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2 Histéria, ideias e principios basicos: uma entrevista com Loris Malaguzzi Lella Gandini QUANDO RECEBEMOS AS NOTICIAS Eu tenho o privilégio de lembrar com imagens que ainda sao claras. Quando as nott- cias chegaram cidade (naquela época, elas viajavam com lentiddo e eram imprecisas, bem como as nossas percepgdes, tendo perdido o hdbito durante a guerra, que continuava quente e palpdvel nas lamentagées e nos destrogos), lembro que a minha reagao foi confusa e incré- dula. Dizia-se que, em Villa Cella, as pessoas haviam se unido e montado uma escola para as criangas pequenas; haviam tirado os tijolos das casas bombardeadas e os utilizado para construir as paredes da escola. Poucos dias haviam se passado desde a libertagdo, e tudo continuava violentamente incerto. Perguntei aos meus colegas por confirmago. Ninguém sabia ao certo. Nao havia te- lefone, e Cella parecia perdida, geograficamente. Senti-me hesitante, assustado. Minhas capacidades ldgicas, de um professor de nivel fundamental completamente esgotado, fizeram-me concluir que, se isso fosse verdade (e eu assim esperava!), mais do que anémalo ou improvével, era de outro mundo... Um partidé- rio, Avvenire Paterlini, aconselhou-me a esperar, pois quem sabe alguém de Cella aparece- ria. Ninguém veio, E por isso que subi em minha bicicleta e fui até Villa Cella, Um fazendeiro nos ar- redores da vila me confirmou; ele apontou 0 lugar, muito adiante. Havia pilhas de areia ¢ tijolos, um carrinho de méo cheio de martelos, pds e enxadas. Atrds de uma cortina de tape- tes para protegé-las do sol, duas mulheres martelavam o cimento velho das tijolos. As noticias eram verdadeiras, e a verdade estava, como todos podiam ver nesse enso- larado dia de primavera, nas marteladas desiguais e obstinadas dessas duas mulheres. Uma delas olhou-me e esperou; eu era um estranho, alguém da cidade, talves elas soubessem othando para 0 meu cabelo ou para meus sapatos de corte baixo. “Nao somos loucas! Se quer mesmo ver, venha no sdbado ou no domingo, quando estamos todos aqui. Al fom da boun Yasilo (nds vamos mesmo construir essa escola)!” Fui para casa, Minha sensagdo de espanto, meus sentimentos de assombro eram mais fortes do que a minha felicidade. Eu era wm professor de nivel fundamental. Havia dado aulas por cinco anos e passado trés estudando na universidade. Talves fosse a minha Digitalizado com CamScanner 46_Edwards, Gandini & Forman (Orgs.) rofissdo que me atrapathasse. Todas os meus pequenos modelos foram comicamente revira dos: que a construgéo de uma escola se desse por meio do povo, de mulheres, de fazendeiros, de funciondrios era em si traumdtico. Mas que essas mesmas pessoas, sem um centavo em ‘seus nomes, sem conhecimentos técnicos, alvards de construgdo, engenheiros, inspetores do Ministério da Educagao ou do Partido, pudessem realmente construir uma escola com as suas préprias forgas, tijlo por tijolo, era 0 segundo paradoxo. Trauma ou paradoxo, ainda assim era a verdade, e eu gostava. Estava empolgado pelo modo como isso revirava todo tipo de ldgica e preconceito, as antigas leis que governa. vam a pedagogia, a cultura e como forgava tudo a voltar ao comeso, abrindo horizontes in. teiramente novos de pensarento, Percebi que 0 impossivel era uma categoria a ser redefinida, incluindo, como ocor. eu com o final da Guerra, a luta dos partidérios, a liberasdo, a “primavera de maio”, 4s consciéncias renovadas, a prépria esperanga. Eu até gostava de zombar da sabedoria de Marx. “O homem constréi sua prépria histéria, mas ndo necessariamente a seu pro. Prio gosto.” Meu sentimento mais forte é que ndo havia problema com a ideia ¢ a intuigéo de que 4@ realizagdo do projeto se desse aqui, em meio a fazendeiros ¢ trabathadores de fabricas. Sen. tia que essa era uma listo formidével de humanidade e cultura, a qual geraria outros eventos extraordindrios. Tudo 0 que precisdvamos fazer era seguir 0 mesmo caminho. Meu retorno de Cela foi festvo, Esse é simplesmente o inicio da “Creche Popular” de Villa Cella. Tive a honra de vivenciar o resto da histéria, com sua dificil e mesquinha teimosia, todo o seu entusiasmo. E essa permaneceu uma ligdo ininterrupta dada por homens e mulhe- res, cujas ideias continuaram intactas, que compreenderam muito tempo antes de mim que 4 histéria pode ser mudada e que ela é modificada ao se apossar dela, comecando com o destino das criangas. Fonte: Malaguzzi apud Barazzoni (2000). PARTE I: HISTORIA “Bom”, dizem eles, “se isso & verda- de, venha trabalhar conosco.”