ explanacao do conceito (que deve Oriya, C45 ge"4© Podem pesquisar/eriar um sina! ae houver ums Mbonacg “tducto e a compreensio do aluno: SEM jegociagle 4 cst entre 08 profissionais, todo esse POC Neeitos torna- Sing se invidvel. won Ponty ae ™aneira de favorecer trabalho I a oe lo pa 0d "erior, seria o professor disponibiliza was cote ratte a aula, Para dar concretwKde 8 i617 jologlt day 5, ®Metiormente neste capitulo: wm" aula de ge “omponentes e fungdes dos On FEsmeartons wercocisacas mah 0 pean DOE LNCS sD gehaja uma previsio do desenvolvimento da asd, considerando inant as condicdes objetivas e subjetivas envolvidas nese ais que apresentar 0s contetidos ao ILS, acreditamos na imp reflexdo, que envolva professor e ILS, acerca das estratégias de ensino a ser uillzadas, pois € nesse momento que o ILS pode dar ideias, sugerir e eater confecgio de materiais visuais ~ priticas que favorecerio todos os alunos, ¢ nao 0s surdos. ‘Ainda sobre @ questo do planejamento, é importante ressaltar que esse acesso anterior aos contetidos pode ser determinante de todo 0 processo tra. dutorio. Grande parte dos ILS nao tem formacio académica, e, quando tem, normalmente é generalista, no havendo conhecimentos especificas para cada 4rea de atuacao. Portanto, ocasionalmente, o ILS pode desconhecer um ou outro tema abordado em sala de aula, o que prejudicaria nio apenas seu desempe- ho profissional, mas 0 desempenho académico do aluno também. Todavia, por meio do planejamento anterior, 0 ILS pode sanar suas diividas junto ao pro- fessor e buscar meios para se aprofundar na temitica, de forma a garantir uma interpretacio de qualidade ao aluno surdo. Entio, mais que parceiro,o professor assume nesses casos a postura de formador, responsivel também pela formagio “em servico” do ILS. 0 professor, durante as aulas expositivas, pode utilizar algumas estratégias que auxiliem o ILS. Conforme exposto anteriormente, o mapa conceitual ajuda oaluno a visualizar as informacdes mais importantes; 0 uso da lousa também pode facilitar o trabalho do intérprete. Muitas vezes, 0 ILS precisa explicar um_ conceito que ainda nao tem um sinal convencionado e, portanto, faré uso da Aatilologia - ato que demanda tempo e, se 0 aluno nao tiver conhecimento sobre o termo, de nada adiantaré, pois 0 conceito nao € desenvolvido apenas 2 partir da datilologia. Se o termo em questio estiver escrito/representado na lousa,0 ILS pode apontar, poupando o tempo da datilologia e nio perdendo 4% informagdes posteriores, e explicar o significado de tal conceito. Posterior- ‘ente,apés a explanagao do conceito (que deve envolver professor € ILS), ILS ‘tno surdo podem pesquisar/criar um sinal para 0 mesmo, facilitando 0 pro- ‘so de tradugio e a compreensio do aluno. Se nao howver uma relagso deco est entze os profissionas, todo esse processo de negociacio ¢ explorag nceitos torna-se invidvel. ‘. Outra maneira de favorecer o trabalho do IS, dando continvidade 3 Pro Posta antetior, seria o ;sponibilizar um espaco da lousa para 0 Se ae professor disponibilizar easels toe bya tte # aula, Para dar concretude & ideia, usaremos como ONT Bot anteriormente neste capitulo: uma aula de biologia &™ a Componentes e fungdes dos drgaos do sistema digestOrie se fundamen. Proceso. Assim, ortancia de uma 197 198 Tewo ws ano sao. 400 Cavidade bucal Boca Faringe Esdfago Figado Estomago Vesicula pes increas Intestino grosso. Reto Anus Intestino delgado