! Tudo parecia inacreditével: a ideia, a escola, 0 inventario, que consistia em um tanque, alguns caminhées e cavalos. Eles me explicaram tudo: “Iremos cons- tmuir a escola sozinhos, trabalhando & noite e aos sbados. A terra foi doada por um fazendeiro; os tijolos e as traves serao retirados de casas bombardeadas; a areia viré do rio; o trabalho sera vo- luntario por todos nés”. “E 0 dinheiro para administrar a es- cola?” Um momento de constrangimento, € eles disseram: “Nés vamos dar um jei- to”. Mulheres, homens, jovens ~ todos fa- zendeiros e trabalhadores, todos pessoas especiais que sobreviveram a centenas de horrores da guerra falavam sério. Dentro de oito meses, a escola e nossa amizade estabeleceu raizes. O que aconte- ceu em Villa Cella foi apenas a primeira fais- ca. Outras escolas foram abertas nos arredo- res e nos lugares mais pobres da cidade, todas criadas e administradas pelos pais. En- contrar apoio para a escola, em uma cidade devastada, rica apenas de lamentagoes € po- breza, seria um suplicio longo e dificil, que exigira sacrificios e solidariedade hoje im- pensdveis. Quando a “escola do tanque”, em Villa Cella, outras sete foram adicionadas nas dreas pobres ao redor da cidade, inicia- das por mulheres com a ajuda do Comité de Digitalizado com CamScanner Libertagio Nacional, compreendemos que 0 fendmeno era irreversivel. Algumas das es- colas no sobreviveriam. A maioria delas, contudo, demonstrou forga e vivacidade 0 bastante para sobreviver por quase 20 anos, Por fim, apés sete anos dando aulas no ensino médio, decidi abandonar meu emprego. O trabalho com as criangas havia sido recompensador, mas a escola estatal continuava a seguir seu préprio rumo, man- tendo sua indiferenca esttipida ¢ intolerdvel para com as criangas, sua atencio oportu- nista e insinuante para com a autoridade sua esperteza interesseira empurrando co- nhecimento pré-embalado. Fui para Roma estudar psicologia no Centro de Pesquisas Nacional. Quando voltei a Reggio Emilia, dei inicio a um centro de satide mental para criangas com dificuldades, financiado pela cidade na escola municipal, Assim, comecei duas vidas paralelas, uma de manha, neste centro, e outra de tarde e de noite, nas pe- quenas escolas administradas pelos pais. ‘As com linguagens da crianga_47 Os professores nessas pequenas es- colas demonstravam motivagio excepcio nalmente alta. Eles eram muito diferen- tes uns dos outros, pois haviam estudado em diversas escolas catdlicas ou em ou- tros colégios privados, mas suas ideias eram amplas e ambiciosas ¢ sua energia nao conhecia limites. Eu me uni a esses professores e comecei a trabalhar com as criangas, ensinando enquanto nds mes- mos aprendiamos. Logo, percebemos que muitas delas tinham problemas de satide ¢ estavam subnutridas. Também percebe- mos como a lingua italiana padrao Ihes era estranha, visto que suas familias fala- vam dialetos locais hé diversas geracdes. Pedimos aos pais que nos ajudassem, mas encontrar maneiras para todos coopera- rem efetivamente tornou-se uma tarefa incrivelmente exigente; nao por falta de determinagao, mas por falta de expe- riéncia, Estévamos quebrando padroes tradicionais. ‘Um grupo de criangas e professora da Escola Vila Celta, em 1950. Digitalizado com CamScanner ‘48_Edwards, Gandini & Forman (Orgs.) Quando comegamos a trabalhar com esses corajosos pais, sentimos entusiasmo e medo ao mesmo tempo. Sabiamos per- feitamente bem 0 quanto éramos fracos despreparados. Fizemos uma checagem dos nossos recursos, uma tarefa simples, Uma mais dificil foi aumentar esses re- cursos; mais dificil ainda foi prever como. irfamos usé-los com as criangas. Conse- guiamos imaginar um grande desafio, mas ainda nao conhecfamos as nossas préprias capacidades nem as das criangas. Infor- mamos as mies de que nés, assim como seus filhos, tinhamos muito 0 que apren- der, Uma ideia simples e libertadora veio em nosso auxilio ~ isto é, que tudo sobre as criangas e para as criangas somente po- de ser aprendido com as criangas. Sabfa- mos que isso era verdade e mentira ao mesmo tempo. Contudo, precisévamos dessa afirmagio e de um principio orien- tador; eles nos davam forcas e se torna- ram parte essencial de nossa sabedoria coletiva. Foi a preparacao para 1963, o ano em que as primeiras escolas munici- pais ganharam vida. 0 ANO DE 1963: A PRIMEIRA ESCOLA MUNICIPAL INFANTIL Gandini: Pode lembrar esse evento para nés? Malaguzzi: Era uma escola com duas salas grandes o bastante para 60 criangas, e Ihe demos o nome de Robin- son para lembrar as aventuras do herdi de Daniel Defoe. Vocé deve ter ouvido como o nascimento da primeira escola em 1963 estabeleceu um marco impor- tante. Afirmava-se pela primeira vez na Itélia que as pessoas tinham o direito de fundar uma escola laica para criangas Pequenas ~ uma quebra justa ¢ necess4- ria no monopélio que a Igreja Catdlica exercia até 0 momento sobre a educagdo das criangas. Era uma mudanga necesséria ¢ uma sociedade que estava se renovang, ¢ se modificando profundamente, em gy, 0s cidadaos e suas familias exigiam cag, vex mais servigos sociais e escolas par, seus filhos. Eles queriam escolas de outr, tipo: com melhor qualidade, livre de ten déneias caridosas, que nao fossem sin plesmente de guarda e protecdo nem dis. criminatérias de qualquer tipo. Foi uma realizacao decisiva, apesar de a escola se localizar em um pequeno prédio de madeira designado pelas autoridades, De fato, foi dificil encontrar criangas 0 bas- tante para participar devido a novidade da ) escola municipal. Trés anos depois, ela pe- gou fogo & noite. Corremos todos para lé, até 0 prefeito, e 14 ficamos assistindo até sobraram apenas cinzas. Mas, um ano de. pois, a escola foi reconstrufda com tijolos e concreto. Agora, estévamos envolvidos em um esforco sério. A partir dessas rafzes de determinagao € paixio civicas, que foram se tornando parte da consciéncia puiblica, esto os acontecimentos e as histérias que estou narrando para vocé. Das escolas administradas pelos pais, recebemos o primeiro grupo de professo- res especializados. As responsabilidades eram claras em nossa mente; muitos olhos, nem todos amigéveis, nos observavam. Ti- nhamos que cometer 0 menor niimero de erros possiveis; tinhamos que encontrar a nossa identidade cultural rapido, nos tor- nar conhecidos e ganhar confianga ¢ res- peito. Lembro que, apés alguns meses, a necessidade de nos tornar conhecidos fi- cou tao forte que planejamos uma ativi- dade muito bem-sucedida. Uma vez por semana, levavamos a escola para a cida- de. Literalmente colocdvamos as criangas € as nossas ferramentas em um caminhio famos dar aulas ao ar livre, na praca, em locais puiblicos ou sob a colunata do tea- tro municipal. As criangas ficavam felizes. As pessoas viam; elas ficavam surpresas € faziam perguntas. Digitalizado com CamScanner Sabiamos que a nova situagio exi continuidade, mas também muitas que- bras com o pasado, As experiéneias do passado que buscdvamos preservar eram 0 contato humano ¢ a ajuda reciproca, a sensagio de realizar um trabalho que re velasse (por meio das criangas ¢ das fam(- lias) motivagées ¢ recursos desconhecidos © uma consciéncia dos valores de cada dos na realizagio de ati mente distintas. Queriamos reconhecer 0 direito de todas as criangas serem prota- gonistas e a necessidade de apoiar a sua curiosidade espontinea em alto nfvel. Ti- nhamos de preservar a nossa decisio de aprender com as criangas, com os eventos e com as familias, a0 maximo dos nossos limites profissionais, e nos prepararmos para trocar de ponto de vista para que ja- mais tivéssemos certezas demais. Era um perfodo frenético, um tempo de adaptagao, um ajuste continuo das ideias, de selecdo de projetos e de tenta- tivas. Esperava-se que aqueles projetos ¢ aquelas tentativas dessem muitos resulta- dos com boa qualidade; eles deviam ser uma resposta as expectativas combinadas das criangas e de suas familias e refletir as nossas competéncias, que ainda esta- vam se desenvolvendo. Lembro que real- mente nos envolvemos em um projeto baseado em Robinson Crusoé. O plano ‘era que todos nés, incluindo as criancas, reconstrufssemos a histéria, o persona- gem e as aventuras do nosso heréi, ‘Tra- balhdvamos lendo e relendo a histéria; us4vamos a nossa meméria, assim como as nossas habilidade de desenho, de pin- tura e de artesanato, Reconstrufmos 0 na- vio, o mar, a ilha, a caverna e as ferra- mentas. Foi uma reconstrugio longa ¢ espetacular, No ano seguinte, agora especialis- tas, passamos a trabalhar com uma re- construcdo semelhante da histéria do Pi- néquio. Entio, alguns anos depois, muda- _ __As.cem linguagens da crianga_49 mos 0 mecanismo. Eu havia passado pelo Instituto Rousseau ¢ pela Ecole des Petits (Escola das Criangas Pequenas) de Pi get, em Genebra. Como nos inspiravamos em Piaget, optamos por trabalhar com niimeros, matematica e percepgio. N quela época, estdvamos (e ainda