Figura 3 Sistema digestorio. O professor, durante uma aula expositiva, provavelmente dir 05 nomes dos Orgaos ¢ suas respectivas funcoes. Caso ele nao faca o uso de imagens, ono apresentada anteriormente (Figura 3), € se considerarmos que muitos desesir sios podem nao ter um sinal (ou o aluno simplesmente desconhecer os sss 0 ILS faré a datilologia e acompanhara a exposicéo do professor. Entretat eo aluno desconhecer os conceitos ¢ os sinais, poder prender-se &datlologen Construir 0s conceitos desejados. Pressupde-se que o aluno tenha um con! mento prévio dos termos e/ou conceitos, 0 que a realidade educacional dos dos nos mostra que nao acontece. Assim, se o ILS tem uma ilustragéo na quil® “Polat,¢ um espaco na lousa destinado a suas explicagdes ao aluno surdo,ee put ‘ascunharidesenhar o tema abordado, escrever nomes utilizados como pl ~chave,sustentando visualmente a construc de conhecimentos ques Conduzir junto ao aluno surdo. Assim, propicia-se que o intérprete tenka met desempenho ¢ o aluno, melhor compreensio, Vale lembrar que, além de todas as questdes expostas, o ILS pode se2F% fundamental quanto a avaliacio do aluno surdo, pois é ele quem ao"? ee cate eo de aprendizagem deste att rie uma lingua para 2408 alunos. Emboraa Fangio do ht ra, torna-se invidvel pensar na sua atuacao so mq Eemartns METDOCLOGCAS nko tray DE ALNOS snes is.conforme Lacerda” afirma, ele tem uma rela og Ham surdos e, por esse motivo, nao pode simplesmente interpretar s, oe" ar com a compreensio € 0 aprendizado deles, Interpretare aprender bite, so fatres indissolives eo intérprete assume, i funcio de educador, Wo estreita, cotidiana inerente ao seu a esse modo, é preciso que o professor seja acessivel € disponivel para a angus se bem discutida e negociada,s6 vir a benefici cece ‘al © processo educacional, REFERENCIAS suas Decreto n® 5.626 de 22 de dezembro de 2005, Regulamenta a Lei no &14 de abril de 2002, que dispde sobre a Lingua Brasileira de Sinais _ toatt 18 da Lei n* 10.098 de 19 de dezembro de 2000. Didrio Ofcal publica Federativa do Brasil, Brasilia, 23 dez. 2005. Disponivel em: , w8fev. 2011, 10.436 Lipras, Ida] Re- ttp:// www. Acesso em: CauPeLto, A. R, S. Pedagogia visual/sinal na educagdo dos surdos. In: Qua- ‘nos, R. M5 Peay, G. (Orgs.). Estudos surdos II, Petropolis: Arara Azul, 2007 100-31. Lactapa, C. B. F.A incluso escolar de alunos surdos: 0 que dizem alunos, pro- ‘esoes e intérpretes sobre esta experiéncia. Cad. Cedes: Educacio, Surdez e In- slusio Social, Campinas, v. 26, n. 69, p. 163-184, 2003. Lacerpa, C. B. E; Pouertr, J. E. A escola inclusiva para surdos: a situacdo sin- gular do intérprete de lingua de sinais. In: FAvERO, O.; FERREIRA, Ns ee T; BarReiros, D, (Orgs.). Tornar a educagéo inclusiva. 1. ed. Brasilia: UNesc ANPED, 2009. v.1, p.159-176. ; : analise Maetins, M. A. L. Relagdo professor surdo/aluno surdo em oe belies Ree as priticas bilingues e suas problematizagoes. gee fe ‘si0), Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2 : S : jversity Press, 19; Novat,].D.A theory of education. Whaca: Cornell Uni ms i eck PERLIN,G, Identidade surda e curriculo. In: Lace, CB nt La Paulo: Louvise, 2000. (Ores). Surdee: processos educativos e subjetividade. Sto P.23-28, eo i Lacerda (2003), 199 200 Tenno uM aLLNO SURDO,E AGORA? Tavares, R. Construindo mapas conceituais. Ciéncias & Cognicéo, Rio de fe. neiro, ¥. 12, p. 72-85, 2007. Disponivel em:

You might also like