esta- mos) convencidos de que nio se trata de uma imposigao sobre as criangas nem um exercicio artificial trabalhar com ntime ros, quantidade, classificagio, dimensées, formas, medidas, transformagio, orienta: Gio, conservacio e mudanga ou veloci- dade e espaco, porque essas exploragées pertencem espontaneamente as experién- cias cotidianas das brincadeiras, das ne- gociages, dos pensamentos e das con- versas das criangas. Esse era um desafio completamente novo na Itdlia, e a nossa iniciativa nos recompensou. Ele marcou © inicio de uma fase experimental que ganhou félego com o estudo de diversas teorias psicoldgicas, a observacao de fon- tes tedricas distintas ¢ a pesquisa prove- niente de fora do pais. Contudo, pensando agora sobre aque- le experimento, sobre uma época em que estdvamos procedendo sem pontos claros de referéncia, devemos lembrar também 05 nossos excessos, a incongruéncia das nossas expectativas e os pontos fracos dos Tossos processos criticos e autocriticos. Es- tévamos cientes de que muitas coisas na cidade, no pais, na politica, nos costumes € nos termos das necessidades ¢ das ex- pectativas estavam mudando. Em 1954, o piiblico italiano come- Gou a assistir A televisio. Migragdes do Sul para Norte comegaram, com 0 con- sequente abandono do interior. Com novas possibilidades de trabalho, as mu- Iheres estavam desenvolvendo aspiracdes e demandas que quebravam a tradigio. 0 baby boom modificou tudo, particular- mente © papel € os objetivos das escolas para as criangas pequenas, ¢ levou a um poderoso crescimento na demanda por Digitalizado com CamScanner 50_Edwards, Gandini & Forman (Orgs.) servigos sociais. Além do mais, 0 pedido para colocar filhas e filhos pequenos nas pré-escolas estava se tornando um fend- ‘meno de massas. A partir de tudo isso, surgiu a neces- sidade de produzir novas ideias e expe- rimentar com novas estratégias educaci nais, em parte porque o governo munici- pal estava cada vez mais determinado a instituir mais escolas para satisfazer as ne- cessidades emergentes das criangas e de suas familias, Grupos de mulheres, profes- sores, pais, conselhos de cidadaos e comi- tés escolares estavam comecando a traba- Ihar junto dos municipios para ajudar e contribuir para aquele desenvolvimento, ‘Apés muita pressio e batalhas entre © povo, em 1967, todas as escolas admi- nistradas pelos pais passaram para a ges- tao do distrito de Reggio Emilia. Havia- mos lutado por oito anos, de 1960 a 1968, Como parte da batalha politica na Itdlia por escolas infantis puiblicas disponiveis a todas as criancas dos 3 aos 6 anos, ha- viamos debatido 0 direito do estado e dos municipios de estabelecer tais esco- las. No confronto dentro do parlamento nacional, forcas seculares obtiveram éxi- to sobre o lado que defendia uma educa- do catdlica. A nossa cidade estava no fron- te: em 1968, havia 12 turmas para criancas pequenas administradas pelo distrito. Ha- veria 24 em 1970, 34 em 1972, 43 em 1973, 54 em 1974 e 58 em 1980, locali- zadas em 22 prédios escolares. Hoje, quando na Itdlia 88% das criangas entre os 3 € os 6 anos adquiri- ram 0 direito de ir & escola e os pais po- dem escolher entre trés tipos de institui- Ses - nacional, municipal e privada -, parece adequado lembrar-se desses even- tos remotos, humildes mas poderosos, que ocorreram no interior e na periferia urbana, aqueles eventos nos quais as ci- dades se inspiraram para desenvolver ‘uma politica exemplar em favor da crian- gae da familia. 0 ANO DE 1976: UM ANO DIFICIL - UM ANO BOM Gandini: Vocé disse que a educagig das criangas pequenas era um monopélia virtual da Igreja Catélica. Como os caté cos reagiram @ escola laica? Malaguzzi: J4 em 1970 0 cenétio havia mudado. As escolas € 0s servigos sociais haviam se tornado, inescapavelmen. te, questdes nacionais, e o debate cultural ao seu redor tornou-se ainda mais avivado , a0 mesmo tempo, mais civil. Lembro-me de que no havia sido assim quando, em 1963, organizamos um seminério italo- -checo sobre as brincadeiras. Nao havia sido assim quando, em 1968, patrocina- mos um simpésio sobre a relacao entre psiquiatria, psicologia e educaco - consi- derada uma combinagao perigosa ou des- conhecida naquele tempo — nem, a esse respeito, quando organizamos posterior- mente um encontro entre bidlogos, psicé- logos e especialistas em educagdo para discutir a expressio grifica das criangas. © encontro posterior, devido a atencéo dada a biologia e neurologia, resultou na acusagio de que haviamos dado muita énfase ao materialismo. ‘A nossa experiéncia nos fez avancar muito € tornou-se um ponto de referén- cia para educadores em muitas dreas do Pais. Isso é especialmente verdadeiro para Professores jovens, que estavam desco- brindo uma profisséo que, até o momen- to, era monopolizada por freiras. Por vol: ta de 1965, as nossas escolas ganharam dois fabulosos amigos. O primeiro foi Ro- dari (1996), um poeta e escritor de hist6- rias infantis amplamente traduzidas, que dedicava seu livro mais famoso, Grammati- a della Fantasia, & nossa cidade e is suas criangas. Q segundo foi Bruno Ciari, a in- teligéncia_mais Wcida, ardente e aguda no campo da educagao infantil. Eles fo- Tam, de fato, estupendos amigos. Em 1971, “com notavel ousadia, organizamos um en- Digitalizado com CamScanner contro nacional exclusivamente para pro- fessores. Esperévamos 200 participantes, mas apareceram 900. Foi dramético glorificante e, 20 mesmo tempo, foi um evento que nos permitiu publicar 0 p meiro trabalho sobre a educagio infant Esperienze per una Nuova Scuola Dell'in-_ fanzia (MALAGUZZI, 1971a). Apés al- “Guns meses, publicamos outro trabalho (MALAGUZZI, 1971b), La Gestione Socia- le nella Scuola Dell’infanzia. Esses dois trabalhos continham algumas coisas que haviamos desenvolvido com os professo- res de Reggio Emilia e de Modena (onde fui também consultor) com relaco a nos- sas ideias e experiéncias, Em 1972, todo o conselho da cida- de, incluindo a minoria catélica, votou a favor das regras e dos regulamentos que haviamos esbogado para administrar as escolas infantis. Apés anos de polémica, ou simplesmente falta de reconhecimen- to, esse evento marcou a legitimacao de 10 anos de laboriosos esforcos. Celebra- mos em todas as escolas. Em 1975, fui convidado a ser o ora- dor de outro encontro, dessa vez organi- zado pelo governo regional da Emilia Ro- magna acerca dos direitos das criangas. ‘Nao poderia vir em melhor momento. Eu havia recém-voltado para uma visita 20 Instituto Rousseau e a Ecole des Petits, em Genebra, enchendo-me de admiracao pelas visdes piagetianas e pelos planos, mencionados anteriormente, que logo co- mecamos a implementar. © ano de 1976 foi duro e inespera- do. Em novembro, o representante da Igreja Catdlica no governo, por meio da radio governamental, iniciou uma cam- panha difamatéria contra as escolas in- fantis administradas pelas cidades, ¢ es- pecialmente contra as nossas escolas. Elas foram atacadas como um modelo de edu- cagio que estava corrompendo as crian- ‘gas e como um modelo de politica de as- sédio contra as escolas religiosas privadas. _ As cem linguagens da crianga_ 54. Apés sete dias dessa campanha, sentimos que precisévamos reagir. A minha decisio foi a de suspender as atividades regulares planejadas pelos professores e convidar 0 clero local a vir para um debate aberto nas nossas escolas. Essa discuss piiblica durou quase cinco meses. Com o passar do tempo, a oposicao grosseira foi se tor- nando mais civil, tranquila ¢ honesta; conforme as ideias comecaram a surgir, uma compreensao reciproca passou a se formar, Ao fim dessa aventura, acabamos exaustos com a sensacao de que a angtis- tia havia se dissipado, e acredito que esse alivio foi compartilhado por todos de am- bos os lados. © que permaneceu foi a sensagio de enriquecimento e de huma- nidade. Refletindo sobre esse evento de uma perspectiva histérica, podemos ver que esse debate surgiu devido a ansiedade de alguns oficiais da Igreja pela perda do seu monopélio sobre a educagio, Eles es- tavam sendo simultaneamente confronta- dos com a redugio no nimero de homens e mulheres optando por vocagées religi sas, resultando no aumento da necessidade de professores laicos e no consequente aumento do custo de administrar suas es- colas. Além do mais, a Constituigio Ita- liana proibia o uso de financiamento fe- deral para sustentar escolas catélicas; portanto, a Igreja estava tentando obter apoio financeiro de governos locais (que seria concedido posteriormente). Ainda outro fator, no meu ponto de vista, que explica o ataque as nossas es- colas foi o répido crescimento da influén- cia cultural na nossa experiéncia. O nosso trabalho, 0s semindrios, os encontros e as publicagdes contribuiram para o reconhe- cimento nacional as nossas escolas admi- nistradas pela cidade. Escolas infantis es- tatais também existiam, junto de escolas municipais, mas 0 seu crescimento era lento e controlado demais pelo governo central. Assim, a nossa abordagem era Digitalizado com CamScanner '52_Edwards, Gandini & Forman (Orgs.) um raio de sol iluminando as limitagées das escolas religiosas, que eram, com al- gumas poucas excecdes, incapazes de ir além da velha e ultrapassagem abordagem de guarda e protecio da educagao. Uma das consequéncias foi que uma agéncia governamental, chamada Centro Nacional de Ensino, estabeleceu lagos com © nosso grupo e me convidou para parti- cipar dos seus encontros. Esses lagos ain- da perduram. Outro resultado foi que uma importante editora confiou-me com a di- regio da sua nova revista, Zerosei (Zero a Seis, 1976-1984), e posteriormente Bam- bini (Criangas, 1985-até o presente), diri- sido a educadores infantis. Eu ainda es- tou envolvido com esse empreendimento. No final, 0 doloroso confronto de 1976 e a sua conclusio favordvel nos tor- ou mais fortes e conscientes do que ha- viamos construido, assim como mais Avi- dos por continuar. Na década de 1980, seguimos adiante com a nossa primeira viagem internacional & Suécia, com a pri- meira edigio da nossa exposi¢io, Quando 0 Olho Salta 0 Muro, e o inicio de outros voos que nos levariam em viagens ao re- dor do mundo. UMA ESCOLHA DE VIDA E PROFISSIONAL Gandini: Parece que vocé optou por dedicar a sua vida @ educagdo e ao cuidado das criangas pequenas, Quando tomou essa decisio de vida? Malaguzzi: Eu poderia evitar res- Ponder, como outros fizeram antes de mim, dizendo que, quando vocé no me Pergunta, sei, mas quando vocé me per- Bunta, jé no sei mais a resposta, Existem algumas escolhas que vocé s6 sabe que es- 180 vindo na sua diregio quando elas estio prestes a explodir. Mas hd outras escolhas que se insinuam e se tornam aparentes com um tipo de leveza obstinada, que pa- AY rece ter crescido lentamente dent, , vocé durante os acontecimentos da,” vida, devido a um misto de molécuis,' pensamentos. Deve ter acontecido de, jeito. Mas também a Segunda Guerra, qualquer guerra, com a sua tragédi surda pode ter sido 0 tipo de experi, que empurra as pessoas ao trabalho ¢: educar, como forma de recomeco de vz, ¢ trabalho pelo futuro, Esse desejo ating, as pessoas conforme a guerra chega z, fim e os simbolos da vida reapareces com violéncia igual ao dos tempos ¢ destruigao. Néo sei com certeza, mas acho qu & af que podemos buscar um inicio. Logs depois da guerra, senti um pacto, um: alianga, com as criancas, os adultos, « veteranos dos campos de prisioneiros, os partiddrios da resisténcia e os que sofe- ram com a devastagao do mundo. Ainds assim, esse sofrimento foi mandado pe ra longe em um dia de primavera, qua-| do ideias e sentimentos voltados paz’ © futuro pareceram muito mais fortes do que aqueles que se focavam no pre- sente. Parecia que as dificuldades nio existiam e que nao havia maiores obsti- culos a superar. Foi uma poderosa experiéncia que surgiu de uma densa teia de emogdes ¢! de uma complexa matriz de conhec- mentos e valores com a promessa de uma criatividade nova da qual eu estavt recentemente me conscientizando. Des de esses dias, frequentemente reavaliei? minha posigdo e, mesmo assim, perm neci no meu nicho. Nunca me arrepend! de minhas escolhas ou do que abdique! por elas. Gandini: Quais os seus sentimentos ¢ como vocé enxerga as suas experiéncias &? se lembrar da sua histéria? Malaguzzi: Cara Lella, vocé ha dé concordar que ver um tanque do Exército seis cavalos e trés caminhées gerando um | Digitalizado com CamScanner escola para criangas é extraordindtio. O fato de que a escola ainda existe e continua a funcionar bem é 0 minimo que se esperaria de um inicio assim. Além do mais, sua valio- sa histéria confirma que uma nova experién- cia educacional pode emergir a partir das ircunstancias menos esperadas. Se continuamos a rever essas ori- gens extraordindrias é porque ainda esta- mos a entender as intuigdes, as ideias e 0s sentimentos que estavam I4 no inicio e que nos acompanham desde entdo. Eles cor- respondem ao que Dewey (1998) chamou de “os fundamentos da mente” ou que Vygotsky (1978) considerava “o emprés- timo da consciéncia”. Tais conceitos man- tivemos em mente, especialmente nos mo- mentos em que tivemos de tomar decisdes dificeis e superar obstéculos. De fato, a pri- meira filosofia aprendida com esses even- tos extraordindrios, apés uma guerra como essa, foi atribuir significado humano, digni- ficado, civil, & existéncia; conseguir tomar decisdes com clareza de ideias e propésito; e ansiar pelo futuro da humanidade. Mas os mesmos eventos nos garanti- ram algo mais imediatamente, a0 que sempre tentamos nos manter fiéis. Esse algo surgiu dos pedidos das mies e dos pais, cujas vidas e preocupagées se foca- ram em suas criangas. Eles s6 pediam que essa escola, que haviam construido com as préprias mios, fosse um tipo diferente de escola, uma escola que pudesse edu- car os seus filhos de uma maneira dife- rente de antes. Foram especialmente as mulheres que expressaram esse desejo. A equagio era simples: se as criancas tinham direitos legitimos, entiio elas tam- bém precisavam de oportunidades para desenvolver a sua inteligéncia e para se- Tem preparadas ao sucesso que nao pode- tia, nem deveria, escapar-lhes, Essas eram as ideias dos pais, expressando uma aspi- ragio universal, uma declaragio contra a traigo do potencial das criangas e um aviso de que as criangas precisavam, an- ‘As com linguagens da crianga_ 53 tes de tudo, serem levadas a sério e te- rem a nossa confianga. Esses trés concei- tos poderiam se encaixar perfeitamente em qualquer bom livro sobre educagio. E se adequavam a nés perfeitamente bem, As ideias provenientes dos pais eram com: partilhadas por outros que compreendiam suas profundas implicagies. Se 0 nosso es- forgo perdurou por muitos anos, foi devi- do a essa sabedoria coletiva, PARTE II: FILOSOFIA As fontes da nossa inspiracao acha que influenciaram a formagéo da sua abordagem? Malaguzzi: Quando alguém nos per- gunta como comecamos, de onde viemos, quais séo as fontes da nossa inspiracdo, ¢ assim por diante, somos obrigados a citar uma longa lista de nomes. E quando fala- mos sobre nossas origens humildes, mas, a0 mesmo tempo, extraordindrias, e tenta- mos explicar que, a partir dessas origens, extraimos os principios tedricos que ainda sustentam 0 nosso trabalho, percebemos muito interesse e nenhuma incredulidade. E curioso (mas nao injustificado) como se acredita que as ideias e as praticas educa- cionais s6 podem ser extraidas apenas de modelos oficiais ou teorias estabelecidas. Contudo, devemos afirmar imedia- tamente que também surgimos de uma origem cultural complexa. Estamos imer- sos em histéria e rodeados de doutrinas, politicas, forgas econémicas, mudangas cientificas e dramas humanos; ha sempre ‘em progresso uma dificil negociagao pela sobrevivéncia, Por esse motivo, tivemos de nos esforgar e, ocasionalmente, corri- gir e modificar a nossa direcdo, mas até o momento o destino nos poupou de acor- dos ¢ traigées vergonhosos. E importante que a pedagogia nao seja prisioneira de Digitalizado com CamScanner 54 Edwards, Gandini & Forman (Orgs.) Criangas e professores levam a pré-escola a uma praca publica para 0s cidados observarem. certezas excessivas, e sim que tenha cons- ciéncia da relatividade dos seus pode- res e das dificuldades de traduzir os seus ideais na prética. Piaget j4 nos avisou que os erros e males da pedagogia vém de uma falta de equilibrio entre dados cien- tificos e aplicagdo social. A nossa preparagio foi dificil. Pro- curavamos leituras; viajavamos atrés de ideias e sugest6es das poucas mas pre- ciosas experiéncias inovadoras de outras cidades; organizévamos semindrios com amigos e com as figuras mais vigorosas e inovadoras do cendrio educacional do pais; tent4vamos experimentos; ini ‘mos contatos com os nossos colegas su- 40s € franceses. 0 primeiro desses grupos (os suicos) gravitava pela drea da educagio ativa e das tendéncias piagetianas. O segundo (os franceses) era influenciado pela educagio cooperativa de Freinet, que achava que os alunos precisavam trabalhar em grupos e serem encorajados a aprender com os seus errs, € por outros que inventaram uma escola muito estranha: a cada trés anos, essa escola francesa se mudava para um novo local, onde a reconstrucio de casas de campo antigas e abandonadas servia de base para o trabalho educacional com as criangas. E foi assim que prosseguimos, ¢ as coisas foram gradualmente se unifican- do em um padrao coerente. A educagio das criancas na década de 1960 Gandini: Sabemos que na Iedlia, no década de 1960, surgiu uma nova cons- ciéneia acerca da educagdo infantil. Que! era o cendrio cultural que a acompankou? Malaguzzi: Na década de 1960, ques tes acerca de escolas infantis ocupavam 0 centro de intensos debates politicos, A ne cessidade de sua existéncia era inegivel. Digitalizado com CamScanner mas o principal debate era se as escolas deviam existir como um servigo social. Con- sideragdes pedagégicas mais substantivas permaneciam em segundo plano. Na ver- dade, em relagdo ao tépico da educagio, a Itdlia estava muito atrds. Por 20 anos sob o fascismo, o estudo das ciéncias so- ciais havia sido suprimido e as experién- cias e teorias norte-americanas e euro- peias haviam sido exclufdas. Esse tipo de isolamento estava desaparecendo em 1960. Os trabalhos de John Dewey, Henri Wallon, Edward Claparede, Ovide Decroly, ‘Anton Makarenko, Lev Wygotsky e poste- riormente Erik Erikson e Urie Bronfenbren- ner estavam ficando famosos. Além do mais, estavamos lendo The New Education, de Pierre Bovet e Adolfe Ferriere, e apren- dendo sobre técnicas de ensino de Celestin Freinet, na Franca, 0 experimento educa- cional progressista da Dalton School, em Nova York, e a pesquisa de Piaget e cola- boradores, em Genebra. Essa literatura, com suas fortes men- sagens, orientava as nossas decisdes; e a nossa determina¢ao de continuar dava impeto ao fluxo das nossas experiéncias. Evitamos a paralisia que havia empacado tedricos politicos de esquerda por mais de uma década em um debate sobre a re- lagdo entre contetido e método na educa- do. Para nés, esse debate era inttil, por- que nao levava em conta as diferengas que fazem parte da nossa sociedade e ig- norava o fato de que,a educagiio ativaen- volve uma alianga inerente entre contet- a nowsa Cree na ECUCSGHG Ave ere A “consciéncia_do pluralismo das familias, as criancas dos professores, que-esia. vam Cada vez mais envolvidos em nosso ‘projeto—conjunto. Essa consciéncia nos permitia ser Mais respeitosos sobre as po- sigdes politicas divergentes, Estavamos fi- cando mais livres da intolerancia e do Preconceito. Olhando para trés, parece-me que essa escolha em relagio ao respeito for- talecet a nossa autonomia para elabo. rarmos 0 nosso projeto educacional, aju- dando a resistir a muitas presses con- trarias. A tradigao italiana baseava-se em Rosa Agazzi e Maria Montessori, duas impor- tantes figuras do inicio do século. A prin- cipio, Montessori foi louvada e depois re- legada a segundo plano pelo regime fascista devido a sua abordagem cientifica para a pedagogia. Agazzi foi adotada como mo- delo porque a sua pedagogia estava mais préxima da visio do catolicismo. Ainda acredito que os textos de Montessori e Agazzi precisam ser usados para reflexao antes de avangarmos. Enquanto isso, na pratica, a Igreja Catélica Romana quase obteve monopélio sobre a educacao pré-escolar, concentran- do os seus esforcos em ajudar as criancas necessitadas e em oferecer servicos de guarda e proteciio, em vez de responder. As mudangas sociais e culturais. A tipica sala continha de 40 a 50 criancas, confia- das a uma freira sem diploma em licen- ciatura e sem salério. A situacao fala por si por meio dos ntimeros: em 1960, cerca de apenas um tergo das criancas peque- nas estavam na pré-escola, onde elas ti- nham aula com 22.917 professores, dos quais 20.330 eram freiras. Mais sobre as fontes de inspiragao Gandini: Vocé mencionou uma pri- meira onda de fontes que o inspiraram. Pode nos falar mais sobre outras fontes que foram importantes para vocé? Malaguzzi: Na década de 1970, es- tévamos ouvindo outra onda de pensa- dores, incluindo os psicdlogos Wilfred Carr, David Shaffer, Kenneth Kaye, Jero- me Kagan e Howard Gardner, o filésofo Digitalizado com CamScanner peeve (H's6 awards, Gandini & Forman (Orgs. David Hawkins e os tedricos Serge Mos- covici, Charles Morris, Gregory Bateson, Heinz Von Foerster e Francisco Varela, além daqueles que trabalham no campo da neurociéncia dindmica. A rede de fon- tes da nossa inspiragio perpassa diversas geragdes e reflete as escolhas e selegées que fizemos ao longo do tempo. A partir dessas fontes, recebemos ideias duradou- ras € ideias de vida curta - topicos para discusséo, razdes para encontrar _cone- xdes,_desacordos com_mudangas cultu- le de debate e pees ; para Ao todo, -adquirimos uma ogo , da ver- satilidade da teor | pesqui Mas conversas sobre a educacio (incluindo a educag&o infantil) néo po- dem ser restritas a sua literatura. Tal con- versa, que também ¢ politica,deve_tratar. continuamente de grandes mudangas _e_ transformagoes sociais na na_economia, na cas maiores influenciam como os seres humanos - até as criangas pequenas — “Jeem” e lidam com as realidades da vida. Elas determinam o surgimento, tanto em niveis gerais quanto locais, de novos mé- | de nov: - cas educacionais, assim como novos pro- blemas_e novas perguntas a serem res- Digitalizado com CamScanner

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